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Departamento de História ESPAÇOS DE TROCAS COMERCIAIS NO ÍNDICO: CIRCULAÇÃO DE PESSOAS E DE PRODUTOS. Aluna: Lidiane Joyce Barbosa Moura Orientadora: Profa. Regiane Augusto de Mattos Introdução A presente pesquisa pretende analisar as relações comerciais entre os povos do interior e os do litoral do norte Moçambique e agentes sociais de outras origens presentes na região, como os europeus, no século XIX. Interessa saber também como se configurava o processo de exportação dos principais produtos (escravos, ouro, marfim, etc.), buscando uma compreensão desse período histórico em que a circulação de pessoas e de produtos foi decisiva para a dinâmica dos circuitos econômicos e culturais nessa região. Objetivos O objetivo do estudo é mostrar como se deu a organização do comércio no norte de Moçambique que, no século XIX, abasteceu diversos portos com seus produtos e a relação com os intercâmbios de saberes e práticas ocasionadas pela circulação de pessoas envolvidas nesses circuitos comerciais. Metodologia O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento de fontes e bibliografias, da leitura atenta e da análise dos documentos nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de Janeiro, como o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o Real Gabinete Português de Leitura. A pesquisa se desenvolveu a partir da análise da historiografia existente sobre o tema e de fontes documentais primárias, como relatórios escritos pelas autoridades portuguesas em Moçambique. Nesta fase da pesquisa continuei trabalhando com as fontes localizadas no Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, por serem muito extensas e tratarem da evolução do comércio em diferentes perspectivas. E também analisei um manuscrito de 1827 para afirmar a efetiva participação dos árabes no comércio em Moçambique [11].

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ESPAÇOS DE TROCAS COMERCIAIS NO ÍNDICO: CIRCULAÇÃO DE

PESSOAS E DE PRODUTOS.

Aluna: Lidiane Joyce Barbosa Moura

Orientadora: Profa. Regiane Augusto de Mattos

Introdução

A presente pesquisa pretende analisar as relações comerciais entre os povos do

interior e os do litoral do norte Moçambique e agentes sociais de outras origens

presentes na região, como os europeus, no século XIX. Interessa saber também como se

configurava o processo de exportação dos principais produtos (escravos, ouro, marfim,

etc.), buscando uma compreensão desse período histórico em que a circulação de

pessoas e de produtos foi decisiva para a dinâmica dos circuitos econômicos e culturais

nessa região.

Objetivos

O objetivo do estudo é mostrar como se deu a organização do comércio no norte

de Moçambique que, no século XIX, abasteceu diversos portos com seus produtos e a

relação com os intercâmbios de saberes e práticas ocasionadas pela circulação de

pessoas envolvidas nesses circuitos comerciais.

Metodologia

O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento de fontes e bibliografias, da

leitura atenta e da análise dos documentos nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio

de Janeiro, como o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o

Real Gabinete Português de Leitura.

A pesquisa se desenvolveu a partir da análise da historiografia existente sobre o

tema e de fontes documentais primárias, como relatórios escritos pelas autoridades

portuguesas em Moçambique.

Nesta fase da pesquisa continuei trabalhando com as fontes localizadas no

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, por serem muito extensas e tratarem da

evolução do comércio em diferentes perspectivas. E também analisei um manuscrito de

1827 para afirmar a efetiva participação dos árabes no comércio em Moçambique [11].

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As fontes utilizadas nessa pesquisa são, em grande medida, relatos de viagem,

relatórios e memórias escritas no século XIX e início do XX. Esses relatos históricos

sobre o comércio em Moçambique foram escritos, sobretudo, por viajantes, em sua

maioria europeus. A historiografia que foi produzida a partir desses relatos de viagens

como as fontes documentais e orais devem ser tratadas com cuidado, pois a história

escrita do ponto de vista europeu é ambígua.

[6] A historiografia construída em Moçambique se aproxima muito dos estudos

da etnóloga Beatrix Heintze já citada no trabalho anterior, em que a autora problematiza

a subjetividade e a falta de veracidade na história escrita pelos europeus. E apesar de

escrever sobre Angola, suas críticas podem ser aplicadas às fontes documentais sobre o

Índico e Moçambique, pois a maneira no qual elas foram construídas (fontes,

documentos, testemunhos orais) e quem a escreveu (viajantes europeus) faz com que a

história desses lugares ganhe a mesma dimensão.

