Esboços de Teologia - A. A. Hodge

686

Click here to load reader

Transcript of Esboços de Teologia - A. A. Hodge

ESBOOS de TEOLOGIAArchibald Alexander Hodge, D. D.

Professor de Teologia Sistemtica no Seminrio Teolgico de Princeton New Jersey, EUA

PUBLICAES EVANGLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059-970-So Paulo-SP

Ttulo original: Outlines of Theology Primeira edio em ingls: r1860

Primeira edio em portugus - Portugal: 1895 Traduo do ingls: F.J.C.S. - Lisboa Primeira edio lanada no Brasil: 2001 Linguagem atualizada: Odayr Olivetti e Azen Valim Olivetti Reviso: Antonio Poccinelli Cooperador: Jos Serpa Capa: Sergio Menga Impresso: Imprensa da F

ndicePrefcio 1. A teologia crist: suas diversas divises; sua relao com outros ramos do conhecimento humano 2. A origem da idia de Deus; prova da Sua existncia 3. Os mananciais da teologia 4. A inspirao da Bblia 5. A regra de f e prtica; as Escrituras do Velho e do Novo Testamentos; a nica regra de f e o nico juiz nas controvrsias 6. Comparao de sistemas 7. Credos e confisses 8. Os atributos de Deus 9. A Santssima Trindade 10. Os decretos de Deus em geral 11. A predestinao 12. A criao do mundo 13. Os anjos 14. A providncia 15. A constituio da alma, a vontade, a liberdade, etc. 16. A criao e o estado original do homem 17. A aliana das obras 18. A natureza do pecado e o pecado de Ado 19. O pecado original - (Peccatum Habituale) 20. A incapacidade 21. A imputao do pecado original de Ado sua posteridade 22. A aliana da graa 23. A Pessoa de Cristo 24. O ofcio medianeiro de Cristo 25. A propiciao; sua natureza, necessidade, perfeio e extenso 26. A intercesso de Cristo 27. O reinado medianeiro de Cristo 28. A vocao eficaz 29. A regenerao 30. A f 31. A unio dos crentes com Cristo 32. O arrependimento e a doutrina romanista das penitncias 33. A justificao 34. A adoo e a ordem observada pela graa na aplicao da redeno, nas diversas partes da justificao, a regenerao e da santificao 35. A santificao 36. A perseverana dos santos 37. A morte e o estado da alma depois da morte 38. A ressurreio 39. O segundo advento e o juzo geral 40. O cu e o inferno 41. Os sacramentos 42. O Batismo: sua natureza e propsito, seus objetos, modo, eficcia e necessidade 43. A Ceia do Senhor

PrefcioApresentando este livro ao leitor, tenho a dizer que a concepo e a execuo da obra so devidas experincia que tive de ser necessrio tal manual de definies e argumentaes teolgicas, no meu trabalho de instruir os membros da Igreja da qual fui pastor. Os diversos captulos foram, em primeiro lugar, preparados e usados por mim como as bases de uma srie de discursos dirigidos, sem notas, minha congregao nos domingos noite, e no uso que assim fiz delas, achei que estas preparaes eram teis alm das minhas esperanas; pois a maior parte da congregao foi induzida a entrar, com muito interesse, no estudo at dos assuntos mais abstrusos. Tendo, pois, esta obra passado por essa prova prtica, ofereo-a, agora, a meus colegas no ministrio do evangelho para que dela se sirvam, se quiserem, como um repertrio de material digesto para o ensino doutrinrio do seu povo, seja em classes bblicas, seja por meio de discursos no culto pblico. Ofereo--a tambm como uma tentativa de prover assim a uma reconhecida necessidade pblica, como um resumo de estudo teolgico para uso dos estudantes de teologia em geral, e para uso dos muitos laboriosos pregadores do evangelho a quem falta o tempo necessrio ou a oportunidade, ou outro meio essencial, para estudarem as obras custosas e elaboradas das quais se colheram os materiais deste compndio. As perguntas tm sido conservadas formalmente, no com o fim de adaptar assim o livro de qualquer modo ao ensino catequtico, e sim, por ser este o modo mais conveniente e perspcuo de apresentar um "esboo de teologia". Esta mesma necessidade de condensar, espero que sirva para desculpar, at certo ponto, alguns casos de obscuridade nas definies e alguns em que talvez haja falta de ilustraes, casos que o leitor, sem dvida, notar. No Prefcio da segunda edio desta obra (em ingls), revista e aumentada, o editor ainda diz: O Prefcio da edio original narra, acurada e um tanto circunstanciadamente, a maneira pela qual se originou esta obra. Desde a sua primeira publicao at agora tm se multiplicado as provas de que ela proveu a uma necessidade pblica, e grande nmero de exemplares tm sido vendidos na Amrica do Norte e na Gr-Bretanha. Alm disso, tem sido traduzida para a lngua do Pas de Gales e para o grego moderno, e usada em diversos seminrios teolgicos. Desde que saiu a sua primeira edio, o autor tem estado ocupado catorze anos no trabalho prtico de instrutor teolgico. Tem adquirido mais conhecimentos e tambm mais experincia como professor, e estes tm sido utilizados nesta nova e aumentada edio, que chegou ao seu tamanho atual mediante os acrscimos feitos durante alguns anos de ensino ministrado s diversas classes do Seminrio Teolgico. Esta edio contm quase cinquenta por cento mais matrias que a primeira. As discusses das doutrinas que dividem os diversos ramos da Igreja, tm sido acrescentados extratos dos principais credos, confisses e clssicos escritores teolgicos das grandes Igrejas histricas. E o apndice contm uma traduo do Consensus Tigurinus de Calvino, e da Frmula Consensus Helvtica de Heidegger e Turretino, duas confisses de muito grande interesse doutrinrio para o estudante da teologia reformada, mas pouco acessveis. A obra outra vez oferecida Igreja Crist, no como um tratado completo sobre teologia sistemtica para uso dos proficientes, e sim como um simples manual, adaptado s necessidades dos estudantes que tomam suas primeiras lies nesta grande cincia, e convenincia dos muitos trabalhadores srios que talvez desejem refrescar a sua memria por meio de uma reviso sumria do terreno sobre o qual passaram nos primeiros anos de seus estudos teolgicos. -A. A. Hodge Princeton, New Jersey 06 de agosto de 1878

1 A Teologia Crist; Suas Diversas Divises; Sua Relao com Outros Ramos do Conhecimento Humano1. Que Religio? Que Teologia, no seu sentido cristo? Religio, no seu sentido mais geral, a soma das relaes que o homem sustm para com Deus, e compreende as verdades, experincias, aes e instituies que correspondem a essas relaes ou que delas provm. Teologia, no seu sentido mais geral, a cincia da religio. A religio crist aquele conjunto de verdades, experincias, aes e instituies que se acham determinadas pela revelao que nos apresentada sobrenaturalmente nas Escrituras Sagradas. Teologia crist a determinao, interpretao e defesa cientfica dessas Escrituras, junto com a histria da maneira pela qual as verdades nelas reveladas tm sido entendidas, e os deveres nelas impostos tm sido cumpridos, por todos os cristos, em todos os sculos relaes orgnicas determinadas por sua gnese e sua natureza ntima. Metodologia teolgica a cincia do mtodo teolgico. Assim como cada diviso das investigaes humanas exige um modo de tratamento peculiar, e cada subdiviso de cada diviso geral exige certas modificaes especiais de tratamento, e que lhe so prprias, assim tambm a metodologia teolgica tem por fim determinar cientificamente qual o verdadeiro mtodo geral e especial, pelo qual convm estudar as cincias teolgicas. Isso inclui duas categorias distintas: (a) os mtodos prprios para a investigao original e construo das diversas cincias, e (b) os mtodos prprios para a instruo elementar nessas cincias. Tudo isso deve ser acompanhado de informaes crticas e histricas, e de instrues sobre o modo de tirar proveito do imenso material literrio com que essas cincias esto ilustradas, especificamente o calvinista ou agostiniano, e toma como verdadeiros os seguintes princpios fundamentais: 1o. As Escrituras inspiradas so a regra e padro nico e infalvel de todo o conhecimento religioso. 2 o. Cristo e Sua obra so o centro ao redor do qual se dispe, em ordem, toda a teologia crist. 3o. A salvao trazida luz no evangelho sobrenatural e provm da LIVRE GRAA DE DEUS. 4O. Todo conhecimento religioso tem uma finalidade prtica. As cincias teolgicas, longe de terem a si mesmas como seu fim absoluto, tm o fim nobre de fazer os homens progredirem na santidade pessoal, de habilit-los a servir melhor a seus semelhantes, e de PROMOVER A GLRIA DE DEUS. As vantagens de agruparmos assim as cincias teolgicas so bvias e grandes. As relaes de todas as verdades so determinadas pela sua natureza, donde se segue que sua natureza revelada pela exibio de suas relaes. Essa exibio tender tambm a alargar o horizonte mental do estudante, a incit-lo a adquirir largueza de cultura, e a impedir que exalte indevidamente ou cultive exclusivamente qualquer ramo especial, pervertendo assim esse ramo por olh-lo fora de suas limitaes e dependncias naturais. 4. Quais as perguntas fundamentais a que toda a cincia teolgica se prope a dar respostas e que, por isso, determinam a ordem em que se seguem as diversas divises dessa cincia geral? 1a. Existiria um Deus? 2a. Teria Deus falado? 3a. Que disse Deus? 4a. Como que os homens, no tempo passado, entenderam a Palavra de Deus e realizaram praticamente, nas suas pessoas e instituies, as intenes de Deus?

e, mais ou menos diretamente, com toda a histria humana. E evidente tambm que, visto que toda a verdade um s todo, todas as verdades e deveres revelados se acham ligados indissoluvelmente a todos os ramos do conhecimento humano e a todas as instituies da sociedade humana. Segue-se pois, que a cincia teolgica em nenhum ponto pode ser separada da cincia em geral, e que algum conhecimento, de todos os ramos do conhecimento humano, acha-se compreendido necessariamente em qualquer sistema de enciclopdia teolgica como auxiliar das prprias cincias teolgicas. Algumas dessas cincias auxiliares sustm relaes especiais para com certas cincias teolgicas e esto relacionadas muito remotamente com outras. Convm, porm, atribuir-lhes um lugar prprio e separado por constituirem, em geral, uma disciplina preparatria e auxiliar da cincia de teologia considerada como um todo. 6. Quais as principais divises da classificao proposta das cincias teolgicas? 1o. Cincias auxiliares no estudo de teologia. 2o. Apologtica - abrangendo as respostas s duas perguntas: existiria um Deus? Teria Deus falado? 3o. Teologia exegtica - abrangendo a determinao crtica das ipsissima verba da revelao divina e a interpretao do seu sentido. 4o. Teologia sistemtica - abrangendo o desenvolvimento em um sistema completo e conseqente do contedo inteiro dessa revelao, e sua subseqente elucidao e defesa. 5o. Teologia prtica - abrangendo os princpios e leis revelados nas Escrituras para direo dos cristos: (a) na promulgao dessa revelao divina, assim averiguada e interpretada, e (b) em levarem todos os homens ao cumprimento prtico dos deveres nela impostos e (c) na fruio das bnos que ela confere. 6o. Teologia histrica ~ abrangendo a histria do desenvolvimento durante todos os sculos passados e entre todos os povos, dos elementos tericos e prticos dessa revelao: (1) na f e (2) na vida da Igreja. 7. Quais os ramos principais do conhecimento humano, auxiliares no estudo de teologia? . 1o. Histria universal, que ramo essencial a todos os demais ramos da cincia humana e, em particular, as histrias do Egito, da Babilnia, da Assria, da Grcia, de Roma e da Europa medieval e moderna, que so auxiliares especialmente da cincia teolgica. 2o. A arqueologia no seu sentido mais compreensivo, abrangendo a interpretao de inscries, monumentos, moedas e remanescentes das artes e as ilustraes recolhidas da e de todas as outras fontes acessveis, da distribuio geogrfica e condies fsicas, e das instituies e costumes polticos, religiosos e sociais, de todos os povos e de todos os sculos. 3o. A etnologia - a cincia das divises da famlia humana em raas e naes, e da sua disperso sobre a face da terra - que indaga de sua origem e afiliaes, das variedades do seu carter fsico, intelectual, moral e religioso, e tambm das causas e condies que modificam essas variaes. 4o. A filologia comparativa - a cincia que, tomando como ponto de partida os grupos naturais das lnguas humanas, investiga as relaes e origens das lnguas e dialetos; e, remontando alm das eras em que se principia a histria humana, acha a provas da unidade de raas agora separadas, e os elementos de civilizaes j h muito extintas, e os fatos de mudanas histricas que no deixaram outros vestgios. 5o.A cincia da religio comparativa (religies comparadas) - o estudo crtico e a comparao da histria, das crenas, do esprito, dos princpios, das instituies e do carter prtico de todas as religies tnicas, investigando a luz que elas lanam sobre (a) a natureza e a histria humanas, (b) o governo moral de Deus, e (c) a revelao sobrenatural contida nas Escrituras Sagradas.

