Espaço Cidadania - Dezembro/2012

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MATERNIDADE Giovanna Verrone Segundo o IBGE (Instituto Brasi- leiro de Geografia e Estatística), a cada minuto nascem cerca de cinco bebês no Brasil, somando mais de 200 mil nasci- mentos por mês. Destes partos, 28,3% são de mulheres entre 20 e 24 anos, seguidos de 25,2% de mulheres que se tornam mães entre 25 e 29 anos. O censo revelou também que 0,8% das grávidas têm entre 10 a 14 anos. “A mulher para ser mãe tem que estar preparada tanto fisicamente como psi- cologicamente. Uma adolescente está passando por um período considerado crítico, uma transição entre a infância e a idade adulta”, comenta Mirian Ân- gulo, psicóloga clínica e professora da Universidade Metodista de São Paulo. Neste cenário, o Ministério da Saúde recomenda que, durante a gra- videz, a mãe realize pelo menos seis consultas pré-natais, evitando impre- vistos como um diagnóstico tardio de Síndrome de Down no bebê, diabetes gestacional ou algum outro problema que afete tanto a gestante quanto o fe- to. A pesquisa do Ministério da Saú- de, de 2009, faz uma comparação com o ano 2000 e aponta que nestes nove anos houve um aumento de 43,7% para 54,5% do número de nas- cidos vivos cujas mães realizaram pe- lo menos sete consultas pré-natais. A importância do pré-natal está re- lacionada com quantidade de óbitos de recém-nascidos. No Brasil, 9,5% dos bebês não conseguem completar um ano de vida, sendo o Nordeste a região com maior número de incidência: 24,9% dos nascidos não sobrevivem. “A perda de um bebê, recém-nascido ou não pode causar uma dificuldade de enfrentar uma nova gravidez e muitas vezes da mãe se culpar pela morte da criança”, conta Angélica Capelari, psicóloga e professora da Metodista. Segundo o senso de 2009, a esco- laridade está relacionada com a pre- ferência pelo tipo de parto: 70% das mulheres com mais de 12 anos de es- tudo realizaram cesarianas, enquanto 90% das mães sem escolaridade ne- nhuma preferiram parto normal. “Uma mulher estudada sabe que o parto normal é mais doloroso que a cesariana, mas, do ponto de vista psi- cológico, em ambos os casos o bebê a e mãe sofrem, ou seja, o nascimento é uma situação limite tanto para o be- bê como para mãe”, afirma Miriam. Não é apenas na escolha do par- to que a escolaridade faz diferença. Mulheres com até sete anos de es- tudo tinham em média 3,19 filhos, enquanto para as com oito anos ou mais a média era de 1,68. O nível de instrução, além de influenciar na quantidade de filhos, influencia tam- bém na faixa etária das mães, sendo a média de 27,8 anos para as com mais estudo e 25,2 para as com me- nos de sete anos. “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gê- nesis 1:28), disse Deus, abenço- ando o homem e a mulher que acabara de criar. A maternida- de, assim, é não apenas uma ordem divina, mas uma benção. Mas como vem sendo encarada neste terceiro milênio? Nesta edição do Espaço Cida- dania, investigamos como a ma- ternidade está intrinsecamente relacionada à escolaridade, com a formação atuando como as- pecto que auxilia em um melhor planejamento familiar e a falta de estudo atuando em sentido contrário, possibilitando mães extremamente jovens e com uma maior quantidade de filhos. Este problema foi discutido com a assistente social, advo- gada, terapeuta familiar e pro- fessora de Direito Mônica Siquei- ra, que orientou a produção de um trabalho sobre o tema. Tam- bém ouvimos a pastora Metodis- ta, filósofa e doutora em Ciências da Religião Suely Xavier dos San- tos, que abordou a relação entre a maternidade e a religião. Outro fator importantíssimo tam- bém foi levantado em uma das matérias a seguir: a adoção. Ouvi- mos uma psicóloga e uma mãe adotiva para entender melhor todo o processo de adoção e a impor- tância de que esta atitude seja ex- tremamente bem planejada, para que renda bons frutos tanto para os pais, quanto para os filhos. Por último, mostramos como a maternidade se tornou um desa- fio para as mulheres que, nas últimas décadas, passaram a conciliar o trabalho doméstico, a vida profissional e a criação dos filhos. Para seguir corretamente a or- dem divina, é preciso planeja- mento, esclarecimento e compro- misso. Somente assim ela será, como Ele quis, também uma benção. Boa leitura! Prof. Dr. Marcio de Moraes Reitor EDITORIAL Universidade Metodista de São Paulo Ano 9 número 103 Dezembro de 2012 Planejamento e cuidados como exames pré-natais são fundamentais para a maternidade A maternidade no Brasil No país, quanto maior a escolaridade, menor a quantidade de filhos arquivo redacao multimidia

