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1858 ESCULTURAS DE BRONZE DA PRAÇA CORONEL PEDRO OSORIO, PELOTAS, RS, NO PATRIMÔNIO DA CIDADE Flávia Silva Faro / Universidade Federal de Pelotas Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro ESCULTURAS DE BRONZE DA PRAÇA CORONEL PEDRO OSORIO, PELOTAS, RS, NO PATRIMÔNIO DA CIDADE Flávia Silva Faro / Universidade Federal de Pelotas Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas RESUMO O presente artigo aborda questões diretamente ligadas ao estado de conservação do patrimônio artístico que envolve a cultura da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma parte de um projeto de dissertação que estuda uma proposta de conservação e restauração para esculturas de bronze com pedestais em pedra existentes na Praça Coronel Pedro Osório, um dos locais mais relevantes do Centro Histórico da cidade. Neste contexto, nesta publicação apresenta-se a importância patrimonial, histórica e cultural das esculturas para a cidade, a localização e identificação fotográfica destas obras existentes na Praça e o levantamento das atuais condições com exemplificação de duas das obras identificadas com a maior incidência das patologias decorrentes de fatores externos e da ação humana. PALAVRAS-CHAVE esculturas; patrimônio; conservação; restauração. ABSTRACT The present paper addresses matters directly linked to the conservational status of the artistic heritage encompassed by the culture of the city of Pelotas, Rio Grande do Sul. It is part of a dissertation project that examines a conservation and restoration proposal towards bronze sculptures adorned with stone pedestals located in Coronel Pedro osório Square, one of the most significant sites in the town's Historic Center. In such context, this publication presents the patrimonial, historic and cultural importance of the sculptures to the city, as well as their location in the square with corresponding photographic identification and the assessment of their current conditions, exemplified by two works of art on which pathologies due to human action and external factors are more incident. KEYWORDS sculptures; heritage; conservation; restoration.

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1858 ESCULTURAS DE BRONZE DA PRAÇA CORONEL PEDRO OSORIO, PELOTAS, RS, NO PATRIMÔNIO DA CIDADE Flávia Silva Faro / Universidade Federal de Pelotas

Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro

ESCULTURAS DE BRONZE DA PRAÇA CORONEL PEDRO OSORIO, PELOTAS, RS, NO PATRIMÔNIO DA CIDADE Flávia Silva Faro / Universidade Federal de Pelotas Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas RESUMO O presente artigo aborda questões diretamente ligadas ao estado de conservação do patrimônio artístico que envolve a cultura da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma parte de um projeto de dissertação que estuda uma proposta de conservação e restauração para esculturas de bronze com pedestais em pedra existentes na Praça Coronel Pedro Osório, um dos locais mais relevantes do Centro Histórico da cidade. Neste contexto, nesta publicação apresenta-se a importância patrimonial, histórica e cultural das esculturas para a cidade, a localização e identificação fotográfica destas obras existentes na Praça e o levantamento das atuais condições com exemplificação de duas das obras identificadas com a maior incidência das patologias decorrentes de fatores externos e da ação humana. PALAVRAS-CHAVE

esculturas; patrimônio; conservação; restauração. ABSTRACT

The present paper addresses matters directly linked to the conservational status of the artistic heritage encompassed by the culture of the city of Pelotas, Rio Grande do Sul. It is part of a dissertation project that examines a conservation and restoration proposal towards bronze sculptures adorned with stone pedestals located in Coronel Pedro osório Square, one of the most significant sites in the town's Historic Center. In such context, this publication presents the patrimonial, historic and cultural importance of the sculptures to the city, as well as their location in the square with corresponding photographic identification and the assessment of their current conditions, exemplified by two works of art on which pathologies due to human action and external factors are more incident. KEYWORDS

sculptures; heritage; conservation; restoration.

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1859 ESCULTURAS DE BRONZE DA PRAÇA CORONEL PEDRO OSORIO, PELOTAS, RS, NO PATRIMÔNIO DA CIDADE

Flávia Silva Faro, Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro

Introdução

A história oficial da cidade de Pelotas se inicia em 1812, quando foi elevada a

condição de Freguesia com a denominação de São Francisco de Paula. Em 1830,

sob o mesmo título atingiu o status de Vila e, em 1835, passou a se chamar Pelotas

(MAGALHÃES, 2011). Sua importância patrimonial e cultural, está atrelada à

existência de casarões e seus elementos decorativos neoclássicos misturados ao

gótico, remetendo a um ecletismo que embeleza a cidade. Além disso as

charqueadas, os monumentos, os tesouros arqueológicos, e as suas tradições,

elencam um conjunto de elementos evidenciados por um anexo de riquezas e

grande valor patrimonial. Alguns elementos decorativos representam verdadeiras

obras de arte associadas às edificações, como pinturas murais, mosaicos, escaiolas,

elementos de marcenaria, forros decorados, vitrais, esculturas, lustres, ou seja, bens

culturais integrados que representam ressonância e significância social.