6o. A filosofia - a base e mestra de todas as cincias meramente humanas. Abrange a histria da origem e do desenvolvimento de todas as diversas escolas de filosofia - as antigas, as da idade mdia e as modernas - o estudo crtico e a comparao dos princpios, mtodos e doutrinas, e da extenso e carter da sua influncia respectiva sobre todas as outras cincias e instituies, especialmente sobre as que so polticas e religiosas, e mais especialmente ainda sobre as que so definitivamente crists. 7. A psicologia - ou essa diviso da cincia experimental que descobre as leis da ao da mente humana, como ela se manifesta sob condies normais (a) nos fenmenos da conscincia e ao individuais, e (b) nos fenmenos da vida social e poltica. 8. A esttica, ou a cincia das leis do belo em todas as suas formas de msica, retrica, arquitetura, pintura, etc., os princpios e a histria de todas as diversas divises da arte. 9. As cincias fsicas, seus mtodos gerais e especiais; sua gnese, desenvolvimento e tendncias atuais; sua relao com a filosofia, especialmente com o Desmo e com a religio natural, com a civilizao e com a histria e doutrinas consignadas nas Escrituras. 10.A estatstica, cujo fim dar-nos elementos completos sobre o estado atual da raa humana no mundo, a respeito de tudo o que se pode sujeitar a comparaes - quanto ao seu nmero e estado fsico, intelectual, religioso, social e poltico de civilizao, comrcio, literatura, cincias, artes, etc.; elementos dos quais esto sendo desenvolvidos gradualmente as formas imaturas da cincia social e da economia poltica. 8. Que que se abrange sob o ttulo de Apologtica? Este ramo divide-se em dois ttulos: (1) Existiria um Deus? (2) Teria Deus falado? Ele inclui: Io. A prova da existncia de Deus, isto , de uma Pessoa extra--terrena, transcendente e ao mesmo tempo imanente; criando, conservando e governando todas as coisas segundo o seu plano eterno. Isto envolve a discusso e refutao de todos os sistemas antitestas, como sejam o atesmo, o pantesmo, o desmo naturalista, o materialismo, etc. 2o. O desenvolvimento da teologia natural, compreende a relao em que Deus est como Governador moral para com os agentes inteligentes e responsveis, e as indicaes da Sua vontade e propsito e, por conseguinte, dos deveres e destinos dos homens at onde possvel descobri-los luz da natureza. 3 As provas do cristianismo, compreendendo... (1) A discusso do uso prprio da razo nas questes religiosas. (2) A demonstrao da possibilidade a priori de uma revelao sobrenatural. (3) A necessidade e probabilidade de tal revelao, tomando-se em considerao o carter de Deus e o estado do gnero humano segundo no-lo revela a luz da natureza. (4) A prova positiva do fato real de que tal revelao foi dada: (a) mediante os profetas do Velho Testamento (b) mediante os profetas do Novo Testamento, e sobretudo, (c) na Pessoa e obra de Cristo. Isto envolve naturalmente a discusso crtica de todas as provas que dizem respeito a este ponto, tanto externas como internas, histricas, racionais, morais e espirituais, naturais e sobrenaturais, tericas e prticas; e a refutao de toda a crtica histrica e racionalista que tem impugnado o fato da revelao, ou a integridade dos escritos que a contm. Muito daquilo que se acha mencionado aqui estar necessariamente compreendido tambm sob os ttulos de teologia sistemtica e teologia exegtica.

9. O que a Teologia Exegtica compreende? Quando os fatos: (1) que existe um Deus, e que (2) Deus nos tem falado - forem estabelecidos, ser necessrio ainda responder pergunta: o que nos tem dito Deus? Teologia exegtica o ttulo geral daquela diviso da cincia teolgica que tem por fim a interpretao das Escrituras como a Palavra de Deus, deixada por escrito em linguagem humana, e que nos foi transmitida por canais humanos; e para conseguir esse fim, o assunto de Interpretao procura recolher e organizar todo o conhecimento que para isso necessariamente introdutrio. Isso inclui as respostas a duas perguntas: (1) Quais os livros que formam o cnon, e quais as palavras exatas contidas nos registros originais dos escritores desses diversos livros? (2) Qual o sentido dessas palavras divinas, assim averiguadas ? As respostas a todas as perguntas preliminares interpretao, propriamente ditas, pertencem ao ttulo introduo, e esta se divide em: (1) introduo geral, que inclui toda informao preliminar interpretao que tem relao com a Bblia, como um todo, ou com cada um dos Testamentos, como um todo; e (2) introduo especial, que inclui toda a preparao necessria para a interpretao de cada um dos livros da Bblia, em separado. , . A. Introduo Geral compreende: 1o. Acrtica superior /alta crtica/, ou o exame das provas que existem e de toda espcie, em apoio da autenticidade de cada um dos livros do cnon sagrado. 2o. A crtica do texto/crtica textual, a qual, por uma comparao dos melhores manuscritos e das verses antigas, pelas provas internas, e pela histria crtica do texto desde o seu primeiro surgimento at ao tempo presente, procura determinar as ipsissima verba dos autgrafos originais dos escritores sagrados. 3o. A Filologia bblica, que d respostas s perguntas: por que foram usadas diversas lnguas nos escritos sagrados? Por que as lnguas hebraica e grega? Quais so as caractersticas especiais dos dialetos dessas lnguas realmente usados, e qual a sua relao para com as famlias de lnguas a que elas pertencem? Quais eram as caractersticas especiais dos escritores sagrados individualmente, quanto ao dialeto, ao estilo, etc.? 4o.Arqueologia bblica, compreendendo a geografia fsica e poltica dos pases bblicos, durante o transcurso da histria bblica e determinando a condio fsica, etnolgica, social, poltica e religiosa do povo entre o qual se originaram as Escrituras, junto com a descrio de seus costumes e instituies, e da relao em que estes estavam para com os de seus antepassados e contemporneos. 5o. Hermenutica, ou a determinao cientfica dos princpios e regras de interpretao bblica, compreendendo (1) os princpios lgicos, gramaticais e retricos que determinam a interpretao da linguagem humana, em geral; (2) as modificaes desses princpios apropriadas interpretao das formas especficas da linguagem humana, e.g., histria, poesia, profecia, parbola, smbolo, etc., e (3) as outras modificaes desses princpios apropriados interpretao dos escritos inspirados sobrenaturalmente. 6o. Inspirao bblica. Depois de ter a apologtica estabelecido o fato de serem as Escrituras Sagradas o veculo de uma revelao sobrenatural, necessrio que discutamos e determinemos a natureza e a extenso da inspirao bblica at onde esta determinada pelo que as Escrituras mesmas dizem sobre este ponto, e pelos fenmenos que elas representam. 7o. A Histria da Interpretao, incluindo a histria das antigas e modernas verses e escolas de interpretao, ilustrada por uma comparao crtica dos mais importantes comentrios.

B. Introduo especial, trata de cada livro da Bblia por si e fornece sobre o seu dialeto, autor, ocasio, desgnio e recepo, toda a informao necessria para a sua interpretao acurada. C. Exegese prpria a aplicao de todo o conhecimento recolhido, e de todas as regras desenvolvidas nas precedentes divises da introduo interpretao do texto sagrado, assim como este se acha nas suas conexes originais dos Testamentos, livros, pargrafos, etc. Seguindo as leis da gramtica, o usus loquendi das palavras, a analogia das Escrituras e a direo do Esprito Santo, a exegese procura discernir a mentalidade do Esprito como se acha expressa nos perodos inspirados, arranjados na ordem em que os achamos. H diversas divises especiais classificadas sob o ttulo geral de teologia exegtica que envolvem, at certo ponto, a classificao e a combinao dos testemunhos bblicos em tpicos e assuntos, que so a caracterstica distintiva de teologia sistemtica. Essas divises so: Ia. Tipologia, que compreende a determinao cientfica das leis dos smbolos e tipos bblicos e sua interpretao, especialmente os do ritual mosaico relacionado com a Pessoa e a obra de Cristo. 2a. Cristologia do Velho Testamento, a exposio crtica da idia messinica, como vem desenvolvida no Velho Testamento. 3a. Teologia bblica, que investiga a evoluo gradual dos diversos elementos das verdades reveladas, desde a sua primeira sugesto, atravs de cada fase sucessiva, at sua mais completa manifestao no texto sagrado; e exibe as formas e conexes peculiares em que essas diversas verdades so apresentadas pelos diversos escritores inspirados. 4a. O desenvolvimento dos princpios de interpretao proftica, e sua aplicao construo de um esboo das profecias dos dois Testamentos. Notes on New Testament Litera-ture, por Dr. J. A. Alexander. 10. Que que se acha compreendido sob o ttulo de Teologia Sistemtica? Como o d a entender o seu nome, teologia sistemtica tem por fim reunir tudo quanto as Escrituras ensinam sobre o que devemos crer e fazer, e apresentar todos os elementos desse ensino na forma de um sistema simtrico. A mente humana procura sempre unidade, em todos os seus conhecimentos. A verdade de Deus una, e o contedo inteiro de todas as revelaes naturais e sobrenaturais no pode deixar de constituir um s sistema completo em si, cada parte do qual se acha relacionada orgnicamente com todas as outras partes. O mtodo de construo indutivo. Tem por base os resultados da exegese. Seus dados so passagens das Santas Escrituras, averiguadas e interpretadas. Esses dados, quando interpretados corretamente, revelam suas prprias relaes e seu lugar no sistema do qual a Pessoa e a obra de Cristo so o centro. E, assim como o contedo da revelao est em relao ntima com todos os outros ramos dos conhecimentos humanos, a tarefa da teologia sistemtica envolve, necessariamente, a demonstrao e a ilustrao da harmonia que existe entre todas as verdades reveladas e toda a cincia legtima, quer material, quer psicolgica, toda a verdadeira filosofia especulativa e toda a verdadeira filosofia moral e filantropia prtica. A teologia sistemtica compreende: A. A construo de um completo sistema de f e deveres, composto do contedo inteiro da revelao. B. A histria desse processo de construo, como ele prevaleceu na Igreja, no passado. C. polmica. A. A construo de um completo sistema composto do contedo da revelao. Isso compreende o tratamento cientfico de: (a) todas as matrias de f reveladas; e (b) todos os deveres impostos.

