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1 Escola Rolando Toro Rio de Janeiro Monografia Para Obtenção do Título de Facilitadora de Biodanza PERMITINDO-SE SENTIR (Construindo a Matriz de Renascimento) Facilitadora Eliana Almeida Orientador Alberto da Rocha Tavares Rio, julho/97

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Escola Rolando Toro

Rio de Janeiro

Monografia Para Obtenção do Título de Facilitadora de Biodanza

PERMITINDO-SE SENTIR (Construindo a Matriz de Renascimento)

Facilitadora Eliana Almeida

Orientador Alberto da Rocha Tavares

Rio, julho/97

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DEDICATÓRIA

A mim mesma, pela coragem e persistência.

Às minhas filhas, Carolina e Juliana, a quem quis mostrar que vale a pena lutar pelo que se quer.

Ao amor, a verdadeira inspiração.

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AGRADECIMENTOS

A Alberto da Rocha Tavares, por ter sempre acreditado em mim e ter me contaminado com seu amor à Biodanza.

A Rolando Toro, por acreditar que o Ser Humano veio à Terra para Ser Feliz.

A Juan José Tápia; pela sua experiência e assertividade que vieram num momento especial da minha vida.

Aos meus queridos alunos, sem eles este sonho não poderia ter se realizado. Em especial à Thaisa, pelo seu carinho e dedicação ao revisar esta monografia.

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SUMÁRIO

Introdução------------------------------------------------------- 4 Definição de Biodanza--------------------------------------- 6 Princípios Fundamentais da Biodanza------------------ 10 Biodanza na Intimidade Verbal---------------------------- 13 Citações de Rolando Toro Sobre o Tema-------------- 18 Definição de Ecologia Humana---------------------------- 22 Teoria da Ecologia Humana na Intimidade Verbal--- 23 Definição das Fomes Básicas------------------------------ 27

Exercícios de Biodanza Correlacionados a Ecologia Humana---------------------------------------------------------- 29 O Grupo---------------------------------------------------------- 30 Depoimento dos Alunos------------------------------------- 31

Conclusão------------------------------------------------------- 38

Bibliografia------------------------------------------------------ 39

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INTRODUÇÃO

O meu encontro com a Biodanza foi forte e decisivo. Logo no primeiro contato com a técnica, eu percebi que estava no caminho errado pois no momento cursava Pedagogia. Aliás, não totalmente errado, pois sem saber, já me preparava para ser uma facilitadora. Fiz grupo regular por quase 4 anos, e quando me senti preparada entrei na Escola de Formação em Biodanza do Rio de Janeiro. Neste caminho pude sentir e aprender “o maravilhoso que é me encontrar comigo mesma, com o outro e com o Universo”. Durante minha formação eu escutava algumas pessoas conversando sobre as dificuldades de formar um grupo de Biodanza. Não podia acreditar que uma técnica que me possibilitou renascer para a vida e acreditar que nascemos para sermos felizes, encontraria tantas dificuldades. Finalmente chegou o dia de formar o meu grupo e pude constatar algumas verdades e perceber outras totalmente novas. O caminho a percorrer depende muito das características do grupo. Neste caminho a escolha do que escrever se fez presente. A escolha do tema percorreu um caminho o qual quero compartilhar; porque acredito na fluidez da vida e, deixando a vida fluir, aconteceu essa monografia. “A inteligência da natureza opera pela lei do mínimo esforço... Sem ansiedade, com harmonia e amor”. Um dia me dei conta de que estava usando a teoria da Ecologia Humana em meu grupo de Biodanza. Sempre falava alguma coisa na Intimidade Verbal e em algumas entrevistas. Parei para refletir como a Ecologia Humana entrou na minha vida. O convite para conhecer esta técnica partiu do meu facilitador, Alberto da Rocha Tavares. Lembro-me que, no meu primeiro módulo em janeiro de 96, eu colocava como meta formar o meu grupo de Biodanza. Um mês depois eu tinha conseguido formá-lo. E assim continuei a formação em Ecologia Humana e me surpreendia o tempo todo, dizendo internamente: isto é Biodanza! Só a linguagem é diferente. Em nenhum momento dessa formação me senti dissociada, o que foi muito importante: aprender mais alguma coisa que fosse coerente com a minha escolha. “O que for da profundeza do teu ser, assim será teu desejo. O que for o teu desejo, assim será tua vontade. O que for a tua vontade, assim serão teus atos. O que forem teus atos, assim será teu destino”.

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- Briha D. Upanishad - Neste contexto que estava vivendo, a monografia já estava fluindo. E como nada é por acaso, me veio a idéia: porque não escrever sobre o que já estava acontecendo? Percebi que as pessoas precisavam de um alimento para o córtex, baixando os níveis de ansiedade e defesa. Assim poderiam chegar no mundo da Vivência. A minha intenção não é estabelecer os princípios e características destes dois sistemas, e sim descrever como a Ecologia Humana me ajudou na formação do meu grupo. Além de ressaltar a integração ecológica da Biodanza no momento que esta se fundamenta no Princípio Biocêntrico e considera como núcleo integrador a afetividade. Se o ser humano é responsável por destruir o planeta, nada é mais urgente do que possibilitar a sua reaprendizagem das funções originárias de vida.

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DEFINIÇÃO DE BIODANZA

“Definir Biodanza é muito difícil, é como tratar de definir o amor, a arte e a vida”. (Rolando Toro) Como a Biodanza é um método vivencial, uma captação cognitiva é impossível, só vivendo-a se pode abarcar seu verdadeiro significado. O meu intuito nessa definição é, utilizar uma linguagem mais vivencial possível. Atingindo o objetivo dessa monografia, que é facilitar a formação de grupos iniciantes. A Biodanza trabalha com a estrutura Música – Movimento / Dança – Vivência. Música: é uma linguagem universal, acessível a todas as culturas, idades e épocas. É o instrumento de mediação entre a emoção e movimento corporal. A influência da música vai diretamente à emoção sem passar pelos filtros analíticos do pensamento. Ela é percebida não pela nossa parte racional, e sim pela nossa parte emocional. A música estimula a dança expressiva, a comunicação afetiva, a vivência de si mesmo. A identidade é permeável à música, e por isso pode se expressar através dela. Nos primeiros ensaios do Modelo Teórico de Biodanza Rolando Toro constatou com pacientes de um hospital psiquiátrico, que alguns tipos de música acentuavam neles, que já apresentavam uma identidade mal integrada, alucinações e delírios que podiam durar dias; e outros tipos de música, provocavam uma elevação do juízo da realidade, diminuindo as alucinações e aumentado a sua comunicação. A música utilizada em Biodanza é rigorosamente selecionada em relação aos exercícios e às vivências que se pretende alcançar. Para selecionar a música se requer preparação em Semântica Musical e conhecimentos acerca dos efeitos da música sobre o organismo. Movimento-Dança: o primeiro conhecimento do mundo anterior à palavra é o conhecimento pelo movimento. A Biodanza tem sua inspiração nas origens mais primitivas da dança. Os primitivos dançavam em todas as circunstâncias importantes da existência (relações sexuais, caça, guerra, ciclos das estações, morte, rituais de renascimento e de iniciação).

