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1 ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PLANO MONOGRÁFICO A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR PARA O CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE Porto Alegre 2008

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PLANO MONOGRÁFICO

A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE

AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR PARA O

CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE

Porto Alegre

2008

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JOANA BOESCHE TOMAZELLI

A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO

ALIMENTAR PARA O CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

ORIENTADOR: Profª. Marise Mainieri de Ugalde

Porto Alegre

2008

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Envolvimento e tipos de tomada de decisão....................................................................... 22

Figura 02 – Estágios do Processo Decisório de Compra ...................................................................... 23

Figura 03 – Hierarquia das Necessidades segundo Maslow ................................................................. 25

Figura 04 – Três etapas de compra ....................................................................................................... 28

Figura 05 – Modelo geral do comportamento do consumidor .............................................................. 32

Figura 06 – Processamento de informação para a tomada de decisão do consumidor.......................... 33

Figura 07 – A visão behaviorista de aprendizagem .............................................................................. 34

Figura 08 – Por que as pessoas compram?............................................................................................ 35

Figura 09 – Valores, normas, sanções e padrões de consumo .............................................................. 38

Figura 10 – Os cinco fluxos do varejo..................................................................................46

Figura 11 – Classificação das instituições varejistas .............................................................48

Figura 12 – Gráfico Avaliação dos sentidos humanos na percepção .....................................57

Figura 13 – Modelo conceitual do processo de compra com base nas percepções do ambiente60

Figura 14 – Visão estratégica do ambiente de varejo ............................................................61

Figura 15 – Fatores que influenciam a escolha de alimentos.................................................74

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Tipos de subculturas ........................................................................................39

Quadro 02 – Principais características dos formatos de loja .................................................49

Quadro 03 – ECR ................................................................................................................53

Quadro 04 – Síntese dos elementos que compõem o ambiente do varejo..............................68

Quadro 05 – Comparação entre o idoso da nova era e o idoso tradicional.............................71

Quadro 06 – Síntese dos elementos que compõem o ambiente de varejo ..............................85

Quadro 07 – Caracterização dos respondentes......................................................................91

Quadro 08 – Caracterização dos consumidores ....................................................................91

Quadro 10 – Características do consumidor da terceira idade sob a ótica dos operadores de

varejo de auto-serviço alimentar............................................................................................98

Quadro 11 – Síntese dos elementos que compõem os fatores de design presentes no ambiente

de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idade ...108

Quadro 12 – Síntese dos elementos que compõem os apelos sensoriais presentes no ambiente

de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idade ...112

Quadro 13 – Síntese dos elementos que compõem os fatores-sociais presentes no ambiente de

varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idade........115

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................8

2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA...............................................................................10

2.1 SITUAÇÃO PROBLEMA ......................................................................................... 11

2.2 JUSTIFICATIVA....................................................................................................... 17

3 OBJETIVOS.....................................................................................................................19

3.1 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................19

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 19

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................20

4.1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .............................................................. 20

4.1.1 Processo Decisório de Compra ............................................................................ 21

4.1.3.1 Influências Internas........................................................................................... 32

4.1.3.2 Influências Externas.......................................................................................... 37

4.2 VAREJO.................................................................................................................... 43

4.2.1 Funções do Varejo............................................................................................... 44

4.2.2 Formatos Varejistas ............................................................................................. 47

4.3 AMBIENTE DE LOJA DE VAREJO......................................................................... 55

4.3.1 Design ................................................................................................................. 62

4.3.2 Ambiente............................................................................................................. 64

4.3.3 Fatores Sociais..................................................................................................... 66

4.4 CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE.................................................................. 69

4.4.1 Identificando o Consumidor da Terceira Idade..................................................... 69

4.4.2 Adaptando-se ao Consumidor da Terceira Idade .................................................. 71

4.4.3 Comportamento Alimentar do Consumidor da Terceira Idade.............................. 73

4.4.4 O Crescimento e o Potencial de Consumo do Segmento da Terceira Idade........... 74

5 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA..............................................................................19

5.1 TIPO DE ESTUDO.................................................................................................... 77

5.2 VERTENTE DA PESQUISA..................................................................................... 78

5.3 TÉCNICA DE COLETA............................................................................................ 79

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5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA............................................................................... 84

5.5 GRUPO DE RESPONDENTES ................................................................................. 86

5.6 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................................. 88

6 RESULTADOS ............................................................................................................90

6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES ........................................................ 90

6.2 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR

SOB A ÓTICA DOS EXPERTS ....................................................................................... 91

6.2.1 A Ambientação da Loja de Varejo como Vantagem Competitiva Sob a Ótica dos

Experts ......................................................................................................................... 94

6.3 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO SOB A ÓTICA DOS OPERADORES

DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR ........................................................ 95

6.3.1 Características do Consumidor da Terceira Idade Sob a Ótica dos Operadores de

Varejo de Auto-serviço Alimentar................................................................................ 97

6.4 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR

SOB A ÓTICA DO CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE........................................ 99

6.4.1 Síntese dos Elementos que Compõem o Ambiente de Varejo com Loja de Auto-

serviço Alimentar Sob a Ótica do Consumidor da Terceira Idade ............................... 115

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................117

REFERÊNCIAS............................................................................................................117

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RESUMO

O ambiente de loja vêm merecendo maior atenção por parte dos estudiosos de

marketing, uma vez que a compreensão acerca da sua influência no processo decisório do

consumidor permanece sendo um desafio, tanto no âmbito acadêmico, como empresarial. A

partir das evidências teóricas que demonstraram que a ambientação da loja de varejo pode

moldar o comportamento dos clientes, este estudo buscou investigar a sua influência na

percepção e atitude do consumidor da terceira idade. Para isso, foi realizada uma pesquisa de

natureza qualitativa, na qual foram reunidos os fatores de design, os apelos sensoriais e os

fatores sociais que contemplam o ambiente de loja. Tendo como foco a loja de varejo de auto-

serviço alimentar, a análise de conteúdo das entrevistas em profundidade realizadas com

experts em projetos de ambientação de loja e com operadores de varejo, bem como a análise

de conteúdo do grupo focal realizado com os consumidores da terceira idade resultaram em

insights que favoreceram o entendimento da influência da ambientação da loja no processo

decisório do mercado da terceira idade. As implicações acadêmicas e gerenciais dos

resultados da pesquisa, bem como as limitações e sugestões de possíveis pesquisas que

surgiram com a consolidação deste estudo apresentam-se no último capítulo do trabalho.

Palavras-chave: Comportamento do consumidor. Processo decisório de compra. Varejo.

Ambiente de loja. Marketing. Terceira Idade.

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ABSTRACT

The store environment has been deserving more attention from marketing

scholars, since the understanding about its influence in the decision-making process for

consumers remains a challenge, both within academic, and business environments. From the

theoretical basis of the evidence that showed that the retail store environment can shape the

behavior of customers, this study seeks to investigate its influence on consumer perceptions

and attitudes of the elderly. For this, a research of a qualitative nature was conducted,

bringing together the factors of design, sensory appeal and social factors that reflect the retail

shop environment. Focusing on the outbreak of self-service food retail stores, analyzing the

content of in-depth interviews conducted with retail store environment experts and retailers,

as well as the analysis of focus groups conducted with elderly consumers, this research

resulted in insights that promoted the understanding of the influence of the store environment

in the decision-making process of the senior citizen market. The academic and managerial

implications of the research results, as well as the limitations and suggestions of possible

additional research that have arisen with the consolidation of this study are presented in the

last chapter of this work.

Keywords: Consumer behavior. Decision-making buying process. Retail. Store environment.

Marketing. Seniors.

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1 INTRODUÇÃO

Situado no campo do comportamento do consumidor, este trabalho monográfico

de conclusão de curso tem por finalidade obter respostas relacionadas ao segmento da terceira

idade. A fim de investigar a influência dos fatores ambientais de loja no processo decisório do

consumidor idoso, o cenário estabelecido para o seu desenvolvimento conta com o varejo de

auto-serviço alimentar.

A visão geral sobre esta pesquisa científica é apresentada no capítulo dois, no qual

são abordados o problema de pesquisa e a justificativa para a escolha do tema. Ao explorar a

evolução e a situação atual do promissor segmento da terceira idade, esta fase inicial

estabelece o foco e os limites da pesquisa e apresenta a perspectiva sob a qual se pretendeu

tratar o problema. Para tornar claro ao leitor o que se desejou investigar em relação ao tema

apresentado, no capítulo três encontram-se os objetivos do estudo. Subdivididos em geral e

específicos, estes são compostos por perguntas-chave cujas respostas encontram-se no último

capítulo do trabalho.

A revisão teórica aborda, inicialmente, os principais estágios e características que

compõem o processo decisório de compra. Também são descritos os fatores internos e

externos intervenientes na tomada de decisão dos consumidores. Responsáveis por uma

parcela significativa de influência na decisão de compra, os fatores ambientais de loja de

varejo são explanados na fundamentação teórica, detalhadamente, em um tópico único.

Na sequência, a literatura é revisada com o objetivo de apresentar a importante

função mercadológica do varejo. Além dos seus principais formatos, buscou-se analisar, com

maior ênfase, o formato varejista de auto-serviço alimentar, comumente conhecido como

supermercado, o qual representa o cenário desta pesquisa.

Intimamente ligados ao varejo, a seguir são considerados os fatores ambientais de

loja e a sua influência no comportamento do consumidor. Para um melhor embasamento,

também é exposta uma análise sobre os cinco sentidos humanos, os quais permitem aos

indivíduos perceber o ambiente e as variáveis que nele se encontram, de modo que percepções

positivas e negativas são geradas por parte de cada ser humano.

A etapa que encerra a fundamentação teórica aborda o consumidor idoso. Nesta

seção do trabalho encontram-se as informações atualmente disponíveis a respeito do segmento

da terceira idade, onde além do seu potencial de consumo são apresentadas as suas

características enquanto consumidores. Julgou-se necessário, ainda, revisar o comportamento

alimentar deste público, já que a investigação envolve também a compra de alimentos.

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Finalizada a revisão teórica, no quinto capítulo são descritas as etapas e técnicas

utilizadas na estratégia metodológica desenvolvida para o alcance dos objetivos da pesquisa.

No intuito de compreender o ponto de vista de quem projeta, de quem opera e de quem

consome, foi desenvolvido um estudo de cunho exploratório através de pesquisa de natureza

qualitativa. Assim, dados foram obtidos junto a três públicos distintos: experts em

ambientação de loja; operadores de varejo de auto-serviço alimentar e consumidores da

terceira idade. Entrevistas em profundidade foram aplicadas nos dois primeiros públicos,

enquanto um grupo focal contou com os consumidores da terceira idade.

Ao término da apresentação da estratégia metodológica, o sexto capítulo apresenta

a análise e discussão dos resultados, incluindo-se aí quadros-resumo que sintetizam os

achados da investigação. Sendo um alicerce para a construção de um referencial para estudos

futuros, o cunho qualitativo favoreceu a pesquisadora nas sugestões de novos estudos. Por

fim, no sétimo capítulo estão expostas as conclusões, limitações e sugestões de novas

pesquisas a partir desta investigação.

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2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

2.1 SITUAÇÃO PROBLEMA

As necessidades humanas são a base de todo o marketing moderno, onde o

sucesso de qualquer empresa está na sua habilidade de conhecer e satisfazer as necessidades e

desejos dos consumidores, melhor e antes que a concorrência os faça (SCHIFFMAN;

KANUK, 2000). Revela-se, assim, a importância da investigação de como os segmentos

diferem do todo e de qual é a melhor estratégia para atendê-los, considerando suas

necessidades singulares e oferecendo produtos e serviços projetados especialmente para esse

grupo específico (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

A segmentação de mercado não é uma questão nova e dentre os diversos

segmentos que compõem o universo de consumidores, destaca-se o grupo da terceira idade.

Este público está se tornando um contingente respeitável de consumidores, tanto pelo ponto

de vista populacional, como também econômico. Porém, tratando-se dos adultos maduros,

poucas ainda são as informações que o meio empresarial tem sobre o seu comportamento,

necessidades e desejos. Somente um número reduzido de varejistas não está ignorando o

poder de compra significativo dos consumidores idosos. Esta problemática crescente

evidencia a importância da identificação dessas evoluções que atingem toda a sociedade

(FARIAS; SANTOS, 2000).

Entre os estudiosos há pouco consenso a respeito da idade cronológica que

caracteriza o consumidor que passa a integrar o mercado da terceira idade (BONÉ, 1991).

Afinal, considerar apenas um indicador para definir o segmento dos consumidores maduros é

insuficiente, quando o objetivo é um aprofundamento na investigação das características

comportamentais gerais deste grupo (MOSCHIS, 1992). Entretanto, sob aspectos práticos,

esse indicador funciona como um facilitador na escolha dos indivíduos a serem pesquisados

em estudos desta natureza (FARIAS; SANTOS, 2000).

Em face do exposto, este trabalho segue os critérios adotados pela Organização

das Nações Unidas (ONU), a qual define, em relação aos países desenvolvidos, 65 anos como

idade de transição para o segmento idoso da população. No caso dos países em

desenvolvimento, o ponto de corte em 60 anos é estabelecido para definir um indivíduo como

pertencente ao grupo da terceira idade. Ainda nessa linha, a Organização Mundial da Saúde

(OMS) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) definem que a fase inicial do

envelhecimento surge a partir dos 60 anos de idade.

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Conforme o IBGE (2005), globalmente estima-se que, em 2050, 2 bilhões de

pessoas irão pertencer à terceira idade, o que fará com que a idade média da população

mundial cresça consideravelmente nos próximos 45 anos, passando de 26 para 37 anos.

Schiffman e Kanuk (2000) apontam que mais de 30 milhões de americanos

integram o grupo etário de pessoas de 65 anos ou mais, o que representa 12% da população do

país e que, de acordo com Solomon (2002), ultrapassa toda a população do Canadá, tornando-

se o segundo segmento que cresce com maior rapidez nos Estados Unidos. Estima-se que esse

número dobre nos próximos 50 anos, assim, em 2050 o segmento da terceira idade constituirá

certa de 20% da população americana (SCHIFFMAN; KANUK, 2000).

O Brasil, segundo o Relatório das Projeções Populacionais concluído pela ONU,

em dezembro de 2004, pertence ao grupo dos 10 países com maior número de pessoas com 60

anos ou mais, que juntos correspondem a 62% da população idosa mundial. Ainda, de acordo

com a Revisão do IBGE (2004), com base no Censo 2000, o Brasil possui atualmente um total

de 14.536.029 idosos e, para 2025, as projeções populacionais indicam que esse número irá

ultrapassar os 30 milhões, vindo a representar 18% da população brasileira. Desta forma, a

população envelhece no momento em que a taxa de crescimento da população idosa é maior

que a de uma população considerada mais jovem, num determinado período (IBGE, 2002).

Focando no Rio Grande do Sul, Estado onde foi desenvolvida esta pesquisa, com

base no Censo 2000, o IBGE indica 72,05 anos para a expectativa de vida dos gaúchos ao

nascer. Comprovando este dado, Porto Alegre é apontada como a segunda Capital brasileira

com o maior número de idosos em percentual, contabilizando 11,8% (IBGE, 2000).

O estilo de vida mais saudável, os melhores diagnósticos e tratamentos médicos e

o resultante aumento da expectativa de vida explicam o rápido crescimento do segmento da

terceira idade (SOLOMON, 2002). A Pesquisa Tendências Demográficas, divulgada em maio

de 2007, pelo IBGE, constata que em 60 anos os brasileiros passaram a ter uma expectativa de

vida quase 30 anos maior. Estatisticamente comprovou-se que, em 1940, a expectativa de vida

da população era de 42,7 anos, alcançando os 70,4 anos em 2000. Ainda segundo esta

pesquisa, mais uma demonstração de que a população brasileira envelheceu pode ser

verificada na faixa de 15 a 19 anos que elevou sua proporção de 53% para 61,8% nesse

período.

Além do aumento da longevidade, o crescente número de idosos compondo a

população brasileira é obtido como consequência da queda da taxa de fecundidade. Para

considerar esta informação, têm-se os dados estatísticos da Pesquisa Tendências

Demográficas (IBGE, 2007), que identificou a gradativa redução do número de filhos por

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mulher. No ano de 1940 as mulheres entre 15 e 49 anos tinham em média 6,2 filhos. Em

2000, passaram a ter, em média, 2,3 filhos. Já no ano de 2006, das 32,7 milhões de mulheres,

30,9% eram mães de apenas um filho, 33,3% de dois filhos e, por fim, 35,8% de três filhos ou

mais.

A longevidade e a queda da taxa de fecundidade estão, portanto, aumentando de

forma progressiva, o que contribui para que os adultos maduros, muitas vezes, permaneçam

no mercado de trabalho mesmo após a aposentadoria, usualmente para complementar a renda

(HERZOG, 2001). Conforme estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,

2000), os brasileiros com mais de 60 anos vivem, atualmente, em condições econômicas

melhores que os jovens, possuindo rendimentos consideravelmente mais altos. Além da

atuação no mercado de trabalho, esta alteração econômica que proporciona melhor renda

modificou a função do idoso na família, tornando-o independente e com frequente

participação no orçamento familiar.

A análise dos resultados da amostra dos Indicadores Sociais Municipais, com base

no Censo Demográfico 2000, divulgada pelo IBGE (2004), mostra que, no Brasil, 27% dos

idosos são responsáveis por mais de 90% do rendimento familiar. Através da distribuição por

número de habitantes constatou-se que cerca de 35% dos idosos que vivem nos municípios

com até 20 mil habitantes contribuem com 30 a 50% do rendimento familiar mensal, enquanto

nos municípios com mais de 500 mil habitantes verificou-se a queda desse percentual para

17%.

Os fatores demográficos e econômicos apontados constatam que a terceira idade,

além de tornar-se um segmento de consumidores cada vez mais respeitável, também trata-se

de um conjunto bastante elevado de pessoas com disponibilidade de renda para o consumo.

Assim, ao identificar o adulto maduro com melhores condições de vida e como potencial

contribuinte no ciclo econômico familiar, é possível considerar seu significativo poder de

compra e capacidade de consumo. Conforme a situação exposta, até então, o idoso é um ser

humano com plena capacidade para consumir qualquer produto, tanto fisiológica quanto

economicamente (IBGE, 2005).

De acordo com o IPEA (2004), pode-se constatar que os idosos economizam

durante a vida para garantir o seu bem-estar na transição para esta nova etapa. No entanto,

Solomon (2002) afirma que em muitas categorias de produtos os gastos dos adultos maduros

são ainda maiores do que dos demais grupos de idade, proporcionalmente.

O comportamento de consumo do idoso é tido como resultado de um processo de

envelhecimento e de experiências através do espaço de vida, o qual é diferente para cada

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pessoa em consequência da dinâmica da história e de contextos culturais que envolvem os

seres humanos. No entanto, não se pode afirmar que as pessoas com idades semelhantes

tenham as mesmas experiências ou passem pelo mesmo processo de envelhecimento

(MOSCHIS, 1992).

Para uma melhor compreensão, Moschis (1992) cita três tipos de perspectivas de

envelhecimento que devem ser consideradas no estudo do comportamento do consumidor da

terceira idade. De modo geral, estas perspectivas referem-se ao envelhecimento biológico,

psicológico e sociológico, as quais, segundo o autor, podem redefinir as necessidades e

prioridades de consumo dos indivíduos na vida madura.

Conforme Spirduso (2005), com a idade, gradativamente acontecem deteriorações

relacionadas aos cinco sentidos, as quais causam mudanças no desempenho, mobilidade e

capacidade física do ser humano. Desta forma, Engel et al (2000) explicam que os produtos

destinados ao mercado maduro devem respeitar três critérios fundamentais: conveniência,

segurança e conforto, assim, o consumidor da terceira idade estará menos vulnerável a correr

riscos físicos, sociais e financeiros.

Além dos aspectos fisiológicos, os aspectos psicológicos afloram no

comportamento de compra dos indivíduos. Nesse sentido, no que se refere às questões

emocionais que envolvem o processo decisório de compra, Ugalde (2005) defende que os

consumidores maduros apresentam particularidades em relação aos compradores mais jovens.

Para Boné (1991, p.47), “eles tendem a usar produtos e serviços que enriqueçam as suas

vidas, habilite-os a se conectarem com os outros e os ajudem a apreciar a beleza do seu

mundo”.

O consumo dos indivíduos está diretamente relacionado ao meio em que vivem e

as influências que recebem (SOLOMON, 2002). As dificuldades enfrentadas pelo consumidor

idoso podem influenciar negativamente suas perspectivas psicológicas e sua interação social.

Portanto, devido as suas características singulares, o consumidor da terceira idade merece

tratamento diferenciado como, por exemplo, um ambiente apropriado que facilite o acesso a

determinados produtos e se adapte as suas limitações físicas proporcionando-lhe, assim, maior

conforto (GALLAHUE, 2003).

Nesse contexto, tratando-se do consumo dos indivíduos, destaca-se a compra de

alimentos, pelas razões óbvias de que o ser humano precisa satisfazer diariamente suas

necessidades básicas de sede e fome. Dessa forma, o varejo desempenha importante função no

abastecimento alimentar das populações.

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Componente dos sistemas de distribuição entre produtor e consumidor, Parente

(2000) explica que o varejo consiste na atividade econômica relevante de trazer ao

consumidor os produtos de sua origem, seja ela a indústria ou a própria agricultura. De acordo

com dados do IBGE (2005), devido à sua proximidade com o consumidor final, o varejo é

considerado um dos mais importantes elos da cadeia de distribuição. No Brasil, o comércio

varejista total congrega mais de 1,2 milhões de estabelecimentos e emprega 5,5 milhões de

pessoas.

Para suprir os mais singulares gostos, bem como a capacidade de compra em

termos financeiros, o varejo alimentício com lojas dispõe de diversos formatos, tais como

mercearias, bares, padarias, minimercados, lojas de conveniência, superlojas, hipermercados e

supermercados (PARENTE, 2000).

O cenário escolhido para a realização deste estudo é o auto-serviço alimentar, cujo

formato varejista com maior destaque é o supermercado, define Parente (2000). Segundo a

Pesquisa Nacional de Consumidores da LatinPanel, publicada em maio de 2007 na revista

SuperHiper, da média de quatro vezes que o consumidor vai aos supermercados, três delas

destinam-se à compra de alimentos. Conforme a Pesquisa Ranking Abras, realizada em

parceria com a ACNielsen e também publicada em maio de 2007 na revista SuperHiper, em

2005 o auto-serviço alimentar brasileiro faturou, em valor nominal, o montante de R$ 106,4

bilhões, atingindo 7,8% em relação ao ano anterior. Além disso, o setor é considerado um dos

maiores empregadores do País, sendo que em cinco anos sua participação aumentou em mais

de 90 mil postos de trabalho.

No Brasil, a maior participação do setor supermercadista encontra-se na Região

Sul, com cerca de 20% do faturamento, aproximadamente 27% das lojas e 22% dos

funcionários. Com o aumento de 37,9% no número de lojas durante o período de 2001 a 2005,

o Rio Grande do Sul, Estado onde este trabalho será realizado, ampliou em 51,2% este

montante (ABRAS, 2007).

Importante referência de consumo, o setor supermercadista foi reconhecido

legalmente somente em 13 de novembro de 1968, com a instituição da Lei 7208. Essa

legislação definiu alguns requisitos para que os estabelecimentos pudessem ser considerados

supermercados. Com base na área de vendas por metro quadrado, quantidade aproximada de

check-outs, número médio de itens e seções, os supermercados são classificados em três tipos:

compactos, convencionais e grandes (UGALDE, 2005).

Intimamente ligado ao formato varejista encontra-se o ambiente de loja

(TURLEY; CHEBAT, 2002). Em concordância, Blackwell, Miniard e Engel (2005) e

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Hawkins, Motherbaugh e Best (2007) afirmam que dependendo da situação na qual o

consumidor se encontra no ato da compra, suas reações e o seu comportamento podem se

tornar consideravelmente diferentes. Assim, Donovan e Rossiter (1994) explicam que o prazer

induzido pelo ambiente de loja pode ser um fator essencial para que os consumidores

permaneçam mais tempo na loja e comprem mais do que o pretendido.

Conforme Espinoza, D’angelo e Liberali (2005), há décadas profissionais de

Marketing vêm produzindo inúmeros trabalhos a respeito dos impactos da atmosfera de varejo

sobre o consumidor. Costa (2002) explica que o ponto-de-venda torna-se uma ferramenta

promocional e de venda tão importante quanto as campanhas publicitárias e as ações

promocionais para promover e tornar conhecida a marca do produto.

Nos últimos anos, as empresas varejistas vêm, cada vez mais, realizando esforços

para proporcionar ao seu público-alvo ambientes de loja mais agradáveis à sua experiência de

consumo (COSTA, 2002), afinal, envolvem condições que afetam os cinco sentidos humanos

(ZEITHAML; BITNER, 2003). Desta forma, algumas empresas utilizam-se da atmosfera de

loja para criar vantagem competitiva (TURLEY; CHEBAT, 2002).

Para definir o ambiente de loja, Turley e Chebat (2002) propõem um modelo que

estabelece cinco categorias: exterior, ou seja, tamanho e forma da loja, fachada,

estacionamento e vizinhança; interior geral, o qual inclui iluminação, música, cores, odores,

temperatura e limpeza; layout e design, considerando-se o fluxo de pessoas, agrupamento de

produtos, móveis e disposição dos check-outs; decoração e material de ponto-de-venda, que

correspondem aos displays e quiosques; e, por fim, fatores humanos, dentre os quais se

destaca, segundo Baker, Grewal e Parasuraman (1994), a quantidade de profissionais

existentes, o uso de uniformes, boa aparência, higiene, educação e cortesia.

Dentre os mais recentes modelos desenvolvidos para verificar o impacto do

ambiente de loja sobre os consumidores encontra-se, também, o proposto por Baker et. al.

(2002). Publicado no Journal of Marketing (2002), o esquema integra três dimensões que

influenciam a percepção do consumidor: fatores sociais, restringindo-se à percepção dos

funcionários da loja; ambientais, que neste caso compreendem a percepção da música na loja;

e fatores de design que, baseando-se na explicação de Costa (2002), facilita o reconhecimento

cognitivo do indivíduo no que se refere à organização da loja, podendo auxiliar ou dificultar a

atividade de busca dentro do estabelecimento. Contudo, a intenção de escolha de uma loja é

consequência da percepção de qualidade de serviços, de custos de tempo e esforço, de custos

psíquicos e da percepção de valor das mercadorias, considerando que esta corresponde à

junção das percepções de preço monetário e de qualidade de produtos (BAKER et al., 2002).

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A partir deste cenário torna-se clara a necessidade da adequação e preparação da

sociedade brasileira para enfrentar, com soluções eficientes, as demandas que envolvem este

segmento com ritmo de evolução acima da velocidade de crescimento da população total e

das demais faixas etárias (IBGE, 2005).

Em face do exposto, evidencia-se o seguinte problema de pesquisa: como se dá a

influência da ambientação da loja de varejo de auto-serviço alimentar no processo

decisório do consumidor da terceira idade?

2.2 JUSTIFICATIVA

Além do progressivo envelhecimento da população mundial, o segmento da

terceira idade é considerado um mercado promissor devido ao seu significativo poder de

compra e capacidade de consumo (IBGE, 2005). A análise dos resultados da amostra dos

Indicadores Sociais Municipais, com base no Censo Demográfico 2000, divulgada pelo IBGE

(2004), mostra que no Brasil, 27% dos idosos são responsáveis por mais de 90% do

rendimento familiar.

Conforme a situação exposta, até então, o público da terceira idade está se

tornando um contingente respeitável de consumidores, tanto pelo ponto de vista populacional,

como também econômico. No entanto, tratando-se dos adultos maduros, poucas ainda são as

informações que o meio empresarial tem sobre o seu comportamento, necessidades e desejos.

Somente um número reduzido de varejistas não está ignorando o poder de compra

significativo dos consumidores idosos. Esta problemática crescente evidencia a importância

da identificação dessas evoluções que atingem toda a sociedade (FARIAS; SANTOS, 2000).

No Brasil, após a análise de todos os artigos nos anais dos Encontros Anuais da

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD) de

1997 a 2005, constatou-se que dos 406 artigos publicados na divisão de marketing, somente

quatro consideraram o segmento da terceira idade (UGALDE, 2006).

Considerando a escassez de trabalhos científicos que abordam esse mercado

promissor no Brasil (FARIAS; SANTOS, 2000), verificou-se a necessidade da investigação

do seu comportamento de compra. A decisão pela análise dos fatores ambientais partiu do

pressuposto de que 81% da compra feita pelo consumidor em supermercados e hipermercados

é decidida dentro da loja, ou seja, sem prévia intenção de aquisição do produto (POPAI,

2004).

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Ainda no que se refere aos supermercados, segundo a Pesquisa Nacional de

Consumidores da LatinPanel, publicada em maio de 2007 na revista SuperHiper, da média de

quatro vezes que o consumidor brasileiro vai ao supermercado, três delas destinam-se à

compra de alimentos. Em face do exposto, optou-se pelo estudo do auto-serviço alimentar,

cujo formato varejista com maior destaque é o supermercado (PARENTE, 2000).

Assim, um dos objetivos deste trabalho é motivar o interesse do meio acadêmico

tanto pela abordagem dos fatores ambientais de loja nos processos de consumo, como também

evidenciar a importância do foco no segmento da terceira idade em estudos de comportamento

do consumidor.

Esse estudo visa, também, o fornecimento de subsídios para que empresas

varejistas possam desenvolver formatos varejistas que efetivamente atendam e satisfaçam as

expectativas desse segmento. O objetivo, portanto, é não só contribuir para um melhor

entendimento das necessidades de compra e motivações de seleção de lojas e formatos de

varejo de alimentos pelos consumidores da terceira idade e assim preencher uma lacuna ainda

existente nessa área, mas também investigar, com maior profundidade, como o ambiente de

loja influencia a percepção de valor desses consumidores.

Além destes objetivos há interesse pessoal da autora, levando-se em conta a

vontade de compreender os anseios da terceira idade e o desejo de contribuir, de alguma

maneira, para que esta fase da vida seja tão agradável quanto as demais.

Sendo assim, permanece o desejo de que este trabalho, a partir de seus resultados

e conclusões, ofereça uma importante contribuição tanto acadêmica quanto gerencial para o

estudo do comportamento de compra do consumidor da terceira idade.

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3 OBJETIVOS

Com base nas questões formuladas no problema de pesquisa, foram estabelecidos

os seguintes objetivos geral e específicos para o presente trabalho:

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a influência da ambientação da loja de varejo de auto-serviço alimentar

no processo decisório do consumidor da terceira idade.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1) Identificar como os fatores de design da loja de varejo de auto-serviço

alimentar são percebidos pelo consumidor da terceira idade;

2) Identificar como os apelos sensoriais da loja de varejo de auto-serviço

alimentar são percebidos pelo consumidor da terceira idade;

3) Identificar como os fatores sociais da loja de varejo de auto-serviço alimentar

são percebidos pelo consumidor da terceira idade.

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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são apresentadas as principais bases teóricas que compõem a

presente monografia: comportamento do consumidor, varejo, ambiente de loja de varejo e

consumidor da terceira idade.

Inicialmente, são analisados os conceitos da área do comportamento do

consumidor, desde os tipos de decisão até as etapas do processo decisório de compra. Nessa

fase são abordadas, também, as variáveis internas e externas intervenientes ao processo de

decisão do consumidor.

Em seguida, o varejo é descrito, demonstrando-se uma discussão em torno de sua

conceituação e dos seus principais formatos, com ênfase no formato de auto-serviço

alimentar. Intimamente ligada ao varejo, na seqüência apresenta-se o conteúdo referente à

ambientação de loja, o qual explora as principais variáveis e elementos que influenciam as

decisões de compra dos consumidores.

E, por fim, na seção que encerra esta fundamentação teórica, encontram-se as

informações atualmente disponíveis a respeito do segmento da terceira idade, envolvendo não

só o seu potencial de consumo, como também as suas características enquanto consumidores.

4.1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Estudar o comportamento do consumidor é averiguar de que maneira os seres

humanos definem como irão gastar seus recursos disponíveis, como tempo, dinheiro e

esforço, em itens relacionados ao consumo. Assim, esse abrangente campo de estudo

investiga os processos envolvidos quando indivíduos, grupos ou organizações selecionam,

compram, consomem ou dispõem de produtos e serviços, idéias ou experiências que

satisfaçam as suas necessidades e desejos (SCHIFFMAN; KANUK, 2000; SOLOMON, 2002;

BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

A ampla área do comportamento do consumidor era vista, até então, como o

estudo do porquê as pessoas compram determinados produtos e marcas. Acreditava-se que

esse era o único passo para o desenvolvimento de estratégias para influenciar os

consumidores. Pesquisadores têm focado na análise de consumo, enfatizando, além do porquê

e do como as pessoas compram, o porquê e o como as pessoas consomem (BLACKWELL;

MINIARD; ENGEL, 2005).

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A seguir são analisadas as fases que constituem o processo decisório de compra

pelas quais os indivíduos passam no momento em que desempenham o papel de

consumidores.

4.1.1 Processo Decisório de Compra

Segundo Blackwell, Miniard e Engel (2005), a compra de um produto ocorre

somente se há um problema, uma necessidade ou um desejo, no entanto a decisão do

consumidor é influenciada por forças internas e externas, que interagem com o seu modo de

pensar, avaliar e agir.

Certas tomadas de decisão de compra despendem uma maior quantidade de tempo

e esforços que outras e, assim, são consideradas mais importantes que àquelas que envolvem

menos esforços conscientes (SOLOMON, 2002; BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005;

HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007). Conforme Solomon (2002), o consumidor

avalia o grau de esforço necessário para realizar determinada escolha e então decide pela

estratégia mais adequada à quantidade de esforços exigidos.

