Esboço de um Sistema de Filosofia - · PDF filedos filósofos” 3, que se...

download Esboço de um Sistema de Filosofia - · PDF filedos filósofos” 3, que se encontra no livro (inédito) A Dialética Simbólica. [3] Meu curso História Essencial da Filosofia foi

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    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permisso expressa do autor.

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    Esboo de um Sistema de Filosofia por OLAVO DE CARVALHO

    ndice temtico e Guia bibliogrfico

    ESBOO DE UM SISTEMA DE FILOSOFIA1

    ESCREVO este ndice em inteno de meus alunos que busquem, na variedade dos temas que abordo nas minhas aulas, um fundo comum, a chave da unidade ntima que as inspira. Escrevo-o tambm para um ou outro leitor que, sem ter freqentado minhas aulas, tenha um sincero interesse em saber do que nelas se fala.

    Toda filosofia, querendo ou no, ao mesmo tempo sistmica e aportica. Inspira-se, de um lado, na busca da unidade. Respeita, de outro, a heterogeneidade dos problemas e a variedade das ocasies. Por temperamento, sou um pouco refratrio apresentao sistemtica e acadmica de meus pensamentos, preferindo a forma ensastica. No entanto, isso no quer dizer que no haja, na minha obra, um fundo sistemtico bastante coeso em torno de um ncleo de princpios bastante evidentes, cuja variada aplicao exemplifico na abordagem de mil e um problemas sugeridos pelas circunstncias. Uma exposio sistmica deveria orientar-se mais ou menos pelas linhas que aqui apresento. No sei se tal exposio seria coisa desejvel ou oportuna, e por isto a apresento somente sob a forma condensada deste Esboo.

    I. DIVISO EM TEMAS 1. Conscincia e individualismo (Partes I-II). 2. Conhecimento e intuicionismo (Partes III-V). 3. Smbolo e unidade. (Parte VI). 4. Verdade conhecida verdade obedecida (VII-XII).

    II. DIVISO EM PARTES 1. A crtica da cultura. 2. O primado da conscincia individual. 3. Que conhecimento? O primado da memria. 4. Psicologia do conhecimento. As faculdades cognitivas. 5. A tripla intuio. Intuicionismo radical.

    1 As partes sublinhadas trazem as indicaes de fontes.

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    6. Simbolismo e crculo de latncia. Unidade da conscincia e unidade metafsica. Ser e conhecer.

    7. Filosofia da cultura: da intuio ao discurso e vice-versa. Teoria dos quatro discursos.

    8. Filosofia da filosofia. Histria e essncia da filosofia. 9. Filosofia da educao: a individualidade orgnica como portadora da cultura. 10.tica e responsabilidade. 11.Filosofia da ao e Filosofia poltica. 12.O sentido da vida e a tarefa do homem. Filosofia da religio.

    III. DIVISO EM CAPTULOS [PARTE I] [Captulo 1] Em primeiro lugar, a motivao e a justificao. Ortega y Gasset dizia com razo que em filosofia, mais do que em qualquer outra atividade, se trata sobretudo de evitar a gratuidade. Tudo, na atividade dos grandes filsofos ao longo dos tempos, reflete uma espcie de instinto da responsabilidade intelectual. Logo, uma filosofia no se contenta apenas com a sua coerncia intrnseca, mas busca tambm e principalmente as razes e as justificativas de sua prpria existncia. Por isto mesmo, toda filosofia comea com algo que se poderia denominar, de maneira muito vaga e genrica, a crtica da cultura. Portanto, no caso desta minha filosofia, tambm deveramos comear com um panorama de crtica cultural. Uma boa parte da crtica cultural que eu teria a apresentar se encontra nos meus livros O Jardim das Aflies, O Imbecil Coletivo, A Nova Era e a Revoluo Cultural e O Futuro do Pensamento Brasileiro e no indito A Dialtica Simblica [2] Mas dentro dessa crtica da cultura adquire uma importncia especial a crtica do estado atual da filosofia. Aqui seria importante enxertar minha aula do Seminrio de Filosofia em que comentei a Introduo de Wolfgang Stegmller ao seu livro A Filosofia Contempornea2. Nesse texto, Stegmller vai mostrando a progressiva perda no s da unidade do campo filosfico, mas tambm da possibilidade mesma de comunicao ou comparao entre as vrias atividades que continuam se denominando, com ou sem razo, filosofia. Alm dos meus comentrios s observaes de Stegmller, seria importante enxertar aqui algo do texto A decadncia moral dos filsofos3, que se encontra no livro (indito) A Dialtica Simblica. [3] Meu curso Histria Essencial da Filosofia foi feito, em parte, para atender a uma sugesto encontrada em Stegmller:

    A equivocidade da palavra filosofia s poderia ser reduzida se correntes filosficas inteiras morressem definitivamente... ou, ento, caso se decidisse no mais denominar filosofia todas essas coisas heterogneas..., mas reservar a palavra para uma atividade de algum modo rigorosamente definida.4