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A utilização da dança com finalidade terapêutica, não é nenhuma novidade. Na antigüidade, já o faziam diversos povos primitivos. Cerca de 1500 a.C., os egípcios faziam danças terapêuticas para desenvolver a fertilidade em mulheres estéreis. Na Ásia, África e na Amazônia, os xamãs ou os médicos feiticeiros utilizavam danças com finalidade terapêutica. Na África algumas tribos faziam danças galactagogas, com a finalidade de fazer fluir o leite aos seios das mães. No Oriente Médio, faziam danças do ventre para tonificar as funções da maternidade. “Quem não dança desconhece o Caminho da Vida” (Jesus Cristo – séc. II). É importante esclarecer que a dança em seu sentido original, é movimento vivencial. Muitas pessoas associam a dança a um espetáculo de balé. Esta é uma visão formal da dança. A dança é um movimento profundo que surge das vísceras do ser humano. É movimento de vida, é ritmo biológico, ritmo do coração, da respiração, impulso de vinculação à espécie, é movimento de intimidade. Cremos em uma dança orgânica que responda a padrões de movimentos que originam, como movimento natural pleno de significado e com um poder inusitado de induzir transformações na existência. A palavra não dá para expressar toda a riqueza contida na dança. A dança enlaça a separação corpo e alma. Na dança todas as dissociações marcadas pela nossa civilização se desfazem e se fundem. A necessidade de dançar é determinada por uma imperiosa ansiedade de vida que sai espontaneamente dos membros. A dança é herança dos nossos selvagens antecessores como expressão ordenada do contentamento da alma em movimento. “Aquele que conhece o poder da dança tem sua morada em Deus”. (Rumi – poeta Derviche persa). No mundo como o nosso, de fome, de tortura, de guerras, em um mundo de abandono infinito, como é possível querer dançar? À primeira vista, parece uma inconseqüência. A proposta da Biodanza não consiste só em dançar, senão em ativar, mediante certas danças, potenciais afetivos e de comunicação que nos conectem com nós mesmos, com o semelhante e com a natureza. Somente se nossos movimentos restaurarem seu sentido vinculante, lograremos renascer do caos de nossa época. Buscamos acesso a um novo modo de viver, despertando nossa adormecida sensibilidade.

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Vivência: O conceito de vivência foi proposto por Dilthey e definido como “instante vivido”. A vivência possui assim, a palpitante e comovente qualidade do vivido aqui e agora. “A vivência emerge no instante em que se está vivendo. Como a água de uma vertente, as vivências surgem com espontaneidade e frescura. Possuem a qualidade do originário e têm uma força de realidade que compromete todo o corpo. As vivências não estão sob o controle da consciência. Podem ser evocadas, porém não dirigida pela vontade. De certo modo, estão fora do tempo, da memória, da aprendizagem e do condicionamento. O poder organizador que possui as vivências deve-se a essa qualidade única de surgir como a primeira expressão afetiva do nosso organismo, com sensações corporais fortes. As vivências constituem a expressão originária do que há de mais íntimo em nós mesmos, anterior a toda elaboração simbólica e racional. Estas considerações nos levam a rejeitar categoricamente a pretensão de elaborar, interpretar e racionalizar as vivências. Tal atitude provém de um psicologismo deformante. A inteligência cognitiva não é instrumento apropriado para organizar as vivências. Pelo contrário, as vivências – que são o conteúdo nutritivo da existência – que são as que devem orientar e dar sentido à existência. A consciência tem o papel de registrar e resolver os problemas com o mundo externo, porém não dirigir as vivências. As comovedoras sensações que surgem das vivências têm que ser assumidas, e não interpretadas. Biodanza desperta vivências que têm um valor organizador e integrador em si mesmas”. (Toro,1991). Criadas condições sensíveis e amorosas, é possível a aparição desta vivência integradora. “Ao subordinar a vivência à consciência, estamos reforçando a patologia básica de nossa civilização, a que nega o corpo, glorifica a idéia, reprimindo a naturalidade corpórea e a espontaneidade animal.” (Góis). A vivência fundamental da identidade surge como expressão endógena do “estar vivo”. A vivência primordial de estar vivo é a mais comovedora e intensa de todas as vivências. A vivência do estar vivo estaria afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos. Porém, sua gênese seria visceral. A vivência de estar vivo daria origem a dois estados diferenciados: a) As primeiras noções sobre o corpo – implica em que a percepção do próprio

corpo evolui através do tempo, mediante as distintas formas de sentir-se a si mesmo (ser no mundo). As distintas experiências organizam estruturas e respostas: o corpo como fonte de prazer e o corpo como fonte de dor e sofrimento.

b) As primeiras noções de ser diferente – se dão no contato com o grupo. A

identidade faz-se patente no espelho de outras identidades. As primeiras noções de ser diferente conduzem a consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo configura a auto-imagem que, por sua vez,

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origina os esquemas de decisão com respeito as próprias expectativas e ações para alcançá-las. As duas noções sobre o corpo, leva à auto-estima e à consciência de si mesmo.

Os exercícios de Biodanza estão destinados a deflagrar vivências. A indução freqüente de determinados tipos de vivência reorganizam as respostas frente à vida. A ação reguladora dos exercícios não se exerce sobre o córtex cerebral e sim sobre a região límbico-hipotalâmica, centro regulador das emoções. A emoção e a vivência constituem o princípio regulador das funções neurovegetativas, ativando-as e moderando sua atividade. As emoções regulam e são reguladas pelo sistema límbico-hipotalâmico. “A sabedoria, quase sempre, se sente e se percebe, mais do que se intelectualiza. A simples sabedoria de honrar todos os sentidos do corpo pode abrir novos mundos àqueles que têm esquecido de desfrutar a vida. Tanto se a insensibilidade procede da aflição para curar velhas dores e do medo da escassez, o resultado é o mesmo. Os seres humanos esqueceram a simples benção de observar um amanhecer e de escutar a canção do rouxinol na noite estrelada. Nesse estado de inconsciência, perdemos nossas conexões com a sabedoria da mãe terra. Esquecendo o maravilhoso que é estar vivo!” (Jamie Sams).

