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EROSÃO DOS SOLOS NA MICRO-BACIA DO CÓRREGO DA LAGOA - ITUIUTABA (MG) Rogério Gerolineto Fonseca – Curso de Geografia - UFU Campus Pontal [email protected]
Bárbara Pereira Pedroso – Curso de Geografia - UFU Campus Pontal [email protected] Kátia Gisele de Oliveira Pereira – Curso de Geografia - Profa. Doutoranda – UFU Campus Pontal
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido na micro-bacia do Córrego da Lagoa, localizada no município de Ituiutaba-MG, e tem como objetivo a análise geomorfológica dos elementos geradores da erosão dos solos, bem como dos agentes que contribuem para o desenvolvimento de tais erosões. A micro-bacia, afluente do rio Tijuco, sofre pela intensa ação antrópica na intenção de adaptar o ambiente à sua desejada maneira de viver. Assim, este trabalho pretende alertar a sociedade ao revelar o impacto da recente apropriação do ambiente na micro-bacia do Córrego da Lagoa, bem como apontar as ações que mais contribuem para formar erosões e cobrar a execução de medidas mitigadoras de conservação da micro-bacia.
Palavras-chave: Córrego da Lagoa, erosão, ação antrópica.
Abstract
This work was developed in micro-basin of Lagoa Creek, located in Ituiutaba-MG, and aims at generating element analysis of soil erosion, and the agents that contribute to the development of such erosions. The micro-watershed, that feed the river Tijuco, suffers from intense human action in order to adapt the environment to their desired way of life. Therefore, this paper aims to alert society to reveal the impact of the recent appropriation of the environment in micro-basin of Lagoa Creek, as well as identify actions that contribute most to form erosions and charge the implementation of mitigating measures for the conservation of micro-watershed.
Keywords: Lagoa Creek, erosion, human action.
INTRODUÇÃO
As formas de apropriação dos espaços naturais já não podem mais ocorrer de forma
indiscriminada. Os resultados da apropriação sem estudos de impactos e sem estratégias que
minimizem as inevitáveis alterações que ocorrem com o ambiente podem desencadear uma série de
reações ao meio. Assim, as alterações realizadas para atender às vontades humanas, ou seja, adaptar o
meio natural às necessidades humanas pode gerar problemas drásticos como o desenvolvimento de
processos degeneradores, dentre eles os processos erosivos e comprometimento de nascentes de
córregos e rios.
Resende e outros (2002) observam que as ações que são exercidas sem planejamento e práticas
de conservação tendem a provocar um desequilíbrio no ambiente natural, que se expressa sob a forma
de erosões, assoreamento e eutrofização das águas. A partir das pequenas bacias, que se constituem
como unidades fundamentais de trabalhos na conservação do meio ambiente, justamente por se
constituírem como áreas menores, mas fáceis de serem monitoradas, devem se iniciar as ações de
recuperação e conservação do ambiente, realizando, inclusive, “a previsão, controle e monitoramento
dos efeitos ambientais a jusante da pequena bacia, de forma a manter-se um encadeamento harmônico
no trato com o meio ambiente.” (RESENDE et al., 2002, p.239).
Os resultados obtidos através desse estudo, primeiramente, possibilitam a melhor compreensão
da dinâmica das bacias hidrográficas do município de Ituiutaba, visto que não existem muitos
trabalhos que tratam especificamente das bacias desta cidade. Os resultados também possibilitam
compreender a dinâmica das bacias hidrográficas maiores, das quais a micro-bacia do Córrego da
Lagoa faz parte, visto que a bacia em questão está inserida (integrada) em uma rede de bacias maiores,
como a do Tijuco, do Paranaíba e do Paraná. Assim, se quisermos analisar e diagnosticar os problemas
ou estabelecer estratégias de conservação de bacias importantes, como a do Paraná, se faz necessário
conhecer a situação das nascentes que alimentam essas bacias; o que é exatamente o caso da
micro-bacia do Córrego da Lagoa.
