Erosão Do Solo

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EROSÃO DO SOLO 5.1- Generalidades sobre a erosão Nesse capítulo serão estudos os tipos, causas, efeitos e métodos de correção da erosão em solos agrícolas. Denomina-se erosão aos, processos, motivados por agentes externos ao meio (fontes de energia), que tem a possibilidade de carrear porções de solo a partir de sua localização original, e partindo-se da certeza de que, sob qualquer situação de cobertura vegetal, de clima, de topografia ou de manejo de solo, sempre se está perdendo esse bem precioso, deve-se estudar esse ramo de conhecimento com a atenção merecida. A erosão do solo pode ser subdividida em dois tipos básicos em função da intensidade de ocorrência: a) erosão natural ou geológica e b) erosão acelerada. 5.1.1- Erosão natural ou geológica É determinada como erosão natural ou geológica aquele tipo de erosão que ocorreu ou ocorre em áreas onde o homem ainda não atuou. Normalmente esse tipo de erosão é encarada como sendo não prejudicial aos solos, pelo fato de possibilitarem prejuízos de pequena monta, quando esses ocorrem. Pode mesmo ser encarada como sendo benéfica para as ações agrícolas, pois deve-se levar em conta que foi justamente em função desse tipo de erosão que pode-se contar nos dias de hoje com as paisagens como elas se apresentam. A maioria dos solos existentes na região do Centro Oeste brasileiro tem suas características intrínsecas hoje presentes (as suas planícies, seus solos peculiares e comprimentos de rampa normalmente longos), em função justamente de grandes efeitos da erosão geológica na modelagem da terra. No princípio a ação da erosão geológica era intensa, pois não havia equilíbrio entre as diferentes localidades, dessa forma, a milhões de anos muitas montanhas deixaram de existir nas parte altas (os chamados planaltos) e foram de depositando nas depressões das partes baixas. Atualmente o efeito desse tipo de erosão é muito pequeno, pois aparentemente atingiu-se o comentado equilíbrio geológico. Nessas condições, as principais características desse tipo de erosão são: a- Causam pequeno efeito sobre os solos, em função especialmente dessas localidades estarem recobertas por vegetações que impedem a totalidade de suas ações. O meio está em perfeito equilíbrio. b- Como a erosão é um processo seletivo de carregamento de materiais, e considerando-se que quando os agentes erosivos (o vento e principalmente as chuvas) conseguem atuar sobre o solo, a sua intensidade de ação é pequena, os materiais de solo que conseguem ser transportados são especialmente partículas de colóides orgânicos e minerais (argilas e matéria orgânica) e partículas de silte. c- Os materiais transportados pelos processos de erosão natural são normalmente depositados à grandes distâncias de seu local de origem, pois como são de pequeno tamanho e peso, se sedimentam apenas quando a energia do agente transportador reduz-se a níveis mínimos. Normalmente são transportados por suspensão. Um exemplo clássico desse tipo de ação é a fertilidade natural dos solos do baixo rio Nilo, pois são em sua maioria solos de aluvião, formados justamente pela deposição de partículas (e nutrientes) ali deixados quando as águas do rio baixam, depositando-os nas áreas ribeirinhas.

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EROSÃO DO SOLO 5.1- Generalidades sobre a erosão Nesse capítulo serão estudos os tipos, causas, efeitos e métodos de correção da erosão em solos agrícolas. Denomina-se erosão aos, processos, motivados por agentes externos ao meio (fontes de energia), que tem a possibilidade de carrear porções de solo a partir de sua localização original, e partindo-se da certeza de que, sob qualquer situação de cobertura vegetal, de clima, de topografia ou de manejo de solo, sempre se está perdendo esse bem precioso, deve-se estudar esse ramo de conhecimento com a atenção merecida. A erosão do solo pode ser subdividida em dois tipos básicos em função da intensidade de ocorrência: a) erosão natural ou geológica e b) erosão acelerada. 5.1.1- Erosão natural ou geológica É determinada como erosão natural ou geológica aquele tipo de erosão que ocorreu ou ocorre em áreas onde o homem ainda não atuou. Normalmente esse tipo de erosão é encarada como sendo não prejudicial aos solos, pelo fato de possibilitarem prejuízos de pequena monta, quando esses ocorrem. Pode mesmo ser encarada como sendo benéfica para as ações agrícolas, pois deve-se levar em conta que foi justamente em função desse tipo de erosão que pode-se contar nos dias de hoje com as paisagens como elas se apresentam. A maioria dos solos existentes na região do Centro Oeste brasileiro tem suas características intrínsecas hoje presentes (as suas planícies, seus solos peculiares e comprimentos de rampa normalmente longos), em função justamente de grandes efeitos da erosão geológica na modelagem da terra. No princípio a ação da erosão geológica era intensa, pois não havia equilíbrio entre as diferentes localidades, dessa forma, a milhões de anos muitas montanhas deixaram de existir nas parte altas (os chamados planaltos) e foram de depositando nas depressões das partes baixas. Atualmente o efeito desse tipo de erosão é muito pequeno, pois aparentemente atingiu-se o comentado equilíbrio geológico.

Nessas condições, as principais características desse tipo de erosão são: a- Causam pequeno efeito sobre os solos, em função especialmente dessas localidades estarem

recobertas por vegetações que impedem a totalidade de suas ações. O meio está em perfeito equilíbrio.

b- Como a erosão é um processo seletivo de carregamento de materiais, e considerando-se que quando os agentes erosivos (o vento e principalmente as chuvas) conseguem atuar sobre o solo, a sua intensidade de ação é pequena, os materiais de solo que conseguem ser transportados são especialmente partículas de colóides orgânicos e minerais (argilas e matéria orgânica) e partículas de silte.

c- Os materiais transportados pelos processos de erosão natural são normalmente depositados à grandes distâncias de seu local de origem, pois como são de pequeno tamanho e peso, se sedimentam apenas quando a energia do agente transportador reduz-se a níveis mínimos. Normalmente são transportados por suspensão. Um exemplo clássico desse tipo de ação é a fertilidade natural dos solos do baixo rio Nilo, pois são em sua maioria solos de aluvião, formados justamente pela deposição de partículas (e nutrientes) ali deixados quando as águas do rio baixam, depositando-os nas áreas ribeirinhas.

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Teoricamente, a partir do momento que o homem começa a atuar em um determinado solo, esse tipo de erosão deixa de existir, passando a ocorrer o que se chama de erosão acelerada. 5.1.2- Erosão acelerada Sobre esse tipo de erosão que se dá, na verdade todo o enfoque a nível de manejo e conservação do solo. A erosão acelerada ocorre nos solos onde trabalhou ou trabalha o homem, e tem dentre as sua características peculiares, as seguintes: a- Considerando-se que os efeitos da erosão natural dá-se especialmente em solos sob condições

de vegetação nativa, pode-se considerar que a totalidade dos prejuízos acontecidos nos solos cultivados, se devem à erosão acelerada.

b- Uma de sua peculiaridades é que ocorre onde existiu ou existe o homem, quer seja em solos cultivados com culturas anuais, perenes ou mesmo em pastagens.

c- Apesar da exposição a que os solos estão sujeitos poder ser evidenciadas em diferentes graus, para qualquer que seja esse nível, a energia dos agentes erosivos se darão em maiores intensidades, e dessa forma, os materiais carreados para longe de seus locais originais não se restringirão apenas aos materiais leves e pequenos como as partículas de argila, matéria orgânica e silte. São também transportados materiais maiores e mais pesados, como partículas de arei e até cascalho e matacões, dependendo apenas da intensidade do agente.

Em função da importância desse processo de degradação de nossos solos,

fatores que poderiam, passar despercebidos aos olhos dos leigos, pelos técnicos da área não podem ser relegados. Dentre esses fatores, por muitos considerados pequenos, ou até desconsiderados, estão a importância do tipo de partícula de areia existe no solo e o efeito da matéria orgânica para as regiões de clima quente.

Quando se comenta sobre partículas de areia, o que se imagina de imediato é o seu tamanho, que pode variar de 0,05 – 2,00 mm de diâmetro, mas existem formas diferentes de partículas de areia, e podem ser agrupadas em partículas redondas e arestadas, fato que ocorre especialmente em função da intensidade dos processos de intemperismo que atuaram em sua formação. As partículas arredondadas de areia comumente são encontradas em regiões quentes e úmidas, e podem aumentar a possibilidade de serem transportadas pela erosão, especialmente por motivarem menos atrito. Se o atrito com o solo (ou entre as próprias partículas) for menor, o agente erosivo, pode dispor de menor quantidade de energia parar transporta-las.

Apesar de se ter a participação do intemperismo na forma das partículas de areia, outros fatores podem participar e, dentre eles, os mais importantes são a gênese do solo, os materiais de origem e o próprio uso e manejo do solo. Embora não seja o momento, faz-se necessário comentar que as mesmas considerações feitas para a forma de partículas de areia vale também para aa forma dos agregados existentes nos solos, desta forma, a grande maioria dos agregados existentes nos Latossolos são de forma arredondada, o que facilita a ação da erosão sobre os mesmos. A localização geográfica do Brasil , confere à matéria orgânica do solo, uma grande importância em termos de controle ou amenização dos prejuízos dos variados tipos de erosão. Esse efeito da matéria orgânica é mais intenso para regiões como as brasileiras em função de que nessas condições, bem como em quaisquer região tropical ou subtropical, o intemperismo é mais acentuado e, como decorrência, tem-se solos mais velhos e portanto com argilas (e óxidos de ferro e alumínio) menos ativos. Nesse ponto é que começa a importância da matéria orgânica, pois funciona como uma eneorme fonte potencial de CTC, possibilitando além de uma retenção maior de cátions, uma ação importante nos processos de agregação dos solos.