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Nesta edição do Espaço Cidadania, investigamos como a maternidade está intrinsecamente relacionada à escolaridade, com a formação atuando como aspecto que auxilia em um melhor planejamento familiar e a falta de estudo atuando em sentido contrário, possibilitando mães extremamente jovens e com uma maior quantidade de filhos.

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MATERNIDADE

Giovanna Verrone

Segundo o IBGE (Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística), a cadaminuto nascem cerca de cinco bebês noBrasil, somando mais de 200 mil nasci-mentos por mês. Destes partos, 28,3%são de mulheres entre 20 e 24 anos,seguidos de 25,2% de mulheres que setornam mães entre 25 e 29 anos. Ocenso revelou também que 0,8% dasgrávidas têm entre 10 a 14 anos. “Amulher para ser mãe tem que estarpreparada tanto fisicamente como psi-cologicamente. Uma adolescente estápassando por um período consideradocrítico, uma transição entre a infânciae a idade adulta”, comenta Mirian Ân-gulo, psicóloga clínica e professora daUniversidade Metodista de São Paulo.Neste cenário, o Ministério da

Saúde recomenda que, durante a gra-videz, a mãe realize pelo menos seisconsultas pré-natais, evitando impre-vistos como um diagnóstico tardio deSíndrome de Down no bebê, diabetes

gestacional ou algum outro problemaque afete tanto a gestante quanto o fe-to. A pesquisa do Ministério da Saú-de, de 2009, faz uma comparaçãocom o ano 2000 e aponta que nestesnove anos houve um aumento de43,7% para 54,5% do número de nas-cidos vivos cujas mães realizaram pe-lo menos sete consultas pré-natais.A importância do pré-natal está re-

lacionada com quantidade de óbitos derecém-nascidos. No Brasil, 9,5% dosbebês não conseguem completar umano de vida, sendo o Nordeste a regiãocom maior número de incidência:24,9% dos nascidos não sobrevivem.“A perda de um bebê, recém-nascidoou não pode causar uma dificuldade deenfrentar uma nova gravidez e muitasvezes da mãe se culpar pela morte dacriança”, conta Angélica Capelari,psicóloga e professora da Metodista.Segundo o senso de 2009, a esco-

laridade está relacionada com a pre-

ferência pelo tipo de parto: 70% dasmulheres com mais de 12 anos de es-tudo realizaram cesarianas, enquanto90% das mães sem escolaridade ne-nhuma preferiram parto normal.“Uma mulher estudada sabe que oparto normal é mais doloroso que acesariana, mas, do ponto de vista psi-cológico, em ambos os casos o bebêa e mãe sofrem, ou seja, o nascimentoé uma situação limite tanto para o be-bê como para mãe”, afirma Miriam.Não é apenas na escolha do par-

to que a escolaridade faz diferença.Mulheres com até sete anos de es-tudo tinham em média 3,19 filhos,enquanto para as com oito anos oumais a média era de 1,68. O nível deinstrução, além de influenciar naquantidade de filhos, influencia tam-bém na faixa etária das mães, sendoa média de 27,8 anos para as commais estudo e 25,2 para as com me-nos de sete anos.