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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA BIODANZA PRINCÍPIO BIOCÊNTRICO O Princípio Biocêntrico é o primeiro paradigma da Biodanza e o mais importante, pois a sua estrutura teórica se fundamenta nele. O Princípio Biocêntrico situa o respeito a vida como centro e ponto de partida de todas as disciplinas e comportamentos humano. A vida como principio e direito a ser defendido com primazia em relação a todos os demais princípios e de direitos. Restabelecendo a noção de sacralidade da vida. O Princípio Biocêntrico concentra seu interesse no universo como sistema vivente. Não são apenas os animais, as plantas ou o homem o reino da vida. Tudo que existe, desde os neutrinos até os quasares, desde as rochas até os pensamentos mais sutis, formam parte de um fantástico Orologium Biológico. O Princípio Biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar as novas percepções e as novas ciências do futuro. “Através dele alcançamos finalmente os movimentos originas e as primordiais percepções de vinculação da vida com a vida. Nossas vidas surgem da sabedoria milenar do grande pulsador da vida, do útero cósmico, que se nutre e respira nas afinidades e no amor dos elementos. Na luz da origem no buraco vazio e paradisíaco da realidade nos buscamos uns aos outros”. (Toro). A desconexão dos seres humanos da matriz cósmica da vida tem gerado, através da história, formas culturais destrutivas. A dissociação corpo-alma, e a repressão da experiência paradisíaca tem nos conduzido à profunda crise cultural em que vivemos. Os interesses da vida nem sempre se comungam com as necessidades de nossa cultura. O mestre é a natureza em nós. INCONSCIENTE VITAL O conceito de Inconsciente Vital foi proposto Rolando Toro para referir-se ao Psiquismo Celular. “O Inconsciente Vital, inventei-o a partir de novos estudos da biologia, onde se descobriu um objetivo nas células. As células se comportam com um objetivo especial (....) alguns tecidos, algumas células, para não serem devoradas por macrófagos utilizam toda uma inteligência diferente (....). Um Psiquismo biológico que talvez seja o mais seja o mais profundo que o inconsciente coletivo.” – Rolando Toro Existe uma forma de Psiquismo dos órgãos, tecidos e células, que obedece a um sentido global de autoconservação. O Inconsciente Vital dá origem ao fenômeno

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de solidariedade celular, modificação de tecidos, defesa imunológica e, em suma o acontecer exitoso do sistema vivente. Este Psiquismo coordena as funções de regulação orgânica e homeostase. Não se trata de um programa teleonômico fatal em que as mutações estão se produzindo em todo momento, e sim, há padrões biológico de otimização, que tem eficiência para a conservação da vida criando regularidades e tende a manter as funções estáveis. O Inconsciente Vital está em sintonia com a essência vivente do universo. Quando essa sintonia se perturba e se rompe inicia-se a doença. Assim sendo, o processo curativo será compreendido como movimento para recuperar essa Sintonia Vital com o universo. As manifestações do Inconsciente Vital estão no nosso cotidiano, são: o humor endógeno, o bem estar cenestésico, o mal estar e o estado de saúde. Não podemos existir sem o sistema de regulação cósmica, este é o padrão de saúde. E a única via de acesso ao Inconsciente Vital é a “vivência”, e a Biodanza é um instrumento absoluto neste caminho. Inconsciente Vital é influenciado também pelas condições ecológicas externas. A atmosfera afetiva do lugar, as tensões do trabalho, as zonas geográficas (fria, cálida, desértica ou tropical), a solidão e outros componentes da existência influem em seus conteúdos vivências sobre o Inconsciente Vital. INSTINTO

“Ser Selvagem e Livre para Sempre

Caminhando às cegas através do mistério Buscando consolo e mudança, E as núpcias da separação Retorno a sabedoria da inocência Fora da obscuridade do útero, Buscamos torpemente a luz, Submergimo-nos e logo emergimos, Testemunhando a condição humana. Dominando o intelecto, Dispersando a obscuridade, A sofisticação vem a reinar. Decomposição e caos,

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Voltamos aos sonhos, O espírito e o corpo se salvaram.

Com instintos primitivos em nosso interior, Devemos dançar para existir, Mesclando lamento e júbilo, Chegamos a ser selvagens, E para sempre livres”. (Jamie Sams) O instinto é uma conduta inata hereditária, que não requer aprendizagem e que se desencadeia frente estímulos específicos. Sua finalidade biológica é a adaptação ao meio para a sobrevivência da espécie. Segundo Darwin uma conduta é instintiva desde o momento em que se realiza sem experiência prévia e é repetida por um grande número de indivíduo da mesma espécie. Somente as pesquisas de etólogos modernos como Vitus B. Droscher, Eibe Eibesfeldt e Konrad Lorenz esclareceram mediante paciente observações, que os instintos possuem em uma poderosa influência no comportamento, mais a aprendizagem e a experiência modificam esses impulsos de diversas maneiras. Segundo a abordagem da Biodanza, a cultura bloqueia, desorganiza e perverte os instintos, dando origem a patologia social e individual. Nossa tarefa mais urgente é restaurar a base mais instintiva da vida e buscar orientação nesses impulsos primordiais. O bloqueio dos instintos consiste em impedir suas manifestações. A perversão é o desvio do sentido biológico do instinto. A desorganização é a dissociação caótica dos instintos. Os instintos apresentam freqüentemente aspectos complementares entre si, o que torna possível sua auto-regulação. Assim, por exemplo, o ato de succionar o peito materno, estimula o fluxo de leite na mãe, em um verdadeiro sistema complementar de reflexo neuroendócrino. É como se existisse um pacto prévio nos organismos para conectar-se sem experiência prévia. A bipolaridade dos instintos, é, na realidade, uma expressão lógica da vida que permite resolver problemas adaptativos em uma escala muito ampla. Há um hábito cultural de associar o instinto ao irracional, apesar de a função instintiva revelar uma forma de inteligência cósmica que possui sua própria lógica. O comportamento instintivo possui uma infra-estrutura neuroendócrina de grande precisão.

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BIODANZA NA INTIMIDADE VERBAL “Renda-se, como eu me rendi, mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento.” (Clarice Lispector) Este poema, reflete todo o trabalho com este grupo iniciante. O meu papel como facilitadora neste primeiro contato foi simplesmente proteger e permitir, através do convencimento do córtex, que o indivíduo não se preocupasse em entender e percebesse que para viver ele tem que sentir. Cada contexto gera um objetivo próprio, é importante ficar definido o caminho de possibilidades que a Biodanza pode oferecer ao grupo. A primeira possibilidade é facilitar a Integração Motora e a Integração Afetivo-Motora. E já que estamos falando de integração, é importante integrar o objetivo vivencial ao objetivo teórico. Integrando Biodanza e Ecologia Humana, escolhi alguns princípios de Biodanza relacionados a Ecologia Humana para nortear o meu trabalho: - Definição e Princípio Biocêntrico - Princípio Biocêntrico - A Sacralidade da Vida DESPERTANDO A FONTE DE PRAZER O porquê do nosso bloqueio para escolher o que me dá prazer? A reação positiva freqüentemente é tolhida por receios. Temos medo de que o prazer nos leve a caminhos perigosos, onde possamos perder o controle, esqueceríamos os deveres, estaríamos “pecando”. Em nossa cultura, todos receiam o prazer. Como a cultura moderna é dirigida mais pelo ego do que pelo corpo, o poder se transformou no principal valor, reduzindo o prazer numa situação secundária. Apesar de tudo, o prazer é a força criativa que sustenta a personalidade, a esperança (ou ilusão) do homem moderno, que se deixa levar