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A erosão do solo e seu controle devem ser observados portanto sob uma ótica mais abrangente. Como é o caso dos métodos de controle que possam ser utilizados, os quais devem ser coerentes com as condições ambientais e grau de desenvolvimento e sócio-econômico do país e do agricultor. Cada ecossistema agrícola com suas características próprias de solo, clima e cobertura vegetal, apresenta um determinado potencial de utilização, que deve sempre ser analisados dentro de certos limites de segurança preconizados pelo estudo da erosão e sua possibilidade de ocasionar problemas. Isso significa que o agricultor deve utilizar culturas que tenham a máxima capacidade de proteger o solo, bem como práticas de manejo que interfiram o mínimo sobre ele, bem. Os fatores responsáveis pela erosão do solo variam de local para local e de solo para solo. Chuvas de mesma intensidade podem causar perdas maiores em um local (ou em um solo) que em outro. Neste caso os fatores responsáveis por esse efeito diferenciado poderiam ser as características intrínsecas de cada solo (permeabilidade, agregação e profundidade, dentre outras características), a vegetação sobre eles existente ou a topografia. Por outro lado, mantendo-se essas características constantes, o fator que poderia influenciar de forma mais intensa as perdas de solo seria o efeito climático. Visto ser muito elevado o número de variáveis que atuam no processo erosivo, deve-se analisar quais seriam aquelas que seriam mais problemáticas para a realidade local. Após se conhecer quais são os fatores que atuam de forma mais negativa, deve-se selecionar a prática, ou preferencialmente o conjunto de práticas, mais adequada ao caso estudado. A seleção das práticas de controle à erosão é uma tarefa difícil, mas de fundamental importância para que se possa ter um uso racional das terras, e por isso deve ser feita sempre de forma criteriosa. A demanda de alimentos vem crescendo de forma acentuada e para satisfaze-la há a necessidade de se intensificar o uso da terra em busca especialmente de aumentos da produtividade. Esse aumento no fornecimento de alimentos pode ser embasado, além do aumento de produtividades, na abertura de novas áreas, no entanto chegará o momento em que somente poder-se-á contar com produções maiores por área, e é nesse ponto que se costuma errar, pois não se mede os efeitos que as práticas efetuadas sobre o solo podem causar. Essa necessidade de alimentos, que será sempre crescente, deverá obrigatoriamente ser embasada na capacidade de uso dos solo, e portanto um dos fatores que devem ser considerados é a possibilidade (ou certeza !) de ocorrência de erosão, e portanto crescerá a ação dos técnicos em busca de sua redução (que também implica na redução de custos nas explorações agrícolas). Chegar-se-á no Brasil a esse nível de desenvolvimento e com certeza o passaremos, pois a meta nos países que controlam efetivamente a erosão, nos dias atuais já é outra, como por exemplo a redução no balanço energético ou a eficiência na utilização da água. Deve-se desde já, buscar alternativas, mesmo no Brasil, para se diminuir o gasto de energia nos meios produtivos (e no campo isso não é diferente) e racionalizar a utilização da água, uma vez que estudos já tem demonstrado que o maior problema do próximo século será justamente a água e sua qualidade. O uso de práticas conservacionistas pode minimizar os gastos de energia e promover a conservação da água no meio, além de promover condições para que se possa utilizar o solo como meio produtivo indefinidamente Por outro lado, o consumo desenfreado de recursos naturais finitos ou não renováveis está diretamente relacionado ao desenvolvimento social do povo. As sociedades atuais de consumo estão comprometendo seriamente as próximas gerações, principalmente por não praticarem como deveriam a reciclagem de alguns insumos que correm o risco de literalmente acabar, bem como de minimizar as perdas de outros. Por isso é que se diz que a responsabilidade de se controlar a erosão significa não apenas a manutenção do êxito agrícola mas, pricipalmente, o bem estar e uma grande fonte de renda para toda a sociedade.

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5.2- Efeitos da erosão do solo Como não se tem condições de particularizar todos os efeitos da erosão serão feitos comentários sobre aqueles que podem possibilitar as maiores influências no meio.

a- Modelagem da terra

Como comentado anteriormente, a paisagem que se pode encontrar na atualidade, especialmente para as regiões de planície ou de relevo suavemente ondulado, se deve em grande parte à ação dos processos erosivos ocorridos em um passado remoto. Os solos sedimentares, como o próprio nome diz, são solos formados pela deposição de materiais sólidos vindos de outra região.

Nas condições de solo de Dourados – MS, é comum se identificar, quando se cava trincheiras profundas no perfil, ou mesmo quando se avalia barrancos de estradas, faixas com espessura variável de materiais completamente diferentes daqueles predominantes no solo como um todo. Essas camadas que contem materiais diferentes daqueles contidos predominantemente nos solos podem ser identificados, especialmente por possuírem componentes mineralógicos em que o processo de intemperismo atue de forma diferenciada, sendo o caso por exemplo de camadas de seixos rolados.

b- Diminuição da capacidade produtiva dos solos

Essa ação da erosão é indireta, pois à medida em que atua sobre

características físicas, químicas e biológicas dos solos, e como existe a interrelação entre solo x planta, o decréscimo de produtividade é decorrência certa.

Serão a seguir, particularizados esses efeitos da erosão sobre algumas características do solo. Figura 12- As duas espigas de milho representam, graficamente, a relativa capacidade produtiva de um solo com e sem erosão. Fonte: Stallings (1972) A redução da produtividade em função da ação erosiva pode ser variável de solo para solo, dependendo das características de cada solo e dos fatores metereológicos, o que pode ser observado no Quadro 44.

c- Remoção da matéria orgânica do solo A princípio pode-se dizer que a perda maior da matéria orgânica é r em decorrência dos processos de oxidação biológica, o que não deixa de ser verdade, no entanto esse tipo de perda deve ser encarado como natural e até desejado, já que os benefícios que esse material pode fornecer, somente são advindos enquanto houver o referido processo de decomposição. Além do que tem-se que Ter em mente que existe uma diferença fundamental entre matéria orgânica e matéria orgânica do solo.

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Quadro 44- Efeito da profundidade do solo arável sobre a produtividade do milho sob condições de quatro Estados norte americanos.

Profundidade do solo Produtividade (buchels/acre) (polegadas) Indiana Iowa Missouri Ohio

0 19 - 16 - 2 32 56 25 - 4 41 69 38 33,7 6 48 83 46 46,4 8 54 97 54 51,5 9 - - - 59,5

10 58 102 60 - 12 64 125 54 - 13 67 - - -

Observações: 1 buschel = 35,238 l (EUA) ou 36,367 l (Inglaterra) 1 acre = 4.046,71 m2 Fonte: Stallings (1972) Entretanto o efeito das várias formas de erosão sobre as perdas de matéria orgânica do solo existe e não é pequeno, pois já foi mensurado para regiões temperadas, que o efeito da erosão sobre a matéria orgânica do solo é até 20 vezes maior que o efeito da decomposição microbiana. As partículas coloidais (e até não coloidais) de matéria orgânica normalmente são as primeiras que são carreadas para as partes baixas (rios e córregos se a erosão for causada pela água das chuvas), o que ocorre especialmente em função de seu tamanho e peso específico. O efeito da erosão nas perdas desse tipo de material assume importância ainda maior em função de outro efeito que a erosão tem, o qual baseia-se, pelo impacto direto das gotas de chuva sobre o solo. Quando gotas de chuva se chocam com a superfície do solo, existe uma grande transmissão de energia, que traz como grande desvantagem a desagregação superficial do solo, liberando parte das partículas de argila que, teoricamente estariam protegidas do processo de transporte, uma vez que fazendo parte de um agregado, exigiria uma força muito maior para ser transportada para locais distantes de sua origem.

d- Remoção de nutrientes Sabe-se que a erosão possui caráter seletivo, isto é, transporta primeiramente materiais de solo cujas partículas sejam mais leves e menores, no entanto, a maioria das vezes que se refere à erosão, pensa-se de imediato nas partículas de matéria orgânica, argila, silte e areia. Ao se partir dessa premissa, as perdas de nutrientes no solo serão ainda mais intensas que as perdas de partículas sólidas, fato que é especialmente válido para os elementos químicos que não estejam adsorvidos pelos colóides do solo. O tempo de permanência desses nutrientes no solo passa a Ter importância ainda maior, pois ficarão mais tempo passíveis de serem transportados, é o caso por exemplo de uma pesquisa realizada por um período de 26 anos, onde se avaliou o efeito da erosão sobre perdas de fósforo de duas fontes do elemento. Como fontes do elemento utilizou-se o fosfato de rocha (não prontamente disponível) e o superfosfato (prontamente disponível) e o resultado foi que no decorrer desse período, a perda do elemento quando se utilizou como fonte de fósforo o fosfato natural foi de 82%, superior a perda de fósforo quando a fonte utilizada foi o superfosfato, com a qual se perdeu aproximadamente 63% do total aplicado.

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A explicação que se pode dar para essa perda maior de fósforo quando a fonte do elemento foi o fosfato de rocha, foi que por permanecer mais tempo no solo sob as possíveis ações da erosão, uma maior quantidade foi carregada pela erosão. Nutrientes em forma disponíveis são absorvidos mais rapidamente, sendo pois menos susceptíveis à ação erosiva. Dados fornecidos por Stallings (1972) podem ilustrar o efeito da erosão sobre as perdas de nutrientes no solo, as quais são grandemente influenciadas pela vegetação existente sobre o solo, o que pode ser observado no Quadro 45.

Stallings (1972), citando dados obtidos em Nova Jersey (EUA), demonstra algumas diferenças entre o solo original e o material de solo erosionado, colocando por exemplo que o material erosionado continha 3,7 vezes mais argila muito fina (< 0,00002 mm), 4,7 vezes mais matéria orgânica, 5 vezes mais nitrogênio, 3,1 vezes mais fósforo e 1,4 vezes mais potássio. Além disso verificou que a disponibilidade de fósforo entre os materiais não mudou, mas o potássio era 3,7 vezes mais disponível que os contidos nos materiais originais (no solo). Quadro 45- Média da quantidade de nutrientes contidas nos materiais erosionados (obtidas durante dois anos de pesquisa).

Tratamentos Nutrientes contidos nos materiais de solo erosionados (kg/ha/ano)

N P K Mg Ca S Herva azul contínua (pastagem)

0,67 0,17 2,99 0,24 1,19 ......

