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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
CAP INT VÍTOR CARVALHO MIYASHIRO
AS SOLUÇÕES LOGÍSTICAS DA FEB NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:A ATUAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO NO TEATRO DE OPERAÇÕES DA ITÁLIA.
Rio de Janeiro2018
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
CAP INT VÍTOR CARVALHO MIYASHIRO
AS SOLUÇÕES LOGÍSTICAS DA FEB NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:A ATUAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO NO TEATRO DE OPERAÇÕES DA ITÁLIA.
Rio de Janeiro2018
MINISTÉRIO DA DEFESAEXÉRCITO BRASILEIRODECEx - DESMil
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS(EsAO/1919)
ASSESSORIA DE PESQUISA E DOUTRINA / SEÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autor: Cap Int VÍTOR CARVALHO MIYASHIRO
Título: AS SOLUÇÕES LOGÍSTICAS DA FEB NA SEGUNDA GUERRAMUNDIAL: A ATUAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO NO TEATRO DEOPERAÇÕES DA ITÁLIA.
Trabalho Acadêmico, apresentado à Escolade Aperfeiçoamento de Oficiais, comorequisito parcial para a obtenção daespecialização em Ciências Militares, comênfase em História Militar, pós-graduaçãouniversitária lato sensu.
APROVADO EM ___________/__________/__________ CONCEITO: _______
BANCA EXAMINADORA
Membro Menção Atribuída
____________________________________GÉRSON BASTOS DE OLIVERIA - Ten Cel
Cmt Curso e Presidente da Comissão
____________________________________JOÃO CARLOS MAIA DE ANDRADE - Cap
1º Membro e Orientador
_____________________________LEONARDO SILVA LIMA - Cap
2º Membro
___________________________________VÍTOR CARVALHO MIYASHIRO – Cap
Aluno
AS SOLUÇÕES LOGÍSTICAS DA FEB NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:A ATUAÇÃO DO APOIO LOGÍSTICO NO TEATRO DE OPERAÇÕES DA ITÁLIA
Vítor Carvalho Miyashiro*
João Carlos Maia de Andrade**
RESUMOO presente trabalho trata sobre as soluções logísticas implementadas pelo ExércitoBrasileiro desde o período de mobilização para a Segunda Guerra Mundial até aatuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no Teatro de Operações da Itália.Foi realizada pesquisa bibliográfica em diversas fontes, utilizando trabalhosanteriores realizados por outros pesquisadores e obras publicadas de militares queocupavam postos de chefia no organograma da FEB. Os assuntos foram separados,basicamente, pelos principais aspectos de mobilização, pela citação da estrutura efuncionamento e pelas principais funções logísticas, acompanhados da análise ediscussão dos aspectos mais relevantes. Foi verificada a insuficiência depraticamente todos os meios necessários para o ingresso na Guerra, entretanto, osproblemas foram todos resolvidos ou contornados e, mesmo diante dasprobabilidades mais baixas, houve êxito no objetivo traçado e consequências para oExército Brasileiro e seu Serviço de Intendência.
Palavras-chave: Logística Militar, 2ª Guerra Mundial, Força ExpedicionáriaBrasileira, Serviço de Intendência, Teatro de Operações da Itália.
ABSTRACTThe present work deals with the logistic solutions implemented by the Brazilian Armyfrom the period of mobilization for the Second World War until the performance of theBrazilian Expeditionary Force (FEB) in the Theater of Operations of Italy.Bibliographic research was carried out in several sources, using previous workscarried out by other researchers and published works of military personnel whooccupied positions of leadership in the organizational chart of the FEB. The subjectswere separated, basically, by the main aspects of mobilization, by the citation of thestructure and operation and by the main logistic functions, accompanied by theanalysis and discussion of the most relevant aspects. It was verified the insufficiencyof practically all the necessary means for entering the War, however, the problemswere all solved or circumvented, and even in the lower probabilities, there wassuccess in the objective outlined and consequences for the Brazilian Army and itsIntendance Service.
Keywords: Military Logistics, World War II, Brazilian Expeditionary Force,Intendance, Theater of Operations of Italy.
* Capitão do Serviço de Intendência. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar dasAgulhas Negras (AMAN) em 2008.** Capitão do Serviço de Intendência. Pós Graduado em Ciências Militares pela Academia Militar dasAgulhas Negras (AMAN) em 2017.
1
1 INTRODUÇÃO
Nas diversas operações militares de guerra vistas na História, a Logística
sempre foi percebida como um fator preponderante para os resultados obtidos no
campo de batalha. Casos clássicos de insuficiência de meios logísticos, como nas
invasões à Rússia, por Napoleão no século XVII e por Hitler na Segunda Guerra
Mundial, e de aplicação eficaz como na Guerra do Golfo, de modo geral, durante a
década de noventa do século passado, confirmam essa preponderância.
Ao verificar-se a atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no
contexto da Segunda Guerra mundial, pode-se perceber a velocidade da
transformação do Apoio Logístico do Exército Brasileiro. Um Exército que possuíam
como características o transporte (em boa parte) hipomóvel, a doutrina francesa e o
armamento europeu teve que rapidamente adaptar-se ao transporte, de pesos e
volumes jamais vistos antes, de forma motorizada e à doutrina e equipamentos
norte-americanos.