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pelo ego, perseguindo metas que prometem prazer, mas exigem uma recusa deste. O ego não existe para ser mestre do corpo, mas sim seu servo leal e obediente. O corpo, ao contrário do ego, deseja prazer e não poder. O prazer é a origem de todos os bons pensamentos e sentimentos. Quem não tem prazer, se torna rancoroso, frustrado, cheio de ódio. O pensamento é distorcido e o potencial criativo se perde. Prazer é a única força capaz de se opor à destrutividade em potencial do poder. Muitos acreditam que esse papel pertence ao amor. Mas para que este não seja só mais uma palavra, terá que se basear na experiência do prazer. O comprometimento total com o que se está fazendo é uma das condições básicas para o prazer. O indivíduo fica dividido e em conflito quando não se envolve totalmente. Exemplo: o faz de conta da criança. O corpo já nasce sabendo, mas com o processo de civilização, ele foi perdendo o movimento, ficando sem expressão, sem naturalidade, perdendo assim sua sabedoria. “O prazer não pode ser controlado nem comandado pelo homem. É uma dádiva de Deus para os que se identificam com a vida e se alegram com seu esplendor e beleza. A vida, em troca, lhe dá amor e graça”. (Goethe). As vivências do prazer, do entusiasmo, do amor, alcançam a totalidade do organismo. A Biodanza busca a unidade do homem. Toda matéria (corpo) é espírito. E todo o espírito (mente) é matéria. As palavras pouco significam se não pudermos sentir no nosso corpo esta experiência. O homem civilizado trocou muito de suas oportunidades de felicidade por uma parcela de segurança. Obs.: A maioria das pessoas associam prazer a sentimentos conflitantes. Acham desperdício uma vida devotada ao prazer. Pude detectar claramente no grupo este tipo de conflito, as aulas de Biodanza despertavam ao mesmo tempo atração e “vontade de fugir”. Dada a explicação teórica sobre o tema, senti o grupo mais descontraído, e se permitindo fazer escolhas prazerosas; como por exemplo proteger o seu dia de fazer aula de Biodanza. É como se as pessoas não pudessem acreditar que seus problemas poderiam ser solucionados a partir da saúde.

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ECOLOGIA DOS INSTINTOS As pessoas normalmente, podem estabelecer uma conexão altamente precisa com todas as manifestações de vidas que lhe rodeiam. Uma espécie de sabedoria milenar que orienta os seres vivos para as fontes nutritivas do mundo, a sua percepção se dirige para aquilo que gera neles vida e mais vida. Porém, muitas pessoas perderam por um lento processo de degradação instintiva, a capacidade de conexão com a vida. Os sinais que devemos escutar em nosso corpo são facilmente reconhecidas: tenho fome? Que desejo comer? Tenho sede? Preciso de mais líquido? Devo mudar de ambiente? Preciso mover-me? Caminhar? Dançar? Preciso de mar? Um pouco de sol? Ar puro? Tenho frio? Tenho sono? Estou cansada? Sinto desejos sexuais? Gostaria de fazer amor? Preciso de carícias? Os exercícios de Biodanza são direcionados ao sistema Límbico-Hipotalâmico. Representa o fundo neurodinâmico do instinto das emoções e do tônus vital, que dispara a energia para unidade psicológica e para os impulsos da vinculação. É a sede das funções automáticas, viscerais, da afetividade, do desejo sexual, da fome e dos demais instintos. Existe um medo generalizado a respeito da liberação dos instintos e ainda mais, uma atitude de violência frente a qualquer manifestação do primitivo. A abordagem da Biodanza é a de salvar esta selva interior e realizar, não apenas uma ecologia da mente, senão uma ecologia dos instintos. É necessário olhar as manifestações instintivas sob a perspectiva biológica de exaltação da vida e da graça natural. O instinto básico se relaciona com o impulso de sobrevivência e íntima relação com este que organiza os outros instintos. O instinto de sobrevivência e conservação da vida se relaciona dinamicamente com a força da identidade. É nesse ponto, onde esta concepção dos instintos se vincula com o modelo teórico de Biodanza e Princípio Biocêntrico.

INSTINTOS E FOMES BÁSICAS Instintos: Migratório Regressivo Território/Migração/Guarida Exploratório/Nomadismo Busca de estímulos novos (curiosidade) Necessidade de regularidade Sedução/Exibição Ocultamento/Mimetismo Fome Saciedade Luta Fuga

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Gregário Separatividade Repouso Movimento Fomes Básicas: Fome de Alimento Fome de Estímulos Fome de Carícias Fome de Reconhecimento Fome de Pertencer Fome de Estruturação de Tempo Fome de Incidentes Fome de Criatividade Fome de Transcendência Fome de Produtividade Fome de Amor Fome de Altruísmo Fome de Preservação do Ecossistema Fome de Transformação Temos que nos conciliar com nós mesmos, em lugar de termos uma existência baseada na tomada de decisões, que no fundo são expressões da tirania do mundo exterior. As pessoas que nunca satisfazem as suas vontades adoecem. Deixo de escutar o meu corpo e passo a escutar o meu ideal, e assim, eu estou trabalhando para sucumbir e não para superviver. O processo de recuperar o que cada um é, é em última análise, o único trabalho sério que cada ser humano tem a responsabilidade de fazer neste planeta. ECOLOGIA DO AMOR O ser humano funciona como Ecofator Positivo. Quando ele qualifica, valoriza, apoia com sensibilidade e aceita “o diferente” no outro, é o mais potente Ecofator para o desenvolvimento do potencial genético. O outro é o seu revelador cósmico, a sua identidade se revela na presença dele. A atenção de alguém é realmente o sol, que dá vida e produz transformações nas pessoas. Melhor ainda se a atenção é recíproca, assim entramos numa dança de criação conjunta, um dos sonhos da vida. Assim, como se aprende, a raiva, o medo, a agressividade, a tendência à depressão, podemos aprender também o altruísmo, o erotismo e a bondade. Em Biodanza, trabalhamos no reforço de emoções positivas e na expressão coerente a respeito delas, em circunstâncias reais.

