ESCOLAS RURAIS : RESGATANDO A HISTÓRIA E MEMÓRIA … · HANDEL CARRERA CHING 3...
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ESCOLAS RURAIS : RESGATANDO A HISTÓRIA E MEMÓRIA
FAZENDA SANTA TEREZA E PONTAL-1933/1945.
Tânia Cristina da Silveira1 [email protected] Cristiane Angélica Ribeiro2 [email protected] HANDEL CARRERA CHING3 [email protected] Geraldo Inácio Filho4 [email protected]
Resumo:Introdução/Objetivo: O presente artigo relata a trajetória de pesquisa inicial em busca das representações de Ensino Rural no Município de Uberlândia.Justificativa: Optamos por um trabalho investigativo sobre as escolas rurais de Uberlândia por constatarmos uma escassez de estudos dessas instituições, talvez pela dificuldade de se encontrar fontes históricas sobre o assunto no Arquivo Público Municipal e nas instituições, ou por esta ausência significar que estas escolas ainda hoje representam uma parte marginal da escola brasileira.Metodologia: Para tanto, utilizamos de fontes primárias do acervo Jerônimo Arantes localizado no Arquivo Público de Uberlândia, tais como: fotografias, Atas e os relatórios de inspeção, os diários de classe e livros de matrículas.Usamos também fontes orais como entrevistas com ex-aluno e ex-professora do ensino rural na tentativa de recuperar as histórias das escolas rurais através da memória dessas pessoas. Resultados Parciais: a pesquisa até o momento, nos permite entender o ensino rural no decorrer da década de 1930, através principalmente das escolas das fazendas Santa Tereza e Pontal. Estas instituições como a maioria das outras instituições retratadas nas fotografias do acervo ora pesquisado, passam uma idéia de organização e satisfação(o que era de interesse do inspetor). Contudo, de acordo com as fontes escritas havia naquelas muitas dificuldades materiais e humanas. Sendo que tais problemas até a atual fase da pesquisa não se encontram presentes no cotidiano das escolas das fazendas ora estudadas. Palavras- chave: Educação; ensino rural; memória; história
1 Acadêmica do curso de Pedagogia.
2 Acadêmica do curso de Pedagogia.
3 Acadêmico do curso de história.
4 Orientador Professor Pesquisador do CNPq.
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1. INTRODUÇÃO
Este artigo visa através de fontes escritas, orais e fotográfica contribuir
para a (re) construção da história da educação em Uberlândia. A partir da
pesquisa que desenvolvemos de análise documental do acervo pessoal
“Jerônimo Arantes”, sendo esta pesquisa integrada ao projeto denominado
“Organização do ensino público e representações de educação em Minas
Gerais: Uberabinha, 1888-1930-Análise documental e interpretação” vinculada
ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em História da Educação, do programa de
Pós-Graduação da Universidade Federal de Uberlândia.
Ao iniciarmos tal pesquisa e ter contato com o acervo “Jerônimo
Arantes”, localizado no Arquivo Público Municipal(APU), o que nos chamou a
atenção foi a quantidade significativa de fotografias das escolas rurais do
município de Uberlândia presente no mesmo. Apesar disso, verificamos uma
escassez de trabalhos que explorem o ensino rural e as fotografias dessas
instituições. Desse modo, muito nos inquietou a possibilidade do desafio de
podermos desvendar o cotidiano dessas escolas e as concepções circunscritas
ao ensino rural.
Na análise das fotografias, percebemos que o cenário era rural, contudo
a maioria dessas fotos não eram datadas, sendo o primeiro obstáculo a
contextualização aproximada das mesmas. Fez-se então necessário um estudo
específico sobre a utilização da iconografia fotográfica como fonte histórica.
Assim percebemos que essa fonte pode ser uma aliada da pesquisa, se o
pesquisador não usá-la de forma isolada.
Continuamos nossa pesquisa no Arquivo Público Municipal, em busca
das fontes escritas, tais como: Atas e relatórios de inspeção do ensino rural,
livros de matrículas, diários de classe. Diferente das fotografias, encontramos
poucos registros escritos da educação rural do município bem como uma
lacuna de datas nos documentos. Estes foram outros desafios que
encontramos no desenvolvimento da pesquisa. Os documentos , nos
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possibilitaram fazer um mapeamento de ex-professores e ex-alunos presentes
no ensino rural do município.