No modo de arranjar os tpicos, a maior parte dos telogos tm seguido o que o Dr. Chalmers denomina - mtodo sinttico. Tomando como ponto de partida a idia e a natureza de Deus, reveladas nas Escrituras, consideram seus propsitos eternos e seus atos temporais nas obras da criao, providncia e redeno, at a consumao final. O Dr. Chalmers prefere, porm, o que ele chama - mtodo analtico, e toma por ponto de partida os fatos da experincia e da luz da natureza, e a condio atual e moralmente enferma do homem, e da vai subindo at chegar redeno e ao carter de Deus, como nela revelado. Quando se segue o primeiro destes mtodos, agrupam-se comumente todos os elementos do sistema, sob os seguintes ttulos: 1o. Teologia propriamente dita: compreendendo a existncia, os atributos e a personalidade trina de Deus, juntamente com os Seus propsitos eternos e os atos temporais de criao e providncia. 2o. Antropologia (a doutrina do homem): compreendendo a criao e a natureza do homem, seu estado original, queda e conseqente runa moral. Isto abrange a psicologia bblica e a doutrina bblica sobre o pecado, sua natureza, origem e modo de propagao. 3o. Soteriologia (a doutrina da salvao): que inclui o plano, a execuo e a aplicao, e os efeitos gloriosos da salvao dos homens. Isso abrange a Cristologia (a doutrina sobre Cristo): a encarnao, a constituio da Pessoa de Cristo, Sua vida, morte e ressurreio, juntamente com a obra prpria do Esprito Santo, os meios de graa, a Palavra de Deus e os sacramentos. 4o. tica crist: abrangendo os princpios, regras, motivos e auxlios dos deveres humanos revelados na Bblia, como so determinados (a) pelas relaes naturais que o homem tem como homem com os seus semelhantes, e (b) suas relaes sobrenaturais como homem remido. 5o. Escatologia (a cincia das ltimas coisas): compreendendo a morte, o estado intermedirio da alma, o segundo advento, a ressurreio, o juzo geral, o cu e o inferno. 6o. Eclesiologia (a cincia da Igreja): incluindo a determinao cientfica de tudo quanto as Escrituras ensinam a respeito da Igreja visvel e invisvel, em seu estado temporal e no eterno; a idia da Igreja - sua verdadeira definio, sua constituio e organizao, seus oficiais e suas funes. A comparao e crtica de todas as modificaes da organizao eclesistica que tenham existido, juntamente com sua gnese, sua histria e seus efeitos prticos. B. Histria das doutrinas: que compreende a histria de cada uma destas grandes doutrinas, a investigao de seu primeiro aparecimento e subseqente desenvolvimento atravs das controvrsias a que cada doutrina deu lugar, e as Confisses em que se acha definida. . C. Polmica ou teologia controversial: incluindo a defesa do verdadeiro sistema de doutrina, tanto no seu todo como tambm em cada um de seus elementos constitutivos contra as perverses dos partidos herticos, dentro do mbito da Igreja geral. Isso abrange: (a) Os princpios gerais e o verdadeiro mtodo de controvrsias religiosas, (b) A definio do verdadeiro status quoestionis em cada controvrsia e uma exposio das fontes de testemunho e dos mtodos defensivos e ofensivos de vindicar-se a verdade, (c) A histria das controvrsias. 11. Que que se acha compreendido sob o ttulo de Teologia Prtica? Teologia prtica tanto uma arte como uma cincia. Como arte, tem por fim a publicao eficaz do contedo da revelao entre todos os homens e a perpetuao, extenso e edificao do reino terrestre de Deus. Como cincia, tem como sua provncia as leis e os princpios revelados da arte acima definida. Por isso, assim como a teologia sistemtica baseia-se numa cabal exegese, ao mesmo tempo cientfica e espiritual, assim tambm a teologia prtica baseia-se nos grandes princpios desenvolvidos pela teologia

sistemtica, enquanto que a diviso de eclesiologia terreno comum a essas duas divises: o produto de uma delas e o fundamento da outra. Inclui as seguintes divises principais: 1a. A idia e desgnio da Igreja e de seus atributos revelados divinamente. 2a. A determinao da Constituio divinamente prescrita da Igreja, e dos mtodos de sua administrao, com a discusso e refutao de todas as outras formas de organizao eclesistica que existiram ou existem, sua histria, e as controvrsias que tm ocasionado. 3a. A discusso da natureza e extenso da descrio que Cristo deixou Sua Igreja para ajustar os mtodos de organizao e administrao eclesistica s mutveis condies sociais e histricas dos homens. 4a. A determinao das condies sob as quais uma pessoa pode fazer-se membro da Igreja, e a relao para com Cristo envolvida no fato de ser membro dela, juntamente com os privilgios e deveres, absolutos e relativos, das diversas classes de membros. A relao das crianas batizadas com a Igreja e os deveres relativos dos pais e da Igreja em relao a elas. 5a. Os Oficiais da Igreja - extraordinrios e ordinrios; temporais e perptuos: (1) Sua vocao e ordenao; sua relao para com Cristo e a Igreja. (2) Suas funes: (a) Como mestres, incluindo: (i) Catequese: sua necessidade, princpios e histria. (ii) Escolas Dominicais. Os deveres dos pais e da Igreja quanto educao religiosa das crianas. (iii) Retrica sagrada, homiltica e elocuo do plpito. (iv) Literatura crist. Folhas, peridicos e livros permanentes. (b) Como diretores do culto, incluindo: (i) Liturgias - seu uso, abuso e histria. (ii) Formas livres de orao. (iii) Salmodia - inspirada e no inspirada, seu uso e histria. (iv) Msica sagrada - vocal e instrumental, seu uso e histria. - (c) Como regentes: (i) O ofcio, qualificao, deveres e autoridade bblica dos presbteros regentes. (ii) O ofcio, qualificao, deveres, modo de eleio e ordenao, e autoridade bblica do ofcio de bispo ou pastor, do Novo Testamento. (iii) A Junta de presbteros /Conselho ou Consistrio: sua constituio e funes. A teoria, regras e mtodos prticos de disciplina na Igreja.

(iv) O presbitrio e sua constituio e funes. A teoria, regras e precedentes prticos que regulam a ao dos tribunais eclesisticos, no exerccio do direito constitucional de revista e inquirio em tudo o que diz respeito a processos, queixas e apelaes eclesisticos. (v) O Snodo e a Assemblia Geral-sua constituio e funes. Os princpios e modos de proceder de Comisses, Comissionrios, Mesas Administrativas, etc. Isso leva s funes da Igreja como um todo, e autoridade para distines denominacionais, aos usos e abusos dessas distines, e s relaes em que esto as diversas denominaes, umas para com outras. 1o. Estatstica eclesistica, incluindo nossa prpria Igreja, as outras Igrejas e o mundo. 2o. Economia crist, social e eclesistica, incluindo os deveres de administrao crist, consagrao pessoal, e beneficncia sistemtica. A relao da Igreja com sociedades voluntrias: associaes de moos cristos, etc. 3o. A educao do ministrio, a direo, constituio e administrao de Seminrios teolgicos. 4o. Misses internas, incluindo a evangelizao agressiva, a sustentao de ministros entre os pobres, a extenso da Igreja e a construo de edifcios para Igrejas. 5o. A relao da Igreja com o Estado, e a verdadeira relao do Estado com a Igreja, e a condio real da lei comum e estatuidade em relao propriedade eclesistica e ao dos tribunais eclesisticos no exerccio da disciplina, etc. As obrigaes dos cidados cristos. A relao da Igreja com a civilizao, as reformas morais, as artes, cincias, cultura social, etc. 6o. Misses no estrangeiro, em todos os seus ramos. Veja Lectures on TheologicalEncyclopedia and Methodology, pelo Rev. John Mc Clintock, D. D., L. L. D., editado por J. T. Short, R. D. Biblioteca Sacra, vol. 1,1844; Theological Encyclopedia and Methodology, pelo Prof. Tholuck, editado pelo Prof. E. A. Park. 12. Que que se acha compreendido sob o ttulo de Teologia Histrica? Segundo a evoluo lgica de todo o contedo das cincias teolgicas, a interpretao da letra das Escrituras Sagradas e a construo do sistema inteiro das verdades e deveres relacionados que nelas so revelados, precisam preceder histria do desenvolvimento dessa revelao na vida e f da Igreja, assim como a fonte precede ao rio que dela emana. No estudo, porm, das cincias teolgicas, a histria as deve preceder e lanar fundamento para todas as demais. E s a histria que nos d as Escrituras em que se acha contida essa revelao, e tambm os meios pelos quais podemos averiguar, criticamente, os diversos livros cannicos e suas ipsissima verba. A mesma fonte devemos tambm os nossos mtodos de interpretao e seus resultados, como estes se acham ilustrados na imensa quantidade de literatura teolgica acumulada at agora e associada aos nossos credos e confisses, os documentos relativos s controvrsias e, por conseguinte, os documentos que mostram como o nosso sistema de doutrina se desenvolveu gradualmente. Na ordem de produo e aquisio, a histria vem primeiro, enquanto que na ordem de uma exposio lgica das cincias teolgicas constitutivas, ela tem a honra de abrir caminho para a srie inteira. A teologia histrica divide-se em teologia histrica bblica e eclesistica. A primeira tem por fonte, principalmente, os livros inspirados e continua at o encerramento do cnon do Novo Testamento. A Segunda principia onde a primeira acaba, e continua at o tempo presente.