Torna-se claro e notório que hoje a cidade não é a mesma, as características se

transformaram, por diversas razões locais como os que defendiam o antigo com os

que pregavam a modernização da cidade e razões universais. Mas, o que ainda

resta da cidade hoje é uma herança da cidade de ontem.

Faz-se necessário que os bens patrimoniais sejam identificados através das coisas que falem das memórias do seu povo, do seu viver. Nessa perspectiva, temos que pensar num patrimônio que se faz na memória – individual e coletiva, que possa representar o passado, a tradição, e as histórias de um país, estado, cidade ou comunidade. É na memória acumulada que os indivíduos se reconhecem enquanto ser social e sujeitos partícipes na construção de uma identidade local, que apresente passado e presente numa sucessão de interligações. Sem memória é impossível ao homem situar-se no tempo da história e, portanto, sentir-se sujeito dessa história. (ARARIPE, 2004)

A Praça Coronel Pedro Osório é assim chamada deste 19311, em homenagem

póstuma ao Coronel Pedro Luís da Rocha Osório, falecido em 28 de fevereiro do

mesmo ano. Em 1832, seu nome mudou para Praça da Regeneração, e em 1865,

passou a ser chamada de Praça Dom Pedro II (nome não muito aceito pela

população, que manteve cotidianamente o nome Praça da Regeneração), e em 1895,

chamou-se Praça da República. É o mais relevante lugar do Centro Histórico da

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cidade de Pelotas devido a grande concentração de casarões em seu entorno, e de

monumentos que homenageiam ilustres pelotenses e beneméritos nacionais e,

também, devido a uma arborização privilegiada. Elencam este conjunto, as esculturas

que estão localizadas em planta esquemática (Fig.1) Monumento às Mães (Fig.2a);

homenagem ao Dr. José Brusque Filho (Fig.2b); Urbano Garcia (Fig.2c); homenagem

a Domingos José de Almeida (Fig.2d); Dr. Francisco de Paula Amarante (Fig.3a);

Coronel Pedro Osório (Fig.3b) e Dr. Miguel Rodrigues Barcellos (Fig.3c). Cabe

salientar que as referidas obras são de autoria de renomados artistas, como: o

escultor gaúcho Antônio Caringi, e os artistas Antônio Campins e Leão Veloso.2

Em meados de 1893, a pedido da sociedade pelotense, a Praça foi cercada com o

objetivo de ficar protegida da ação de vândalos que costumavam agir no período da

noite. Na ocasião, em seu entorno foi feito um gradeamento com pilastras de

alvenaria e portões de ferro, o qual foi retirado por volta de 1917 (LOPES, 2005).

Como se pode constatar, a depredação desse patrimônio já fazia parte do contexto

da cidade desde o século XIX. No século XX, mais precisamente no ano de 2004,

algumas ações de depredações foram registradas em fichas cadastrais sob

cuidados da Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas, nas quais constam

informações de roubo de ornamentos e vandalismo nos monumentos já

patrimonializados da Praça.

A Praça Coronel Pedro Osório foi e ainda é cenário de encontros musicais,

movimentações artísticas, feira do livro e diversas atividades onde o publico interage

e aprecia não só ações culturais, mas também a natureza que a compõe. Por isso, a

preocupação na conservação e restauração de seus monumentos que hoje

encontram-se em processo de constante degradação.