Toda a área da micro-bacia em questão está localizada dentro do perímetro urbano de Ituiutaba,
da nascente à foz. Porém, quanto à sua apropriação, ocorre uma combinação de práticas urbanas e
agrícolas, visto que, na margem direita da bacia, são praticadas também atividades de agricultura.
Deste modo, o ambiente analisado vem sofrendo cada vez mais as influências da ação antrópica,
constituindo-se como o resultado das modificações impostas pelo ser humano ao meio ambiente
natural, na tentativa de adaptá-lo à sua maneira de viver.
Resende e outros (2002) apontam que os programas de desenvolvimento das micro-bacias tem
se orientado mais pelos aspectos econômicos em detrimento da manutenção da qualidade do ambiente.
Ou seja, práticas agrícolas são desenvolvidas em áreas que deveriam permanecer como proteção de
nascentes, como se os lucros da produção valessem mais do que a preservação dos cursos d’água; ou
ainda, o adequado tratamento à uma área que se converte em urbana, como a instalação de galerias
pluviais, muitas vezes não é realizado por ser considerado caro, cabendo ao meio ambiente arcar com
os prejuízos.
Assim, este trabalho pretende analisar a geomorfologia urbana ao revelar o impacto da recente
apropriação do ambiente na micro-bacia do Córrego da Lagoa, bem como apontar as ações que mais
contribuem para a formação das erosões, e assim, propor execução de medidas mitigadoras de
conservação da micro-bacia.
METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho, primeiramente foi realizada a escolha da bacia hidrográfica a
ser estudada, seguida pela delimitação da área da bacia e coleta de dados que possibilitassem a
caracterização da área, como consulta a mapas e cartas topográficas, criação de perfis topográficos e
de mapas com dados selecionados como topografia, escala, identificação de coordenadas, dos cursos
d’água da área de nascente até a foz.
Foram realizadas consultas a materiais digitais, como o Google Earth, que contribuíram pra que
se conhecessem como ocorre o uso e ocupação do solo em toda a área da bacia. Foi realizado também,
visita de campo para constatação dos dados coletados e melhor dimensão sobre os mesmos, bem como
coleta de dados que não haviam sido levantados por meio dos mapas e cartas como: o estado de
conservação das margens e a intensidade dos processos erosivos nas encostas de toda a extensão da
bacia, que muito tem a ver com a forma de ocupação e com a poluição gerada a partir da apropriação
antrópica destes espaços.
A aplicação da teoria à dinâmica da bacia, através dos três níveis de tratamento metodológico
propostos por Ab’Saber (1969), também auxiliaram na elaboração desse estudo, além de leitura de
material relacionado à temática de geomorfologia urbana, impactos ambientais e bacias hidrográficas.
O tratamento e a organização dos dados coletados possibilitaram, finalmente, a constatação dos
resultados da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A micro-bacia do Córrego da Lagoa está localizada dentro do perímetro urbano de Ituiutaba,
mais especificamente, no setor nordeste da cidade, desde a nascente até sua foz, entre as coordenadas
geográficas 18º56’00”, 18º59’00” S e 49º25’00”, 49º28’00” W.
A estrutura da bacia, que se apresenta levemente inclinada em direção ao rio Tijuco e possuindo
leito pouco entalhado, mostra sinais de que esta seja uma bacia de formação mais recente do que das
suas bacias vizinhas, a do Córrego São José e do ribeirão São Lourenço.
Como forma de análise da micro-bacia do Córrego da Lagoa, foram aplicados os três níveis de
tratamento metodológico propostos por Ab’Saber (1969).
A compartimentação topográfica faz a separação de determinados domínios morfológicos que
se individualizam por apresentarem características específicas, como determinados tipos de formas ou
domínios altimétricos (CASSETI, 2006). Assim, percebe-se que não existem mudanças do tipo de
compartimentação da micro-bacia estudada; existe pouca variação de altitude em toda a bacia, que se
apresenta quase plana. A nascente se localiza a uma altitude de 569 metros em relação ao nível do mar;
o ponto cotado mais elevado da bacia atinge 609 metros de altitude, e o mais baixo (na foz do Córrego)
495 metros de altitude, o que demonstra baixo nível de dissecação. Como a variação altimétrica é
baixa, seus índices se encaixam totalmente dentro da estrutura de solos originada do basalto, do Grupo
São Bento e Formação Serra Geral. Na região, ainda são encontrados formações residuais de arenitos
pertencentes à Formação Marília e ao Grupo Bauru.