A histria bblica subdivide-se em: Io. Histria do Velho Testamento, e inclui as eras: (1) Patriarcal, (2) Mosaica e (3) Proftica, juntamente com a (4) Histria do povo escolhido durante o intervalo entre o Velho e o Novo Testamentos. 2o. O Novo Testamento, incluindo (1) a vida de Cristo, (2) a fundao da Igreja Crist pelos apstolos, at ao fim do primeiro sculo. Para o estudo da histria eclesistica, como cincia, so necessrios diversos ramos preliminares de estudo. Io. Algumas das cincias auxiliares j enumeradas preciso citarmos como exigidas especificamente nesta conexo. So: (1) geografia antiga, medieval e moderna. (2) cronologia. (3) antigidades de todos os povos includos na rea pela qual se estendeu, em qualquer tempo, a Igreja. (4) estatstica -mostrando qual a condio do mundo, em qualquer perodo dado. (5) o curso inteiro de histria geral. 2o. As fontes de onde se deriva a histria eclesistica devem ser investigadas criticamente. (1) Fontes monumentais, como sejam: (a) edifcios (b) inscries (c) moedas, etc. (2) Fontes documentais, que so: (a) pblicas, como as atas de conclios, as breves decretais e bulas de papas; os arquivos de governo, os credos, confisses, catecismos e liturgias de Igrejas, etc.; (b) Documentos particulares, como literatura contempornea de toda qualidade, brochuras, biografias, anais, e relatrios e compilaes mais modernas. 3o. A histria da literatura sobre a histria eclesistica, desde Eusbio at Neander, Schaff e Kurtz. Os mtodos que tm sido e devem ser seguidos na colocao em ordem do material da histria eclesistica. O mtodo que sempre foi e provavelmente sempre ser seguido uma combinao dos dois mtodos naturais: (a) o cronolgico e (b) o tpico. O Dr. Mc Clintock diz que o princpio fundamental, segundo o qual se devem arranjar os materiais de histria eclesistica, a distino entre a vida da Igreja e sua f. As duas divises so, pois: (1) histria da vida da Igreja, ou histria eclesistica propriamente dita, e (2) histria do pensamento da Igreja, ou histria das doutrinas. 1a. A histria da vida da Igreja trata de pessoas, comunidades e eventos, e deve ser tratada segundo os mtodos ordinrios de composio histrica. 2a. A histria do pensamento da Igreja compreende: (1) patrstica, ou a literatura dos chamados "Pais" da Igreja; e patrologia, ou a exibio cientfica de sua doutrina. Esses "Pais" da Igreja dividem-se em trs grupos: (a) apostlicos, (b) antenicenos, e (c) ps-nicenos, terminando com Gregrio, o grande, entre os latinos, 604 d.C., e com Joo Damasceno, entre os gregos, 754 d.C. Este estudo envolve: (a) a discusso do prprio uso dos escritos desses Pais da Igreja, e sua autoridade legtima nas controvrsias modernas; (b) uma histria completa de sua literatura e das edies principais de suas obras, e (c) significado, valor e doutrina de cada um desses Pais, individualmente. (2) Arqueologia crist, que trata dos costumes, culto e disciplina da Igreja Primitiva, e da histria do culto, artes, arquitetura, poesia, pintura, msica, etc., cristos. (3) Histria das doutrinas, ou a histria crtica da gnese e do desenvolvimento de cada elemento do sistema doutrinrio da Igreja, ou de qualquer de seus ramos histricos, com a histria tambm de todas as formas herticas de doutrina, das quais a verdade tem sido separada, e a histria das controvrsias por meio das quais foi efetuada a eliminao. A isto acompanha naturalmente a histria crtica de toda a literatura da histria das doutrinas, dos princpios aceitos, dos mtodos seguidos e do trabalho feito.

(4) Simblica, que envolve: (a) a determinao cientfica da necessidade e usos de Credos e Confisses pblicos, (b) a histria das ocasies, da gnese e recepo, autoridade e influncia de cada um dos Credos e Confisses da cristandade, (c) o estudo do contedo doutrinrio de cada Credo e de cada grupo de Credos separadamente, e (d) simblica comparativa, ou estudo comparativo de todas as Confisses da Igreja, e a exibio sistemtica de todos os pontos em que respectivamente concordam e discrepam entre si. r \ (Theological Encyclopedia, por Mc Clintock. Notes on Ecclesiastical History, por Dr. J. A. Alexander, editado pelo Dr. S. D. Alexander.)

2Origem da Idia de Deus e Prova da Sua Existncia1. Qual a distino entre uma definio nominal e uma definio real? E qual a verdadeira definio do termo "Deus"? Uma definio nominal explica simplesmente a significao do termo usado; e uma definio real explica a natureza daquilo a que se aplica o termo usado. A derivao da palavra Deus (em portugus e latim) e Theos (em grego) tem sido comumente atribuda ao snscritoDr -dar "luz". Mas Curtis, Cremer e outros derivam-na de Thes em thessesthai "implorar". Theos "Aquele a quem se faz orao". A palavra Deus muitas vezes usada em sentido pantesta, para significar a base impessoal, inconsciente de toda existncia, e por muitos, para designar a causa primria desconhecida e que se no pode conhecer, do mundo existente. E por isso que tantos especuladores, que negam real ou virtualmente a existncia do Deus da cristandade, assim mesmo repudiam indignados o nome atentas, por admitirem a existncia de uma substncia que existe por si, ou de uma causa primria a que do o nome Deus, denegando-lhe, porm, a posse das propriedades pessoais que, em geral, lhe so atribudas pelos que fazem uso desse termo. Mas, como questo de fato, em conseqncia da predominncia de idias crists na literatura das naes civilizadas durante os ltimos dezoito sculos, o termo "Deus" empregado geralmente no sentido definido e permanente de um Esprito eterno, absolutamente perfeito, livre, pessoal, que existe por si mesmo, e distinto do mundo que Ele criou e sobre o qual soberano. O homem que nega a existncia de tal Ser, nega a Deus. 2. Como se pode construir uma "real" definio de Deus? E evidente que Deus pode ser definido s at onde nos conhecido, e a condio da possibilidade de O conhecermos o fato de que fomos criados Sua imagem. E preciso que toda definio de Deus pressuponha o fato de que, em algum sentido essencial, Ele e Suas criaturas inteligentes so seres do mesmo gnero. Deus definido, pois, dizendo-se o Seu gnero e Suas diferenas especficas. Quanto ao Seu gnero, um Esprito inteligente e pessoal. Quanto a Suas diferenas especficas, aquilo que O constitui Deus, Ele infinito, eterno e imutvel, em Sua existncia, sabedoria, poder, santidade, e todas as perfeies em harmonia com o Seu Ser. 3. At onde se deve tradio, a idia de Deus? ' E evidente que se tem chegado idia completa de Deus apresentada na definio precedente, somente por meio da revelao sobrenatural que temos nas Escrituras Sagradas. E tambm um fato que as trs nicas religies testas que em qualquer tempo tm prevalecido entre os homens (a judaica, a maometana e a crist) se acham ligadas historicamente com essa mesma revelao. E em vo especular-se quanto ao resultado a que chegariam os homens, independentemente de todos os hbitos herdados e de todas as opinies tradicionais, porque estamos inteiramente sem experincia ou testemunho a respeito de qualquer espcie de conhecimentos adquiridos ou juzos formados sob tais condies. E, alm disso, certo tambm que a forma que tomam as concepes testas, e as associaes que a acompanham, so determinadas no caso de cada comunidade, pelas tradies teolgicas herdadas de seus pais. Por outro lado, certo que todos os homens, debaixo de todas as condies conhecidas, e por isso, debaixo de todas as condies verdadeiramente naturais, reconhecem espontaneamente uma existncia

divina que lhes revelada, mais ou menos claramente, na constituio e na experincia conhecidas de seus prprios espritos e na natureza externa. Por conseguinte, a concepo testa no mais devido autoridade, como muitas vezes se diz absurdamente, do que devido crena, formada debaixo das mesmas condies de educao, na realidade subjetiva do esprito humano, ou na realidade objetiva da matria. A existncia do Deus automanifesto reconhecida espontnea e universalmente, o qu uma prova evidente de serem claras e presentes, em toda parte, as provas da Sua existncia, e serem convincentes para todos os homens desenvolvidos normalmente. 4. Seria INATA a idia de Deus? Seria ela uma verdade INTUITIVA? As respostas dependem do sentido em que tomamos os termos respectivos. evidente que no h idias "inatas" no sentido de j ter nascido criana com a concepo do ser divino, ou qualquer outra j formada na sua mente. certo tambm que a mente humana, quando desenvolvida em condies puramente naturais e na ausncia de toda revelao sobrenatural, nunca pode chegar a uma concepo adequada da natureza divina. Por outro lado, porm, toda a histria prova que a idia de Deus inata, no sentido de que as faculdades constitucionais do esprito humano so tais que, em todas as condies naturais, chegam ao reconhecimento, mais ou menos claro, de Deus como a causa primria de toda existncia e como o Senhor da conscincia, auto-manifestado na alma e no mundo. E inata por serem as provas da existncia divina presentes to universalmente como o a luz do dia, e por ser constitucional o processo pelo qual se apreendem essas provas. Se tomarmos o termo "intuio" no sentido estrito de viso direta de uma verdade, visto sua prpria luz como verdade necessria, por um ato intelectual que impossvel resolver em processos de pensar mais elementares, nesse caso, a existncia de Deus no uma verdade apreendida intuitivamente pelos homens. O processo pelo qual chegamos ao conhecimento desta verdade, quer espontaneamente, quer por meio de um raciocnio elaborado, abrange como elementos muitas intuies indubitveis, mas ningum apreende a Deus mesmo por uma intuio direta, porque: 1o. Ainda que o reconhecimento da existncia divina seja necessrio, no sentido de ser uma verdade aceita pela grande maioria dos homens que no podem deixar de crer nela, mesmo quando querem; e embora ningum possa deixar de crer nela sem que faa violncia sua natureza, contudo no uma verdade necessria, no sentido de no se poder conceber a no existncia de Deus. 2o. Porque Deus no Se nos manifesta imediata, e sim, mediatamente por meio de Suas obras. E, no ato pelo qual a alma reconhece a Sua presena e ao, h sempre, pelo menos implicitamente, uma inferncia, uma deduo. 3o. Porque a verdadeira idia de Deus muito complexa, e chega-se a ela por meio de um processo complexo, o qual, quer seja espontneo quer no, envolve diversos elementos que se pode analisar e descrever. Por outro lado, certo que Deus Se manifesta nas operaes de nossas almas e na natureza exterior de um modo anlogo quele pelo qual se nos manifestam as almas invisveis de nossos semelhantes, e reconhecemos a existncia dEle com a mesma certeza com que reconhecemos a dessas almas. A existncia dessas reconhecemos: (a) porque somos genericamente semelhantes aos outros, e (b) porque seus atributos se manifestam em suas palavras e atos. E a existncia de Deus reconhecemos: (a) porque fomos criados Sua imagem, e este fato reconhecemos espontaneamente, (b) pela revelao que Deus faz de Si na nossa conscincia, e pelas caractersticas do mundo exterior. "Ainda que se possa analisar o processo mental que acabamos de descrever - a inferncia testa - esta em si sinttica. Os princpios dos quais depende acham-se ligados entre si, de modo que o esprito os pode compreender todos em um s ato, e inclui e aplica todos eles, necessariamente, na sua apreenso de Deus. A vontade, a inteligncia, a conscincia, a razo e as idias que elas fornecem; causa, desgnio,