Antes de descrever cada tipo de processo de decisão Hawkins, Mothersbaugh e

Best (2007, p. 291) esclarecem o conceito de envolvimento com a compra. Assim, pode ser

definido como “o nível de preocupação ou interesse relacionado ao processo de compra

iniciado pela necessidade de considerar uma compra específica”. No entanto, o envolvimento

com a compra não é igual ao envolvimento com o produto. Desta forma, é possível que um

consumidor esteja extremamente envolvido com determinada marca ou categoria de produtos

e ainda assim apresente um grau consideravelmente baixo de envolvimento com uma compra

específica daquele produto devido a fatores como fidelidade à marca, tempo limitado para

realizar a compra ou a outros motivos.

A partir desta caracterização do processo decisório com base no esforço exigido,

Blackwell, Miniard e Engel (2005) descrevem as tomadas de decisão como nominal, limitada

e estendida. Sendo assim, Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) indicam essas três

configurações na figura 01.

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Figura 01 - Envolvimento e tipos de tomada de decisão Fonte: Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 291)

Na tomada de decisão nominal ou habitual, após o reconhecimento do problema,

através de uma busca interna a memória de longo prazo fornece ao indivíduo uma única opção

preferida, ou seja, a marca predileta. Em seguida, após a aquisição desta marca específica, o

produto será avaliado somente se não corresponder ao desempenho esperado pelo consumidor

(HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

Nesse contexto, Blackwell, Miniard e Engel (2005) e Hawkins, Mothersbaugh e

Best (2007) explicam que no momento em que o processo de tomada de decisão torna-se

rápido ou quase automático, isto é, sem a busca de muitas informações e avaliações a respeito

da compra, tem-se a solução limitada de problema - SLP. Em contrapartida, quando o

consumidor busca o maior número de informações possível e despende uma quantidade

considerável de tempo durante cada uma das etapas do processo, tem-se a solução estendida

de problema – SEP.

A partir da identificação dos tipos de comportamento com base nas combinações

entre busca de informação e envolvimento, para a melhor compreensão do comportamento de

Compra de baixo envolvimento Compra de alto envolvimento

Tomada de decisão nominal Tomada de decisão limitada Tomada de decisão estendida

Reconhecimento do problema

Seletivo

Reconhecimento do problema

Genérico

Reconhecimento do problema

Genérico

Busca de informações Limitada interna

Busca de informações Externa Interna

Busca de informações Interna

Limitada externa

Pós-compra Nenhuma dissonância Avaliação muito

limitada

Compra CompraCompra

Avaliação de alternativas Poucos atributos

Regras de decisão simples Poucas alternativas

Avaliação de alternativas Muitos atributos

Regras de decisão complexas Muitas alternativas

Pós-compra Dissonância

Avaliação complexa

Pós-compra Nenhuma dissonância

Avaliação limitada

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Consumo

Avaliação Pós-Consumo

Descarte

Reconhecimento da Necessidade

Busca de Informações

Avaliação de Alternativas Pré-Compra

Compra

consumo dos indivíduos em relação as suas motivações de compra, torna-se necessária a

análise do modo como os consumidores fazem suas escolhas, bem como dos estágios que

integram o seu processo decisório.

Autores como Schiffman e Kanuk (2000), Sheth, Mittal e Newman (2001) e

Mowen e Minor (2006) configuram o processo decisório de compra em 5 estágios:

reconhecimento da necessidade; busca de informação; avaliação das alternativas; compra e

avaliação pós-compra. Já Solomon (2002) e Blackwell, Miniard e Engel (2005) apresentam o

modelo PDC - Processo de Decisão do Consumidor constituído por 7 etapas, dentre as quais

separam-se o estágio de compra do estágio de consumo. Além disso, neste modelo é

adicionado o estágio de descarte, conforme demonstrado a seguir na figura 02.

Figura 02 – Estágios do Processo Decisório de CompraFonte: Blackwell, Miniard e Engel (2005, p. 73)

Através do modelo PDC apresentado por Solomon (2002) e Blackwell, Miniard e

Engel (2005), é possível compreender como as pessoas solucionam seus problemas do dia-a-

dia comprando e utilizando os mais variados tipos de produtos disponíveis no mercado e,

além disso, como os indivíduos ordenam os fatos e os fatores influenciadores para tomar

decisões lógicas e consistentes.

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Estágio 1: Reconhecimento da Necessidade

Antes de abordar este tópico, faz-se importante a conceituação de necessidade.

Para Llera (1992), a partir da teoria de Hull, a necessidade pode ser definida como uma

perturbação da homeostasis, que corresponde às condições ótimas de equilíbrio no organismo

do ser humano. Segundo o autor, o processo para atingir o reequilíbrio homeostático seria o

seguinte: necessidade-impulso-conduta-redução, onde a redução da necessidade comporta-se

como uma instância motivadora para a ação (UGALDE, 2006).

Conforme Llera (1992), foram descobertas outras possibilidades para que os

impulsos homeostáticos restabeleçam o equilíbrio e, com isso, a linha de interpretação

homeostática entrou em declínio. Dentre as novas possibilidades encontra-se o impulso

exploratório que Harlow comprovou quando, através de experimentos com macacos, verificou

que estes preferem a exploração do ambiente à satisfação das suas necessidades.

De todas as interpretações holísticas da motivação, a mais conhecida é a

hierarquia, ou pirâmide das necessidades de Maslow. Desta forma, conforme a figura 3,

Maslow distribuiu as necessidades dos seres humanos em degraus. A pirâmide demonstra as

necessidades fisiológicas como as mais fortes, de modo que a passagem do indivíduo para o

próximo degrau ocorre somente quando estas forem satisfeitas. No segundo degrau encontra-

se a necessidade de segurança, a qual depende do meio cultural e da faixa etária. Para muitas

pessoas esta necessidade se manifesta em forma de poupança e de seguros (LLERA, 1992).

Após o preenchimento das necessidades fisiológicas e de segurança, surgem as de

amor e pertencimento, responsáveis pelos impulsos dados as pessoas para que se situem nos

grupos sociais e se identifiquem com outros semelhantes. Posicionada no quarto degrau, a

necessidade de estima, aprovação e reconhecimento evidencia o desejo da obtenção de êxito,

apreço e prestigio por parte dos outros indivíduos. Por fim, ocupando o topo da pirâmide é

encontrada a necessidade de auto-realização (LLERA, 1997).

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Figura 03 – Hierarquia das Necessidades segundo MaslowFonte: Blackwell, Miniard e Engel (2005, p. 73)

O reconhecimento de uma necessidade por parte do consumidor ocorre no

momento em que este percebe uma diferença significativa entre o estado atual em que se

encontra e o desejado ou ideal (SOLOMON, 2002; BLACKWELL; MINIARD; ENGEL,

2005). Diversas são as maneiras como pode ocorrer o reconhecimento de uma necessidade ou

problema.

Os estímulos presentes durante o reconhecimento de uma necessidade podem ser

definidos como internos e externos. Aos estímulos internos correspondem os estados físicos e

psicológicos de desconforto sentidos pelo indivíduo e, aos externos, encontram-se os esforços

de marketing, como a propaganda, por exemplo (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001;

SOLOMON, 2002; HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

O auxílio dos profissionais de marketing no reconhecimento das necessidades dos

consumidores se dá, segundo Solomon (2002), através da criação de exigências primárias e

secundárias. Com as primárias os indivíduos são incentivados a utilizar produtos e serviços

sem considerar a marca, enquanto que com as exigências secundárias os consumidores são

encorajados a preferir uma marca específica.

De acordo com Blackwell, Miniard e Engel (2005), constantemente os problemas

e necessidades dos seres humanos se modificam. Isso ocorre em todo o processo de evolução,

afinal, à medida que os consumidores transitam pelos diferentes estágios de vida, é comum

que suas necessidades e hábitos de compra também sofram modificações. Desta forma, nota-

se a extrema importância no acompanhamento e monitoramento das tendências de mercado

Auto-realização

Estima

Participação

Segurança

Fisiológicas

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pelos varejistas e fabricantes. Sendo assim, para obter maior sucesso, os profissionais de

marketing devem também oferecer ao consumidor produtos que atendam às suas necessidades

ainda não percebidas.

Estágio 2: Busca de Informações

Após o reconhecimento da necessidade, os consumidores passam para a etapa da

busca de soluções que satisfaçam suas necessidades até então não atendidas. Nesta fase a

coleta de informações pode ocorrer através de uma busca interna ou externa. A interna nada

mais é do que a busca por informações relevantes armazenadas na memória de longo prazo. É

utilizada para identificar se o indivíduo conhece soluções satisfatórias, bem como as

características das mesmas e a maneira mais adequada de compará-las (BLACKWELL;

MINIARD; ENGEL, 2005; SAMARA; MORSCH, 2005; MOWEN; MINOR, 2006;

HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007).

No entanto, no momento em que a busca interna torna-se inadequada, o

consumidor pode optar pela coleta de informações adicionais do ambiente, ou seja, realizar a

busca externa. Esta pode envolver fontes independentes, pessoais, informações de mercado e

experiências com o produto (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005; MOWEN; MINOR,

2006). Em determinados momentos este tipo de busca ocorre passivamente, isto é, os

consumidores estão mais receptivos às informações ao seu redor. Porém, em outros casos,

adquirem um comportamento ativo, com o qual pesquisam publicações de consumo,

acompanham anúncios, navegam na internet e visitam lojas de varejo à procura de novidades

e maiores conhecimentos sobre o produto almejado (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL,

2005).

Conforme Samara e Morsch (2006), uma vez que o consumidor se sente satisfeito

com a quantidade de informações obtidas das fontes internas e externas, ele dará o terceiro

passo no seu processo de decisão.

Estágio 3: Avaliação de Alternativas Pré-compra

A etapa posterior ao processo de busca é a de avaliação das alternativas

identificadas, na qual é despendido muito do esforço do consumidor, já que a sociedade

moderna de consumo oferece alternativas em abundância. Neste estágio o consumidor busca

respostas como quais são suas opções e qual é a melhor delas (SOLOMON, 2002;

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BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Geralmente, para a análise das alternativas de

pré-compra os consumidores utilizam informações preexistentes armazenadas na memória,

como lembranças de produtos, serviços, marcas e lojas que em determinado momento

satisfizeram sua compra ou consumo (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

No entanto, Kotler (2000) afirma que não existe um único processo de avaliação,

considerando que atualmente os modelos são cognitivamente orientados, isto é, o consumidor

forma julgamentos com base tanto racional quanto consciente. Hawkins, Mothersbaugh e Best

(2007) atestam que inúmeras decisões de consumo frequentemente são circulares, emocionais

e incompletas, isto é, baseadas na conveniência e não na otimização. Além disso, apontam

que no contexto do consumo a situação pode ser determinante durante o processo decisório,

desta forma processos de seleção diferentes são utilizados quando o indivíduo está apressado

ou cansado, ou então com mais energia e tempo.

Blackwell, Miniard e Engel (2005) afirmam que alguns dos atributos avaliados

são salientes e outros determinantes. Para os consumidores os atributos salientes geralmente

são considerados os mais importantes, neles se incluem preço, confiabilidade e outros fatores

que acreditam que haja pouca variação entre produtos similares. No momento em que o

consumidor considerar os atributos salientes equivalentes, provavelmente serão os atributos

determinantes como estilo, acabamento e design que determinarão a escolha da marca ou loja

onde será realizada a compra (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Contudo, pela constatação de que a grande maioria dos gastos de consumo ocorre

dentro da loja (POPAI, 2004), Samara e Morsch (2005) explicam que a visita à loja é vista

pelo consumidor como a sua última oportunidade para a obtenção de informações e para

avaliar o produto. Sendo assim, Sheth, Mittal e Newman (2001) concordam que após a

avaliação das alternativas o cliente adquire o produto ou serviço que julga mais aceitável.

Estágio 4: Compra

Para melhor entender o comportamento dos indivíduos em relação ao ato da

compra, Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 509) subdividem esse passo em três etapas,

conforme a figura 04.

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Figura 04 – Três etapas de compraFonte: elaborado pela autora com base em Sheth, Mittal e Newman (2001)

De acordo com a figura 04, na primeira fase o consumidor identifica a sua

preferência, com base no processo de avaliação pré-compra descrito no estágio anterior. Na

segunda fase forma-se uma intenção, como se fosse uma auto-instrução que determina que o

indivíduo compraria aquele produto. O passo final corresponde ao ato da compra, o qual

implica que o comprador providencie os termos da transação, a obtenção da transferência de

direito ou título, efetue o pagamento do produto ou serviço adquirido, ganhe a posse da

mercadoria ou o compromisso de serviço do vendedor (SHETH; MITTAL; NEWMAN,

2001).

Solomon (2002) explica que a atividade de compra pode ocorrer tanto por razões

funcionais (tangíveis) quanto por razões hedônicas (intangíveis). Assim, Schiffman e Kanuk

(2000) consideram três tipos de compra: experimental, repetida e de comprometimento de

longo prazo. Quando o consumidor adquire um produto pela primeira vez a compra pode ser

definida como experimental, a qual permite que a mercadoria seja testada pelo comprador.

Em alguns casos, os consumidores compram produtos completamente diferentes

daquilo que tinham em mente inicialmente e são diversas as razões pelas quais isso acontece.

Os motivos podem surgir em situações decorrentes durante o próprio estágio de compra ou

escolha. O consumidor também pode optar por outro revendedor ou então escolher outro

produto por conta de uma liquidação ou evento promocional, horário de funcionamento da

loja, localização, entre outros fatores. Logo, um importante papel do vendedor é gerenciar os

atributos gerais e a imagem da loja de modo que o consumidor seja seduzido e se torne fiel à

marca ou loja (SCHIFFMAN; KANUK, 2000; BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Realizada a compra e tomada a posse do produto, o consumo pode ocorrer, dando

seqüência ao PDC.

Débito por favor!

Da próxima vez que vir à loja vou c omprá-lo!

É es te o produto que eu prefiro!

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Estágio 5: Consumo

O processo decisório do consumidor não encerra com a compra. Estudos

empíricos evidenciam que as informações fornecidas após a experiência de compra e de uso

do produto serão utilizadas pelo indivíduo em uma tomada de decisão futura (SHETH;

MITTAL; NEWMAN, 2001).

De acordo com Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), algumas compras são

seguidas pelo fenômeno chamado dissonância pós-compra, no qual o consumidor duvida da

sabedoria da compra realizada. Em outros casos a compra é seguida do não-uso, isto é, o

consumidor devolve ou mantém o produto sem utilizá-lo. Por fim, a maior parte das compras,

mesmo havendo uma dissonância pós-compra, é seguida do uso.

Nesse sentido Solomon (2002) e Blackwell, Miniard e Engel (2005) separam o

estágio de compra do estágio de consumo. Para estes autores, após a realização da compra o

consumidor poderá consumir ou utilizar o produto tanto imediatamente quanto em outro

momento. Assim, para exemplificar este comportamento, Blackwell, Miniard e Engel (2005)

citam uma liquidação de congelados com a qual o consumidor aproveita para adquirir uma

maior quantidade de produtos para estocar em casa, ou seja, ele compra uma quantidade de

itens além do usual e a consome em determinado espaço de tempo.

Sendo assim, a maneira como o consumidor utiliza o produto reflete o quão

satisfeito ele está com a compra. Em caso de satisfação provavelmente o consumidor terá

cuidado no armazenamento e no modo de utilização do que comprou e provavelmente irá

optar pela marca ou produto em questão no futuro. No entanto, mesmo que o produto seja de

boa qualidade, se o consumidor não utilizá-lo da maneira correta, poderá surgir a insatisfação

(BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Em face do exposto, para determinar a satisfação ou insatisfação do consumidor

deve haver o consumo, porém, é na sexta etapa, analisada a seguir, que a sensação de

satisfação ou insatisfação apresenta os seus resultados.

Estágio 6: Avaliação Pós-consumo

Conforme apontado anteriormente, a fase seguinte do processo decisório do

consumidor é a avaliação pós-consumo, momento em que o consumidor se sente satisfeito ou

insatisfeito com os bens adquiridos. Nesse contexto, a satisfação ocorre quando as

expectativas do consumidor em relação ao produto são atingidas e, ao contrário, no momento

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em que as expectativas não são alcançadas a sensação é de insatisfação (BLACKWELL;

MINIARD; ENGEL, 2005). Solomon (2002) explica que esta avaliação que tem como base o

desempenho de um produto ou serviço pode ser determinada tanto pelas sensações gerais

como pelas atitudes dos consumidores (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Nesta mesma visão, Samara e Morsch (2005) apontam que a satisfação ou

insatisfação do consumidor bem como o seu estado emocional ao consumir um produto são

fatores importantes para os profissionais de marketing. Pois, de acordo com Blackwell,

Miniard e Engel (2005), enquanto o cliente satisfeito dificilmente substitui sua marca ou loja

preferida durante o processo decisório, o consumidor insatisfeito é facilmente atingido pelas

estratégias de mercado da concorrência, substituindo facilmente a marca ou local onde

efetuou a compra que não alcançou suas expectativas (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL,

2005). Neste último caso, Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) apontam que respostas

adequadas aos consumidores que fizeram reclamações podem reverter esse quadro de

insatisfação.

Estágio 7: Descarte

De acordo com os estágios do modelo teórico utilizado neste trabalho para a

descrição do processo de decisão do consumidor, o último estágio pelo qual o consumidor

passa é o descarte.

Nesta etapa os consumidores têm diversas opções, que vão desde o descarte

completo, reciclagem ou revenda (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Para Solomon

(2002), quando o consumidor decide que um item não tem mais utilidade, pode desfazer-se do

produto permanente ou temporariamente. Assim, Blackwell, Miniard e Engel (2005) utilizam

o exemplo de um automóvel: ao término do uso do bem, o indivíduo utilizará alguma maneira

para descartá-lo, e, para tanto, pode optar pela revenda, troca ou levá-lo a um ferro-velho.

No entanto, Solomon (2002) aponta que frequentemente as pessoas formam fortes

laços com os produtos e que a decisão de desfazer-se deles pode ser traumática. Embora haja,

em alguns casos, essa dificuldade no descarte das coisas, os consumidores geralmente o fazem

porque sua função já foi realizada ou então porque não a consideram mais necessária.

Assim como o processo decisório constitui-se em um importante tópico da área do

comportamento do consumidor, as variáveis intervenientes que o influenciam são igualmente

relevantes. Desta forma, são explorados a seguir, os principais elementos de cunho interno e

externo que influenciam neste processo.

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4.1.3 Variáveis Intervenientes no Processo Decisório

O estudo do comportamento do consumidor gera vantagens competitivas para

as empresas. Para tanto, o objetivo dos profissionais de marketing não deve resumir-se apenas

à venda do produto em si, mas sim também em atender as necessidades e desejos dos

consumidores, tornando-os satisfeitos (PINHEIRO et al, 2004). Assim, Sheth, Mittal e

Newman (2001) fundamentam a importância da identificação das características de cada

cliente, seus anseios, necessidades, desejos e experiências anteriores.

Historicamente, o estudo do comportamento do consumidor tem focado nas

diferenças e na tomada de decisão individuais, o que vêm contribuindo para a comunicação

com segmentos menores de consumidores (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Todavia, os autores enfatizam que os indivíduos não devem ser vistos isoladamente, pois

diversos fatores podem tornar-se decisivos nas suas escolhas.

Para Gade (1998), as peculiaridades que envolvem o processo de compra podem

ser averiguadas por meio de estudos sobre o comportamento do consumidor, através da

análise de fatores referentes à psicologia, à antropologia e ao consumo. Conforme Pinheiro et

al (2004), a compreensão desses fatores, além de proporcionar uma visão mais aprofundada

da dinâmica de compra, possibilita que os profissionais da área intervenham com o uso de

estímulos de marketing, gerando, assim, resultados positivos no comportamento dos

consumidores.

Segundo Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), cada ser humano tem definida

uma visão de si mesmo (auto-imagem) e busca viver de acordo com os seus recursos (estilo

de vida). Desenvolvidos com base em uma variedade de influências internas e externas, a

auto-imagem e o estilo de vida resultam em necessidades e desejos, os quais, muitas vezes,

geram uma decisão de compra a fim de satisfazê-los. Assim, quando o indivíduo se depara

com situações relevantes, o seu processo de decisão é ativado. Logo, as experiências e

aquisições produzidas por este processo, por outro lado, interferem na formação da auto-

imagem e do estilo de vida do consumidor ao afetar suas características internas e externas.

Nesse contexto, a base teórica que contempla o presente trabalho se apóia no modelo

conceitual elaborado por Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 19), conforme a figura 05.

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Figura 05 - Modelo geral do comportamento do consumidorFonte: Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 19)

Sabe-se que a divisão dos fatores que influenciam o comportamento do

consumidor em categorias distintas é um tanto arriscada. O aprendizado é um exemplo que

comprova esta afirmação, pois este, apesar de se concentrar nas influências internas envolve

claramente elementos como a família e os colegas, ou seja, está intimamente ligado às

influências de cunho externo (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007). Para tanto, o

modelo conceitual de Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) considera a interação entre

ambos os conjuntos, indicando, através de uma seta bidirecional, a conexão entre as

influências internas e externas.

4.1.3.1 Influências Internas

O modo como o ser humano coleta e interpreta os estímulos provindos do seu

meio ambiente é definido como percepção. É através desta que o indivíduo cria sua própria

realidade. Devido aos limites da mente humana no que diz respeito à quantidade de estímulos

com que pode lidar, o indivíduo filtra as informações de acordo com aquilo que considera

pertinente e importante. Sendo assim, a percepção desenvolve uma orientação para o mundo

externo baseando-se em experiências vivenciadas, normas culturais, atitudes e comportamento

aprendido (SAMARA; MORSCH, 2005).

Desta forma, Karsaklian (2000) aponta que quando somadas, as variáveis

individuais como história passada, personalidade, estrutura fisiológica e psicológica e

Experiências e compras

Experiências e compras

Processo de decisãoAuto-imagem

e Estilo de vida

NecessidadesDesejos

Razões

Aprendizado

Percepção

Atitudes

Personalidade

Memória

Atividades de marketing

Influências internas

Emoções

Influências externas

Fatores demográficos

Cultura

Subcultura

Grupos de referência

Status social

Família

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contextos físico e social definem a forma com a qual um indivíduo percebe o mundo. A

integração dessas variáveis tem como resultado a estrutura cognitiva do ser humano, a qual

lhe permite que interprete a realidade a partir de percepções organizadas e pertinentes. No

entanto, conforme Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), a interpretação pode ser

considerada como um processo extremamente subjetivo, pois, de acordo Samara e Morsch

(2005), nem sempre o indivíduo compreende a mensagem pretendida, o que implica na

distorção da realidade.

Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 114), conforme a figura 6, definem o

modelo de processamento de informações para a tomada de decisão do consumidor com

quatro etapas principais: exposição, atenção, interpretação e memória. Constituem a

percepção os três primeiros estágios. Desta forma, a percepção inicia com a exposição, que

ocorre quando um estímulo atinge os nervos sensoriais receptivos de um indivíduo. Em

seguida, a atenção se dá quando um ou mais nervos sensoriais são ativados por um estímulo, o

que gera sensações que são transferidas para o cérebro para processamento. Logo, os

significados atribuídos a essas sensações recebidas correspondem à interpretação. Por fim, a

memória corresponde ao uso imediato do significado para uma decisão de escolha ou ao seu

armazenamento para uma tomada de decisão futura. Samara e Morsch (2005) apontam que a

compreensão da maneira como os seres humanos atribuem significados às sensações é

extremamente importante para o sucesso das estratégias de comunicação das empresas.

Figura 06 – Processamento de informação para a tomada de decisão do consumidorFonte: Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 114)

Embora a teoria apresentada neste item apresente um fluxo linear da exposição até

a memória, Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) lembram que há uma significativa

interação entre esses processos, pois ocorrem praticamente ao mesmo tempo. A memória do

ser humano tem forte influência sobre a informação à qual o indivíduo é exposto e presta

atenção, bem como aos significados que a pessoa atribui a essa informação. Assim, nota-se

que, simultaneamente, a memória em si é moldada pelas informações que o indivíduo está

recebendo, o que comprova a explicação dos autores.

Decisões de compra e consumo

Percepção

Exposição Antenção MemóriaInterpretação

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Lembrar é um verbo fundamental no comportamento do cliente, afinal, as

alternativas consideradas durante uma compra, bem como a opinião sobre determinado

produto, dependem das lembranças que os indivíduos têm. No entanto, para algo ser

lembrado, antes precisa ser aprendido (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Logo, o

que é aprendido ajuda o ser humano a responder melhor ao ambiente (SHETH; MITTAL;

NEWMAN, 2001). O aprendizado pode ser definido como quaisquer alterações de respostas

em função da experiência (GADE, 1998).

Nesse sentido, Samara e Morsch (2005) apontam que a relação com as mudanças

provindas de informações e experiências passadas tornam o aprendizado um pilar de extrema

importância no comportamento do consumidor, tanto no sustento de escolhas quanto na

promoção de compras futuras do consumidor. Logo, comportamentos que resultam em

experiências satisfatórias tendem a repetir-se, do mesmo modo que os insatisfatórios tendem a

ser evitados. Dessa forma, a aprendizagem envolve ligações entre estímulo e resposta,

conforme a figura 07.

Figura 07 – A visão behaviorista de aprendizagemFonte: Samara e Morsch (2005, p. 108)

Há inúmeras teorias que investigam como as experiências e os conhecimentos

adquiridos influenciam o comportamento do consumidor e o modo como se formam seus

hábitos. No entanto, uma das principais teorias que explora o processo contínuo do

aprendizado é a behaviorista. Também denominada teoria do condicionamento, parte do

princípio de que o aprendizado é decorrente do resultado de respostas a eventos externos.

Resultado do aprendizado, a memória é a persistência do que foi aprendido ao

longo do tempo (GADE, 1998). Schiffman e Kanuk (2000) comparam a mente humana com

um computador: “os dados entram, são processados e saem para uso posterior de forma

revisada”. Nesse sentido, Blackwell, Miniard e Engel (2005), Samara e Morsch (2005) e

Limeira (2008) apontam que o modo como os dados são codificados quando percebidos

determina como será o seu armazenamento na estrutura da memória. Assim, os três diferentes

Estímulo RespostaConsumidor

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tipos de armazenagem na memória podem ser: a memória sensorial, a memória de curto prazo

e a memória de longo prazo.

De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2000), a maneira como as pessoas

decidem pela compra costuma ser bastante racional, fazendo o uso sistemático da informação

e geralmente considerando as implicações de suas ações e comportamentos. Contudo, esse

processo por ser influenciado por várias razões, tanto sociais como pessoais, conforme a

figura 08.

Figura 08 – Por que as pessoas compram?Fonte: Blackwell, Miniard e Engel (2005, p. 136)

Segundo os mesmos autores, Blackwell, Miniard e Engel (2005), são diversas as

razões sociais e pessoais para o consumo. Com o objetivo de “vencer” o sistema, alguns

consumidores vêem as compras como um esporte. Outros afirmam que o ato da compra alivia

o tédio, diminui a depressão e ainda proporciona uma sensação de escape. Enquanto isso, há

também os consumidores que não gostam de fazer compras, sendo considerados, na maioria

das vezes, pessoas distraídas e insensíveis às campanhas de marketing. Este tipo de

consumidor geralmente compra através do meio eletrônico, que oferece maior praticidade e

menor envolvimento pessoal (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Nesse contexto, um dos grandes desafios dos profissionais de marketing é

identificar quais consumidores e quais situações de compra são consideradas divertidas ou

chatas (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Além disso, muito importante para a

investigação das razões pelas quais as pessoas compram é o estudo da personalidade do

consumidor.

Há diversas concepções e teorias da personalidade às quais sugerem diversas

definições. A teoria freudiana define a personalidade como um conjunto de impulsos e

motivos conscientes e subconscientes, enquanto que a teoria dos traços a considera um padrão

de comportamento. Embora não haja consenso entre os profissionais do consumo de que a

personalidade de fato interfira no comportamento do consumidor, é plausível sugerir que os

Motivos Pessoais

Estimulação sensorialAtividade físicaConhecimento sobre novas tendênciasAutogratificaçãoDiversãoPapel exercido

Prazer em barganharStatus e autoridadeAtração por grupo de amigos

Experiências sociais fora de casa Motivos Sociais

Comunicação com outras pessoas de interesses similares

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traços de personalidade, que descrevem o indivíduo como expansivo, tímido ou direto, por

exemplo, irão se manifestar nas mais diversas situações, principalmente na avaliação e

escolha de produtos. Existe, portanto, uma grande diferença de personalidade entre os

consumidores que costumam adquirir produtos de grifes, que trazem a etiqueta da marca, e os

que não os compram, por exemplo. Semenik (1996 apud SAMARA; MORSCH, 2005)

descobriu, através de pesquisa, que os consumidores de produtos de grife são mais sociáveis e

expansivos do que os não-compradores (SAMARA; MORSCH, 2005).

Nesta mesma visão, Limeira (2008) explica que os traços de personalidade são

características psicológicas persistentes do indivíduo, que além de sustentar a personalidade,

estão por trás dos sentimentos, pensamentos e comportamento de cada ser humano.

Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) definem as emoções como sentimentos

intensos e relativamente incontroláveis que interferem no comportamento dos indivíduos.

Para Sheth, Mittal e Newman (2001), as necessidades do ser humano estão intimamente

ligadas às suas emoções, uma vez que esta orienta a grande parte das compras e do consumo

de produtos e serviços por parte dos indivíduos. Conjunto complexo de processos, a emoção

ocorre em múltiplos sistemas humanos, ou seja, tanto na mente quanto no corpo.

Ainda conforme Sheth, Mittal e Newman (2001), as estratégias de marketing

podem adaptar-se ou responder às emoções do cliente através da criação de estímulos e

auxiliando-os na análise do significado. Nesse sentido, tentativas positivas para ajudar o

consumidor no processo de análise do significado poderiam incluir a iniciativa das empresas

de explicar, antes do evento, por que certo transporte varia de acordo com o produto.

Finalizando a análise dos fatores internos intervenientes no processo decisório

tem-se a atitude. Autores como Sheth, Mittal e Newman (2001) e Samara e Morsch (2005)

utilizam a definição clássica de atitude, oferecida pelo psicólogo Gordon Allport, que a sugere

como uma predisposição aprendida pelo ser humano para responder de forma

consistentemente favorável ou desfavorável a uma ampla gama de objetos: desde

comportamentos muito específicos até os mais gerais referentes ao consumo. Para

exemplificar estes comportamentos, Sheth, Mittal e Newman (2001) utilizam o hábito de

tomar chá após as refeições (comportamento específico) e a frequência e quantidade que uma

pessoa deve consumir de chás (comportamentos relativos ao consumo).

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4.1.3.2 Influências Externas

Conforme Karsaklian (2000), a influência da cultura integra a maior parte das

abordagens avançadas a respeito do comportamento do consumidor. Entretanto, embora seu

efeito seja reconhecido, não é possível ainda identificar com precisão a origem da sua

influência. A partir de uma investigação, os antropólogos Kroeber e Kluckhohn (1994 apud

KARSAKLIAN, 2000) coletaram 164 definições para cultura. Sendo assim, o primeiro, ou

então principal obstáculo apresentado no estudo das influências culturais é a ambigüidade que

envolve o seu conceito propriamente dito (KARSAKLIAN, 2000).

A cultura compreende as idéias e atividades através das quais os seres humanos

constroem o mundo McCRACKEN (2003). Schiffman e Kanuk (2000) comparam a cultura

com a personalidade de uma sociedade. Nesse sentido, pode ser entendida como um conjunto

de valores, normas, crenças e costumes aprendidos que têm a função de direcionar o

comportamento de consumo dos membros de determina sociedade (ENGEL; BLACKWELL;

MINIARD, 2000; SHIFFMAN; KANUK, 2000; SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001;

PINHEIRO et al, 2004; SAMARA; MORSCH, 2005; HAWKINS; MOTHERSBAUGH;

BEST, 2007). Gade (1998) complementa que a cultura ainda é composta por elementos

materiais, o que contempla todos os bens desenvolvidos a partir dos conhecimentos em

ciência e tecnologia e das possibilidades industriais e econômicas de uma sociedade.

Englobando todos os elementos característicos de uma vida em sociedade, a

cultura pode ser considerada um regulador social, pois sugere normas e padrões de

comportamento e sanciona os desvios em relação às atitudes dos indivíduos, tornando-se,

assim, necessariamente coletiva e compartilhada (KARSAKLIAN, 2000; SHETH; MITTAL;

NEWMAN, 2001). De acordo com a figura 09, proposta por Hawkins, Mothersbaugh e Best

(2007, p. 32), as normas derivam dos valores culturais amplamente aceitos pela sociedade e,

quando violadas, resultam em sanções ou penalidades cujas consequências vão desde a leve

desaprovação social até a exclusão do grupo. Desta forma, os padrões de consumo sofrem

influências provenientes das normas e de suas respectivas sanções.

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Figura 09 – Valores, normas, sanções e padrões de consumoFonte: Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 32)

Conforme Sheth, Mittal e Newman (2001), a cultura é uma resposta humana ao

ambiente. Sendo assim, uma de suas principais características é a adaptação às novas

exigências ambientais. Em alguns casos as normas culturais mudam com facilidade, já em

outros são extremamente resistentes e permanecem as mesmas por décadas (BLACKWELL;

MINIARD; ENGEL, 2005). Segundo Gade (1998), em certas ocasiões, a alteração dessas

normas ocorre rapidamente podendo ocorrer mesmo de forma violenta como no caso das

revoluções, afinal, complementam Sheth, Mittal e Newman (2001), nesta situação a

sobrevivência torna imperativa a adaptação.