As Forças Armadas estavam desaparelhadas e despreparadas para umaguerra daquela envergadura. O Exército contava com um efetivoaproximado de 60 mil homens. Sua organização, instrução e doutrina deemprego obedeciam, rigorosamente, aos regulamentos franceses. Osarmamentos e equipamentos, na sua maioria, eram de procedênciaestrangeira, antiquados e em número insuficiente para atender às novasexigências. Rosty, Cláudio (2016, Revista verde-oliva – ano XLIII Nr 232, p66)
A crise instaurada pela 2ª Guerra Mundial por certo contribuiu para a evolução
do Exército Brasileiro em todas as vertentes, dos seus elementos de manobra, dos
elementos de apoio ao combate e, em especial, dos elementos de apoio logístico.
A participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial
demonstrou o distanciamento que havia entre a doutrina, o preparo e os meios
existentes no Exército Brasileiro no início da década de 40 do século passado e as
necessidades do combate evidenciadas nesta época. Em contrapartida, os
resultados obtidos pela FEB no teatro de operações da Itália foram notoriamente
exitosos.
No sentido de orientar a pesquisa para se verificar a relação entre as
condições que foram impostas à FEB e os resultados obtidos, foi formulado o
seguinte problema:
Quais soluções logísticas foram adotadas para atender às necessidades
demandadas pela FEB no teatro de operações da Itália?
2
A fim de analisar o desenvolvimento do Apoio Logístico do Exército Brasileiro
durante a Segunda Guerra Mundial, o presente estudo pretende analisar as
soluções logísticas que favoreceram o êxito da Força Expedicionária Brasileira no
Teatro de Operações da Itália.
Para viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram formulados os
objetivos específicos, abaixo relacionados, que permitiram o encadeamento lógico
do raciocínio descritivo apresentado nesta pesquisa:
a) Identificar as principais deficiências existentes nos serviços de Apoio
Logístico do Exército Brasileiro no período que antecedeu a ida da FEB à Segunda
Guerra Mundial;
b) Identificar as principais dificuldades encontradas no Teatro de Operações
da Itália para o Apoio Logístico da FEB durante a Segunda Guerra Mundial;
c) Identificar e analisar as condutas adotadas para solucionar os desafios
logísticos impostos no Teatro de Operações da Itália para a FEB durante a Segunda
Guerra Mundial;
d) Citar os diversos ganhos obtidos para os quadros de Apoio Logístico do
Exército Brasileiro após a Segunda Guerra Mundial.
O presente estudo se justifica por promover uma análise da situação logística
da Força Expedicionária Brasileira no contexto da Segunda Guerra Mundial; verificar
sua estrutura, funcionamento, principais dificuldades encontradas, providências que
favoreceram o êxito e incrementações que se procederam no pós-guerra.
Este trabalho pretende, também, contribuir como registro para que exista uma
medida de comparação para fins doutrinários, além de servir de subsídio para
orientação de futuros pesquisadores do assunto.
2 DESENVOLVIMENTO
Para realização da presente pesquisa foi utilizada primordialmente como
metodologia a pesquisa bibliográfica, tendo em vista o tema histórico a ser tratado.
Para isso, foi realizado um levantamento de diversas obras e conteúdos sobre
o assunto, como livros, artigos divulgados em revistas e meios eletrônicos e outros
trabalhos acadêmicos sobre o tema da logística da FEB durante a Segunda Guerra
Mundial.
Os principais autores pesquisados, dos quais as obras serviram de base para
este estudo, foram o Coronel Fernando L. Biosca, chefe do Serviço de Intendência
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da FEB, e o General Agnaldo José Senna Campos, chefe da Seção Logística da
FEB. Do primeiro ressalta-se “A Intendência no Teatro de Operações da Itália”, do
segundo “Logística para Invasão” e “Com a FEB na Itália”.
A presente pesquisa limitar-se-á a tratar apenas de aspectos logísticos da
Força Expedicionária Brasileira para atuação no Teatro de Operações da Itália
durante a Segunda Guerra Mundial, ressaltando as atividades de preparo e emprego
e lições aprendidas decorrentes de tal atuação.
Os critérios de inclusão foram as informações encontradas por meio de obras
e trabalhos que relatavam os aspectos referentes ao apoio logístico envolvendo a
mobilização a a atuação da FEB nos campos da Itália no contexto da Segunda
Guerra Mundial.
Os critérios de exclusão foram os fatos da Segunda Guerra vivenciados pela
FEB que tiveram menor relevância para o apoio logístico, como a manobra de nível
tático.
Foram tratados de assuntos referentes à estrutura e funcionamento do
Serviço de Intendência e às funções logísticas pessoal, suprimento, transporte,
manutenção e saúde, principalmente, além informações diversas que foram julgadas
importantes como complementação do tema.
Foram utilizadas as palavras-chave logística, FEB, Força Expedicionária
Brasileira, Segunda Guerra Mundial, Serviço de Intendência na base de dados
RedeBIE, em sítios eletrônicos de procura na internet, biblioteca de monografias da
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército (ECEME), sendo selecionados apenas os artigos considerados
mais importantes, além da coleta de títulos de obras de relevância sobre o assunto.