Rotação: milho – trigo – trevo

29,54 7,94 239,70 32,70 96,48 6,69

Trigo contínuo 36,30 10,55 259,90 47,82 119,06 9,58 Milho contínuo 73,86 20,17 678,44 97,83 247,52 18,67 Barbecho 132,40 43,31 1.396,06 192,71 513,91 52,36

Fonte: Stallings (1972) e- Perda de materiais de solo Entende-se por perdas de materiais de solo, o transporte de materiais minerais e orgânicos que fazem parte do corpo do solo. Dependentemente da intensidade do agente erosivo os materiais que podem ser transportados podem variar desde partículas de argila e materiais orgânicos até cascalhos e matacões. Outro fator que pode influenciar a quantidade de materiais carreados para rios e córregos se a erosão for hídrica, é o tipo de cobertura vegetal, o que pode ser observados no Quadro 46, obtido pela Seção de Conservação do Solo do Instituto Agronômico de Campinas Quadro 46- Quantidade de material de solo transportado em função do tipo de uso a que o solo está submetido.

Uso do solo Perda Tempo para desgaste terra (t/ha) água (% da chuva) 15 cm (anos)

Mata 0,004 0,7 440.000 Pastagem 0,4 0,7 4.000 Cafezal 0,9 1,1 2.000 Algodoal 26,6 7,2 70

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Embora não sendo o prejuízo mais importante causado pela causado pela erosão, o transporte de materiais sólidos para as partes mais baixas do terreno podem proporcionar inúmeros efeitos posteriores, tão ou mais graves ao longo do tempo que o próprio carreamento de materiais. f- Diminuição do armazenamento de água no solo O armazenamento de água no solo (reserva hídrica, lençol freático), pode ser entendido como a grande fonte potencial de água no meio para o pleno desenvolvimento das plantas, notadamente em regiões onde pode haver os chamados verânicos, onde a frequência de ocorrência de chuvas é muito irregular ou mesmo em solos arenosos, onde a permeabilidade normalmente é grande. Para que essas grandes quantidades de água sejam armazenadas nas camadas mais baixas do perfil do solo, dois fatores são muito importantes, os quais são: f.1- Profundidade do solo Em especial, se o solo originalmente não for muito profundo, com as sucessivas ações da erosão, poderá não haver “espaço” suficiente para armazenar toda a água que seria utilizada pelas plantas em épocas de falta de unidade. f.2- Com o aumento do processo de erosão, seja pela retirada de partículas de argila e matéria orgânica ou seja pelo impacto direto das gotas de água sobre o solo, haverá no mínimo a tendência de que o processo de desagregação se intensifique. Em havendo dispersão superficial do solo, a infiltração da água das chuvas ficará prejudicada, com um grande escorrimento superficial. Não poderá haver armazenamento de água no solo se a água necessária para ser armazenada não se infiltrar. g- Diminuição na disponibilidade de água no solo Para que haja disponibilidade de água no solo é necessário que exista uma adequação entre a quantidade de macro e microporos, sendo que no caso dos Latossolos Roxo distróficos em especial, deverá existir uma quantidade levemente maior de macroporos. A condição para que haja disponibilidade tem que ser esta, pelo fato de se haverá, de um lado oxigenação necessária para que as plantas possam obter energia e por outro, especificamente sobre a água, dentro dos agregados existentes e entre eles (por tensão superficial), haverá umidade retida entre 1/10 e 15 atm, suficiente para a maioria das plantas cultivadas. Com a erosão (especialmente a hídrica), haverá um grande desbalanço entre as quantidades de ar e água no solo, motivado por sua ação na diminuição da agregação do solo, quer seja pelo impacto direto das gotas de chuva sobre o solo ou pelo transporte dos materiais de solo responsáveis pelos processos de agregação, que são as partículas de argila e matéria orgânica, e mesmo os nutrientes (cátions), que podem agir como ponte entre as cargas negativas dos colóides envolvidos na agregação. A matéria orgânica ainda pode deixar de proporcionar outro benefício direto sobre a disponibilidade de água, que é baseado no fato desse componente possuir uma elevada capacidade de absorção de umidade à baixas tensões, e consequentemente, de a colocar à disposição das plantas. Além de afetar a disponibilidade de água nos solos, em regiões úmidas pode se chegar a ter perdas de água da chuva por escorrimento superficial da ordem de 50 a 60% do total da precipitação.

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h- Menor espaço para o desenvolvimento das raízes Duas são as formas básicas em que a erosão pode influenciar negativamente o desenvolvimento dos sistemas radiculares das plantas no solo. O primeiro deles está relacionado à diminuição do volume (profundidade) total do solo e o segundo pela ação que os processos erosivos podem ter sobre a compactação do solo. Sem dúvida alguma, a compactação superficial ou subsuperficial do solo, é o meio é o meio que mais pode influenciar no desenvolvimento das raízes. i) Assoreamento Entende-se por assoreamento a deposição de materiais sólidos depositados em leitos de córregos e rios, ocorrida pela ação da erosão nas áreas de agricultura e pecuária localizadas à montante. Muitas poderão ser os efeitos desse tipo de sedimentação (normalmente de materiais mais grosseiros do solo, como partículas de areia e cascalho) sobre o ecossistema local como um todo, sendo que os principais são:

i.1- Menor drenagem Com o “entupimento”, pelos menos parcial dos leitos de rios e especialmente córregos, o nível da água tende a subir, o que proporcionará condições não adequadas para que se possa promover práticas de drenagem, haja visto que o declive necessário poderá se tornar insuficiente. Em casos mais graves, a água tende a se espalhar por ambas as margens desses cursos de água, podendo promover perdas consideráveis de áreas agricultáveis. Para observadores mais atentos que utilizaram determinadas estradas rurais, não seria difícil verificar-se que nos últimos 15 – 30 anos, muitos pequenos cursos de água que anteriormente tinha de 1 a 2 metros de largura, hoje contam com 10 ou mais metros, podendo-se em casos extremos nem haver a definição clara dos mesmos. Nesse caso não é que o volume de água aumentou, e sim que houve um relativo entupimento do leito original do referido curso de água. i.2- Menor reserva hídrica de rios e córregos Em função do ocorrido no item anterior, determinados mananciais de água não terão reservas de água suficientes para serem utilizados na agricultura, prejudicando da mesma forma, todos o ecossistema particular das águas, a começar pela redução das condições de vida dos peixes. i.3- Problemas nas práticas de irrigação Por existir a possibilidade de ser reduzida a altura média dos cursos de água e mesmo a reserva hídrica local, pode faltar água em quantidade suficiente pra que se possa realizar operações de irrigação. i.4- Problemas de navegação A navegação dá-se normalmente em cursos de água de grande porte (rios), e a medida em que se tem assoreamento intenso nos mesmos, além da altura média desses cursos diminuírem, provocando consequentes impedimentos às embarcações, podem ainda até mudar de curso pelo “entupimento” total de parte do leito original. i.5- Problemas de controle à inundação Inundações de áreas ribeirinhas normalmente ocorrem pelo fato de que o fluxo de água (das enxurradas) não tem vazão ou velocidade suficiente para o pleno escoamento, o que é devido ao aumento da altura original das águas nas calhas dos rios e córregos.

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i.6- Maior custo de produção nas várzeas Como o cultivo de terras de várzea e feito mediante a utilização de sistemas de drenagem, normalmente valas abertas, à medida em que se tem problemas de assoreamento, se deve empreender ações mais frequentes no sentido de “limpar” os drenos de tal forma que o manejo dessas áreas possa se dar a contento. Embora não acrescente custo, outro problema que pode advir nos sistemas de drenagem com o assoreamento dos cursos de água, é o aumento na dificuldade no controle ideal de umidade nessas condições, uma vez que a tendência é se ter altura maior da lâmina de água corrente. j- Menor visualização dos benefícios de novas tecnologias No decorrer dos anos e considerando-se o aumento cada vez maior das pesquisas em todas as áreas da agronomia, era de se esperar que os níveis de produtividade das glebas agricultáveis estivessem muito maiores daqueles hoje observados. Tem-se por exemplo nos dias atuais, cultivares de espécies de plantas com um potencial produtivo muito maior do que aquele normalmente alcançado no campo. Esse aumento de produtividade não proporcional às diferentes inovações tecnológicas, pode ser devido a vários fatores, mas dentre eles o efeito da erosão está presente, pois afetando negativamente algumas características físicas, químicas e biológicas do solo, afetam indiretamente o desenvolvimento e produtividade daquelas espécies de plantas cultivadas economicamente. Esse efeito pode ser parcialmente visualizado no Quadro 47, que reporta dados de aproximadamente 80 anos de exploração da cultura do milho nos Estados Unidos. k- Menor eficiência dos fertilizantes utilizados Esse efeito não pode ser confundido com o efeito da erosão sobre a perda de nutrientes adicionados ao solo pelas fertilizações. Quando se retrata a diminuição da eficiência dos fertilizantes, deve ficar claro que os nutrientes adicionados pelos fertilizantes, estando presentes no solo, teriam menores possibilidades de serem absorvidos pelas plantas. O efeito se dá portanto, sobre a disponibilidade dos nutrientes adicionados. Qudro 47- Média nacional da produtividade da cultura do milho e algodão entre os anos de 1869 a 1948.