Em contrapartida, em algumas situações essa capacidade de adaptação torna-se

um processo muito lento. Nesse sentido, os autores apontam que a visão, comum até há pouco

tempo, de que as pessoas eram o produto mais importante da sociedade, conduziu ao aumento

do índice de natalidade, uma vez que a sociedade era encorajada a formar grandes famílias.

No entanto, considerando-se os desafios da escassez enfrentados mais recentemente devido ao

aumento da população, foram induzidas famílias menores (SAMARA; MORSCH, 2005).

Comprova-se assim, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), que a cultura envolve a vida de

todas as pessoas, sempre.

A cultura pré-estabelecida ou imposta aos indivíduos também pode impactar na

sua decisão de compra (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). Com o desenvolvimento da cultura,

podem tornar-se necessárias mudanças em determinados produtos ou marcas, quando o seu

valor não mais satisfaz a sociedade (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005) afinal,

complementa Gade (1998), diversos produtos podem ser rejeitados, pois representam

comportamentos ou valores a serem derrubados. Karsaklian (2000) explica que em certas

categorias, como a de alimentos, cuja área é foco de investigação deste trabalho, os produtos

Padrões de consumo

Normas Especificam os limites do comportamento adequado

Sanções Penalidades por violar normas

Valores culturais

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consumidos em bairros, cidades ou até mesmo países distintos, por exemplo, diferem de um

local para o outro.

Para Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 155), “as subculturas são culturas de

grupos no interior de uma sociedade maior”. Samara e Morsch (2005) explicam que esses

grupos exibem padrões de comportamento peculiares a fim de distingui-los dos demais,

desenvolvendo, complementam Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), modos de

comunicação e rituais simbólicos.

Enquanto Gade (1998) aponta como as subculturas mais estudadas por parte dos

pesquisadores do consumo os grupos étnicos, religiosos e regionais, Sheth, Mittal e Newman

(2001) baseiam-se, também, em outros grupos, cujas características que os definem são:

nacionalidade de origem, idade, gênero, classe social e profissão. Com uma abordagem mais

completa, para a identificação dos diferentes tipos de subculturas, Samara e Morsch (2005)

estudam, além de todos os fatores já citados, a comunidade e o tipo de família, cujos

exemplos podem ser visualizados no quadro 01.

CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS

Idade Crianças, adolescentes, adultos, jovens, meia-idade, idosos

Religião Católicos, judeus, protestantes, muçulmanos

Raça Negros, orientais, descendentes de europeus

Níveis de renda Ricos, classe média, baixa renda

Nacionalidade Italianos, espanhóis, japoneses, portugueses

Sexo Mulher, homem

Tipo de família Mãe/ pai solteiro, divorciado / sem filho, pai / mãe / filhos

Ocupação Médico, advogado, professor, sacerdote, mecânico

Região geográfica Nordeste, Sudeste, Sul

Comunidade Rural, subúrbio, cidade pequena, cidade grande

Quadro 01 – Tipos de subculturasFonte: Samara e Morsch (2005, p. 62)

Enquanto Samara e Morsch (2005) citam a idade cronológica, que corresponde ao

período de tempo que se estende desde o nascimento do ser humano, Sheth, Mittal e Newman

(2001) mencionam, também, a idade psicológica e a idade mental dos indivíduos. De acordo

com os autores, a idade psicológica refere-se às alterações que ocorrem na cognição e auto-

percepção do indivíduo, ou seja, na idade que ele sente ter. Já a idade mental é percebida, por

exemplo, através da expressão comum: ele tem o QI de uma criança de quatro anos (SHETH;

MITTAL; NEWMAN, 2001).

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Para Gade (1998), outra subdivisão importante a ser analisada pelos profissionais

do consumo são os grupos religiosos. Os mórmons confirmam isto, pois, ao seguir normas, o

consumo de fumo, álcool e maquiagem é praticamente inexistente no dia-a-dia destes

indivíduos. No entanto, a autora ressalta que os grupos religiosos sustentam um vasto

mercado, como no caso de empresas de turismo que promovem viagens para locais de

devoção, de fabricantes de instrumentos religiosos como velas e santos, além de empresas de

serviços de instalação de artefatos mais ligados à moderna tecnologia como, por exemplo, a

iluminação nos templos e igrejas.

Para Gade (1998), as mais importantes subculturas baseiam-se em nacionalidade

ou raça. Em relação à nacionalidade, a autora afirma que toda a comunidade é composta por

subgrupos formados por imigrantes de nações estrangeiras. Sendo assim, após algum tempo,

alguns desses grupos sofrem um processo de aculturação, ou seja, perdem seus hábitos e

costumes originários. Entretanto, outros mantêm seus hábitos, o que resulta, por exemplo, em

um restaurante chinês instalado em qualquer bairro chinês que costuma ter um comércio

próprio.

De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 172), “a renda de uma pessoa é

a quantia de ganhos monetários que ela recebe periodicamente em uma base mais ou menos

regular”. Sendo assim, exerce forte influência sobre o que será produzido e consumido pela

sociedade.

Para Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), a renda exige a atenção dos

profissionais de marketing, principalmente no que diz respeito a sua distribuição na

sociedade. Segundo os autores, é possível que a renda média relativamente baixa de uma

nação reflita em um segmento de renda média considerável, por outro lado, outro País com a

mesma renda média pode concentrar grande parcela da riqueza nas mãos de poucos

indivíduos.

O sexo corresponde a um traço divisório que separa os clientes em dois grupos:

homens e mulheres. Segundo os autores, essa linha mantém-se constante por toda a vida do

indivíduo, influenciando os seus valores e preferências de consumo (HAWKINS;

MOTHERESBAUGH; BEST, 2001). Solomon (2002) concorda que a diferenciação de

gênero no que se refere ao consumo inicia bem cedo, podendo ser exemplificada através da

venda de fraldas em versão rosa para meninas e azuis para meninos.

Segundo Samara e Morsch (2005, p.79), o típico modelo de família mudou

drasticamente, tornando-se comum diversas famílias não-tradicionais compondo a sociedade.

Conforme Sheth, Mittal e Newman (2001), o convívio familiar é responsável por boa parte

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dos comportamentos dos seres humanos. Logo, nessas novas unidades familiares, homens e

mulheres assumem responsabilidades que geram forte impacto nos seus valores,

personalidade e auto-conceito que, por sua vez, alteram os hábitos de consumo da família

(SAMARA; MORSCH, 2005).

Outro fator que influencia o padrão de consumo de um indivíduo é a ocupação

(KOTLER, 2000). Como exemplo, o autor compara os produtos comprados por um operário e

um presidente de empresa: enquanto o operário adquire roupas e sapatos de trabalho e

marmitas, o presidente de uma empresa comprará títulos de clubes exclusivos, barcos

luxuosos e passagens de avião. Nesse contexto, o sucesso dos profissionais de marketing está

na identificação dos grupos de ocupação com interesses em comum no que se refere a

produtos e serviços.

De acordo com Gade (1998), as características de uma região podem influenciar

no desenvolvimento da cultura própria de uma área geográfica e, por consequência, no seu

mercado de consumo. Como exemplo, a autora cita as regiões praianas e de clima quente de

diversos países, nas quais a população adquire um estilo de vida geralmente informal que, por

sua vez, reflete no vestuário e nas atividades de lazer direcionadas para os esportes aquáticos

e ao ar livre.

Conforme Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007, p. 48), é fato que indivíduos que

pertencem a comunidades de grandes centros urbanos e indivíduos que fazem parte de

comunidades localizadas em municípios menores diferem entre si culturalmente, o que resulta

em comportamentos de consumo distintos.

“Como a constituição da população está mudando? Como as pessoas gastam

tempo, escolhem amigos, alocam recursos financeiros a produtos ou vendedores, e dão

suporte a programas sociais?” (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005, p. 196). O estudo

da demografia responde a todas essas questões.

Tamanho, distribuição e estrutura são os fatores demográficos que caracterizam

uma população. O primeiro indica a quantidade de indivíduos numa determinada sociedade.

Em seguida, a distribuição os divide de acordo com a localização física onde se encontram em

termos de região geográfica e localização urbana, suburbana e rural. Por fim, a estrutura

corresponde às variáveis como idade, formação acadêmica, ocupação e renda da população,

onde a renda é considerada um dos principais aspectos dos fatores demográficos

(BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005; HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST,

2007).

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Posição de um indivíduo na sociedade, a palavra status deriva do latim e refere-se

à situação profissional ou legal de uma pessoa em determinado grupo. No entanto, desde

1776, no Ocidente, tem sido associado cada vez mais à realização financeira. Sendo assim, o

status elevado é considerado, embora muitos não admitam, um dos melhores bens terrenos.

Afinal, as consequências de um status elevado são muito agradáveis, pois incluem liberdade,

espaço, conforto e, talvez mais importante que esses benefícios, a certeza de que se é

merecedor desses cuidados (BOTTON, 2005).

Segundo Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), primeiramente deve-se

distinguir o termo grupo de grupo de referência. Um grupo compartilha um conjunto de

normas, valores ou crenças entre dois ou mais indivíduos, os quais se relacionam implícita ou

explicitamente, de modo que seus comportamentos sejam interdependentes. Porém, no

momento em que um indivíduo elege como base para o seu comportamento atual as

perspectivas ou valores presumidos por determinado grupo, torna-se clara a existência de um

grupo de referência, que pode ser, segundo Solomon (2002), real ou imaginário.

Geralmente os seres humanos utilizam o grupo de referência como guia para o seu

comportamento em uma situação específica (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007),

o qual poderá afetá-lo positiva ou negativamente (SAMARA; MORSCH, 2005). Conforme

Solomon (2002) e Blackwell, Miniard e Engel (2005), os consumidores são atingidos por três

formas de influência por parte dos grupos de referência, são elas: informativa, utilitária ou

normativa e de expressão do valor.

Para Blackwell, Miniard e Engel (2005), o maior impacto e a maior influência no

comportamento do consumidor geralmente são exercidos pelos grupos primários. Sendo a

família a base de praticamente todas as sociedades (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST,

2007), Gade (1998) e Samara e Morsch (2005) a consideram, sem dúvida, o grupo de

referência mais influente no comportamento de consumo e, por esse motivo, o analisam

separadamente.

O item família, proposto no modelo conceitual de Hawkins, Mothersbaugh e Best

(2007), tem como foco o papel da família no comportamento dos seres humanos tanto como

indivíduos quanto como consumidores. Definida como o agente social que liga os indivíduos

pelo sangue e/ ou casamento, a família tem como características, na maior parte das vezes,

uma residência em comum, a existência de laços afetivos entre os seus membros, o cuidado

mútuo e um senso comum de identidade (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001; SAMARA;

MORSCH, 2005). No entanto, segundo Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), determinadas

culturas não consideram a família uma instituição tão importante, assim surge o termo família

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limitada. Como exemplo os autores citam os Estados Unidos, onde as obrigações devem-se

somente aos membros imediatos da instituição familiar, diminuindo no momento em que estes

indivíduos saem de casa e constituem as suas próprias famílias.

As atividades de marketing finalizam o tópico sobre influências externas com a

seguinte questão: “como forneceremos valor superior ao cliente em nosso mercado-alvo?”. A

resposta a esta pergunta requer um composto de marketing coerente, que através da

combinação entre os seus elementos fornece valor ao cliente ao mesmo tempo em que atende

suas necessidades. Sendo assim, o composto de marketing corresponde ao conjunto de

estratégias de produto (product), preço (price), promoção (promotion) e distribuição (place)

(HAWKINS; MOTHERSBAUGH, BEST, 2007, p. 13).

A constante busca por uma boa performance no mercado provocou a expansão

dos 4 Ps do mix de marketing para incluir os 7 Rs: pesquisa (research), velocidade (rate),

recursos (resources), varejo (retailing), confiabilidade (reliability), recompensa (reward) e

relacionamento (relationship). Com a implementação dos 7 Rs nos planos de marketing das

empresas os autores garantem que o resultado da satisfação do consumidor pode tomar

proporções inimagináveis (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005).

Em relação aos 4 Ps, conforme Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007), um

produto é qualquer coisa que um indivíduo pode adquirir para atender uma necessidade.

Segundo Limeira (2008), as estratégias de produto envolvem decisões sobre todas as

características e benefícios de um produto ou serviço disponível no mercado, como

denominação da marca, cor, tamanho, peso, espessura, design e embalagem dos produtos.

A partir dos pontos mencionados, torna-se relevante o estudo do varejo na cadeia

de distribuição. Sendo assim, o tópico 4.2 apresenta a sua importante função mercadológica,

bem como os seus principais formatos.

4.2 VAREJO

Por definição, o varejo é entendido como todas as atividades comerciais que

englobam o processo de venda de produtos e serviços desejados pelos consumidores (LAS

CASAS, 1994; PARENTE, 2000; PARENTE; LIMEIRA; BARKI, 2008). Em outras

palavras, Henry Richter (1954 apud LAS CASAS, 1994) define varejo como o processo de

compra de produtos em quantidade relativamente grande dos produtores atacadistas e outros

fornecedores para posterior venda em quantidades menores ao consumidor final (LAS

CASAS, 1994).

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Componente dos sistemas de distribuição entre produtor e consumidor, o varejo

desempenha a função de intermediário, responsável pela união entre consumo, atacado ou

produção (PARENTE, 2000; PARENTE; LIMEIRA; BARKI, 2008). Nesse contexto, o

varejista difere do atacadista, pois o último consiste no processo de venda para clientes

institucionais, cujos produtos e serviços comprados destinam-se à revenda ou como insumo

para suas atividades empresariais (PARENTE, 2000).

No entanto, no momento em que atacadistas e fabricantes comercializam

diretamente com o consumidor final, estão também exercendo atividades do varejo, porém

não são considerados como tal, pelo fato de esta não ser sua principal fonte de receita

(PARENTE, 2000). Assim, Las Casas (1994, p. 17) complementa que para considerar-se um

estabelecimento varejista, é necessário que mais de 50% das operações da empresa sejam

decorrentes de vendas a varejo.

Nesse sentido, o varejista é conceituado como qualquer instituição cuja atividade

principal consista na venda de produtos e serviços diretamente ao consumidor final, isto é, no

varejo. Desta forma, as atividades varejistas não são realizadas apenas em lojas, pois também

abrangem vendas através de outros meios como, por exemplo, telefone, correio, internet e

tele-entrega (BERNARDINO et al, 1994; PARENTE, 2000).

4.2.1 Funções do Varejo

Em face do exposto, considerado um importante elo de relacionamento da cadeia

produtiva, uma vez que conecta as atividades industriais ao consumidor final. Conforme

Berman e Evans (1998 apud BERNARDINO et al, 2004, p. 28), os varejistas exercem estas

funções para atingir três principais objetivos: alcançar determinado volume de vendas,

ganhando participação no mercado, crescimento e estabilidade; alcançar determinado nível de

lucratividade, a fim de compensar financeiramente os proprietários ou acionistas do negócio;

e criar e cultivar uma imagem adequada ao seu tipo de empreendimento.

Segundo Levy e Weitz (2000, p. 41), para ser bem sucedido e com isso obter

lucro, um negócio de varejo deve oferecer “o produto certo, ao preço certo, no lugar certo e à

hora certa”. Desta forma, além de atender às necessidades, desejos e expectativas do

consumidor, o varejista deve conhecer o quê os concorrentes estão oferecendo neste momento

e o quê oferecerão futuramente.

No ramo do varejo, para obter êxito, é preciso entender tanto o todo como o

detalhe, tanto as estratégias como as táticas. Para ter sucesso, Bernardino et al (2004)

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complementam que é preciso, diariamente, conviver com essa dicotomia com naturalidade e

agilidade.

De acordo com Coughlan (2002 apud BERNARDINO et al, 2004), a conceituação

do termo varejo ainda requer sua inserção num amplo contexto de marketing, ou seja, nos

canais de distribuição. Parente (2000) define os canais de distribuição como conjuntos

integrados de instituições com o objetivo de satisfazer, eficiente e eficazmente, as

necessidades dos consumidores.

Os varejistas são componentes importantes neste contexto, porém não os únicos,

portanto, dependem da integração entre os outros participantes intermediários do canal. As

instituições de marketing integrantes deste processo são classificadas em primárias e

auxiliares. Compõem as primárias os membros que participam efetivamente e que tomam

posse das mercadorias durante sua transição pelo canal de marketing. Nesta, estão incluídos

os fabricantes, atacadistas, varejistas e consumidores. Exercendo o papel de facilitadores, com

a tarefa de ajudar os membros do canal no processo de distribuição, encontram-se as

instituições de marketing auxiliares, tais como empresas de transporte, armazenagem,

financiadoras, seguradoras, agências de propaganda e empresas de pesquisa de marketing

(PARENTE, 2000).

Neste contexto, Parente (2000) explica que o papel do varejista é comprar, receber

e estocar produtos de fabricantes ou atacadistas para oferecer ao consumidor a conveniência

de tempo e lugar para a aquisição de produtos. Las Casas (1994), Parente, Limeira e Barki

(2008) contribuem com a informação de que os intermediários reduzem o número de

transações realizadas, através de sua padronização e que, segundo Coughlan (2001 apud

PARENTE; LIMEIRA; BARKI, 2008), facilitam a distribuição tornando-a mais homogênea e

permitindo que os produtos cheguem ao consumidor na época que deles necessite. Cabe aos

intermediários a agilidade na troca do produto mesmo quando o consumidor localizar-se em

área separada (LAS CASAS, 1994). Este benefício permite a comercialização entre

fornecedores e consumidores distanciados, logo, além da otimização de tempo e lugar,

intermediários também proporcionam utilidade de posse (Coughlan, 2001 apud PARENTE;

LIMEIRA; BARKI, 2008; LAS CASAS, 1994).

Parente, Limeira e Barki (2008) apontam que o varejista preocupa-se também com

questões referentes a ações promocionais, atendimento ao cliente e riscos inerentes ao

negócio. Sendo assim, apesar de exercer uma função de intermediário, Parente (2000) percebe

que o varejista assume, cada vez mais, um papel pró-ativo na identificação das necessidades

do consumidor e na definição de estratégias para atender às expectativas do mercado.

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Fluxo de promoção

Fluxo de pagamento

Fluxo de informação

Fluxo de posse

V a r e j i s t a

C o n s u m i d o r

F o r n e c e d o r e s

Fluxo físico

F a b r i c a n t e o u A t a c a d i s t a

Segundo Bernardino et al (2004), muitos produtores e fabricantes não estão adaptados, tanto

em experiência quanto em economias de escala, para distribuir seus produtos diretamente aos

usuários finais. Logo, devido à integração entre produto, preço e promoção, o item

distribuição deve estar em sintonia com os demais elementos do composto de marketing, pois

o comportamento de cada participante do canal afeta os demais.

Para Parente (2000), o trabalho integrado entre os componentes do canal torna-se

cada vez mais necessário para o desenvolvimento das funções de transação e distribuição

efetivas e eficientes. Nesse contexto, Las Casas (1994) relaciona o item distribuição com duas

áreas de decisão: distribuição física e canais de distribuição. Na primeira, são levadas em

consideração as decisões a respeito de transporte, armazenagem e distribuição, englobando

toda a parte logística que envolve o produto. Na segunda, os canais são definidos a partir das

decisões referentes aos caminhos pelos quais o produto deverá seguir até a chegada ao

consumidor.

A escolha do canal de distribuição mais apropriado depende de fatores como tipo

do produto, estrutura do mercado, recursos da empresa e capacidade dos intermediários. No

sistema de distribuição, sempre quem contata o consumidor final é o varejista, ou seja, o

estudo desta área se aplica ao intermediário que vende ao consumidor final (LAS CASAS,

1994; PARENTE, 2000; BERNARDINO et al, 2004).

De acordo com a definição de Las Casas (1994) de que o varejista mantém uma

relação direta com os seus fornecedores e consumidores, Levy e Weitz (2000, p. 26),

complementam que o varejista é “o último negociante de um canal de distribuição que liga

fabricantes a consumidores”. Parente (2000, p. 23) propõe este processo de integração

mediante os cinco fluxos, propostos na figura 10.

Figura 10 – Os cinco fluxos do varejoFonte: Parente (2000, p. 23)

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Conforme o fluxo de produtos e serviços, o produto desempenha um movimento

físico que inicia no fornecedor e passa pelo varejista até chegar ao consumidor final,

considerando, ou não, o envolvimento de empresas especializadas em transporte.

Acompanhando a direção do fluxo de produtos se encontra o fluxo de propriedade, no qual a

posse dos mesmos inicia no fabricante e passa pelo varejista até chegar ao consumidor final.

Já do fluxo de informação todos os membros participam. Nele o fluxo é bidirecional, podendo

ultrapassar o varejista à medida que se movimenta diretamente do fornecedor ao consumidor.

No fluxo de pagamento, o consumidor paga o varejista, e esse ao fornecedor, realizando um

fluxo de baixo para cima. Por último, o fluxo de promoção trilha o caminho contrário ao do

fluxo de pagamento (PARENTE, 2000, p. 23).

Parente, Limeira e Barki (2008, p. 72) apontam que “a fluidez desses fluxos

possibilita uma rede de valor ajustada às exigências do cliente, mas esta só é alcançada com

muito diálogo e com a convergência de objetivos para a resolução de conflitos de interesse”.

4.2.2 Formatos Varejistas

O desenvolvimento de novos formatos é uma constante no varejo atual. De acordo

com Goldman (2001 apud PARENTE; LIMEIRA; BARKI, 2008), o formato de uma empresa

varejista diz muito sobre o seu posicionamento no mercado. Em síntese, está relacionado com

sua oferta e know-how, ou seja, com elementos externos e internos. Nesse contexto, a oferta

consiste em elementos externos, responsáveis pela apresentação de benefícios funcionais,

psicológicos, sociais, estéticos e de entretenimento, que acabam por levar o consumidor à loja.

Já o know-how, com seus elementos internos, determina a força operacional e a direção

estratégica de um varejista. Dos elementos internos do varejo consistem a tecnologia, que

inclui sistemas, métodos, procedimentos e técnicas e a cultura, ou seja, conceitos, normas,

regras, práticas e experiências.

Devido à diversidade de classificações de negócios varejistas, neste trabalho, para

efeito de classificação e por apresentar conteúdo mais completo, será utilizado o modelo

proposto por Berman e Evans (1998 apud PARENTE, 2000, p. 25), conforme a figura a

seguir.

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Figura 11 – Classificação das instituições varejistasFonte: Parente (2000, p. 25)

Conforme a ilustração, as instituições varejistas classificam-se segundo vários

critérios. Nesta etapa do trabalho, inicialmente são apresentados os tipos varejistas

caracterizados de acordo com o tipo de propriedade. Em seguida, as instituições varejistas são

classificadas em dois principais sistemas: varejo sem loja e varejo com loja. No que se refere

ao varejo sem loja, são comentados os seguintes formatos: marketing direto, venda direta,

máquina de venda automática e varejo virtual. Divididos em três espécies, os varejistas com

lojas são identificados como varejo de serviços, varejo não alimentar e varejo alimentar.

Componente das instituições de varejo alimentar com loja, por ser foco deste trabalho, deu-se

ênfase no formato de varejo alimentício com lojas.

Conforme dados do IBGE (2000), com base nas pesquisas sobre orçamento

familiar, devido à renda ainda baixa da população brasileira, nota-se que os gastos familiares

com produtos alimentícios superam os gastos no varejo de não alimentos. Desta forma, de

acordo com Parente (2000), o varejo alimentício no Brasil encontra-se muito desenvolvido.

Além deste relevante fator econômico, as empresas têm acompanhado as tendências mundiais

e oferecido uma variedade completa de modelos e formatos de lojas que atendem às mais

diversas necessidades e características do mercado brasileiro. Logo abaixo, o quadro 02

apresenta alguns dos principais tipos de lojas de alimentos, bem como algumas de suas

características mercadológicas.

■ Independentes ■ Redes ■ Franquias ■ Departamentos Alugados ■ Sistemas Verticais de Marketing

■ Marketing Direto ■ Vendas Diretas ■ Máquinas de Venda ■ Varejo Virtual

■ Serviços ■ Não Alimentícias ■ Alimentícias

Instituições Varejistas

Classificação de acordo com a propriedade

Instituições sem Lojas Instituições com Lojas

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* São modelos que, em geral, não utilizam check outs.Quadro 02 – Principais características dos formatos de lojaFonte: ABRAS (2007)

Por ser um dos alicerces deste trabalho, apresenta-se com maior profundidade o

formato varejista denominado supermercado. Importante referência de consumo, o setor

supermercadista foi reconhecido legalmente somente em 13 de novembro de 1968, com a

instituição da Lei 7208. Essa legislação definiu alguns requisitos para que os

estabelecimentos, no Brasil, pudessem ser considerados supermercados. Sendo assim, com

base na área de vendas por metro quadrado, quantidade aproximada de check-outs, número

médio de itens e seções, os supermercados são classificados em três tipos: compactos,

convencionais e grandes (UGALDE, 2005).

Outro importante acontecimento na trajetória do desenvolvimento do setor

supermercadista no Brasil foi a criação da Associação Brasileira de Supermercados

(ABRAS), também em 1968. A entidade desempenhou um papel muito importante ao intervir

10 20 - 35Mercearia, hortifrútis, carnes, aves,

frios, laticínios, peixaria, padaria, bazar, têxtil, eletroportáteis

Supermercados convencionais

800 - 2.500 10.000 5 8 - 20Mercearia, hortifrútis, carnes, aves, frios, laticínios, peixaria, padaria,

confeitaria, bazar e serviços

Supermercados grandes

2.500 - 5.000 18.000

300 - 800 5.000 3 2 - 7

35 40 - 80

Mercearia, hortifrútis, carnes, aves, frios, laticínios, bazar

Clubes atacadistas

5.000 - 12.000 5.000 30 20 - 35Mercearia, carnes, aves, frios, laticínios,

bazar, têxtil, eletrônicos

Supermercados compactos

Mercearia, hortifrútis, carnes, aves, frios, laticínios, padaria, têxtil,

eletroeletrônicos

Lojas de conveniência

50 - 250 1.000 1 1Mercearia, frios, laticínios, snacks ,

bazar

Hipermercados 5.000 - 14.000 60.000

50 - 100 1.000 3 1

3 *

Mercearia, frios, laticínios, bazar

Padarias 50 - 100 1.000 1 *Padaria, mercearia, frios, laticínios,

snacks

Minimercados

Mercearia, frios, laticínios, bazar

Bares 20 - 50 300 1 * Mercearia, snacks , bebidas

Mercearias 20 - 50 500

SeçõesFormatos

de lojaÁrea de

vendas / m²Nº médio de itens

% de vendas não-alimentos

Nº de check outs

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em diversas situações em que o cenário supermercadista estava em jogo e precisava de bons

negociadores, o que garantiu a continuidade e expansão do setor (UGALDE, 2005).

Devido ao fator tempo, alguns dados propostos pela Lei 7208 (1968) divergem

dos apresentados pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS, 2007),

demonstrados na figura 14. No entanto, para o desenvolvimento deste trabalho, é utilizada a

fonte fornecida pela legislação instituída em 1968.

Segundo esta classificação, são considerados supermercados compactos os

estabelecimentos com área de vendas de 200 a 1000 metros quadrados, 2 a 4 check-outs e sete

mil itens distribuídos em seções de mercearia, hortifrútis, carnes, aves, frios, laticínios e bazar

(UGALDE, 2005). De acordo com Parente (2000), os supermercados compactos representam

a maioria dos formatos de auto-serviço no Brasil, apresentando uma linha compacta, porém

completa, de produtos alimentares.

Com área de vendas de 1.001 a 2.500 metros quadrados enquadram-se os

supermercados convencionais, com cerca de 8 a 20 check-outs e compostos por

aproximadamente 12.000 itens apresentados em seções de mercearia, hortifrútis, carnes, aves,

peixaria, frios, laticínios, padaria e bazar (UGALDE, 2005). O supermercado convencional,

segundo Las Casas (1994), nasceu na década de 30, nos Estados Unidos, e cresceu devido ao

desenvolvimento do uso do automóvel e, também, acrescentam Levy e Weitz (2000), dos

sistemas de estradas aprimorados, do surgimento da mídia nacional de massa, da criação de

marcas nacionais, da crescente sofisticação dos consumidores e da melhora das embalagens e

refrigeração dos produtos. De acordo com Las Casas (1994), vinte anos depois este modelo

surgiu no Brasil.

Sobre os supermercados convencionais, Parente (2000) os define como

estabelecimentos de médio porte, com caráter essencial de loja de alimentos e com uma boa

variedade de produtos. Nota-se que neste porte de supermercado é limitada a venda de

produtos de não-alimentos, como produtos de beleza, por exemplo (LEVY E WEITZ, 2000).

Também denominado de superloja, o supermercado grande possui cerca de 2.500

a 5.000 metros quadrados em sua área de vendas, 21 a 30 check-outs e cerca de 20 mil itens

dispostos em seções de mercearia, hortifrútis, carnes, aves, peixaria, frios, laticínios, padaria,

bazar, eletro-eletrônicos e têxteis (UGALDE, 2005). Nesse contexto, nas lojas grandes

predomina a venda de produtos alimentícios, porém também são oferecidos produtos não-

alimentícios, mas estes em bem menor variedade (PARENTE, 2000).

Este trabalho investiga a influência do ambiente de loja no varejo de auto-serviço

alimentar. Por este motivo, foram escolhidos os formatos de supermercado compactos,

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convencionais e grandes, uma vez que os produtos alimentícios são predominantes nesses

portes de loja.

Segundo a Pesquisa Nacional de Consumidores da LatinPanel, publicada em maio

de 2007 na revista SuperHiper, da média de quatro vezes que o consumidor vai aos

supermercados, três delas destinam-se à compra de alimentos. Conforme a Pesquisa Ranking

Abras, realizada em parceria com a ACNielsen e também publicada em maio de 2007 na

revista SuperHiper, em 2005, o auto-serviço alimentar brasileiro faturou, em valor nominal, o

montante de R$ 106,4 bilhões, atingindo 7,8% em relação ao ano anterior. Além disso, o setor

é considerado um dos maiores empregadores do País, sendo que em cinco anos sua

participação aumentou em mais de 90 mil postos de trabalho.

No Brasil, a maior participação do setor supermercadista encontra-se na Região

Sul, com cerca de 20% do faturamento, aproximadamente 27% das lojas e 22% dos

funcionários. Com o aumento de 37,9% no número de lojas durante o período de 2001 a 2005,

o Rio Grande do Sul, Estado onde este trabalho será realizado, ampliou em 51,2% este

montante (RANKING ABRAS, 2007).

De acordo com estudos realizados pela ABRAS (2007), o mercado brasileiro

encontra-se em constante evolução, com maior quantidade e variedade de produtos e serviços

sendo oferecidos pelas indústrias nos supermercados de todo o País. Devido a grande

disparidade socioeconômica, a grande extensão territorial e a forte miscigenação cultural da

população, o mercado brasileiro é visto como muitos mercados em um. Isso implica em todo

o sistema de distribuição de alimentos e demais gêneros de produtos, o que afeta, em especial,

o setor supermercadista.

Além dos fatores comentados, o Brasil é um País em desenvolvimento

especialmente no que diz respeito a sua infra-estrutura, o que representa muitos desafios para

a logística e distribuição. Ainda aquém das suas possibilidades, mesmo com todos esses

entraves, o mercado brasileiro se desenvolveu em ritmo acelerado nos últimos cinco anos.

Contudo, essa evolução pode ser diagnosticada pelo avanço da indústria em seus meios de

produção, pelos lançamentos e investimentos da indústria multinacional e, por fim, pela

significativa ampliação do mix de produtos oferecidos aos clientes dos supermercados

(ABRAS, 2007).

Nesse contexto, é importante atentar para os diversos fatores que estão afetando

estruturalmente o desempenho do setor. Por esse motivo, as empresas supermercadistas que

percebem a necessidade de aprimorar a gestão do negócio investem em novas tecnologias e

processos. É preciso ganhar eficiência, por exemplo, na redução de perdas ocasionadas, dentre

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outros diversos fatores, por furtos de produtos, minimizando rupturas de produtos em

prateleiras, ou seja, a falta de mercadorias (ABRAS, 2007).

Ainda, para ganhar eficiência, um aspecto essencial é a definição do mix de

produto, isto é, da diversidade de itens com que o cliente irá se deparar na loja. Esse é

considerado um processo de gestão cada vez mais fino, no qual destacam-se os sistemas

verticais de marketing tão falados atualmente.

Considerado uma das novas tendências de mercado, o Sistema de Marketing

Vertical foi estabelecido para minimizar os desperdícios existentes nos canais de marketing

tradicionais (PARENTE, 2000). Compõem os canais de marketing convencionais as empresas

independentes, cuja função de produtor, atacadista e varejista é desempenhada

individualmente, em busca da maximização do seu respectivo lucro. Parente (2000) constatou

que nesta estrutura é fraca a integração e a visão conjunta entre os membros, o que acaba

impedindo a otimização dos resultados ao longo do canal.

Segundo Parente (2000), contrapondo os canais de marketing convencionais, no

Sistema de Marketing Vertical, todos os membros do canal – varejistas, atacadistas e

produtores – estruturam-se num sistema integrado de trabalho, o qual objetiva a otimização

dos resultados e a eliminação de perdas e retrabalho. Compara-se a um “capitão” o membro

que assume a respectiva posição, cuja tarefa é o desenvolvimento da cooperação e

alinhamento das atividades e objetivos de todos os membros que compõem o canal. De acordo

com o autor, os três tipos de Sistemas de Marketing Vertical classificam-se como:

corporativo, administrado e contratual.