Fizemos contato com essas pessoas, as quais nos concederam algumas
entrevistas, buscando na memória suas vivências nas escolas rurais. Tais
entrevistas foram fundamentais para articularmos nossas fontes de pesquisa. A
próxima etapa do estudo, está em andamento e refere-se a visitas as escolas
rurais atuais no município, em busca de documentação que porventura possam
estar arquivados nessas instituições.
Após percorrermos este caminho, pretendemos apresentar os resultados
parciais do estudo acerca do ensino rural do município, através de duas
instituições rurais.
Compreender e explicar a existência histórica de uma instituição educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema educativo, contextualizá-la, implicando-a no quadro de evolução de uma comunidade e de uma região, é por fim sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua multidimensionalidade, conferindo um sentido histórico (MAGALHÃES, s.d. p.02)
2. A FOTOGRAFIA COMO FONTE NA (RE)CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO RURAL
A fotografia é um instrumento da modernidade que surgiu durante a
Revolução Industrial. Essa invenção possibilitou a multiplicação das imagens e
assim trouxe ao homem uma nova forma de conhecer o mundo, um
conhecimento fragmentado, haja vista que a fotografia carrega uma parte da
realidade de determinada época. Assim o mundo transformou-se em algo
portátil e ilustrado, pequenos detalhes dele passou a ser divulgados através de
cópias ou representações (KOSSOY,1989).
As imagens relatam fatos de diversos contextos sócio-geográficos e
ainda preservam a memória visual de vários fragmentos do mundo, tais como:
cenários, personagens e as transformações constantes. Além disso, a
fotografia é um documento visual e seu conteúdo conserva fragmentos
congelados do tempo e do espaço, que revelam informações capazes de
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despertar grandes emoções. Não podemos esquecer que ao desaparecer os
personagens e os cenários, os documentos escritos e os fotográficos
permanecem (KOSSOY, 1989).
Nesse sentido, a fotografia é considerada um resíduo do passado, além
de ser vista como artefato composto de determinada realidade que de um lado
oferece pistas dos elementos constitutivos(fotógrafo/autor, assunto/fragmento
da realidade) e do outro apresenta o registro visual. A fotografia possui duas
faces, a de fonte histórica e a de artefato (objeto-imagem), porque documenta a
visão de mundo do fotógrafo (o autor) e também mostra um fragmento da cena
passada. É importante saber que:
Toda fotografia foi produzida com uma certa finalidade. Se um fotógrafo desejou ou foi incumbido de retratar determinado personagem, a construção das estradas de ferro, ou de diferentes aspectos de uma cidade ou qualquer outro assunto que demande sua atuação foram produzidas com uma finalidade documental representarão sempre um meio de informação, um meio de conhecimento, e conterão sempre seu valor documental, iconográfico (KOSSOY, 1989, p. 31)
Para percorrer a história da fotografia, a tarefa primordial é o
mapeamento dos fotógrafos que atuaram na época que o historiador deseja
fazer a pesquisa. Por meio do mapeamento podemos obter o espaço e o
tempo, as tecnologias usadas e os assuntos registrados pelo fotógrafo. Esse
levantamento pode ajudar a determinar as datas aproximadas, o local de
origem, a autoria e ainda fornecer dados para identificar os temas registrados
nas fotografias do passado que possam justificar o uso da iconografia como
fonte histórica.
Após catalogar a bibliografia destinada ao objetivo da pesquisa, o
pesquisador deve localizar e selecionar as fontes, sendo fundamental saber
quais documentos procurar. Nessa perspectiva deve-se valorizar as pistas
encontradas, pois:
A descoberta de documentos escritos (de ordem bibliográfica, técnica, etc), de objetos em estudo, os
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testemunhos orais de descendentes dos fotógrafos e eventuais contemporâneos, além de registros comerciais, recibos de pagamentos de impostos, anúncios dos estabelecimentos e da bibliografia histórica no seu contexto mais amplo, tudo isso é imprescindível para reconstituição de um período determinado da atividade fotográfica ou para os trabalhos centrados na vida e obra de um fotógrafo, assim como para a investigação das circunstâncias que envolveram a produção de uma fotografia no passado(KOSSOY, 1989, p .41)
Nesse sentido, PAIVA (2002, p.19) alerta que a iconografia fotográfica
pode ser uma rica fonte de conhecimento da história se o pesquisador
aprender a dialogar com a mesma. Ir além do fragmento exposto pela imagem
e considerar que a mesma precisa de uma investigação, pois nessa fonte há
lacunas, silêncios e signos que necessitam ser descobertos e interpretados.