Segundo a estrutura superficial, que analisa os depósitos correlativos ao longo das vertentes ou
em diferentes compartimentos, sendo os depósitos correlativos resultado da desagregação mecânica
das rochas, recuo paralelo (CASSETI, 2006), nota-se que a relativa estrutura plana da micro-bacia em
questão, indica ter relação com processos de aplanamento desenvolvidos em clima seco, no passado.
Hoje, como predomina um clima úmido, associado à morfogênese química, verifica-se o entalhamento
do canal de drenagem, e a tendência de que ocorra a dissecação do relevo.
Os solos encontrados na bacia são bastante profundos, se constituindo como latossolos
originados pelo intemperismo químico, ou seja, pela decomposição da rocha original (no caso o
basalto) favorecida por alta umidade e temperatura. Estes solos, profundos e resultantes da
decomposição do basalto, apresentam alta oxidação de ferro, o que justifica sua coloração que varia de
vermelhos-amarelos a vermelhos. O basalto só aflora à superfície nas áreas mais escavadas da bacia,
no leito do córrego.
Nas proximidades da foz do córrego, próximo ao rio Tijuco, encontra-se um solo gleizado,
portanto hidromórfico (saturado em água) e rico em matéria orgânica. A decomposição dessa matéria
orgânica ocorre de forma anaeróbica, muito lentamente, devido ao ambiente úmido, que provoca,
inclusive, a dissolução do ferro, fazendo com que os solos dessa área apresentem intensa redução dos
compostos de ferro. (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2000).
Pela fisiologia da paisagem, a qual se refere a momentos recentes (atuais) no quadro evolutivo
do relevo, considerando os processos morfodinâmicos, morfoclimáticos e as transformações antrópicas
da paisagem (CASSETI, 2006), constata-se que o maior responsável pelas mudanças na paisagem, foi
justamente o fator antrópico, visto que mais da metade da área da bacia encontra-se urbanizada, e a
outra área foi apropriada para práticas agrícolas.
A forma de ocupação da área da bacia, sem planejamento e preocupação com as transformações
ambientais que são causadas, é o fato mais agravante em sua análise. Guerra e Marçal (2006) apontam
que a apropriação do ambiente para urbanização e a industrialização, são os fatores que mais
contribuem para piorar os danos ambientais urbanos, causando poluição do ar, do solo, das águas,
deslizamentos, enchentes etc.
A evolução da micro-bacia do Córrego da Lagoa, hoje, acontece de forma totalmente
influenciada pela ação antrópica. A cimentação (impermeabilização) da superfície para a ocupação
humana (residências, ruas, calçadas) impede que as águas das chuvas infiltrem no solo, sendo, em sua
grande maioria, direcionadas para o córrego. Isto faz com que sua vazão aumente muito quando da
incidência de chuvas mais intensas, o que contribui para a escavação do leito e erosão das encostas do
córrego. Desta forma, as bacias hidrográficas que são urbanizadas sofrem por sua transformação.
À medida que árvores são cortadas, ruas são asfaltadas, casas e prédios são construídos, encostas são impermeabilizadas, rios são canalizados e retificados, ocorre toda uma série de respostas geomorfológicas, bem típicas das cidades grandes: movimentos de massa e enchentes, que acontecem com freqüência, muitas vezes não sendo necessários totais pluviométricos elevados para que esses processos ocorram. (GOUDIE; VILES, 1997 apud GUERRA; MARÇAL, 2006, p.29-30).