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O ser humano é um Ser relacional. No trabalho de grupo, há uma iteração intensa; com um troco alegria, com outro afeto, ternura, criatividade etc. As vivências de aconchego, proteção, segurança, alimentação e carinho, são fundamentais, na formação da matriz grupal. Estamos trabalhando o instinto comunitário e de nutrição. A afetividade é que integra, quando o indivíduo está dividido, dissociado, ele está negando e resistindo ao amor. No amor, o ser humano abre suas fronteiras e deixa entrar algo que até então ficava do lado de fora. O movimento do amor é o que permite mergulhar no outro e o outro se deixa penetrar movido pelo amor. “Nós renunciamos à felicidade afetiva e sensual com uma facilidade nojenta. Achamos todos, os pretextos do mundo para não fazer nada do que todos desejam. Depois choramos porque somos infelizes, incompreendidos, porque não temos o que queremos.” (Gaiarsa) Eu mereço estar vivo sem nenhuma condição. A verdadeira ecologia é a ecologia do amor. O sentimento do amor, poderíamos defini-lo como a experiência suprema do contato com a vida. Dança, Amor e Vida são termos que aludem ao fenômeno da Unicidade Cósmica. Através da Biodanza, chegamos à fonte originária dos impulsos de vida.

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CITAÇÕES DE ROLANDO TORO SOBRE O TEMA

O PAR ECOLÓGICO Um casal no processo de sua integração, é uma fonte geradora de opções. Neste núcleo magnético que é a união ecológica, se iniciam ou morrem potencialidades. De alguma maneira, se reforçam circuitos ecológicos, se estimulam capacidades, se decidem opções de vida, se inibem atitudes, se limitam impulsos e se anulam talvez para sempre – potencialidades latentes. No ajustamento unido das correntes ecológicas, se cria uma estrutura vital que fomenta ou inibe o crescimento, que melhora ou destrói a saúde, que agrega ou impede a felicidade. Diríamos talvez, simbolicamente, que tem pessoas que produzem úlceras e outras que produzem câncer; que existem esposas que feminizam seu marido e outras que reforçam sua virilidade. Em suma, que há amores que dão sentido à existência e outros que, em insidioso envolvimento, lançam o indivíduo ao vazio e à inanidade. Há mulheres que potencializam a sexualidade de um homem e outras que o castram. Há homens que soltam a transcendência da mulher e outros que a mantêm na trama pueril, na imanência dos fatos cotidianos. Poderíamos, a partir deste enfoque ecológico, conceber o amor sadio como um processo de concretização, no qual cada membro é um detonador que estimula o renascimento permanente do outro. Vale dizer, cada um cria para o outro uma tenebrosa atmosfera; cada um exalta o projeto do outro, ou coloca um expoente para elevar à potência, todas as suas qualidades latentes. O salutar amor da união ecológica, é a celebração recíproca do ser do outro, de sua germinativa essência. O par ecológico é um sistema cósmico de gestação por reforço recíproco de vida. O esforço de adaptação de cada um nas condições que impõe a estrutura do outro, tem às vezes uma qualidade traumática. Assim, uma mulher que assume a função de excelente esposa, a custa da renúncia do crescimento de suas potencialidades, responde a esta frustração vital gastando grande parte da economia familiar em consultas médicas, devido aos permanentes transtornos psicossomáticos provocados por seu estancamento.

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Um esposo pode manifestar constantes resfriados e processos infecciosos devido a queda de suas defesas imunológicas, provocadas por sua vez, pela falta de ninho ecológico, quer dizer, pela ausência de um lugar cálido que lhe dê continente, proteção. De uma união pode resultar a vitória e exaltação de todos os conteúdos vitais de um indivíduo e de todo seu poder criador, ou pode significar o insidioso processo que o conduzirá inexoravelmente ao vazio e à destruição. A FAMÍLIA ECOLÓGICA Foi Reich quem, de uma maneira aberta, descreveu o matrimônio como uma estrutura de opressão, em que a possessividade limita, reciprocamente, o fluxo afetivo e sexual do par. Max Pagés, em seu livro “A Vida Afetiva dos Grupos”, denuncia a dinâmica através da qual o amor exclusivo por uma pessoa fecha as portas para o amor ao mundo. Berne utiliza o processo de representação como um importante elemento terapêutico. Este trabalho consiste em revisar os mandatos parentais que deram origem a um argumento de vida patológico. Claude Steiner, em sua concepção de “mini-argumento” mostra como os indivíduos têm verdadeiros padrões de resposta referente a existência, estruturados desde a infância. Laing declara que a família é uma verdadeira fábrica de ideologia. Rogers mostra os conflitos próprios do matrimônio tradicional e propõe novas formas de amor. A possibilidade de parceiros múltiplos já foi colocada genialmente no princípio do século. A maior parte destas opiniões têm que reconhecer certa relação com as orgânicas concepções de Freud sobre a origem das neuroses e da introjeção do processo repressivo. A convergência dos mais importantes pensadores da Psicologia nos conduz a uma profunda revisão do conceito de família. Dentro das teorias sobre a gênese da Esquizofrenia, o Modelo Familiar desta enfermidade tem, atualmente, grande aceitação. Se supõe que o enfermo não é senão o representante mais sensível do grupo familiar e que acumula em si, à maneira de um “bode expiatório”, a patologia familiar. Algumas doutrinas religiosas propõem a separação precoce dos bebês desta fonte de intoxicação que representa a família como agente repressor. Os grupos Rajneesh, Fischer, Hoffman, Silo, vêem na influência familiar a origem de todas as patologias.

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“O condicionamento paterno é a maior escravidão do mundo. Tem que ser completamente desarraigado. Só então o homem será capaz, pela primeira vez, de ser realmente livre, verdadeiramente livre, porque a infância é o pai do homem” (Rajneesh).

Todo o conjunto de idéias até aqui mencionadas, possuem uma validez relativa e devem ser seriamente questionadas. Vamos propor uma hipótese antropológica que não deverá confundir-se com os preconceitos tradicionais sobre a importância da família como instituição fundamental da sociedade. Em meu modo de ver, a comunidade familiar é, com todos os seus defeitos, entre todas as comunidades, a mais saudável por ser a mais orgânica e por se desenvolver como um nicho ecológico natural, justamente com todos os riscos, carências e patologias de qualquer nicho ecológico. Qualquer outra forma de comunidade resulta uma espécie de transplante a uma estrutura de grupo artificial e inorgânica. O problema não é a eliminação da família como instituição, para ser reimplantada por comunidades culturais, subculturais, filosóficas ou religiosas. O problema deve ser encarado dentro de uma nova visão da família, e que cada um de seus membros é um agente do desenvolvimento da totalidade, é respeitado, protegido, cuidado e – ao mesmo tempo – possui a máxima possibilidade de desenvolvimento, espontaneidade e liberdade. Em nenhuma comunidade em grupo, a criança deveria ter tantas opções como dentro do seio familiar, receber tanto amor como dentro do seu lar. O Ser Humano necessita de um lugar no mundo para iniciar o desenvolvimento de suas potencialidades. Este lugar deve possibilitar condições de calor afetivo e liberdade; de nutrição e segurança. Deve-se pensar o lar como um útero maior, onde a criança continua seu processo de crescimento. Uma atmosfera não poluída, uma estrutura indutora de harmonia e saúde. Em suma, um núcleo que concentre energia vital e que permite os primeiros encontros humanos com tratamento respeitoso e encantador. A posição da Biodanza é considerar o lar não como uma estrutura de opressão, e sim como um nicho ecológico que cria e fomenta vida, sem que isto signifique – de modo algum – perpetuar as tradições, os preconceitos sexuais, o autoritarismo e a opressão, em qualquer de suas formas. O ponto de vista da Biodanza é, portanto, enriquecer afetivamente o lar e assim, iniciar o desenvolvimento do projeto existencial. O lar não só teria que ser adequado para a criança, como também agradável para o adulto. Foi num momento que se desvalorizou as tarefas do lar, em que a mulher e também o homem buscaram nova expectativa de vida intelectual e econômica, que se gerou milhares de lares frios e impessoais. Conceitos políticos estão

