Esboços de uma trajetória

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ESBOÇOS DE UMA TRAJETÓRIA: CIDADE, PESQUISA, UNIVERSIDADE 1 Heitor Frúgoli Jr. 2 Minha opção pelas Ciências Sociais não foi uma decisão fácil, tendo em vista o contexto – mais imediato ou mais amplo – em que me encontrava ao final do colegial, em meados da década de 1970. Sempre apreciara as disciplinas ligadas às humanidades, mas havia uma certa pressão social e também familiar para engajar-me ou na engenharia ou na medicina, já que a terceira possibilidade do famoso “tripé” da época, o direito, encontrava-se então saturada no mercado de trabalho. Uma atmosfera difícil, marcada pela ditadura militar e pelo autoritarismo, somada à falta de opções culturais – nasci em São Paulo e vivi até os 10 anos na Vila Prudente, na Zona Leste, e residia então, com minha família, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo – não favorecia maiores questionamentos. Paralelamente, quase ao final daquela década, configurava-se um contexto sociocultural e político mais estimulante, com ampliação das liberdades democráticas, ressurgimento dos movimentos sociais e operário, retomada do movimento estudantil, somados à efervescência expressa nos shows de música popular, no teatro, no cinema. Tudo isso se dava num momento em que eu retomava gradativamente minha relação com a cidade de São Paulo 3 , cuja atmosfera eu desejava, de alguma forma, tomar parte. Pude assim adquirir, dentro dos limites da minha condição de juventude, uma consciência mais clara em termos sociais e existenciais, a partir do contato com uma realidade nova e instigante. Foi possível, desse modo, amadurecer um projeto de atuar de uma forma mais engajada e profissional na sociedade, levando-me, após opções anteriores interrompidas, a prestar vestibular em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Sobreveio, na faculdade, um aprofundamento nos estudos, para uma compreensão mais sistemática da realidade social. Tive nesse sentido a oportunidade de freqüentar muitas disciplinas cuja formação foi de inestimável valor até hoje, 1 Agradeço a Cornelia Eckert pelo convite para participar do II Colóquio “Individualismo, Sociedade, Memória” (dez./2010, PPGAS/IFCH/UFRGS) e escrever o presente artigo. 2 Universidade de São Paulo, Brasil. 3 Que adquiria então um forte significado de metrópole cultural. Sobre o conceito e para uma abordagem sobre os anos 1950 (mais recuados com relação à presente abordagem), ver Arruda (2001). Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011

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Esboços de uma trajetória - Frúgoli Jr.

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  • ESBOOS DE UMA TRAJETRIA: CIDADE, PESQUISA, UNIVERSIDADE 1

    Heitor Frgoli Jr. 2

    Minha opo pelas Cincias Sociais no foi uma deciso fcil, tendo em vista o

    contexto mais imediato ou mais amplo em que me encontrava ao final do colegial,

    em meados da dcada de 1970. Sempre apreciara as disciplinas ligadas s humanidades,

    mas havia uma certa presso social e tambm familiar para engajar-me ou na engenharia

    ou na medicina, j que a terceira possibilidade do famoso trip da poca, o direito,

    encontrava-se ento saturada no mercado de trabalho. Uma atmosfera difcil, marcada

    pela ditadura militar e pelo autoritarismo, somada falta de opes culturais nasci em

    So Paulo e vivi at os 10 anos na Vila Prudente, na Zona Leste, e residia ento, com

    minha famlia, em Mogi das Cruzes, na Grande So Paulo no favorecia maiores

    questionamentos.

    Paralelamente, quase ao final daquela dcada, configurava-se um contexto

    sociocultural e poltico mais estimulante, com ampliao das liberdades democrticas,

    ressurgimento dos movimentos sociais e operrio, retomada do movimento estudantil,

    somados efervescncia expressa nos shows de msica popular, no teatro, no cinema.

    Tudo isso se dava num momento em que eu retomava gradativamente minha relao

    com a cidade de So Paulo3, cuja atmosfera eu desejava, de alguma forma, tomar parte.

    Pude assim adquirir, dentro dos limites da minha condio de juventude, uma

    conscincia mais clara em termos sociais e existenciais, a partir do contato com uma

    realidade nova e instigante. Foi possvel, desse modo, amadurecer um projeto de atuar

    de uma forma mais engajada e profissional na sociedade, levando-me, aps opes

    anteriores interrompidas, a prestar vestibular em Cincias Sociais na Universidade de

    So Paulo.

    Sobreveio, na faculdade, um aprofundamento nos estudos, para uma

    compreenso mais sistemtica da realidade social. Tive nesse sentido a oportunidade de

    freqentar muitas disciplinas cuja formao foi de inestimvel valor at hoje,

    1 Agradeo a Cornelia Eckert pelo convite para participar do II Colquio Individualismo, Sociedade, Memria (dez./2010, PPGAS/IFCH/UFRGS) e escrever o presente artigo.2 Universidade de So Paulo, Brasil.3 Que adquiria ento um forte significado de metrpole cultural. Sobre o conceito e para uma abordagem sobre os anos 1950 (mais recuados com relao presente abordagem), ver Arruda (2001).

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011

  • percorrendo os autores clssicos, as principais vertentes tericas, alm de vrios debates

    contemporneos. Pode-se dizer, por ocasio da escolha das matrias optativas, que

    minha formao enveredou a princpio pela sociologia, com um interesse posterior mais

    flagrante pela antropologia.

    Minha primeira pesquisa4 mais sistemtica ocorreu a partir dos meados do quarto

    ano da graduao, logo aps a participao no curso de Sociologia Urbana, ministrado

    por Eva Blay, que me incentivou a realizar uma espcie de levantamento etnogrfico

    dos grupos sociais que ento utilizavam o Largo da Concrdia5 marreteiros (camels),

    engraxates, desempregados, prostitutas, mendigos (populao de rua), dentre outros, a

    maioria de origem nordestina buscando analisar estratgias sociais de mltiplas

    atividades nas ruas, que subvertiam os usos do espao esperados pelo planejamento

    urbano.

    ***

    Heitor Frgoli Jr. Foto de 02 dezembro 2010. II Colquio Individualismo, Sociabilidade e Memria. Acervo BIEV PPGAS IFCH UFRGS.

    ***

    Tal trabalho que se tornou um projeto de iniciao cientfica6 possibilitou-me

    adentrar o universo da pesquisa etnogrfica, com o duro aprendizado nascido do contato

    em carne-e-osso com os sujeitos abordados: logo no primeiro dia de campo, ocorrera

    um rapa apreenso das mercadorias dos camels pelos fiscais da prefeitura, sob

    proteo policial e cobertura da grande imprensa, com o protesto dos atingidos e

    acusaes de favorecimento queles que pagavam propinas. Dada a densidade do

    4 Os projetos no Brasil citados ao longo do texto contaram, em diferentes fases, com auxlios da FAPESP e do CNPq, com exceo daqueles nos quais outras fontes so especificadas.5 No histrico bairro do Brs marcado por sucessivas levas de imigrantes.6 Entre 1983 e 1984.