Com relação à bibliografia, para compreender melhor esse processo retomei a

análise das obras já mencionadas devido a sua extensão e ao seu conteúdo. Também

analisei outras novas para complementar a pesquisa e sustentar a ideia de que a presença

dos povos árabe e persa mulçumanos foi de extrema importância para o

desenvolvimento comercial e cultural em Moçambique [1].

1.) Detalhamento dos resultados parciais obtidos no período

1.1. Pesquisa e sistematização da bibliografia

CURTIN, Philip. et. al. African History. Boston: Litlle Brown, 1978.

HEINTZE, Beatrix. Angola nos Séculos XVI e XVII: Estudos Sobre Fontes, Métodos e

História/ Beatrix Heintze. Lunda, Kilombelombe, 2007.

MEDEIROS, Eduardo. O Islão e a construção do <espaço cultural e social Macua>. In:

Representações de África e dos africanos na história e cultura: séculos XV a XXI. Ponta

Delgada: Centro de História de Além-Mar, 2011. p.195-280. (Coleção Estudos &

Documentos; 10).

ZONTA, Diego. Moçambique e o Comércio Internacional das Oleaginosas (1855-

1890)/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa (Tese de Doutorado), 2011.

Disponível em;

<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/6957/1/ulfl118294_tm.pdf[01]> Acessado em

13 de Jun 2015.

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ZONTA, Diego. “Moçambique” no Século XIX: do Comércio de Escravo ao Comércio

Legítimo/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa, (Tese de pós graduação),

2012.

Disponível em;

<http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/4320/3380[01]> Acessado

em 13 de Jun 2015.

1.2.) Pesquisa e sistematização das fontes

Real Gabinete Português de Leitura:

ALBUQUERQUE, J. Mouzinho de. Moçambique 1896-1898/ J. Albuquerque, Lisboa,

Manoel Gomes Editor, 1899, [n.p.]

ANDRADE, Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL.. -

Lourenço Marques, Imprensa nacional, 1910.

BORDALO, Francisco Maria. Ensaios sobre a estatística das possessões portuguezas

na África Occidental e Oriental, na Ásia Occidental, na China e na Oceania, vol. 4,

Lisboa, Imprensa Nacional, p. 318, 1859.

BOTELHO, Sebastião Xavier. Memória estatística sobre os domínios portuguezes na

África Oriental, Lisboa, Typ. de José Baptista Morando, p. 86, 1835.

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques

ao Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz, Lisboa, Tipografia Universal, 1902.

FERREIRA, José Joaquim; CASTILHO, Augusto de. Recordações da expedição da

Zambézia em1869, Elvas, Typ. Progresso, 1891.

Moçambique: Documento Trimestral/ Lourenço Marques, Imprensa Nacional, 1935

[n.p.]

Moçambique. In: Relatorios dos Governadores Geraes das Provincias de Cabo Verde,

Moçambique e Estado da India: referidos ao anno de 1875 e apresentados às cortes

pelo ministro e secretario d'estado dos negocios da marinha e ultramar na sessão

legislativa de 1878, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878, pp. 1-496.

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro:

Annaes do Conselho Ultramarino. Parte não official, Série I, III, IV, V e VI, 1858-1867,

Lisboa, Imprensa Nacional, 1867-1869.

Boletim Oficial da Colônia de Moçambique / S/a .- [S.l] : [s.n.], 1935

SILVA, João Manuel da. Parecer sobre: tratados de comércio com o Irman de

Mascate e com o rei Abderame de Madagascar e proteção ao régulo de Quissumbo.

Lisboa. 1827.

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1.3.- Reunião do grupo de estudo Geha

Grupo de estudos e de pesquisa criado no âmbito do Departamento de História da PUC-

Rio que tem como intuito construir um espaço de reflexão sobre temas relacionados à

História da África. O grupo realiza discussões de textos de variados autores e também

organiza palestras de pesquisadores da PUC-Rio e de outras instituições nacionais e

estrangeiras com o objetivo de promover a troca de experiências acadêmicas e a

divulgação de pesquisas em História da África. Os textos lidos e discutidos no Grupo

foram os seguintes:

1.3.1- COOPER, Frederick. What is the concept of globalization good for? An African

historian´s perspective. African Affairs (2001), 100, 189 –213. Royal African Society

2001.