Ano Média anual de produção (por acre) Algodão (libras) milho (bushels)

1869-1878 171,6 25,9 1879-1888 172,5 25,8 1889-1898 191,3 26,0 1899-1908 187,7 27,4 1909-1918 183,3 25,8 1919-1928 162,2 27,0 1929-1938 198,0 23,0 1939-1948 256,0 33,0

Fonte: Stallings (1972) As formas pelas quais a erosão poderá afetar a disponibilidade dos nutrientes adicionados pelas fertilizações podem ser resumidas nas formas abaixo discriminadas:

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k.1- Pela perda de matéria orgânica do solo Com a perda de parte da matéria orgânica do solo, tem-se pelo menos duas ações negativas que interferem no processo de disponibilidade efetiva dos nutrientes. A primeira delas deve-se ao fato de se ter, por parte do solo, menor capacidade de adsorsão de nutrientes (especialmente os cátions), pois a matéria orgânica é uma grande fornecedora de CTC. Também devido ao fornecimento de CTC pelos materiais orgânicos é que se tem o segundo efeito, que é obtido mediante a redução nos níveis de agregação dos solos, com as consequências decorrentes. k.2- Pela perda de relativas quantidades de argila Ao se perder pela erosão porções de partículas de argila, se tem os mesmos efeitos relacionados no item anterior. O que pode mudar é intensidade do efeito, o que pode ser variável em função da atividade e da quantidade perdida de partículas de argila. k.3- Pela ação da erosão sobre a água do solo A erosão afetando o armazenamento e especialmente a disponibilidade de água no solo, afeta a eficiência dos fertilizantes adicionados, uma vez que a absorção dos nutrientes dá-se também em decorrência do oferecimento de água disponível no solo. 5.3- Tipos de erosão Durante as várias fases geomórficas da crosta terrestre, a erosão tem atuado no sentido de nivelas a superfície da paisagem como um todo, e este processo modelador natural é contínuo e seria superior a qualquer controle imposto pelo homem em um passado remoto. Hoje, em função de um relativo equilíbrio, o homem pode agir de formas a atenuar esses efeitos. A participação do homem dá-se portanto, quando, por qualquer razão, este equilíbrio é rompido e se tem o tipo de erosão denominada por acelerada. A utilização inadequada do solo pelos agricultores e/ou pecuaristas é o gatilho que dispara a ação do processo erosivo, que se inicia quando se retira a cobertura natural existente sobre o solo. No Brasil o principal agente causador de erosão é a água das chuvas, e portanto merecerá atenção especial, no entanto não deve ser desmerecido o efeito negativo dos ventos. Embora possam existir outros tipos de classificação dos tipos de erosão, serão considerados nesses apontamento aqueles tipos que se considera mais importantes em função das condições de clima, relevo e solos brasileiros, ao quais são: a) erosão pela água (ou hídrica), b) erosão pelo vento (ou eólica), c) erosão por embate e d) erosão vertical. 5.3.1- Erosão hídrica A partir do momento em a velocidade de percolação da água no solo não for suficiente para que toda a água proveniente das chuvas se infiltre, começa haver o que se denomina de escorrimento superficial. Por possuir a água que escorre sobre o solo uma fonte grande de energia, pode haver o transporte de partículas de solo para as partes mais baixas do terreno. É a esse processo que damos o nome de erosão hídrica. Três são as fases da erosão hídrica: a) desagregação, motivada principalmente pelo impacto direto das gotas de chuva sobre os agregados do solo, mas podendo também ocorrer mediante os efeitos que a erosão traz sobre algumas características físicas e químicas do solo, b) transporte, que ocorre em função das enxurradas possuírem energia e c) sedimentação, quando a energia requerida para o transporte de materiais de solo se dissipa. A partir desse momento os materiais transportados são deixados sobre os solos das partes mais baixas ou em leitos de rios e córregos.

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Os tipos de erosão hídrica considerados serão: a) laminar, b) em sulcos, c) por desabamento, d) voçorocas, e) em pedestal, f) em pináculo e g) em túnel. Outros tipos de erosão podem ser citadas por outros autores, no entanto o interesse é realmente pelas citadas anteriormente, em especial pelas quatro primeiras. 5.3.1.1- Erosão laminar Denomina-se erosão laminar aquele tipo de erosão onde, mediante a ação da água que escorre superficialmente sobre um dado solo, no qual não existe pontos de concentração de água, possuem a possibilidade de transportar para as partes mais baixas do terreno camadas aproximadamente uniformes em espessura.

Geralmente imperceptível em seus estágios iniciais em seus estágios iniciais, acarreta grandes e sérios prejuízos ao solo por transportarem as camadas que normalmente tem um maior efeito benéfico às plantas.

O estágio inicial do processo está diretamente ligado ao impacto das gotas de chuva que atingem o solo com muita energia, destruindo os agregados superficiais e consequentemente individualizando grande parte das partículas do solo. Essas partículas, além de se deslocarem por salpicamento no instante do impacto, se tornam mais vulneráveis ao transporte pela água que escorre superficialmente sobre o solo.

A desagregação através do impacto e o subsequente transporte, são fases complementares do processo erosivo e responsáveis pela retirada dessas camadas superficiais dos solos. No Brasil, onde há clara predominância de solos de baixa fertilidade, nos quais as plantas se desenvolvem graças às fertilizações e correções rotineiramente realizadas, a perda de solo por erosão laminar assume impoprtância ainda maior.

A natureza do solo, a intensidade das chuvas e a cobertura vegetal são os principais fatores determinantes do desgaste superficial dos solos. Esse tipo de erosão tem sido um dos principais responsáveis pela rápida queda da capacidade produtiva em várias regiões brasileiras.

Embora para áreas extensas não seja fácil a ocorrência de lâminas de água uniforme em escorrimento, especialmente por se ter usualmente caminhos de menor resistência (ou preferenciais), quando se considera pequenas áreas seu efeito assume grandes proporções. Normalmente esse tipo de erosão está associado à erosão em sulcos.

A quantidade de solo transportada por esse tipo de erosão depende da turbulência e velocidade da enxurrada e do tipo e percentagem de material abrasivo que é transportado.

Vale ressaltar que a quantidade de material transportado depende ainda da erosividade da chuva e de características do solo e da vegetação existente.

As áreas em estágio avançado de desgaste superficial podem ser identificadas pela queda de produtividade ao longo dos anos, pela mudança da coloração dos solos, pela enxurrada barrenta, pela coloração das águas dos córregos que recebem estas enxurradas, pelo afloramento de rochas e pelo aparecimento de raízes.

Dentre os vários fatores que atuam sobre esse tipo de erosão, um dos mais importantes é a diminuição na velocidade de percolação da água, que pode ser manejado mediante adequação de uso do solo e de plantas que possam protege-lo de forma mais eficiente.

Os fatores que mais podem contribuir para que a infiltração do solo seja reduzida são:

a- Variação da umidade na camada superficial Á medida que ocorre variações de umidade na camada superficial, o solo

tende a se organizar (se ajustar), e como uma das consequências mais danosas desse processo tem-se reduções na porosidade total e macroporosidade.

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b- Eluviação de partículas de argila

A eluviação de partículas de argila no perfil tem a capacidade de promover reduções ainda maiores nos poros do solo. Esse processo é causado especialmente pelo impacto das gotas de chuva sobre o solo, pelo uso de implementos inadequados que tenham elevada capacidade dispersora, pela correção do solo a níveis não condizentes com sua capacidade específica de suporte e à inadequação do balanço de cargas no solo. c- Tráfego intenso À medida em que aumenta o tráfego de máquinas agrícolas sobre o solo, observa-se aumentos nos níveis de compactação, e uma das consequências desta, é justamente a diminuição no processo de infiltração de água no solo. Para que se possa fazer o devido controle desse tipo particular de erosão, alguns objetivos básicos devem ser diretamente enfocados, sendo eles:

a- Utilizar cobertura morta superficialmente sobre o solo ou buscar plantas que possam promover a mais completa cobertura do solo. Se não for possível a obtenção de plantas que tenham essas características, já que o mercado pode influenciar na escolha das culturas, plantas que tenham essas peculiaridades devem ser utilizadas em sistemas de rotação.

b- Evitar qualquer procedimentos que possam causar a pulverização do solo, mediante a utilização de práticas e implementos adequados bem como fertilizações e correções em conformidade com a capacidade de suporte dos solos.

c- Buscar a utilização de práticas conservacionistas que tenham por finalidade a busca do aumento dos níveis de infiltração, aumento na agregação e mecanismos que possam viabilizar diminuição na velocidade das enxurradas.

5.3.1.2- Erosão em sulcos A erosão em sulcos ocorre quando a chuva excede a capacidade de infiltração de água no solo e esta se concentra em depressões, formando filetes, que podem se derivar para outros, convergindo para os pontos mais baixos do terreno. a medida em que o comprimento dos sulcos aumentam, aumenta o volume e a velocidade da enxurrada que escorre por seu interior, fatores incrementadores em sua capacidade erosiva. Entre os vários fatores atuantes nesse tipo de erosão, além daqueles responsáveis pela erosão laminar, tem-se a aração, plantio e praticas de manejo de cultura realizados no sentido do declive, sistemas de terraços mal locados ou mal constuídos, sistemas de canais escoadouros de água mal dimensionados ou com revestimento inadequado e estradas que por qualquer razão possam promover o acúmulo de água. Além do transporte se grandes quantidades de terra, outro problema dos sulcos de erosão é que podem proporcionar, ao longo do tempo, obstáculos e eté impedimentos ao uso da maquinaria agrícola. Os sulcos de erosão podem ou não estar associados à erosão do tipo laminar (normalmente estão). Mesmo os Latossolos, tidos originalmente como de alta permeabilidade, ao longo dos anos

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de uso, especialmente sob sistemas de manejo inadequados, são passíveis de ocorrência de erosão em sulcos. Faz-se necessário no entanto que se observe as muitas diferenças que podem haver entre os vários solos que tem essa classificação.

5.3.1.3- Erosão por desabamento

Esse tipo de erosão ocorre normalmente em solos profundos e pouco coerentes como é o caso específico dos Latossolos ou dos arenosos. Os sulcos deixados pelas enxurradas, à medida em que vão se aprofundando, facilitam o desmoronamento de duas paredes laterais, pois a água que escorre para dentro do mesmo vai solapando as partes localizadas abaixo da superfície do solo que, com o peso adicional que lhe é imposto pela própria água infiltrada, faz com que grandes pedaços de solo caiam no interior dos sulcos (normalmente sulcos grandes – voçorocas).

Pode-se ainda dizer que a erosão por desabamento é o deslocamento (ou escorregamento) de massas de solo que podem atingir grandes proporções. Um exemplo muito comum desse tipo de erosão são as grandes quedas de partes de morros ou montanhas em regiões urbanas, como ocorre no Rio de Janeiro ou Minas Gerais.

5.3.1.4- Voçorocas

As voçorocas nada mais são do que sulcos grandes. O problema de sua existência está ligado às operações que porventura tenham que ser realizadas para que se possa elimina-las, visto que em função de sua dimensão, além do volume de terra necessário para tapa-las, o custo dessa operação pode inviabilizar este procedimento.