Na investigação das fotos, por via das entrevistas orais é fundamental
haver contado com a sociedade, KOSSOY (1989, p.58) alerta que o trabalho
de levantamento do artefato fotográfico dos Museus, Universidades e Arquivos
devem ser interligados, bem como a ajuda da comunidade é essencial para a
identificação do material, pois as pessoas mais idosas, os cronistas, enfim os
menos afastados no tempo da época em foram tomadas as fotos tem
condições de auxiliar no processo. Os depoimentos precisam ser coletados
com urgência, se não, fica quase impossível reconstruir os cenários e
personagens tornando-os assim fotos desconhecidas do passado.
Ainda sobre a relação de interdependência da iconografia fotográfica
KOSSOY (1989, p. 51) é um engano pensarmos que o estudo da imagem
enquanto processo de conhecimento pode abdicar do signo escrito. O mesmo
autor explica que a fotografia não é uma ciência isolada porque cada imagem é
um documento único, e o registro atende ao pedido/desejo de alguém (do
fotógrafo, do cliente). O pesquisador deve conscientizar-se que a fotografia
isolada não consegue revelar todos os detalhes do passado, mas que, aliada
ao signo escrito, pode dar bons resultados.
Porém no decorrer da pesquisa percebe-se que nem sempre é possível
desvendar a origem do documento, os dados disponíveis nos arquivos
apresentam erros ou pouca precisão, ou não existem. KOSSOY (1989) explica
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que tais obstáculos não impedem o desenvolvimento da pesquisa, uma vez
que as informações podem ser obtidas de outras formas já propostas
anteriormente, como por exemplo, por meio do exame técnico-iconográfico
(elementos constitutivos e coordenadas de situação).
O pesquisador deve saber ainda que a fotografia reúne várias
informações que estão interligadas com a matéria e expressão. Também é
interessante destacar que a fotografia pode ser vista como documento sim,
porém para atender a esse objetivo a análise da mesma não pode ficar restrita
a uma simples imagem congelada no espaço e no tempo, sendo fonte histórica
em decorrência do assunto registrado, do autor e da tecnologia que reflete.
É inegável que a fotografia é uma fonte de conhecimento do passado,
porém não acumula informações definitivas. Com isso ao usar a fotografia
como fonte histórica, devemos entender que esta traz um fragmento da
realidade passada, uma possibilidade escolhida por alguém. O fotógrafo,
segundo KOSSOY (1989, p.77) possui relação de cumplicidade com o cliente,
pois o profissional está a serviço do contratante e depende disso para
sobreviver, por isso faz as vontades dele para satisfazê-lo. O pesquisador
precisa ficar atento com a omissão, a auto censura, a censura política e todas
as demais formas de censura às imagens, porque essas podem ser uma
prática corrente de manipulação da informação.
Para KOSSOY (1989) a neutralidade da câmara é apenas aparente e a
fotografia tem sempre uma interpretação individual, porque abarca imagens
que não podem ser trocadas na integra pela realidade, posto que não mostre
tudo que ocorreu no passado, reflete apenas fragmentos de seleção estética e
ideológica. Assim a fotografia pode ser vista pelo intérprete-investigador como
fatos não contínuos de fragmentos passados. A interpretação de fotografias
permite vários focos de análise, sendo esta uma leitura que junto ou separado
do signo escrito proporcionam múltiplas interpretações de acordo com a
influência cultural, política, econômica e ideológica que o pesquisador sofre do
meio que está inserido.
Podemos então concluir que a fotografia e sua multiplicidade de
informações da realidade estão cada vez mais presentes no cotidiano do
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homem. Além de a foto ser um resto do passado, ela é também testemunho
visual de determinado fragmento congelado. A vida continua dinâmica e
descontínua, os personagens envelhecem, os cenários modificam e até
desaparecem, mas os fragmentos congelados em singular espaço e tempo
permanecem registrados na fotografia.