O sistema de busca foi complementado pela coleta manual de revistas militares do
Exército Brasileiro e pesquisa na biblioteca da EsAO.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo, serão apresentados os resultados encontrados na pesquisa
bibliográfica, por se tratar de um tema histórico. Os assuntos serão separados,
basicamente, pelos principais aspectos de mobilização e pelas funções logísticas,
acompanhados da análise e discussão dos aspectos mais relevantes.
3.1 Aspectos de mobilização
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Com o início da Guerra, as autoridades brasileiras sentiram a necessidade de
iniciar a mobilização de suas Forças Armadas, vislumbrando uma possível
participação no conflito.
Dentre as principais dificuldades verificadas, destacam-se a necessidade de
aumento de efetivos, a alta porcentagem de incapazes durante o recrutamento, o
baixo nível intelectual da população recrutável, os níveis de instrução ainda
incompatíveis com a missão e a insuficiência de meios materiais.
Em 1939, o efetivo do Exército Brasileiro era de aproximadamente 60.000
homens, situação que estava muito distante dos números demandados no contexto
de uma grande guerra. Neste momento, o principal objetivo era a defesa do
território. Com a declaração de guerra aos países do Eixo em agosto de 1942 e o
acordo de envio de tropas para compor o exército aliado, a necessidade do aumento
do efetivo se tornou ainda mais urgente.
Assim, o efetivo global do Exército passou da cifra de 95.000 homens emagosto de 1942 para 165.000 homens em dezembro de 1943. Esse efetivofoi atingido com a retenção dos conscritos de 1941, 1942 e 1943,convocando-se reservistas com idades entre 21 e 30 anos de 1ª, 2ª e 3ªcategorias, e ainda com os voluntários apresentados, cujo número, apesardos muitos apelos publicitários, foi insignificante e inexpressivo. Conceição,Lauro (1995, v. 1, p 37)
Como percebe-se nesta citação, a retenção de conscritos colaborou para o
aumento dos efetivos. Além disso, foram tomadas outras medidas, como a criação
de cursos de especialização, de Estado-Maior, emergência para as áreas da saúde
e formação de oficiais da reserva; aproveitamento de oficiais da reserva em funções
burocráticas; restrição de aproveitamento de oficiais da ativa em funções civis;
grande convocação de reservistas e promoção de subalternos em capitães, para
desempenhar funções especializadas e comando de companhias, e de 1° e 2°
sargentos em 2° tenentes, para o comando dos pelotões.
Em relação à seleção, além do problema quantitativo, existia também o
qualitativo. O nível populacional brasileiro da época encontrava-se abaixo do
necessário para o cumprimento da missão, tanto nas questões de saúde física e
mental quanto no grau de escolaridade, existindo um grande número de analfabetos.
Uma das características da mobilização brasileira foi a utilização, na faseinicial, de um padrão muito elevado nos critérios de seleção, o queacarretou um grande índice de incapazes, principalmente por motivosligados a área de saúde, com destaque para os problemas dentários epsicológicos. Como consequência desse alto índice de incapazes, ascomissões de seleção 202 passaram a permitir que indivíduos, que na faseinicial não poderiam ser aprovados, fossem dados como capazes para o
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serviço militar, o que se mostrou, na Itália, como um erro, pois ocorreramdiversos problemas decorrentes desse abrandamento na seleção dossoldados. (...) Outro problema de grande destaque foi a presença decentenas de analfabetos incorporados que, por motivos óbvios,prejudicaram o bom desempenho da tropa brasileira, principalmente no quese refere à utilização dos materiais e equipamentos norte-americanos. Faria,Durland (2017, v. 1, p 56)
Tal realidade era impossível de ser modificada. Outra situação negativa era a
condição na qual se encontrava a instrução militar e doutrina de guerra das nossas
forças ainda amparada na doutrina implementada pela Missão Militar Francesa que
atuara até a década de 20. A fim de procurar reduzir as adversidades da seleção e
alinhar as tropas brasileiras às tropas norte-americanas para o combate, foram
adotadas as seguintes medidas: ida de oficiais aos Estados Unidos para frequentar
cursos e realizarem estágios em campos de instrução e corpos de tropa norte-
americanos, com objetivo de conhecer-lhes os modernos armamentos e processos
de combate; instalação e funcionamento do Centro de Instrução Especializada
(CIE), destinado ao preparo e aperfeiçoamento de oficiais e praças para as diversas
especialidades, com a adaptação do Campo de Instrução de Gericinó à realidade da
doutrina americana; realização, no CIE, de diversos cursos, destacando-se os de
motoristas, mecânicos de automóvel, enfermagem, operadores e mecânicos de
rádio, telegrafistas, telefonistas, cozinheiros e muitos outros; e a tradução de
diversos manuais de instrução entre outras medidas. Além disso, houve uma
intensificação do adestramento em relação à instrução individual básica: preparação
física, pista com obstáculos e marchas de 32 Km. Para o adestramento logístico de
transporte, foi dada muita importância para a instrução de embarque e
desembarque, com o objetivo de ganhar a capacidade de executar estas operações
em navios e outras embarcações.
Estagiários brasileiros nos EUAFonte: REVISTA VERDE-OLIVA – Brasília Ano XLIII Nº 232 – junho 2016, pág 68
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Dos aspectos de mobilização, depreende-se que a situação real estava muito
distante da ideal. Ao se deparar com o iminente combate contra o temido Exército
Alemão, a tropa brasileira contava com grande insuficiência de meios,
especialmente de pessoal, entretanto, por meio de medidas de ampliação de
efetivos e treinamento, levou-se para guerra homens que futuramente mostrariam
que o resultado de tais medidas foi positivo e contribuiu para o êxito da FEB.