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  • drama social7 que se desenvolvia minha frente, procurava observar tudo,

    perguntando afoitamente sobre o que ocorria, sem me identificar e fazendo minhas

    anotaes, quando fui rispidamente abordado por camels que me tomaram por um

    fiscal disfarado. Desde ento aprendi que a sensao de invisibilidade do

    pesquisador, to comum entre principiantes, um dos maiores equvocos que se pode

    cometer numa pesquisa.

    O trabalho de campo propriamente dito possibilitou-me captar uma ordem e uma

    regularidade sob a aparncia catica da ocupao das ruas, embora, olhando

    retrospectivamente, tenha-me ento faltado um melhor preparo terico para transformar

    tais dados numa interpretao mais densa. De toda forma, foi possvel mais tarde

    (Frgoli Jr., 1995) analisar sobretudo determinadas regras e hierarquias presentes no

    desempenho do trabalho informal nas ruas, a maioria delas invisveis aos transeuntes,

    bem como a construo de determinadas estigmatizaes8. De qualquer modo, entendo

    que tais dificuldades fazem parte do esprito da iniciao na pesquisa, onde se pode

    testar os potenciais, bem como perceber lacunas a serem enfrentadas posteriormente.

    Foi j na fase final do curso de graduao que tive minha primeira experincia

    profissional, fora do ambiente acadmico, como pesquisador numa Assessoria Tcnica

    de Gabinete da Secretaria das Finanas do Municpio de So Paulo. Tal experincia

    pontual, de dois anos, possibilitou-me vivenciar certos meandros da dinmica de

    trabalho de uma instituio pblica. Mais habituado ao ambiente universitrio onde as

    atividades de pesquisa envolvem geralmente leitura, discusses, avaliaes conjuntas

    dos resultados e das dificuldades deparei com uma lgica certamente distinta.

    Durante meses fiz parte de uma equipe que visitou inmeras favelas e outras

    reas com habitaes precrias na periferia de So Paulo, para determinados

    levantamentos. Ao longo desse trabalho, reelaborei muitos dos esteretipos que tinha

    sobre esses locais, nos quais fomos sempre muito bem recebidos. Naquela poca,

    tratava-se de espaos, luz do dia, predominantemente femininos. Obviamente as

    favelas no eram ainda reas dominadas territorialmente pelo trfico de drogas, tal

    como se d em muitas hoje em dia. O contato dirio e por meses com tais lugares

    permitiu-me comear a reconhecer uma grande heterogeneidade interna, a comear

    pelos seus distintos graus de precariedade. Apesar de todos os limites, tal experincia

    7 No sentido definido por Turner (2008 [1974]).8 Retomarei adiante mais aspectos dessa publicao.

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  • permitiu-me redimensionar a viso que tinha sobre a metrpole9, sobretudo quanto

    enorme dimenso e amplitude de sua rea perifrica, bastante desatendida, que na poca

    j constitua um dos focos privilegiados de estudos antropolgicos e sociolgicos10.

    Arrependo-me de no ter-me ocorrido escrever uma espcie de dirio de campo dessa

    experincia tenho registros muito esparsos , o que poderia ter sido mais frutfero

    posteriormente, embora isso tenha me impactado significativamente. Finalizando, tal

    experincia no servio pblico com projetos sigilosos e decises sobre os

    desdobramentos inacessveis reafirmou meu desejo de trabalhar, de preferncia, no

    ambiente acadmico, onde percebia uma maior vocao.

    Ao final da minha graduao, firmara-se a inteno de continuar decifrando a

    cidade principalmente a partir do olhar sobre suas ruas e espaos pblicos, mas

    intrigava-me ento o fenmeno do crescimento dos shopping centers, cuja presena na

    paisagem urbana paulistana passava a chamar ateno, vendo-os a princpio como

    espcies de simulacros urbanos que atraam um grande nmero de freqentadores,

    primeira vista especialmente as camadas mdias e altas antes que eu constatasse um

    crescente uso tambm pelas camadas populares concomitante ao esvaziamento e

    deteriorao dos equipamentos de muitas praas, sobretudo nas reas mais centrais de

    So Paulo11.

    Por outro lado, sentia necessidade de referenciais que me levaram a um grande

    interesse pela antropologia urbana. Assim, concorri e entrei no mestrado em

    Antropologia Social da Universidade de So Paulo e, sob a orientao de Jos

    Guilherme Magnani, estabeleci um contato mais sistemtico com a bibliografia clssica

    e contempornea da antropologia. Posteriormente, empreendi uma pesquisa para

    investigar a amplitude sociocultural da apropriao dos shopping centers de So Paulo

    por mltiplos grupos de usurios, principalmente redes de jovens, que praticam diversas

    formas de sociabilidade nesses espaos, na articulao entre os campos do lazer e do

    consumo.

    Realizei ento um trabalho de campo em trs shoppings de So Paulo

    Iguatemi, Norte e Morumbi para, atravs de observaes sistemticas e numa

    9 O que denota um amadurecimento propiciado por uma experincia extra-acadmica, lembrando que as mesmas so, hoje em dia, to desvalorizadas pelas agncias de fomento pesquisa.10 Para citar apenas uma referncia importante, Cardoso (1986).11 Olhar esse que eu passara a desenvolver a partir da pesquisa j mencionada sobre o Largo da Concrdia (Brs, So Paulo).

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  • perspectiva comparativa, captar as formas de apropriao desses locais, com especial

    ateno dimenso do lazer (Frgoli Jr., 1992). Para evitar tomar os shoppings como

    isolados empricos, busquei estabelecer nexos comparativos desses estabelecimentos

    com outros espaos comerciais da cidade12. Procurei tambm atentar, tal como a

    metfora de uma pea de teatro, ao cenrio, aos atores sociais predominantes e s

    regras subjacentes s suas relaes, tal como um script interpretado que prev

    mltiplas variaes.

    Percebo retrospectivamente que sempre tive um particular interesse em tentar

    investigar novos objetos de pesquisa, tal como se dera nesse caso, com razovel

    receptividade no campo acadmico, j que a investigao tocava em aspectos ligados a

    certas mudanas sociais em curso no uso dos espaos urbanos, a formas de

    sociabilidade articuladas ao consumo e ao lazer, e ao incio de um processo de

    massificao da freqncia a esses estabelecimentos13, procurando contribuir ao debate

    sobre significados e sentidos da modernidade urbana. Obviamente tive que lidar com a

    falta de uma interlocuo mais clara em termos de pesquisas j realizadas, alm de

    enfrentar, ainda que em raras situaes, a posio dos que consideravam o objeto

    pouco legtimo dentro das cincias sociais, voltadas tradicionalmente ao estudo dos

    grupos sociais marginalizados14.

