Erros meus ma fortuna

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Erros meus ma fortuna, Amor ardente: Este texto é constituído por duas quadras e dois tercetos, em metro decassilábico, com esquema rimático, ABBA / ABBA / CDE / CDE, verificando a existência de rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada nos tercetos. O soneto aborda a vida passada do poeta e a tristeza que ele sente ao recordá-la. Assim, nas primeiras três estrofes, exprime a sua tristeza em relação à vida que foi passando e os erros que foi cometendo. Para o fazer, evoca três razões que justificam um passado infeliz; “Erros meus, má fortuna, amor ardente”, que, de forma intencional, se reuniram numa metafórica conjura para tramar contra o poeta: “Em minha perdição se conjuraram” (v. 2). Partindo desta ideia, o poeta desenvolve o seu lamento ao longo das estrofes seguintes. Assim, o sujeito poético aprendeu a não ter esperança na alegria que a vida lhe podia proporcionar: “A grande dor das causas que passaram, / que as magoadas iras me ensinaram / a não querer já nunca ser contente” (vv. 5-9). Concluindo que todo o seu percurso de vida foi errado, pois foi sempre iludido pelo amor: “De amor não vi senão breves enganos” (v. 12), e tendo em conta que o amor seria o suficiente para o levar à perdição: “Os erros e a fortuna sobejaram,/ que para mim bastava amor somente” (vv. 3-4), a Fortuna, ou seja o destino, castigou as suas sempre “mal fundadas esperanças” (v. 11), pois estas foram sempre criadas por um amor ilusório. O soneto encerra com um pedido, que traduz todo o sofrimento do sujeito poético: “Oh! Quem tanto pudesse que fartasse / Este meu duro Génio de vinganças!” (vv. 13-14), sendo toda a dor transmitida na utilização da interjeição e da frase exclamativa, e no qual é solicitado, no fundo um descanso que o poeta entende merecido.

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Erros meus ma fortuna, Amor ardente:

Este texto é constituído por duas quadras e dois tercetos, em metro decassilábico, com esquema rimático, ABBA / ABBA / CDE / CDE, verificando a existência de rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada nos tercetos.

O soneto aborda a vida passada do poeta e a tristeza que ele sente ao recordá-la. Assim, nas primeiras três estrofes, exprime a sua tristeza em relação à vida que foi passando e os erros que foi cometendo. Para o fazer, evoca três razões que justificam um passado infeliz; “Erros meus, má fortuna, amor ardente”, que, de forma intencional, se reuniram numa metafórica conjura para tramar contra o poeta: “Em minha perdição se conjuraram” (v. 2). Partindo desta ideia, o poeta desenvolve o seu lamento ao longo das estrofes seguintes. Assim, o sujeito poético aprendeu a não ter esperança na alegria que a vida lhe podia proporcionar: “A grande dor das causas que passaram, / que as magoadas iras me ensinaram / a não querer já nunca ser contente” (vv. 5-9).

Concluindo que todo o seu percurso de vida foi errado, pois foi sempre iludido pelo amor: “De amor não vi senão breves enganos” (v. 12), e tendo em conta que o amor seria o suficiente para o levar à perdição: “Os erros e a fortuna sobejaram,/ que para mim bastava amor somente” (vv. 3-4), a Fortuna, ou seja o destino, castigou as suas sempre “mal fundadas esperanças” (v. 11), pois estas foram sempre criadas por um amor ilusório.

O soneto encerra com um pedido, que traduz todo o sofrimento do sujeito poético: “Oh! Quem tanto pudesse que fartasse / Este meu duro Génio de vinganças!” (vv. 13-14), sendo toda a dor transmitida na utilização da interjeição e da frase exclamativa, e no qual é solicitado, no fundo um descanso que o poeta entende merecido.

Exemplo8: “Erros meus, má fortuna, amor ardente”

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Temas

- Destino, que influencia na vida relativamente, já que os erros humanos também são responsáveis da vida desgraçada. Há também uma necessidade de vingança por essa vida trágica.

- Amor.

Interpretação da crítica biografista

Vida desgraçada de Camões.