bondade, infinidade, e os argumentos que tm estas idias por base -tudo isso junta-se nesse grande processo" - Theism, Prof. Flint, pgs. 71, 72. 5 .Se a existncia de Deus reconhecida espontaneamente por todos os homens, em estado normal de conscincia, qual a utilidade de argumentos formais para provar essa existncia? E quais so os argumentos geralmente usados? 1o. Esses argumentos so de valor como anlises e verificaes cientficas dos processos mentais envolvidos implicitamente no reconhecimento espontneo das automanifestaes de Deus. 2o. So de utilidade tambm para indicar a legitimidade do processo contra as crticas do ceticismo. 3o. Confirmam e vivificam o reconhecimento espontneo, chamando a ateno para a extenso e variedade das provas que atestam a mesma verdade. 4o. Os diversos argumentos so convergentes antes que consecutivos. Nem todos estabelecem os mesmos elementos da concepo testa, mas cada um deles estabelece independentemente seu elemento separado e assim til, contribuindo: (a) como prova confirmativa de que Deus existe, e (b) como prova complementar quanto ao que Ele . Constituem um todo orgnico, e so a anlise e a ilustrao do ato espontneo em virtude do qual a grande massa dos homens tem sempre reconhecido a existncia de Deus. "Se bem que causalidade no pressupe desgnio, nem desgnio bondade; desgnio pressupe causalidade, e bondade, tanto causalidade como desgnio. As provas de inteligncia so tambm provas de poder; e as provas de bondade o so tambm de inteligncia e poder. Os princpios da razo que nos obrigam a pensar em Deus, na Suprema Inteligncia Moral como um ser auto-existente, eterno, infinito e imutvel, suplementam as provas derivadas de outras fontes, e tornam conseqente e completa a doutrina do tesmo" - Theism, Prof. Flint, pgs. 73, 74. Os argumentos comuns sero examinados sob os seguintes ttulos: 1o. Argumento Cosmolgico, ou a prova da existncia de Deus como causa primria. 2o. Argumento Teleolgico, ou as provas da existncia de Deus fornecidas pela ordem e adaptao que reinam no universo. 3o. Argumento Moral, ou as provas fornecidas pela conscincia moral e pela histria da raa humana. 4o. As provas fornecidas pelos fenmenos das Sagradas Escrituras e pela histria sobrenatural nela registrada. 5o. O Argumento a priori e o testemunho que a razo d de Deus como o Infinito e Absoluto. ..... 6. Qual o Argumento Cosmolgico? Pode ser apresentado na forma de um silogismo, assim: Premissa Maior- Tudo quanto principia a existir de novo, e qualquer mudana em qualquer coisa que j existe, teve necessariamente uma causa preexistente e adequada. Premissa menor - O universo, em seu todo e em todas as suas partes, um sistema de mudanas. ! Concluso - Logo, o universo teve necessariamente uma causa exterior a si, e a causa ltima e absoluta no pode deixar de ser eterna, no causada e imutvel.

1o. Quanto premissa maior: o juzo causal intuitivo e absolutamente universal e necessrio. Alguns especuladores, como Hume e Mill, o tm negado teoricamente, mas tem sido empregado por eles e por todos os demais em todos os seus raciocnios sobre a origem do mundo, como tambm de tudo quanto ele contm. um juzo inevitvel, o contrrio do qual nem se pode imaginar. Alguma coisa existe agora, por conseguinte alguma coisa necessariamente tem existido desde toda a eternidade, e aquilo que tem existido desde toda a eternidade a causa daquilo que existe agora. Tem-se alegado que o juzo causal conduz apenas a uma srie eterna e regressiva de causas e efeitos. Isso, porm, um absurdo. (1) O juzo no que tudo teve uma causa, e sim, que tudo o que principia a existir e toda a mudana naquilo que j existe, foi causado. Para aquilo, porm, que eterno e imutvel, esse juzo no pede causa. (2) Uma srie eterna de causas e efeitos absurda, porque seria simplesmente uma srie de mudanas, que precisamente aquilo que pede uma causa, e tanto mais imperativamente quanto mais longa a srie. Uma causa real, porm, uma causa que satisfaa absolutamente ao juzo causal, no pode ser nem uma mudana nem uma srie de mudanas, e sim alguma coisa no causada, eterna e imutvel. Como questo de fato, inegvel que todos os filsofos e homens de cincia, sem nenhuma exceo, postulam estes princpios. Eles todos postulam uma causa eterna, auto-existente e imutvel do universo, quer seja um esprito pessoal, quer tomos materiais, quer uma alma mundi inconsciente, inteligente, em unio com a matria. 2o. Quanto premissa menor: o fato de ser o universo, em seu todo e em todas as suas partes, um sistema de mudanas, ensinado por todos os princpios e lies da cincia moderna. Todas as descobertas nos campos da geologia e da astronomia, e todas as especulaes, como sejam - a hiptese nebulosa e a da evoluo - tm esse princpio na sua prpria essncia. Mas John Stuart Mill, no seuEssay on Theism, pgs. 142 e 143, diz: "H na natureza um elemento permanente, como tambm um elemento varivel; as mudanas so sempre os efeitos de mudanas anteriores; as existenciais permanentes porm, at onde as conhecemos, de modo algum so efeitos... H em todos os objetos outro elemento que tambm permanente, a saber, a substncia ou substncias especficas e elementares de que eles consistem, e suas propriedades so inerentes. No se sabe quando essas comeam a existir. Dentro do tempo a que remontam, os conhecimentos humanos no tiveram princpio, e por conseguinte, tampouco causa; embora eles sejam as causas ou concausas de tudo quanto sucede". Sempre que na explicao de um fenmeno fsico se remonta sua causa, acha-se que esta consta de uma certa quantidade de fora combinada com certas colocaes... A fora em si essencialmente uma e sempre a mesma, e dela existe na natureza uma quantidade fixa que, se a teoria da conservao das foras verdadeira, nunca aumenta nem diminui. Eis, pois, nas mudanas da natureza material um elemento permanente, que parece ter todas as caractersticas daquele mesmo que estamos procurando. E a isso pois que, segundo parece, devemos atribuir o carter de Causa Primria, se h coisa que merea essa distino - Essay on Theism, pgs. 144, 145. RESPONDEMOS: (1) A existncia de "Energia" ou "Fora", em qualquer de suas formas conversveis, e separada da matria, absolutamente impossvel imaginar-se. Este fato reconhecido como uma indubitvel verdade cientfica por Stewart e Tait (Unseen Universe, pg. 79). (2) E um fato bvio que toda a luz e calor do sol e das estrelas, salvo uma frao muito diminuta, sai para o espao e nunca volta para esses corpos. E um fato tambm que o movimento visvel de todos os grandes corpos do universo est sendo retardado gradualmente por alguma coisa que se pode chamar "frico etrea", e que afinal tombaro todos juntos e constituiro, por agregaes sucessivas, uma s massa. "Enfim, a degradao da energia do universo visvel procede, paripassu, com a agregao de massa. O prprio faro, pois, de serem de tamanho finito as grandes massas do universo visvel, torna certo que esse processo no pode ter continuado desde toda a eternidade ou, em outras palavras, o universo visvel necessariamente teve princpio no tempo". Porque: (a) ainda h energia em quantidades finitas e no difusa; e porque (b) a

matria do universo existe ainda em massas separadas. Assim pois, a prpria lei da correlao de energia ou fora para a qual o sr. Mill apela, prova, quando realmente aplicada, que o universo teve princpio e ter fim (Stewart e Tait, Unseen Universe, pg.166). (3) Tambm o seu postulado de que a matria do universo, em seus ltimos tomos, eterna e imutvel, no est provado e est em contradio com a analogia cientfica. Clark Maxwell (em seu discurso como presidente da British Association for Advancement of Science, 1870,) diz: "A igualdade exata de cada molcula com todas as demais molculas da mesma substncia, d-lhe, como bem o disse Sir John Herschell, o carter essencial de um objeto fabricado; e isso incompatvel com a idia de ser ela eterna e auto-existente". (4) Como questo de fato, todas as teorias evolutivas sobre a gnese do universo postulam necessariamente um princpio e uma neblina primordial e luminosa. Mas essa neblina luminosa no pode ser a Primeira Causa que o nosso juzo causal pede, porque no eterna e imutvel. Se fosse eterna, estaria inteiramente desenvolvida; e se estivesse inteiramente desenvolvida, no poderia desenvolver-se ainda para formar o universo. Se fosse imutvel, no estaria sujeita a mudanas; e se no imutvel, , assim como o universo que se desenvolve dela, um estado transitrio da matria, pedindo como todas as outras mudanas, uma causa. 7. Qual o Argumento Teleolgico? Teleologia (telos - fim, e logos - discurso) a cincia das causas finais, ou dos propsitos ou desgnios, como estes se acham exibidos na natureza, na adaptao das partes aos inteiros, dos meios aos fins e dos rgos aos seus usos. chamado tambm argumento baseado no Desgnio; afinal baseado no reconhecimento das operaes de uma causa inteligente na natureza. Pode ser apresentado sob duas formas, baseadas respectivamente nas manifestaes mais gerais e mais especiais dessa inteligncia. PRIMEIRA FORMA. Premissa maior - Ordem e harmonia universais na operao concorrente de uma imensa multido de elementos separados, acham explicao s no postulado de uma causa inteligente. Premissa menor - O universo, no seu todo e em todas as suas partes, uma estrutura da ordem mais complexa e simtrica. Concluso - Logo, a causa eterna e absoluta do universo uma mente inteligente. SEGUNDA FORMA. Premissa maior - O ajustamento das partes e a adaptao dos meios para efetuar um fim ou propsito, podem ser explicados s referindo-os a uma inteligncia e vontade que tinham em vista esse fim ou propsito. Premissa menor - O universo est cheio de semelhantes ajustamentos de partes e de organismos compostos de partes que concorrem para efetuar certos fins. Concluso - Logo, a Primeira Causa do universo no pode deixar de ser uma mente e uma vontade inteligentes que tinham em vista esses fins. Se estes argumentos so vlidos, provam que Deus uma Pessoa eterna e auto-existente. Trata-se de um absurdo o postulado de uma inteligncia inconsciente ou de uma inteligncia que produza efeitos sem que opere vontade alguma. Estas frases no representam nenhuma idia possvel; e inteligncia e vontade, quando se acham juntas, constituem personalidade. Quanto primeira forma do argumento, evidente que o prprio fato de ser a cincia uma coisa possvel, prova indubitvel de ser intelectual a ordem da natureza. A cincia um produto do esprito humano que absolutamente incapaz de passar alm das leis da sua constituio. As intuies da razo, os processos lgicos da anlise, inferncias indutivas ou dedutivas, a imaginao, a inveno e todas as atividades da alma que organizam os processos cientficos; e se v que tudo isso corresponde perfeitamente natureza exterior. Depois de resolvidos at os mais sutis problemas abstratos da matemtica e da mecnica, tem-se achado subseqentemente que as solues foram antecipadas na