3.2 ESTRUTURAS LOGÍSTICAS DA FEB
A atividade logística acompanhou o combate em todos os níveis. Os
regimentos e companhias possuíam suas próprias estruturas logísticas que
forneciam o apoio mais imediato e cerrado. Em relação ao apoio ao conjunto da
FEB, foram destacados como estruturas logísticas principais a 4ª Seção do Estado-
Maior Geral, o Serviço de Intendência, o Serviço de Material Bélico e Serviço de
Saúde.
Organização da 4ª Seção do Estado-Maior da FEBFonte: Com a FEB na Itália – GENERAL SENA CAMPOS – Rio de Janeiro 1970 - Página 26
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A 4ª Seção do Estado-Maior Geral da FEB, nas palavras de seu Chefe à
época, Ten Cel Sena Campos, “tem a seu cargo o Suprimento em geral, as
Evacuações, o Transporte, a Manutenção de homens e de material, supervisionando
as atividades dos Serviços que não estejam ligados à 1ª Seção”. Esta estrutura,
além da supervisão e orientação dos Serviços do campo de batalha, também
mantinha a ligação destes com todas as demais estruturas bem como com os
escalões superiores.
A 4ª Seção é considerada por uns como verdadeiro polvo, porque seustentáculos estão por tôda parte; por outros como Seção “Vira Mundo”e, porum soldado ordenança da Seção, na Itália, como Seção “Quebra Galho”porque todos os assuntos que não encontravam em outra parte, erammandados à 4ª Seção, pois o seu lema era Servir. Campos, Sena (1970,v.1, p 26)
O Serviço de Intendência tinha como principal missão suprir as tropas de
víveres (Classe I), carburantes (Classe III), uniformes e equipamentos militares
(Classes II/IV Int), artigos de uso pessoal e realizava outras atividades de menor
importância. Uma atividade que teve especial destaque foi o sepultamento dos
mortos como será visto mais adiante. Embora atuando de forma modular, conforme
as demandas de cada fase da campanha, o Serviço de Intendência organizou-se,
inicialmente, da seguinte forma:
Chefia
• Seção Administrativa
• Seção de Suprimento
- Seção Classe I e III
- Seção Classe II e IV
Cia de Intendência
• 1 Seção de Comando
• 1 Pelotão de Serviços
- Seção de Víveres
- Seção de Material
- Seção de Combustíveis
• 3 Pelotões de Transporte
• 1 Seção de Manutenção
• 1 Pelotão de Guarda
• 1 Pelotão de Sepultamento (ligação direta com a Chefia do SI)
Ao Serviço de Material Bélico competia realizar o suprimento de material
bélico, inclusive munição. Além disso, era responsável pela manutenção e
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evacuação desse material no âmbito da Divisão.
Tinha a seguinte organização:
Chefia
Companhia de Manutenção
• 1 Seção de Comando
• 1 Pelotão de Suprimentos
• 1 Pelotão de Evacuação e Reparação-Auto
• 1 Pelotão de Reparação de Armamento
O Serviço de Saúde tinha uma atuação extensa que compreendia três
escalões distintos: o da FEB, o da Divisão e o das Unidades. Tinha, basicamente, a
seguinte composição:
Chefia
• Estado-Maior
- Seções Hospitalares (atuação junto aos hospitais norte-americanos)
- Serviço Dentário
- Posto Avançado de Neuro-Psiquiatria
Batalhão de Saúde
• 1 Seção de Saúde
• 1 Companhia de Tratamento (Triagem)
• 3 Companhias de Evacuação
3.3 RECURSOS HUMANOS
Nos aspectos de mobilização foram verificadas as dificuldades acerca do
recrutamento, devido principalmente às características da população brasileira
naquele momento, e da atualização doutrinária e treinamentos, pois, além da
predominância da doutrina francesa e materiais e armamentos europeus havia a
necessidade do preparo e adestramento mínimos para atender à missão de
tamanha complexidade. Outros pontos que tiveram relevância em assuntos de
pessoal foram as atividades de recompletamento, de assistência aos recursos
humanos e de tratamento aos mortos.
Durante os preparativos de mobilização e embarque da FEB para Itália, foi
organizado um Depósito de Pessoal com a finalidade primordial de
recompletamento. Entretanto, por ocasião do embarque do 1º Escalão da FEB,
houve o entendimento por parte dos americanos que, ao invés de se enviar um
depósito de pessoal, fossem majorados os efetivos das Unidades em 10%. Este
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entendimento prevaleceu e o Depósito de Pessoal forneceu seus efetivos para
majoração das Unidades sendo praticamente desativado. Porém as necessidades
do combate reativaram o Depósito de Pessoal que contou com a seguinte
organização:
- Comandante e Subcomandante;
- Ajudância, Seções de Instrução, de Pessoal, de Administração e de
Transporte;
- Assistência Religiosa;
- Serviço de Saúde;
- Companhia de Comando;
- 4 Batalhões com Comandantes, Subcomandantes, Ajudâncias, Seções
de Transporte e de Aprovisionamento, Destacamento de Comando e 12 Companhias
( 3 em cada batalhão) cada uma a 3 pelotões.