Normalmente o caminhamento da voçorocas no terreno é das partes mais baixas para as parte mais altas, já que dessa forma o desabamento é possível de ocorrer.

5.3.1.5- Erosão em pedestal

Este tipo de erosão ocorre normalmente em locais onde não existe a erosão

do tipo laminar com as enxurradas uniformes. Os pedestais se formam normalmente sob alguma forma de proteção da ação direta das gotas de chuva, como pedras ou raízes, sendo o solo ao redor, transportado ao longo dos anos por salpico.

5.3.1.6- Erosão em pináculo

Ocorrem normalmente dentro de voçorocas, sendo tão somente áreas de

maior resistência à erosão dentro de seu interior. Um dos exemplos clássicos desse tipo de erosão são as formações rochosas de Vila Velha.

5.3.1.7- Erosão em túnel

Com a penetração da água no solo e posterior encontro de uma camada mais

adensada (que pode ser até a própria rocha), a água tende a escorrer por sobre esta faixa adensada, deixando um túnel formado. Este tipo de erosão normalmente é muito demorado e ocorre desde que a água tenha saída na parte mais baixa da encosta.

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5.3.2- Erosão eólica

Como o próprio nome diz, erosão eólica é aquela em que o agente erosivo é o vento, e a nível de Brasil o seu efeito é bem menor que aquele provocado pela erosão hídrica, no entanto em algumas regiões do país os seus efeitos nocivos já se fazem sentir, notadamente nas regiões muito arenosas e em algumas áreas em vias de desertificação.

Esse tipo de erosão ocorre normalmente quando há exposição do solo por práticas de manejo inadequadas, notadamente quando o solo apresenta-se solto (pulverizado), seco e com elevada percentagem de microagregados e com pouca ou nenhuma cobertura vegetal.

Os mais sérios problemas decorrentes de sua ação são mudanças em sua textura original e redução em seus níveis de fertilidade.

A ação desse tipo de erosão depende dos movimentos que o vento possa assumir e normalmente inicia-se quando a velocidade do vento atinge a marca de 15 km/hora, condições em que, de acordo com Bertoni & Lombardi Neto (1990), partículas de 0,1 mm de diâmetro já podem ser elevadas a alturas de até 30 centímetros.

Estima-se que aproximadamente 40 milhões de hectares de áreas agricultáveis estão sujeitas a algum tipo de erosão eólica nos dias atuais, e se o manejo dos solos não se adequar às suas capacidades de suporte, essa cifra poderá aumentar.

Freire (1984), cita uma equação proposta por Schwvab para relacionar a velocidade do vento com a quantidade de solo transportado, a qual segue:

S = α x (V – V0)

3 x d 0,5 em que S = quantidade de solo transportado V = velocidade do vento V0 = velocidade do vento (mínima) para transportar determinada classe de partícula d = diâmetro das partículas α = rugosidade do terreno (tem efeito sobre a velocidade do vento)

Ao contrário do que a princípio possa parecer, a ação do vento e seus movimentos são muito complexos, podendo esses movimentos serem classificados em:

a- Redemoinhos e sentido predominante O sentido predominante do vento pode variar em função de onde a sua

origem, podendo ser por exemplo no sentido Noroeste- Sudeste, no entanto a energia que os ventos possuem não de dá apenas em função da origem do vento e de seu sentido predominante de “caminhamento” . O seu potencial erosivo é grandemente aumentado em função da ocorrência de redemoinhos em seu interior. Os ventos (notadamente os mais fortes), possuem na verdade uma ação combinada de movimento preferencial de caminhamento associado com o movimento em espiral.

b- Saltos O efeito dos ventos provocando erosão por saltos ocorre principalmente

sobre partículas de tamanho compreendido entre 0,05 e 0,5 mm de diâmetro. O movimento se dá na forma de saltos em função do vento ter força

suficiente para elevar essas partículas do solo, mas não para mante-las em suspensão, pois a força da gravidade as traz de volta à superfície do terreno, o que pode ser observado pela Figura 16, que também representa a ação do vento em função do tamanho de as partículas.

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O movimento específico de saltos também pode ser observado pela Figura 14, na qual se visualiza a relação entre a altura que as partículas são elevadas em relação à distância que podem percorrer.

Figura 14- Trajetória de uma partícula movida aos saltos. Fonte: Freire (1984) O movimentos por saltos inicia-se pelo fato de se formar uma região de baixa pressão sob as partículas, que é conseguida em função da velocidade do vento, tendendo a eleva-la, o que está demonstrado na Figura 15. P Figura 15- O aumento da velocidade do vento cria uma região de baixa pressão sobre a partícula. Fonte: Freire (1984)

c- Suspensão Essa ação do vento pode ocorrer quando a sua energia para transportar

partículas suplanta a força da gravidade. O movimento por suspensão normalmente ocorre sobre partículas menores que 0,1 mm de diâmetro.

d- Rolamento O rolamento, ou também chamado de arraste superficial, ocorre

normalmente sobre partículas maiores, entre 0,5 – 2,0 mm de diâmetro, e se dá por arraste pelo fato do vento não ter energia suficiente para levantar do solo essas partículas.

Partículas (mm de diâmetro) 0,05 0,1 0,15 0,5 1,0 2,0

Tamanho mais susceptível ao transporte

Suspensão

Saltação

Rolamento

h 6 a 12º

t = 10 x h

Superfície do solo partícula

Direção do vento

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Figura 16- Formas de transporte de partículas pelo vento em função de seu tamanho. Fonte: Freire (1984) Os fatores mais importantes que atuam sobre o processo de erosão eólica são:

a- Velocidade do vento b- Rugosidade da superfície do solo c- Tamanho das partículas d- Densidade das partículas e- Grau de agregação das partículas f- Teor de umidade do solo g- Grau de exposição do solo

A maioria dos métodos de controle da erosão eólica são baseados no manejo dos fatores que

atuam sobre ela, e dentre eles são destacados os seguintes:

a- Diminuição da exposição do solo

Sem sombra de dúvida é este o melhor dos métodos, já que alem proteger os solo contra os efeitos do vento não causam problemas secundários como aqueles oriundos da existência de quebra ventos.

b- Quebra ventos Embora possam diminuir a ação dos ventos, o seu controle traz algumas desvantagens, como

por exemplo a perda de área útil com o plantio de espécies que tenham a única finalidade de barrar, embora parcialmente, a ação dos ventos e a sombra que em determinadas horas do dia poderá fazer sobre a cultura principal.

c- Práticas de manejo que minimizem a dispersão do solo

Toda e qualquer prática de manejo de solo que possa reduzir a dispersão superficial do solo deve ser evitada, com o risco de se poder intensificar esse tipo de erosão.

d- Paliçadas

Em áreas (especialmente desérticas) onde com frequência haja grande movimentação de materiais de solo, é indicada a construção de barreiras com troncos de árvores que tenham até vários metros de altura, de tal forma que se possa barrar a movimentação das partículas, que em algumas localidades da África chegam a cobrir totalmente certos vilarejos.

5.3.3- Erosão por embate

A erosão por embate na verdade é uma forma peculiar de ação erosiva das

águas da chuva, e é colocada como sendo um tipo específico de erosão em função de sua importância prática.

Denomina-se erosão por embate ao efeito desagregador provocado no solo pelo impacto direto das gotas de chuva. É sem dúvida o início de todo processo erosivo provocado pelas águas.

Dentre os vários efeitos negativos que o impacto direto das gotas de chuva podem causar sobre o solo estão: a) desagregação do solo, b) transporte por salpico, c) diminuição na permeabilidade do solo e e) fornecimento de turbulência às enxurradas.

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a- Desagregação do solo As gotas de chuva, por terem um determinado peso (que pode variar em

função de seu diâmetro médio) e serem formadas e liberadas em queda livre de grandes altitudes, adquirem uma determinada energia, que é transmitida ao solo. Quando essas gotas de chuvas se chocam com o solo, essa energia rompe um ou mais agregados existentes, liberando as partículas individualizadas de argila, areia, silte e matéria orgânica.

b- Transporte por salpico Quando uma gota de chuva choca-se contra o solo desagregando-o, parte

das partículas individualizadas podem ser, em função de seu tamanho, lançadas a distância de até 1,5 metros de seu local original. É a esse movimento que denomina-se de transporte por salpico, talvez a única forma natural existente em que partículas sólidas podem movimentar-se naturalmente no sentido contrário ao do declive, embora deve-se ter em mente que a resultante de deslocamento é sempre para baixo. Esse sistema de transporte está demonstrado na Figura 18.

Figura 18- Representação do movimento por salpico após o choque de uma gota sobre o solo.

c- Restrição na permeabilidade do solo A diminuição da permeabilidade do solo dá-se pela ação dispersante e

compactante das gotas de chuva. Essa compactação de solo provocada pelo impacto das gotas de solo ocorre pelo fato de durante exercerem uma relativa pressão sobre o solo, além de seu efeito dispersante.

d- Fornecimento de turbulência às enxurradas Quando gotas de chuvas caem sobre as enxurradas, a energia contida nelas é

transmitida ao volume de água corrente, que ganhará um poder erosivo complementar, já que com esse choque de gotas sobre a enxurrada esta terá também movimentos similares aos das ondas.

Para que se possa ter um parâmetro palpável, do poder erosivo do choque das gotas de chuva sobre os solos, pode-se imaginar um exemplo hipotético fornecido a seguir: Características gerais de uma chuva: - Intensidade de 100 mm/hora - Diâmetro médio das gotas de chuva = 2,5 mm - Velocidade terminal das gotas (no momento do impacto) = 7,0 m/Seg. - Massa de água no período de 1 hora = 1.000 t/ha A energia transmitida por essa chuva ao solo, teóricamente será de:

em que:

Superfície do solo

Impacto da gota sobre o solo

Movimento de partículas do solo

2

2mxV

Ec =

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Ec = Eneregia cinética, kgm/m2 m = Massa total da água de caiu, t V = velocidade terminal da gota durante o ompacto, m/Seg tem-se: Ec = 1.000 x 72/2 Ec = 24.500 tm/ha 24.500.000 kgm/ha 2.450 kgm/m2 Obs: 1 kgm = 2,347 cal = 9,81 J A grande magnitude da energia cinética da chuva pode ser facilmente perceptível através de simples cálculos. De acordo com Stallings (1972Z), o peso da água de uma chuva normal que cai, durante trinta minutos, na faixa produtora de milho dos Estados Unidos, pode exceder a 100 toneladas por acre. Os bilhões de gotas de chuva, que compões esse grande volume de água, chocam-se diretamente contra o solo se este não estiver protegido pela cobertura vegetal, a uma velocidade média de 32 km/hora. A energia da chuva a ser gasta durante 30 minutos pode exceder a 2 milhões de pés-libras/acre, e se a chuva for acompanhada de ventos fortes, a energia de impacto pode ser ainda maior.