O primeiro, denominado por Levy e Weitz (2000) como cadeia de varejo

corporativo, ocorre quando unidades de varejo passam a ser propriedade de uma única

empresa, geralmente centralizadora nas tomadas de decisões e definições das estratégias do

negócio. Segundo Parente (2000), para criar uma cadeia própria de fornecimento, ou

desenvolver sua própria rede de distribuição, um varejista e um fabricante, respectivamente,

podem integrar-se verticalmente. De acordo com Levy e Weitz (2000), através de suas

economias de escala e de um sistema de distribuição eficiente, as corporações de cadeias de

varejo podem oferecer preços muito mais baixos do que os dos varejistas de uma só loja, além

de disponibilizar uma seleção mais ampla de mercadorias. Os autores alertam que o Sistema

de Marketing Vertical Corporativo pode prejudicar os varejistas locais, que acabam por deixar

o negócio. No entanto, frequentemente as mercadorias oferecidas por essas lojas são as

mesmas, e isso deve ser usado a favor do varejista independente, que poderá vender

mercadorias compatíveis com as necessidades do mercado local. Além disso, outro ponto

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positivo na abertura de uma cadeia de varejo corporativa é o aumento das ofertas de emprego

na comunidade local.

De acordo com Parente (2000), o Sistema de Marketing Vertical Administrado

ocorre quando um dos integrantes do canal, por seu porte ou competência, lidera e coordena

por livre iniciativa as etapas subseqüentes de produção e distribuição no canal. The

Partnering Group (1998) informa que nesse processo são utilizados princípios de

gerenciamento interorganizacional e as ferramentas do Efficient Consumer Response (ECR) –

Resposta Eficiente ao Consumidor .

A Efficient Consumer Response (ECR) - Resposta Eficiente ao Consumidor,

conforme o quadro 03 (ECR, p.13), consiste em quatro estratégias de cooperação fornecedor-

varejista, que tem como objetivo criar valor superior para o consumidor a um custo reduzido.

Quadro 03 – ECRFonte: ECR (2007)

A Estratégia de Reposição Eficiente integra em um único sistema o consumidor, a

loja, o centro de distribuição ou atacadista e o fornecedor do canal, otimizando tempo e custos

no abastecimento das mercadorias aos consumidores e tempo, utilizando-se da ferramenta

Eletronic Data Interchange (EDI) – Intercâmbio Eletrônico de Dados (THE PARTNERING

GROUP, 1998).

■ Otimizando o sortimento nas lojas e os níveis de estoque ■ Otimizando espaços nas prateleiras ▪ Aumento da produtividade por m² ▪ Maiores giros de estoque ▪ Níveis menores de falta de estoque ■ Ajustando o sortimento ao comportamento local de compra

■ Otimizando desenvolvimento de produtos ■ Controlando lançamento de novos produtos ▪ Melhores possibilidades de teste ▪ Resposta mais rápida sobre aceitação ou rejeição por parte do consumidor ■ Reduzindo custos de lançamento ■ Aumentando níveis de sucesso

Quatro estratégias básicas ECR

Reposição Eficiente Promoção Eficiente

■ Otimizando tempo e custos no abastecimento de produtos aos consumidores ▪ Logística just-in-time ▪ Pedidos automatizados ▪ Troca de dados via EDI (troca eletrônica de dados) ■ Incrementando serviço ao consumidor no ponto de compra

■ "Eficiência total do sistema" para planejar e repor melhor as promoções ▪ Minimizar custos (administração, armazenagem, transporte, pessoal) ▪ Criar uma base de know-how e possibilitar uma reação mais rápida às mudanças de necessidade do consumidor ■ Desenvolver e realizar promoções com base em valor para o consumidor

Sortimento Eficiente na Loja Lançamento Eficiente do Produto

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Combinando o fluxo promocional do produto com a necessidade do consumidor, a

Estratégia de Promoção Eficiente promove maior rendimento nas operações com muito menos

quantidade de estoque no sistema. Além disso, desenvolve melhor o mix promocional

orientado para o consumidor dentro de categorias (THE PARTNERING GROUP, 1998).

Representando o elo crítico com o consumidor, o Sortimento Eficiente

proporciona o melhor aproveitamento da loja e do espaço nas prateleiras, pois além de

melhorar as vendas e os lucros por unidade de espaço (m²), direciona a oferta de sortimento

correto de produtos ao público-alvo (THE PARTNERING GROUP, 1998).

A quarta estratégia, Lançamento Eficiente do Produto, aplica-se a processos de

desenvolvimento e entrada de novos produtos no mercado, os quais supram a necessidade do

consumidor não preenchida ou parcialmente preenchida até então. Aqui o principal objetivo é

o desenvolvimento de produtos mais orientados ao consumidor a custos menores mediante

esforços de fornecedores e varejistas (THE PARTNERING GROUP, 1998).

Além das quatro estratégias citadas, Parente (2000) aponta o Category

Management - Gerenciamento por Categorias como o componente-chave para o sucesso da

ferramenta ECR. Esta estratégia permite aos varejistas e fornecedores a movimentação

simultânea em direção à redução de custos, ao mesmo tempo em que utilizam práticas de

marketing e promoção mais eficientes, direcionadas ao consumidor-alvo (THE PARTNERING

GROUP, 1998).

Segundo Parente (2000), o terceiro tipo de Sistema de Marketing Vertical é o

Contratual que, como o nome sugere, é composto por contratos que integram as tarefas de

empresas independentes do canal, podendo ser estruturado por cadeias voluntárias

patrocinadas por atacadistas ou por cooperativas patrocinadas por varejistas.

A cadeia voluntária patrocinada por atacadista, de acordo com Parente (2000), é

uma organização de varejistas independentes operada por um atacadista que, voluntariamente,

oferece-lhes melhores condições de compra, apoio mercadológico e tecnológico. Além de

fornecer subsídios para os pequenos varejistas independentes concorrerem com as unidades

pertencentes às grandes redes, Levy e Weitz (2000) citam dois grupos de cooperativas

voluntárias patrocinadas por atacadistas que vão além, o Independent Groceries Alliance

(IGA) e o Ace Hardware, que além de comprar, armazenar e distribuir, oferecem serviços

como seleção de local, design ou layout da loja, auxílio na escrituração contábil e sistemas de

controle de estoque e programas de treinamento de empregados.

De acordo com Parente (2000), cooperativas patrocinadas por varejistas são

organizações atacadistas, compostas e de propriedade de grupos varejistas independentes,

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cujo objetivo principal é a obtenção de melhores condições de abastecimento, através do

poder de barganha atingido pelo maior volume de compras.

Atualmente 98% dos lares brasileiros compram em supermercados (ABRAS,

2007). Ainda, segundo dados do Point of Purchase Advertising Institute (POPAI, 2004), 81%

das compras feitas pelo consumidor em supermercados são decididas dentro da loja, ou seja,

sem prévia intenção de aquisição do produto. Nesse sentido, Turley e Chebat (2002) apontam

o ambiente de loja como um dos aspectos que está intimamente ligado ao formato varejista.

Sendo assim, o Instituto POPAI (2004) sinaliza a importância do estudo da influência da

exposição, promoção e, principalmente, do ambiente de loja no processo de compra. Em face

do exposto, a seguir são exploradas as principais variáveis que compõem a atmosfera de loja.

4.3 AMBIENTE DE LOJA DE VAREJO

Com um sentindo aparentemente abstrato, a expressão atmosfera de loja é uma

realidade bastante palpável para a planificação de um ponto-de-venda (BLESSA, 2007). Há

décadas, profissionais de marketing vêm produzindo inúmeros trabalhos a respeito dos

impactos do ambiente de varejo sobre o consumidor (ESPINOZA; D’ANGELO; LIBERALI,

2005). Prova disto é a adaptação da escala PAD de Mehrabian e Russel (1974) para o

ambiente do varejo realizada por Donovan e Rossiter (1982). Ao caracterizar o ambiente

varejista segundo este modelo, os autores procuraram conhecer as respostas (desejo de

permanecer ou de sair do ambiente) dos indivíduos a partir da relação entre os estados

emocionais como prazer (grau de satisfação com a situação), alerta (grau de excitação ou

interesse pela situação) e domínio (grau de controle sobre a situação); e os estímulos

induzidos pelos elementos do ambiente de loja como a disposição das mercadorias

(merchandising), a iluminação, as cores, os sons, a apresentação dos funcionários e o fluxo de

pessoas (crowding feeling).

O ponto-de-venda tornou-se uma ferramenta promocional e de venda tão

importante quanto campanhas publicitárias e ações promocionais para tornar conhecida a

marca de um produto. Com esta visão, as empresas varejistas vêm, cada vez mais, realizando

esforços para proporcionar ao seu público-alvo ambientes de loja mais agradáveis à sua

experiência de consumo (COSTA, 2002).

Os clientes respondem não apenas a um bem físico, mas sim a um produto total,

de modo que o local onde é comprado ou consumido torna-se uma das suas principais

características. Assim, a atmosfera de varejo pode ser o principal produto ofertado ao

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consumidor (CAVALCANTI, 2007; FARIAS, 2007). Sempre descrita em termos sensoriais,

pode ser definida como um “esforço de criar ambientes para produzir um efeito emocional no

comprador que aumente sua probabilidade de compra” (KOTLER, 1973, p. 50).

Logo, se ao entrar em um estabelecimento o estado emocional do cliente é ativado

pelas características sensoriais do ambiente, é fato que a visão, a audição, o tato e o olfato são

os principais canais para a atmosfera de loja (KOTLER, 1973). Os sentidos podem ser

definidos como os dados detectados e analisados pelo cérebro a fim de transmitir ao ser

humano informações a respeito do ambiente onde se encontra. Os olhos, ouvidos, língua,

nariz e pele são órgãos muito complexos que permitem ao ser humano perceber e tomar as

medidas necessárias frente a variações de concentrações de substâncias químicas, radiações,

pressão e temperatura (MAIA, 2008).

Os indivíduos baseiam-se na sua percepção das instalações de um estabelecimento

em sua interpretação de indicações sensoriais (BATESON; HOFFMAN, 2001), assim,

recursos que estimulam órgãos de sentido dos clientes são utilizados para desenvolver uma

atmosfera de loja personalizada (PARENTE, 2000). Frente aos conceitos até então expostos,

cor, brilho, forma e tamanho são consideradas as dimensões visuais mais relevantes. O

volume se destaca em relação às dimensões auditivas; no caso das táteis, interferem a

temperatura, suavidade e maciez; e, quanto às dimensões olfativas, correspondem o cheiro e o

frescor (KOTLER, 1973).

Até essa etapa, nota-se que o paladar não se aplica diretamente à atmosfera. No

entanto, como o objetivo desta pesquisa é analisar a influência da atmosfera de loja na compra

de alimentos, julga-se necessária a consideração desse sentido para o melhor desenvolvimento

do estudo, uma vez que a experiência de consumo, conforme Zeithaml e Bitner (2003),

envolve condições que afetam os cinco sentidos dos seres humanos.

A figura 12 ilustra os dados apontados por Veronis (apud BLESSA, 2003, p. 30),

o qual afirma que os seres humanos aprendem: 1,0% pelo paladar; 1,5% pelo tato; 3,5% pelo

olfato; 11,0% pela audição; e 83,0% pela visão.

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Figura 12 – Gráfico Avaliação dos sentidos humanos na percepçãoFonte: elaborado pela autora com base em Blessa (2003, p. 30)

Ao analisar o ser humano como consumidor, Underhill (1999) explica que todos

os indivíduos agem como compradores pós-defesa do consumidor, isto é, só acreditam depois

de ver, cheirar, tocar, ouvir, provar e experimentar o produto. Assim, considerando a

importância do estímulo aos sentidos humanos na ambientação de loja, a seguir apresenta-se

uma breve explicação sobre os mesmos e o modo como implicam na interpretação dos

consumidores.

Os Cinco Sentidos Humanos

Ao fazer com que o cérebro reaja na direção dos produtos, o olhar é o primeiro

sentido responsável pelo processo decisório do consumidor (BATESON; HOFFMAN, 2001,

CARVALHO; LIMA; MOTTA, 2003). Embora o olho seja capaz de detectar milhares de

nuances de cores, todas são ondas cujo comprimento se situa numa estreita faixa de 400 a 700

nanômetros, denominada de luz visível. Considerando-se que 1 nanômetro corresponde a 1

metro dividido por 1.000.000.000, ondas um pouco maiores são chamadas de infravermelhas.

Apesar de mais frequentes, ondas maiores que as infravermelhas não são percebidas pelo ser

humano, da mesma forma que ocorre com as ondas prejudiciais, como a ultravioleta, ou

fatais, como o raio X (MAIA, 2008).

Sobre a atenção normalmente fixada em um objeto, Blessa (2003) explica que esta

dura de 2 a 10 segundos. Durante a compra em um supermercado, por exemplo, o tempo de

decisão em frente à prateleira não ultrapassa, em média, 5 segundos, considerando que são

segundos “em movimento”, devido ao percurso do carrinho. Logo, o tempo entre a parada do

carrinho e a busca com os olhos pelas gôndolas por determinada categoria de produto, marca

e preço, não ultrapassa 15 segundos. Ou seja, se nesse meio tempo a atenção for desviada por

Avaliação dos sentidos humanos na percepção

Paladar

Tato

Olfato

Audição

Visão

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outras embalagens, etiquetas de preço ou material promocional, o cliente despenderá mais

alguns segundos para comparar as mercadorias, até escolher o produto definitivo.

O cérebro, impulsionado pela visão, em poucos segundos envia a mão ao produto

certo (BLESSA, 2003), isso explica o porquê da necessidade de alguns produtos precisarem

ser “vistos com as mãos” (SCHMIDT, 2002, p. 40). Devido a sua importância, a seguir

apresenta-se o sentido do tato.

O tato é um sentido que permite ao indivíduo perceber as variações de natureza

eminentemente física, como a pressão, a temperatura e comprimento de ondas. Desta forma,

sensores espalhados pela periferia do corpo humano podem geram dores providenciais para

informar o cérebro da necessidade de tirar a mão do fogo e proteger-se do sol, por exemplo

(MAIA, 2008).

Para Underhill (1999), o exemplo mais natural de compras humanas procede de

observar uma criança que no percorrer da vida toca absolutamente em tudo. A partir desse

ponto de vista, as lojas devem dar a possibilidade aos clientes de tocar e experimentar os

produtos. Nesse sentido, no momento em que um produto encontra-se disponível para venda,

o tato é considerado um suplemento de persuasão para a compra (SCHMIDT, 2002).

Através de papilas gustativas específicas distribuídas em regiões bem demarcadas

da língua, o paladar é o sentido capaz de identificar o doce, o salgado, o azedo e o amargo. O

doce pode ser sentido na ponta da língua, o salgado em quase toda sua extensão, o azedo nas

laterais e o amargo na parte mais próxima à garganta. Desta forma, o paladar humano é capaz

de distinguir somente esses quatro sabores. No entanto, é possível distinguir um sorvete de

um suco de limão apenas com a língua, o que não ocorre com uma feijoada e uma bacalhoada,

pois são igualmente salgadas. Nesse caso, é o aroma dos alimentos que os diferencia, ou seja,

os dois pratos são distinguidos mais pelo olfato do que pelo paladar (MAIA, 2008).

Durante a mastigação, muitas moléculas dos alimentos se vaporizam e são

difundidas para dentro da cavidade nasal, onde, numa região denominada epitélio olfativo, se

combinam com enzimas que provocam sinais nervosos que são traduzidos pelo cérebro como

cheiro (MAIA, 2008). Dada a sua importância, a seguir apresenta-se o sentido do olfato.

Depois da visão, o olfato é o sentido que mais provoca emoções (BLESSA, 2003)

e o mais fortemente manipulável (SILVA, 2003). Porém, apesar de ser capaz de perceber mais

de 10.000 cheiros, o ser humano tem muita dificuldade em nomeá-los (MAIA, 2008).

Maia (2008) explica que o olfato é processado próximo ao sistema límbico e ao

complexo reptiliano, os quais encontram-se em regiões profundas do sistema nervoso central.

Silva (2003) explica que ao inspirar, ocorrem alterações na frequência das ondas do

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hemisfério direito do cérebro, responsável pelas emoções. Esse processo, de caráter

extremamente natural, leva apenas 1/3 de segundo para provocar uma resposta do cérebro, o

que altera o humor da pessoa. Como, geralmente, o ato de comprar se encontra diretamente

relacionado ao fator emocional, o emprego de determinados aromas no ponto-de-venda pode

favorecer ou prejudicar as vendas.

No auge do Colonialismo, ingleses comercializavam produtos aromatizados com

óleo essencial de patchouli, como forma de certificar e garantir sua origem oriental, já que

naquela época a planta era cultivada somente na Índia. Atualmente o aroma é utilizado pela

propaganda como importante ferramenta para vendas, convencendo nos comerciais de

televisão que um hálito de menta trará felicidade no amor, por exemplo (MAIA, 2008).

Considerada a sua relevância, o item Aromas explora, com maiores detalhes, o seu emprego

no ambiente varejista.

Da mesma forma, a audição possui ligação direta com as emoções, pois os sons

possuem um efeito imediato sobre as lembranças. Gobé (2002) afirma que a voz de um

amigo, uma música especial ou as ondas banhando a praia são sons que podem disparar uma

série de associações no cérebro. Existem estudos que comprovam que determinados tipos de

músicas quando ouvidas disparam a liberação de endorfina, ativando os centros de prazer no

cérebro. Conforme Bateson e Hoffman (2001), um exemplo comum de apelo sonoro é a

música, o que comprova, que artifícios quase invisíveis são poderosos estímulos de vendas, de

modo que vêm tornando-se uma estratégia muito eficaz para os ambientes varejistas.

Os ouvidos trazem informações de ondas que se propagam com um comprimento

entre 1,7cm e 17m, o que equivale às ondas agudas que vibram 20.000 Hz por segundo e às

mais graves, de 20 Hz. À medida que o ser humano envelhece, o seu aparelho auditivo passa a

não perceber mais algumas faixas de onda, de modo que não é mais capaz de ouvir sons muito

agudos (MAIA, 2008).

Conforme Bateson e Hoffman (2001), um exemplo comum de apelo sonoro é a

música, o que comprova, segundo Silva (2003), que artifícios quase invisíveis são poderosos

estímulos de vendas, de modo que vêm tornando-se uma estratégia muito eficaz para os

ambientes varejistas.

Explorados os cinco sentidos humanos, a seguir apresentam-se dois modelos

desenvolvidos para o estudo do ambiente de loja, a partir da visão de diferentes autores.

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Modelos propostos para o estudo do ambiente de loja

Dentre os mais recentes modelos desenvolvidos para verificar o impacto do

ambiente de loja sobre os consumidores encontra-se o proposto por Baker et al (2002),

ilustrado a seguir, o qual produziu evidências de que ambientes de varejo impulsionam

reações afetivas nos consumidores.

Figura 13 – Modelo conceitual do processo de compra com base nas percepções do ambienteFonte: Baker et al (2002)

Publicado no Journal of Marketing (2002), Baker et al (2002) investigaram a

influência da atmosfera de loja sobre percepções de qualidade, de preço e de custo dos

consumidores, analisando, ainda, o impacto exercido sobre a idéia de valor dos produtos e a

intenção de retorno e recomendação de uma loja de presentes, localizada nos Estados Unidos.

O modelo elaborado por Baker et al (2002) integra três dimensões que

influenciam a percepção do consumidor: fatores sociais, que de acordo com o esquema

restringem-se à percepção dos funcionários da loja; ambientais, que neste caso compreendem

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a percepção da música na loja; e fatores de design que, de acordo a explicação de Costa

(2002), facilitam o reconhecimento cognitivo do indivíduo no que se refere à organização do

ambiente, podendo auxiliar ou dificultar a atividade de busca dentro do estabelecimento.

Nesse contexto, Baker et al (2002) explicam que a intenção de escolha de uma

loja é consequência da percepção de qualidade de serviços, de custos de tempo e esforço, de

custos psíquicos e da percepção de valor das mercadorias, considerando que esta corresponde

à junção das percepções de preço monetário e de qualidade de produtos.

O ambiente de varejo deve estar associado às estratégias da empresa, as quais

devem conectar-se com três elementos: formato varejista, público-alvo e vantagem

competitiva sustentável. Essa visão estratégica é demonstrada na figura 14, na qual Turley e

Chebat (2002, p.125) dividem o ambiente e design em cinco categorias.

Figura 14 – Visão estratégica do ambiente de varejoFonte: Turley e Chebat (2002)

São cinco as categorias estabelecidas por Turley e Chebat (2002) para definir o

ambiente de loja: exterior (tamanho e forma da loja, fachada, estacionamento e vizinhança);

interior geral (iluminação, música, cores, odores, temperatura e limpeza); layout e design

(fluxo de pessoas e corredores, agrupamento de produtos, móveis e disposição dos check-

outs); decoração e material de ponto-de-venda (quiosques, displays de ponto-de-venda, de

produtos e interativos); e fatores humanos (características dos funcionários, uniformes,

densidade e loja cheia). Mesmo que estabelecidos em categorias, esses elementos devem ser

desenvolvidos em um todo único e compatível com a estratégia da empresa (TURLEY,

CHEBAT, 2002).

Estratégia de Varejo Ambiente e Design

Mercado varejista

Exterior

Fatores Humanos

Decoração e material de ponto de venda

Layout e design

Interior da lojaImagem de loja

Retenção

Segmentação

Impacto nos funcionários

Vantagens em relação às lojas virtuais

Efeitos em vendas

Comportamento de aproximação/afastamento

Público-alvo

Vantagem competitiva

Resultados e Comportamento de Compra

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A atmosfera da loja deve transmitir segurança e comodidade ao consumidor. O

design de interior de loja tem como objetivo atender às exigências dos clientes-alvo de uma

forma criativa e inovadora, de modo que desperte o desejo de compras. Para isso, toda a

arquitetura da loja, incluindo itens como mobiliário, equipamentos, materiais e revestimentos,

deve estar em total harmonia com o tema proposto e com os produtos expostos, obedecendo a

uma hierarquia dos espaços e circulação no interior do estabelecimento (COUTO;

ZAMPIROLLI, 2007).

Principalmente por tratar-se do público da terceira idade, cabe destacar a

necessidade de alguns atributos físicos como, por exemplo, boa iluminação e piso plano de

material antiderrapante e sem degraus (COUTO; ZAMPIROLLI, 2007). A presença desses

atributos aumenta o volume de compras realizadas especialmente por clientes idosos

(MOWEN; MINOR, 2006).

Bateson e Hoffman (2001, p. 165) explicam que uma empresa não pode ser tudo

para todos, logo a atmosfera de uma loja poderá não agradar a todos os clientes. Por isso, é de

extrema importância determinar um mercado-alvo.

É conveniente definir o que cada uma significa e, também, averiguar a sua

influência no processo decisório do consumidor da terceira idade. Portanto, com o respaldo de

Baker et al (2002) e Turley e Chebat (2002), a fim de compreender as variáveis envolvidas na

pesquisa, a seguir são exploradas as três principais dimensões que compõem a atmosfera de

uma loja, são elas: design, ambiente e fatores sociais.

4.3.1 Design

Importante elemento que influencia as reações e comportamento dos

consumidores, o layout de uma loja deve ser projetado para facilitar a movimentação dos

clientes, auxiliar na exposição dos produtos e na criação de uma atmosfera específica. Por

exemplo, a posição dos corredores influencia o fluxo do tráfego que, por sua vez, relacionado

à localização dos itens, pode influenciar o índice de vendas de maneira notável. Nesse

contexto, o objetivo geral do layout é aumentar a lucratividade da loja com base no

crescimento de vendas proporcionado por um projeto que apresente bom custo-benefício

(MOWEN; MINOR, 2006).

De um modo geral, o layout refere-se à maneira como itens e equipamentos estão

dispostos em determinado espaço (BATESON; HOFFMAN, 2001), bem como a forma e o

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tamanho desses itens e a relação espacial entre os mesmos. Logo, a funcionalidade diz

respeito à habilidade desses mesmos itens em facilitar o desempenho de clientes e

funcionários. A forma como o ambiente é projetado pode ampliar ou inibir o ritmo e a eficácia

do fluxo de atividades nele realizadas, dificultando ou colaborando para que os clientes e

funcionários atinjam os seus objetivos (ZEITHMAL; BITNER, 2003). Associadas ao layout,

Bateson e Hoffman (2001) relacionam o comportamento do consumidor à sua percepção do

estabelecimento no que se refere ao tamanho e forma e à cor.

O tamanho real das instalações do estabelecimento, seus departamentos e sua

sinalização transmitem significados diferentes para segmentos de mercado diferentes.

Geralmente, quanto maior a empresa maior é a sua associação importância, competência,

poder, sucesso, segurança e estabilidade. Em contrapartida, alguns clientes podem considerar

empresas grandes frias e impessoais, preferindo as menores consideradas mais íntimas e

acolhedoras. Nota-se, novamente, que dependendo do público-alvo da empresa, o tamanho

atrai categorias distintas de modos distintos (BATESON; HOFFMAN, 2001).

Percepções de formas estendem-se desde o uso e a colocação de prateleiras,

janelas e espelho, até a estampa do papel de parede, de modo que formas diferentes podem

provocar sensações diferentes nos clientes. Enquanto formas e linhas verticais são percebidas

como severas e masculinas, expressando força e estabilidade, formas ou linhas horizontais

evocam percepções de tranqüilidade e relaxamento, por exemplo. Assim, o conjunto de

formas diferentes e/ou semelhantes no projeto de instalações poderá criar uma relação visual

de harmonia, contraste ou choque (BATESON; HOFFMAN, 2001).

A cor da evidência física de uma empresa geralmente define a primeira impressão

do consumidor, quer seja vista no cartão de visita de um funcionário, no folder da empresa ou

na parte interna das instalações (BATESON; HOFFMAN, 2001).

Pesquisas realizadas no contexto de um ambiente de serviço indicam que, em

geral, as pessoas são atraídas por ambientes de cores quentes. Contudo, há um paradoxo, pois

ambientes varejistas em matizes de cores quentes como vermelho e laranja foram percebidos

pelos consumidores como negativos, tensos e menos atrativos do que ambientes com cores

frias. Ainda, constatou-se que cores quentes propiciam decisões rápidas, sendo mais indicadas

para compras de baixo envolvimento ou compras por impulso. Consequentemente, cores frias

são indicadas quando a compra exige maior envolvimento por parte do consumidor

(LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

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Este trabalho desenvolve-se no cenário de varejo de auto-serviço alimentar, sendo

assim, cabe ressaltar que o layout e a funcionalidade de espaço no ambiente são aspectos

extremamente importantes no auto-atendimento (ZEITHAML; BITNER, 2003).

4.3.2 Ambiente

Um dos apelos sonoros mais utilizados pelos profissionais de marketing é a

música, uma vez que pode causar um efeito poderoso nas percepções e no comportamento

dos consumidores, mesmo que em volume quase imperceptível (LOVELOCK; WIRTZ,

2006). Para especialistas, a música ambiental afeta as vendas de duas maneiras.

Primeiramente, a música de fundo eleva a percepção do cliente da atmosfera da loja,

exercendo forte influência na disposição do consumidor. Em segundo lugar, este elemento

influencia significativamente a quantidade de tempo gasto em lojas. Ainda, estudiosos

revelam que os estabelecimentos com música ambiental são considerados mais preocupados

com a sua clientela. Uma vez que influencia diretamente o comportamento do consumidor,

pode-se afirmar que a música exerce um impacto significativo na escolha de produtos em

ambientes varejistas (BATESON; HOFFMAN, 2001).

Blessa (2003) aponta que, atualmente, os varejistas utilizam variados gêneros

musicais para estimular o comportamento dos consumidores em diversos horários. Pela

manhã, por exemplo, quando os clientes da terceira idade preferem fazer compras, a música

deve ser calma e sossegada. Da mesma forma, à noite a autora sugere que a música seja calma

e suave para quem enfrentou um dia de trabalho exaustivo e deseja um pouco de paz para

fazer as compras inadiáveis (BLESSA, 2003).

Ritmo, volume e harmonia são características estruturais da música que,

percebidas de maneira holística, exercem efeito sobre as reações internas e comportamentais

de quem a escuta. Uma vez que as percepções e reações são reguladas pelas características

individuais de quem ouve a música, os mais velhos tendem a gostar de músicas diferentes em

comparação com os mais jovens, logo, sua resposta ao mesmo apelo sonoro é diferente da

resposta destes (LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

Outro fator encontrado no ambiente de loja é o aroma. Hoje, além de entender

como as pessoas raciocinam na hora da compra, especialistas querem descobrir as sensações

que os mais diversos tipos de cheiro podem causar no ser humano Embora esse tipo de

experiência seja recente no Brasil, o Point of Purchase Advertising International (POPAI,

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2004) indica que o emprego do aroma no ponto-de-venda pode elevar o faturamento do

varejo em pelo menos 20%.

Quando se deseja utilizar um único tipo de aroma para toda a loja, este deve ser

planejado e testado previamente, a fim de que todos os públicos frequentadores do

estabelecimento sintam-se atraídos por ele (BLESSA, 2003). Um odor ambiental,

diferentemente de um cheiro de pipoca em uma gôndola de um supermercado, impregna o

ambiente e não se relaciona a nenhum produto específico, de modo que pode ser percebido,

ou não, pelo consumidor (BATESON; HOFFMAN, 2001).

Blessa (2003) lembra que nem todos os cheiros atraem as pessoas, odores

desprezíveis como o da peixaria ou do açougue de um supermercado podem afastar os

consumidores e, também, demonstrar falta de limpeza, criando desconfiança e insegurança na

clientela. Em contrapartida, cheiros apetitosos, como o do forno de padaria reforçam o apetite

e podem ser utilizados quando consumidores enfrentam longas filas na espera por produtos

que ainda nem foram assados.

A iluminação é de fundamental importância para uma loja, pois exerce forte

influência nos ambientes e comportamento dos clientes que se deseja atrair (COUTO;

ZAMPIROLLI, 2007. Além de clarear o estabelecimento, a boa iluminação destaca os

produtos expostos, transmite uma sensação de limpeza, decora áreas especiais e acompanha o

estilo e a personalidade da loja, podendo, ainda, disfarçar partes visualmente desagradáveis

que não podem ser modificadas (BLESSA, 2003).

Os efeitos luminotécnicos devem ser criteriosamente estudados, já que trazem

sensações desagradáveis quando mal dimensionados, deficientes ou ofuscantes. Para o

alcance de um bom efeito luminotécnico deve-se avaliar fatores como o tipo de ambiente, o

tempo de permanência neste ambiente e a sensibilidade visual (CARVALHO; LIMA;

MOTTA, 2003). Ainda, esses fatores devem conciliar-se com o projeto arquitetônico, se

possível compondo luz natural com luz artificial ou outro recurso que proporcione melhor

iluminação, buscando sempre o menor consumo de energia (COUTO; ZAMPIROLLI, 2007).

Outro ponto que necessita de atenção é o tipo de iluminação utilizado, para que as

cores reais dos produtos não sejam modificadas (BLESSA, 2003). Os expositores devem

receber iluminação adequada para que seja possível verificar a qualidade e o acabamento das

mercadorias. Nos setores de caixas e preenchimento de cheques deve-se evitar ofuscamento,

reflexos e demais efeitos que possam causar fadiga visual aos funcionários e aos clientes

(COUTO; ZAMPIROLLI, 2007).

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4.3.3 Fatores Sociais

A terceira dimensão da atmosfera de loja corresponde aos fatores sociais, a qual se

restringe aos funcionários (BAKER et al, 2002). As características mais relevantes envolvidas

nos fatores sociais são o número de profissionais existentes na loja, uma vez que o tamanho

da equipe corresponde a um indicador de qualidade do atendimento; a forma como são

apresentados, por meio do uso de uniforme, aparência e higiene; e sua educação e cortesia. O

quadro pessoal com esses atributos contribui para a sensação de prazer ou desprazer dos

clientes em realizar compras em determinado estabelecimento. A influência exercida pelos

funcionários pode, também, causar impacto sobre a percepção de qualidade dos produtos

ofertados, uma vez que suas atitudes podem refletir nas mercadorias oferecidas (BAKER et al,

2002). Principalmente por este trabalho tratar-se do varejo de alimentos, é razoável que a

higiene e a aparência da equipe exerçam forte influência na percepção do consumidor quanto

à qualidade e integridade dos produtos (ESPINOZA; D´ANGELO; LIBERALI, 2005).

A socialização entre funcionários e clientes tem como objetivo projetar uma

imagem positiva e consistente para o público consumidor. Contudo, uma empresa só mantém

uma imagem positiva quando seus funcionários transmitem uma boa imagem ao interagir com

o público (BATESON; HOFFMAN, 2001). Respeitando as restrições impostas pela lei e pelas

capacidades profissionais exigidas, os estabelecimentos podem recrutar funcionários para

desempenhar papéis específicos, elaborar roteiros contendo informações sobre o que devem

falar e o que devem fazer e vesti-los com uniformes condizentes com o ambiente no qual

trabalharão (LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

O uso de uniforme, além de afetar percepções que o cliente tem da qualidade do

serviço prestado, facilita a interação entre os próprios funcionários no sentido de aceitarem os

objetivos e regras da empresa. Além de identificar uma equipe, estudos indicam que o uso de

uniforme apresenta um símbolo tangível que personifica os ideais e características do grupo,

remete a uma estrutura de grupo coerente, auxilia a percepção de desempenho, fornece um

símbolo físico de mudança no status de um profissional e facilita o controle do

comportamento de funcionários fora do padrão (BATESON; HOFFMAN, 2001).

Embora geralmente os consumidores identifiquem particularidades ou características

individuais de projeto de um ambiente, é a configuração de todos esses aspectos que

determina a sua reação. Desta forma, suas reações a um ambiente físico dependem dos efeitos

gerados por um conjunto de elementos (LOVELOCK; WIRTZ, 2006). Para melhor

compreender quais são as principais variáveis que compõem esses elementos, apresenta-se o

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quadro 04, elaborado por Gonzáles et al (2008), a partir de uma detalhada revisão teórica

realizada durante um estudo sobre o ambiente de loja de varejo de confecções para o

consumidor da terceira idade.