    Tal pesquisa viabilizou o incio de minha participao em vrios fruns de

    discusso, como encontros da ANPOCS, ABA, CERU, CEBRAP, alm de palestras em

    faculdades, rgos pblicos e escolas, com a ampliao das interlocues.

    Durante a pesquisa para o mestrado, parte do isolamento inerente ao trabalho de

    confeco da dissertao foi atenuado pela minha participao no ento nascente

    Ncleo de Antropologia Urbana (NAU), do Departamento de Antropologia da USP,

    coordenado tambm por Jos Guilherme Magnani, cujo projeto inicial Pedaos e

    trajetos: formas de lazer e sociabilidade na metrpole propiciou-me aprofundar o

    enfoque em temticas que j constituam meu interesse. Isso ensejou que pudssemos

    abraar uma prtica coletiva e compartilhada, na qual as descobertas, assim como as 12 Um exerccio interessante foi observar, na poca e mesmo depois, as formas de ocupao de galerias do centro de So Paulo (ver Frgoli Jr., 1995, 63-69; ver tambm Macedo, 2007).13 Ainda que a representao social predominante ainda hoje os veja como espaos destinados principalmente s classes de maior poder aquisitivo.14 Ainda no havia se desenvolvido propriamente uma antropologia do consumo, que a obra de Douglas e Isherwood (2004 [1979]) auxiliou consideravelmente. Retomei a temtica mais adiante (Frgoli Jr., 2008a), com base em eventos ocorridos em alguns shoppings; ver tambm, a respeito, Puccinelli (2011), sobre pesquisa de iniciao cientfica por mim orientada.

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  • dificuldades e inquietaes, eram discutidas pela equipe de participantes ento alunos

    da ps-graduao e da graduao.

    medida que se aproximava o final do mestrado, entretanto, ia se tornando

    premente uma insero profissional mais regular, cujo detalhamento no relevante

    para esse artigo, principalmente porque as faculdades particulares, mesmo que

    proporcionem experincias (em geral sofridas) de amadurecimento, quase sempre

    propiciam condies precrias de desenvolvimento acadmico15.

    Antes de ingressar no doutorado, um trabalho assinalvel foi a co-organizao

    de uma coletnea de textos na rea das cincias sociais sobre os shopping centers no

    Brasil (Pintaudi; Frgoli Jr., 1992) 16, analisando realidades urbanas diferenciadas e

    representativas, atravs de distintos olhares da antropologia, da geografia, da

    sociologia e do urbanismo. Isso resultou, em suma, num enfoque sobre os shoppings e

    fenmenos correlatos que buscou contribuir com pesquisas no campo das cincias

    humanas sobre o tema.

    Como a rea de estudos urbanos continuava a me suscitar grande interesse,

    concorri ao doutorado em Sociologia na USP, com um projeto inicialmente intitulado

    Avenida Paulista: sociedade e cultura em So Paulo, sob a orientao de Maria

    Arminda do Nascimento Arruda, no qual pretendia analisar aspectos da dinmica

    urbana e cultural da metrpole luz de processos que se davam naquela avenida, cujo

    entorno vinha constituindo uma forte centralidade, com uma significativa densidade

    simblica.

    Nessa ocasio, fui convidado pela editora Marco Zero para escrever um livro 17

    15 Aps o final da graduao, tive a oportunidade de uma primeira experincia de docncia no Ciclo Bsico da PUC de So Paulo (na disciplina Problemas Filosficos e Teolgicos do Homem Contemporneo), uma proposta ento arrojada em termos pedaggicos, na qual todos os alunos, independentemente do curso, freqentavam cinco disciplinas bsicas, com nfase numa formao inicial mais humanstica, o que entretanto estava prestes a acabar, frente demanda de vrias faculdades por estabelecer de forma autnoma seus prprios ciclos introdutrios o que veio a ocorrer em 1987. Posteriormente fui docente de sociologia na EAESP/Fundao Getlio Vargas e integrei, naquela instituio, o Centro de Estudos da Cultura e do Consumo. Tornei-me tambm professor de antropologia da FCS/Fundao Csper Lbero, onde ministrei aulas para alunos de jornalismo, publicidade e propaganda e relaes pblicas, do curso noturno, mais maduros que os do curso matutino, mas com a maioria extenuada pela jornada de trabalho.16 Silvana Pintaudi, gegrafa e professora da UNESP/Rio Claro, havia defendido uma tese de doutorado sobre os shoppings do interior do estado de So Paulo, e ambos sabamos ento de outros trabalhos recentes sobre o tema, o que nos levou a organizar tal livro.17 Que faria parte de uma coleo intitulada Vida Cotidiana, projeto que depois no avanou dentro da editora, o que quase inviabilizou seu lanamento, que s ocorreu quando obtive por conta prpria um patrocnio complementar do SESC-SP.

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  • que resultou no tratamento de questes relevantes acerca de espaos pblicos de So

    Paulo luz das interaes sociais neles ocorridas, aproveitando que eu j realizara duas

    pesquisas sobre o tema18, procurando tambm fazer uma espcie de balano de outros

    estudos no mbito das cincias sociais sobretudo aqueles que contivessem dados

    etnogrficos reveladores de usos e ocupaes sociais das ruas e espaos similares.

    Busquei assim avanar, refletindo sobre as mudanas mais abrangentes que vinham

    ocorrendo nos espaos pblicos, marcadas por um certo abandono pelas camadas mais

    privilegiadas concomitante a uma intensificao do seu uso pelas camadas populares

    para vrios fins enquanto que, simultaneamente, aumentavam espaos mais

    privatizados e seletivos, destinados sobretudo aos grupos de maior poder aquisitivo.

    Dessa forma, uma parte foi dedicada rea central de So Paulo com certa

    deteriorao dos equipamentos urbanos e uma ocupao diversificada de carter mais

    popular e outra abordou uma espcie de fragmentao dessa centralidade em espaos

    como shoppings, condomnios fechados, complexos empresariais e outros. Tal livro foi

    publicado em 1995, sob o ttulo So Paulo: espaos pblicos e interao social e

    penso que desempenhou seu papel numa sistematizao antropolgica concisa de vrias

    etnografias sobre distintos usos dos espaos pblicos da metrpole19.

    Prosseguindo no doutorado, vinha enfrentando dificuldades para circunscrever

    mais precisamente o objeto de minha tese. No havia ento uma linha de pesquisa de

    estudos urbanos no Departamento de Sociologia com a qual pudesse dialogar melhor

    sobre minhas incertezas e apreenses, restando poucas oportunidades de interlocuo20.