Com um efetivo de cerca de 4.700 homens, apenas pouco mais de 10%
encontrava-se em condições de preparo para ocupar as linhas de frente, como
afirma seu próprio comandante:
Seus três primeiros escalões de embarque, integrantes da 1ª DIE,chegaram à Itália com treinamento incompleto e inadequado, e os doisúltimos partiram do Brasil praticamente sem instrução. A FEB PELO SEUCOMANDANTE, GEN MASCARENHAS DE MORAES.
Diante disso, para completar a instrução dos recém chegados e dos egressos
de hospitais já recuperados, a organização do Depósito de Pessoal sofreu uma
última alteração, evoluindo para um Centro de Treinamento e Recompletamento de
Pessoal, embora mantivesse a denominação original. A atividade de
recompletamento foi fundamental para o êxito nos campos de batalha, pois apesar
das dificuldades encontradas, conseguiu possibilitar a manutenção dos efetivos e
alcançou boas quantidades de retorno das baixas ao combate.
Para o apoio aos recursos humanos não havia uma estrutura formal
integrante da organização das tropas da FEB. Com a intenção de dar o auxílio aos
soldados e a seus familiares, foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), por
orientação da Sra. Darcy Vargas, então primeira-dama. A entidade foi organizada em
muitos municípios brasileiros, tendo por base o trabalho voluntário de senhoras.
Além da atuação junto às famílias, prestando-lhes assistência quanto à alimentação,
vestuário, habitação ou quanto às necessidades médicas, judiciárias ou de qualquer
natureza, houve também a atuação junto à FEB, ainda no Brasil, com a montagem
da "CANTINA DO COMBATENTE", onde o soldado dispunha de lanches, jogos,
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biblioteca e um ambiente propício a sua recreação. Suas atividades incluíam
também a distribuição de peças de agasalhos e materiais de uso geral, obtidos
através de doações. Já na Europa, a LBA criou um serviço de procura de
informações e de postagens, que nutria as famílias no Brasil de notícias de seus
entes queridos e fazia chegar até a frente de combate, pequenos volumes de
presentes e correspondências enviadas do Brasil, contribuindo para elevação moral
dos combatentes.
O Pelotão de Sepultamento foi criado em 4 de julho 1944, já após a partida da
FEB do Brasil, ficando subordinado ao Serviço de Intendência, semelhante ao
Exército Americano, e era composto de 3 Pontos de Coleta, dos quais um,
normalmente, permanecia em período de repouso para posterior rodízio.
...graças ao espírito de iniciativa, aos altos sentimentos de solidariedadehumana, ao patriotismo e mesmo à bravura dos homens do Pelotão deSepultamento, oficiais e soldados, que na tarefa árdua e afanosa de coletar,transportar, autopsiar e inhumar os cadáveres realizou obra notável, dignade melhor apreço nosso. CEL FERNANDO L. BIOSCA – A INTENDÊNCIANO TEATRO DE OPERAÇÕES DA ITÁLIA
Este pelotão tinha as missões básicas de realizar a coleta e reconhecimento
dos corpos, os ritos fúnebres e os sepultamentos, entre outras. Os militares
brasileiros realizavam estágios nos cemitérios e postos norte-americanos para
posterior execução dos serviços. Inicialmente, havia algumas dificuldades como a
burocracia norte-americana, as grandes distâncias entre a coleta e os cemitérios
norte-americanos e a demora para a comunicação oficial.
Cemitério brasileiro em PistóiaA Intendência no Teatro de Operações da Itália – Cel Fernando L. Biosca
Por proposta do Serviço de Intendência foi instalado o Cemitério Militar
Brasileiro, situado em Pistóia. Esta medida reduziu as distâncias e melhorou a
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organização, contribuindo para agilidade do processo. O Cemitério Militar Brasileiro
compreendia quatro quadras para brasileiros e duas para o inimigo. Trabalhavam no
cemitério 16 civis italianos que eram contratados para realizar esse serviço.
3.4 SUPRIMENTO
Desde o período de mobilização, a campanha da FEB já evidenciava grandes
dificuldades em relação ao suprimento. O Estado brasileiro teve a necessidade de
uma intervenção mais acentuada para garantir o abastecimento das Forças Armadas
em seus esforços de guerra regulando comércio, exportações e o consumo, desde
itens industrializados até itens básicos da alimentação.
Em relação ao material bélico destinado à FEB, quase todo ele seria de
origem norte-americana e entregue ao governo brasileiro por conta da Lei de
Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease).
Sobre o material de intendência, em 1943, houve uma visita do Comandante
da FEB ao Teatro de Operações do Mediterrâneo a fim de verificar in loco diversas
situações, entre elas as condições do fardamento das tropas ali presentes. Esta
situação implicou incrementações no Plano de Uniformes da FEB com o objetivo de
nivelar a qualidade e estética do fardamento. Entretanto, a urgência e a fiscalização
ineficaz da confecção fizeram com que boa parte do material produzido no Brasil
fosse rejeitado no campo de combate. Entre os principais problemas apresentados,
destacam-se o encolhimento de peças após lavagem, peças desnecessárias para a
zona de combate, a baixa resistência em geral e ao frio e, até mesmo, similaridade
com os uniformes alemães. As barracas e outros bens móveis apresentaram
condições desfavoráveis semelhantes. A principal saída para contornar tal situação
foi a utilização dos materiais norte-americanos o que ocasionou mais dispêndios
logísticos e financeiros desnecessários.