Alguns trechos do córrego apresentam mata ciliar em boas condições, porém, em outros trechos
esta proteção não existe, e é justamente nestes locais que os processos erosivos mais intensos se
realizam. O trecho do córrego que corta o distrito industrial é o menos protegido por matas ciliares, e é
o mais suscetível a erosões. As encostas do córrego se apresentam muito instáveis; os processos
erosivos têm provocado o alargamento das margens e o avanço das encostas para próximo de
construções e avenidas. O solo não tem conseguido resistir aos fluxos intensos do córrego quando
chove com maior intensidade, o que faz se notar que provocou até um desvio do curso do córrego,
formando uma ilha em seu leito (figura 1), que devido toda instabilidade que apresenta, brevemente
também deverá ser arrasada.
Figura 1: Processos erosivos: instabilidade das encostas e formação de ilha no baixo curso do Córrego da Lagoa, no Setor
Norte Industrial, 2008. Autor: FONSECA, R. G. dez./2008.
Na análise do uso e ocupação da Micro-bacia do Córrego da Lagoa, utilizou-se, também, de
imagens de satélite do Google Earth, e observações técnicas realizadas durante o trabalho de campo.
Na micro-bacia do Córrego da Lagoa está localizada toda a área dos bairros Bela Vista,
Cristina, Nossa Senhora Aparecida, Tiradentes, Gardênia, Paranaíba, Residencial Drummond e Setor
Norte Industrial; na micro-bacia ainda se localizam parte dos bairros Ipiranga, Setor Universitário,
Maria Vilela Novo Horizonte e Santo Antônio (figura 2).
Figura 2: Imagem de satélite da área micro-bacia do Córrego da Lagoa – uso e ocupação do solo, 2008.
Fonte: Google Earth, 2009. Org: FONSECA, R. G., maio/2009.
O solo da micro-bacia do Córrego da Lagoa foi intensamente apropriado pelo homem;
praticamente toda a área foi modificada para atividades como ocupação urbana, agricultura e
pastagens.
Goudie e Viles (1997 apud GUERRA; MARÇAL, 2006) destacam a importância dos estudos
de Geomorfologia Urbana, que tem como objetivo fazer a associação entre os fatores físicos (chuvas,
solos, encostas, rede de drenagem, cobertura vegetal etc.) e os impactos causados pela ação antrópica,
que influenciam na formação e/ou aceleração dos processos geomorfológicos.
A área que margeia a lagoa é a que vem sofrendo as transformações mais intensas
recentemente. Está ocorrendo um rápido processo de urbanização de suas margens: construção de um
condomínio residencial (figura 3) e um loteamento, o que afeta drasticamente o comportamento do
fluxo da água da nascente, pois uma maior cimentação do terreno impede que a água da chuva infiltre
no solo e garanta as recargas do lençol freático, colocando a nascente em risco.
Figura 3: Pavimentação de ruas do condomínio em construção muito próximo às margens da lagoa e da sua nascente, 2008.
Autor: FONSECA, R. G. dez./2008. Em contrapartida, próximo à nascente, nas margens da lagoa, tem sido realizado um
reflorestamento (figura 4), o que contribui para mitigar os impactos ambientais, em escala local, do
avanço das construções sobre áreas que deveriam ser permanentemente protegidas. Os
empreendedores responsáveis pela construção de um condomínio residencial e de um loteamento ao
redor da lagoa é quem estão realizando a recuperação de suas margens através do plantio de árvores.
Figura 4: Área de reflorestamento nas margens da lagoa, área de nascente, 2008.
Autor: FONSECA, R. G. dez./2008.
Seguindo em direção ao norte, para desaguar no rio Tijuco, o Córrego da Lagoa corta vários
bairros. No bairro Bela Vista, um trecho do córrego foi canalizado, e casas e quintais foram
construídos. Na divisa do bairro Nossa Senhora Aparecida com o Setor Norte Industrial verifica-se
que, apesar de o córrego estar bem protegido por matas de galeria, construções de casas estão bem
próximas do córrego e os esgotos dessas casas são despejados diretamente no córrego (figura 5).