natureza. As leis da natureza so as expresses de harmonias numricas e geomtricas, e exemplos maravilhosos de uma razo superior e do belo perfeito. Contudo, essas leis, embora sejam invariveis nas mesmas condies, nem so eternas nem inerentes constituio elementar do universo. As propriedades da matria elementar so constantes, mas as leis que as organizam so, elas mesmas, efeitos complicados, o resultado de ajustamentos anteriores sob as categorias de tempo, espao, quantidade e qualidade. A medida que se mudam esses ajustamentos, mudam-se tambm as leis. E esses ajustamentos so, pois, a causa dessas leis; e os ajustamentos no podem, por isso, deixar de ser o produto ou do acaso, o que absurdo, ou da inteligncia, o que certo. Esta ordem intelectual da natureza o primeiro postulado necessrio de toda a cincia, e a essncia de todos os processos do universo, desde o agrupamento de tomos at revoluo dos mundos; desde a digesto de um plipo at ao funcional do crebro humano. Quanto segunda forma deste argumento - O princpio de desgnio pressupe a ordem intelectual geral do universo e suas leis, e apresenta j, antecipadamente, a afirmao de que o carter da Primeira Causa manifestado mais ainda pelas provas encontradas em toda parte, de serem essas leis gerais obrigadas a concorrer para, por meio de ajustamentos especiais, efetuar certos fins que evidentemente se deviam efetuar. Este princpio ilustrado pelos ajustamentos mtuos descobertos nas diversas providncias da natureza, e especialmente pelos organismos vegetais e animais, e as relaes que envolvem de um organismo para com outro organismo, de organismo para com o instinto, e de organismos e classes de organismos para com outros, e as circunstncias fsicas em que se acham colocados. Em muitos casos, a inteno destes ajustamentos e adaptaes especiais evidente de per si e inegvel, como, e.g., o caso das diversas partes do olho para produzir a viso. Noutros casos, a inteno mais obscura e conjetural. Mesmo no estado atual das cincias, podemos compreender s em parte; porm j desde o princpio, as provas de desgnio inteligente tm sido transparentes e abundantes. Um s perodo num manuscrito prova de inteligncia, mesmo se o contexto for indecifrvel. No entanto, todo passo que se d adiante nas cincias, descobrem-se mais provas espalhadas em rea maior e com uma luz mais clara. 8. Quais so algumas das objees feitas contra a inferncia desta tirada do argumento de desgnio especial, e quais so as respostas? Ia. Hume (.Dialogues on Natural Religion, Pt. 7, etc.) afirma que a nossa convico de que adaptao prova de desgnio, devida experincia e no pode passar alm dela: e a de que o nosso juzo dos organismos naturais implicam desgnio na sua causa uma inferncia tirada da analogia das invenes engenhosas do homem e dos seus efeitos. Diz mais, que essa analogia falsa - (1) Porque j temos conhecimento prvio do inventor humano como agente inteligente, enquanto que do autor da natureza no temos nenhum conhecimento prvio, e esse mesmo autor que a inferncia desta procura verificar. (2) Todos os processos da natureza so diversos daqueles por meio dos quais os homens executam as suas obras; e a formao do mundo e a instituio dos processos da natureza so efeitos peculiares, inteiramente dissemelhantes daqueles que temos experincia. RESPONDEMOS: (1)0 argumento peca por ter como base um falso postulado de fato. Do inventor humano, da sua alma no temos conhecimento prvio nem conhecimento algum, a no ser o que nos d o carter das obras pelas quais se manifesta a ns. E exatamente do mesmo modo e na mesma extenso que chegamos ao conhecimento do Autor da natureza. (2) O argumento baseia-se num falso postulado de princpio. A analogia das invenes do engenho humano no a base da nossa convico de que a ordem e a adaptao so provas de inteligncia. E juzo universal e necessrio da razo que a ordem e a adaptao s podem proceder de uma causa inteligente, ou do acaso; e esta ltima suposio absurda. 2a. Alguns cientistas, tendo adquirido o costume de considerar o universo como uma unidade absoluta, cujos processos so todos executados por leis gerais, invariveis (um modo de pensar em que a teologia agostiniana se antecipou por sculos cincia), fazem objeo que, tomando como prova de inteno o ajustamento das partes, em certos grupos ou sistemas especiais o telogo natural toma, por engano, uma parte pelo todo e um efeito incidental de uma lei geral, resultado de condies especiais e

temporais, pelo fim real da prpria lei. Dizem que mesmo se fosse inteligente a Primeira Causa do universo, os homens cometeriam um absurdo infinito nutrindo a presuno de interpretar o Seu propsito, por meio dos resultados especiais que eles vem proceder da operao de leis que j tm estado operando desde toda a eternidade, por todo o espao infinito e sobre um sistema infinito de partes concorrentes. RESPONDEMOS: (1) E evidente que as relaes das partes de um todo especial, concorrendo todas para produzir um fim especial, podem ser entendidas muito bem enquanto permaneam inteiramente desconhecidas as relaes desse todo especial para com a totalidade do todo geral; ainda que a razo e a revelao derramem muita luz mesmo sobre esta ltima parte. Um s osso de um animal de espcie desconhecida d testemunho inegvel de adaptao especial, e pode at, como dizem com toda a razo os cientistas, lanar muita luz para alm de si, sobre a constituio daquele todo a que pertenceu, mas do qual no temos outro conhecimento. (2) Confessamos que essa crtica, se bem que falhe quanto ao argumento tirado do desgnio, tem fora quanto ao modo pelo qual este argumento tem, s vezes, sido aplicado. Os antigos telogos naturais, muitas vezes em grau um tanto exaltado, abstraram organismos individuais do grande todo dinmico do qual so tanto produtos como partes. O Dr. Flint (Theism, pg. 159) distingue bem os fins intrnsecos, extrnsecos e supremos de qualquer ajustamento especial. Assim, o fim intrnseco desse ajustamento especial chamado olho, a viso. Seus fins extrnsecos so os fins teis para os quais esse rgo serve para o animal que o possui, e os fins teis para os quais o animal serve para tudo o que est com ele, em relao imediata ou remota. Seu fim supremo o fim do prprio universo. "Quando afirmamos, pois, que h causas finais no sentido de fins intrnsecos em quaisquer coisas, afirmamos s que as coisas so unidades sistemticas, cujas partes se acham relacionadas definitivamente umas com outras, e coordenadas para produzirem um resultado comum; e quando afirmamos que h em quaisquer coisas, causas finais, no sentido de fins extrnsecos, afirmamos somente que as coisas no so sistemas isolados e independentes, e sim, sistemas definitivamente relacionados com outros sistemas, e ajustados de modo que so partes componentes de sistemas superiores e meios para produzir resultados mais compreensveis do que elas mesmas" -Theism, pg. 163 E verdade que um homem no pode discernir o supremo fim de uma parte, enquanto no discerne o supremo fim do todo, e que no pode discernir todos os fins extrnsecos de qualquer sistema especial, enquanto no conhece todas as suas relaes para com todos os demais sistemas especiais. Apesar disso, porm, assim como um homem, que no sabe nada das relaes que tem uma certa planta ou um animal para com a flora ou a fauna de um continente, pode ter certeza absoluta quanto s funes da raiz ou de uma garra ou unha, na economia da planta ou do animal, assim tambm poder entender perfeitamente a maneira por que todas as partes que concorrem para produzir um todo especial so adaptadas para esse fim, sem que, por ora, nada saiba da relao extrnseca em que est esse todo especial para com aquilo que est fora dele. 3a. Certa classe de cientistas tem afirmado, nestes ltimos tempos, que o testemunho dado da existncia de Deus, pela ordem e adaptao manifestadas nos processos da natureza, fica muito enfraquecido, seno invalidado absolutamente pela probabilidade de ser verdadeira a hiptese alternativa da evoluo. H muitas teorias da evoluo, mas o termo, no sentido geral, significa o juzo de que o estado do universo como um todo e em todas as suas partes, em qualquer momento tem sua causa no estado em que se achava o universo, no momento anterior; que as mudanas notadas foram produzidas pela agncia de foras inerentes na natureza, e que se pode notar a operao dessas foras, de momento para momento, sem soluo de continuidade causal, durante todo o tempo passado. Todas as possveis teorias da evoluo, consideradas em sua relao com a teologia, podem ser assim classificadas: (1) As que no negam nem obscurecem o testemunho que a ordem e a adaptao observadas na natureza do da existncia de Deus, da Sua imanncia nas Suas obras, e do Seu governo providencial sobre elas. (2) As que, embora reconheam a Deus como a causa original a Quem se deve referir no passado remoto a origem e os ajustamentos primrios do universo, contudo negam a Sua imanncia e constante atividade providencial nas Suas obras. (3) As que manifestam, ou virtualmente obscurecem ou negam, o testemunho que a ordem e adaptao do universo do da existncia e atividade de Deus, tanto como Criador como tambm como Governador providencial.

Para com a primeira destas classes de teorias da evoluo, o telogo natural sente, naturalmente, s o mais amigvel interesse. Quanto segunda classe, que admite que uma inteligncia divina ideou e inaugurou o universo no princpio absoluto, mas nega que qualquer agente semelhante esteja imanente no universo dirigindo seus processos, cabe-nos dizer: (1) Que o ponto que estamos procurando estabelecer agora a auto-exis-tncia de uma Primeira Causa inteligente, e no o modo da Sua relao para com o universo. Este ltimo ponto ser elucidado em diversos captulos subseqentes. (2) E muito filosfico e mais de acordo com a verdadeira interpretao do princpio cientfico de continuidade, o conceber-se a Primeira Causa como imanente no universo, e como concorrendo orgnicamente com todas as causas secundrias e no inteligentes em todos os processos que so indcios de poder ou inteligncia. Isso reconhecido por todos os cientistas, e caracteriza a grande maioria deles, que so destas ortodoxos ou que referem todos os fenmenos do universo fsico ao dinmica da vontade divina. (3) So incontestveis as provas que a conscincia moral do homem, a histria e a revelao fornecem, em favor da imanncia e operao eficaz de Deus, em todas as Suas obras. Quanto terceira classe de teorias da evoluo que obscurecem ou negam, quer manifesta quer virtualmente, o testemunho que a ordem e a adaptao do universo so de uma inteligente Causa Primria do universo, como, e.g., a teoria de Darwin quanto diferenciao de todos os organismos, em virtude de variaes acidentais surgindo durante um tempo ilimitado, cabe-nos dizer: Io. Toda teoria semelhante, quando proposta para explicar o universo atual, deve fornecer uma explicao provvel de todas as classes de fatos. Mas notrio que todas as teorias da evoluo puramente natural, deixam inteiramente de explicar os fatos seguintes: (1) A origem da vida. No poderia existir na suposta neblina luminosa, e no poderia ser gerada por aquilo que no tem vida. A deciso madura da cincia de hoje (1878) a que j se acha expressa no axioma antigo omne vi-vum ex vivo. (2) A origem da sensao. (3) Tambm a da inteligncia e da vontade. (4) Tambm a da conscincia. (5) O estabelecimento de tipos distintos, logicamente correlatados e persistentes, em gneros e espcies, mantidos pela lei da hibridade. (6) A origem do homem. O Prof. Virchow, de Berlim, no seu recente discurso perante a Sociedade Alem de Naturalistas e Mdicos, em Munich, diz: "Saibam que me ocupo atualmente com especialidade no estudo de Antropologia; mas sinto-me obrigado a declarar que cada passo que temos dado para diante na provncia de antropologia pr-histrica tem-nos realmente afastado mais de qualquer prova de semelhante conexo (isto , de ser o homem descendente de qualquer tipo inferior)". 2o. Mas mesmo se fosse possvel provar como fato a evoluo contnua, isso de modo algum afetaria as provas que nos fornecem a ordem inteligente e as adaptaes notadas no universo. Estabeleceria somente um mtodo ou sistema de meios, porm em grau algum alteraria a natureza dos efeitos ou os atributos da causa real, descoberta por meio desses efeitos. (1) Seria preciso ainda explicar a origem das leis da abiognese, de reproduo, de diferenciao e reproduo sexuais, de hereditariedade, de variao das leis que, de tomos e energia mecnica, possam desenvolver sensao, razo, conscincia e vontade. (2) Leis nunca so causas, mas sempre modos complicados de ao; o resultado da coao de inmeros agentes inconscientes. Em vez de serem explicaes, so elas mesmas efeitos muito complexos dos quais a razo exige uma causa intelectual. (3) Todas as leis fsicas so o resultado das propriedades originais da matria, operando sob a condio mtua de certos ajustamentos complicados. Alterados os ajustamentos, alteram-se as leis. As que executam a evoluo ou antes aquelas em que analisado o processo da evoluo, preciso que se refiram retrospectivamente aos ajustamentos originais dos elementos materiais da neblina luminosa. Esses ajustamentos nos quais, segundo a hiptese da evoluo, devia achar-se latente toda futura ordem e vida, tiveram necessariamente como causa, ou o acaso ou a inteligncia. Huxley, em seu Criticisms on Origin of Species, pg. 330, baseia no acaso toda a lgica da evoluo, assim: "Tem sido demonstrado que um aparelho, muito bem adaptado para um fim particular, pode ser o resultado de um mtodo de tentativas e erros, executado por agentes inconscientes; como tambm da aplicao direta de meios adaptados para produzirem esse fim, por um agente inteligente". Segundo a teologia, cada organismo como uma bala de carabina atirada diretamente num alvo. Segundo Darwin,