5.3.3.1- Tamanho das gotas de chuva O tamanho das gotas de chuva está intimamente relacionado com o seu

efeito desagregador no solo, dessa forma tem-se que quanto maior for o tamanho das gotas de chuva, maiores serão os prejuízos sobre o solo. Vale ressaltar no entanto que o tamanho das gotas de chuva não aumentam indefinidamente, tendo o seu limite máximo em torno de 7 mm de diâmetro.

à medida em que a intensidade das chuvas aumenta, o diâmetro médio de suas gotas aumentam proporcionalmente, até o limite anteriormente estabelecido, a partir dessa intensidade (aproximadamente 76 mm/hora) o diâmetro médio permanecerá constante, o que pode ser observado através da Figura 19.

7,0 Intensidade das chuvas (mm/hora) Figura 19- Tamanho médio das gotas de chuva em função de sua intensidade. Qual seria a situação de maior risco, uma chuva intensa e muito curta ou uma chuva com pouca intensidade mas que ocorra durante um longo período de tempo? Muitos questionamentos como esse são feitos todos os dias a nível de campo, e para que possamos responde-lo temos que nos embasar em conhecimentos teóricos e muitas vezes em nossa crítica pessoal.

Tamanho médio

das gotas (mm)

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5.3.3.2- Forma e velocidade das gotas A gota de chuva tem a sua forma peculiar, no entanto, à medida em que cai de uma certa altitude, em função do atrito com o ar ela se deforma, aumenta um pouco a sua base e, a partir de uma determinada altitude de que for lançada, adquire o que se denomina de velocidade terminal. Não aumenta mais sua velocidade, sendo esta a razão pela qual até gotas lançadas por sistemas de irrigação podem ter o mesmo efeito erosivo que gotas de chuva, formadas a mais de 1.000 metros de altura. A velocidade terminal das gotas de chuva aumentam a medida em que o diâmetro médio das mesmas aumenta, o que pode ser observado pela Figura 20. Diâmetro médio da gotas (mm) Figura 20- Comportamento da velocidade terminal das gotas de chuva em função de seu diâmetro médio. Gotas de chuva com o diâmetro máximo de 6-7 mm podem atingir as velocidades máximas terminais se lançadas de altitudes de 7,2 – 7,5 metros, o que pode melhor ser observado através do Quadro 48. Quadro 48- Velocidade terminal de gotas de chuva de vários diâmetros e a altura requerida para que possa ser atingida.

Diâmetro da gota de chuva

Velocidade terminal

Altura de queda com a qual a gota atinge 95% de sua

velocidade terminal mm m/s m

1 4,0 2,2 2 6,5 5,0 3 8,1 7,2 4 8,8 7,8 5 9,1 7,6 6 9,3 7,2

Fonte: Freire (1984)

5.3.4- Erosão vertical

As gotas de chuva que atingem o solo coberto por uma película de água provocam a suspensão de partículas coloidais. Essas partículas coloidais em suspensão pela ação direta das chuvas ou por diversas outras ações anteriores de manejo inadequado de solo, podem

Velocidade terminal (m/seg)

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penetrar no solo descendo o seu perfil e depositando-se em pontos logo abaixo. Esse movimento pode acontecer naturalmente no solo e é denominado de eluviação.

Pode-se portanto dizer que a erosão vertical nada mais é do que uma aceleração do processo de eluviação no solo.

5.4- Fases do processo erosivo O processo erosivo como um todo, notadamente aquele promovido pela erosão hídrica, é composto por três etapas básicas que são: a) desagregação, b) transporte e c) sedimentação, já comentados anteriormente. As duas primeiras etapas requerem gastos de energia e dependem direta ou indiretamente da erosividade das chuvas ou do agente erosivo. O efeito direto das chuvas dar-se-á pelo impacto direto das gotas de chuva sobre o solo, bem como suas ações indiretas de dispersão (sobre a perda de matéria orgânica, cátions e compactação, dentre outras) e pela transmissão de energia às enxurradas, proporcionando-lhe maior turbulência. A terceira fase ocorre na ausência de energia, já que para haver a sedimentação dos materiais transportados as partículas não podem se manter em suspensão ou outro tipo de movimento. Por outro lado, o efeito da erosão também se deve às características particulares de cada solo, o que denomina-se de erodibilidade. Duas colocações importantes podem ser postas portanto: a) Solos de natureza diferentes comportam-se de forma e com intensidade diferente em cada uma

dessas fases. b) Se um dado solo for submetido a manejos diferentes, os efeitos da erosão sobre ele, se

manifestarão também de forma. Pode-se portanto dizer que a erosão é função direta da erosividade (capacidade da chuva ou do agente erosivo em provocar erosão) e da erodibilidade (suscetibilidade que os solos possam ter em serem erodidos). 5.5- Fatores que afetam a erosão Dentre os muitos fatores que podem atuar sobre os processos erovivos, os mais importantes são: a) regime pluviométrico, b) propriedades físicas e químicas do solo, c) topografia do terreno, d) cobertura vegetal e e) manejo do solo e das restevas. 5.5.1- Regime pluviométrico Para se observar os possíveis efeitos da erosividade das chuvas e se for o caso dos ventos nos processos erosivos, existe a necessidade de se possuir os dados climatológicos da região onde se pretende trabalhar. Esses dados podem estar disponíveis em estações metereológicas, sendo também comum em muitas fazendas. Se tais dados não forem possíveis de se obter, resta a busca de experiência de pessoas que vivam nestas localidades por longo tempo. A influência que o regime pluviométrico pode ter sobre a ação erosida das chuvas é de fundamental importância, e depende da intensidade e duração das chuvas e da frequência e distribuição das mesmas durante o ano. Tendo portanto a quantidade de chuva de cai por dia, no ano (preferencialmente por vários anos), já se pode dispor de dados que possam auxiliar as mais variadas inferências sobre as chuvas e sua erosividade potencial.

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5.5.1.1- Intensidade e duração das chuvas A intensidade da chuva é definida como sendo a quantidade de chuva que cai por unidade de tempo em um determinado local, expressa em mm/h. Normalmente o que ocorre é que quanto mais intensa for as chuvas, tanto maiores serão os prejuízos causados, pelo fato de que existe uma grande possibilidade do solo não proporcionar as condições necessárias para que esse grande volume de água acumulado superficialmente sobre o solo se infiltre. Em não havendo infiltração dessa água ou ela se acumula ou escorre superficialmente, o que é mais comum. Além da maior quantidade de água que é depositada sobre o solo através das chuvas mais intensas, sabe-se que o tamanho das gotas e consequentemente a energia transmitida ao solo por ocasião do impacto são proporcionais à intensidade, desta forma o seu prejuízo é duplo. Em regiões de clima tropical e subtropical o problema de chuvas intensas é mais comum de que ocorre em regiões de clima frio, fato que se deve às peculiaridades das formações e movimentações de massas de ar. Tem-se portanto que as chuvas menos intensas podem causar índices menores de erosão, já que por cair menores quantidades de água por unidade de tempo, o solo pode, com maior facilidade dar condições para que haja a devida infiltração através de seu perfil. o que não quer dizer que esse tipo particular de chuva não possa causar erosão. Pode e causa, basta apenas que as condições de infiltração em condições de solo saturado lhe seja desfavorável. A partir desse momento, outro fator entra em discussão, além da sua intensidade, que é a duração das mesmas. Faz-se aqui um questionamento simples: O que causaria mais prejuízos ao solo, uma chuva intensa que ocorre em um período pequeno ou uma chuva pouco intensa que ocorre por longo tempo? Esse questionamento não pode ser respondido rapidamente sem que se corra riscos. Normalmente é de se esperar que as chuvas intensas ocorrentes em um pequeno espaço de tempo sejam mais prejudiciais, no entanto deve-se avaliar as características físicas do solo e se levantar peculiaridades das chuvas, pois mesmo sendo pouco intensas ( uma chuva por exemplo de 15 mm/hora, ocorrendo durante 24 horas), em algum momento durante a sua ocorrência, pode haver alguns momentos onde a intensidade seja grande e nesse momento, se as condições de infiltração do solo não forem ótimas, pode começar o processo de erosão de forma mais intenso. O problema de ocorrência de erosão por chuvas depende não somente de suas características intrínsecas, mas, também das condições que o solo pode facultar ao caminhamento da água no perfil e principalmente das características da cobertura que possa existir sobre o mesmo. 5.5.1.2- Frequência e distribuição das chuvas Frequência de ocorrência de chuvas diz respeito ao tempo médio decorrido entre as precipitações que caem em uma determinada área no decorrer do ano. Diz-se que as chuvas são mais frequentes se o espaço de tempo entre as precipitações não for muito grande. Por outro lado, as chuvas podem ser frequentes em uma determinada época do ano e ausentes em outra, o que implica dizer que são mal distribuídas no decurso do ano. Embora exista uma tendência, não se pode generalizar a afirmação que o desejável é que se tenha a ocorrência de uma frequência maior de chuvas e que estas estejam bem distribuídas ao longo do ano. A cultura do algodão por exemplo necessita de períodos em que a chance de ocorrência de chuvas seja o mínimo possível, pois não adianta nada se obter produtividades altas se na hora da colheita existir grandes riscos de ocorrência de chuvas, o trabalho pode se perder e os prejuízos acontecerem. Ao se verificar a maioria das culturas e os riscos de erosão, o desejável é que ocorram chuvas com uma frequência maior e o mais distribuídas possível no decorrer do ano, pois dessa forma as plantas poderiam obter água mais facilmente já que o solo permanecerá mais úmido e a água sobre o solo poderia ter maiores facilidades de infiltração, já que as quantidades adicionadas