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desviando as respostas naturais biológicas da maternidade e do cuidado afetivo para com as crianças, a atmosfera de alegria e calor humano do grupo familiar. Um novo conceito de família não deve significar opressão nem para o homem nem para a mulher. As tarefas do lar não são obrigatórias e sim constituem rituais arquetípicos da vida humana: preparar os alimentos, favores recíprocos, celebrações, aniversários, solidariedade, atos de comunhão nos sofrimentos e nas alegrias. Para Dr. Cooper, a família núcleo-burguesa “vem a ser, neste século, a mais perfeita forma de contra-sentido... A mais poderosa e destrutiva forma de abstração inventada. O poder da família está em sua função social mediadora. Reforça o poder da classe governante de toda sociedade exploradora, proporcionando um modelo para as demais instituições sociais... É totalmente fátuo falar da morte de Deus ou da morte do homem quando não vemos, claramente, a morte da família, instituição que, como função social, filtra a maior parte das nossas experiências e priva assim atos de toda genuína e generosa espontaneidade.”

Biodanza está na linha de certas correntes juvenis, que tendem a purificar as instituições e que vêem o casamento como um ato livre e romântico.

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DEFINIÇÃO DE ECOLOGIA HUMANA

Ecologia Humana é a ciência do amor, da saúde, da ética e da supervivência humana. O objetivo essencial de todo procedimento em Ecologia Humana é dar a cada indivíduo a oportunidade de descobrir como recuperar seu potencial natural para realizar-se e sentir mais prazer em tudo o que se faz e sente. Por isso ela não se focaliza nos problemas das pessoas, e sim no potencial para não lhe dar problemas. Sentir-se parte de um grupo onde ecologicamente todos dependam de todos, onde se pode e é necessário aprender com o outro, anima a abrir o coração. A magia da unicidade devolve a experiência de sentir-se conectado a todos, inclusive às coisas materiais. A Ecologia Humana ensina que a catástrofe da vida de um Ser Humano é deixar de lutar pelo que ele de fato necessita para lutar pelos atributos do status, da aprovação ou do poder. Todo o potencial de sentir, experimentar e pensar a vida se encontram, desde o primeiro momento, no Si-mesmo (self). Quando o Ser Humano possui a medida adequada para alcançar e preservar a Supervivência, estabelece-se o que chamamos Harmonia. O Si-mesmo é a base da harmonia do Ser humano com a Natureza e com o Universo, a Ecologia Humana é sua vida universal, e Ética é a motivação essencial. Quando o Si-mesmo e a Harmonia interagem, o corpo e a mente ficam em congruência, e então, todo Ser Humano evolui em uma espiral ascendente.

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TEORIA DE ECOLOGIA HUMANA NA INTIMIDADE VERBAL

O Córtex tem a função de modelar e controlar o Sistema Límbico-Hipotalâmico (sede das emoções). Para que a pessoa tenha vivência, o controle do córtex deve estar diminuído. E para que isso aconteça, principalmente para as pessoas que estão com muita resistência, é preciso que se dê alimento (informações) ao córtex, diminuindo assim a sua função de controle. Este procedimento serviu para diminuir o nível de resistência das pessoas, baixando o nível de ansiedade, o que permitiu que mergulhassem na sua caminhada interior através das vivências. EXPERIÊNCIA EXPERIENCIADA X RACIONALIDADE 1- Há dois universos em que podemos operar: O Mundo da Experiência e o da Inexperiência. O grau mais alto da experiência é a Experiência Experienciada; é quando experiencio que estou tendo, que estou vivendo. Por exemplo: ter uma relação sexual com orgasmo. É viver o máximo possível em intensidade. O ponto mais baixo da Não-Experiência é a Racionalidade.

Experiência Experienciada

+ 100 (deixar-se) •• Conhecimento global •• Certeza em tempo presente •• Perceber o que está se passando (intuir/captar) •• Aceitar o que está acontecendo

Experiência

Não-Experiência

•• Não aceitar o que está acontecendo •• Ajuda compulsiva •• Entrar em discussões •• Ter esperança •• Pensar sobre •• Sentir sobre (sentir algo sobre o que ainda não aconteceu) - 100 (racionalidade)

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Aceitar o que está acontecendo: aceitação é uma valoração positiva do que está acontecendo e nos ajuda a resolver o problema. Não aceitar o que está acontecendo: impede de resolver o que está acontecendo. Perceber o que está se passando (intuir/captar): se você não percebe o que está se passando , você sai do campo da experiência para a não-experiência. Ajuda compulsiva: estar em contato com as experiências do outro e não entrar com a sua própria experiência. Entrar em discussões: muitas pessoas negam sua capacidade de vivenciar quando entram em discussões e, muitas vezes, saem pior do que estavam. Ter esperanças: se você não experimenta e tem esperança, isto lhe manda para a não-experiência, pois a vida passa e você fica. Obs.: Após a exposição deste quadro, introduzi o conceito de vivência e todo o seu universo. Terminei a parte verbal com a seguinte pergunta: “qual o valor que você dá a racionalidade, a razão e a lógica na sua vida?”. Logo depois da aula, principalmente os mais racionais, estavam contentes dizendo que a aula foi maravilhosa. Estavam bem mais relaxados e durante a aula a entrega foi maior. 2- Quando alguém compartilha uma experiência, temos que deixá-la com a experiência, pois o momento do compartilhar é como se metabolizasse internamente. Se eu opino neste momento ou alguém diz algo, automaticamente há uma contaminação. Obs.: Esta abordagem teve um ótimo efeito no grupo. As pessoas passaram a escutar melhor o outro sem o vício de interpretar ou querer ajudar. 3- Quando uma pessoa não pode contatar-se com o seu Ser, não tem outra opção senão contatar-se com o que lhe disseram que fosse, seja bom ou mau. Obs.: Percebi que ficaram mais interessados em ter vivências e em contatar com seu Ser, diminuindo o “dever ser”. 4- Para o meu próprio processo de crescimento, tenho que dar passos menores a fim de que possa chegar ao fim do caminho (atingir metas) ao invés de dar passos largos e tropeçar. Para seguir um treinamento temos que assimilar a capacidade de frustração. Para que aprendamos como fazer a coisa certa, temos que permitir fazer errado primeiro para depois chegar ao ponto de fazer corretamente.