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Alunos e professores da Escola
Pública Municipal Santa Tereza (n°1)
Alunos e professora Emiliana da Pádua da
Escola Pública Municipal do Bairro
Palmitos (Fazenda Pontal) (n°2)
As fotos nºs 01 e 02, nos remetem ao espaço da escola rural quanto ao
tempo. Alguns fatores são essencias na investigação cronológica, uma vez que
ambas não estão datadas. Mas como essas fotos fazem parte do acervo
“Jerônimo Arantes”, e o mesmo foi inspetor na década de 1930 conforme
registro documentais, deduzimos então que essas fotos poderiam pertencer ao
referido período. Além disso, as vestimentas dos personagens bem como suas
posturas (foto nº 02) nos auxiliam nessa análise.
[...] nossas imagens de honestidade, de patriotismo, de dor, de fé, de sofrimento, de felicidade, entre tantas outras, estão associadas, quase sempre, a idéia e a representação que varia entre pessoas e grupos assim como no tempo e no espaço (PAIVA, 2002, p.14)
Na imagem da Escola Pública Municipal Santa Tereza (nº01),
percebemos que esta atende uma quantidade significativa de alunos, esse fato
nos instigou a perguntar: quando foi instalada e em que período funcionou? Em
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qual fazenda tinha sua sede e quais regiões atendia? Que atividade econômica
prevalecia nessas fazendas a fim de sustentar as famílias? E como era o
cotidiano dessas escolas?
[...] os praticantes da cultura escolar desenvolvem suas práticas a partir de seus lugares, de suas posições no interior de um sistema de forças assimétricas. Tais práticas, no entanto, não visam apenas a operacionalização destas ou daquelas prescrições, mas objetivam produzir lugares de poder/ saber, inteligibilidades e sentidos para a ação pedagógica escolar junto às novas gerações.[...] tais práticas produzidas pelos sujeitos no seu dia- a- dia escolar, também os produzem. [...] como maneiras de fazer peculiar dos sujeitos da escola e que ocorrem no interior do cotidiano escolar (FARIA FILHO, 2004, p. 151)
Para tentarmos responder as indagações acima citadas, fez-se
necessário análise e interpretações de documentos escritos, também
localizadas no Arquivo Público Municipal. Assim as investigações tiveram que
ultrapassar os limites do acervo ora pesquisado. Então tivemos acesso a
algumas Atas e relatórios de inspeção, diários de classe, livros de matrículas,
todos do ensino rural. Esses documentos nos auxiliaram:
• No mapeamento de alguns ex-professores e ex-alunos que
participaram das escolas rurais do município;
• Na identificação da data de instalação das referidas instituições;
• Na obtenção de informações do educando: lugar de moradia,
nacionalidade de sua família, profissão dos pais, questões
relativas a saúde; frequência;
• A obter algumas informações sobre os docentes: abandono de
cadeiras, troca e posse de professores;
• Quanto a preocupação do inspetor em mostrar a organização e
a boa qualidade do ensino rural.
Contudo, devido a lacuna desses documentos , o nosso propósito de
tentar (re) construir a história das instituições, se conduziu para a memória dos
personagens desse cenário rural, através da entrevista oral.
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3. ESCOLAS: SANTA TEREZA E PONTAL
Após mapeamento dessas pessoas localizamos e entrevistamos uma
ex-professora que atuou na Escola Santa Tereza e também na Escola Pontal.
A escola Santa Tereza foi instalada em 1936 e a Escola Pontal em 1933 (conf.
ARANTES, 1941).
Segundo a entrevistada, que atuou na escola Santa Tereza no ano de
1936 e 1937, a escola inicialmente possuia o mesmo nome da fazenda, mas
como isso dava muita confusão ela passou a se chamar: Escola Usina Ribeiro
e se localizava no distrito da cidade(nessa época o município de Uberlândia
estava dividido em três distritos: da cidade, Martinópolis e Santa Maria). Isto
porque nesta fazenda funcionava uma usina de açúcar. Na época, nesta
escola, de acordo com a entrevistada havia quase 120 (cento e vinte alunos).