“Crescei e multiplicai-vos,enchei e dominai a terra” (Gê-nesis 1:28), disse Deus, abenço-ando o homem e a mulher queacabara de criar. A maternida-de, assim, é não apenas umaordem divina, mas uma benção.Mas como vem sendo encaradaneste terceiro milênio?Nesta edição do Espaço Cida-

dania, investigamos como a ma-ternidade está intrinsecamenterelacionada à escolaridade, coma formação atuando como as-pecto que auxilia em um melhorplanejamento familiar e a faltade estudo atuando em sentidocontrário, possibilitando mãesextremamente jovens e com umamaior quantidade de filhos.Este problema foi discutido

com a assistente social, advo-gada, terapeuta familiar e pro-fessora de Direito Mônica Siquei-ra, que orientou a produção deum trabalho sobre o tema. Tam-bém ouvimos a pastora Metodis-ta, filósofa e doutora em Ciênciasda Religião Suely Xavier dos San-tos, que abordou a relação entrea maternidade e a religião.Outro fator importantíssimo tam-

bém foi levantado em uma dasmatérias a seguir: a adoção. Ouvi-mos uma psicóloga e uma mãeadotiva para entender melhor todoo processo de adoção e a impor-tância de que esta atitude seja ex-tremamente bem planejada, paraque renda bons frutos tanto paraos pais, quanto para os filhos.Por último, mostramos como a

maternidade se tornou um desa-fio para as mulheres que, nasúltimas décadas, passaram aconciliar o trabalho doméstico,a vida profissional e a criaçãodos filhos.Para seguir corretamente a or-

dem divina, é preciso planeja-mento, esclarecimento e compro-misso. Somente assim ela será,como Ele quis, também umabenção.

Boa leitura!

Prof. Dr. Marcio de MoraesReitor

EDITORIAL

Universidade Metodista de São Paulo • Ano 9 • número 103 • Dezembro de 2012

Planejamento e cuidados como exames pré-natais são fundamentais para a maternidade

A maternidade no BrasilNo país, quanto maior a escolaridade, menor a quantidade de filhos

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Gustavo Carneiro

Boa parte das pessoas que temvontade de adotar uma criança costu-ma pensar apenas em salvar a vida dealguém que foi abandonado pelospais biológicos, eximindo-se das dorese complicações de um parto ou do tra-balho que exige um bebê pequeno. Oque muita gente não pensa é que ado-tar exige mais responsabilidade doque dar a vida a uma criança.O processo de adoção envolve

uma longa e rigorosa bateria de tes-tes para que a Vara de Infância possaavaliar, por meio dos assistentes soci-ais, se os interessados têm condiçõesde adotar. Estes trâmites podem levarde seis meses até cinco anos entre operíodo de habilitação e o de concre-tização, que é o mais demorado, por-que os perfis das crianças precisamser coerentes com aquele desejadopela família adotiva.Além da burocracia, outro prob-

lema que os pais enfrentam é a adap-tação. Muitos acreditam que, por te-rem escolhido o perfil da criança, elaserá exatamente como sonharam,mas não é simples assim. Segundo apsicóloga Kelly Cristina Brandão da

Silva, da Universidade Metodista deSão Paulo, há menos entraves combebês. “Uma criança mais velha co-nheceu sua família de origem ou jáesteve em outro lar antes da adoção.Muitas vezes os pais adotivos, sem di-zer explicitamente, não permitemque essa criança fale sobre seu passa-do. Como se fosse possível ‘zerar’ ahistória e começá-la a partir da novafamília”, disse. Para Kelly, esse "não-dito" pode trazer inúmeras dificulda-des de inserção dessas crianças, sejana família ou na escola. “Os bebêsadotivos podem sentir esses efeitosdo "não-dito" quando os pais deci-dem que não vão contar sobre a ado-ção”, completou a psicóloga.Ao contrário de alguns pais que

ignoram o passado dos filhos, a enfer-meira Rejane Célia dos Santos, deSão Paulo, mãe de quatros crianças,adotou Augusto com 10 anos e sem-pre levou sua história em considera-ção. Augusto e seus três irmãos bio-lógicos, todos mais novos, foram ado-tados por uma família dos EstadosUnidos, mas o menino não se adap-tou à vida no exterior e voltou aoBrasil. “Nós éramos voluntários daFundação Comunidade da Graça e