"os organismos so como que metralhadora da qual uma bala ou poucas acertam em algum objeto, e as outras caem longe". A moderna explicao cientfica dos processos do universo, por meio s de causas fsicas excluso da inteligncia, difere da antiga teoria j h muito abandonada do acaso, somente nos acidentes: (a) do uso enganador das palavras "leis da natureza", e (b) do postulado de que o acaso, operando durante um tempo indefinido, pode fazer uma obra de inteligncia. Todavia, assim como ningum pode crer que qualquer soma de tempo possa explicar a forma das facas de pedra e as pontas de seta de pedra, sem o trabalho humano; nem que uma coleo de tipos lanados ao acaso mesmo em nmero ilimitado de vezes possa cair em uma ordem tal que formem os dramas de Shakespeare ou Os Luzadas por Cames, assim tambm ningum pode crer racionalmente que a ordem complicada e to evidentemente intelectual do universo proceda do acaso. (4) Na criao artificial o homem que escolhe; na seleo natural (natural selection) a natureza que escolhe. Por conseguinte, se os resultados so os ajustamentos mais cuidadosos para efetuar um fim determinado, segue-se que essa caracterstica foi estampada sobre os organismos pela natureza e que, por isso, esta foi dirigida inteligentemente: (a) ou por uma inteligncia imanente nos seus elementos, ou em seu todo organizado; (b) ou pelo ajustamento original do seu maquinismo, ou por um Criador inteligente. 9. Exposio do argumento moral, isto , as provas fornecidas pela conscincia moral e pela histria da raa humana. O argumento cosmolgico nos conduziu a uma Causa Primria eterna e auto-existente. O argumento deduzido da ordem e adaptao descobertas nos processos do universo revela-nos que essa grande Causa Primria possui inteligncia e vontade, isto , que um esprito pessoal. O argumento moral ou antropolgico fornece dados novos para inferncias, confirmando as concluses anteriores quanto ao fato da existncia de uma Causa Primria pessoal e inteligente; e, ao mesmo tempo, acrescentando a essa concepo os atributos de santidade, justia, bondade e verdade. O argumento deduzido do desgnio inclui o argumento deduzido da causa; e o argumento deduzido da justia e benevolncia inclui esses dons e acrescenta ainda um elemento novo que lhe prprio. Este grupo de argumentos pode ser assim exposto: 10. Conscincia de si a base fundamental de todo conhecimento. D-nos imediatamente o conhecimento de ns mesmos como existentes e como sujeitos a certos atributos e agentes em certas formas de atividade. Nossas almas, com todos os seus atributos, precisam de explicao. No existem desde a eternidade; tampouco podiam ser desenvolvidas de elementos materiais, porque: (1) A conscincia d testemunho da sua unidade, simplicidade e espiritualidade. (2) As leis da razo e o sentimento moral no podem ser explicados como o resultado de transformadas impresses do sentido, modificadas pelas associaes divididas pela hereditariedade, segundo Mill e Spencer, porque: (a) so universalmente as mesmas, (b) no podem ser analisadas, (c) so necessrias e (d) soberanas sobre todos os impulsos. Segue-se que a alma humana foi criada, e seu Criador no pode deixar de ter atributos superiores aos da sua obra. 2o. O homem essencial e universalmente um ser religioso. Tem os sentimentos de dependncia absoluta e de responsabilidade moral inerentes em sua natureza; esses sentimentos so universais e necessrios. A conscincia implica sempre em responsabilidade para com um ser superior em autoridade moral e, por isso, em carter moral. Essa responsabilidade est implcita especialmente no sentimento de culpa que acompanha toda violao de conscincia. Deus manifesta-Se e reconhecido na conscincia como uma vontade santa, reta, justa e inteligente, isto , um esprito santo e pessoal. 3o. As adaptaes encontradas na natureza, at onde nos possvel examinar as suas relaes para com criaturas sensveis, so caracteristicamente benficas e do testemunho de um propsito geral de promover a felicidade e satisfazer o sentimento do belo. Isso implica em desgnio, e desgnio de um especial carter esttico e moral, e prova que a Causa Primria benvola e amante do belo.

4o. A histria inteira da raa humana, at onde conhecida, descobre uma ordem e um propsito morais que no acham sua explicao na inteligncia ou no propsito moral dos agentes humanos que nela figuram; e essa histria descobre tambm uma unidade de plano que abrange tudo, todos os povos e todos os sculos. Os fenmenos da vida social e nacional, da distribuio etnolgica, e do desenvolvimento e difuso das civilizaes e religies, podem ser explicados unicamente pela existncia de um governador e educador sbio, reto e benvolo dos homens. 10. Como expor as objees ao argumento moral, e tambm as suas respostas ? Essas objees baseiam-se nestes pontos: 1o. A invariabilidade mecnica das leis naturais, e sua inexorvel falta de ateno ao bem-estar das criaturas dotadas de conscincia. 2o. Os sofrimentos dos animais irracionais. 3o. A existncia geral de males morais e fsicos entre os homens. 4o. A partilha desigual dos favores providenciais, e a ausncia de toda proporo entre a soma de felicidade concedida e o carter moral dos que a recebem. Estas dificuldades que de todos provam mais ou menos a f, so, na maior parte dos casos, os motivos reais do atesmo ctico. John Stewart Mill, em seu Essay on Nature (Three Essays on Religion) assevera que caracterstico da "Natureza" infligir, sem piedade, sofrimentos e a morte; e que, se a causa da natureza uma vontade pessoal, deve ser um monstro de crueldade e injustia. Em seu Essay on Theism, Pt.2, argumenta como se fosse uma imoralidade abominvel afirmar que o autor da natureza, assim como ns a conhecemos, onisciente e onipotente, e ao mesmo tempo, absolutamente justo e benvolo; que o nico meio de absolv-10 da acusao de ser cruel e injusto negar que seja ilimitado o Seu conhecimento ou o Seu poder, ou mesmo ambos. A concluso que tira das provas que cita, ele apresenta assim: "Um ser cujo poder grande mas limitado, e limitado de um modo que nem podemos conjecturar; cuja inteligncia grande e talvez ilimitada, mas talvez mais limitada ainda do que o seu poder; que deseja a felicidade de Suas criaturas e a isso presta alguma ateno, porm, ao mesmo tempo, parece ter outros motivos para Suas aes, e motivos que tm para ele mais peso; e a cujo respeito difcil crer que tenha criado o universo s para esse fim." Na sua Auto biography, ch.2, falando de seu pai James Mill, ele diz: "Ouvi-o dizer que foi a leitura da Analogy por Butler que produziu nele uma reviravolta sobre esse ponto. E essa obra, sobre a qual continuava sempre a falar com muito respeito, o conservou, por um tempo considervel, crente na autoridade divina do cristianismo, provando-lhe que fossem quais fossem as dificuldades que se opunham aceitao do Velho e do Novo Testamentos como livros que procederam de um ser perfeitamente sbio e bom, ou que estes livros registram os atos de tal ser, as mesmas dificuldades ou maiores ainda se opem crena de que um ser de semelhante carter seja o Criador do universo. Ele considerava os argumentos de Butler como concludentes contra os nicos oponentes aos quais so dirigidos. Os que admitem a existncia do Criador e Governador onipotente, e tambm perfeitamente justo e benvolo de um mundo como este, pouco podem alegar contra o cristianismo que no se possa alegar, com pelo menos igual fora, contra eles. Por conseguinte, no encontrando lugar de descanso no desmo, ficou em estado de perplexidade at que afinal, e sem dvida depois de muitas lutas, cedeu convico de que sobre a origem das coisas, absolutamente nada se pode saber". RESPONDEMOS: 1o. E certo que Deus no criou o universo com o nico fim, nem mesmo com o fim principal de promover a felicidade de Suas criaturas. A nossa razo, a observao e as Escrituras Sagradas concorrem em revelar como fins muito mais exaltados e mais dignos da ao divina, a manifestao da Sua prpria glria e a promoo da mais exaltada excelncia de Suas criaturas inteligentes, por meio da educao e da disciplina. E evidente que a operao de inexorveis leis gerais, a misria e os sofrimentos incidentais desta vida podem ser os meios mais eficazes para promover esses fins. 2o. A inteno direta de todos os rgos de que se acham providas as criaturas dotadas de conscincia , evidentemente, a promoo do seu bem-estar; a dor e a misria so incidentais. Mesmo a morte sbita e

violenta dos animais irracionais promove, provavelmente, a maior soma possvel de alvio no campo dos sentido. 3o. A conscincia tem ensinado aos homens, em todos os sculos, que os sofrimentos a que estamos sujeitos nesta vida so as conseqncias diretas e merecidas dos pecados dos homens, quer como penas, quer como castigos cuja inteno benvola o nosso melhoramento moral. 4o. A origem do pecado confessadamente um mistrio, atenuado em parte, porm, pela considerao de que o resultado do abuso da ddiva melhor e mais valiosa que nos foi concedida, a agncia livre e responsvel; e tambm pelo fato, revelado nas Sagradas Escrituras, de que na providncia divina at o pecado ter de servir para manifestar mais plenamente as perfeies de Deus, e contribuir para promover a excelncia moral e a felicidade da criao inteligente. 5o. As desigualdades das cotas concedidas pela providncia e a desproporo entre o bem-estar e o carter moral dos homens nesta vida resultam do fato de no ser este mundo lugar de recompensas e castigos, e que os caracteres e destinos diversos exigem disciplina diversa de educao; e essas desigualdades e despropores apontam para reajustamentos futuros, revelados na Bblia (Sal. 73, Almeida). 6o. Nem o argumento teleolgico nem o moral envolvem a assero de podermos, no estado atual dos nossos conhecimentos, discernir no universo provas de uma sabedoria ou bondade que fosse infinita ou mesmo perfeita. Estes atributos so indicados como fatos e caractersticas gerais da natureza. Mas o nosso discernimento deles necessariamente limitado pela imperfeio dos nossos conhecimentos. Mesmo no juzo s da razo infinitamente provvel que, quando tivermos adquirido conhecimentos mais adequados, veremos que aquilo que agora nos parece anmalo e incompatvel tanto com a sabedoria perfeita como com a bondade perfeita, ilustra essas mesmas perfeies que fomos tentados a julgar obscurecidas por certas anomalias. 11. Exposio das provas bblicas. Sendo o homem criatura finita, culpada e moralmente corrompida, inevitvel que as automanifestaes de Deus na natureza sejam imperfeitamente apreendidas por ns. A revelao sobrenatural que Deus manifestou, mediante um processo histrico de intervenes especiais em sucesso cronolgica, interpretadas por uma ordem de profetas dotados sobrenaturalmente e registradas nas Escrituras Sagradas, suplementa a luz da natureza, explica os mistrios da Providncia e d-nos os princpios de uma verdadeira teodicia. O Deus que a natureza encobre, mesmo quando O revela, as Sagradas Escrituras no10 apresentam descoberto, em toda a perfeio da sabedoria, santidade e amor, na Pessoa de Jesus Cristo. Quem vem a Cristo vem a Deus. A verdade do tesmo demonstrada na Pessoa de Jesus, e da por diante no mais ser aceita seno por aqueles que lealmente reconheem Sua soberania sobre a inteligncia, a conscincia e a vida. 12. Exposio do princpio em que se baseiam os argumentos, a priori, a favor da existncia de Deus, o valor desse princpio, e as formas principais sob as quais esses argumentos tm sido apresentados. Argumentos a posteriori so os que, dos fatos da experincia, se deduzem das causas ou dos princpios. Assim, e.g., ns, por meio dos argumentos precedentes mediante os fatos da conscincia e da natureza exterior, temos sido conduzidos ao conhecimento de Deus como um esprito pessoal, inteligente e reto, a Causa Primria, poderosa, sbia e benvola, e Governador moral. Argumentos a priori so os que procedem das idias necessrias da razo e vo s conseqncias necessariamente deduzidas delas, ou s verdades necessrias nelas includas. E certo que as intuies das verdades necessrias so as mesmas, em todos os homens. No so generalizaes tiradas da experincia, e sim esto pressupostas em toda a nossa experincia. Levam o