    Esse conjunto de desafios convenceu-me da necessidade de uma reciclagem,

    tornada possvel com uma bolsa sanduche 21, atravs do qual passei um ano (entre

    1995 e 1996) como pesquisador visitante do Center for Iberian and Latin American

    Studies CILAS, na University of California, San Diego UCSD, sob a superviso de

    James Holston, do Department of Anthropology da UCSD.

    18 As j mencionadas abordagens sobre o Largo da Concrdia e sobre os shopping centers.19 Apesar dos limites dessa publicao quanto a um debate terico mais profundo, dado o esprito da demanda qual inicialmente se destinava, como j dito. Parte das dinmicas de uso dos espaos do centro de So Paulo foram tambm abordadas em A guerra dos lugares (Arantes, 2000, 105-129).20 Somava-se uma insatisfao quanto s limitaes j descritas das atividades de docncia que vinha desempenhando. Na EAESP/FGV, ento meu principal local de trabalho, vinha lidando com classes cada vez mais indisciplinadas, cujos alunos incorporavam gradativamente o papel de clientes, frente a professores vistos como prestadores de servios, com todo o tipo de prejuzos para o processo educacional propriamente dito.21 Obtida junto ao convnio CAPES-Fulbright.

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  • Alm de um ambiente de trabalho acolhedor, as condies de pesquisa

    bibliogrfica e de leituras foram muito boas, tendo entrado em contato com a literatura

    norte-americana sobre dinmicas socioculturais das metrpoles contemporneas, com

    forte tradio naquele pas. Afora tal levantamento, pesquisei o material disponvel em

    centros de pesquisa dali e de outras universidades, contatando em vrias ocasies

    professores e pesquisadores, ligados principalmente a outros centros de estudos latino-

    americanos e brasileiros, bem como da rea de estudos urbanos22.

    Para alm da experincia universitria propriamente dita, o fato de estar num

    outro pas, com todas as descobertas e agruras decorrentes, propiciou-me um forte

    amadurecimento pessoal. Pude, ao longo de minha permanncia, no somente vivenciar

    um cotidiano num contexto urbano muito distinto do Brasil, como tambm realizar por

    vezes pequenas viagens que ampliavam minha experincia como pesquisador e como

    citadino. Inevitvel dizer que a experincia num contexto distinto propiciou-me um

    determinado estranhamento, a partir do qual pude avaliar melhor tanto a condio de

    estrangeiro quanto a de brasileiro, malgrado a complexidade desse tema.

    San Diego, onde morei com minha famlia, uma cidade bastante

    suburbanizada 23, com regies esparsas ligadas por auto-pistas, um modelo muito

    recorrente no sul da Califrnia. A experincia no trnsito dos Estados Unidos

    propiciou-me muitas comparaes com o sistema brasileiro, medida que h diferentes

    regras, maior rigor no cumprimento destas, e direitos mais efetivos atribudos ao

    pedestre, apesar do primado do automvel e de um sistema de transporte coletivo

    bastante escasso. As inmeras atividades comunitrias e voluntrias desempenhadas ali

    e em outras cidades fizeram-me compreender melhor certos aspectos da cidadania

    norte-americana. San Diego ocupa uma posio geogrfica peculiar, prxima divisa

    com o Mxico e com a cidade de Tijuana que tambm visitei , recebendo assim

    muitos imigrantes, a maior parte ilegais, que desempenham atividades informais e mal

    remuneradas. Configura-se ao longo de toda a fronteira entre Estados Unidos e Mxico

    uma cultura fortemente marcada pelo hibridismo, alvo de muitos estudos24. Por outro

    22 Em algumas ocasies apresentei pesquisas que j havia realizado, com comentrios e sugestes animadores (agradecimentos especiais a Sharon Zukin).23 No sentido norte-americano do termo.24 Ver, a respeito, Herzog (1992) e Canclini (1997). Para uma abordagem antropolgica mais recente e instigante a respeito, ver Borders/Nodes/Groupings (Herzfeld, 2006: 133-151).

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  • lado, sua posio no litoral do Pacfico tem ocasionado a vinda de muitos imigrantes

    orientais, que tm formado certos nichos (nas universidades e em alguns bairros).

    Los Angeles, a duas horas dali, vem sendo considerada um importante paradigma

    de mudanas urbanas contemporneas, cuja expresso propiciou o surgimento da Los

    Angeles School 25, reunindo estudiosos ligados temtica urbana, com tpicos que

    incorporei seletivamente em minha tese de doutorado. Dada a proximidade com San

    Diego, foi igualmente alvo de especial ateno durante minhas visitas, principalmente

    no que diz respeito ao seu padro acentuadamente descentralizado de urbanizao, suas

    transformaes no espao pblico, seu modelo de segregao residencial, seu extenso

    sistema de auto-pistas, sua considervel diversidade tnica e sua indstria de lazer e

    cinema26.

    Dessa forma, foi possvel aproveitar tal estadia no exterior como fonte de

    reflexo sobre a diversidade sociocultural. Ainda com relao aos Estados Unidos,

    retornei quele pas em 2001 e estava em Nova York quando ocorreram os atentados de

    11 de setembro. Eu havia caminhado por aquela regio um dia antes, mas naquela tera-

    feira estava no Queens, fora de Manhattan, quando se deram as exploses. Tal

    experincia inesperada e dramtica permitiu-me ampliar de forma extraordinria meus

    conhecimentos sobre a realidade urbana nova-iorquina, que posteriormente elaborei no

    artigo Nova York nos dias seguintes tragdia (nov./2001).

    Voltando bolsa-sanduche, o principal avano residiu na reformulao do

    objeto da pesquisa de doutorado, tendo basicamente chegado ao seguinte objetivo:

    analisar como a centralidade da cidade de So Paulo vinha sendo articulada, redefinida e

    negociada por grupos empresariais no perodo mais recente de sua vida urbana,

    comparando o contexto social de trs espaos significativos, desenvolvidos ao longo do

    quadrante sudoeste:

    a) o Centro, que sofreu historicamente uma srie de modificaes, com a

    deteriorao parcial de equipamentos urbanos e passando ento por processos parciais

    de revitalizao urbana, visto como espao estratgico da vida metropolitana na tica

    da Associao Viva o Centro;

    b) a Avenida Paulista, uma espcie de desdobramento ampliado do centro

    tradicional sob a hegemonia do capital financeiro a partir da dcada de 1970,

    25 Ver, sobre tal escola, Dear (2000).26 Para um painel a respeito, ver Sorkin (1992).

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  • considerada a partir de 1990 o smbolo da cidade, e cujo processo de deteriorao

    urbana posterior levou criao da Associao Paulista Viva;

    c) a Avenida Eng. Luiz Carlos Berrini, representativa de uma tendncia, a partir

    dos anos 1980, de concentrao de multinacionais do setor tercirio em So Paulo, com

    papel decisivo desempenhado pela empresa Bratke-Collet nessa estruturao, em cuja

    regio se deu, em meados da dcada de 1990, a organizao de um pool de empresrios

    da regio para a remoo de favelados de uma rea das proximidades, durante a

    construo de uma avenida.