A proposta de conservação e restauração

Elementos que contam a história de uma cidade, assim como todo e qualquer

exemplo patrimonial, seja ele material ou imaterial, são considerados por muitos, o

suporte de evocação da memória, o antropólogo Joel Candau diz que memória e

patrimônio se articulam. Segundo Araripe, quando falamos em patrimônio cultural,

estamos nos referindo a tudo que tem significação, aquilo que tem sentido social,

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não importando se este patrimônio é materializado ou representado por

manifestações culturais através de um cidadão comum (ARARIPE, 2004). Desta

forma requerem cuidados que devem estar sincronizados em sua conservação e

preservação. Hoje, o patrimônio tem ligação direta com a cultura de um determinado

lugar, e a cultura inclui todos aqueles produtos criados pelo homem ao longo da

história relacionados com a vida, a criatividade e a sobrevivência humana. De

acordo com Londres (1997), os patrimônios históricos e artísticos nacionais são

caracterizados pela heterogeneidade dos bens que os integram, conforme a

concepção de patrimônio e de cultura que forem adotados. A proteção dos bens

culturais gera um processo de identificação entre a cidade e a sua população, bem

como a responsabilidade coletiva em protegê-lo e conservá-lo, o que torna viável

que gerações futuras tenham acesso à memória de sua comunidade. Segundo

Dvorák (2008),

Em primeiro lugar são as obras de arte e sua expressão visual que unem presente e passado no plano do sentimento e na fantasia. [...] quem destrói tais monumentos é um inimigo de sua cidade e de seu país e prejudica a comunidade, pois as obras de arte públicas não foram criadas para esse ou aquele indivíduo, e aquilo que elas encarnam enquanto obras de arte, fascínio pictórico, recordações ou qualquer outro sentimento, é um patrimônio comparável às criações dos grandes poetas ou às realizações da ciência. (p.70-71)

Segundo as normas convencionadas pelos membros do Conselho Internacional de

Museus e Comitê de Conservação, ICOM-CC, por ocasião da 15ª Conferência

Trienal em Nova Delhi, em setembro de 2008, na qual se define: conservação, todas

aquelas medidas e ações que tenham como objetivo a salvaguarda do patrimônio

cultural tangível, assegurando sua acessibilidade a gerações presentes e futuras.

Dentro das mesmas convenções, conservação compreende a conservação

preventiva, a conservação curativa e a restauração. Conservação preventiva são

todas as medidas e ações que tenham como objetivo evitar ou minimizar futuras

deteriorações ou perdas. Ocorrem sobre o contexto ou a área circundante ao bem

ou conjunto de bens, são medidas e ações indiretas, não interferem com os

materiais ou estrutura do bem, e não modificam sua aparência. Conservação

curativa são todas as ações aplicadas de maneira direta sobre um bem ou um grupo

de bens culturais que tenham como objetivo deter os processos danosos presentes

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ou reforçar sua estrutura, são ações que só se realizam quando o bem se encontra

em estado de fragilidade notável e se deteriorando em ritmo acelerado, muitas vezes

modificam o aspecto dos bens. Quanto à restauração, é o conjunto de ações

aplicadas de maneira direta sobre um bem individual estável, que tenham como

objetivo facilitar sua apreciação, compreensão e uso, só se realizam quando um

bem perdeu uma parte do seu significado ou função através de uma alteração ou

deterioração passadas. Baseia-se pelo respeito ao material original, e na maioria

dos casos estas ações modificam o aspecto do bem (ABRACOR, 2010).

Considerando a representatividade patrimonial das esculturas em bronze com

pedestal em pedra existentes na Praça Coronel Pedro Osório, definiu-se pelo

desenvolvimento de um trabalho que resultasse na elaboração de uma proposta de

conservação e restauração.

Para tanto, foram definidas como metas a serem atingidas: levantamento cadastral

das esculturas existentes a partir da identificação de sua autoria, registros

fotográficos, observações In loco através de exames organolépticos,

representatividade, materiais constituintes, estado de conservação, possíveis

intervenções anteriores. Além de documentação pertinente disponível, revisão

literária sobre ligas de bronze utilizadas em esculturas, sobre tratamentos inibidores

de corrosão em metais e sobre agentes de deterioração externos relacionados às

ações de vandalismo comumente presentes nos suportes; testes laboratoriais para

análise de métodos de limpeza, de reconstituição de partes faltantes e de correção

de partes corroídas.

Como já ressaltado no resumo, neste trabalho apresenta-se parte da proposta de

restauro e conservação elaborada, sendo esta representada pelo levantamento

cadastral das esculturas existentes a partir da identificação de sua autoria, registros

fotográficos e observações In loco do estado de conservação.

Esculturas em bronze e pedestais em pedra.

As esculturas, objeto de estudo desse trabalho, estão localizadas em planta

esquemática na Figura 1 e nas Figuras 2 e 3 estas apresentam-se ilustradas

fotograficamente.