Apesar dos avisos de que é proibido jogar lixo no leito do córrego, inclusive com indicação de lei de
proteção ambiental e telefone para denúncia (figura 6), essa orientação não é respeitada.
Figura 5: Casas construídas muito próximas ao córrego, e ligação de canos de esgotos das casas ao córrego, 2008.
Autor: FONSECA, R. G. dez./2008.
Figura 6: Aviso com indicação de lei que proíbe que se jogue lixo às margens do córrego, e o desrespeito ao aviso – lixo
jogado nas encostas no médio curso do córrego. Autor: FONSECA, R. G. dez./2008.
O córrego nasce, na lagoa, com água limpa e sem contaminação, e serve como área de lazer
para a população da região que se reúnem no local para tomar banho nos dias de forte calor. Porém, ao
longo do curso, o córrego vai recebendo os esgotos das residências e indústrias localizadas em sua
bacia, o que faz com que as águas do córrego cheguem totalmente poluídas (figura 7) à foz, no rio
Tijuco.
Figura 7: Trecho do Córrego da Lagoa próximo à sua foz, no Rio Tijuco, apresentando alto nível de poluição. Estrutura dos solos gleizados, 2008.
Autor: FONSECA, R. G. dez./2008. Considerando o exposto sobre a apropriação da micro-bacia do Córrego da Lagoa para
extensão da malha urbana de Ituiutaba, nota-se o quão importante se faz os estudos prévios sobre
Geomorfologia Urbana antes que a área seja ocupada. Problemas ambientais graves, como
instabilidade das encostas do córrego e da poluição das águas, poderiam ter sido evitados ou mesmo
corrigidos no início das alterações no ambiente, quando os impactos ainda eram menos graves. Cooke
e outros (1985 apud GUERRA; MARÇAL, 2006) propõem a aplicação dos estudos em Geomorfologia
Urbana não com a intenção de substituir o trabalho de engenheiros e planejadores, mas sim com
intenção de complementar o trabalho desses profissionais possibilitando economia de tempo e dinheiro
público, e evitando os graves danos ambientais que toda transformação de áreas naturais em áreas
urbanas sem planejamento tendem a causar.
Algumas das medidas que devem ser tomadas, no momento da apropriação dos ambientes para
uso urbano, que contribuem muito para diminuir os impactos sobre o meio são simples: construção de
ruas em curvas de nível com travessas desencontradas e intercaladas a fim de diminuir a energia do
escoamento das enxurradas, construção de calhas de escoamento superficial, grades de dispersão de
energia do escoamento, conservação ou implantação de matas ciliares nos cursos d’água, construção de
praças e quintais em áreas de maior infiltração de água.
No local estudado, também são desenvolvidas práticas agropecuárias, como uma lavoura de
soja (figura 8) que ocupa uma considerável área da bacia, e ainda uma área destinada a pastagens.
Essas áreas merecem a mesma atenção despendida às áreas de ocupação urbana, pois, se não forem
tomadas medidas preventivas em relação a erosões, as mesmas podem evoluir e causar impactos
ambientais tão graves quanto aos causados pela urbanização.
Figura 8: Lavoura de soja plantada na micro-bacia do Córrego da Lagoa, 2008.
Autor: FONSECA, R. G. dez./2008.
Com a intenção de prevenir esses impactos, devem ser considerados, e aplicados, os estudos de
Geomorfologia das Áreas Rurais, voltados às práticas de agricultura e pecuária, que costumam ocupar
áreas extensas, e acabam influenciando até mesmo no relevo. Geralmente, antes da implantação de
atividades agrícolas, é realizada a retirada de toda a cobertura natural dos terrenos em grandes
extensões, e nem sempre são adotadas práticas de conservação dos solos (GUERRA; MARÇAL,
2006).