Na fazenda Pontal, foi a própria entrevistada que solicitou a abertura de
escola no lugar, que depois de instalada funcionava em 3 (três) turnos, sendo
que a noite desenvolvia a alfabetização de adultos, que foi criação também da
nossa entrevistada. Era uma fazenda industrial de produção de cereais: arroz
e grãos: café. Na fazenda havia 120 (cento e vinte) famílias além das crianças
das fazendas circunvizinhas. Essa fazenda localizava-se nas zonas da bacia
do rio das Velhas. De leste para oeste no Distrito de Martinópolis.
Figura 1: Mapa da Divisão Distrital do Município de Uberabinha-MG - 1860-
1938: Distrito da Cidade; Distrito de Santa Maria e Distrito de Martinópolis
(Arantes, 1938, p.38).
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O relato da ex-professora sobre o cotidiano da escola, descreve as boas
condições de ensino. A esse respeito, a freqüência dos alunos era boa, os pais
eram compreensivos e sempre mandavam os filhos para a escola. Segundo a
mesma no caso da fazenda de produção agrícola, o período de colheita não
era obstáculo para os alunos freqüentarem. Além disso, essas duas fazendas
nas quais ela lecionou os problemas de saúde, higiene e dificuldades de
aprendizagem pareciam inexistentes ao seu olhar. É importante dizer que
nossa ex-professora rural era proprietária das fazendas nas quais lecionou,
fazendo parte da elite local.
E isso se confirmou em parte numa outra entrevista que fizemos, agora
com um ex-aluno. Ele estudou na Escola de Pontal do bairro de Palmitos. O
referido aluno fala sobre sua experiência escolar em tal escola, que funcionava
concordando com as boas condições da escola expostas pela professora.
Segundo ele, até as próprias carteiras eram bem cuidadas, pintadas. E a
escola funcionava na garagem da casa da proprietária.
De acordo com o entrevistado, ele aprendeu nesta escola as primeiras
letras, o estudo era bem inicial para crianças, ele tinha de 5 a 7 anos , não se
lembra muito bem. Mas lembra de cópias da cartilha, a “Cartilha do povo”.
Também lembra do método de soletração no qual se baseava o ensino da
escola. Um fato interessante, e que ficou marcado para o nosso entrevistado foi
que como ele tinha dificuldades de identificar e diferenciar a letra d / b , e
também o g / k, por causa disso a professora (que não era nossa entrevistada
mas outra) colocou- o de castigo num quarto fechado, e isso foi muito frustrante
para ele, sendo que nunca conseguiu esquecer.
Essas entrevistas foram muito importantes na pesquisa, elas nos
proporcionaram um cruzamento de fontes, que puderam ampliar nossas
informações. Os poucos documentos escritos que tivemos acesso, nos
mostram na maioria escolas rurais que perpassam por uma precariedade de
recursos materiais, e com um inchaço de pessoas que necessitam de
escolarização, mas que muitos problemas: tais como doenças, pouca
conscientização dos pais na importância da escola para seus filhos ou outros
problemas de ordem econômica (conforme Atas e relatórios de inspeção,
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diários de classe, livros de matrícula), acabam por dificultar o ensino rural na
década de l930. Contudo, pelo depoimento dos entrevistados, as Escolas das
fazendas Santa Tereza e Pontal possuíam uma realidade diferenciada, que
talvez possa ser explicada pelo esforço de uma professora em escolarizar seus
trabalhadores como forma de fixá-los na zona rural.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARANTES, Jerônimo. Corografia do Município de Uberlândia, 1ª edição,
Pavan, 1938.
__________________.Revista Uberlândia Ilustrada. nº 10, p.71, 31/07/41.
APU. CPJA.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de.(2004) A Cultura escolar como categoria de
análise e como campo de investigação na história da educação
brasileira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n. l, p. 139-159,
jan./abr.2004
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Editora Ática, 1989.
MAGALHÃES, Justino. Contributo para a história das instituições educativas –
entre a memória e o arquivo. Instituto de Educação e Psicologia,
Universidade do Minho, Portugal, s.d. l8 p. (Mimeografado).
PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.