ESCOLARIZAÇÃO DA PESSOA COM SURDEZ

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UMA ABORDAGEM BILNGUE

Historicamente as concepes desenvolvidas sobre a educao de pessoas com surdez se fundamentaram em trs abordagens diferentes: a oralista; a comunicao total; e a abordagem por meio do bilinguismo

Diante dessas concepes torna-se urgente repensar a educao escolar dos alunos com surdez, tirando o foco do confronto do uso desta ou daquela lngua e buscar redimensionar a discusso acerca do fracasso escolar, situando-a no debate atual acerca da qualidade da educao escolar e das prticas pedaggicas. preciso construir um campo de comunicao e de interao amplos, possibilitando que a lngua de sinais e a lngua portuguesa, preferencialmente a escrita, tenham lugares de destaque na escolarizao dos alunos com surdez, mas que no sejam o centro de todo o processo educacional.

Prope

mudanas no ambiente escolar e nas prticas para promover a participao e

sociais/institucionais

aprendizagem dos alunos com surdez na escola comum.

As pessoas com surdez no podem ser reduzidas ao chamado mundo surdo, com uma identidade e uma cultura surda.

no descentramento identitrio que podemos conceber cada pessoa com surdez como um ser biopsicosocial, cognitivo, cultural, no somente na constituio de sua subjetividade, mas tambm na forma de aquisio e produo de conhecimentos, capazes de adquirirem e desenvolverem no somente os processos visuais-gestuais, mas tambm de leitura e escrita, e de fala se desejarem.

necessrio reinventar as formas de conceber a escola e suas prticas pedaggicas, rompendo com os modos lineares do pensar e agir no que se refere escolarizao. As pessoas com surdez no podem ser reduzidas condio sensorial, desconsiderando as potencialidades que as integram a outros processos perceptuais, enquanto seres de conscincia, pensamento e linguagem. As pessoas com surdez no podem ser reduzidas ao chamado mundo surdo, com uma identidade e uma cultura surda.

Pensar e construir uma prtica pedaggica que assuma a abordagem bilngue e se volte para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez na escola fazer com que esta instituio esteja preparada para compreender cada pessoa em suas potencialidades, singularidades e diferenas e em seus contextos de vida.

Na perspectiva inclusiva da educao de pessoas com surdez, o bilinguismo que se prope aquele que destaca a liberdade de o aluno se expressar em uma ou em outra lngua e de participar de um ambiente escolar que desafie seu pensamento e exercite sua capacidade perceptivo-cognitiva, suas habilidades para atuar e interagir em um mundo social que de todos, considerando o contraditrio, o ambguo, as diferenas entre as pessoas.

De acordo com o Decreto 5.626, de 5 de dezembro de 2005, as pessoas com surdez tm direito a uma educao que garanta a sua formao, em que a Lngua Brasileira de Sinais e a Lngua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, constituam lnguas de instruo, e que o acesso s duas lnguas ocorra de forma simultnea no ambiente escolar, colaborando para o

desenvolvimento de todo o processo educativo.

O AEE envolve trs momentos didtico-pedaggicos: Atendimento Educacional Especializado em Libras. Atendimento Educacional Especializado de Libras. Atendimento Educacional Especializado de Lngua Portuguesa.

O AEE em Libras fornece a base conceitual dos contedos curriculares desenvolvidos na sala de aula. Trata-se de um trabalho complementar ao que est sendo estudado na sala de aula, de uma explorao do contedo, em Libras Deve possibilitar a ampliao da relao dos alunos com o conhecimento, levando-os a formular suas ideias, a partir do questionamento de pontos de vista e da liberdade de expresso. As aulas devem ser planejadas pelos professores das diferentes reas.

Na organizao do AEE, o professor de Libras deve planejar o ensino dessa lngua a partir dos diversos aspectos que envolvem sua aprendizagem, como: referencias visuais, anotao em lngua portuguesa, datilologia (alfabeto manual), parmetros primrios e secundrios, classificadores e sinais. Para atuar no ensino de Libras, o professor do AEE precisa ter conhecimento estrutura e fluncia na Libras, desenvolver os conceitos em Libras de forma vivencial e elaborar recursos didticos.

O AEE deve ser planejado com base na avaliao do conhecimento que o aluno tem a respeito da Libras e realizado de acordo com o estgio de desenvolvimento da lngua em que o aluno se encontra. Aps a avaliao inicial, o professor de Libras precisa pensar na organizao didtica que implica o uso de imagens e de todo tipo de referncias. Os professores e os alunos recorrem a vrios recursos pedaggicos, tais como DVDs, livros, dicionrios, materiais concretos, dentre outros.

A apropriao da lngua portuguesa escrita demanda atividades de reflexo voltadas para a observao e a anlise de seu uso, para o conhecimento de sua estrutura e sistema lingustico, funcionamento e variaes em contextos de prtica, tanto nos processos de leitura como na produo de texto. A reflexo sobre a lngua permite ao aluno conhecer e usar a gramtica normativa, produzir os vrios gneros textuais e ampliar sua competncia e desempenho lingustico.

Ao ensinar lngua portuguesa escrita, deve-se conceber que o processo de letramento requer o desenvolvimento e aperfeioamento da lngua em vrias prticas sociais de interao verbal e discursiva, principalmente da escrita. Para Soares (2003), "o letramento, como o resultado da ao de ensinar ou de aprender a ler e escrever, configura um estado ou a condio que adquire um grupo social ou um indivduo como consequncia de ter-se apropriado da escrita. Considera que o letramento traz consequncias polticas, econmicas, culturais para os indivduos e grupos que se apropriam da escrita, fazendo com que esta se torne parte de suas vidas como meio de expresso e comunicao".

O fracasso do processo educativo das pessoas com surdez um problema resultado das concepes pedaggicas de educao escolar adotadas pelas escolas e de suas prticas. O foco do trabalho deve ser a transformao das suas prticas pedaggicas excludentes em inclusivas, pois se compreende o homem como um ser dialgico, transformacional, inconcluso, reflexivo, sntese de mltiplas determinaes num conjunto de relaes sociais, com capacidade de idealizar e de criar.