nos pediram que ficássemos com oAugusto por três dias, para ver comoele se comportava longe dos irmãos.Inicialmente, não tínhamos a inten-ção de adotá-lo, mas depois nos ape-gamos, surgiu um amor muito forte.Hoje ele é tão meu filho quanto osoutros”, falou Rejane.A psicóloga Kelly Cristina explica

que muitos pais não sabem como agircom os filhos adotivos devido aoscostumes diferentes. “Há dificuldadespara lidar com o passado da criança,sua vida em orfanatos ou em outrasfamílias adotivas. É preciso enfrentardiferenças na criação, os conflitos so-ciais e até raciais. Mas isso é apenasuma fase de um processo muito gra-tificante para quem deseja ampliar afamília”.Rejane concorda. “Uma das coisas

mais importantes para este relacio-namento florescer é observar”, afirma.Para ela, é preciso preservar a criançae respeitar sua história, suas origens,hábitos e valores ao entrar para anova família. “É preciso ser sincero.Nós dissemos para nosso filho quenão tínhamos planejado adotá-lo, masDeus o trouxe para as nossas vidas eagora ela é nosso”, completa.

Adaptação é um tempo cCrianças mais velhas devem ter sua história respeitada ao entra

FÉ E CIDADANIA

Augusto à frente de sua família, que o adotou aos 10 anos de idade

Suely Xavier dos Santos, pastoraMetodista, filósofa e doutora emCiências da Religião comenta so-bre a relação maternidade-religião

O que a igreja fala sobre a mater-nidade?A igreja é a favor da vida, e vida

digna para todas as pessoas. Amaternidade é um instrumento paraque haja a continuação desta vida.Não deve ser uma imposição, masum ato consciente, afinal uma cri-ança muda completamente a vida dequalquer pessoa. Caso não haja umaestrutura mínima, não estou falandode aspectos materiais, mas psicológ-ica, quem sofrerá será a criança.Muitas mulheres engravidam e

perdem os filhos de forma natural.Qual mensagem a igreja passa paraas pessoas que passam por isso?Perder um filho depois de todo um

processo de descoberta da gravidez,de alegria e muitos planos não é umacoisa fácil de lidar, especialmentequando se está no final da gravideze isso ocorre. Porém, é preciso en-tender que na vida todas as pessoasestão sujeitas às suas vicissitudes, eque não é porque pertence a uma re-ligião que a pessoa fica protegidade passar por determinadas situ-ações. O diferencial é a fonte de forçapara esta pessoa: sua fé em Deus. Opapel da igreja e sua mensagem de-vem ser de conforto e solidariedade.Quando passar os processos aponta-dos pela psicologia, a igreja deve es-tar presente, a fim de ajudar estapessoa a se recompor.Qual a relação entre maternidade

e religião?Maternidade é um tema complexo.

Quando envolve religião o tema ficaainda mais complexo. Mas vale pon-tuar que há uma transformaçãomuito brusca, em todos os sentidos,na vida da mulher com a mater-nidade. Penso que a igreja/religiãopode ser um suporte para estastransformações tão rápidas na vidada mulher, que muitas vezes se sentedesamparada e só, com uma criançapara cuidar. E falo não somentedaquelas que não tem uma estru-tura familiar, mas das que tem tam-bém. A religião pode ajudar nesteprocesso de amadurecimento damulher quando se torna mãe. Podeajudar quando esta mulher neces-sita de cuidados especiais, sejameles quais forem. O papel da religiãoé estar lá. Pode não ser acionada,mas deve estar presente.

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ENTREVISTA

Gravidez na adolescência0,8% das grávidas no Brasil estão entre 10 e 14 anos

rucial na adoçãorem para uma nova família

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

LivrosMaternidade e o encontro com a própria sombraLaura Gutman, Editora Best Seller, 322 páginas

A psicoterapeuta Laura Gutman, especializada no tratamentode casais e crianças pequenas, convida as mães a um mo-mento de reflexão sobre a responsabilidade de criar um bebê.A obra é um manual que busca realizar uma análise da mentefeminina e dos impactos que os filhos têm sobre ela, além dereformular muitos dos preconceitos sociais sobre a mater-nidade.