cunho da universalidade e da necessidade. Tm validade objetiva, no dependendo do estado subjetivo da conscincia pessoal, nem da natureza das coisas, mas anterior e superior a todas as coisas. Que seria, pois, que pode ser a base, o fundamento de verdades eternas, necessrias, universais e imutveis, a no ser uma natureza infinita, eterna, auto-existente, imutvel, da qual seja a essncia? Temos visto que a nossa razo s se pode contentar com uma causa que no teve causa. Essa causa no pode deixar de ser eterna, auto-existente e imutvel. Temos, em nossas mentes, as idias e intuies da infinidade e perfeio, como tambm as da eternidade, auto-existncia e imutabilidade. "Estas, a no ; ser que sejam inteiramente ilusrias - suposio que no se pode conceber - devem ser atribuveis a algum ser. A nica j questo ento: de que Ser? Deve ser dAquele que j provamos ser a Primeira Causa de tudo, a fonte de todo o poder, sabedoria e bondade manifestados no universo. No podem ser atribudos ao universo, porque j se mostrou que este no seno um efeito, e efeito de uma inteligncia, uma Pessoa. Isso no pode ser de ns mesmos, nem de coisa alguma ao alcance de nossos sentidos porque ns, e tudo o que os nossos sentidos podem alcanar, somos finitos, contingentes e imperfeitos. S o Autor do universo, o Pai do nosso esprito, Aquele de quem vem toda a boa ddiva e todo o dom perfeito, pode ser no criado, no condicionado, infinito e perfeito. Isso completa a idia de Deus, at onde pode alcanar a razo natural, ou esta a pode formar; e d tambm consistncia idia. As concluses dos argumentos a posteriori no satisfazem nem a inteligncia nem Q corao, enquanto no so ligadas intuio da razo sobre a infinitude e por esta suplementadas. A concepo de um Deus que no seja infinito, um Deus que no seja ilimitado em todas as Suas perfeies - uma concepo autocontraditria que a inteligncia recusa-se a aceitar" - Dr. Flint, Theism, pg. 291. 1o. Anselmo, Arcebispo de Canterbury (1093-1109), em seus tratadosMonologion eProslogion, expe o argumento assim: temos a idia de um Ser infinitamente perfeito. Mas existncia um elemento necessrio para a perfeio infinita. Por isso existe um Ser infinitamente perfeito porque, de outro modo, faltaria perfeio infinita, como ns a concebemos, um elemento essencial perfeio. 2o. Descartes (1596-1650), em suas Meditationes de prima philosophia, prop. 2, pg. 89, o expe assim: "No podia ter origem numa fonte finita, a idia que temos de um Ser infinitamente perfeito, e por conseguinte, essa idia nos foi comunicada necessariamente por um Ser infinitamente perfeito". O mesmo filsofo, em conexo com outros assuntos, diz tambm que essa idia representa uma realidade objetiva, porque: (1) idia muito clara, e as idias levam a convico de corresponderem verdade, na proporo da sua clareza e (2) porque necessria. 3o. O Dr. Samuel Clarke publicou em 1705 sua Demon-stration ofthe Being and Attributes of God. Seu argumento que o tempo e o espao so infinitos e existem necessariamente. Contudo no so substncias. Logo, existe necessariamente uma substncia eterna e infinita da qual so propriedades. AS PRINCIPAIS TEORIAS ANTITESTAS 13. Que atesmo? Atesmo, segundo sua etimologia, significa negao da existncia de Deus. O nome foi aplicado pelos antigos gregos a Scrates e a outros filsofos, para indicar que eles no se conformaram com a religio popular. Foi aplicado tambm, no mesmo sentido, aos cristos primitivos. Segundo o uso estabelecido em todas as lnguas modernas, o termo significa agora a negao da existncia de um Criador pessoal e Governador moral. Se bem que a crena na existncia de um Deus pessoal seja o resultado de um reconhecimento espontneo de Deus, manifestando-Se na nossa conscincia e nas obras da natureza, ainda assim o atesmo possvel como estado anormal da conscincia, produzido por especulaes sofsticas ou pela indulgncia de paixes pecaminosas, do mesmo modo que o idealismo subjetivo possvel. Existe sob as seguintes formas: 1. Prtico. 2. Especulativo. O atesmo especulativo pode ainda ser (1) Dogmtico, como no caso de chegar-se concluso de que: (a) Deus no existe, ou (b) que as faculdades do homem so incapazes de averiguar ou verificar a Sua existncia (e. g., Herbert Spencer, First Principies, pt. 1). (2)Ctico, como no caso de s duvidar-se da Sua existncia e de negar-se

o carter conclusivo das provas geralmente apresentadas a favor dessa existncia. (3) Virtual, como no caso (a) de se manterem princpios essencialmente incompatveis com a existncia de Deus, ou com a possibilidade de adquirirmos algum conhecimento a esse respeito, e. g., materialistas, positivistas, idealistas absolutos; (b) de se negarem alguns dos atributos essenciais da natureza divina, como fazem os pantestas, e J. S. Mill em seus Essays on Religion; (c) de se adotarem explicaes do universo que excluem (i) a agncia de um Criador e Governador inteligente, (ii) ou o governo moral de Deus e a liberdade moral do homem, como e. g., as teorias de Darwin e Spencer, e os necessitarianos, em geral. Veja Ulrici, God and nature e Review of Strauss; Strauss, em Old and New; Buchanan, Modern Atheism; Tulloch, Theism; Flint, Theism. 14. Que dualismo? O dualismo (em Filosofia, a teoria oposta ao Monismo) a doutrina de existirem no universo duas essncias genericamente distintas: matria e esprito. Neste sentido, a doutrina comum do cristianismo dualista. Todos os antigos filsofos pagos criam na existncia eterna e independente da matria e, por conseguinte, todos os que entre eles eram tambm testas, eram realmente dualistas cosmolgicos. A religio de Zoroastro era um dualismo mitolgico, que tinha por fim explicar a existncia do mal. Segundo ela, Ormuz e Ahriman - os princpios pessoais do bem e do mal - emanaram de uma suprema divindade abstrata, Akerenes. Algumas das seitas dessa religio sustentavam o dualismo na sua forma absoluta, e referiam todo o mal hute, a matria auto-existente. Este princpio dominava entre as diversas seitas crists esprias e gnsticas, no segundo sculo da era crist, e no sistema de Manes, no terceiro sculo; e sua influncia no mundo oriental manifestou- se na tendncia asctica da Igreja Crist Primitiva. Veja J. F. Clarke, Ten Religions; Hardwicke, Christ and other Masters; Neander's, Church History; Pressens, Early Years of Christianity; Tennemann,Manual Hist. Phil. 15. Que politesmo? O politesmo ipolys e theos) distribui as perfeies e funes do Deus infinito, entre muitos deuses limitados. Teve origem no culto da natureza, representado nos mais antigos Vedas dos hindus e que, em to pouco tempo e radicalmente, substituiu o monotesmo primitivo. No princpio, enquanto se conservava na Caldia e na Arbia, consistia em culto dos elementos, especialmente das estrelas e do fogo. Depois tomou formas especiais, segundo as tradies, o gnio e a civilizao relativa dos diversos povos. Entre os selvagens mais grosseiros degenerou-se at ao fetichismo, como na Africa Central e Ocidental. Entre os gregos, tornou-se o veculo para a expresso do seu humanitarismo mais apurado na apoteose de homens hericos, antes que na revelao dos deuses encarnados. Na ndia, sendo a filho de uma filosofia pantesta, tem-se desenvolvido ao extremo o mais extravagante, tanto a respeito do nmero quanto ao do carter de seus deuses. Sempre que o politesmo esteve ligado a especulaes, apareceu como a contra-parte exotrica do pantesmo. Carlyle, Hero Worship; Max Mller, Compar. Myth., nos Oxford Essays; Prof. Tyler, Theology of Greek Poets. 16. Que desmo? O desmo (de deus), se bem que etimologicamente seja o mesmo que tesmo (de theos), tem sido distinguido desde meados do sculo 16 e o nome dado ao sistema que admite a existncia de um Criador pessoal, mas nega Sua presena diretora no mundo, Seu imediato governo moral e toda a interveno e revelao sobrenaturais. O movimento comeou com os destas ingleses, Lorde Herbert de Cherbury (1581-1648), Hobbes (1680), Shaftesbury, Bolingbroke (1678 -1751), Thomas Paine (1809), etc. Passou para a Frana, onde veio a ser representado por Voltaire e pelos enciclopedistas. Da passou para a Alemanha, onde teve como representantes Lessing e Reimarus (Wolfenbttel Fragmentist), e, invadindo a Igreja e a teologia, foi representado essencialmente pela antiga escola dos racionalistas naturalistas que o admitiam com uma forma branda e inconseqente do socinianismo, e. g., Eichhorn

(1752-1827), Paulus (1771 -1851), Wegscheider (1771 -1848). Foi representado na Amrica pelo falecido Theodore Parker, e ainda o pela extrema esquerda do partido chamado Cristos Liberais. Na Alemanha, o mero dualismo naturalista cedeu ao pantesmo, assim como este cedeu, ultimamente, ao atesmo materialista, e. g., Strauss. Veja Leland, View of Deistical Writers; Boyle Lectures por Van Mildert; Farrar, Critical Hist. of Free-thought; Dorner, Hist. Protest. Theology, Hurst,Hist. Of Rationalism Analogy, por Butler. 17. Que idealismo? "Idealismo a doutrina de que, nas percepes externas, os objetos conhecidos imediatamente so idias. Ela tem sido mantido sob diversas formas." Veja Reid, por Hamilton, nota C. Na seguinte passagem de Lewes, pode-se ver quais so algumas das formas do idealismo moderno, entre os alemes: "Vejo uma rvore. Os psicologistas comuns me dizem que neste fato da vista acham-se implicadas trs coisas, a saber: uma rvore, uma imagem dessa rvore, e uma mente que apreende essa imagem. Fichte me diz que sou eu s que existo. A rvore e sua imagem so uma coisa, e esta uma modificao da mi