    Os principais objetivos da tese estavam delineados, mas era necessrio ento

    preparar a volta ao Brasil. Mais difcil do que a ida, tal retorno impunha-me o contato

    com as antigas dificuldades, em que pese todo o salto de qualidade advindo da

    permanncia no exterior. Uma das minhas intenes, concomitante confeco da tese

    de doutorado, era buscar condies de trabalho acadmico mais satisfatrias.

    Ao final de 1997, participei de um concurso para lecionar antropologia para o

    Curso de Graduao em Cincias Sociais, no Departamento de Antropologia, Poltica e

    Filosofia da FCL/UNESP de Araraquara, em regime de dedicao integral, tendo obtido

    a vaga.

    Tal insero acarretou-me inestimveis mudanas em minha trajetria. Passei a

    lecionar para alunos de Cincias Sociais, o que obviamente implicou num outro tipo de

    envolvimento com a matria dada e com os debates em sala de aula. Isso me levou a um

    contato renovado com a bibliografia antropolgica, tanto a clssica quanto a

    contempornea. Comecei a orientar projetos de pesquisa de alunos da graduao,

    atividade que antes fizera apenas ocasionalmente, alm de participar de bancas de

    monografia de orientandos de outros colegas do departamento e da faculdade,

    iniciando-me, aps o doutorado, nas bancas de ps-graduao 27. Com o tempo, 27 Outro fato assinalvel foi minha participao num mdulo de um curso de ps-graduao lato-sensu oferecido pela UNESP, intitulado Gesto Pblica e Gerncia de Cidades, para um pblico em geral ligado administrao pblica de Araraquara, alm de polticos profissionais, militantes, jornalistas etc. Uma das discusses empreendidas dizia respeito justamente ao processo de deteriorao dos equipamentos urbanos do centro de So Paulo, com a formao, naquele caso, de uma associao de base empresarial visando reverter, com seus prs e contras, tal fenmeno. Eu havia sugerido uma discusso sobre Araraquara, apesar das considerveis diferenas com relao capital, e aps vrios pontos de vista, os alunos passaram a discutir um projeto polmico em curso, do ento prefeito, de remover os trilhos da Fepasa da rea central da cidade, impermeabilizando a rea e definindo novos usos, com altssimos custos e resultados questionveis, o que exigiria no mnimo um debate pblico mais aprofundado. Num momento em que Araraquara estava prestes a eleger um novo prefeito, um grupo da classe se empenhou no enfrentamento dessa e de outras questes urbanas candentes, formando posteriormente uma espcie de ONG, com uma composio bastante plural, chamada Araraquara Viva,

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 27

  • organizei informalmente um pequeno grupo de estudos de antropologia urbana com

    estudantes atrados pelo tema, configurando-se um interesse que depois me levou a

    oferecer essa disciplina como optativa. Essa experincia permitiu-me no apenas

    retomar especificidades desta vertente da antropologia, como buscar compreender as

    particularidades socioculturais das cidades de mdio porte em processo de

    metropolizao processo presente em algumas regies do interior do estado de So

    Paulo , cujos contextos evidentemente constituam o interesse bsico de pesquisa por

    parte dos estudantes 28.

    Passei tambm a escrever resenhas sobre livros acadmicos para a grande

    imprensa 29 e revistas universitrias. Tal atividade, alm do desenvolvimento de um

    olhar mais crtico, advindo da responsabilidade de um posicionamento pblico quanto a

    obras acadmicas, passou a propiciar o conhecimento de novos campos de produo,

    bem como um saber mais apurado sobre a prpria maneira de se confeccionar um livro,

    expor os argumentos e defender os principais pontos de vista. Embora em muitos casos

    a pesquisa propriamente dita seja o substrato das obras acadmicas, tenho a partir da

    presente atividade compreendido melhor a importncia da construo textual

    propriamente dita.

    Paralelamente, finalizei da tese de doutorado, defendendo-a em agosto de 1998.

    O retorno crtico de grande incentivo da banca, aliado s sugestes que obtive quando

    da apresentao de partes do trabalho em seminrios e congressos levaram-me a

    preparar sua publicao, que se deu em meados de 2000 intitulada Centralidade em

    So Paulo: trajetrias, conflitos e negociaes na metrpole. A ressonncia dessa

    pesquisa foi desde ento bastante positiva, estabelecendo-se um dilogo com outras

    abordagens sobre o contexto urbano nas cincias sociais30.

    voltada qualidade de vida na cidade. A formao desse grupo, que pude acompanhar na prpria sala de aula, possibilitou-me maior clareza quanto potencialidade de uma das facetas da vida universitria, relativa s atividades de extenso.28 Outro aspecto que se tornara bastante visvel que a maioria das pesquisas e publicaes da antropologia urbana abrangem principalmente as metrpoles (inicialmente os contextos carioca e paulista, tendo depois, evidentemente, se diversificado). Para uma abordagem que passa por tal discusso, ver Frgoli Jr. (2008b).29 Com intensificao no perodo entre 1998 e 2001 (para o extinto Caderno de Sbado do Jornal da Tarde).30 Menciono aqui uma contribuio antropologia urbana: ... num aglomerado contguo com mais de dez milhes de habitantes, como o caso da cidade de So Paulo, no h uma, mas vrias centralidades (Frgoli, 2000) e, em vez de se procurar (em vo) um princpio de ordem que garanta a dinmica da cidade como um todo, mais acertado tentar identificar essas diferentes centralidades e os mltiplos ordenamentos que nelas e a partir delas ocorrem (Magnani, 2002: 15).

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 28

  • A partir dessa poca, comearam a surgir convites para investigaes de curto

    prazo, com a possibilidade da retomada renovada de alguns enfoques, ou de incurses

    por novos terrenos. Ainda em 2000, realizei uma breve etnografia de dois centros

    comerciais tradicionais e dois shopping centers da Zona Leste de So Paulo31. Foi

    interessante observar, no caso do Shopping Aricanduva, situado em meio a uma enorme

    rea de habitaes precrias, o aprofundamento da absoro de camadas populares (j

    constatada uma dcada antes no caso do Shopping Center Norte), ento em curso numa

    nova fronteira de expanso do comrcio varejista moderno. Isso resultou, em 2001, na

    produo de um texto (em parceria com Raquel Rolnik, coordenadora do projeto), sobre

    as especificidades da espacializao da desigualdade nessa extensa rea urbana de So

    Paulo32.