Maternidade Tardia - Mulheres profissionais em busca darealizaçao plenaSylvia Hewlett, Editora Novo Século, 288 páginas

Neste livro, Sylvia Hewlett aborda um dos maiores desafios damulher moderna - conciliar a carreira e o cuidado com os fil-hos. Quanto mais bem-sucedida profissionalmente é a mulher,mais dificuldades ela encontra para encontrar um parceiro outer um bebê. Mas, apesar das dificuldades, a maioria anseiapor um filho e está preparada para conseguir realizar essesonho, algumas vezes gastando generosas quantias de din-heiro, tempo e energia. Este livro combina relatos da vida demulheres que revelam as angústias que envolvem a jornada detrabalho, a tradicional divisão de tarefas domésticas e umaindústria da fertilidade, que embala mulheres numa falsa se-gurança de que poderão ficar grávidas mesmo na meia-idade.

ONGAMGI - Apoio a Mulheres numa Gravidez Indesejadawww.amgi.org.brO objetivo desta ONG sediada em Niterói (RJ) é oferecer apoiomédico, psicológico e espiritual a mulheres que passam poruma situação de gravidez inesperada. A organização oferecesuporte com testes de gravidez, encaminhamento para pré-na-tal e cursos artesanais para as futuras mães.

FilmeO Que Esperar Quando Você Está EsperandoDireção: Kirk Jones. Trailer: http://bit.ly/UwdP7hCom um elenco formado por nomes como Cameron Diaz, Jen-nifer Lopez e Rodrigo Santoro, essa comédia mostra diferenteshistórias de mulheres que serão mães e de que maneira issoafeta suas vidas. Há um casal que não consegue engravidar,decide adotar uma criança, mas o pai não sabe se está pre-parado para assumir essa tarefa. Outra mulher que, depois deanos de tentativas, finalmente fica grávida, mas tem umagestação conturbada, bem diferente daquela que sonhou. Doiscolegas de trabalho que têm um romance que acaba que emgravidez, e uma moça que, embora surpreendida com agravidez inesperada, entra em crise quando perde o bebê.

GIOVANNA VERRONE

Brasil, 2012. Embora o mundo estejarodeado de tecnologia e informação, agravidez precoce acontece com frequên-cia. Mônica Siqueira, assistente social,advogada, terapeuta familiar e profes-sora de direito da Universidade de Tau-baté orientou a produção de um traba-lho sobre gravidez na adolescência ecompartilhou conosco a experiência.No Brasil, existe um trabalho de

conscientização contra gravidez naadolescência. Mesmo assim, os ca-sos são inúmeros. Por que?Hoje a família mudou suas configu-

rações. A maior parte delas são mono-parentais (chefiadas por um dos côn-juges), reconstituídas (quando forma-das pelo casal e os filhos do relacio-namento anterior de um ou de ambosos cônjuges), casais homoafetivos, ouainda famílias onde a terceira geração(avós) reside junto com os filhos e ne-tos e mantém financeiramente a famí-lia com a renda da aposentadoria.Neste contexto observa-se ainda queos filhos têm ficado mais tempo noseio familiar, ou seja, com a gravidezna adolescência não saem de casapara formar sua família. A condiçãofinanceira e a baixa escolaridade sãoum dos fatores que contribuem para apermanência deste adolescente nacasa dos pais.Outro fator que contribui para a gravi-

dez na adolescência é a dificuldade dospais em colocar limites nos filhos e afalta de diálogo sobre a questão dasexualidade. Assim, podemos dizer que,apesar da informação, o adolescenteainda apresenta um pensamento má-gico em relação a gravidez, falta comu-nicação entre pais e filhos e um diálogocom menos tabu sobre a sexualidade.Pelo estudo, qual a diferença entre

a gravidez de uma mulher adulta e agravidez na adolescência?Uma diferença básica é que a mulher

adulta já se encontra com seu corpoformado, constituído, pronto para umagravidez. A adolescente, como o nomejá diz, está em formação e desenvolvi-mento, seu corpo também está nesteprocesso. Engravidar na adolescênciapode trazer riscos à saúde, tanto paraa adolescente quanto ao bebê.O que uma gravidez precoce pode