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Obs.: É muito comum, no início de um grupo, as pessoas se compararem com alguém que entra mais em vivência e se frustrarem querendo resultado rápido. 5- A habilidade maior é ter a capacidade de fazer o que há de melhor, através das fontes de prazer, para melhorar o meu Ser. Se tenho que fazer coisas por obrigação, não estou a serviço do meu Ser. A mudança ainda está na mente e não na força do coração. 6- Quando uma pessoa nota que está trabalhando para elevar ou melhorar um aspecto da sua vida, observa também que há uma estrutura interna que se opõe permanentemente a esta melhora. Entender não ajuda muito. O processo terá que ser facilitado dentro da estrutura da pessoa. Esta estrutura interna que se opõe rouba todas as qualidades de supervivência, rouba a capacidade de pensar, de intuir, de sentir, de estabelecer relações e toda a habilidade que possui é utilizada a serviço de manter esta estrutura. 7- Somos educados com crenças, mandatos, estruturas religiosas e da família, valores etc. (90% destas informações são gravadas na mente). Desta maneira, o Ser, através da educação, termina se identificando com a mente (quando o Ser se identifica com a mente, se forma o Ego). Temos pânico de mudar porque sentimos ameaçada a nossa existência. Preferimos não mudar e continuar infeliz, pois não temos prova de que a mudança será melhor, preferimos não correr este risco. Mudança é romper o script’. Devemos confrontar o nosso processo, mas não devemos nos sentir obrigados a mudar. Se a mente percebe que alguma coisa (crença, idéia, Biodanza etc.) ameaça o script que ela já decidiu, ela lê isso como um perigo mortal, se utilizando dos seus recursos para evitar esta ameaça. 8- O importante não é entender, é vivenciar. Entender é secundário. Desta vivência se retira uma nova idéia, sacando mais habilidade, expandindo sua capacidade, podendo recriar um contexto novo para poder viver de outro modo. Para a Ecologia Humana, entender é prêmio dos tolos. 9- Nós temos dois sistemas, um ‘OK’ e um ‘Não OK’. Desta maneira, nós temos duas mentes distintas: Mente Efeito (‘Não OK’) e a Mente Causa (‘OK’). Falando de uma maneira muito didática, nós temos um sistema formado por estruturas de crenças condutas e reações corporais que são controladas pelo que nós chamamos de Mente Efeito. A característica fundamental da Mente Efeito é que ela é reativa, isto é, atua sem pensar, funciona de maneira compulsiva, de maneira direta. Ela não avalia o que está acontecendo, não tem critério de realidade.

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A Mente Causa funciona de maneira analítica, dentro da realidade atual, no tempo presente. 10- Quando uma pessoa fica dissociada ou afastada de sua estrutura emocional, aos poucos se transforma em inimiga dela mesma. 11- A couraça que solidifica uma pessoa pode lhe dar mais segurança, porém menos vitalidade. Eu tenho que me atrever a atravessar meu script, minhas perdas, meu caos, para poder alcançar um novo nível. Posso afastar-me de evoluir e couraçar-me num lugar sólido por estar mais seguro, porém irei viver menos, ainda que dure mais. A vida é risco ou segurança: quando é segurança, é uma vida estagnada, quando é movimento é uma vida em ascensão. 12- No processo de comunicação, principalmente nas áreas organizacionais, educacionais, psicoterapêuticas e familiares, o fenômeno de ‘Ter Razão’ é o fator de maior destrutividade para a comunicação. Quando vemos que duas pessoas estão lenta e vagarosamente destruindo sua relação, que tudo aquilo que foi afeto, carinho, reconhecimento, começa a se quebrar, podemos assegurar que o ‘Ter Que Ter Razão’, está destruindo a relação dessas pessoas. Para poder compreender isso, temos que compreender que ‘Ter Razão’, pode ser de dois tipos: • Acreditar que tenho razão e não tenho. • Acreditar que tenho razão e realmente tenho.

Para o processo de destruição, é secundário que eu tenha razão ou não. O que é prioritário é que eu exerça isto para obrigar o outro a submeter-se à razão que eu tenho. Quando uma pessoa cria a insegurança no outro, está permanentemente mostrando falhas reais ou inexistentes no outro. Muitas vezes, terminamos destruindo toda a comunicação por exercer o péssimo direito de ‘Ter Que Ter Razão’. Obs.: No processo de relação grupal, principalmente num grupo iniciante, os conflitos são inevitáveis, podendo atrapalhar o crescimento do grupo. Este dado sobre o ‘Ter Razão’, foi bastante útil num momento no qual as pessoas tiveram dificuldade de aceitar “o diferente”.

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DEFINIÇÃO DAS FOMES BÁSICAS

A Ecologia Humana fala sobre as Fomes Básicas. Fome é a necessidade de tempo presente. Quando a fome é satisfeita verdadeiramente, sentimos prazer. Do contrário, apenas nos sentimos tranqüilos. As fomes básicas revelam a motivação essencial de todas as ações que naturalmente tendem a preservar a vida humana na superfície do planeta. Todo ser humano tem uma necessidade intrínseca de satisfazer estas Fomes Básicas. Quando o contato com a interioridade flui, é natural que se sinta o desejo e o pulso para, através de suas ações e suas relações, buscar satisfazer, em cada momento de sua existência, a fome que está em jogo. Estar em supervivência (viver o máximo do tempo no máximo do seu potencial) é a habilidade de satisfazer as Fomes Básicas. Estar fora de Ética é quando a pessoa faz de tudo e as suas fomes não estão sendo satisfeitas. Fome de Alimento: determina a motivação para buscar unidades de Carbono, Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio, minerais, vitaminas etc., para manter o crescimento, funcionamento e satisfação do corpo físico. Fome de Estímulos: determina a motivação de buscar ser tocado pelos estímulos do meio como, luz, som, calor, pressão. Fome de Carícias: determina a motivação de satisfazer em qualidade, quantidade e freqüência, aceitando, permitindo, compartilhando só carícias pró-vida; que preservem, desenvolvem a inteligência, a auto-estima e a autonomia. Fome de Reconhecimento: determina a motivação de manter uma relação com indivíduos ou grupos, no quais seja reconhecido pelo que se É, e não pelo que se tem (sobrenome, dinheiro, fama, status etc.). Fome de Pertencer: determina a motivação de tomar parte de uma relação com indivíduos ou grupo, nos quais seja reconhecido pelo que se É, a não somente pelo que se faz (pagar contas, ajudar, trabalhar, cumprir etc.). Fome de Estruturação do Tempo: determina a motivação de ter uma intenção clara, um objetivo básico formulado projetado no futuro, sem que isso implique envolver a auto-estima. Fome de Sair da Rotina: determina a motivação de buscar ser envolvido por estímulos do meio ambiente no qual se produz ou se move cotidianamente, como interesse, entusiasmo, compromisso, afinidade.