ELEMENTOS VARIÁVEIS AUTORES

LAYOUT

Dimensão dos corredoresOrganização da lojaAparência da lojaMóveis e decoração no interior da lojaEquipamentos que possuiLayout atraenteCirculação sem obstáculosExposição das mercadoriasIlhas de produtosPontas de gôndolasEspaçamento e altura das prateleirasEtiquetas legíveis nas prateleirasProjeto de cores prazerozasManequins com roupas adequadas à terceira idadeDecoração das lojas

Iyer (1989); Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Keillor, Parker e Erffmeyer (1996); Oates; Shufeldt; Vaught (1996); Sherman, Mathur e Smith (1997); Lovelock e Wright (2001); Baker et al. (2002); Sinha e Banerjee (2004); Newman e Foxall (2003); Sanzi (2006)

ATMOSFERA

Atmosfera agradávelTemperatura não muito quente nem muito friaLoja não muito cheiaProdutos de qualidadeVariedade de escolha na lojaComportamento dos consumidores

Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Keillor, Parker e Erffmeyer (1996); Oates, Shufeldt e Vaugt (1996); Lovelock e Wright (2001); Hoffman e Turley (2002); Sinha e Benerjee (2004); Teixeira e Barbosa (2005)

EQUIPE

Equipe de vendas com bom conhecimentoAuxílio para encontrar e para alcançar produtosEquipe de vendas da mesma idadeCaixas rápidos e convenientesComportamento dos funcionáriosConhecimento dos vendedores sobre produtosDisponibilidade da equipeFuncionários bem vestidos e prestativosBom tratamentoAtenção personalizadaServiço de alta qualidadePronto atendimento

Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Keillor, Parker e Erffmeyer (1996); Oates, Shufeldt e Vaugt (1996); Sherman, Mathur e Smith (1997); Lovelock e Wright (2001); Baker et al. (2002); Hoffman e Turley (2002); Bell, Mengüç e Stefani (2004); Sinha e Benerjee (2004); Wong e Sohal (2006)

* Início do quadro 04

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ILUMINAÇÃOBoa iluminação;Iluminação adequada ao ambiente;Projeção de cores.

Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Sherman, Mathur e Smith (1997); Sinha e Banerjee (2004); Sanzi (2006)

ORGANIZAÇÃO

Ambiente bem organizadoLimpeza do ambienteLoja pequena que permita encontrar os produtosVariedade limitada que permita encontrar os produtosFacilidade de localização dos produtos

Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Oates, Shufeldt e Vaugt (1996); Baker et al. (2002); Sinha e Banerjee (2004); Sanzi (2006)

ODORES

Presença ou ausência de odores no ambiente da lojaQualidade afetiva da fragrânciaCapacidade de provocar respostas psicológicasIntensidade do odor

Baker, Grewal e Parasuraman (1994); Spangerberg, Crowley e Henderson (1996); Schifferstein e Blok (2002); Hummel, Guel e Delank (2004); Pullman e Gross (2004)

PERCEPÇÃO MUSICAL

Música agradávelMúsica apropriadaMúsica aborrecida

Baker et al (2002); Pullman e Gross (2004)

FACILIDADES

Próxima a lojas de qualidadeVariedade de lojas próximasLounge na lojaLugar para sentarEntrada e saída convenientesMarcas conhecidasPossibilidade de troca de produtos

Lovelock (1996); Oates, Shufeldt e Vaugt (1996); Sinha e Banerjee (2004)

Quadro 04 – Síntese dos elementos que compõem o ambiente do varejoFonte: Gonzáles et al (2008)

O último tópico sobre o qual se apoiou esta revisão teórica refere-se ao consumidor da

terceira idade. Identificar quem é esse consumidor, como adaptar-se a ele, qual é o seu

comportamento alimentar, como se dá o crescimento deste segmento e qual o seu potencial de

consumo são questões esclarecidas a seguir.

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4.4 CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE

Desde a Antiguidade a sociedade busca respostas para as alterações sofridas pelo

organismo ao longo dos anos. Mesmo assim, o estudo da velhice através de documentos

históricos é um tanto complicado, pois raramente trata de suas particularidades, sendo o velho

considerado apenas mais um membro de um grupo de adultos. Desta forma, é impossível

escrever uma história sobre a velhice, pois enquanto categoria social, os idosos nunca

intervieram no percurso do mundo (BEAUVOIR, 1990).

De acordo com Beauvoir (1990), quando o homem envelhece e conserva

determinada eficácia, continua integrado à coletividade e não se distingue dela, sendo

considerado um adulto de idade avançada. Porém, no momento em que passa a perder suas

capacidades, torna-se um objeto sem utilidade alguma, não passando de uma carga sem

serventia. “Todo mundo sabe: a condição dos velhos é, hoje em dia, escandalosa”

(BEAUVOIR, 1990, [s.p.]).

Atualmente, ao contrário do que se pensava, velhice não é sinônimo de

decadência, pobreza e doença, mas sim o de um tempo privilegiado para atividades livres dos

constrangimentos do mundo profissional e familiar (DEBERT, 2007). Traduzida como a

idade da liberdade, a velhice vêm sendo considerada a melhor idade, com a qual o ser humano

só tem a desfrutar das boas coisas da vida, livre de obrigações sociais (NEVES; RAMOS,

2000).

4.4.1 Identificando o Consumidor da Terceira Idade

De acordo com Farias e Santos (2000), é difícil estabelecer um consenso entre os

pesquisadores a respeito da idade cronológica que caracteriza o momento em que um

indivíduo passa a fazer parte do mercado da terceira idade. Entretanto, Gallahue (2003)

explica que a terceira idade inicia aos 60 anos e divide-se em três etapas: período inicial, dos

60 aos 70 anos; período intermediário, dos 70 aos 80 anos; e senilidade, a partir dos 80 anos.

Este trabalho segue os critérios adotados pela Organização das Nações Unidas

(ONU), a qual define, em relação aos países desenvolvidos, 65 anos como idade de transição

para o segmento idoso da população. No caso dos países em desenvolvimento, o ponto de

corte em 60 anos é estabelecido para definir um indivíduo como pertencente ao grupo da

terceira idade. Ainda nessa linha, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto

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Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) definem que a fase inicial do envelhecimento

surge a partir dos 60 anos de idade.

Contudo, Farias e Santos (2000) explicam que considerar apenas um indicador na

definição do segmento dos consumidores idosos não é o suficiente quando o objetivo

principal é analisar as suas características comportamentais. Afinal, dentre a população com

60 anos ou mais se encontram tanto pessoas no ápice de suas carreiras profissionais, como

indivíduos sozinhos e aposentados com baixa renda. Nesse contexto, diferentes interesses e

necessidades por produtos e serviços específicos devem ser considerados neste mercado.

O consumidor idoso pode ser identificado, também, em termos de suas

motivações e orientação de qualidade de vida. Conforme o quadro 05, a partir de uma

comparação das características dos idosos mais tradicionais e dos atuais, nota-se que os

consumidores mais velhos de hoje são pessoas que pensam, sentem e agem de acordo com

uma idade cognitiva mais baixa do que sua idade cronológica (SCHIFFMAN; KANUK, 2005,

p. 325).

IDOSOS DA NOVA ERA

˚ Percebem-se como tendo a aparência diferente das outras pessoas da sua idade;

˚ Idade parece ser um estado mental;

˚ Vêem-se como mais jovens do que a sua idade cronológica;

˚ Sentem-se mais jovens, pensam como mais jovens e "agem" como mais jovens;

˚ Têm uma aparência genuinamente jovial;

˚ Sentem que viver é uma grande aventura;

˚ Sentem-se com mais controle sobre suas vidas;

˚ Têm maior autoconfiança quando se trata de tomar decisões de consumo;

˚ Preocupam-se menos se irão errar quando compram alguma coisa;

˚ Consumidores especialmente instruídos e alertas;

˚ Seletivamente inovadores;

˚ Procuram experiências novas e desafios pessoais;

˚ Menos interessados no acúmulo de posses;

˚ Satisfação de vida medida maior;

˚ Tendem menos a querer viver a vida de novo de modo diferente;

˚ Percebem-se como mais saudáveis do que a maioria das pessoas da sua idade;

* Início do quadro 05

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71

IDOSOS TRADICIONAIS/ESTERIOTIPADOS

˚ Percebem todas as pessoas idosas como tendo quase a mesma aparência;

˚ Vêem a idade como sendo mais um estado físico;

˚ Vêem-se na sua idade cronológica ou próximo a ela;

˚ Tendem a sentir, pensar e fazer coisas que sentem que combinam com a sua

idade cronológica;

˚ Sentem que a pessoa deve agir de acordo com a idade;

˚ Senso normal de estarem no controle de suas vidas;

˚ Nível normal de autoconfiança quando se trata de tomar decisões de consumo;

˚ Alguns se preocupam em cometer erros quando comprarem alguma coisa;

˚ Capacidade de consumo de baixa a média;

˚ Não são inovadores;

˚ Procuram estabilidade e uma rotina segura;

˚ Nível normal de interesse no acúmulo de posses;

˚ Satisfação de vida medida mais baixa;

˚ Têm algum remorso pela maneira como viveram a vida;

˚ Percebem-se com a saúde normal para a idade;

˚ Um tanto preocupados com a segurança financeira.

Quadro 05 – Comparação entre o idoso da nova era e o idoso tradicionalFonte: Schiffman e Kanuk (2005, p. 325)

As diferenças demonstradas no quadro 05 fornecem apoio adicional aos

profissionais de marketing que, com frequência, acabam identificando segmentos

significativos do mercado da terceira idade em geral.

Solomon (2002) sugere que a perspectiva mental de uma pessoa está muito mais

ligada à longevidade e qualidade de vida do que à sua idade cronológica, isto é, ao número

real de anos vividos. Desta forma, Schiffman e Kanuk (2005) apontam que, ao determinar o

comportamento, a percepção dos indivíduos acerca da sua idade tem maior relevância do que

a sua idade cronológica. Isso mostra que a idade é mais um estado de espírito do que do corpo

(SOLOMON, 2002).

4.4.2 Adaptando-se ao Consumidor da Terceira Idade

Ao atingir a idade madura, a capacidade motora do indivíduo passa a apresentar

alterações que podem resultar na degeneração do sistema fisiológico. Assim, pessoas com

declínio em seu desempenho motor podem apresentar maior dificuldade na realização de

tarefas, o que pode gerar influências negativas sobre suas perspectivas psicológicas e em sua

interação social (GALLAHUE, 2003). Entretanto, antes de apresentar as mudanças

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decorrentes do passar dos anos, é importante ressaltar que, como em qualquer outra idade, na

velhice há pessoas sãs e pessoas doentes. Na realidade, muitas das enfermidades

supostamente próprias da velhice existem muito antes da chegada desta faixa etária, porém

apresentadas de forma menos intensa. O fato é que isso não exclui que, com o passar do

tempo, processem-se no organismo alterações naturais que constituam uma velhice sã e

normal (NETTO, 2004).

Conforme Spirduso (2005 apud UGALDE, 2005), as deteriorações relacionadas

aos cinco sentidos que acontecem gradativamente com o passar dos anos causam mudanças

no desempenho, mobilidade e capacidade física do ser humano. Desta forma, Engel, Miniard

e Blackwell (2000) explicam que os produtos destinados ao mercado maduro devem respeitar

três critérios fundamentais: conveniência, segurança e conforto, assim, o consumidor da

terceira idade estará menos vulnerável a correr riscos físicos, sociais e financeiros.

Nesse sentido, devido as suas características singulares, o consumidor da terceira

idade merece tratamento diferenciado. Alterações no ambiente, como variar a altura de

objetos em uma prateleira, podem se adaptar à sua capacidade motora e facilitar o acesso a

determinados produtos (GALLAHUE, 2003). Ainda, conforme Farias e Santos (2000), a

atenuação da visão, os problemas nos sentidos e a redução nas habilidades manuais podem ser

minimizadas com a adaptação de letras maiores em embalagens ou placas informativas dentro

dos estabelecimentos comerciais.

O comportamento do consumidor idoso é moldado a partir de um processo de

envelhecimento e de experiências vividas de diversas formas. Sendo assim, este processo

difere para cada indivíduo, logo não se pode afirmar que pessoas com idades semelhantes

dividem as mesmas experiências (MOSCHIS, 1992 apud FARIAS; SANTOS, 2000). Okuma

(1998) acrescenta que a velhice, ao ser definida, deve levar em conta as condições físicas,

funcionais, mentais e de saúde do indivíduo, o que torna o processo de envelhecimento

pessoal e diferenciado. Para uma melhor compreensão, Moschis (1992 apud FARIAS;

SANTOS, 2000) define três perspectivas de envelhecimento: biológico, psicológico e

sociológico.

De acordo com Álvares (2002), o envelhecimento psicológico diz respeito às

capacidades que envolvem dimensões mentais e cognitivas do indivíduo, como aprendizagem,

memória, percepção, auto-suficiência e auto-estima. Sob esse ponto de vista, Farias e Santos

(2000) identificam que manter contato com outras pessoas e interagir com o mundo pode ser

uma importante razão de compra para o consumidor da terceira idade. A partir daí, Álvares

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(2002) nota a oportunidade de desenvolvimento de produtos e serviços baseando-se na idade

cognitiva do seu público-alvo e não em sua idade cronológica.

Sob a ótica do envelhecimento biológico, Álvares (2002) explica que as medidas

corporais tendem a se modificar com o avanço da idade cronológica do ser humano e que, a

partir daí, surgem preferências por produtos diferenciados, como roupas, produtos

alimentícios e remédios. Por fim, o envelhecimento sociológico pode ser exemplificado

quando o consumidor assume novos papéis com seu amadurecimento biológico e psicológico,

tendendo, assim, à redefinição de suas prioridades e necessidades de consumo. Em face das

considerações expostas, Schiffman e Kanuk (2005) apontam a importância de os profissionais

de marketing responderem à orientação de valor dos consumidores mais velhos adequando-se,

assim, as suas prioridades e necessidades de consumo.

Em face dos objetivos geral e específicos deste trabalho, os quais buscam

identificar aspectos relacionados à compra na loja de varejo de auto-serviço alimentar pelo

segmento da terceira idade, julgou-se apropriado abordar o comportamento alimentar do

consumidor maduro.

4.4.3 Comportamento Alimentar do Consumidor da Terceira Idade

Nos últimos 30 anos, a sociedade vem passando por transformações que refletem

nos hábitos alimentares de toda a sociedade. Uma dessas mudanças deve-se ao aumento do

segmento idoso (NEVES; CHADAD; LAZZARNI, 2002). Bleil (1998) aponta que a

população urbana dos grandes centros está adquirindo, progressivamente, hábitos alimentares

típicos de países desenvolvidos, o que vem aumentando o consumo de produtos alimentícios

congelados e pré-prontos. Relvas (2006) explica que o aumento na venda de alimentos

duráveis deve-se, basicamente, a um maior refinamento no processamento de produtos

alimentícios, meios de conservação e transporte destes produtos.

Com o aumento significativo de alimentos industrializados e de fácil preparo nos

hábitos alimentares dos brasileiros, Bleil (1998) atesta a redução do consumo de produtos

tradicionais no País, como o feijão e o arroz. Em contrapartida, Filho et al (2005) constataram,

através de uma pesquisa que investigou o comportamento alimentar do consumidor idoso, o

baixo consumo de comida pronta ou congelada. Ou seja, ao contrário do que aponta Bleil

(1998), o comportamento desse consumidor mostrou-se pouco influenciado pelas mudanças

ocorridas nas últimas décadas. Isso pode ser explicado por Garcia (2003), quando menciona

que alguns segmentos de idosos apresentam resistência em adquirir novos hábitos, o que pode

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CONSUMIDOR

ALIMENTO CONTEXTO

ONDE

QUANDO

COMO

SABOR

TEXTURA

CHEIRO

APARÊNCIA

NUTRIENTES

CULTURA

ESTILO DE VIDA

DEMOGRAFIA

COM QUEM

ser resultado tanto de uma cultura alimentar como da consolidação de práticas estabelecidas e

costumes valorizados por eles.

Conforme Cardello (1999 apud RELVAS, 2006), o estudo do comportamento do

consumidor de alimentos deve investigar dois fatores: comportamento (escolha, compra e

consumo); e atitude, que envolve a avaliação de respostas, como intenção de compra ou

frequência desejada de consumo. Para Filho et al (2005, p. 44), o comportamento relacionado

à escolha de alimentos é o resultado da união de três fatores: o alimento em si, o consumidor e

o contexto ou situação em que esta interação acontece, conforme demonstra a figura 15:

Figura 15 – Fatores que influenciam a escolha de alimentosFonte: Filho et al (2005, p. 44)

Alimento, consumidor e contexto formam um conjunto de variáveis que influencia

o processo decisório do cliente em relação a alimentos. Os alimentos apresentam

características sensoriais como preço, imagem, embalagem e composições nutricionais, as

quais, claro, dependem do consumidor que, por sua vez, tem personalidade, status, humor,

cultura e hábitos os quais afetam direta ou indiretamente suas reações em relação aos

diferentes tipos de alimentos. Por fim, o contexto ou situação abrange um conjunto de

variáveis como onde, quando, circunstância e maneira como o alimento é consumido (FILHO

et al, 2005).

4.4.4 O Crescimento e o Potencial de Consumo do Segmento da Terceira Idade

Conforme o IBGE (2005), globalmente estima-se que, em 2050, 2 bilhões de

pessoas irão pertencer à terceira idade, o que fará com que a idade média da população

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mundial cresça consideravelmente nos próximos 45 anos, passando de 26 para 37 anos.

Schiffman e Kanuk (2000) apontam que mais de 30 milhões de americanos integram o grupo

etário de pessoas de 65 anos ou mais, o que representa 12% da população do país e que, de

acordo com Solomon (2002), ultrapassa toda a população do Canadá, tornando-se o segundo

segmento que cresce com maior rapidez nos Estados Unidos. Estima-se que esse número

dobre nos próximos 50 anos, assim, em 2050 o segmento da terceira idade constituirá certa de

20% da população americana (SCHIFFMAN; KANUK, 2000).

O Brasil, segundo o Relatório das Projeções Populacionais concluído pela ONU,

em dezembro de 2004, pertence ao grupo dos 10 países com maior número de pessoas com 60

anos ou mais, que juntos correspondem a 62% da população idosa mundial. Ainda, de acordo

com a Revisão do IBGE (2004), com base no Censo 2000, o Brasil possui atualmente um total

de 14.536.029 idosos e, para 2025, as projeções populacionais indicam que esse número irá

ultrapassar os 30 milhões, vindo a representar 18% da população brasileira. Desta forma, a

população envelhece no momento em que a taxa de crescimento da população idosa é maior

que a de uma população considerada mais jovem, num determinado período (IBGE, 2002).

Focando no Rio Grande do Sul, Estado onde será consolidada esta pesquisa, com

base no Censo 2000, o IBGE indica 72,05 anos para a expectativa de vida dos gaúchos ao

nascer. Comprovando este dado, Porto Alegre é apontada como a segunda Capital brasileira

com o maior número de idosos em percentual, contabilizando 11,8% (IBGE, 2000).

Para Solomon (2002), o estilo de vida mais saudável, os melhores diagnósticos e

tratamentos médicos e o resultante aumento da expectativa de vida explicam o rápido

crescimento do segmento da terceira idade. Pode-se constatar, de acordo com a Pesquisa

Tendências Demográficas, divulgada em maio de 2007, pelo IBGE, que em 60 anos, os

brasileiros passaram a ter uma expectativa de vida quase 30 anos maior. Estatisticamente

comprovou-se que, em 1940, a expectativa de vida da população era de 42,7 anos, alcançando

os 70,4 anos em 2000. Ainda segundo esta pesquisa, mais uma demonstração de que a

população brasileira envelheceu pode ser verificada na faixa de 15 a 19 anos que elevou sua

proporção de 53% para 61,8% nesse período.

Além do aumento da longevidade, o crescente número de idosos compondo a

população brasileira é obtido como consequência da queda da taxa de fecundidade. Para

considerar esta informação, têm-se os dados estatísticos da Pesquisa Tendências

Demográficas (IBGE, 2007), que identificou a gradativa redução do número de filhos por

mulher. No ano de 1940 as mulheres entre 15 e 49 anos tinham em média 6,2 filhos. Em

2000, passaram a ter, em média, 2,3 filhos. Já no ano de 2006, das 32,7 milhões de mulheres,

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30,9% eram mães de apenas um filho, 33,3% de dois filhos e, por fim, 35,8% de três filhos ou

mais.

A longevidade e a queda da taxa de fecundidade estão, portanto, aumentando em

tamanhos progressivos, o que contribui para que os adultos maduros, muitas vezes,

permaneçam no mercado de trabalho mesmo após a aposentadoria, usualmente para

complementar a renda (HERZOG, 2001). Conforme estudos do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA, 2004), os brasileiros com mais de 60 anos vivem, atualmente, em

condições econômicas melhores que os jovens, possuindo rendimentos consideravelmente

mais altos. Além da atuação no mercado de trabalho, esta alteração econômica que

proporciona melhor renda modificou a função do idoso na família, tornando-o independente e

com frequente participação no orçamento familiar.

A análise dos resultados da amostra dos Indicadores Sociais Municipais, com base

no Censo Demográfico 2000, divulgada pelo IBGE (2000), mostra que no Brasil, 27% dos

idosos são responsáveis por mais de 90% do rendimento familiar. Através da distribuição por

número de habitantes constatou-se que cerca de 35% dos idosos que vivem nos municípios

com até 20 mil habitantes contribuem com 30 a 50% do rendimento familiar mensal, enquanto

nos municípios com mais de 500 mil habitantes verificou-se a queda desse percentual para

17%.

Os fatores demográficos e econômicos apontados constatam que a terceira idade,

além de tornar-se um segmento de consumidores cada vez mais respeitável, também trata-se

de um conjunto bastante elevado de pessoas com disponibilidade de renda para o consumo

(UGALDE, 2005). Assim, ao identificar o adulto maduro com melhores condições de vida e

como potencial contribuinte no ciclo econômico familiar, é possível considerar seu

significativo poder de compra e capacidade de consumo. Conforme a situação exposta, até

então, o idoso é um ser humano com plena capacidade para consumir qualquer produto, tanto

fisiológica quanto economicamente (IBGE, 2000).

De acordo com o IPEA (2004), pode-se constatar que os idosos economizam

durante a vida para garantir o seu bem-estar na transição para esta nova etapa. No entanto,

Solomon (2002) afirma que em muitas categorias de produtos os gastos dos adultos maduros

são ainda maiores do que dos demais grupos de idade, proporcionalmente.

A revisão teórica apresentada investigou os principais alicerces que amparam o

planejamento e o desenvolvimento deste estudo. Assim, as etapas que compõem o processo

decisório de compra, as características de diversos formatos de varejo, as principais variáveis

ambientais de loja e os aspectos relacionados ao consumidor da terceira idade foram

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explorados de modo a fornecer uma contribuição relevante para o trabalho. Após essa

primeira fase, é apresentada, a seguir, a estratégia metodológica adotada para a realização da

pesquisa.

5 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

A ciência busca a veracidade dos fatos, de modo que não se distingue de outras

formas de conhecimento. No entanto, o que difere o conhecimento científico dos demais é a

sua característica de verificabilidade (GIL, 1999). Assim, a estratégia metodológica

corresponde a um conjunto de procedimentos de pesquisa que tem como principal objetivo

coletar, sistematizar e organizar informações de forma válida e consistente servindo como

base para a sua interpretação científica (MIGUELES, 2003).

Neste capítulo é apresentada a estrutura metodológica adotada para a realização

deste estudo. Além da descrição dos elementos e das ações executadas nas diferentes seções

do trabalho, é demonstrado também o desenho de pesquisa, elaborado para uma melhor

visualização dos passos percorridos durante a investigação.

5.1 TIPO DE ESTUDO

Formulados os objetivos geral e específicos, os quais buscam analisar,

fundamentalmente, a influência da ambientação da loja de varejo de auto-serviço alimentar no

processo decisório do consumidor da terceira idade, é a concepção de pesquisa que irá

especificar os detalhes dos procedimentos necessários para o alcance das informações

indispensáveis para a resolução do problema de pesquisa. As pesquisas de marketing podem

ser classificadas como exploratória ou conclusiva (MALHOTRA, 2006). No entanto, não há

superioridade de uma em relação à outra, mas sim a recomendação de que a escolha entre

ambas seja motivada pelas características e objetivos que se deseja alcançar (SAMARA;

BARROS, 2006).

A fim de identificar quais fatores de ambientação da loja de auto-serviço

alimentar são percebidos pelos consumidores da terceira idade, a autora julgou mais adequado

o desenvolvimento de uma pesquisa exploratória. Com o respaldo de Aaker, Kumar e Day

(2001), esta escolha apresenta-se como alternativa apropriada para o estudo, pois esse tipo de

pesquisa é utilizado quando se deseja compreender a natureza geral de um problema, sobre

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possíveis hipóteses alternativas e também sobre as variáveis relevantes que devem ser

consideradas.

O estudo exploratório pode ser essencial na determinação de uma situação de

mercado a partir da obtenção de dados sobre a concorrência, produtos existentes, tendências e

evolução de um segmento específico (SAMARA; BARROS, 2006). Gil (1999) complementa

que a principal finalidade da pesquisa exploratória é desenvolver, esclarecer e modificar

padrões e idéias, tendo em vista a formulação de problemas com maior precisão ou hipóteses

pesquisáveis para estudos futuros.

Os métodos utilizados na pesquisa exploratória são muito flexíveis, não

estruturados e qualitativos, o que impede que o pesquisador inicie o estudo com pré-

concepções sobre aquilo que será encontrado. Geralmente, há pouco conhecimento prévio a

respeito do que se pretende conseguir. A ausência de uma estrutura rígida facilita a

investigação sobre as mais diferentes idéias e indícios sobre uma situação, o que contribuiu,

significativamente, para a identificação das características da ambientação da loja de varejo de

auto-serviço alimentar relevantes ao consumidor da terceira idade (AAKER; KUMAR; DAY,

2001).

Finalizada a discussão quanto ao tipo de estudo, iniciam-se as considerações

quanto a sua vertente.

5.2 VERTENTE DA PESQUISA

Este é um estudo de cunho qualitativo, o qual consiste em uma metodologia de

pesquisa que garante uma melhor aproximação do contexto onde está inserido o problema de

pesquisa (FLICK, 2004). A utilização de técnicas qualitativas de pesquisa amplia os limites da

investigação sobre os aspectos subjetivos envolvidos nas experiências de consumo,

produzindo ricos achados para a continuidade da exploração do tema. Logo, ao contribuir com

informação contextual valiosa para auxiliar a explicação sobre achados específicos, a pesquisa

qualitativa pode ser um alicerce para a construção de um referencial para estudos futuros e

para o fornecimento de dados para o teste de expectativas e hipóteses (BAUER; GASKELL,

2005).

Usualmente, emprega-se a vertente qualitativa com a pretensão de descobrir

diferentes perspectivas e pontos de vista dos indivíduos entrevistados (BAUER; GASKELL,

2005). Esse método parte da suposição de que os inputs que caracterizam as entrevistas ou

questionários estruturados, ao invés de esclarecer, obscurecem o ponto de vista dos

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entrevistados, de modo que restringem o momento e a forma de lidar com os tópicos (FLICK,

2004).

A pesquisa de natureza qualitativa se aplica a pequenas amostras, o que

proporciona insights e possibilita a compreensão do contexto do problema (MALHOTRA,

2006). Esse tipo de pesquisa possui uma abordagem não disfarçada. Apesar de os propósitos

do estudo serem claros aos respondentes, não há uma estrutura pré-estabelecida de perguntas

e respostas, o que faz com que o entrevistado sinta-se livre para respostas abertas e encorajado

a expressar suas percepções, valores, crenças, opiniões, experiências, atitudes,

comportamentos, intenções e estilo de vida (MATTAR, 2000).

Os métodos de coleta e análise utilizados pela vertente qualitativa são os mais

apropriados para uma fase exploratória de pesquisa (ROESCH, 2006), pois buscam descobrir

o quê o consumidor tem em mente, fornecendo, assim, uma idéia de suas perspectivas, o que

facilita a compreensão do pesquisador frente à complexidade das atividades e preocupações

dos consumidores (AAKER; KUMAR; DAY, 2001). Porém, para o bom resultado de um

estudo desse caráter, Gil (1999) lembra a importância do uso da sensibilidade e intuição do

pesquisador, já que, quando bem aproveitadas, contribuem para uma melhor compreensão das

observações e descrições dos participantes.

Esclarecida a vertente da pesquisa, a seguir é apresentada a proposta de

desenvolvimento do método.

5.3 TÉCNICA DE COLETA

Descritas a seguir, as técnicas de coleta utilizadas para a realização deste estudo

foram os levantamentos bibliográfico e documental, as entrevistas em profundidade e o grupo

focal.

No contexto de pesquisa acadêmica, com o objetivo explícito de encontrar

materiais mais genéricos a respeito de determinado assunto, os textos teóricos apóiam o

investigador na formulação e justificativa de problemas e hipóteses a serem explorados, bem

como na definição de um método de análise (LIMA, 2004).

Os levantamentos de dados bibliográfico e documental são classificados como

fontes secundárias (MATTAR, 2001). A pesquisa bibliográfica é a atividade de coleta e

consulta de fontes de informação escrita (LIMA, 2004; MARCONI; LAKATOS, 2006).

Contudo, abrange toda a bibliografia já tornada pública sobre determinado tema, desde

jornais, revistas, publicações avulsas, livros, pesquisas, monografias, teses, material

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cartográfico e meios de comunicação como televisão, rádio, filmes e internet (MAMMINI,

2006).

Como subsídios para a pesquisa bibliográfica realizada neste estudo, foram

utilizadas diferentes fontes. No que se refere ao levantamento de dados bibliográfico, a

revisão teórica apresentada no capítulo 4 apoiou-se em livros de autores consagrados na área

de comportamento do consumidor, varejo, ambiente de loja e consumidor da terceira idade.

Especialmente para a elaboração da estratégia metodológica foram analisadas, também, obras

de autores especialistas em pesquisa científica. Informações foram buscadas, ainda, em

dissertações, teses e revistas especializadas que apresentam conhecimento científico e técnico

a respeito da temática deste trabalho. Os principais journals da área, tais como Journal of

Marketing, Journal of Marketing Management, Journal of the Academy of Marketing Science,

Journal of Services Marketing, Journal of Retailing International e Journal of Retail &

Distribution Management, também foram analisados para dar embasamento ao trabalho.

Ainda no que se refere à revisão teórica, este estudo contou com uma pesquisa

documental. Caracterizada pela diversidade e dispersão das fontes capaz de reunir, as quais

podem ser originárias de arquivos públicos, arquivos particulares e fontes estatísticas (LIMA,

2004). O desenvolvimento deste estudo contou com os recursos da pesquisa documental ao

explorar informações provenientes de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Point of Purchase

Advertising Institute (POPAI, 2004).

Além dos levantamentos bibliográfico e documental, o estudo contou com as

técnicas de coleta de dados denominadas entrevista em profundidade e grupo focal.

Seguramente, a entrevista é a técnica mais flexível de coleta de dados de que dispõem as

ciências sociais (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 2001). Considerando-se os aspectos

subjetivos que estão ligados às percepções do ser humano, há vantagens evidentes no

emprego da técnica de entrevista pessoal, especialmente quando o objetivo é identificar as

variáveis relevantes que se apresentam em determinada situação (MALHOTRA, 2006).

A entrevista em profundidade é uma interação entre duas pessoas, mas que

difere de uma conversação comum sob diferentes aspectos (BAUER; GASKELL, 2002).

Pouco estruturada e conduzida por um moderador, esta técnica, também conhecida como

entrevista focalizada, ocorre com um único entrevistado por vez, o que torna possível a

obtenção de dados mais específicos sobre o assunto explanado (MATTAR, 2000). Pode ser

aberta ou semi-aberta, onde a primeira desenvolve-se a partir de um tema central, sem

itinerário, enquanto a segunda conta com um roteiro-base (DUARTE; BARROS, 2006). A

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entrevista ocorre entre dois indivíduos que não se conheciam anteriormente e o assunto em

pauta é de escolha do entrevistador, de modo que o entrevistado pode ou não ter refletido

sobre o assunto anteriormente (BAUER; GASKELL, 2002).

Direta e pessoal, a entrevista em profundidade promete descobrir sentimentos,

crenças e atitudes relacionadas a um determinado tema. Como vantagens tem-se a

proximidade e a interação estabelecidas entre o entrevistador e o entrevistado, o que pode

proporcionar uma coleta de dados de grande riqueza (MALHOTRA, 2006).

Uma entrevista em profundidade de maior qualidade exige do pesquisador a

criação de um roteiro-guia com os temas centrais do estudo (BAUER; GASKELL, 2002),

sendo assim, a pesquisa foi realizada com a utilização de um roteiro semi-estruturado,

elaborado a partir da revisão teórica e adequado à especialidade de cada entrevistado. O uso

de um roteiro não impede que o pesquisador faça as perguntas que quiser, de modo que a

entrevistadora teve a liberdade de sondar razões e motivos e prestar esclarecimentos, não

obedecendo, a rigor, uma estrutura padronizada (LAKATOS; MARCONI, 2001).

Embora a ordem, a profundidade e a forma de apresentação das questões

dependam do entrevistador, em grande medida, também dependem do conhecimento, da

disposição e da qualidade das respostas do entrevistado. Com aproximadamente sete questões,

as perguntas da entrevista semi-aberta são tratadas individualmente. Duarte e Barros (2006)

comparam com um funil a profundidade que deve ser dada às questões, uma vez que feita a

primeira pergunta, o entrevistador deve explorar ao máximo a resposta até esgotar a questão.