Assim. Uma série de peças confeccionadas no Brasil foram postas àmargem, substituídas por similares americanas, trazendo, emconsequência, dupla despesa e sobrecarga para os transportes de ida evolta, como foi no caso de 500 pares de sapatos de verniz, que não eram doplano de uniforme da FEB e lá estavam armazenados no Depósito. emLivorno. Com a FEB na Itália – General Senna Campos
A alimentação dos militares, baseada em gêneros americanos, trouxe muita
insatisfação aos brasileiros. Apesar de atender às necessidades nutritivas e às
demandas de operacionalidade e conservação, a alimentação trouxe muita rejeição
em relação ao paladar dos brasileiros, tendo em vista os diversos aspectos culturais
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envolvidos em tal atividade. A grande reclamação por arroz e feijão fez com que
houvesse um esforço para trazer do Brasil tais gêneros, além dos respectivos
temperos, porém, a baixa qualidade das embalagens e a falta de expertise nos
aspectos de transporte e armazenamento contribuíram para perda de quantidades
significativas destes itens.
A alimentação nos moldes brasileiros ficaram em torno de 10% do total e
serviram apenas como reforço moral esporádico. Ademais, o despreparo dos
cozinheiros brasileiros, para confeccionar receitas em inglês e em relação aos
aspectos sanitários, e a higiene inadequada dos pracinhas em geral, o que
ocasionou algumas intoxicações, foram outras dificuldades apresentadas sobre o
aspecto alimentar. Houve um trabalho de conscientização nesse sentido e foram,
também, realizados cursos de cozinheiros para que estes encontrassem um padrão
condizente para a missão.
Higienização dos materiais de alimentação nos moldes americanosFonte: Palestra Cel R1 Durland Puppin de Faria – Seção de História Militar da AMAN
A atividade de suprimento, em razão da própria doutrina que ainda estava em
pleno desenvolvimento e era recém incorporada da norte-americana, acontecia de
maneira modular de acordo com as necessidades das linhas de frente e das
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condições apresentadas sob os aspectos meteorológicos, geográficos, fase das
operações e atividades do inimigo. Assim, logo no início, a atividade de suprimento
ocorria de forma mais centralizada, mas logo teve-se que destacar pontos de
distribuição mais avançados, separando-se, basicamente, pelos P Distr classes I e III
e P Distr II e IV, sob responsabilidade do Serviço de Intendência. As classes V e IX
ficavam a cargo do Serviço de Material Bélico e serão abordados junto a função
logística Manutenção. As demais classes tinham demandas mais esporádicas.
Dispositivo do ponto de distribuição (vê-se civis italianos trabalhando na distribuição)Fonte: A INTENDÊNCIA NO TEATRO DE OPERAÇÕES DA ITÁLIA - CEL FERNANDO L. BIOSCA
No ponto de distribuição, os suprimentos classe I eram organizados
basicamente de duas formas: ou por diferentes víveres, de acordo com os cardápios
previstos por Unidade ou lotes de apenas uma espécie de víveres, para que a
Unidade carregasse sua respectiva quantidade em cada lote. O comboio que
chegava ao ponto de distribuição não descarregava, dispondo os caminhões em
fileiras com a frente voltada para o mesmo lado para que as Unidades pudessem
passar e recolhendo seus suprimentos. O suprimento classe III era realizado por
trocas diretas de camburões vazios por camburões cheios, o que dava agilidade e
praticidade ao processo.
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3.5 TRANSPORTE
Os transportes de pessoal e suprimento foram um dos maiores desafios
enfrentados pela logística brasileira no contexto da FEB. A quantidade limitada de
meios, a insipiente rede de estradas, sua característica sinuosa e relevo
montanhoso, as más condições climáticas e a situação dos motoristas, inexperientes
e exaustos, foram apenas alguns dos obstáculos a serem ultrapassados para se
garantir o êxito nas missões.
Das cerca de 1.400 viaturas existentes para a FEB, apenas 48 estavam à
disposição dos pelotões de transporte da Cia de Intendência, sendo que a maioria
das viaturas permaneciam nas Unidades para prover a mobilidade tática e logística
interna. Esta circunstância gerava a necessidade da ação ininterrupta, o que era
prejudicial para questões de manutenção das viaturas e descanso dos motoristas.
A rede de estradas era limitadíssima e contava como estrada principal a
Estrada Nr 64, na fase defensiva, e a Via Emilia, na fase ofensiva, basicamente, o
que ocasionava o transito intenso, causando até mesmo paralisações do fluxo. A
ação policial e a disciplina das tropas tiveram que ser aumentadas para assegurar o
fluxo e a segurança. Ademais, as condições climáticas, que apresentavam uma
estação chuvosa, seguida do inverno com neve (que, por vezes chegavam a 70 cm)
e posterior degelo, aliadas as características montanhosas do relevo, que trariam
estradas a beira de precipícios, e a constante necessidade de disciplina de luzes
exigiram dos militares encarregados dos transportes um grande esforço e superação
para que fosse mantido o apoio necessário dos transportes. Era uma atividade de
alto risco, que deixou alguns mortos e feridos em sua consecução.