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Fome de Criatividade: determina a motivação de encontrar novas respostas para velhos problemas, ou de encontrar novos problemas em antigas situações. Fome de Transcendência: determina a motivação de saber-se parte do Universo, de sentir quer a própria vida tem sentido. Fome de Produtividade: determina a motivação de poder criar ou produzir algo que seja produto do nosso esforço, criatividade ou amor (uma idéia, um livro, um filho etc.). Fome de Amor: determina a motivação de criar condições de amar e ser amado, e manter um espaço seguro onde seja querido pelo que É, na medida em que também possa querer ao outro pelo que É. Fome de Altruísmo: determina a motivação de permitir-se o prazer de cooperar com os semelhantes diante de seus problemas e desgraças. Fome de Preservação do Ecossistema: determina a motivação de preservar a existência e supervivência do meio ambiente, em mútua interação e intercâmbio, em prol da sobrevivência da própria vida. Fome de Transformação: determina a motivação de mudar ou de transformar-se, através da perda, das crises e do caos, com a intenção de escalar um nível de existência cada vez mais alto.

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EXERCÍCIOS DE BIODANZA CORRELACIONADOS A ECOLOGIA HUMANA

Meu objetivo é mostrar como a Biodanza trabalha as Fomes Básicas. Escolhi 14 exercícios-chave, cada um relacionado com uma fome, de acordo com o nível do grupo. Fome de Alimento Exercício-chave: Cerimônia das frutas. Fome de Estímulos Exercício-chave: Encontro de contato mínimo. Fome de Carícias Exercícios-chave: Acariciamento sensível do corpo. Fome de Reconhecimento Exercício-chave: Em roda, cada um falar o positivo do outro. Fome de Pertencer Exercício-chave: Ninho Ecológico. Fome de Estruturação de Tempo Exercício-chave: Caminhar com determinação. Fome de Incidentes Exercício-chave: Dançar no meio da roda convidando um par. Fome de Criatividade Exercício-chave: Dança dos Animais. Fome de Transcendência Exercício-chave: Túnel do Tempo. Fome de Produtividade Exercício-chave: Você é o Poema. Fome de Amor Exercício-chave: Pedir Amor. Fome de Altruísmo Exercício-chave: Continente Afetivo. Fome de Preservação do Ecossistema Exercício-chave: Eutonia Grupal. Fome de Transformação Exercício-chave: Dança de Shiva.

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O GRUPO

Esse grupo teve um começo atípico, porque depois de algumas aulas abertas iniciei o grupo regular com três homens. Ficamos um mês assim; após o segundo mês foram chegando as mulheres. Trabalhei alguns meses com cinco, seis pessoas. E quando resolvi começar a pesquisa, o grupo estava formado da seguinte maneira:

Mulher – Médica - 43 anos Mulher – Médica - 39 anos Mulher – Advogada - 50 anos Mulher – Fonoaudióloga - 41 anos Mulher – Empresária - 45 anos Homem – Arquiteto - 47 anos Mulher – Ecotoxologista - 47 anos Mulher – Professora - 39 anos Mulher – Jornalista - 25 anos Homem – Médico - 53 anos

A maioria das pessoas deste grupo não conhecia a Biodanza, no início senti que estavam bastante desconfiadas, um pouco assustadas com o fato de poder entrar em contato com as suas emoções, com medo do que isso acarretaria nas suas vidas. Com o caminhar das aulas e, principalmente depois que comecei este trabalho com as Fomes Básicas e exercícios-chave correspondentes, fui sentindo uma melhora significativa no grupo. Sinto as pessoas mais unidas, afetivas, se expondo mais, se comunicando fora do grupo. Enfim, se concretizou a Matriz Grupal.

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CONCLUSÃO

Em Biodanza, a Ecologia Humana seria: “O Ser Humano funcionando como Ecofator-Positivo, para si mesmo e para o outro”. A vivência de Ecologia Humana é poder sentir toda a humanidade como irmãos. Acreditando no potencial amoroso de cada um, com coragem, optei por trabalhar com intensidade a linha da afetividade. O grupo não pode crescer se não tem proteção, nutrição, aconchego, liberdade, aceitação. “O primeiro ambiente que se vive é o ser próprio” (Sanclair Lemos). Ficou bastante claro que o desafio maior é possibilitar a um grupo iniciante (que chega com tanta defesa, descrença, repressão, com a vida sucumbindo) poder funcionar como Ecofator-Positivo. O processo de defesa exacerba o controle do córtex, inibindo as funções hipotalâmicas, dificultando assim a vinculação afetiva. A pessoa quando está apenas sobrevivendo, fica cortical e deixa de satisfazer as suas fomes básicas. É importante usar os instrumentos adequados, considerando o perfil do grupo, para atingir o objetivo. Percebi que trabalhando com as Fomes Básicas e os Exercícios-Chave, seguindo uma progressividade em relação à linha da Afetividade, finalmente se construiu a Matriz de Renascimento. Concluí que, dependendo da conspiração do Universo, encontramos, em várias partes do mundo, pessoas preocupadas (ou envolvidas) com o mesmo tema, às vezes usando caminhos diferente. Prova disso foi, por exemplo, a grande surpresa de Picasso ao chegar em casa de Miró e perceber que eles estavam trabalhando em quadros quase idênticos.

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BIBLIOGRAFIA

_ TORO, Rolando – Teoria de Biodanza, Coletanea de Textos Tomo I e II – Associação Latino Americana de Biodanza, 1992. _ Notas de Aulas do Curso de Didatas, ministrado por Rolando Toro. _ TÁPIA, Juan José – “O Prazer de Ser” – Ed. Gente. _ TÁPIA, Juan José – “Viva Bien... O Muérase! – Manual de Ecologia Humana”. Distribuidora y Editorial OKEIDAD. _ ROGERS, Carl R. – “Tornar-se Pessoa” – Ed.Martins Fontes. _ Notas de Aulas do Curso de Formação em Ecologia Humana, ministrado por Juan José Tápia. _ SAMS, Jamie – “La Medicina de la Tierra” – Ed. Integral. _ LOWEN, Alexander – “Prazer – Uma Abordagem Criativa da Vida” – Summus editorial. _ GAIARSA, José Angelo – “Sobre uma Escolha para o Novo Homem” – Ed. Gente. _ FERREIRA, José Hamilton – “De Corpo e Alma” – Ed. Olavobrás.