O Desconcerto do Mundo“Experiência amorosa e experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de que o mundo, a realidade, é absurda e domínio do desconcerto, em que premeiam os maus e castigam os bons. Estaconstatação deixou marcas na lírica camoniana, em poemas de revolta, queixa, desengano, perplexidade angustiada.Ingratidão, abuso do poder, perseguições são manifestações de um Destino humano e pessoal que o poeta sente como inexoravelmente hostil. Reflectindo sobre a sua experiência, o poeta conclui que sempre às maiores expectativas sucederam os maiores desenganos, que, para ele, vítima da Fortuna, a felicidade sempre foi uma ilusão e sempre o bem foi passado e o mal presente.A Mudança, que é condição de tudo, e que poderia ser uma forma de renovação tal como o é na natureza, no poeta faz-se sempre para pior.Dai a sua dúvida, a sua perplexidade, o seu não entender, a sua raiva, a revolta impotente – reflectidos em desabafos autobiográficos, em sonetos e canções.Outra recorrência é a tópica da alma e o corpo unidos de forma indissolúvel, que levam o homem a considerá-lo como uma prisão - para Camões o desterro - onde aquela vivia enclausurada. Assim, era entendido, no Renascimento, via eoplatonismo, a determinação de que a alma, mesmo cativa, tinha a lembrança (reminiscência) do Bem Supremo, quando era livre. Dessa lembrança, surge o desejo e a esperança que são, ao mesmo tempo, causa e efeito das conturbações psicológicas e amorosas existentes no homem. Em Camões, tal pode ser verificado na representação lírica de uma vida onde só existiram mudanças e desencontros, em um estado de desengano e desesperança em relação às expectativas incertas do futuro. Está claro que o eu-lírico

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camoniano "Errei[ou] todo o discurso dos meus[seus] anos/ Dei[eu] causa a que a Fortuna castigasse/ As minhas[suas] mal fundadas esperanças"//14. Como solução a esses problemas, só restava tentar fazer das belezas criadas as reminiscências da Beleza Absoluta; e então, esforçar-se para alcançá-las.

Erros meus, má fortuna, amor ardente

Os seus próprios erros, a fortuna, o amor se juntaram para o perder = desilusão. Perdido, errou sempre, sem leme, sem rumo no discurso dos anos - no tempo que leva à morte.

Análise do poema de Camões «Descalça vai pera fonte»

Tema: Exaltação da beleza de Lianor.

Cenário: Fonte (a fonte tem muita importância).

Significado do verso "Vai fermosa e não segura": por ser formosa pode ser assaltada pelo amor e quanto mais formosa mais exposta está aos perigos do amor.

Caracterização de Lianor:

Retrato físico: descalça; mãos brancas ("de prata"); branca; cabelos d'ouro; fermosa. A cor que a define: policromia - prata, “escarlata” (vermelha), branca, ouro, encarnado; Lianor suscita alegria, pureza, perfeição.

Retrato psicológico: insegura ("não segura"); graciosa ("graça”).

Recursos estilísticos empregues na caracterização:

Metáfora: "mãos de prata", "Cabelos d'ouro", "Chove nela graça tanta".

Adjectivação: "fermosa”, “segura”, “branca”, “pura”, “linda". Hipérbole: "Mais branca que a neve pura", "Tão linda que o

mundo espanta", "Chove nela graça tanta/Que dá graça à fremosura".

Personificação: "Tão linda que o mundo espanta".

Caracterização: Vilancete

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Composto a partir de um mote curto (terceto) tradicional. As glosas são constituídas por duas oitavas que são constituídas por uma quadra e uma cauda de três versos. O último verso da quadra rima com o primeiro da cauda, fazendo assim a ligação entre ambas. Os dois últimos versos da cauda rimam com os dois últimos do mote. Os versos têm sete ou (mais raramente) cinco sílabas métricas. Rimas: no mote – esquema rimático ABB, rima emparelhada (vv.2 e 3) e verso solto ou branco (v. 1); nas voltas – esquema rimático CDDCCBB / EFFEEBB, rima interpolada (1º e 4º verso) e emparelhada (2º e 3º verso, 4º e 5º verso e 6º e 7º verso). Quanto às sílabas métricas, o poema apresenta uma redondilha maior (7 sílabas).