1.3.2.- FREITAG, Ulrike; VON OPPEN, Achim (Ed.). Translocality: the study of

globalising processes from a southern perspective. Brill, 2009.

1.3.3.- ___________________________, Translocality: An Approach to Connection

and Transfer in Area Studis. Brill, 2010.

1.3.4.- HEITNZE, Beatrix. Translocal ‘Kinship’ Relations in Central African Politics of

the 19TH

Century.Frobenius Institute. Frankfurt. 2010.

1.3.5.- MAYER, Luana. Entre Coroas, Províncias e Missionários: o Reino do Congo no

final do século XVIII. Relatório de dissertação de Mestrado 2015/2016. PUC-Rio.

1.3.6.- MEDEIROS, Ana Carolina Cavalcanti de. Ideia de Direito de autodeterminação

na produção intelectual de Kwame Nkrumah entre as décadas de 1940 e 1960. Relatório

de qualificação da Dissertação de Mestrado 2015/2016. PUC-Rio.

1.3.7- SANTOS, Joice de Souza. O rei esquecido. Adandozan e relações translocais no

reino do Daomé (1797-1818). Relatório da Tese de Doutorado 2015/2016. PUC- Rio.

Conclusão

Este relatório tem como objetivo complementar e fazer algumas considerações

sobre a pesquisa realizada até o presente momento.

Os primeiros árabes, persas e arabizados, todos mulçumanos chegaram ao Índico

a partir do século VII, e formaram cidades-estados em Ilhas da Somália, Quénia,

Tânzania e ilhas de Moçambique [10]. Eduardo Medeiros entende que a migração

desses grupos para essas regiões foi lenta e gradual, mas devido à boa localização e

terras apropriadas para agricultura esses grupos viram vantagens em permanecer nessas

regiões. Antonio Machado também afirma que os primeiros grupos de mulçumanos

chegaram a Moçambique entre os séculos VII e VIII, mas que um grupo de persas de

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Shirazi e árabes de Oman estavam fugindo de perseguições político-religiosas. Mais

tarde eles se uniram a aventureiros, comerciantes, familiares e povos doutras

proveniência, estabelecendo importantes alianças com os nativos das terras, e a partir

dessa afeição surgiu com a mestiçagem biológica e cultura um novo grupo chamado

Suaílis, que alguns escritores e historiadores apelidaram de Mouros. Os Suaílis

estabeleceram diversas feitorias e se propagaram ao longo de todo o litoral. Muitos eram

originários de Quiloá e Zanzibar, descendentes de Shirazi. Essas cidades foram as

responsáveis em expandir o islamismo ao longo do litoral de Moçambique [7].

“A política unificadora dos sucessivos sultões do Oman faz actuar, com forças

convergentes, as diferentes colônias mulçumanas contra o domínio português.

As antigas feitorias mulçumanas, de remota origem perso-shirazi, acabam por

aceitar governantes árabes, nomeados pelo sultão de Zanzibar, os quais

detiveram o poder durante século e meio, para serem substituídos mais tarde

pelos ingleses, que se assenhorearam de toda a costa, a partir do que

estruturaram a hoje desfeita África oriental Inglesa. (...) E assim que as

dependências mulçumanas da costa moçambicana se tornaram subordinadas

aos sultões de Zanzibar, de quem atacava directivas de governação e a que

ficaram avassaladas e tributárias” (MACHADO, A. J. De Mello. p.388. 1970)

Durante toda a extensão do litoral até o Zambeze, foram estabelecidas inúmeras

feitorias mulçumanas que foram entregues a governantes ou aos súditos do sultão de

Zanzibar. Esses homens estavam ligados ao comércio de permuta com os gentios que se

encontravam no sertão e principalmente, estavam diretamente envolvidos no tráfico de

escravos. Foram eles os grandes responsáveis em promover as guerras inter-tribais que

garantiria os prisioneiros a serem traficados para diversos países pelo mundo [8].