Os transportes constituíram assunto palpitante de cada dia. As distâncias, aimprudência de alguns motoristas, os prazos curtos para o deslocamento dopessoal e material, a falta de manutenção de 1° e 2° escalões, o estado dasestradas, a neve, a ação inimiga, a chuva, a lama, o terreno, etc., foram osgrandes fatores que incidiram sobre os transportes. Com a FEB na Itália –General Senna Campos
O espírito de desprendimento e coragem e a adaptabilidade dos motoristas
aliada a flexibilidade e organização dos chefes nos diversos escalões foram fator
positivo e preponderante para a superação dos percalços encontrados para se
estabelecer tal atividade. Somam-se a isso, os apoios prestados pela Cia de
Manutenção e as atividades de Engenharia que prestaram trabalhos ininterruptos
para a manutenção mínima das viaturas e rede de estradas.
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3.6 MANUTENÇÃO
O Serviço de Material Bélico era responsável, principalmente, pela
manutenção de 2º e 3º escalões e distribuição do material bélico, além das
munições.
As munições eram recebidas diretamente nos depósitos norte-americanos. O
controle de créditos de munição e a formação dos comboios para o carregamento
eram atribuídos ao Serviço de Material Bélico.
A situação de manutenção era mais delicada, em especial pela baixa
qualidade da manutenção de 1º escalão, responsabilidade do usuário nas Unidades.
A manutenção das viaturas foi aquela que mais dificultou o prosseguimento das
missões, pois a maioria dos motoristas não chegaram à Itália nas melhores
condições de instrução e adestramento, sem a cultura de manutenção preventiva e,
ademais, eram em número reduzido diante das missões demandadas e tinham
pouco tempo de descanso entre as missões. Algumas medidas foram tomadas para
melhorar esta situação, havendo instruções, revistas de verificação, manutenção de
1º escalão centralizada (no Serviço de Intendência) e apuração de responsabilidade
nos casos de avarias e baixas de viaturas.
3.7 SAÚDE
O Serviço de Saúde, conforme visto anteriormente, organizava-se em três
escalões, o que refletia em sua atuação na cadeia de evacuação. O início da
evacuação estava na própria subunidade sob a responsabilidade dos socorristas ou
padioleiros, que conduziam os feridos para o Posto de Socorro da Unidade, onde
ocorriam os primeiros socorros, tomando os feridos dois destinos: os restabelecidos
retornavam às posições, os demais eram evacuados pelas Companhias de
Evacuação para o Posto de Tratamento (Triagem) divisionário para em seguida
serem entregues às unidades de Evacuação do V Exército, que os transportava para
os Hospitais. Dessa forma, os meios divisionários eram empregados da frente de
combate até o Posto de Triagem, enquanto que as ambulâncias do V Exército
circulavam entre esse Posto e os Hospitais.
Os momentos de maior desafio para o Serviço de Saúde foram durante os
períodos de chuva e inverno rigorosos compreendidos entre o final de 1944 e o
início de 1945, que resultaram em várias baixas de militares acometidos de doenças
respiratórias, e durante a Batalha de monte Castelo, momento de ápice de baixas
em combate, ultrapassando 140 homens. Neste momento, foi necessário o reforço
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de viaturas de outras atividades, situação oposta do que costumeiramente
acontecia, com as viaturas de saúde apoiando o funcionamento dos transportes em
geral.
4 CONCLUSÃO
No período que antecedeu a ida da FEB à Segunda Guerra Mundial foram
identificadas várias deficiências, sendo as principais relacionadas à mobilização e
treinamento de pessoal, atualização da doutrina e a providência de meios materiais
que possibilitassem a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Já no Teatro de Operações da Itália, as principais dificuldades encontradas,
sob o ponto de vista do Apoio Logístico, permearam as diversas funções. Em
relação aos recursos humanos, além das dificuldades na mobilização, tiveram
relevância as atividades de recompletamento, de assistência ao pessoal e de
tratamento aos mortos. Na função suprimento, os principais óbices eram o
provimento de material bélico, a falta de know-how sobre o abastecimento de
materiais de intendência e alimentação das tropas e a logística de distribuição das
diversas classes. Os transportes foram um dos maiores desafios enfrentados pela
FEB. A quantidade limitada de meios, a insipiente rede de estradas, sua
característica sinuosa e relevo montanhoso, as más condições climáticas e a
situação dos motoristas, inexperientes e exaustos, foram alguns dos obstáculos a
serem ultrapassados para se garantir o êxito nas missões. Esta situação dos
motoristas também implicava outro problema, que era a falta de manutenção em 1°
escalão das viaturas.
Para sanar os problemas de mobilização de pessoal, antes de ir à guerra,
foram tomadas algumas providências, como a retenção de conscritos, a redução do
nível de critérios para recrutamento, o aproveitamento de militares da reserva e a
capacitação por meio de treinamentos e cursos de especialização. Para atualização
da doutrina, foram encaminhados oficiais brasileiros aos Estados Unidos para
frequentar cursos e realizarem estágios em campos de instrução e corpos de tropa
norte-americanos.
Nos campos da Itália, também foram necessárias soluções logísticas para
viabilizar o provimento das tropas. Para garantir as condições mínimas no que tange
aos Recursos Humanos foi criado o Depósito de Pessoal, com as finalidades de
recompletamento, instrução, assistência religiosa e de saúde, entre outras. Além
disso, havia a assistência dispensada pela Legião Brasileira de Assistência (LBA)
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aos soldados e a seus familiares. Para tratar dos Assuntos Mortuários, foi criado o
Pelotão de Sepultamento, além da instalação do Cemitério Militar de Pistoia.