    Desse meu curso e de outros escritos, como o indito Sobre a essncia da filosofia, extrai-se um determinado conceito de filosofia que atende a tal requisito. Este conceito est esclarecido com mais detalhe nas aulas em que exponho os tipos de unificao do saber e fao a distino entre a filosofia e os outros tipos fundando-me no fato de que a unificao propriamente filosfica toma como centro e meta a conscincia individual, enquanto os outros so formas de organizao social do conhecimento. Enquanto as outras formas de

    2 Wolfgang Stegmller, A Filosofia Contempornea. Introduo Crtica, trad. Adaury Fiorotti et al., So Paulo, EPU/Edusp, 1977, vol. I, pp. 10-14. No lembro a data em que fiz esses comentrios. Ser preciso perguntar aos alunos do Rio de Janeiro, especialmente Luiz Afonso e Fernando Manso, que mantm mais ou menos o controle dessas coisas. 3 Em algumas verses intitulado A expropriao da conscincia na filosofia acadmica. 4 Loc. cit.

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    unificao do conhecimento atendem a finalidades sociais, a filosofia, tal como a concebo, nasce de uma necessidade biolgica, a partir do momento em que essa necessidade reprimida pelo acmulo da massa de conhecimento registrado pela sociedade5. [4] Mas, ainda dentro dessa crtica cultural, importante a segunda parte da minha conferncia A globalizao da ignorncia, isto , Ascenso e queda da conscincia humana (em O Futuro do Pensamento Brasileiro). Minha crtica da cultura, que inclui a crtica do estado presente da filosofia, associa a fragmentao da filosofia represso da conscincia individual. E como defino a filosofia como atividade unificante centrada na conscincia individual, entende-se que essa crtica da cultura tem como resultado o novo con-ceito de filosofia e este tambm responde e se ope ao estado presente da cultura e da filo-sofia. Os captulos de 1 a 4 expressam ento os motivos que justificam a nova filosofia e, ao mesmo tempo, o conceito de filosofia inspirado nesses motivos. Essa nova filosofia toma, por isso mesmo, desde logo, o sentido de uma oposio for-mal a todas as correntes de pensamento que levam ao estado de coisas descrito na minha crtica da cultura. Vrios textos meus expem as minhas crticas aos principais filsofos dos tempos modernos. [5] Crtica ao matematismo moderno: O Jardim das Aflies, 19-2 Crtica a Descar-tes: Descartes e a psicologia da dvida (em A Dialtica Simblica). Crtica a Kant: Kant e o primado do problema crtico (id.). Crtica a Hegel e Marx: O Jardim das Aflies, 16-17, 21-2 Crtica ao pragmatismo: Rorty e os animais e Nota sobre Charles S. Peirce, em O Imbecil Coletivo. Crtica a Wittgenstein: Introduo a Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razo, Crtica do neoceticismo: aula gravada do Seminrio (creio que maio de 1997). Algumas dessas crticas so completas; outras, incompletas. Falta tambm abordar ou-tros pensadores, como Nietzsche e Foucault, nos quais s toquei de passagem, muitas vezes, em vrias aulas, sendo muito difcil, mas no impossvel, reunir as vrias referncias. Em todo caso, isto no essencial. [PARTE II] [6] Por emergir de onde emerge e comear de onde comea, minha filosofia toma desde logo o sentido de uma restaurao da filosofia da conscincia. Mas em bases muito diferentes daquelas que foram tentadas at agora. Quando se fala de filosofia da conscincia pensa-se sempre no tipo de abordagem inaugurado por Descartes com a descoberta do cogito: o eu pensante que se descobre a si mesmo como fundamento de todo conhecimento, independentemente de qualquer apoio no mundo exterior. Em parte, mas s em parte, as diferenas entre minha abordagem e a cartesiana esto expostas em Descartes e a psicologia da Dvida, j citado. A filosofia da conscincia, tal como a entendo, jamais poderia partir da simples anlise de um momento atomstico e de uma conscincia abstrata, como o faz Descartes (seguido nisto, de perto, por Husserl), mas teria de partir de uma descrio da conscincia real e concreta de um ser humano existente, com todas as suas implicaes. A primeira destas de ordem moral. A descoberta da conscincia est intrinsecamente ligada, na experincia real humana, descoberta e aceitao (livre) do sujeito como nico autor de seus atos. Demonstrei, naquele texto, que a descoberta do cogito subentendia a continuidade autoral do eu e no era, portanto, um fundamento primeiro, mas coisa fundada e derivada. No curso de tica, enfatizei o fundamento moral do eu, a raiz da conscincia cognitiva no princpio de autoria e responsabilidade. A conscincia surge primeiro sob seu aspecto moral e s depois como conscincia cognitiva. A conscincia reflexiva nasce da descoberta da liberdade moral. Ora, a liberdade moral s faz sentido em face da existncia de outros seres moralmente livres; logo, a descoberta da conscincia por si me