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Localização das esculturas na praça em planta esquemática. A letra “M” representa monumento, e a seta indica a posição frontal de cada obra.

Fonte: Jeferson Sallaberry, Pelotas, 2015

Identificação das esculturas

(a) Monumento em homenagem às Mães (GOMO 01, M7); (b) Dr. José Brusque Filho (GOMO O3, M1);

(c) Dr. Urbano Garcia (GOMO 08, M6);

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(d) Domingos José de Almeida (GOMO 06,M4). Fonte: Flávia Silva Faro, 2015

Montagem: Jeferson Sallaberry

(a) Dr. Francisco de Paula Amarante (GOMO 07, M5); (b) Coronel Pedro Osório (GOMOS 5 e 6, M3);

(c) Dr. Miguel Rodrigues Barcellos (GOMO 05, M2). Fonte: Flávia Silva Faro, 2015

Montagem: Jeferson Sallaberry

A escultura em homenagem às Mães (GOMO 01, M7, Fig. 2a), é uma obra do

escultor Antônio Caringi, contém os seguintes dizeres em placa frontal: “Este

monumento às mães teve como modelo a poeta Noemi de Assupção Osório Caringi,

esposa do escultuor Antônio Caringi”. Observou-se que abaixo da atual placa, há

vestígios de uma possível paca origina, que hoje restam apenas os furos indicando o

local da dissociação, causando uma perda de informação.

A escultura do Dr. José Brusque Filho (GOMO 03, M1, Fig. 2b) médico pelotense

que se dedicou em sua existência à profissão, é uma obra do escultor Antônio

Caringi, contém os seguintes dizeres entalhados no granito: “Exerceu a medicina,

praticou a caridade e mereceu a gratidão dos pósteros. 1962”. Atualmente encontra-

se sem a placa frontal que posteriormente esteve presa ao granito, restando

somente as marcas dos furos na pedra. A escultura encontra-se com quatro dedos

na mão esquerda depredados, provavelmente por ação criminosa de vândalos.

A escultura em homenagem ao Dr. Urbano Garcia, (GOMO 08, M6, Fig.2c), trata-se

de uma obra do artista paulista Leão Veloso e contém os seguintes dizeres quase

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apagados ainda entalhados no granito: “ Dr. Urbano Garcia. Foi inexcedível em

caracter, em civismo, em bondade. Ninguém o excederá na saudade e na gratidão

de seus conterrâneos.”

A escultura de Domingos José de Almeida (GOMO 06, M4, Fig.2d) ) é uma obra de

escultor não identificado que contém os seguintes dizeres em uma placa de bronze

frontal: “Domingos José de Almeida. Delineador desta cidade a que deu o nome.

Benemérito obreiro do progresso local. Homenagem do Município de Pelotas”.

A escultura Dr. Francisco de Paula Amarante (Gomo 07, M5, Fig. 3a) é uma obra do

escultor Antônio Caringi, na qual consta em um placa de bronze frontal os seguintes

dizeres: “Preito de gratidão ao Dr. Francisco de Paula Amarante “Há um único meio

de vencer a morte: é a consciência de ter feito o bem. 1950”.

A escultura Coronel Pedro Osório (Gomos 5 e 6, M3, Fig. 3b) é uma obra do escultor

Antônio Caringi, feita para homenagear seu centenário. Contém os seguintes

dizeres: “Ao Cel. Pedro Osório 1854 – 1954”. O pedestal desta escultura é alvo

frequente de pichações, atualmente sua parte posterior encontra-se pichada com

assinaturas, símbolos e letras.

A escultura Dr. Miguel Rodrigues Barcellos (Gomo 05, M2, Fig. 3c) é uma obra do

artista Antonio Campins3, a qual contém os seguintes dizeres em um placa de

bronze frontal: “Dr. Miguel Rodrigues Barcellos, Barão de Itapitocay, gratidão do

povo de Pelotas “ o pae dos pobres” 1913”.