Nas regiões da bacia onde se realizam práticas agropecuárias, não foi detectado nenhum
processo erosivo grave. O tipo predominante de erosão que acontece é a erosão em lençol, que pode
ser identificado como uma lavagem do topo do solo. Esse tipo de erosão, apesar de não ser
considerado tão grave, ou não ser detectado pelos fazendeiros, deve receber a mesma atenção que se
presta a formas mais graves de erosão, pois,
essa feição erosiva tem sérias repercussões porque, além de reduzir a produtividade na agricultura, os materiais erodidos podem ser transportados para rios, lagos e reservatórios, causando o assoreamento e, muitas vezes, a poluição desses corpos líquidos, quando doses elevadas de agrotóxicos são utilizados (OLLIER; PAIN, 1996 apud GUERRA; MARÇAL, 2006, p.33).
Uma erosão que se inicia na forma de lençol (escoamento superficial difuso) pode começar a
evoluir para estágios mais graves de erosão, passar para erosão por ravinas (concentração dos fluxos
do escoamento superficial), chegando a formar as voçorocas (através de um escoamento mais
concentrado) (GUERRA; MARÇAL, 2006).
Tanto o relevo quanto os solos, com o passar do tempo, podem sofrer grandes transformações
se não forem tomadas medidas que minimizem os impactos no meio rural de práticas como a
agricultura e a pecuária.
CONCLUSÃO
Os estudos comprovaram que a área da micro-bacia do Córrego da Lagoa vem sofrendo um
rápido processo de urbanização. Apesar de contar com algumas áreas destinadas a agricultura e
pecuária, a tendência é que estas sejam rapidamente apropriadas pela expansão da malha urbana da
cidade de Ituiutaba, que está se utilizando de amenidades naturais da região (lagoa, área verde,
topografia elevada, plana e arejada) para atrair a população para os novos loteamentos.
O fato é que o crescimento da urbanização na área não vem sendo acompanhado pelo
crescimento com o cuidado ambiental, pelo contrário, a urbanização vem agravando a condição do
meio ambiente, pois não estão sendo tomados os devidos cuidados com a vegetação às margens do
córrego, o lixo continua sendo jogado em suas margens e os esgotos continuam sendo lançados.
Faz-se necessário tomar várias medidas urgentemente para mitigar os impactos ambientais em
toda a bacia, como: recuperação das margens sem vegetação aonde vem ocorrendo a expansão dos
processos erosivos; cuidados com o manejo dos solos onde se desenvolvem agricultura e pecuária para
prevenir o desenvolvimento de processos erosivos e assoreamento do córrego; estudos para elaboração
de projetos de construção da rede de drenagem pluvial e adequada captação para se evitar impactos
ainda mais graves no córrego e estudos que garantam a manutenção da biodiversidade como o controle
biológico, a qualidade do ar e a qualidade de vida. Nesses estudos considerar não apenas o volume de
água captado no atual estágio de desenvolvimento da malha urbana da bacia, mas sim considerar sua
ampliação de recarga e o potencial aumento do volume de água que será destinado às galerias pluviais
no futuro; projetos de captação dos esgotos para devido tratamento na Estação de Recuperação e
Preservação Ambiental de Ituitutaba (ERPAI), evitando que os mesmos sejam lançados no Córrego da
Lagoa e, posteriormente, no rio Tijuco.
Os resultados mostram em quais frentes se deve investir para garantir que a expansão urbana
não cause futuros impactos ambientais e sociais à região, como enchentes, e manutenção do córrego da
lagoa para que o mesmo continue vivo. Pode até não parecer muito importante para a sociedade a
manutenção do córrego da lagoa, pois a água que a população utiliza é retirada do rio Tijuco e do
ribeirão São Lourenço, e tratada e distribuída pela SAE (Superintendência Municipal de Água e
Esgotos); mas sua importância está no cuidado que se deve ter com todos os pontos de nascentes, pois
a vida de bacias mais “importantes”, como o próprio rio Tijuco depende da conservação e preservação
de nascentes e córregos como o do Córrego da Lagoa, que alimentam cursos d’água maiores
AGRADECIMENTOS
Este trabalho contou com o apoio da FAPEMIG (Fundo de Amparo à Pesquisa de Minas
Gerais) para que fosse possível sua participação no XIII Simpósio de Geografia Física Aplicada.
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