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por período de tempo teriam mais tempo para se infiltrar. Essa é uma das características de regiões de clima temperado, onde os riscos de erosão são muito menores, pois além das chuvas serem normalmente menos intensas, são mais frequentes e bem distribuídas durante o ano. O grande problema poder vir da associação de chuvas intensas que ocorrem em regiões onde são mal distribuídas, ou seja, se concentram em uma determinada época do ano, esse é o caso de regiões de clima quente, onde os cuidados com erosão devem ser redobrados. 5.5.2- Propriedades físicas e químicas do solo Serão feitos comentários e discussões, de forma isolada, sobre algumas propriedades do solo que tenham efeito sobre a erosão. Entretanto, não se pode perder a idéia de conjunto, pois o solo é constituído de um grande número de propriedades que interagem entre sí. Uma determinada característica do solo pode pesar muito sobre o processo erosivo, e mesmo influenciar de forma mais significativa, e portanto merecerá atenção especial, no entanto nunca se poderá perder a idéia de conjunto e interação entre elas. Assim por exemplo a porosidade (e a distribuição de poros no solo) é a característica que determina a velocidade de infiltração de água no solo, no entanto ela é influenciada diretamente pela agregação, e este parâmetro pode ser influenciado por inúmeros outros, dentre os quais o percentual de matéria orgânica do solo, a quantidade e qualidade das argilas existentes, pelas variações de pH (em alguns solos), pelo balanço de cátions, dentre outros fatores intervenientes. Os fatores intrínsecos ao solo que podem atuar de forma mais intensa sobre o processo erosivo são: a) textura e estrutura, b) matéria orgânica, c) balanço de cargas, d) profundidade do solo, e) características do subsolo e f) fertilizade do solo. Esses fatores por sua vez, podem propiciar inúmeras decorrências negativas sobre outras características dos solos. 5.5.2.1- Textura e estrutura do solo Essas duas características do solo serão estudadas conjuntamente em função do grande efeito interativo existente entre elas. Entende-se por textura a distribuição percentual de partículas de argila, silte e areia existente no solo, e por estrutura, a capacidade que essas partículas podem possuir em se “juntar”, formando o que se denomina de estrutura e em muitos casos, recebe o nome de agregados, que na verdade são um tipo particular de estrutura. É comum até a troca dos termos estrutura por agregados, em função desse tipo particular de “aglomeração” de partículas ser muito comum, para a grande maioria dos solos. Será justamente através (entre) das partículas individuais do solo e de seus agregados que se dá o processo de infiltração da água do solo. O desejável portanto, é que se tenha solos o mais agregado possível, para que em sua decorrência, se tenha mais poros (especialmente macroporos) e com isso se dê de maneira mais eficiente a infiltração da água no solo. Quando se discute esse assunto, uma pergunta sempre pode ser feita: Sob a ótica apenas e especificamente da textura, os processos erosivos seriam mais atuantes em um solo arenoso ou em um solo argiloso? Quando se penda apenas na textura do solo, sem que ele tenha possibilidades de agregação ou que se dispersou completamente, o solo arenoso seria aquele que poderia possibilitar um nível de infiltração maior, e portanto, seria menos susceptível às ações da erosão. Tal fato pode ocorrer pois sendo as partículas de areia maiores que as partículas de argila (uma comparação simples seria : se uma partícula de argila tivesse 1 milímetro de diâmetro a partícula de areia teria aproximadamente 1metro de diâmetro), proporcionarão melhores condições de infiltração através dos espaços existentes entre elas.

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No entanto, os solos, além de possuírem as partículas individualizadas, possuem a capacidade de agrega-las, o que muda muito a forma de se analisar o assunto. Solos argilosos, embora efetivamente tenham partículas menores, por se agregarem (se agregados estiverem), proporcionarão condições de infiltração à água, muito melhores que os solos arenosos, pois os espaços porosos serão maiores, e além disso, Ter-se-á uma quantidade maior de poros grandes, os chamados poros de aeração, também responsáveis pela infiltração de água nas camadas mais superficiais do solo. A grande vantagem dos materiais de argila é que possuem cargas elétricas, que podem, tendo cátions fazendo a ligação entre elas, promover o desejável aumento nos níveis de agregação do solo. Partículas de areia e de silte pouco contribuem para esse processo por oferecerem um número pequeno dessas cargas. Uma das grandes finalidades do manejo do solo é a busca constante pelo oferecimento da maior quantidade possível de agregados, o que determinaria, além de redução nos processos erosivos, melhores condições ambientais às plantas. Não basta no entanto que o solo tenha uma grande quantidade de agregados, é fundamental que esses sejam estáveis (resistentes) aos mais variados efeitos, dentre os quais se tem uma capacidade mais efetiva de receber o choque das gotas de chuva sem quebrar-se (sem dispersar-se, ou dispersar-se o mínimo possível). Se os agregados existentes forem muito pouco estáveis, pode ocorrer sua dispersão apenas com o umidecimento, sem que haja choque direto das gotas. De qualquer forma, quando esses agregados se quebram, os espaços vagos (poros), serão sistematicamente preenchidos por partículas menores, causando os malefícios decorrentes. 5.5.2.2- Matéria orgânica O efeito dos materiais orgânicos nos solos são tanto maiores quanto mais intemperizados forem os solos, pois a tendência sob essas condições é de que a qualidade das partículas de argila seja diminuída, notadamente quanto ao fornecimento de CTC. Essa baixa atividade das partículas de argila pode promover, além da uma pequena possibilidade de adsorção de cátions, uma pequena possibilidade de agregação, a não ser que se mantenha os solos (especialmente os Latossolos) com sua condições naturais, pois com níveis altos de alumínio, elemento que tem elevada capacidade de ligação, os solos poderiam manter por mais tempo a estabilidade dos agregados existentes, no entanto, essas condições não são desejadas sob o ponto de vista agronômico. Não basta no entanto se pretender que os níveis de matéria orgânica do solo sejam mantidos altos, é necessário que inúmeras ações sejam realizadas nesse sentido, especialmente nas regiões de clima quente, tendo em vista a elevada capacidade de decomposição dos microorganismos nessas condições de ambiente. Outro cuidado que se deve ter quando há a pretensão de se utilizar a matéria orgânica como condicionador do solo é que seu efeito no processo de agregação e consequentemente como meio de se reduzir a erosão, depende diretamente do balanço de cargas no solo. Desta forma e considerando-se que normalmente a carga líquida dos solos é negativa, com o acréscimo dos níveis de matéria orgânica por práticas de manejo, pode-se aumenta-la ainda mais, promovendo condições ainda maiores para que haja dispersão. Evita-se essa ação de dispersão e ao mesmo tempo acelera-se a agregação se for realizada concomitantemente a aplicação de cátions o que pode ser visualizado na Figura 21. Como não se pode adicionar calcário como fonte de cátions que visem adequar o balanço de cargas no solo, uma das opções mais lógicas seria o uso de gesso agrícola como fonte de cálcio para equilibrar as cargas do solo. Deve-se no entanto, tomar muito cuidado com a utilização desse insumo, pois os resultados poderão ser adversos, em função do que sugere-se que se houver essa

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pretensão deve-se buscar resultados de pesquisas que possam subsidiar sua utilização, especialmente quanto às doses a serem utilizadas. _ partículas de matéria orgânica Partículas de argila Figura 21- Esquematização de um agregado no solo, com dois de seus componentes básicos, argila de materiais orgânicos. 5.5.2.3- Profundidade do solo Se não houver nenhuma restrição na permeabilidade do solo, ao longo do perfil do solo, quanto mais profundo for o solo, maiores serão as chances de que quanto mais profundo for o solo menos problemas ele pode ter em termos de erosão, pois terão uma maior capacidade de armazenamento de água. Caso haja problemas de compactação provocada por condições inadequadas de manejo de solo ou adensamentos naturais decorrentes de sua gênese, esses solos profundos podem se comportar como se fossem solos rasos, uma vez que essas restrições impedem a velocidade de infiltração de água. Outro ponto que deve ser ressaltado é que, embora quanto mais profundo for o solo menores serão os riscos de ocorrência de erosão, nunca se deve deixar de desconsiderar as outras características físicas do solo que possam ter efeito sobre a movimentação de água no perfil, como a textura e a agregação. 5.5.2.4- Características do subsolo Além da possibilidade de ocorrência de adensamentos naturais que podem ocorrer no subsolo, como por exemplo a presença de “pans”, outro fator pode ser considerado, o qual está diretamente relacionado com a fertilidade subsuperficial, e esta característica com a possibilidade de ocorrência de erosão. Solos que tenham por exemplo carência de elementos químicos essenciais ao desenvolvimento das plantas ou impedimentos químicos ao pleno desenvolvimento do sistema radicular, como é o caso de pH muito ácido ou presença de elementos tóxicos em níveis elevados,

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podem propiciar mais lento e menores crescimentos das plantas, que trazem como decorrência, uma proteção superficial contra a ação das intempéries inadequada. 5.5.2.5- Fertilidade do solo A constituição química e mineralógica dos solos, normalmente podem ter efeito sobre as suas propriedades físicas, e portanto, indiretamente podem influenciar os índices de erosão. Como já foi anteriormente retratado, o solo e suas características deve sempre ser visto como um corpo complexo, no qual, todas as suas características tem a possibilidade de se interagir. O efeito da fertilidade do solo sobre o processo erosivo normalmente dá-se de forma indireta, pois além de seu possível efeito sobra características físicas, poderá, como relatado no item anterior, promover um desenvolvimento mais intenso das culturas exploradas, que promoverão uma cobertura do solo mais rápida e abrangente. Após terem sido colhidas, e as ervas daninhas devidamente controladas, esse material orgânico, que tende a ser maior em solos férteis que em solos pobres, também terá sua parcela de contribuição no controle das perdas de solo e água pela erosão. Outro possível efeito da fertilidade seria baseado na sua ação sobre a atividade microbiana do solo, que intensificada, acelera o processo de decomposição de materiais orgânicos anteriormente incorporados, afetando também dessa forma a agregação do solo. 5.5.2.6- Topografia do terreno As características topográficas que mais podem interferir no processo erosivo são a declividade e regularidade dos declives e o comprimento das rampas (comprimento dos declives).

a- Declividade e regularidade dos declives

A declividade dos terrenos normalmente é expressa em percentagem (%), mas dependendo da exigência de algum método de cálculo que poderá ser utilizado, também pode ser expressa em metros de declive por metros do terreno (m/m).