causar na vida de uma mulher?A gravidez precoce pode trazer com-

plicações no parto e dobra o risco deanemia. A adolescente é mais suscetí-vel a cesariana, a possíveis infecçõese à depressão pós-parto. Já para o be-bê, aumenta a possibilidade de ele virao mundo prematuro ou malnutrido.Qual a importância de ONGS para as

mães adolescentes?Para se realizar ações junto às mães

adolescentes é preciso que as ONGsfaçam parceria com o poder público.Não é possível enfrentar esta questãocom ações isoladas. Muitas destasONGs ainda desenvolvem seus proje-tos de forma assistencialista, ou seja,com um dever moral em ajudar estasadolescentes. O foco de alguns destesprojetos é somente manter esta situ-ação. É preciso que as ONGs traba-lhem em rede, em parceria com o po-der público.As ONGs são fundamentais para as

mães adolescentes, pois muitas delas(as sérias e comprometidas) são cria-tivas e, com pouco recurso financeiro,desenvolvem projetos fundamentaispara enfrentar esta questão, articu-lam-se não só com o poder público ea família, mas também com a comu-nidade ao seu entorno. São experiên-cias positivas que devem ser dissemi-nadas e utilizadas para sensibilizar e,acima de tudo, provocar a respon-sa-bilidade do poder público em se artic-ular com estas ONG’s.O que essa experiência trouxe para

a aluna que escreveu o trabalho?Descobrir exatamente o que você

propôs na primeira pergunta. A infor-mação existe, mas ela não basta. Oque é preciso é a educação, a parceriaentre o poder público, a família e a so-ciedade civil para que as famíliasconsigam resgatar o seu papel juntoaos adolescentes. Para tanto é funda-mental que o estado assuma sua re-sponsabilidade em oferecer suporte aestas famílias.

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Espaço Cidadania é uma publicação mensal do Instituto Metodista de Ensino Superior. Tiragem: 3.000 exemplares

Conselho Diretor: Stanley da Silva Moraes (presidente), Nelson Custódio Fér (vice-presidente), Osvaldo Elias de Almeida

(secretário). Vogais: Paulo Roberto Lima Bruhn, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia

Santos, Marcos Sptizer, Ademir Aires Clavel, Oscar Francisco Alves. Suplentes: Regina Magna Araujo e Valdecir Barreros.

Diretor Geral:Wilson Roberto Zuccherato. Reitor:Marcio de Moraes. Diretor de Comunicação: Paulo Roberto Sal-

les Garcia. Coordenação Editorial: Gerência de Comunicação do IMS e Agência de Comunicação da Faculdade de

Comunicação Conselho Editorial: Clovis Pinto de Castro (presidente), Elena Alves Silva, Luiz Roberto Alves, Paulo

Roberto Salles Garcia, Dagmar Silva Pinto de Castro, Paulo Bessa da Silva, Nicanor Lopes, Léia de Souza. Redação:

Giovanna Verrone e Gustavo Carneiro (alunos da Faculdade de Comunicação). Edição: Alexandra Martin (MTb 26.264)

e Israel Bumajny (MTb 60.545)

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Timbre Consultoria em Marca e Design.

Redação: Rua Alfeu Tavares, 149 • Edifício Ró • Rudge Ramos • 09640-000 • São Bernardo do Campo • SP

Telefone: (11) 4366-5928 E-mail: [email protected] Versão Online: www.metodista.br

Os textos podem ser reproduzidos, desde que citada a fonte e seus autores.

Ser mãe pode ser uma das coisasmais belas da vida de uma mulher eé o sonho de milhões de garotas e se-nhoras de todo o mundo, mas assimcomo tudo na vida, nada vem de gra-ça. Existe uma série de responsabili-dades e dificuldades que podem fazeruma mulher pensar duas vezes antesde entrar na jornada maternal.Má qualidade no sistema de saú-

de brasileiro, gravidez precoce, prob-lemas de saúde, gastos muito altos(tanto para o período de gravidez,quanto com a própria criança) sãoapenas alguns de muitos problemasque uma mulher tem que enfrentarpara ser mãe.Estudos apontam que as chances