A partir de observações in loco e através de fotografias, identificou-se nas

esculturas a presença de patologias (danos)4 dentro de fenômenos que podem

ocorrer mediante às intempéries climáticas, variações de temperatura, luz,

contaminantes como pó, líquidos, gases, forças físicas, deformação, rompimentos,

quebra, chuva ácida, ação de insetos, pássaros, mas também a degradação

proposital ocasionada pelo homem. Degradação traduzida por pichações,

desaparecimento de ornatos e placas que integram o conjunto, muitas vezes

causando dissociação das partes, destruindo, desfigurando as obras além da perda

de informação. Observou-se que as obras que continham ornatos em seus pedestais

em pedra foram as mais atingidas, como mostram os registros fotográfico das

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esculturas que homenageiam os beneméritos Dr. Miguel Rodrigues Barcellos

(GOMO 05, M2, Fig.3c ) registrados em (Figs 4, 5, 6, 7) e Domingos José de

Almeida (GOMO 06, M4,Fig.2d) referente aos registros em (Figs. 8, 9 e10).

.

Ornato localizado na parte posterior e dissociação causada pelo vandalismo, pedestal em pedra com partes faltantes, referente à (GOMO 05, M2 Fig.3c).

Fonte: Flávia Silva Faro, 2014

Pichação na parte posterior do pedestal, junto à informação em baixo relevo e patologia ainda não identificada na base do pedestal, referente à (GOMO 05, M2 Fig.3c).

Fonte: Flávia Silva Faro, 2014

Manchas observadas na escultura em bronze e constatação de uma intervenção anterior realizada com cimento referente à (GOMO 06, M4 Fig.2d).

Fonte: Flávia Silva Faro, 2014

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Partes faltantes da pedra (GOMO 06, M4 Fig.2d) causando a perda da informação e (ornatos furtados) na base do pedestal, ainda arranhões feitos com objeto pontiagudo

na lateral superior esquerda. Fonte: Flávia Silva Faro, 2014

Conclusão

O presente artigo descreveu de forma sucinta as condições em que se encontram

atualmente o conjunto de esculturas em bronze e seus pedestais em pedra que

elencam parte das obras da Praça Coronel Pedro Osório, localizada no Centro

Histórico da cidade de Pelotas, RS. Faz parte do projeto de dissertação onde se

enquadram questões diretamente ligadas à conservação, restauração e preservação

do patrimônio cultural.

Observou-se o estado de conservação de duas das sete esculturas a serem

analisadas, e pode-se notar através de visualizações in loco e registros fotográficos,

patologias nas pedras, manchas e alteração de cor no bronze, mas o maior dano

causador de deterioração como pichações, arranhões e dissociação de partes, é

advindo da ação humana.

Para elaboração desta proposta, foram utilizadas terminologias que facilitam a

interpretação e entendimento no campo da conservação e restauração, primando

pelo conceito de mínima intervenção. É uma proposta feita a partir de ideias

contemporâneas de restauro, as quais foram geradas por uma série de

transformações relacionadas com a cultura, o indivíduo e o objeto, fazendo com que

o conservador-restaurador esteja sempre atento às condições mutáveis da

sociedade, e visando desta forma contribuir com o todo e com todos os que

contemplam o patrimônio público desta cidade.

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Notas

1LOPES, D. Simões. Reestruturação da Praça Cel. Pedro Osório como um conjunto urbano. Monografia

apresentada no programa de Pós- graduação em Artes, como requisito parcial para obtenção do título em Especialista em Patrimônio Cultural: Conservação de artefatos, sob a orientação da professora mestre Carmem Lucia Abadie Biasoli ( 2005 p 70).

2Escultor brasileiro nascido em Palmeiras, SP, em 1899 e falecido no Rio de Janeiro em 1966.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hildegardo_Le%C3%A3o_Veloso <Acesso em 22de maio de 2015>.

3Artista catalão

4Oficina de gerenciamento de riscos para o patrimônio cultural, realizada no período de 12-16 de agosto de 2013

no Museu Parque da Baronesa na cidade de Pelotas, RS. Ministrada por José Luiz Pedersoli Júnior.

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MAGALHÃES, M. Osório. História e Tradições da cidade de Pelotas. 6ª Ed. ver. e ampl. –

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Flávia Silva Faro, Margarete R. Freitas Gonçalves/ Universidade Federal de Pelotas Comitê Patrimônio, Conservação e Restauro

Flavia Silva Faro

Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Pelotas – UFPel, RS. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cutural, bolsista CAPES. Margarete Freitas Gonçalves

Graduação em Engenharia Civil, Mestrado e Doutorado em Engenharia, Pós-Doutorado na área de Ciências e Engenharia de Materiais. Atualmente professora associada à Universidade Federal de Pelotas.