É um dos fatores que mais podem exercer influência sobre a intensidade de ocorrência de erosão. A água movimentando-se no sentido do declive, é capaz de transportar o solo já desagregado. Quando a água se movimenta (enxurradas) no sentido do declive, além de transportarem o solo possuem também efeito dispersivo, pois partículas maiores e até agregados muito estáveis vão promovendo ações de atrito com o solo, incrementando o processo de dispersão.

Quando a água se movimenta “morro abaixo”, a sua infiltração é pequena e é agravada à medida em que o declive aumenta, pois terá menos tempo na superfície do solo para tal. Se esse fato ocorre, a quantidade de água existente na superfície da terra vai se avolumando, com um consequente aumento de sua energia potencial, provocando mais e maiores danos superficiais. Nessas condições, apenas obstáculos naturais ou fornecidos pelo homem poderão amenizar seu efeito destrutivo, o que se dá normalmente pela manutenção de cobertura (viva ou morta) sobre o solo ou através da construção de barreiras perpendiculares ao sentido do declive, assunto esse que será visto posteriormente.

A regularidade dos declives é outro fator a ser considerado. Em uma superfície com declives mais uniformes (sem oscilações), a água tem maior facilidade para locomover-se, pois perde menos energia pelo atrito superficial. Sob condições naturais, há uma tendência de se ter superfícies mais regulares, as quais foram grandemente influenciadas num

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passado remoto pela erosão. Nesses casos a regularidade dos declives pode ser quebrada por práticas de manejo de solo como sistemas de preparo e métodos mecânicos de controle de erosão.

O controle da regularidade dos declives no entanto somente pode ser efetivo quando se atua em solos com pequena declividade, onde a enxurrada não terá energia suficiente para transportar o solo, ou se o fizer, a sua intensidade de ação será reduzida.

Em função da energia contida nas enxurradas chego-se à algumas conclusões, que são:

- À medida em que a declividade do terreno aumenta em 4 vezes, a

velocidade da enxurrada que escorre sobre ele é quase dobrada. - Duplicando-se a velocidade da enxurrada tem-se como decorrência um

aumento de quase 4 vezes na sua capacidade erosiva. Basta se verificar a fórmula de determinação da energia cinética, na qual se tem que a energia varia com o quadrado da velocidade da enxurrada.

- Duplicando-se a velocidade da enxurrada, a quantidade de material de um determinado tamanho que ela é capaz de transportar é aumentada em cerca de 32 vezes. Esta quantidsade varia com a Quinta potência da velocidade da enxurrada.

- Duplicando-se a velocidade da enxurrada, o tamanho das partícula que pode ser transportada por ela é aumentada em cerca de 64 vezes. O tamanho da partícula varia com a Sexta potência da velocidade da enxurrada.

b- Comprimento das rampas

Juntamente com a velocidade, o comprimento das rampas é um fator de grande influência nas perdas de solo o que pode ser visualizado no Quadro 49.

Quadro 49- Efeito do comprimento de rampas sobre as perdas por erosão, considerando-se

uma precipitação média de 1.300 mm/ano e declives entre 6,5 e 7,5 %.

Comprimento de Perdas

rampa Solo

(t/ha)

Água

(% da Chuva)

25 13,9 13,6

50

75

19,9

26,2

10,7

-

100 32,5 2,6

Fonte: Bertoni & Lombardi Neto (1990)

O efeito negativo do comprimento de rampa sobre o processo erosivo pode ser diminuído pelo parcelamento da mesma através de práticas mecânicas. Embora o seccionamento das rampas seja menor eficiente no controle da erosão que as ações sobre a vegetação, são práticas relativamente simples de serem realizadas e com custo baixo.

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à medida em que o comprimento de rampa aumenta, mantendo-se a declividade constante, o volume e a velocidade das enxurradas aumentam, provocando normalmente maiores perdas de solo por erosão. Desta forma, as áreas que mais sofrerão com a ação erosiva das enxurradas serão aquelas localizadas nas partes mais baixas das áreas de cultivo, sendo que nessas localidades é que se iniciam normalmente as voçorocas, que a partir daí, caminham para cima no terreno.

5.5.2.7- Cobertura vegetal

Um solo com cobertura vegetal densa praticamente não sofre erosão. Em quaisquer bacias hidrográficas em que os solos estão protegidos dessa forma, nota-se que as águas dos rios são limpas o ano todo, o que ocorre em função da quantidade de sedimentos transportados ser mínima, mesmo nas regiões onde as chuvas tendem a se concentrar em uma determinada época do ano.

Dentre as várias formas que a vegetação pode proteger os solos contra a ação da erosão, pode-se citar:

a- Intercepção da gotas de chuva As folhas das plantas impedem que as gotas de chuva caiam diretamente sobre o solo e,

dessa forma, a maior parte da energia que essas gotas continham será dissipada. Do total de água que incide sobre as folhas, parte é evaporada e retorna à atmosfera e o restante desce através dos troncos/caules. Mesmo aquela água que das folhas caem diretamente sobre o solo, pouco efeito podem ter sobre a erosão, uma vez que a altura de queda não é suficiente para causar danos.

b- Intercepção pelo manto orgânico A porção de gotas que porventura não encontre as folhas para que sua energia possa ser

dissipada, quando caem sobre o solo, encontram sobre esse, uma determinada quantidade de resíduos orgânicos originários das plantas cultivadas, como folhas e galhos, reduzindo da mesma forma essa ação negativa sobre o solo.

c- Ação das raízes As raízes das plantas, especialmente aquelas situadas nas camadas mais superficiais do solo,

funcionam como barreiras ao transporte do solo, mesmo que eles sejam pouco agregados como é o caso dos arenosos. Pode-se ainda obter por parte das raízes a ação de deixar no solo, após sua decomposição, pequenas galerias por onde as águas podem se infiltrar de forma mais rápida.

d- Efeitos sobre a agregação do solo A agregação do solo é melhorada pela adição de materiais orgânicos ao solo e, portanto

partindo-se do princípio de que as vegetações são fontes potenciais de materiais orgânicos aos solos, eles indiretamente auxiliam no processo de agregação e consequentemente, contribuem para que haja diminuição nos índices de erosão.

O efeito da cobertura do solo é variável em função do estágio de desenvolvimento das plantas, desta forma, na primeira fase de desenvolvimento (considerada como sendo desde o preparo de solo até um mês após o plantio), o seu efeito é menor em função do solo ainda não ter recebido os benefícios mínimos desejados. Durante o segundo ciclo das culturas tem-se um máximo em termos de proteção, a partir do qual esse benefício decresce até a época da colheita, uma vez que se observa um definhamento da parte aérea das plantas.

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Após as plantas entrarem em seus estágios de senescência, o seu benefício é fornecido pelos materiais orgânicos que são depositados sobre o solo, e desta forma se evita o impacto das gotas sobre o solo, da mesma forma em que a água das chuvas terão mais tempo para se infiltrarem no solo, visto que esses resíduos funcionam como barreiras ao deslocamento superficial da água. Outro efeito benéfico, quer seja da cobertura vegetal viva ou da cobertura morta, é a maior possibilidade de se conservar no solo a água das chuvas, pois com essas coberturas vai haver uma sensível redução nos índices térmicos e consequentemente na evaporação da água do solo.

5.5.2.8- Manejo do solo

Dentre os fatores que interferem sobre a erosão, o manejo do solo é o que possivelmente proporcionará o maior número de interferência, e portanto mereceu atenção especial no início deste trabalho.

De forma sucinta serão feitos alguns comentários sobre a maneira e formas com as quais o manejo poderá influir sobre a erosão.

Em função da metodologia utilizada para o manejo dos solos se altera a quantidade de terra perdida pelos processos de erosão no decorrer do tempo de uso. As ações de manejo iniciam-se com o preparo de solo, os quais podem ser feitos em nível, com perdas mínimas de solo, até a forma mais predatório, que seria o preparo “morro abaixo”. Quando o preparo de solo é feito em nível, pode-se observar, que além de não se fornecer locais onde as águas possam ter caminhamentos preferenciais, a própria ação dos implementos no solo lhe conferem a construção de algo parecido como uma infinidade de “micro terraços”.

O preparo excessivo dos solos, em especial se forem realizados com implementos que possuam uma elevada capacidade de desagregar o solo, pode ser um dos fatores que aumentam os índices de erosão. Além de sua ação mecânica sobre os agregados, os sistemas de preparo de solo promovem a exposição dos solos às intempéries e aumentam a atividade microbiana, já que a oxigenação e temperatura serão elevadas.

O manejo de resíduos de culturas e das ervas daninhas poderão também proporcionar efeitos negativos. A queima de restos vegetais por exemplo, quer seja em áreas de agricultura ou de pastagens, traz como consequências a exposição do solo e a chance de que o solo seja “lavado” pelas águas superficiais, pois quando se faz a queima, e considerando-se que as características físicas do solo não são afetadas (a possibilidade é que estejam compactados ou que tenham poucos poros superficiais), as cinzas depositadas sobre o solo podem, pelo menos parcialmente, serem carreadas para as partes mais baixas das áreas, tendendo a serem depositadas em rios e córregos. Outra ação indesejável é a redução de materiais orgânicos que poderiam proporcionar vários benefícios ao solo. Existem outras forma de resíduos de palhada mais eficientes e com melhores resultados ao solo que as queimadas.

As adubações, calagens e gessagem são outras formas de manejo que se realizadas adequadamente podem proporcionar, além de seus objetivos específicos, muitas ações no controle da erosão.

Essa regra pode ser aplicada a toda e qualquer prática de manejo que se faça em um determinado solo, bastando apenas que o técnico se atenha um pouco mais nos conceitos teóricos, associando-os às peculiaridades locais e sempre em conformidade com suas posições críticas.