    Um ano depois, tive a rara oportunidade de fazer outra breve pesquisa de campo

    na pequena cidade de Beuningen, na Holanda33. Tal regio havia experimentado uma

    primeira fase de expanso h vinte anos, com a construo de casas em massa pelo

    Estado, atraindo uma parcela da populao da cidade vizinha de Nijmegen, que passou a

    conviver com os fazendeiros locais. Mais recentemente, entretanto, ocorrera uma nova

    expanso imobiliria, com a produo de moradias mais caras, trazendo dessa vez parte

    da classe mdia alta que trabalha em Nijmegen, mas que prefere morar fora da cidade,

    busca de contato com a paisagem rural circundante e da prtica da recreao. Trata-se

    de um processo de suburbanizao, que se desenvolve com facetas particulares naquele

    pas 34 e que configura, no caso de Beuningen numa fase peculiar de transio do rural

    para o urbano uma crescente diversificao de grupos sociais, mais ntida sobretudo

    atravs do contraste, por vezes conflitivo, entre os antigos e os novos residentes.

    Enfoquei tal contexto numa tica antropolgica, centrando a anlise numa retomada

    crtica do conceito de comunidade sua dissoluo e suas tentativas de reinveno (j

    que bastante acionada pelos sujeitos na ocasio) , buscando discutir alguns dos

    significados que essa noo suscitava naquele caso (Frgoli Jr., 2003).

    31 Esses ltimos com perfis bastante distintos em termos socioculturais, numa consultoria para uma pesquisa mais abrangente sobre essa regio, num convnio entre a PUC de Campinas e o Instituto Plis.32 Recentemente retomei tal temtica quando da ento possvel construo de um estdio em Itaquera (Zona Leste de So Paulo) para a prxima Copa do Mundo (Frgoli Jr., 14/11/2010).33 Numa consultoria para a Fundao Van Weurt tot Deest e o Bureau Venhuizen, que desenvolviam um projeto de interveno no local.34 Ver, a respeito, Boeijenga and Mensink (2008).

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 29

  • Por uma conjuno de fatores, foi possvel retornar Holanda outras vezes35,

    repetindo-se, gradativamente, um conhecimento um pouco mais aprofundado sobre

    outro pas. Na ltima vez (2010), tive a chance de uma experincia como professor

    visitante na Ctedra de Estudos Brasileiros na Universidade de Leiden, onde ministrei

    dois cursos de antropologia da cidade, um sobre o Rio de Janeiro e outro sobre So

    Paulo, com novos aprofundamentos a respeito das respectivas produes relativas a

    ambos os contextos36. Tendo morado por alguns meses em Leiden, foi possvel incluir

    (gradativamente, e quando diminuiu a neve...) o uso da bicicleta no cotidiano, meio de

    transporte, como se sabe, altamente utilizado no pas, com forte influncia numa srie

    de usos dos espaos (tanto da cidade como do campo), e que hoje em dia inspira uma

    srie de movimentos por novas formas de utilizao das cidades.

    Outra experincia de pesquisa, um pouco mais aprofundada, ocorreu em So

    Bento do Sapuca (SP). A primeira, decorrente de uma atividade inicialmente de

    consultoria para a confeco de um Plano Diretor para a cidade37, com uma investigao

    centrada nos grupos polticos assinalados por significativas matrizes discursivas e uma

    agenda de desenvolvimento local monopolizada por moradores recentes (ou de fora)

    (Frgoli Jr., 2006). No perodo posterior, a partir de pistas etnogrficas, desenvolveu-se

    uma pesquisa mais detida com grupos locais, situados em bairros rurais, com prticas e

    representaes distintas dos anteriores em termos territorial, parental, religioso e

    poltico. Sem pretender delimitar uma rgida separao entre cidade e campo, h muito

    criticada, foi instigante contrapor essas duas experincias, com nfase nos modos

    diferenciados atravs dos quais esses grupos constroem suas representaes, com

    nfase, no ltimo caso, na poltica de santo (Frgoli Jr. e Spaggiari, 2009).

    Principalmente a partir de 2003, ano de meu ingresso como docente no

    Departamento de Antropologia da USP, pode-se falar numa multiplicao e

    simultaneidade de experincias acadmicas, tornando-se necessrio um enfoque seletivo

    35 Em maio de 2002, tive a oportunidade de participar do seminrio Urban transformation and social reconstruction in Brazil, na Universidade de Utrecht, organizada pelo antroplogo brasilianista Geert Banck, quando de sua aposentadoria. Outras idas decorreram de dilogos profcuos com o arquiteto e urbanista Paul Meurs. Em 2009 participei de um programa de visitas internacionais promovido pelo Estado holands, com o conhecimento pontual de realidades culturais e paisagens urbanas bastante variadas.36 Experincia muito estimulante, na qual um dos desafios foi dialogar, do ponto de vista antropolgico, com as interrogaes dos alunos, a maioria delas advindas de um olhar sobre a Amrica Latina e o Brasil.37 Ligado Oficina Municipal (articulada Fundao Konrad Adenauer), em parceria com a prefeitura daquele municpio.

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 30

  • quanto aos aspectos assinalveis ao presente artigo. Dois anos depois, ao contar com um

    pequeno porm slido nmero de orientandos, criei um novo grupo de estudos, que veio

    a se chamar GEAC (Grupo de Estudos de Antropologia da Cidade), para encontros

    regulares voltados ao debate e reflexo sobre temas ligados teoria e pesquisa nesse

    campo antropolgico, do qual ocasionalmente participavam ps-graduandos e

    estudantes sob outras orientaes. Tal experincia contou com o engajamento efetivo

    dos estudantes, com a formao de um campo de trocas assinalado por um forte

    coleguismo. Numa primeira etapa, pode-se dizer que as leituras e discusses situavam-

    se num contraponto entre abordagens antropolgicas e sociolgicas sobre a cidade,

    tendo como uma interseco, produtora de um tensionamento benfico, a prtica

    etnogrfica (Frgoli Jr., 2005). Aos poucos, passamos a estudar e confrontar vertentes

    distintas no interior da prpria antropologia, e a experincia at ento instigou-me a

    escrever um pequeno livro Sociabilidade urbana (2007) 38 no qual basicamente

    busquei traar a genealogia de conceitos referenciais na antropologia da cidade,

    sobretudo sociabilidade e situao, alm da abordagem sobre contrapontos entre as

    figuras do citadino e do cidado, explorando o carter relacional das modalidades de

    interao criadas e dissolvidas na cidade39. Dessa forma, foi possvel retomar de um

    ponto de vista terico algumas de minhas experincias de pesquisa anteriores, bem

    como articular um campo parcial de referncias transversais entre os participantes

    daqueles debates40.