Nesse contexto, perguntas gerais originam questões específicas, de modo que grande parte da

entrevista passa a ser conduzida pelo entrevistado (DUARTE; BARROS, 2006).

O entrevistador deve, antes de passar para a pergunta seguinte, buscar exemplos,

especificações e detalhes, de modo que podem surgir mais de dez novas perguntas antes de

dar seqüência à entrevista. Pode-se dizer, assim, que cada questão torna-se quase um tema

central de pesquisa que exige um esquema de referência e conhecimento prévio que permita

aprofundar o tópico. Isso mostra que é natural o pesquisador iniciar com uma lista de

perguntas e terminar com outra, um pouco diferente.

Buscando obter dados junto a dois públicos de extrema relevância para o tema

deste trabalho, foram realizadas entrevistas em profundidade com dois experts em

ambientação de loja e três operadores de varejo que se dispuseram a colaborar com o

desenvolvimento deste estudo. Pretendeu-se, através dessas entrevistas, levantar informações

de situações do contexto prático do ambiente varejista sob a óptica de quem projeta e de

quem opera.

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Nesse sentido, foram entrevistadas dois arquitetos experts em projetos

arquitetônicos e de ambientação de loja, nos dias 2 e 3 de setembro de 2008, em seus

respectivos locais de trabalho. Cada entrevista durou, em média, 40 minutos.

Os operadores de varejo foram neste estudo representados por um gerente de loja,

um chefe de loja e um fiscal de caixa de auto-serviço alimentar. Com duração média de 30

minutos, as entrevistas ocorreram entre os dias 10 e 27 do mês de setembro, no local de

trabalho dos respectivos respondentes.

Realizadas as cinco entrevistas em profundidade, a pesquisadora apoiou-se na

técnica de coleta de dados denominada grupo focal para a investigação junto aos

consumidores. Tendo em vista que o problema de pesquisa deste trabalho refere-se à forma

como o consumidor da terceira idade considera a experiência de frequentar o varejo de auto-

serviço alimentar e como ele é influenciado pela ambientação da loja, a pesquisadora optou

pela aplicação de um método que se aproximasse da realidade de cada consumidor.

Tipicamente, nos grupos focais os participantes colocam suas percepções sobre o tema

abordado, o que pode não ser conseguido tão facilmente através de entrevistas individuais ou

de outros métodos. Assim, pela convicção e crença nos dados coletados através desse método,

na etapa de coleta junto aos consumidores da terceira idade julgou-se mais apropriado à

investigação o uso da técnica denominada grupo focal (FREITAS; OLIVEIRA, 1998).

O grupo focal é indicado para orientar e dar referencial à pesquisa ou à ação em

novos campos, gerar hipóteses com base na percepção dos participantes, avaliar diferentes

situações ou populações de estudo, orientar no desenvolvimento de planos de entrevistas e

questionários, interpretar resultados dos informantes a partir de estudos iniciais e fornecer

informações adicionais a um estudo em larga escala (FREITAS; OLIVEIRA, 1998).

Com origem na sociologia, atualmente, para a ciência social uma das principais

técnicas de coleta de dados qualitativos é a entrevista em grupo (FREITAS; OLIVEIRA,

1998), uma vez que é acessível a todos, aborda tópicos de interesse comum, não leva em

consideração as diferenças de status entre os participantes e não privilegia indivíduos

particulares ou posições (BAUER; GASKELL, 2005). Cada vez mais utilizados,

aproximadamente 50 mil grupos focais tradicionais são conduzidos anualmente. Em situações

em que os respondentes são dificilmente recrutados, faz-se o grupo por telefone. Para esse

caso tem-se utilizado a teleconferência (AAKER; KUMAR; DAY, 2001).

Um grupo focal tradicional é composto por seis a oito pessoas que não se

conhecem, que se reúnem por um período entre uma a duas horas em um ambiente

confortável (BAUER; GASKELL, 2005). Com o respaldo dos autores, para a aplicação do

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grupo focal foram reunidas, no dia 9 de outubro de 2008, nove pessoas que atendiam ao perfil

necessário para o estudo. Para a montagem do grupo focal foi necessário planejamento,

incluindo-se aí pesquisa bibliográfica, elaboração do instrumento de coleta de dados,

recrutamento dos participantes e da transcritora, aluguel do local onde foi realizada a

discussão e alocação de recursos financeiros.

O local para a realização do grupo focal foi cuidadosamente escolhido por possuir

os requisitos necessários para o bom desenvolvimento desta coleta. Assim, durante o período

de 1h44min, o encontro foi realizado em um espaço adequado, o qual abrange uma estrutura

física que compreende uma sala de espelhos, sistema de gravação de áudio e vídeo em DVD,

ar condicionado e serviço de copa.

Dispostos em forma de ‘U’, os participantes foram acomodados ao redor de uma

mesa, ficando a moderadora à cabeceira, o que possibilitou o contato frente a frente entre a

mesma e cada participante. Cumprindo a sua primeira tarefa, a moderadora entregou um papel

com o nome de cada participante, de modo que cada um ficou com o seu nome visível para os

demais, incluindo-se aí a pesquisadora (OLIVEIRA; FREITAS, 1998). Dado início ao grupo

focal, a moderadora apresentou a si própria, o tema e a idéia de uma conversa em grupo. Em

seguida, pediu a cada participante para que se apresentasse dizendo o nome e acrescentou o

pedido para que alguma informação aleatória fosse adicionada, sem que esta causasse

polêmica (BAUER; GASKELL, 2005).

Tão importante quanto a abordagem de todos os tópicos do roteiro foi o cuidado

para que todos os participantes se sentissem motivados a expressar suas idéias e experiências

de forma espontânea sobre o tema e encorajados a discutir e reagir aos pontos de vista dos

demais participantes.

O diálogo descontraído, o coquetel oferecido e até mesmo o conhecimento dos

consumidores sobre o assunto da pesquisa são fatores que ajudaram a criar condições

ambientais favoráveis ao andamento do grupo. Nesse contexto, o debate foi efetivo em

fornecer informações e respostas sobre o que os participantes pensam e sentem, bem como a

forma como agem enquanto consumidores, o que tornou o uso do grupo focal particularmente

adequado para essa pesquisa (FREITAS; OLIVEIRA, 1998; AAKER; KUMAR; DAY, 2001;

BAUER; GASKELL, 2005).

Apresentadas as técnicas de coleta de dados empregadas para o desenvolvimento

do trabalho, a seguir são elucidados os instrumentos de coleta utilizados para as entrevistas

em profundidade e para o grupo focal.

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5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA

A partir do conteúdo explorado na revisão teórica foram identificadas as variáveis

de pesquisa relevantes para o tema em questão, as quais foram utilizadas para a confecção dos

instrumentos de coleta. Assim, os roteiros semi-estruturados foram concebidos com base nos

trabalhos realizados por autores renomados na área, conforme demonstrado no quadro 06.

DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

FATORES DE DESIGN

Layout

Decorações sazonais; Material publicitário; Equipamentos que possui; Layout atraente; Circulação sem obstáculos; Exposição das mercadorias; Exibitécnica; Espaçamento e altura das prateleiras; Agrupamento e posicionamento favorável de produtos; Preçário legível nas prateleiras; Projeto de cores prazerosas; Sinalização no interior da loja; Espaços e corners exclusivos.

Organização

Aglomeração de pessoas; Ambiente bem organizado; Limpeza do ambiente; Facilidade de localização dos produtos.

Facilidadese

conveniências

Próxima de lojas de qualidade; Variedade de lojas próximas; Louge na loja; Lugar para sentar; Entrada e saída convenientes; Marcas conhecidas; Possibilidade de troca de produtos; Variedade de produtos.

APELOS SENSORIAIS

Sonorização Música agradável; Música apropriada; Música aborrecida.

Aromatização

Presença ou ausência de aroma no ambiente de loja; Capacidade de provocar respostas psicológicas; Intensidade do aroma; Cheiros apetitosos; Cheiros desprezíveis.

Degustação Existência ou ausência de degustação de alimentosClimatização Temperatura nem muito quente nem muito fria.

* Início do quadro 06

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DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

APELOS SENSORIAIS

Iluminação Boa iluminação; Iluminação adequada ao ambiente; Projeção de cores.

FATORES SOCIAIS

Equipe

Número de funcionários existentes na loja; Maneira como se apresentam (uso de uniforme,

higiene e aparência); Educação e cortesia; Funcionários simpáticos e prestativos; Postura (animada, ereta, saudável); Bom tratamento; Atenção personalizada; Linguagem sem gírias; Conhecimento dos vendedores sobre os produtos; Grau de escolaridade; Atitudes dos funcionários (nunca fumar ou mascar

chicletes); Auxílio para encontrar e alcançar produtos; Disponibilidade da equipe.

Quadro 06 – Síntese dos elementos que compõem o ambiente de varejoFonte: Baker, Grewal e Parasuraman (1994), Baker et al (2002), Blessa (2003), Newman e Foxall (2003), Pullman e Gross (2004), Sinha e Banerjee (2004), Gonzáles et al (2008) e Turley e Chebat (2002), adaptado pela autora

Tendo em vista que o público pesquisado é o da terceira idade, a autora, além de

aprofundar os conhecimentos sobre este consumidor na revisão da literatura, para melhor

compreender as características desse segmento, entrevistou uma gerontóloga e uma psicóloga

especialista em idosos. Os pontos de vista dessas profissionais, relacionados à revisão

bibliográfica, foram de grande valia para a elaboração do instrumento de coleta de dados

necessário para a realização das entrevistas em profundidade e do grupo focal.

Foram aplicadas entrevistas em três grupos distintos: experts em ambientação de

loja, operadores de varejo de auto-serviço alimentar e consumidores. Logo, os roteiros

aplicados nesses públicos também são distintos, no entanto, todas as perguntas tiveram sua

origem no problema de pesquisa: “Como se dá a influência da ambientação da loja de varejo

de auto-serviço alimentar no processo decisório do consumidor da terceira idade?”.

Para que a amplitude do tema pudesse ser tratada, cada pergunta foi apresentada

ao entrevistado da forma mais ampla possível, de modo que a lista de questões-chave foi

adaptada e alterada durante as entrevistas. Desta forma, uma questão pôde ser dividida em

duas, bem como duas transformaram-se em uma só (DUARTE; BARROS, 2006).

A formulação de roteiros com perguntas abertas permite ao pesquisador entender

e resgatar as perspectivas dos entrevistados, logo, as perguntas não possuem categorização

prévia de alternativas para as respostas. Assim, livre para responder a uma pergunta aberta, o

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entrevistado pode fornecer respostas inesperadas, que posteriormente deverão ser

categorizadas para que possam ser interpretadas pelo pesquisador (GIL, 1999; MATTAR,

2000; LAKATOS; MARCONI, 2001; MALHOTRA, 2006; DUARTE; BARROS, 2006;

ROESCH, 2006).

Semelhante ao que ocorreu na aplicação das entrevistas em profundidade, a lista

de questões-chave foi adaptada no decorrer do grupo focal, de modo que uma questão pôde

ser dividida em duas, ou mais. Ainda, junto ao roteiro-guia, a autora utilizou-se do quadro 07,

cujo conteúdo refere-se aos elementos do ambiente de loja, o que facilitou, ao final de cada

bloco de questões, a conferência da relação a fim de saber se todos os pontos possíveis foram

tratados (DUARTE; BARROS, 2006).

Para ter maior garantia quanto à abordagem de todos os tópicos relevantes ao

estudo a autora tomou nota de pontos da conversa considerados importantes, uma vez que, ao

mesmo tempo em que aplicou ao grupo as questões do roteiro teve que memorizar o ponto de

vista de cada consumidor, o que teve fundamental importância, também, no fechamento da

reunião (FREITAS, OLIVEIRA, 1998).

Finalizadas as considerações quando aos instrumentos de coleta utilizados para a

realização das entrevistas em profundidade e do grupo focal, a seguir são descritos os grupos

de respondentes.

5.5 GRUPO DE RESPONDENTES

Segundo Duarte e Barros (2005), nos estudos qualitativos é preferível obter

poucas fontes de qualidade a muitas sem nenhuma relevância. Assim, com um pequeno

número de entrevistados, adequadamente selecionados, tornou-se possível à autora fazer um

relato bastante consistente sobre o tema. A quantidade excessiva de informações pode impedir

que todos os materiais sejam analisados corretamente, aumentando, assim, a probabilidade de

erro, argumentam Bauer e Gaskell (2002), em relação à limitação do número de respondentes.

Para a constituição do grupo de respondentes das entrevistas em profundidade

junto aos experts e operadores de varejo foi utilizada a técnica de amostra por conveniência,

onde a pesquisadora selecionou os membros da população considerados mais acessíveis e

adequados ao tema do trabalho (LAKATOS; MARCONI, 2001). Para Malhotra (2006), esta

técnica é a mais indicada para estudos exploratórios, pois obtém resultados mais rapidamente,

além de não implicar em alto custo financeiro.

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Além das entrevistas em profundidade realizadas com os experts e com os

operadores de varejo, foi realizado um grupo focal com nove consumidores pertencentes ao

grupo da terceira idade, todos clientes de estabelecimentos de auto-serviço alimentar. É

importante lembrar que os três grupos entrevistados são considerados os mais indicados para

responder aos objetivos específicos deste trabalho.

A escolha dos participantes do grupo focal foi de caráter não-probabilístico, uma

vez que quem não foi recrutado por conveniência foi eleito pelo sistema bola-de-neve, onde

um consumidor foi responsável pela indicação de outro (MALHOTRA, 2006). Nesta etapa,

foram abordadas pessoas com idade a partir de 60 anos e residentes na cidade de Porto

Alegre. Esta faixa etária foi determinada respeitando os critérios adotados pela Organização

das Nações Unidas (ONU), pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais definem, em relação aos países em

desenvolvimento, o ponto de corte em 60 anos para definir um indivíduo como pertencente ao

grupo da terceira idade.

Para ter certeza de que os participantes possuíam as características indispensáveis

para participar da sessão, a autora elaborou um questionário para o recrutamento dos mesmos.

De caráter eliminatório, as três questões desse instrumento tiveram o objetivo de verificar,

efetivamente, se o participante pertence ao grupo da terceira idade, se reside em Porto Alegre

e se é consumidor de lojas de varejo de auto-serviço alimentar. Essas perguntas foram feitas

aos participantes no primeiro contato por telefone, com a antecedência de aproximadamente

quinze dias ao do grupo focal. Assim, tomou-se o cuidado para que os participantes não

diferissem significativamente, de modo que cada um teve algo a dizer sobre os tópicos

abordados e com o conforto suficiente para falar com os outros integrantes do grupo.

Contudo, os participantes recrutados não têm as mesmas perspectivas, pois isso tornaria a

coleta improdutiva (OLIVEIRA; FREITAS, 1998).

Feitos os contatos por telefone, a pesquisadora entregou, pessoalmente, a cada um

dos consumidores, com exatamente cinco dias de antecedência, um convite para participar do

grupo focal. Ainda, com um dia de antecedência, a pesquisadora telefonou para todos os

participantes para a confirmação da sua presença. Neste dia, uma pessoa informou que não

poderia participar, logo a pesquisadora entrou em contato com outro consumidor, o qual se

dispôs, gentilmente, a participar do grupo. O passo seguinte à coleta de dados é a análise dos

mesmos, apresentada no item 5.6.

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5.6 ANÁLISE DE DADOS

A análise de conteúdo, técnica utilizada para consolidar este estudo, se adapta a

uma ampla diversidade de materiais, da mesma forma que permite abordar os mais variados

objetos de investigação, como atitudes, valores, representações, ideologias e mentalidades

(LAVILLE; DIONNE, 1999). De acordo com Weber (1990 apud ROESCH, 2006), os

processos para a análise de conteúdo geram relevantes indicadores qualitativos, os quais o

pesquisador deverá interpretar e explicar os resultados obtidos através da utilização de teorias

relevantes.

Antes de dar início à análise dos dados, estes devem ser documentados e editados.

Nesta forma seqüencial, a análise de conteúdo deve seguir etapas ordenadas cronologicamente

e todos os passos seguidos pelo pesquisador devem ser devidamente explicitados. Cumprindo

o rigor científico, para a análise de conteúdo este trabalho obedeceu as seguintes fases:

documentação e transcrição, pré-análise, codificação e categorização, e interpretação e

elaboração do relatório de resultados. Sendo assim, apresentam-se, a seguir, as etapas do

estudo no que se refere à análise de dados (RICHARDSON, 1999; FLICK, 2004).

O processo de documentação dos dados de uma pesquisa compreende três etapas:

gravação, edição e construção de uma “nova” realidade do texto produzido. Para os dados das

entrevistas em profundidade e do grupo focal, um elemento importante no processo de edição

consistiu na gravação sonora e audiovisual com equipamentos de alta resolução,

respectivamente, e na posterior transcrição. Ao longo das últimas duas décadas as

possibilidades acústicas e audiovisuais mais sofisticadas para a gravação durante a coleta de

dados tiveram uma influência significativa nos avanços da pesquisa qualitativa. Foi com o

predomínio do uso de equipamentos como gravadores e filmadoras, na vida cotidiana, que fez

com que estes perdessem, de certo modo, o seu caráter pouco familiar para as pessoas

entrevistadas (FLICK, 2004).

Na pesquisa qualitativa, o meio clássico de documentação dos dados são as

anotações do pesquisador. Assim, durante as entrevistas em profundidade, a pesquisadora

tomou nota sobre pontos essenciais das respostas dos entrevistados por ela considerado

relevantes. Desse modo, verificou-se a utilidade do emprego de fichas de documentação para

registrar essas informações sobre o contexto e a situação da coleta. Mesmo assim, tentou-se

condensar os pontos importantes da conversa em palavras únicas ou frases extraídas do

diálogo, a fim de não perder o contato visual com o entrevistado (FLICK, 2004).

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Além de filmagem e gravação sonora, durante a realização do grupo focal a

moderadora também se valeu de anotações. No entanto, como garantia, a pesquisadora

contratou uma assistente para realizar especialmente essa atividade, pois conforme Freitas e

Oliveira (1998) defendem, uma observadora assistente tem mais condições de fazer as

anotações do que o moderador. A assistente contratada foi selecionada através da indicação da

empresa locadora do espaço onde foi realizado o grupo focal. Com experiência na atividade, a

transcritora teve como função observar e registrar a discussão sem qualquer forma de

intervenção, o que gerou oito páginas escritas.

Mesmo que a pesquisadora tenha tomado notas adicionais durante as coletas, uma

vez que as entrevistas em profundidade e o grupo focal foram gravados com o emprego de

meios técnicos, faz-se necessária a sua transcrição. Seguindo a orientação, todas as

entrevistas em profundidade, bem como o grupo focal, foram transcritos pela pesquisadora de

forma integral, gerando o corpus da análise, isto é, o conjunto de dados obtidos através da

pesquisa e que podem ser lidos, descritos e interpretados (RICHARDSON, 1999).

A transcrição é um trabalho lento, mas a sua qualidade bem como a das notas de

campo é um aspecto fundamental na construção do texto (FLICK, 2004). Considerada a sua

importância, a próxima etapa é a pré-análise do material transcrito.

De acordo com Bardin (1977), a pré-análise corresponde à etapa da organização

propriamente dita. Assim, para que o sentido do corpus fosse amplamente captado, após a

transcrição do material foi realizada uma leitura flutuante. Deste modo, as entrevistas em

profundidade e o grupo focal foram lidos de uma forma livre promovendo um melhor

conhecimento do texto por parte da pesquisadora.

Após a pré-análise o discurso foi analisado detalhadamente, a fim de codificar e

categorizar o conteúdo das entrevistas em profundidade e do grupo focal. Malhotra (2006)

explica que o processo de codificação é trabalhoso e enfatiza a importância de uma leitura

cuidadosa e aprofundada, a fim de isolar os termos significativos na medida em que são

reconhecidos. Flick (2004) acrescenta que, se necessário, o pesquisador deve ler e reler

inúmeras vezes os textos transcritos, a fim de familiarizar-se com os mesmos até o limite do

possível.

Após a codificação, foi feita a distribuição do conteúdo nas categorias referentes

ao fenômeno estudado. Esta etapa da pesquisa contou com categorias obtidas de uma síntese

elaborada por Gonzáles et. al. (2008), apresentada no item 4.3 (quadro 03) e apoiou-se,

também, em categorias emanadas de uma detalhada revisão teórica empreendida pela

pesquisadora. Para comprovar a validação do método, as categorias foram avaliadas

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contrastivamente ao material empírico, a fim de verificar a necessidade de modificações

(FLICK, 2004).

Para atingir os objetivos desta pesquisa, a sequência do tratamento dos dados

envolveu a sua interpretação e inferência em todo o discurso. De acordo com Flick (2004, p.

188) “a interpretação dos dados é o cerne da pesquisa qualitativa”. Nesta etapa foram

realizadas inferências entre todo o discurso, incluindo-se também as reticências, pois estas

geralmente representam mais do que uma palavra dita (FLICK, 2004). A fim de sintetizar os

dados interpretados para uma melhor visualização do leitor, foram construídos quadros-

resumo ao final de cada bloco, os quais correspondem à ótica dos experts em projetos

arquitetônicos, dos operadores de varejo de auto-serviço alimentar e dos consumidores da

terceira idade em relação à ambientação de loja.

6 RESULTADOS

Este estudo concentrou-se na ambientação da loja de varejo de auto-serviço

alimentar para o mercado da terceira idade. No intuito de compreender o ponto de vista de

quem projeta, de quem opera e de quem consome, julgou-se necessário obter dados junto a

três públicos distintos: experts em ambientação de loja; operadores de varejo e consumidores

de lojas de varejo de auto-serviço alimentar. As entrevistas em profundidade aplicadas nos

dois primeiros públicos, bem como o grupo focal realizado com os consumidores, encontram-

se neste capítulo, em forma de resultados.

Na seção 6.1 são caracterizados os respondentes da pesquisa e, na sequência, são

apresentadas as suas percepções em relação à ambientação da loja de varejo de auto-serviço

alimentar. A fim de facilitar a compreensão do leitor, ao final de cada bloco encontra-se um

quadro-resumo com considerações relevantes ao trabalho.

6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

Visando uma melhor apresentação, bem como a preservação da identidade dos

entrevistados, os especialistas em projetos arquitetônicos e de ambientação de loja foram

identificados pelo apelido “Expert” seguido de uma numeração. Da mesma forma, a

identidade dos operadores de varejo de auto-serviço alimentar foi preservada à medida que os

entrevistados foram identificados pela denominação “Operador”, conforme demonstrado no

quadro 07:

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Apelido Ocupação/profissão

Expert 1 Arquiteto

Expert 2 Arquiteto

Operador 1 Gerente de loja

Operador 2 Chefe de loja

Operador 3 Fiscal de caixa

Quadro 07 – Caracterização dos respondentes Fonte: elaborado pela autora com base nas entrevistas realizadas

A fim de preservar o anonimato da identidade dos consumidores que participaram

do grupo focal, apresenta-se o quadro 08, no qual são revelados a idade e o gênero dos

respondentes. O público da terceira idade é identificado, nesta pesquisa, pelo codinome

“Consumidor” seguido de uma numeração seqüencial que obedeceu a posição que cada

participante ocupou em torno da mesa durante a realização do grupo focal.

Apelido Gênero Idade

Consumidor 1 Feminino 65

Consumidor 2 Feminino 64

Consumidor 3 Feminino 65

Consumidor 4 Masculino 64

Consumidor 5 Feminino 64

Consumidor 6 Feminino 80

Consumidor 7 Feminino 72

Consumidor 8 Feminino 81

Consumidor 9 Masculino 68

Quadro 08 – Caracterização dos consumidoresFonte: elaborado pela autora com base no grupo focal

Apresenta-se, a seguir, o relatório de resultados da pesquisa a partir da percepção

dos públicos entrevistados.

6.2 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR SOB

A ÓTICA DOS EXPERTS

Há décadas, profissionais de marketing vêm produzindo inúmeros trabalhos a respeito

dos impactos do ambiente de varejo sobre o consumidor (ESPINOZA; D’ANGELO;

LIBERALI, 2005). Nesse mesmo ritmo, as empresas varejistas têm realizado esforços para

proporcionar ao seu público-alvo ambientes de loja mais agradáveis à sua experiência de

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consumo (COSTA, 2002). Nesse contexto, para os experts entrevistados o principal objetivo

de um projeto de ambiente de loja é a diferenciação da concorrência.

A diferenciação da concorrência, complementa o Expert 1, se faz através do ponto-de-

venda, o qual tornou-se, segundo Costa (2002), uma ferramenta promocional e de venda tão

importante quanto campanhas publicitárias e ações promocionais para tornar conhecida a

marca de um produto. Para formar o conceito de uma marca e torná-la conhecida, o Expert 2

diz ser necessário “criar uma casa para a marca”.

Para causar uma boa experiência e para que se torne claro e tangível o conceito da

loja, diversos são os fatores que devem estar em harmonia no ambiente de varejo (TURLEY;

CHEBAT, 2002): “O treinamento dos funcionários, o uniforme, a iluminação, a facilidade de

acesso, tudo tem que contribuir para tornar claro e tangível o conceito” (Expert 2).

No varejo não são vendidos simplesmente bens físicos, comenta o Expert 1, mas sim

um produto total, de modo que o local onde é comprado ou consumido torna-se uma das suas

principais características. Por apresentar uma dimensão muito maior do que o produto, o

ambiente de loja deve criar uma identificação com o seu público: “Aqui acontece alguma

coisa diferente que tem a ver comigo, com o que espero encontrar ou que eu não espero”

(Expert 1).

Para que o cliente sinta-se atraído pela loja, o Expert 2 explica que captar sensações e

instintos dos consumidores são outras importantes funções do projeto arquitetônico. No

entanto, além de atrair, o projeto arquitetônico deve ser elaborado para que o cliente se sinta

bem e permaneça dentro da loja: “Depois que está dentro da loja vou ter que fazer o máximo

possível pra que esse consumidor encontre o que busca e ainda leve aquilo que nem busca”

(Expert 1). Esse ponto de vista tem o respaldo dos dados do Point of Purchase Advertising

Institute (POPAI, 2004), que revelam que 81% das compras feitas pelo consumidor em

supermercados são decididas dentro da loja, ou seja, sem prévia intenção de aquisição do

produto.

Uma empresa não pode ser tudo para todos, logo a atmosfera de uma loja poderá não

agradar a todos os clientes. Por isso, é de extrema importância determinar um mercado-alvo

(BATESON; HOFFMAN, 2001). Para os Experts, o primeiro aspecto que deve ser observado

ao planejar o ambiente varejista é quem irá entrar na loja, uma vez que o público-alvo deve se

sentir identificado antes mesmo de entrar no estabelecimento. Para que haja essa

identificação, os Experts explicam que deve estar claro para o varejista quem é o seu público

consumidor, o que é valor para ele e quais os benefícios lhe devem ser oferecidos.

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Tratando-se do público da terceira idade, cabe destacar a necessidade de alguns

atributos físicos como, por exemplo, boa iluminação e piso plano de material antiderrapante e

sem degraus. A presença desses atributos aumenta o volume de compras realizadas

especialmente por clientes idosos (COUTO; ZAMPIROLLI, 2007). Esta visão é refletida no

relato do Expert 2: “Dois degraus que tu botares na frente de uma loja já é empecilho pra tu

entrares [...] a barreira física é um empecilho pra qualquer tipo de venda”.

Planejar um ambiente de loja para o consumidor pertencente ao grupo da terceira

idade exige atenção especial quanto a outros aspectos decorrentes do processo de

envelhecimento humano como, por exemplo, a atenuação da visão, os problemas nos sentidos

e as habilidades manuais (KOENIGSBERG, 1994). Assim, o Expert 1 cita a necessidade de

adequar a altura da exposição dos produtos, proporcionar um ambiente mais calmo e sem

quantidade exagerada de informações, facilitar o deslocamento dentro da loja, adequar o

tamanho da fonte das letras da sinalização do estabelecimento e também da embalagem dos

produtos.

O ambiente de loja não só influencia, mas molda o comportamento do consumidor.

Assim, o Expert 2 afirma que o comportamento do cliente pode ser moldado

subliminarmente: “Se você entrar num lugar que está limpíssimo, brilhando, você não tem

coragem de colocar um papel de bala no chão. Percebe-se que as reações do consumidor a

um ambiente físico dependem dos efeitos gerados por um conjunto de elementos

(LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

No entanto, conforme o Expert 1, para que esses sentimentos e emoções sejam

positivos e, consequentemente, criem desejos no consumidor, o visual merchandising deve

valorizar todo o espaço disponível na loja: “A arquitetura disponibiliza espaços pra isso, mas

vai do visual merchandising valorizar essa exposição”. Outra forma de atrair o olhar do

cliente é através da exposição por associação (BLESSA, 2003). Nesse contexto, a loja deve

expor os seus produtos de uma maneira diferenciada e dinâmica:“Veja a Brickel, você monta

uma mesa com os copos, panelas, pratos e muito mais. Tem até o avental que combina com a

panela” (Expert 2).

Os Experts concordam que ao estimular os cinco sentidos humanos cria-se um vínculo

emocional, que não é intencional, mas sim subliminar. Segundo eles, esse vínculo emocional

pode ocorrer através de um cheiro na loja, da possibilidade de tocar-se nos produtos, de um

som específico, bem como de um alimento ou bebida para aguçar o paladar. As verbalizações

traduzem esse contexto: “o olfato é o sentido mais próximo do nosso sistema límbico, todo

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mundo lembra do cheiro do bolo que a avó fazia” (Expert 2);“a audição, o tato (...) essa

coisa de tocar e mexer é intimidade (...) paladar também é intimidade” (Expert 1)”.

De acordo com os Experts, o consumidor não percebe que os seus sentidos estão sendo

estimulados; no entanto, esses estímulos podem resultar em uma boa ou má impressão da loja,

bem como numa compra, ou não. Questionados sobre quais elementos englobam o ambiente

varejista, os Experts respondem que “é tudo”, ou seja, que todos os elementos encontrados no

estabelecimento englobam o ambiente de loja. A forma como os produtos são expostos, os

displays de parede e de meio de loja, a vitrine, o layout, a luminotécnica, as araras, a altura de

pé direito e as cores são alguns dos exemplos de elementos presentes citados por elas.

Complementando, o Expert 1 adiciona aos elementos que compõem o ambiente de loja a

segurança: “também tem que agregar a questão da segurança hoje em dia”.

Para os Experts, a diferença entre o consumidor da terceira idade e o consumidor

adulto está na limitação física inerente à idade. Com o passar dos anos surgem principalmente

problemas de visão, o que passa a dificultar a leitura; e de locomoção, o que prejudica a

acessibilidade a determinados locais. No entanto, não se deve estigmatizar o consumidor da

terceira idade. Independente social e financeiramente ele está em todos os lugares e se veste

com o tipo de roupa que desejar, o que mostra que o mercado deve tratar níveis de interesse,

buscando entender se o seu público é sofisticado, casual ou formal, independente da sua faixa

etária: “é complicado falar em idoso, hoje, porque uma pessoa de 60 ou 70 compra calça

jeans, ela só não vai colocar cintura baixa, mas compra como um jovem (Expert 2)”.

Em face dos relatos, os Experts acreditam que para melhor atender esse público que

vêm apresentando um crescimento promissor devem-se ter cuidados básicos como: eliminar

degraus, facilitar a acessibilidade construindo entradas e saídas convenientes, aumentar o

tamanho da letra do preçário, das placas, das embalagens e dos cardápios, por exemplo, e, de

modo geral, projetar ambientes favoráveis às limitações físicas desse consumidor.

Visto que os benefícios da ambientação da loja estendem-se tanto à empresa quanto ao

consumidor, a seguir apresentam-se os seus aspectos enquanto ferramenta para aumentar a

competitividade no mercado e como forma de atrair clientes.

6.2.1 A Ambientação da Loja de Varejo como Vantagem Competitiva Sob a Ótica dos

Experts

A ambientação da loja de varejo tem sido utilizada pelas empresas como uma

forma de criar vantagem competitiva (TURLEY; CHEBAT, 2002). Verificou-se a eficácia

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dessa estratégia no discurso dos Experts, uma vez que a ambientação de loja foi abordada

pelos entrevistados como uma vantagem para a empresa à medida que influencia o

consumidor. A fim de propor um cruzamento entre as vantagens para a empresa e o seu

impacto no consumidor, foi elaborado o quadro 09:

A Ambientação da Loja de Varejo Sob a Ótica dos Experts

Vantagens para a Empresa Impacto no Consumidor

Diferenciação da concorrênciaSurpreende – supera expectativas

Valoriza a loja

Tangibilização do

conceito/posicionamento da

loja/marca

Cria intimidade

Cria vínculo emocional

Aumento da produtividade da

operação

Facilita a compra

Torna-se confortável comprar

Aumento do ticket médioCria desejos

Estimula a compra por impulso

Quadro 09 – A ambientação da loja de varejo como vantagem competitiva sob a ótica dos ExpertsFonte: elaborado pela autora a partir da coleta de dados

Apresentadas as considerações sob a ótica dos Experts, a seguir a ambientação da loja

é esclarecida pelos operadores de varejo de auto-serviço alimentar.

6.3 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO SOB A ÓTICA DOS OPERADORES DE

VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR

Dentre as percepções dos operadores de varejo em relação ao consumidor da terceira

idade encontra-se, essencialmente, a importância da dedicação da equipe de funcionários para

atendê-lo. A aparência, a comunicabilidade, a presteza, a delicadeza, a educação, o nível

escolar e a paciência natural para lidar com as pessoas contam muito quando se deseja cativar

consumidores (BLESSA, 2003): “Todos querem atenção. Eles vêm pra cá e ficam até 1h, 2h

dentro da loja sem necessidade nenhuma, só pra conversar (Operador 2). Nesse contexto,

nota-se que as atitudes dos profissionais para com os clientes podem tornar a experiência de

compra mais agradável (BAKER et. al, 2002).