Na Função Logística Suprimento, as principais soluções se relacionaram ao
provimento de material bélico, que praticamente todo ele seria de origem norte-
americano e entregue ao governo brasileiro por conta da Lei de Empréstimos e
Arrendamentos (Lend-Lease); o fornecimento de material de intendência também foi
provido boa parte pelos americanos, pois mesmo com uma tentativa de produção de
materiais no Brasil, estes eram, em geral, de má qualidade e tiveram que ser
substituídos. Para solucionar os problemas alimentação, foram tomadas medidas de
capacitação dos cozinheiros, introdução de noções de higiene básica em campanha
e a adoção de comida brasileira de forma esporádica, a fim de elevar o moral das
tropas. A distribuição funcionou com a adoção da modularidade, pois se teve como
conduta a estruturação e entrega, conforme a necessidade de cada caso, como a
centralização de meios durante as fases de preparação defensiva e maior
descentralização de meios com apoio cerrado na fase ofensiva.
As soluções para superar as dificuldades da execução dos transportes
advieram da flexibilidade e organização dos chefes nos diversos escalões,
juntamente com a instrução e conscientização dos motoristas, que demonstraram
elevada coragem e espírito de cumprimento de missão. Ademais, as atividades de
Engenharia foram essenciais por meio da manutenção da rede de estradas.
Em relação à manutenção das viaturas, além das instruções aos motoristas
houve revistas de verificação, manutenção de 1º escalão centralizada (no Serviço de
Intendência) e apuração de responsabilidade nos casos de avarias e baixas de
viaturas.
A participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial
foi fundamental para a transformação do Exército Brasileiro. Graças a esta
participação, foi desenvolvida a doutrina de logística nas operações que, apesar de
modificações e atualizações, serve de base para os dias atuais, conforme conclui o
antigo Comandante Logístico, Gen Marco Antônio de Farias: “ser extremamente
relevante a avaliação crítica da história do Sistema Logístico do Exército Brasileiro,
particularmente como esforço que pode contribuir para a coleta de valiosos
ensinamentos vivenciados ao longo dos tempos”.
A urgência com a qual a FEB teve que lidar para ir à Segunda Guerra Mundial
fez com que fosse dada atenção maior aos aspectos de mobilização e a consciência
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de preparo permanente. O reflexo disso foi a ampliação dos nossos efetivos e toda
reestruturação da formação dos quadros do Exército Brasileiro.
Para o Serviço de Intendência, verifica-se grande evolução da sua atuação no
campo tático e modernização dos serviços em campanha, além da importância dada
pelo Alto-comando no pós-guerra, com a criação do Curso de Formação de Oficiais
de Intendência na Academia Militar das Agulhas Negras, em 1945, e o ingresso de
intendentes no quadro de oficiais-generais.
Outro aspecto evidenciado foi o da formação baseada em valores. Apesar de
todas as condições desfavoráveis, da insuficiência de meios materiais e pessoais, as
condições de clima, o ineditismo da situação e o grande valor do inimigo, os nossos
militares demonstraram seu valor, superando as dificuldades uma a uma para que o
objetivo final, a vitória, fosse alcançado.
Portanto, o desenvolvimento alcançado ao final da Segunda Guerra Mundial
foi muito além do campo da técnica e da tática, mas foi uma renovação do espírito
vitorioso que o Exército Brasileiro possui desde suas origens e que permanecerá
pelas gerações vindouras.
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REFERÊNCIAS
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CAMPOS, Aguinaldo José Sena – Com a FEB na Itália – Rio de Janeiro 1970.
CAMPOS, Aguinaldo José Sena – Logística para Invasão – Rio de Janeiro 1965.
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FARIA, Durland Puppin de - Mudança de Cardápio e Impacto Cultural: UmEstudo Sobre Alimentação da Força Expedicionária Brasileira (1944-1945) –NITERÓI 2017.
FARIA, Lauro Cruzaltense Vieira – Mobilização da FEB : Síntese dos AspectosLogísticos e Ensinamentos – ECEME - RIO DE JANEIRO – 1995.
FARIAS, Marco Antônio. Logística no Exército: passado, presente e futuro.Revista do Exército Brasileiro, Vol 152 – 1º quadrimestre de 2016 – Edição Especial.
MERON, Luciano B. Saco vazio não para em pé: a alimentação e os hábitosalimentares na FEB (1944-1945). I Seminário Alimentação e Cultura na Bahia. Jun2012.
MORAES, João Batista Mascarenhas de - A FEB pelo Seu Comandante – SãoPaulo – 1947.
OLIVEIRA, Dennison. “O combatente melhor alimentado da Europa”: aalimentação da Força Expedicionária Brasileira e a aliança Brasil-EUA durantea Segunda Guerra Mundial (1943-1945). Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n.31, p. 116-141, jul. 2016.
ROSTY, Cláudio Skora, Constituição da FEB para a Campanha da Itália – RevistaVerde-Oliva – ano XLIII Nr 232 – julho 2016.
http://logcabral.blogspot.com.br/2011/01/organizacao-do-apoio-logistico-da-forca.html, em 20/11/2017.