    Sem pretender cobrir todas as orientaes j realizadas 41, pode-se dizer que a

    partir do ingresso na USP foi possvel acompanhar pesquisas que de certa forma

    passaram a se aproximar bem mais (em distintos graus) de temas ligados antropologia

    da cidade, assim como se beneficiaram de questes tratadas em nossos debates. Atendo-

    me aqui apenas ao campo da ps-graduao, pode-se mencionar os trabalhos

    38 A convite de Celso Castro, diretor da coleo da qual fez parte a publicao.39 Alm de uma retomada crtica de estudos das Escolas de Chicago e de Manchester.40 Mesmo reconhecendo, evidentemente, que cada orientando incorporou de forma seletiva tais referncias, tendo em vista os desafios e metas estabelecidos nas respectivas pesquisas (naquele perodo, dissertaes de mestrado e pesquisas de iniciao cientfica).41 No citarei dissertaes de ex-orientandos da ps-graduao na UNESP-Araraquara, cujas pesquisas extrapolavam o campo da antropologia da cidade com exceo da tese de doutorado de Fernanda T. Mrques sobre prostituio masculina na rea porturia de Santos (2002), na qual fui co-orientador , nem as orientaes de iniciao cientfica (na USP e UNESP) ou acompanhamentos de monografias de fim de graduao na UNESP, algumas das quais renderam depois boas investigaes de ps-graduao, sob outras orientaes.

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 31

  • etnogrficos 42 de Jessica Sklair (2010), com enfoque em articulaes entre filantropia e

    segregao43, de Daniel D. L. R. Costa (2007), a respeito de mltiplos agenciamentos

    em torno da populao de rua, de Carlos F. de Aquino (2008) e Incio de C. D. de

    Andrade (2010), sobre prticas e representaes de movimentos de luta por moradia (o

    primeiro sobre grupos atuantes no centro de So Paulo, e o segundo voltado a

    acampamento perifrico em So Jos dos Campos, SP) e de Enrico Spaggiari (2009)44,

    sobre redes situadas no cruzamento entre interaes citadinas e aprendizado da prtica

    futebolstica45.

    Penso que outra contribuio substancial que se iniciou na dcada passada foi o

    fortalecimento do campo de debates sobre antropologia urbana (bem como sobre os

    estudos urbanos nas cincias sociais), ao coordenar (sempre de forma partilhada) grupos

    de trabalho em vrios fruns acadmicos.

    O primeiro ocorreu num Congresso da Brazilian Studies Association BRASA

    (Recife, 2000) quando coordenei uma mesa 46 reunindo pesquisadores de outras

    cidades brasileiras para discutir, no campo das cincias sociais, questes relevantes a

    respeito dos conflitos ligados a processos de revitalizao em reas centrais. Revelou-se

    ento um campo promissor de questes, sobretudo pelo desafio da diversidade de

    experincias em curso e pela necessidade de avaliar o alcance de conceitos gerados

    no contraponto entre a anlise de processos europeus ou norte-americanos e brasileiros.

    O passo seguinte foi uma parceria estabelecida com Fernanda Peixoto, quando

    ministramos conjuntamente, em 2001, o curso Tpicos especiais em teoria sociolgica:

    sociabilidade urbana e pensamento social junto ao Programa de Ps-Graduao em

    42 Todos de mestrado e com foco majoritrio em So Paulo.43 Cuja dissertao foi defendida em 2007 (considerada a melhor dissertao daquele ano do PPGAS/USP, tendo participado do concurso anual de melhores dissertaes e teses brasileiras da ANPOCS) e o livro publicado trs anos depois.44 Indicada em 2011 para publicao (eletrnica) na Srie Produo Acadmica Premiada da FFLCH/USP; atualmente o mesmo investiga redes ligadas formao de jogadores de futebol (doutorado).45 Em andamento, pode-se mencionar pesquisas sobre o contexto paulistano a de Guilhermo A. Aderaldo, a respeito das redes envolvidas na produo audiovisual sobre periferia (doutorado), a de Giancarlo M. C. Machado, sobre interaes entre skatistas em diversas situaes urbanas (mestrado), a de Bianca B. Chizzolini, sobre redes de relaes entre moradores, comerciantes e proprietrios do Centro (mestrado) , alm de investigaes no Rio de Janeiro a de Juliana B. Cunha, sobre processos de interveno no complexo Pavo-Pavozinho-Cantagalo (doutorado), a de Natlia H. Fazzioni, a respeito de territorialidades do bairro da Lapa (mestrado), a de May M. Correia, sobre conflitos ligados a intervenes na regio porturia (mestrado) , em Fortaleza de Marina R. de O. Saraiva, sobre experincias citadinas de crianas (doutorado) e na aldeia portuguesa de Vilas Boas de Weslei E. Rodrigues, sobre processos de emigrao e retorno (mestrado).46 Apenas nesse caso fui o nico coordenador.

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 32

  • Sociologia da FCL/UNESP/Araraquara47. Com base em nossas distintas trajetrias

    intelectuais, procuramos explorar determinadas polaridades presentes em vrios estudos

    voltados interpretao do contexto urbano, tais como rural e urbano, comunidade e

    sociedade, pblico e privado, tradicional e moderno, casa e rua, entre outras, buscando

    avaliar a vitalidade e escopo desses e de outros possveis recortes ou tipologias

    analticas.

    Posteriormente isso se materializou num frum de pesquisa, por ns coordenado

    na 23 Reunio Brasileira de Antropologia da ABA (Gramado, 2002) Cidades,

    representaes e experincia social cujas sesses denominavam-se respectivamente

    as cidades (em que as mesmas aparecem como o tema geral da reflexo), nas

    cidades (onde so sobretudo cenrio de experincias variadas) e sobre as cidades (em

    que so tomadas como matria de discursos e representaes). Os dilogos

    estabelecidos a partir dessas perspectivas foram positivos, reafirmando-se a vitalidade

    dos estudos urbanos na rea da antropologia, desde que atentos a uma reflexo crtica e

    consequente sobre impasses e desafios.

    ***

    47 Nessa poca ramos colegas na UNESP, e hoje Fernanda tambm professora do Departamento de Antropologia da USP.

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 33

  • Heitor Frgoli Jr. Foto de 02 dezembro 2010. II Colquio Individualismo, Sociabilidade e Memria. Acervo BIEV PPGAS IFCH UFRGS.

    ***

    Tal experincia foi retomada na RBA seguinte (Olinda, 2004), em parceria com

    Luciana Teixeira de Andrade, no frum As mltiplas faces da cidade do urbano, cuja

    densidade obtida levou-nos a produzir a coletnea As cidades e seus agentes: prticas e

    representaes (Frgoli Jr; Andrade; Peixoto, 2006), reunindo (de forma panormica,

    mas articulada) trabalhos apresentados nos fruns de 2002 e 2004, alinhavados em trs

    partes: intervenes urbanas e patrimnio; imaginrio, histria e memria; segregao

    espacial e dinmicas culturais48.