Quando solicitados para comparar o consumidor idoso ao consumidor adulto, as

respostas apresentadas pelos operadores de varejo foram semelhantes. As alterações inerentes

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à idade sofridas pelo organismo podem ser o principal motivo pelo qual o consumidor da

terceira idade exige maior atenção por parte dos funcionários: “Por ser idoso ele precisa de

auxílio para encontrar as mercadorias, para saber alguns preços (...) é um cliente especial”

(Operador 3).

Ao atingir a idade madura, a capacidade motora do indivíduo passa a apresentar

alterações que podem resultar na degeneração do sistema fisiológico. Assim, pessoas com

declínio em seu desempenho motor podem apresentar maior dificuldade na realização de

tarefas, o que pode gerar influências negativas sobre suas perspectivas psicológicas e em sua

interação social (GALLAHUE, 2003). A dificuldade enfrentada por algumas pessoas

pertencentes ao segmento da terceira idade na realização de tarefas do cotidiano, é

exemplificada pelo Operador 1: “Muitas vezes esse consumidor tem dificuldade de visão e até

mesmo de locomoção”. Neste caso, o Operador 3 menciona a necessidade de funcionários

para atender especialmente o cliente idoso: “Temos até dois funcionários, três às vezes, pra

auxiliar nas compras do pessoal [...] o funcionário faz a compra pro cliente! Sempre

deslocamos um funcionário pra fazer isso”.

Do ponto de vista dos operadores de varejo, dentre as dificuldades enfrentadas por

esse consumidor se destaca a visualização do preço dos produtos: “Às vezes o produto está ali

com o preço e eles não enxergam direito” (Operador 3). Destaca-se, também, a dificuldade na

busca de mercadorias: “Normalmente eles me pedem pra apontar alguma mercadoria que

eles não estão encontrando, ou o preço que eles não estão achando” (Operador 2).

Nesse contexto, Farias e Santos (2000) sugerem que a atenuação da visão, os

problemas nos sentidos e a redução nas habilidades manuais podem ser minimizados com a

adaptação de letras maiores em embalagens ou placas informativas dentro dos

estabelecimentos comerciais.

É possível perceber que a atenção dada aos consumidores da terceira idade deve existir

desde o momento em que o cliente entra no supermercado até o momento em que chega ao

seu destino: “Levar até na casa quando as sacolas são pesadas, isso acontece bastante.

Compram duas sacolinhas, fica pesado e eles mandam a gente levar até o apartamento”

(Operador 2).

Além do atendimento especializado, na visão dos operadores, pode-se dizer que os

consumidores da terceira idade também são exigentes quanto aos seus benefícios por direito:

“Caixa do idoso sempre tem que estar aberto, mesmo que os funcionários estejam no lanche,

os idosos não deixam fechar. Eles pedem bastante das leis deles” (Operador 1).

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Fortemente mencionada pelos operadores de varejo de auto-serviço alimentar

encontra-se a influência dos fatores sociais no comportamento do consumidor da terceira

idade. Sendo assim, a seguir apresenta-se um quadro-resumo com as suas principais

considerações a respeito das características desse segmento.

6.3.1 Características do Consumidor da Terceira Idade Sob a Ótica dos Operadores de Varejo

de Auto-serviço Alimentar

Para a elaboração do quadro-resumo que sintetiza as características do consumidor da

terceira idade sob a ótica do operador varejista, a autora utilizou-se, também, dos dados

coletados com a gerontóloga e com a psicóloga especialista em idosos. Cumprindo com o seu

objetivo inicial, estas entrevistas deram respaldo para a elaboração dos instrumentos de coleta

desta pesquisa. Além disso, submetidas à análise de conteúdo, também favoreceram a

elaboração deste quadro-resumo.

Enquanto a abordagem da gerontóloga e da psicóloga sobre o idoso envolveu

fundamentalmente aspectos sociais, os operadores de varejo de auto-serviço alimentar

traduziram o seu comportamento enquanto consumidor. Essas visões divergentes

possibilitaram o cruzamento apresentado no quadro 10, na página a seguir.

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Características do idoso obtidas a

partir das EP`s realizadas com a

Gerontóloga e a Psicóloga Especialista

em Idosos

Características do Consumidor da

Terceira Idade Sob a Ótica dos

Operadores de Varejo de Auto-serviço

Alimentar

Disponibilidade de tempo e renda para o

consumo

Faz as compras sem pressa, permanecendo

no estabelecimento mais tempo que o

consumidor de outra faixa etária

Preocupa-se mais com a qualidade dos

produtos do que com o preço

Ir ao supermercado torna-se um programa

prazeroso

Quer aproveitar a vidaEventualmente se permite comprar

alimentos restritos da sua dieta

Apresenta limitações físicas inerentes à

idade

Necessita de auxílio, em muitos casos

exclusivo, para fazer as compras

Procura manter uma vida social ativa,

pois não quer ser visto como um

membro isolado da sociedade

Busca a atenção dos funcionários

Frequenta o supermercado pelo prazer em

relacionar-se dom outras pessoas

Sua frequência no supermercado é diária

Quer ser respeitado e valorizado

Quer ser reconhecido pelos funcionários

Exige caixa preferencial para pessoas

acima de 60 anos

Quer ser bem tratado pelos funcionários

Sente-se bem em ambientes

sossegados/tranqüilos/agradáveis

Prefere frequentar o supermercado na

metade da manhã ou da tarde, pois nestes

períodos o movimento é menos intenso, o

que lhes proporciona mais tranquilidade

para fazer as compras

Quadro 10 – Características do consumidor da terceira idade sob a ótica dos operadores de varejo de auto-serviço alimentarFonte: elaborado pela autora a partir da coleta de dados

A fim de respeitar os objetivos específicos desta pesquisa, com os quais

pretendeu-se identificar como são percebidos os fatores de design, os apelos sensoriais e os

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fatores sociais da loja de varejo de auto-serviço alimentar, a seguir a ambientação da loja é

analisada sob a ótica do consumidor da terceira idade.

6.4 A AMBIENTAÇÃO DA LOJA DE VAREJO DE AUTO-SERVIÇO ALIMENTAR SOB

A ÓTICA DO CONSUMIDOR DA TERCEIRA IDADE

De acordo com Baker et al (2002), três dimensões influenciam a percepção do

consumidor no ambiente de loja: fatores de design, fatores ambientais e fatores sociais. No

entanto, o modelo conceitual elaborado por esses autores trata como fator ambiental apenas a

percepção da música na loja, o que impossibilitou o uso dessa nomenclatura nesta pesquisa.

Uma vez que este trabalho engloba elementos do ambiente de loja que atingem os cinco

sentidos humanos, optou-se por chamar de apelos sensoriais a dimensão composta pelas

categorias sonorização, aromatização, degustação e iluminação. Sendo assim, a partir das

dimensões denominadas fatores de design, apelos sensoriais e fatores sociais apresentam-se

as subcategorias emanadas da coleta de dados junto aos consumidores da terceira idade.

Fatores de Design

Os fatores de design contemplam uma das dimensões que influenciam a percepção

do consumidor no ambiente de loja (BAKER et al, 2002). De um modo geral, esses fatores

facilitam o reconhecimento cognitivo do consumidor no que se refere à organização da loja,

podendo auxiliar ou dificultar a atividade de busca dentro do estabelecimento (COSTA,

2002).

De um modo geral, o layout refere-se à maneira como itens e equipamentos estão

dispostos em determinado espaço, bem como à forma e o tamanho desses itens e à relação

espacial entre os mesmos. O modo como o ambiente é projetado pode ampliar ou inibir o

ritmo e a eficácia do fluxo de atividades nele realizadas, dificultando ou colaborando para que

os clientes e funcionários atinjam os seus objetivos (BATESON; HOFFMAN, 2001;

ZEITHMAL; BITNER, 2003).

O layout de uma loja deve ser projetado para facilitar a movimentação dos clientes

e auxiliar na exposição dos produtos (MOWEN; MINOR, 2006). Nesse contexto, os

consumidores foram questionados sobre a sinalização no interior da loja e a facilidade para

localizar os produtos. Ao apresentar uma percepção bastante positiva em relação à

sinalização, os consumidores disseram ser fácil localizar-se dentro do estabelecimento.

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Afirmaram, também, guiar-se por placas ou letreiros que sinalizam as categorias de produtos

encontrados em cada ala do supermercado, o que pode ser verificado no diálogo a seguir:

“Cada corredor tem as indicações [ao apontar para cima, o consumidor refere-se

às placas de sinalização dispostas em cada corredor supermercado]” (Consumidor 9).

“Em cima tem escrito” (Consumidor 5).

“Matinais, cereais, tem tudo” (Consumidor 2).

No entanto, o grupo revelou dificuldade para localizar os produtos. O comentário

a seguir demonstra o incômodo que pode ser gerado quando o produto desejado não é

encontrado pelo consumidor na primeira tentativa de busca:

“Ah não, eu quando não acho na primeira rodada eu chamo um guri e digo: olha,

me vê tal coisa. Eu não procuro, não procuro, eu chamo um guri, o primeiro que tiver ali, o

mais próximo, perto de mim: meu filho me vê tal coisa, onde é que ta?” (Consumidor 5).

Ao montar o layout deve-se considerar, principalmente, o público de

consumidores que se deseja atingir (BATESON; HOFFMAN, 2001; BLESSA, 2003;

ZEITHAML; BITNER, 2003). Da mesma forma, ao reinventar o layout de uma loja o

comportamento de compra dos seus clientes não deve ser ignorado. A pesquisa mostrou que

alterações na disposição geral, bem como na exposição de uma mercadoria na prateleira,

podem prejudicar o desempenho do consumidor idoso na loja de auto-serviço alimentar.

Habituado ao layout do estabelecimento que frequenta, o consumidor da terceira idade

apresenta dificuldade para encontrar os produtos no caso de substituições, o que pode ser

verificado no depoimento a seguir:

“Há 15 anos que eu moro em Porto Alegre e há 15 anos eu compro no mesmo

supermercado e às vezes eu me perco, porque eles mudam o layout do supermercado!”

(Consumidor 3).

Com o respaldo dos autores Bateson e Hoffman (2001) e Couto e Zampirolli

(2007), deve ser dada atenção especial à exposição favorável das mercadorias aos

consumidores da terceira idade. Para favorecer o processo de compra, Blessa (2003) indica a

exposição por associação. Contudo, os consumidores da terceira idade demonstraram uma

percepção negativa em relação ao agrupamento e posicionamento dos produtos nas lojas de

auto-serviço alimentar, o que pode ser identificado no diálogo a seguir:

Separar um pouco o material, digamos, o que é feijão, arroz, farinha, pegar uma estante só pra isso [...] eles misturam tudo ali [...] tem muita mistura de produto na mesma prateleira [...] tu acaba se perdendo nas compras (...) rouba muito tempo [...] às vezes passa duas, três vezes no mesmo corredor procurando mercadoria que ta até escondida atrás de outra mercadoria que tu não ta interessado em levar, é horrível! (CONSUMIDOR 9).

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“É açúcar e farinha junto, daqui a pouco tu não sabe se ta comprando açúcar ou

farinha” (Consumidor 2).

A quantidade de produtos expostos, bem como sua disposição nas prateleiras,

pode gerar desconfiança por parte do consumidor idoso em relação ao prazo de validade das

mercadorias. Ao acreditar que os produtos são expostos com base no seu vencimento, os

consumidores buscam comprar sempre as mercadorias que estão no “fundo” da prateleira,

conforme relata este consumidor: “Tudo o que eu pego fica lá atrás, iogurte também fica lá

atrás (no fundo da prateleira)” (Consumidor 5).

“Produto mais antigo eles colocam na frente (...) eles vão trazendo a mercadoria

antiga pra frente. A bolachinha principalmente, aquelas salgadinhas né, tudo pra frente!

(Consumidor 8).

Os seres humanos sempre são atraídos para o comércio através do olhar (COUTO;

ZAMPIROLLI, 2007), pois este, no momento da compra, é o primeiro sentido humano

responsável pelo processo decisório, o qual faz o cérebro reagir na direção dos produtos

(BLESSA, 2003). Sabe-se que a atenuação da visão é comum para esta faixa etária (FARIAS;

SANTOS, 2000), o que é explícito no diálogo a seguir:

“Sem óculos eu não seria nada” (Consumidor 1).

“Eu não sei como eu ia enxergar” (Consumidor 2).

“Eu não posso fazer nada sem óculos” (Consumidor 5).

Pra ti ver que sem os óculos nós não enxergamos mesmo, eu e a Yara [consumidora 7] colocamos o nome no lugar do telefone [referindo-se ao engano cometido ao assinar a lista de presença dos participantes na sala de espera] [risos] Nós não estávamos de óculos né! (Consumidor 6).

Uma vez que localizados os produtos, verificou-se a queixa, por parte do

consumidor da terceira idade, em visualizá-los nas prateleiras. Em face das dificuldades

expostas, Farias e Santos (2000) lembram que a atenuação da visão pode ser minimizada com

a adaptação de letras maiores em embalagens ou placas informativas dentro dos

estabelecimentos comerciais.

Reclamações estendem-se, também, no que diz respeito à localização e

legibilidade do preçário. Indagados sobre a apresentação do preçário, surgiram respostas

como “É muito difícil [de encontrar]” e “Embaralha tudo [quando encontrado]”. Conforme

verificado no trecho a seguir, nota-se a frustração, e até mesmo a desconfiança por parte do

consumidor, que podem ser geradas pela dificuldade de acesso à informação:

Essa nova norma que os preços ficam nas prateleiras e às vezes com códigos (...) eu tenho que tirar o óculos pra ler, porque é TÃO pequenininho, só de lente! Eu

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pelo menos não consigo identificar aquele código se é daquele produto que ta ali na frente ou se é do que está mais pro lado. Às vezes aquele outro [produto] mudou e já é outro preço e tu leva gato por lebre! (Consumidor 1).

“Tu tem que ler bem assim: a-cho-co-la-ta-do (...) porque tu vai levando e de

repente tu pensa que ta levando aquele da promoção de R$ 2,98, por exemplo, e na verdade

ta levando o mais caro [...] é um saco!” (Consumidor 2).

“Era muito melhor no tempo da maquininha [gesto como se estivesse etiquetando

produtos com a máquina] (...) com número grande na latinha!” (Consumidor 1).

A forma como o ambiente é projetado pode ampliar ou inibir o ritmo e a eficácia

do fluxo de atividades nele realizadas, dificultando ou colaborando para que os clientes e

funcionários atinjam os seus objetivos (ZEITHMAL; BITNER, 2003). Considerando-se a

importância de obedecer a uma hierarquia de espaços e circulação no interior do

estabelecimento (NEWMAN; FOXALL, 2003), os consumidores foram questionados sobre a

dimensão dos corredores do varejo de auto-serviço alimentar.

Mowen e Minor (2006) apontam que a posição dos corredores influencia o fluxo

do tráfego no interior da loja que, por sua vez, relacionado à localização dos itens, pode

influenciar o índice de vendas de maneira notável. Nesta pesquisa, identificou-se que o

tráfego de pessoas com carrinhos de compras no interior da loja é prejudicado por corredores

estreitos, relação que pode gerar desconforto e aborrecimento no consumidor da terceira

idade. Com base nas respostas demonstradas a seguir, nota-se que neste aspecto as exigências

do cliente idoso ainda não são atendidas pelos varejistas:

“Se parar o carrinho nas gôndolas desse lado e o outro nesse lado de cá, no meio

não passa ninguém, aí pára tudo!” (Consumidor 2).

“Aí tem que pedir licença, um vai pra frente e um vai pra trás!” (Consumidor 8).

Embora a dificuldade percebida esteja relacionada à dimensão dos corredores, o

grupo focal mostrou sua preferência por carrinhos de compra estreitos e altos. Além de

facilitar a movimentação no interior do supermercado, essa substituição pode tornar mais

confortável a experiência de compra desse consumidor, o que pode ser observado no relato a

seguir:

O grande número é daqueles carros enormes, do rancho, do ranchão, aquilo é um horror! Tu pega um pacotinho e tem que te jogar lá dentro pra largar lá embaixo [gestos fazendo de conta que está “se jogando” dentro do carrinho] é um horror! Pra tirar é a mesma coisa (...) e aqueles altos tem poucos, são altinhos assim, são uma maravilha, duas prateleirinhas altas.(Consumidor 1).

Um layout eficiente incentiva os consumidores a moverem-se num fluxo

estimulante entre corredores e espaços (BLESSA, 2003), logo, nota-se a importância da

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circulação sem obstáculos. O comentário a seguir mostra a experiência negativa que a

presença de barreiras pode gerar ao consumidor:

Uma coisa que eu acho HORRÍVEL é o seguinte: na hora que a gente ta comprando ta aqueles baita coisas [gestos] eles [funcionários] botando [repondo as mercadorias] naqueles carrinhos ocupando daqui até lá [gestos] com aqueles carrinhos daquele tamanho. A gente não tem nem onde passar, a minha mãe foi atropelada por um né! (Consumidor 5).

Principalmente por tratar-se do deslocamento do consumidor idoso no interior da

loja, cabe destacar a necessidade de alguns atributos físicos como, por exemplo, piso plano de

material antiderrapante e sem degraus (COUTO; ZAMPIROLLI, 2007). A presença desses

atributos aumenta o volume de compras realizadas especialmente por clientes nesta faixa

etária (MOWEN; MINOR, 2006). Nesse sentido, os consumidores da terceira idade

demonstraram sua insatisfação quando, para chegar ao sanitário, há a necessidade de enfrentar

escadas. O relato a seguir exemplifica esta opinião:

“Se eu to apertada pra fazer xixi eu não quero subir correndo! Isso eu acho uma

coisa importante: que seja no mesmo andar que se está ocupando! [...] Se for pra idosos

principalmente!” (Consumidor 1).

Deste modo, os sanitários devem estar localizados no mesmo andar em que o

consumidor faz as compras havendo, ainda, um espaço exclusivo para deixar os carrinhos de

compra enquanto o consumidor o utiliza. Além de banheiros limpos, o consumidor idoso

considera importante que o estabelecimento forneça materiais como sabonete líquido para

lavar as mãos, papel toalha e papel higiênico de qualidade. Em face das considerações

anteriormente expostas, é conveniente que sanitários sejam construídos, também, antes da

passagem pelos check-outs, conforme aponta este consumidor:

“Presta atenção, tu ta com o carrinho, tu não passou pela caixa entendeu, tu vai

largar o carrinho aonde cheio de compras?” (Consumidor 2).

Embora afirmem não importar-se com a aglomeração de pessoas no

supermercado, percebe-se que esta é uma particularidade que perturba e influencia o

comportamento de compra dos consumidores da terceira idade. Nota-se que este público

relaciona a aglomeração de pessoas aos estabelecimentos cuja proposta é o preço baixo.

Ainda que assuma gostar de ofertas, evita frequentar o supermercado em dias de promoção, o

que ocorre devido ao desconforto gerado pela aglomeração de pessoas. O seguinte diálogo

comprova esta percepção negativa relacionada ao varejo de auto-serviço alimentar:

Se tu fores, por exemplo, no Carrefour, não vá no final do mês ou no início do mês porque aí é um atropelo só! [...] que nem eu na Páscoa: vou comprar salmão! ATENÇÃO ATENÇÃO, DAQUI A 5 MINUTOS SALMÃO A R$ 3,40 O KG! Quando eu cheguei lá tinha uma fila de mais ou menos 100 pessoas esperando pra comprar

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o tal do salmão, parecia um monte de crianças [...] Deus o livre! Nunca mais! Que frustração completa, completa! (Consumidor 1).

“Eu nunca vou no meu [ao supermercado] nas quartas, eu vou às quintas-feiras de

manhã, só que eu fui na quarta-feira e vi que era dia de promoção, então na quarta eu não

vou nunca mais!” (Consumidor 7).

Uma consequência comum da aglomeração de pessoas é a fila para efetuar o

pagamento. Conhecedores dos seus direitos, os consumidores da terceira idade exigem caixa

preferencial, no entanto, mostram-se incomodados com a quantidade reduzida desses check-

outs, alegando, portanto, nem sempre ser vantajoso o seu uso. Logo, aumentar o número de

caixas preferenciais pode reduzir o tempo de espera e, consequentemente, tornar mais

confortável a ida desse público ao supermercado. Tratando-se desse beneficio, nota-se

também que o consumidor da terceira idade sente-se mais jovem do que as outras pessoas da

sua faixa etária:

“Eu não uso a caixa dos idosos porque eu to sempre correndo né (...) eu quero

fazer ligeiro e às vezes as pessoas de mais idade ficam mais [tempo] e conversam (...) eu não

uso caixa dos idosos nem em supermercado nem em banco! Demora muito mais!”

(Consumidor 6).

Embora o depoimento quanto à utilização do caixa preferencial revele que a idade

é um estado mental (SCHIFFMAN; KANUK, 2005), é fato que as alterações relacionadas aos

cinco sentidos que acontecem gradativamente com o passar dos anos causam mudanças no

desempenho, mobilidade e capacidade física do ser humano (SPIRDUSO 2005). A partir

disso, emerge a necessidade de adaptação do setor de auto-serviço alimentar, o qual não

atende às expectativas do segmento, conforme apontam os próprios clientes:

Uma coisa que eu reclamo de todos os supermercados é que eu sou uma pessoa (...) não posso me tachar de deficiente, mas eu me canso muito (...) então onde vejo um banquinho, uma cadeirinha, as próprias cadeiras dos caixas quando há uma desocupada eu me sento [...] faz falta um local pra gente descansar, porque eu sou muito, desculpa a expressão, lerda. Eu olho, avalio, eu vejo se gosto, coloco e procuro outra coisa, pra comprar 4 ou 5 coisas eu acho que eu levo 15 minutos, então eu me canso, caminhando mesmo, então eu já fico procurando um lugar para me escorar, pra me sentar (...) e não tem uma cadeira, um banquinho, não tem nada! (Consumidor 8).

“Tem que fazer uns recantinhos assim (...) pequenos, duas, três poltroninhas, um

aqui, outro lá, outro acolá, distribuídos pra gente descansar!” (Consumidor 1)

Traduzida como a idade da liberdade, a velhice vêm sendo considerada a melhor

idade, com a qual o ser humano só tem a desfrutar das boas coisas da vida, livre de obrigações

sociais (NEVES; RAMOS, 2000). Assim, seguido da idéia da construção de áreas de

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descanso no interior dos supermercados, os consumidores demonstraram-se insatisfeitos com

a ausência de uma lanchonete, ou cafeteria para que possam descansar e ao mesmo tempo

lanchar e confraternizar com outras pessoas, antes da passagem pelo check-out. Sob esse

ponto de vista, manter contato com outras pessoas e interagir com o mundo pode ser uma

importante razão de compra para o consumidor da terceira idade (FARIAS; SANTOS, 2000).

A seguir, apresenta-se um trecho do grupo focal que reflete esta necessidade:

Cafeterias que tivessem dentro do supermercado também seriam fantásticas [...] se tu vai no supermercado tu até tem do lado de fora uma cafeteria pra ti degustar um café, um lanche, seja lá o que for, mas dentro do supermercado eu canso de estar morta de fome! Daí já to lá, eu abro um pacotinho do que eu to comendo, aliás, até um pedaço de pão eu mastigo e continuo (...) e segue o baile! Se tem alguma coisa [lanchonete ou cafeteria] tu pára, tu senta, ta entendendo? Daí tu vai tomar um café (...) uma coisa mais tranqüila, ainda mais pra idosos, se o problema é pros idosos eu acho que é o melhor! (Consumidor 2).

Eu acho muito bom porque eu gosto muito de conversar, gosto muito de falar! Onde eu posso eu já paro, já falo, já converso, então se tiver um negocinho desse [lanchonete ou cafeteria] é uma beleza! Se encontra, conversa, dá uma conversadinha ali, o que que achou, se tem coisa boa ali, não tem e tal, vai adiante (...) muito bom seria pra convivência, excelente! (Consumidor 1).

Atualmente, ao contrário do que se pensava, velhice não é sinônimo de

decadência, pobreza e doença, mas sim o de um tempo privilegiado para atividades livres dos

constrangimentos do mundo profissional e familiar (DEBERT, 2007). O anseio por uma área

de lazer no supermercado mostra que o consumidor da terceira idade valoriza um ambiente

descontraído. Torna-se, assim, a compra na loja de varejo de auto-serviço alimentar um

programa prazeroso, conforme o relato a seguir:

“Eu no dia das compras é sagrado [lanchar], porque em geral eu vou com a

minha filha, então é sagrado que depois que a gente termina as compras tem a cafeteria na

saída, o lanche! Ah não, esse aí é, esse aí faz parte, faz parte!” (Consumidor 6)

“Viu!? É um momento de relaxamento, de conversar, de descontrair!”

(Consumidor 2)

Quando questionados sobre a localização das lojas de auto-serviço alimentar,

os consumidores responderam que não deixam de frequentar um supermercado quando este

não se situa próximo à sua residência. No entanto, nota-se que a frequência de compra em

lojas distantes de casa cai à medida que o consumidor encontra um mercadinho próximo à sua

residência. Deste modo, pôde-se verificar a relação entre o volume da compra, as

características do produto adquirido (tipo de produto, a variedade e a qualidade dos produtos),

a localização geográfica da loja e o porte do varejo de auto-serviço alimentar.

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Verificou-se que a compra do “rancho”, cujo número e variedade de itens

adquiridos pelo cliente são maiores, geralmente ocorre nos supermercados de rede de médio e

de grande porte, quinzenal ou mensalmente. Oposto ao que ocorre no supermercado, no

mercadinho próximo à sua residência o consumidor da terceira idade adquire um número

reduzido de itens, porém a compra é realizada com maior frequência. Solução para as

compras de “emergência” e de “última hora”, o mercadinho é, também, bastante procurado

pelos consumidores da terceira idade na compra de alimentos perecíveis, como verduras e

frios, cujo consumo deve ocorrer em curto prazo. Para uma melhor compreensão, apresentam-

se os seguintes relatos:

No mercadinho tu só compra muzzarela, mas tem a facilidade de tu comprar quantidade [menor quantidade], tu não ter a alternativa no supermercado de comprar uma pequena quantidade, eu compro o queijo muzzarela todos os dias 150g a 200g, VÊM BEM FRESQUINHO! É tudo novinho! (Consumidor 1).

Eu compro no supermercado feijão (...) arroz (...) alimentos mesmo [...] não compro muita verdura (...) verduras a gente compra uma certa quantidade e depois não consome e acaba estragando [...] mas essas coisas assim que duram mais eu já compro em quantidade (...) e depois também eu tenho um mercadinho perto né [de casa], é a pé, é bem mais cômodo (Consumidor 6).

A solução para as compras de “emergência” estende-se, ainda, ao período de

funcionamento do mercadinho, o que transmite a sensação de fidelidade aos seus clientes,

como relata este Consumidor:

“Esse mercadinho que tem há milênios lá! No domingo não fecha NUNCA! Não

fecha NEM no dia de Finados, NEM no dia de eleição, NEM no primeiro do ano. Uma vez

fechou durante o jogo do Brasil, nunca mais, não fecha nunca!” (Consumidor 1).

Embora o mercadinho seja considerado pelos consumidores da terceira idade

como a opção mais prática quando se busca produtos com curto prazo de validade e até

mesmo de consumo diário, é imprescindível que haja a compra no supermercado. Tratando-se

da variedade e qualidade das mercadorias, a preferência desses consumidores é pela compra

no supermercado, uma vez que neste tipo de estabelecimento são oferecidos produtos que,

normalmente, não estão disponíveis nos minimercados, conforme atesta o depoimento a

seguir:

“No supermercado não é a mesma coisa [comparação entre supermercado e

mercadinho] (...) os queijos que eu gosto não tem no meu mercadinho né, tipo gorgonzola

não tem lá (...) tenho que procurar no supermercado” (Consumidor 7).

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Além dos fatores apresentados, nota-se a sensação de bem-estar e aconchego

alcançada pela loja de pequeno porte, uma vez que os consumidores da terceira idade sentem-

se mais familiarizados neste ambiente, como demonstra o relato a seguir:

“O gigantismo da própria instituição né, do supermercado, leva à impessoalidade

(...) então isso [tratamento pessoal e caloroso] não é normal no supermercado grande”

(Consumidor 1)

Embora a segurança seja um fator imprescindível em qualquer estabelecimento, os

consumidores da terceira idade consideram-na um conforto, a qual se estende ao

estacionamento fechado no supermercado. Esta variável é referida no depoimento a seguir:

“O estacionamento é fechado, então tu não precisa andar de sombrinha, isso é

conforto” (Consumidor 5)

Aliada à segurança e ao conforto, também foi citada a existência do caixa de

banco no supermercado. A favor da praticidade, os consumidores também se referiram à

importância do serviço de entrega das mercadorias em domicílio, bem como a precisão deste

serviço, exemplificada no relato a seguir:

Eu mais ou menos determino a hora que eu quero que me mandem porque às vezes a gente tem outro compromisso né! Lá no Supermercado Y eles dizem assim: Ah eu não posso lhe dizer a que horas [a mercadoria será entregue]. Ah não, então já não me serve! (Consumidor 6).

Para uma melhor visualização dos fatores de design da loja de auto-serviço

alimentar percebidos pelo consumidor da terceira idade, as subcategorias que compõem esta

dimensão foram organizadas e alocadas nas suas respectivas categorias, conforme demonstra

o quadro 11, na página seguinte.

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DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

FATORES DE DESIGN

Layout

Circulação sem obstáculos; Exposição das mercadorias; Agrupamento e posicionamento favorável de produtos; Preçário legível nas prateleiras; Sinalização no interior da loja; Disposição das mercadorias nas prateleiras; Dimensão dos corredores; Tráfego de pessoas com carrinhos de compra; Sanitários localizados antes da passagem pelo check-

out; Espaços exclusivos para deixar os carrinhos de compra

ao utilizar o sanitário.

Organização

Aglomeração de pessoas; Facilidade de localização dos produtos; Facilidade para localizar-se no caso de alterações na

disposição geral do supermercado; Facilidade de localização dos produtos em caso de

substituição; Quantidade de produtos expostos; Prazo de validade dos produtos expostos; Facilidade de visualização dos produtos nas

prateleiras; Facilidade de localização do preçário; Sanitários limpos e bem equipados; Facilidade de acesso aos sanitários; Ausência de fila para pagamento.

Facilidadese

conveniências

Lugar para sentar; Possibilidade de troca de produtos; Variedade de produtos; Carrinhos de compra estreitos e altos; Caixa preferencial para idosos; Áreas de descanso no interior do supermercado; Cafeteria ou lanchonete no interior do supermercado; Lugar para confraternizar com outras pessoas no

interior do supermercado; Localização próxima à residência; Estacionamento coberto; Entrega em domicílio; Caixa de banco; Segurança; Impessoalidade dos supermercados de grande porte; Aconchego dos estabelecimentos de pequeno porte.

Quadro 11 – Síntese dos elementos que compõem os fatores de design presentes no ambiente de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idadeFonte: elaborado pela autora a partir da coleta de dados

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Considerando-se a importância do estímulo aos sentidos humanos na ambientação

de loja, a seguir apresenta-se a sua implicação no comportamento de compra dos

consumidores da terceira idade.

Apelos Sensoriais

Ao analisar o ser humano enquanto cliente, Underhill (1999) aponta que todos os

indivíduos agem como compradores pós-defesa do consumidor, ou seja, só acreditam depois

de ver, cheirar, tocar, ouvir, provar e experimentar o produto. Logo, um ambiente de loja

personalizado deve contar com recursos que estimulem os órgãos de sentido dos

consumidores (PARENTE, 2000).

Um dos apelos sonoros mais utilizados pelos profissionais de marketing é a

música, pois esta pode causar um efeito poderoso nas percepções e no comportamento dos

consumidores, mesmo que em volume quase imperceptível (LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

Para facilitar a introdução do tópico sonorização na discussão, os consumidores da terceira

idade foram abordados sobre a música no interior do supermercado.

A presença de música no ambiente de varejo de auto-serviço alimentar é

percebida como um atributo bastante positivo, uma vez que recebeu atenção especial por parte

dos consumidores da terceira idade. Ao criar uma autêntica relação afetiva com a loja, a

música estimula os consumidores a mergulharem no universo da marca. No entanto, é preciso

ter cuidado ao exercer um projeto musical no ambiente de loja, pois da mesma maneira que

atrai o cliente, pode afugentá-lo para fora do estabelecimento (SILVA, 2003). Esta situação é

representada pelo depoimento a seguir:

“Eu já entrei em supermercado e pedi pra tirar o som porque era muito ruim!

[...] além de ser música de baixo nível era um volume muito alto!” (Consumidor 4).

A seleção musical é indispensável e deve ser compatível com o público e tipo de

estabelecimento (SILVA, 2003). Nesse sentido, a qualidade musical também foi apresentada

como atributo importante durante o debate, de modo que prevaleceu a preferência por canções

“dos velhos tempos”. É possível exemplificar essa exigência nos relatos abaixo:

“São CDs que a gente até têm em casa (...) então me agrada ouvir” (Consumidor

4).

“Claro que do meu tempo de moça, década de 50 as músicas né, suaves”

(Consumidor 7).

“Pode ser até uma música clássica, mais suave” (Consumidor 8).