de uma mulher jovem engravidar na-turalmente, sem nenhum problema defertilidade com ela e com o parceiro epraticando sexo no período fértil, é deapenas 25% a cada mês, ou seja, trêsem cada quatro mulheres que tentamengravidar, não conseguem.Mesmo com esses números, nas-

cem cerca de 8.200 crianças por diano Brasil, segundo o IBGE. São maisde 300 bebês por hora e cerca decinco por minuto que vem ao mundoaos cuidados de suas mães, que têmque conciliar as responsabilidades jáexistentes, como profissionais e soci-ais, com a responsabilidade de terque cuidar de uma nova vida.“Ser mãe com certeza mudou a mi-

nha vida completamente! Do lado pes-soal, simplesmente fui obrigada a ama-durecer da noite pro dia, ou seja, tiveque começar a enxergar a vida de umlado novo, tendo que, a cada dia, fazernovas descobertas”, acredita AnneGabrielle de Pauili, que teve seu filhocom vinte anos e ainda estava estudan-do. “Tenho comigo que meu filho pre-cisava de mim pra tudo, aí entra o me-do da vida profissional, porque não ha-via terminado minha faculdade, mas,graças a Deus, tenho a ajuda dos meuspais e continuo os meus estudos. Per-derei parte da infância do meu filho lu-tando para poder ter o que dar paraele, afinal, terei que me esforçar muitomais pra me sobressair perante aquelesprofissionais que não têm essa respon-sabilidade”, completa Anne.Muitas garotas, até mais novas

que Anne de Pauili, acabam tendouma gravidez não planejada e preci-

sam alterar todos os seus planos devida, tanto profissionais, quanto fami-liares para cuidar da criança. De acor-do com estudo da Comissão Econô-mica para a América Latina e Caribe(Cepal), uma em cada quatro garotascom menos de 20 anos já é mãe nohemisfério sul do continente.Conciliar os estudos e a materni-

dade é uma tarefa difícil para as mãesmais novas, mas as mães mais velhastambém não têm vida fácil quando setrata de respon-sabilidade, porquemuitas mulheres precisam conciliar amaternidade com o trabalho e as tare-fas domésticas.As complicações começam logo

na gravidez. Na Constituição de1988, dentre os direitos trabalhistas,seria garantido a licença-maternidadede quatro meses. Em 2008, a Lei Fe-

deral 11.770 ampliou a licença-mater-nidade por mais 60 dias, totalizandoseis meses, ou 180 dias.Mas em muitos casos, dependen-

do da profissão, as mães sofrem pres-são de chefes e colegas por ficaremfora do trabalho por tanto tempo, ale-gando que alguém pode tomar o seulugar e aproveitar uma oportunidadeque aparece. Mesmo com a pressão,muitas mulheres deixam o trabalhoem segundo plano para seguir o so-nho de ser mãe.“Acho que todas as mães que tra-

balham sofrem com essa responsabi-lidade. A consciência pesa quandovocê não está presente na hora da pri-meira palavra do filho, do primeirogracejo, dos primeiros passinhos, oprimeiro gol, o primeiro machucado,e quando você se dá conta o seu filho

já está com dez anos, entrando naadolescência”, comentou Luci Laran-jeira, que concilia o trabalho e a cri-ação de dois filhos. Para isso, ela teveque fazer um acordo com a empresaonde trabalha. “Eu trabalho cinco ho-ras no escritório, que é o horário quemeus filhos estão na escola e quatrohoras em home office (trabalho emcasa)” completa Luci.Neste caso, ela teve a sorte e com-

petência de ter conseguido fazer esseacordo e poder ver o crescimento e odesenvolvimento dos seus filhos.Mas, ao contrário dela, milhares demulheres acabam tendo que escolherentre trabalhar, mas perder a infânciado filho ou ficar em casa cuidando dofilho e estar presente nesta fase davida dele, mas sem contribuir com asdespesas de casa.

Mudança de planos: ser mãeConseguir conciliar todas as responsabilidades é o maior desafio das mulheres da atualidade

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Anne Gabrielle de Pauili, que teve seu filho aos 20 anos, enquanto ainda estava estudando