    O desafio seguinte foi a articulao de um grupo de trabalho na ANPOCS (2007-

    2009), em parceria com Laura Graziela Gomes A cidade nas cincias sociais: teoria,

    pesquisa e contexto 49 com o apoio de vrios daqueles que haviam participado da 48 Houve ainda um desdobramento dessa experincia na RBA seguinte (Goinia, 2006), com um GT coordenado por Fraya Frehse e Rogrio Proena Leite.49 Ocorrido entre 2008 e 2009, e antecedido pelo ST Cidades; perspectivas e interlocues nas cincias sociais (2007).

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  • experincia anteriormente mencionada. Apesar de passarmos de um campo

    predominantemente antropolgico (RBA) para um campo mais voltado a interlocues

    nas cincias sociais (ANPOCS), procuramos definir eixos mais precisos, voltados

    prioritariamente a reflexes sobre a prtica etnogrfica urbana (e sua influncia

    principalmente nas abordagens da antropologia e sociologia urbanas), alm da busca,

    simultnea, da compreenso de fenmenos significativos em curso nas cidades e da

    explicitao das perspectivas de anlise sobre o urbano. Tal experincia resultou no

    dossi Cidade, teoria, etnografia (Frgoli Jr; Gomes, 2010), com a divulgao de

    trabalhos expressivos, bem como na sua consolidao e continuidade na ANPOCS50.

    Penso com isso ter contribudo na consolidao desse campo de estudos,

    sobretudo na rea de antropologia, cujos desdobramentos diretamente ligados a tais

    experincias ou j articulados por outras composies considero bastante promissores.

    As pesquisas mais recentes e ainda em andamento, que envolvem outros

    contextos em So Paulo e uma frente de investigao em Lisboa51 com um novo arco

    de relaes acadmicas e uma srie de desafios instigantes ficaro para outro artigo,

    at porque ainda exigem uma reflexo mais detalhada e aprofundada quanto aos

    achados e constataes. A nica exceo fica para a meno, quase ao final desse texto,

    minha participao, na reviso conceitual 52 e na co-escrita (Cordeiro; Frgoli Jr.,

    2011) do prefcio edio brasileira do livro Antropologia da cidade (Agier, 2011),

    traduzido pela antroploga portuguesa Graa ndias Cordeiro, com quem j tivera a

    oportunidade de coordenar, em parceira, o painel temtico A cidade e o urbano em

    questo: contextos, interseces, dilogos (Lisboa, 2009, IV Congresso da Associao

    Portuguesa de Antropologia)53. Por ocasio do lanamento desse livro em Lisboa

    (2011), Graa e eu co-organizamos um debate Antropologia da cidade em lngua

    portuguesa cuja participao do autor e de antroplogos e cientistas sociais

    portugueses e brasileiros permitiu um dilogo profcuo.

    Ao final do relato dessa trajetria, marcada por vrias tentativas de

    desvelamento da cidade a partir de pesquisas, situadas em certo trnsito disciplinar (hoje

    50 Em ST e GT em andamento, sob a coordenao de Cristina Patriota de Moura e Mariana Cavalcanti.51 A partir de 2006, ano de meu ingresso na Rede Brasil-Portugal de Estudos Urbanos.52 Em parceria com Jos Guilherme Magnani.53 Em 2005, tinha tido minha primeira experincia internacional, na coordenao (em parceria com a antroploga argentina Mnica Lacarrieu) do simpsio Ciudad y ciudades: nuevas estrategias de lugares entre polticas de la cultura, polticas sociales y procesos de apropiacin socio-cultural en las urbes latinoamericanas (Rosrio, 2005, Asociacin Latinoamericana de Antropologa).

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 35

  • bem mais difcil de ser realizado) que culminou numa opo claramente antropolgica

    (mesmo quando da incurso pela sociologia, a cidade continuou a ser alvo de um

    enfoque privilegiado), possvel assinalar breves aspectos transversais sem buscar

    esgot-los.

    Uma primeira observao diz respeito aos vrios significados atribudos cidade

    de So Paulo ao longo da minha prpria trajetria de vida, tendo nascido e vivido na

    mesma, mas posteriormente mudado dali, o que fez com que meu retorno adviesse

    basicamente de dois projetos, em momentos (e com alcances) distintos, porm ambos

    ligados universidade: o primeiro como estudante de cincias sociais, o segundo j

    como professor (ambos na USP). Tais afastamentos e aproximaes de certa forma

    auxiliaram-me a aprender a olhar (e assim apreender) tal cidade (e suas mltiplas

    espacialidades) sob ticas diferenciadas (de longe, de perto, de dentro...), e com

    isso, atentar bastante s representaes a respeito acionadas pelos sujeitos e

    interlocutores pesquisados, embora nesses casos a responsabilidade para evitar um vis

    etnocntrico seja ainda maior.

    De toda forma, tambm tem sido possvel vivenciar experincias de pesquisa (ou

    mesmo pessoais) em contextos marcados por maior estranhamento por mais que essa

    categoria suscite tantas relativizaes , o que espero ter ficado claro medida que

    alinhavei abordagens de longo prazo com outras de menor escopo e enfoque mais

    concentrado54.

    ***

    54 Uma experincia etnogrfica de mais longo prazo, recentemente passada em Lisboa, abre um novo campo de reflexes, mas que ficaro, como j dito, para outros escritos.

    Iluminuras, Porto Alegre, v.12, n. 28, p. 18-40, jul./dez. 2011 36

  • Heitor Frgoli Jr. Foto de 02 dezembro 2010. II Colquio Individualismo, Sociabilidade e Memria. Acervo BIEV PPGAS IFCH UFRGS.

    ***

    Tudo o que foi tratado aqui denota uma trajetria voltada a uma antropologia da

    cidade, em que a mesma: objeto privilegiado de reflexo, e no apenas pano de fundo

    de experincias; envolve uma problematizao constante das especificidades das redes

    de relaes criadas em tais contextos nas quais o conceito de sociabilidade e suas

    derivaes tm importante papel; possui como tema transversal a articulao dos atores

    sociais com o espao e os equipamentos urbanos; exige uma ateno especial ao modo

    como se apreende a alteridade nos jogos entre familiaridade e estranhamento, at

    home (em casa), de ns mesmos, alteridade prxima etc 55.

    A etnografia tem sido, dessa forma, uma referncia fundamental cujas sendas

    pretendo continuar explorando e at quando possvel, como etngrafo dentro da

    busca incessante dos significados da cidade e do urbano na antropologia.

    55 Ver a respeito Velho (1978), Durham (2004 [1986]), Magnani (2002), Peirano (2006: 37-67), Frgoli Jr. (2007).

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  • Referncias

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    Recebido em: 18/12/2010Aprovado em: 25/03/2011

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    Esboos de uma trajetria: cidade, pesquisa, universidade 1