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Por parte dos consumidores da terceira idade prevaleceu a preferência pela música

suave, agradável. Assim, Pullman e Gross (2004) apontam que a música deve transmitir uma

sensação de tranquilidade e relaxamento aos consumidores idosos. Outra característica

importante apontada na discussão foi o volume, o qual se destaca como a dimensão auditiva

mais relevante (KOTLER, 1973). À medida que o ser humano envelhece, o seu aparelho

auditivo passa a não perceber mais algumas faixas de onda, de modo que não é mais capaz de

ouvir sons muito agudos (MAIA, 2008). Sendo assim, torna-se necessário adequar o volume

da música à capacidade auditiva do consumidor da terceira idade. Este caso pode ser

exemplificado no diálogo a seguir:

“O volume ele é sempre abaixo, por mim até poderia ser um pouquinho mais

alto” (Consumidor 4).

“É, é de bom gosto (...) também me chama a atenção, eu tenho vontade que

botem um pouquinho mais alto pra ouvir melhor” (Consumidor 2).

Uma pesquisa revelada pelo Point of Purchase Advertising International

(POPAI, 2004) indica que o emprego do aroma no ponto-de-venda pode elevar o faturamento

do varejo em pelo menos 20%. Do mesmo modo que Baker, Grewal e Parasuraman (1994) e

Pullman e Gross (2004) atentam para a importância da presença ou ausência de odores no

ambiente de loja, o grupo focal mostrou-se aborrecido com o odor da peixaria e entusiasmado

com o cheiro proveniente dos produtos da seção de defumados: “Aquele cheiro de linguiça eu

acho uma maravilha!” (Consumidor 6).

Além de clarear o estabelecimento, a boa iluminação destaca os produtos

expostos, transmite uma sensação de limpeza, decora áreas especiais e acompanha o estilo e a

personalidade da loja, podendo, ainda, disfarçar partes visualmente desagradáveis que não

podem ser modificadas (BAKER; GREWAL; PARASURAMAN, 1994; BLESSA, 2003;

SINHA; BENERJEE, 2004).

Embora a iluminação exerça forte influência nos ambientes e comportamento dos

clientes (COUTO; ZAMPIROLLI, 2007), este quesito não foi percebido pelos consumidores

da terceira idade como um possível influenciador no seu processo decisório de compra. O

grupo demonstrou não conhecer qualquer loja de auto-serviço alimentar mal iluminada. No

entanto, os consumidores declararam que não haveria a possibilidade de realizar as compras

em um ambiente escuro, onde não desse para enxergar.

Mesmo que os depoimentos tenham sido claros em relação à existência de uma

iluminação adequada nas lojas de auto-serviço alimentar, foi mencionada como falha a

iluminação no estacionamento dos supermercados. Porém, mesmo percebendo essa questão

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como um problema sabido e não solucionado pelos supermercadistas, foi declarado pelos

consumidores que, de forma alguma, esse seria um motivo para que não retornassem à loja. A

seguir, mostra-se um trecho que representa este caso:

Sabe o que eu notei? O estacionamento deles [supermercado X] ali da parte do subsolo não é bem iluminado! Já teve até assaltos lá, isso realmente eu acho que é uma falha do supermercado X [...] eu acho que a economia que eles faze é nisso [na iluminação no estacionamento]!(Consumidor 2).

“Eu acho que nenhum deles é bem iluminado [...] é geral! [referindo-se aos

estacionamentos dos supermercados]” (Consumidor 6).

Outra variável mencionada no grupo focal foi a climatização do ambiente, a qual

colabora para a satisfação e positiva experiência de compra do consumidor da terceira idade.

Conforme o depoimento a seguir, nota-se que esta variável relaciona-se ao conforto oferecido

pelo estabelecimento:

“Tu chega com um casacão e tu pode tirar o casacão pra entrar dentro do

supermercado (...) isso é conforto” (Consumidor 1).

As lojas devem dar a possibilidade aos clientes de tocar e experimentar os

produtos (NEWMAN; FOXALL, 2003). O grupo focal demonstrou que a degustação pode ser

tanto um suplemento de persuasão para a compra, quanto um artifício indiferente no processo

decisório. Ao mostrarem-se com opiniões divididas, os motivos apresentados pelos

consumidores que disseram não degustar, em geral, estão relacionados à pressa ou falta de

apetite no horário em que fazem as compras. No entanto, estes mesmos consumidores

demonstraram aceitação quando o produto a ser degustado tratava-se do café. Em

contrapartida, os consumidores que manifestaram boa aceitação em relação à degustação de

produtos alimentícios, acrescentaram que geralmente compram o que provam. A seguir

apresenta-se o trecho com as principais considerações feitas pelos consumidores a respeito da

degustação:

“Uma coisa que eu acho maravilhosa no supermercado é as provas de coisa

[produtos alimentícios] (...) eu saio sempre do serviço e vou no supermercado e eles tão

dando vinhozinho com queijo! Mas eu compro sempre!” (Consumidor 5).

“Se tiver cafezinho eu paro pra tomar, mas caso contrário eu não paro!”

(Consumidor 9).

“Dificilmente eu provo (...) eu não chego no horário que o Consumidor 5 chega

[na hora da fome] eu passo sempre apressada, eu não fico ali esperando!” (Consumidor 3).

“Dificilmente eu provo! [...] Mas se tem um café sim, se tem um cafezinho aí eu

quero!” (Consumidor 2).

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“Ah não! Eu quando assim eu olho e vejo ai eu provo, provo e geralmente levo

(...) tem umas coisas muito boas!” (Consumidor 6).

“Eu provo e levo e penso assim: meu Deus, ela [funcionária que oferece a

degustação] está fazendo o trabalho dela, então vou auxiliá-la. Se eu não gostar paciência,

eu dou pra uma neta, pra uma filha. É pra auxiliá-la no trabalho dela!” (Consumidor 8).

Ainda no que se refere à degustação, apontou-se no grupo focal o desejo da

degustação por associação, conforme o relato a seguir:

E outra coisa que faziam antigamente que eu vejo que não fazem mais, não sei porquê, é fazer uma degustação casada (...) a menina tava degustando vinho e queijo marca tal, salame e queijo marca tal, iogurte e o pãozinho marca tal, tem o iogurte marca tal e o pãozinho marca tal, quer dizer duas marcas até diferentes não sei se tu notou, ou não, mas marcas diferentes (...) e isso acabava sendo uma coisa interessante! (Consumidor 5).

A fim de facilitar a visualização dos apelos sensoriais da loja de auto-serviço

alimentar percebidos pelo consumidor da terceira idade, as subcategorias que compõem esta

dimensão foram organizadas e alocadas nas categorias sonorização, aromatização,

degustação, climatização e iluminação, conforme demonstra o quadro 12:

DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

APELOS SENSORIAIS

Sonorização

Música agradável; Canções dos “velhos tempos”; Volume apropriado; Qualidade musical.

Aromatização Cheiros apetitosos; Cheiros desprezíveis.

Degustação Degustação de alimentos; Degustação de bebidas; Degustação por associação.

Climatização Temperatura nem muito quente nem muito fria.

Iluminação Boa iluminação; Iluminação no estacionamento.

Quadro 12 – Síntese dos elementos que compõem os apelos sensoriais presentes no ambiente de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idadeFonte: elaborado pela autora com base na coleta de dados

Apresentam-se, a seguir, os fatores sociais que compõem o ambiente de loja e sua

implicação no comportamento de compra dos consumidores da terceira idade.

Fatores Sociais

As características mais relevantes envolvidas nos fatores sociais são o número de

profissionais existentes na loja, a forma como são apresentados e sua educação e cortesia. O

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quadro pessoal com esses atributos contribui para a sensação de prazer ou desprazer dos

clientes em realizar compras em determinado estabelecimento (BAKER et al, 2002).

Entretanto, a socialização entre funcionários e clientes tem como objetivo projetar

uma imagem positiva e consistente para o público consumidor (BATESON; HOFFMAN,

2001). Nesse contexto, a equipe também tem poder de influenciar o estado emocional dos

consumidores no momento da compra (DONOVAN; ROSSITER, 1982).

Dentre as condições abordadas por Baker et al (2002), a educação e a cortesia da

equipe receberam maior destaque por parte dos consumidores da terceira idade. Além disso,

as a qualidade do serviço prestado por parte dos funcionários também são levadas em

consideração, de modo que além da presteza e simpatia, o profissionalismo da equipe é

permanentemente avaliado por parte do consumidor idoso, conforme os seguintes

depoimentos:

“Tu vai pegar, por exemplo, uma coisa de maior peso (...) eu não pego um saco

com 5 kg de açúcar, é um perigo! O guri que ta mais perto vai botar dentro do meu carrinho:

Sim senhora e tal, ta bem assim? (...) com toda a educação” (Consumidor 5).

“E a misturada que eles fazem na sacola?! Eles [empacotadores] pegam

congelado [alimentos congelados] e põem junto com o saco de farinha ou alguma coisa

assim né!” (Consumidor 1).

Do mesmo modo que comportamentos que resultam em experiências satisfatórias

tendem a repetir-se, o depoimento a seguir é um exemplo de que comportamentos

insatisfatórios tendem a ser evitados (SAMARA; MORSCH, 2005). Também no que envolve

o relato do Consumidor 2, Blessa (2003) lembra que, além da educação, a paciência natural

para lidar com as pessoas conta muito quando se deseja cativar consumidores (BLESSA,

2003).

Eu já vi a minha irmã largar todas as compras porque uma guria disse uma estupidez pra ela, aí ela disse: Agora não vou levar mais nada! Já tinha registrado tudo, chamou o supervisor e deixou lá [as mercadorias], ela [funcionária] realmente foi grosseira com ela [irmã]! (Consumidor 2).

Para que os casos referidos pelos Consumidores 1 e 2 não se repitam, os

estabelecimentos podem recrutar funcionários para desempenhar papéis específicos, elaborar

roteiros contendo informações sobre o que devem falar e o que devem fazer (LOVELOCK;

WIRTZ, 2006).

A influência exercida pelos funcionários pode, também, refletir sobre a percepção

de qualidade dos produtos ofertados (BAKER et al, 2002). Logo, a atitude dos funcionários

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mostrou-se um fator essencial para a satisfação dos consumidores da terceira idade, tornando

a experiência de compra mais agradável, o que é possível exemplificar no relato abaixo:

Eu tenho o hábito de lavar tudo quando eu chego do supermercado [...] peguei uma baciazinha e peguei uma dúzia de ovos que eu tinha comprado, ovos amarelos. Coloquei naquela baciazinha e soltei um detergente com a água ionizada, eu achei que o ovo tava meio sujinho do ninho da galinha (...) quando eu fui enxaguar os ovos, saiu a cor do ovo, ele ficou branco! Não tive dúvida, eu não tinha terminado a operação ainda, peguei a baciazinha, diminuí a água pra não derramar no carro e levei lá e disse: olha aqui moço, olha! Levei a nota fiscal, eu tinha acabado de comprar, fazia umas 2h ou 3h, sei lá, não me lembro mais. Ele nem quis ver a nota fiscal, ele só me disse: A senhora nos desculpe, nós vamos tomar providências imediatas, os ovos que a senhora comprou são ovos amarelos e não ovos pintados! Eu saí até envergonhada de tanta delicadeza, de tanta atenção! (Consumidor 3).

A agilidade dos funcionários no atendimento ao cliente e no reabastecimento de

mercadorias nas prateleiras também é valorizada pelo consumidor da terceira idade. Na

opinião desse consumidor, estar sempre atento e disponível é uma característica

imprescindível do funcionário.

Acho que a maior importância dos funcionários é que eles tão sempre observando, reabastecendo as prateleiras, ta saindo mercadoria e eles tão reabastecendo, eles tão sempre prontos pra te informar (...) são super gentis, qualquer um que tu se dirigir, pedir uma informação qualquer, ele larga o que ta fazendo, sai contigo e vai te mostrar (Consumidor 9).

A rotatividade da equipe no supermercado pode gerar desconforto e a sensação de

um atendimento impessoal, pois cria-se uma relação de confiança entre o funcionário e o

consumidor da terceira idade, a qual é refletida na satisfação do cliente. Esta relação pode ser

verificada nos depoimentos a seguir:

“Eu fico amiga! Olha, mais de um [funcionário] no Supermercado X foi se

despedir de mim [...] é muito ruim (...) é que a rotatividade de funcionários é muito grande!”

(Consumidor 5).

“É ruim porque em muito funcionário a gente já confia neles, tu já conhece há

mais tempo né, às vezes tu chega e tu tem vontade de encontrar aquela pessoa pra te dar uma

informação ou pra te ajudar em alguma coisa [...] isso dificulta muito!” (Consumidor 9)

Atendendo ao terceiro objetivo específico deste trabalho e para uma melhor

visualização dos fatores sociais da loja de auto-serviço alimentar percebidos pelo consumidor

da terceira idade, as subcategorias que compõem a categoria equipe foram organizadas no

quadro 13, na página a seguir.

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DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

FATORES SOCIAIS

Equipe

Educação e cortesia; Disponibilidade da equipe; Qualidade do serviço prestado; Presteza e simpatia; Profissionalismo da equipe; Atitudes dos funcionários; Funcionários atentos; Funcionários ágeis no atendimento e no

reabastecimento de produtos nas prateleiras; Rotatividade de funcionários; Paciência natural do funcionário; Funcionários pró-ativos; Equipe amigável e confiável.

Quadro 13 – Síntese dos elementos que compõem os fatores-sociais presentes no ambiente de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idadeFonte: elaborado pela autora a partir da coleta de dados

Atendidos os objetivos específicos deste estudo, com os quais se buscou

identificar, fundamentalmente, a percepção do consumidor idoso em relação aos fatores de

design, aos apelos sensoriais e aos fatores sociais envolvidos no ambiente da loja de auto-

serviço alimentar, a seguir apresenta-se o quadro-resumo com essas três dimensões.

6.4.1 Síntese dos Elementos que Compõem o Ambiente de Varejo com Loja de Auto-serviço

Alimentar Sob a Ótica do Consumidor da Terceira Idade

Apresentadas anteriormente no capítulo que aborda a estratégia metodológica, as

dimensões e as categorias do quadro a seguir foram previamente definidas, bem como

algumas de suas subcategorias. Sendo assim, na coleta junto aos consumidores da terceira

idade buscou-se verificar a validade desses elementos. Desta forma, verificou-se que nem

todas as subcategorias previamente definidas são relevantes no ambiente de loja de varejo de

auto-serviço alimentar no ponto de vista do consumidor da terceira idade. No entanto,

diferentes subcategorias surgiram ao longo do grupo focal.

Sendo assim, o quadro 14 foi elaborado para facilitar a visualização do leitor no

que diz respeito às subcategorias existentes em outros modelos mencionadas pelos

consumidores, bem como às subcategorias que emergiram da coleta junto a este emergente

segmento.

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DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

FATORES DE DESIGN

Layout

Circulação sem obstáculos; Exposição das mercadorias; Agrupamento e posicionamento favorável de

produtos; Preçário legível nas prateleiras; Sinalização no interior da loja; Disposição das mercadorias nas prateleiras; Dimensão dos corredores; Tráfego de pessoas com carrinhos de compra; Sanitários localizados antes da passagem pelo check-

out; Espaços exclusivos para deixar os carrinhos de compra

ao utilizar o sanitário.

Organização

Aglomeração de pessoas; Facilidade de localização dos produtos; Facilidade para localizar-se no caso de alterações na

disposição geral do supermercado; Facilidade de localização dos produtos em caso de

substituição; Quantidade de produtos expostos; Prazo de validade dos produtos expostos; Facilidade de visualização dos produtos nas

prateleiras; Facilidade de localização do preçário; Sanitários limpos e bem equipados; Facilidade de acesso aos sanitários; Ausência de fila para pagamento.

Facilidadese

conveniências

Lugar para sentar; Possibilidade de troca de produtos; Variedade de produtos; Carrinhos de compra estreitos e altos; Caixa preferencial para idosos; Áreas de descanso no interior do supermercado; Cafeteria ou lanchonete no interior do supermercado; Lugar para confraternizar com outras pessoas no

interior do supermercado; Localização próxima à residência; Estacionamento coberto; Entrega em domicílio; Caixa de banco; Segurança; Impessoalidade dos supermercados de grande porte; Aconchego dos estabelecimentos de pequeno porte.

APELOS SENSORIAIS

Sonorização

Música agradável; Canções dos “velhos tempos”; Volume apropriado; Qualidade musical.

* Início do quadro 14

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DIMENSÃO CATEGORIA SUBCATEGORIA

APELOS SENSORIAIS

Aromatização Cheiros apetitosos; Cheiros desprezíveis.

Degustação Degustação de alimentos; Degustação de bebidas; Degustação por associação.

Climatização Temperatura nem muito quente nem muito fria.

Iluminação Boa iluminação; Iluminação no estacionamento.

FATORES SOCIAIS

Equipe

Educação e cortesia; Disponibilidade da equipe; Qualidade do serviço prestado; Presteza e simpatia; Profissionalismo da equipe; Atitudes dos funcionários; Funcionários atentos; Funcionários ágeis no atendimento e no

reabastecimento de produtos nas prateleiras; Rotatividade de funcionários; Paciência natural do funcionário; Funcionários pró-ativos; Equipe amigável e confiável.

Legenda: Subcategorias oriundas de modelos existentes (definidas a priori); Subcategorias emanadas da coleta de dados (definidas a posteriori)

Quadro 14 – Síntese dos elementos que compõem o ambiente de varejo com loja de auto-serviço alimentar sob a ótica do consumidor da terceira idadeFonte: elaborado pela autora a partir da coleta de dados

A seguir, as considerações finais apresentam as implicações acadêmicas e

gerenciais do estudo, bem como sugestões para novas investigações.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho monográfico de conclusão de curso teve como propósito aperfeiçoar

o conhecimento sobre a ambientação da loja de varejo de auto-serviço alimentar,

considerando a sua influência no processo decisório do consumidor da terceira idade. Este

capítulo sintetiza as contribuições da pesquisa, apontando as implicações acadêmicas e

apresentando as limitações e sugestões para próximos estudos.

O público da terceira idade está se tornando um contingente respeitável de

consumidores, tanto pelo ponto de vista populacional, como também econômico. Porém,

tratando-se dos adultos maduros, poucas ainda são as informações que o meio empresarial

tem sobre o seu comportamento, necessidades e desejos. Somente um número reduzido de

varejistas não está ignorando o poder de compra significativo dos consumidores idosos. Esta

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problemática crescente evidencia a importância da identificação dessas evoluções que

atingem tanto a sociedade como a comunidade empresarial (FARIAS; SANTOS, 2000).

Dependendo da situação na qual o consumidor se encontra no ato da compra, suas

reações e o seu comportamento podem se tornar consideravelmente diferentes

(BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005; HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST,

2007). Nesse sentido, o prazer induzido pelo ambiente de loja pode ser um fator essencial para

que os consumidores permaneçam mais tempo na loja e comprem mais do que o pretendido

(DONOVAN; ROSSITER, 1994).

Embora o ambiente de loja seja tema de inúmeros trabalhos realizados por

pesquisadores de marketing, estudiosos admitem que a sua influência no comportamento

humano ainda não foi totalmente desvendada, sendo assim, consideram-no um instigante

objeto de estudo (ESPINOZA; D’ANGELO; LIBERALI, 2005). Desse modo, as

contribuições acadêmicas sobre o ambiente de loja no contexto de consumo têm despertado

maior curiosidade e interesse por parte do meio empresarial, já que este considera a sua

importante utilidade na formulação de suas estratégias.

A fim de responder o problema de pesquisa, o qual investiga a forma como se dá a

influência da ambientação da loja de varejo de auto-serviço alimentar no processo decisório

do consumidor da terceira idade, a literatura revisada abordou os principais estágios e

características que compõem o processo decisório de compra, bem como os fatores internos e

externos intervenientes na tomada de decisão dos consumidores. Considerando a importante

função mercadológica do varejo, a revisão teórica também analisou os seus principais

formatos, de modo que maior ênfase foi dada à loja de varejo de auto-serviço alimentar, a

qual representou o cenário deste estudo. Intimamente ligados ao varejo, também foram

considerados os fatores ambientais de loja e a sua influência no comportamento do

consumidor. Por fim, a literatura foi revisada com o objetivo de levantar as informações

atualmente disponíveis a respeito do segmento da terceira idade, onde além do seu potencial

de consumo buscou-se identificar as suas características enquanto consumidores.

Ao final da revisão da literatura, foi elaborada a estratégia metodológica deste

estudo. No intuito de compreender o ponto de vista de quem projeta, de quem opera e de

quem consome, foi desenvolvido um estudo de cunho exploratório através de pesquisa de

natureza qualitativa. Assim, dados foram obtidos junto a três públicos distintos: experts em

ambientação de loja; operadores de varejo de auto-serviço alimentar e consumidores da

terceira idade. Entrevistas em profundidade foram aplicadas nos dois primeiros públicos,

enquanto o grupo focal contou com os consumidores da terceira idade. Ao captar a

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subjetividade do discurso dos entrevistados, o uso de técnicas qualitativas favoreceu a

descoberta das diferentes perspectivas e pontos de vista dos públicos investigados. O que

também favoreceu a riqueza do conteúdo da pesquisa foi a possibilidade da utilização do

grupo focal na coleta junto aos consumidores da terceira idade.

Através das entrevistas em profundidade realizadas com os experts em projetos

arquitetônicos e de ambiente de loja, pode-se afirmar que o principal objetivo de um projeto

de ambiente de loja é a vantagem competitiva. É possível inferir que a ambientação da loja

traz vantagens para a empresa à medida que satisfaz as necessidades e desejos do seu público-

alvo. Agregando valor à loja, a empresa que busca diferenciação da concorrência através do

seu ponto de venda pode superar as expectativas do consumidor.

Os benefícios do ambiente de loja estendem-se tanto à percepção do consumidor

em relação à marca quanto em relação à estrutura física da loja, o que torna difícil separar

uma da outra. É por esse motivo que os experts e os teóricos apontam o ambiente de loja

como sendo o produto ofertado ao consumidor. Além de criar desejos, o ambiente de loja é

capaz de estimular a compra por impulso, o que provoca o aumento do ticket médio do

cliente. A medida que a ambientação facilita a compra e ainda proporciona uma experiência

confortável ao consumidor, há um aumento na produtividade da operação, favorecendo tanto

os clientes quanto os funcionários.

Intimamente ligados à experiência positiva de compra, encontram-se o vínculo

emocional e o vínculo de intimidade que se criam entre o consumidor e a loja. Pode-se

apontar que essa ligação se dá a partir do momento em que a ambientação da loja traduz-se

em um conceito ao consumidor. Logo, ao identificar este conceito, surge uma ligação afetiva

entre a empresa e o consumidor, fato capaz de resultar tanto na preferência do cliente pela

loja, como na fidelidade à marca. Mesmo que o ambiente de loja influencie o comportamento

do consumidor através de um conjunto de variáveis, esse laço afetivo pode ser criado por um

único responsável, podendo este ser tanto um elemento de design, um fator social ou, ainda,

um apelo sensorial como o aroma específico da loja, por exemplo.

A fim de promover maior entrosamento entre os conceitos teóricos abordados na

revisão bibliográfica e a ocorrência destes conceitos na prática, foram realizadas entrevistas

junto a especialistas, uma gerontóloga e uma psicóloga, ambas profissionais que atuam junto

ao público da terceira idade, cujo conteúdo favoreceu a compreensão sobre as características

deste segmento. Associadas à revisão teórica, estas entrevistas forneceram subsídios para a

elaboração dos instrumentos de coleta utilizados junto aos experts, aos operadores e aos

consumidores.

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Enquanto a abordagem da gerontóloga e da psicóloga sobre o idoso envolveu

fundamentalmente aspectos sociais, os operadores de varejo de auto-serviço alimentar

traduziram o comportamento deste grupo enquanto consumidores. Logo, pôde-se notar que,

da mesma maneira que ocorre com outros segmentos, as características do consumidor idoso

se refletem diretamente no seu comportamento de compra.

Sendo assim, acredita-se que a disponibilidade de tempo para o consumo pode

fazer com que o consumidor idoso considere a ida ao supermercado uma experiência

prazerosa e, desse modo, realize as suas compras com calma e tranqüilidade, permanecendo

no estabelecimento por mais tempo que o consumidor adulto. Nesse sentido, também é

possível indicar que a disponibilidade de renda para o consumo seja um dos motivos pelos

quais esse consumidor esteja mais atento à qualidade dos produtos do que preocupado com o

preço.

Relacionando-se a um programa prazeroso, nota-se que a frequência de compra do

consumidor idoso no supermercado é quase diária. No entanto, o receio de ser isolado e de

não ser notado pela sociedade também podem ser motivos para explicar a sua frequente visita

ao supermercado, uma vez que lá interage e se relaciona com outras pessoas. A busca por uma

vida social ativa, conforme referido pelos operadores, pode ser um reflexo da tentativa de

chamar a atenção dos funcionários, uma vez que este consumidor gosta de ser bem tratado,

reconhecido e respeitado. Junto à necessidade de sentir-se valorizado, o consumidor da

terceira idade exige seus direitos, que no supermercado é conseguido através do caixa

preferencial para pessoas acima de 60 anos.

Em alguns casos, as limitações físicas inerentes à idade também exigem dos

funcionários o atendimento exclusivo a este consumidor. Nesse sentido, os operadores

apontaram que os idosos sentem dificuldade para encontrar os produtos, para visualizar o

preço, para carregar o carrinho de compras, para se deslocar no interior da loja e, ainda, para

levar as compras para casa. Compreendendo essas dificuldades, os operadores mostraram-se

acostumados a lidar com o consumidor idoso e ainda declararam-se satisfeitos em atendê-los.

Embora exigentes, os consumidores da terceira idade são considerados pelos funcionários

como muito gentis e educados.

A preferência da terceira idade por ambientes tranqüilos e agradáveis, mencionada

pela gerontóloga e pela psicóloga, também é refletida no comportamento de compra do idoso,

uma vez que, conforme revelaram os operadores, o público da terceira idade procura

frequentar o supermercado durante os períodos em que o movimento na loja é menos intenso.

Ainda sob o ponto de vista de que a visão das especialistas e a visão dos operadores sejam

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complementares, verificou-se que o desejo sentido pelo consumidor idoso de aproveitar a vida

também é visível no tipo de alimentos que compra, já que eventualmente eles se permitem

consumir alimentos restritos da sua dieta.

Em resumo, com relação às entrevistas em profundidade, os experts citaram as

três dimensões que compõem o ambiente de loja, que de acordo com Baker et. al. (2002)

correspondem aos fatores de design, aos fatores ambientais e aos fatores sociais. No entanto,

pode-se dizer que os experts deram maior ênfase à vantagem competitiva que uma

ambientação de loja adequada pode proporcionar à empresa. Enquanto isso, mesmo que não

se referindo de forma explícita à importante função mercadológica da ambientação da loja de

auto-serviço alimentar, até porque projetar o ponto de venda não é a especialidade dos

entrevistados, esta foi claramente percebida no discurso dos operadores de varejo. De modo

geral, a principal dimensão que emergiu do discurso dos operadores refere-se aos fatores

sociais no ambiente de loja.

A fim de respeitar os objetivos específicos desta pesquisa, com os quais se

pretendeu identificar como são percebidos os fatores de design, os apelos sensoriais e os

fatores sociais da loja de varejo de auto-serviço alimentar, foi dada ênfase a estes aspectos no

grupo focal realizado junto aos consumidores da terceira idade.

De um modo geral, os fatores de design facilitam o reconhecimento cognitivo do

consumidor no que se refere à organização da loja, podendo auxiliar ou dificultar a atividade

de busca dentro do estabelecimento (COSTA, 2002). Com relação a esta dimensão, os

consumidores da terceira idade levantaram aspectos que puderam ser distribuídos em três

categorias: layout; organização; facilidades e conveniências.

O layout que compõe o ambiente de varejo de auto-serviço alimentar pode ser um

fator essencial para que a experiência de compra do consumidor idoso se torne prazerosa. Este

fator de design, quando adequadamente projetado, é capaz de estimular o desejo de consumo

e incentivar a compra por impulso. Sendo assim, no layout da loja de varejo destinada ao

público da terceira idade é importante considerar aspectos como a dimensão dos corredores, a

localização dos sanitários, a sinalização de fácil entendimento, o agrupamento e

posicionamento favorável dos produtos, a disposição das mercadorias nas prateleiras, a

legibilidade e exposição do preçário e a circulação sem obstáculos.

Tratando-se ainda dos fatores de design, destaca-se também a organização da loja

de auto-serviço alimentar. Buscando facilitar o desempenho do consumidor da terceira idade,

nesta categoria foram apontados aspectos como a circulação sem obstáculos, a aglomeração

de pessoas, a facilidade para localizar-se no interior da loja, a facilidade de localização dos

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produtos e do preçário, a facilidade de visualização das mercadorias nas prateleiras, o acesso

aos sanitários, a quantidade e o prazo de validade dos produtos expostos, a ausência de fila

para pagamento, dentre outros aspectos que se adéquam e favorecem este segmento.

Contextualizando os pontos levantados em relação às facilidades e conveniências,

pode-se destacar a importância atribuída ao conforto pelo consumidor da terceira idade.

Insatisfeito com a preocupação dos varejistas em relação às dificuldades sentidas pelo corpo

humano com o passar dos anos, o público idoso sente a necessidade de lugar para sentar e de

áreas de descanso no interior do supermercado. Com os músculos enfraquecidos, o

carregamento de peso torna-se prejudicial e, às vezes, impraticável para o consumidor idoso,

o que explica a importância de o estabelecimento dispor de entrega das compras em

domicílio.

Ir ao supermercado torna-se um programa prazeroso, conforme o relato dos

operadores de varejo. Esta informação pode ser relacionada ao desejo dos consumidores

idosos de frequentar uma cafeteria ou lanchonete no interior do supermercado. Nesse sentido,

o desejo de manter o convívio social, mencionado pela gerontóloga e pela psicóloga, pode

estar representado no desejo de que no interior do supermercado haja um lugar para

confraternizar com outras pessoas. Paralelo a isso, verificou-se a satisfação do consumidor em

relação ao aconchego do supermercado de pequeno porte, diferentemente da percepção

negativa de impessoalidade sentida em lojas de grande porte.

Os apelos sensoriais, dimensão que contempla o segundo objetivo específico deste

trabalho, são artifícios percebidos pelos consumidores da terceira idade, bem como capazes de

influenciá-los no momento da compra. Embora os experts tenham mencionado que os apelos

sensoriais influenciam o cliente subliminarmente, ou seja, inconscientemente, os

consumidores da terceira idade mostraram-se conscientes da existência desses apelos.

Assumiram, ainda, que a sonorização, a aromatização, climatização, a degustação e a

iluminação podem influenciar seu comportamento, inclusive, de forma negativa.

Contemplando o terceiro objetivo específico deste estudo encontram-se os fatores

sociais intervenientes no processo decisório dos consumidores. Exercendo forte influência na

satisfação, ou insatisfação do consumidor idoso tem-se a equipe de funcionários da loja de

auto-serviço alimentar. A necessidade de atenção, considerada pela gerontóloga, pela

psicóloga e pelos operadores de varejo em relação ao consumidor idoso, foi comprovada no

discurso extraído do grupo focal. Pode-se destacar que os valores e princípios do consumidor

da terceira idade devem ser contemplados nas atitudes dos funcionários ou, no mínimo,

respeitados pela equipe que os atende.

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Mesmo que tenha alcançado os objetivos propostos e cumprindo rigor científico,

algumas limitações foram constatadas neste estudo. O primeiro desafio enfrentado diz

respeito à escolha da nomenclatura das dimensões utilizadas para sintetizar os elementos que

compõem o ambiente de loja de varejo de auto-serviço alimentar. Utilizado na fundamentação

teórica o modelo conceitual elaborado por Baker et. al. (2002), o qual define o ambiente de

loja a partir de fatores de design, fatores ambientais e fatores sociais, a pesquisadora

encontrou dificuldade para incluir nesta nomenclatura as categorias sonorização,

aromatização, degustação e iluminação, uma vez que por fatores ambientais entende-se

apenas a música na loja. Nesse momento julgou-se oportuno, devido à influência do ambiente

de loja nos cinco sentidos humanos, denominar apelos sensoriais a dimensão que consta essas

categorias.

Outra limitação que se apresentou diz respeito ao entendimento dos consumidores

quanto à proposta da realização de um grupo focal. Desse modo, a fim de eliminar receios

quanto à atividade, a tarefa de recrutamento exigiu cuidados no que se referiu ao prévio

esclarecimento da atividade a ser realizada. Por esse motivo, além dos contatos telefônicos

julgou-se necessária a elaboração de uma carta-convite que foi entregue pessoalmente pela

pesquisadora a cada participante.

A metodologia qualitativa de pesquisa ampliou os limites da investigação sobre os

aspectos subjetivos envolvidos nas experiências de consumo do consumidor da terceira idade,

produzindo ricos achados para a continuidade da exploração deste tema (BAUER;

GASKELL, 2005). Logo, como sugestão para nova pesquisa apresenta-se a comparação entre

a ambientação de estabelecimentos de varejo de auto-serviço de tipos de propriedade

diferentes, relacionando-os à percepção do consumidor da terceira idade.

Outra sugestão estende-se à comparação de lojas de diferentes portes. Verificada a

satisfação do consumidor da terceira idade em relação ao aconchego do supermercado de

pequeno porte, diferentemente da percepção negativa de impessoalidade sentida em lojas de

grande porte, torna-se oportuna a comparação entre a ambientação das lojas de varejo de auto-

serviço alimentar de pequeno e de grande porte.

A fim de promover a continuidade do estudo que envolve a ambientação de loja,

vale sugerir a investigação da influência do ambiente da loja virtual no processo decisório do

consumidor. Por fim, este trabalho poderá servir como base para estudos com outras

estratégias metodológicas, incluindo amostras com diferentes características geográficas e

culturais do emergente segmento da terceira idade.

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