Os negros islamizados da costa suaílis, se dirigiram para o sul em busca de

riqueza, foram os primeiros a navegarem pela costa em busca de clientes e levavam em

seus bateis panos coloridos e fancaria garrida, produtos de interesse dos gentios. A

partir da permuta os negros islamizados conseguiram estabelecer um comércio

lucrativo, que foi praticado por vários séculos. O tráfico de escravos foi sem dúvida o

mais lucrativo. Também inseriram novas sementes em Moçambique, surgindo novos

produtos agrícolas para aquela região e novos costumes foram introduzidos devido ao

contato com os mercadores. [7]

A visita periódica dos mercadores estabelecia na costa uma grande feira, onde

negros do interior levavam suas riquezas para negociarem. A boa aceitação dos

produtos trazidos pelos mercadores e a presença deles fez crescer um grande número de

imigrantes mulçumanos para o sul da Ilha de Moçambique e assim nasceram as feitorias

mulçumanas na costa de Moçambique.

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Com o estabelecimento das feitorias, o Sultão passou a controlar a política,

conquistando o domínio sob os povos do litoral, esses perderam sua liberdade e foi

imposto aos chefes locais alianças, na maioria das vezes através de casamentos.

O controle dos Sultões foi predominante em Angoche até meados do século

XIX, pois em 1861 os portugueses definiram como capitania- mor e ocuparam a ilha

mulçumana estabelecendo domínio e senhorio. Neste período os portos eram

controlados por portugueses e ingleses, e o comércio também era controlado por eles,

mas devido à força e influências dos mercadores suaílis, eles continuaram com o

comércio de escravos até o início do século XX, e mais tarde conduziram o comércio de

especiarias, joias e tecidos [7].

O historiador Diego Zonta, afirma em sua tese que a presença de árabes e persas

era muito forte na região norte de Moçambique, e que a partir das sementes que eles

conseguiram, séculos mais tarde fez com que o comércio agrícola em Moçambique se

expandisse para o mundo. [12]

O comandante Mello Machado também reconhece a presença dos árabes e que

eles chegaram muito antes dos europeus, e segundo os relatos de viagem, já no século

X, havia uma organização comercial que ligava as costas orientais africanas aos portos

arábicos e indianos, tendo como controladores comerciais os árabes Oman e os

Sirazianos da Pérsia [7].

“Das feitorias partiam frotas em busca de novos mercados. Os negros da

enseada, angras e rias que bordejam o sertão, viram deslumbrados a chegadas

de pangaios mouriscos, que lhes ofereciam tecidos berrantes, cabaias vistosas,

pulseiras e colares, em troca dos produtos do mato. O contacto foi estabelecido

e repetido até se tornar habitual. Periodicamente trazidos pelos ventos da

monção, lá surgiam de novo os pangaios dos mercadores. Os negros acorriam

ao mercado que se estabelecia. Fundeados os navios, descarregavam-se as

arcas no areal, e dava-se início a feira. Esta demorava-se na espera das

caravanas atrasadas pelo sertão. Havia então que aguardar ventos favoráveis

de monção. E durante a espera, os mercadores, ao jeito mulçumano, tomava as

mulheres da terra. Quando finalmente zarpavam, levavam os navios pejados de

ricos produtos permutados; na terra deixavam descendência e promessa de

regresso. E mais tarde voltariam, para se estabelecer, se o negócio fosse

lucrativo. O estabelecimento mercantil foi assim, de início, um processo

pacífico, e dele nasceu uma população mestiçada que deu origem aos primeiros

suaílis que habitam o litoral. (MACHADO, A. J. De Mello. p.128. 1970)

Os primeiros comerciantes se organizaram muito bem e conseguiram estabelecer

sólidas feitorias e um conhecimento hábil sobre a agricultura. Guilherme Ferraz

descreve diferentes plantas úteis para o consumo que foram cultivadas pelos árabes

como; algodoeiro, gergelim, cânhamo, laranjeira, limoeiro, cana sacarina, e

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possivelmente arroz, café, entre muitos outros, e as sementes eram adquiridas das

relações comerciais com outros povos, especificamente com a Índia e regiões do

Mediterrâneo [4]. No documento trimestral de Moçambique também ressalta-se a

importância desses primeiros povos para desenvolvimento agrícola [8].

“O avanço que a agricultura obteve devido à influência árabe, verificou-

se principalmente no litoral e ao longo do vale do Zambeze, que foi a via

por onde se fez a maior penetração comercial, tanto dos árabes como

dos portugueses. É de crer que outros povos da península arábica,

particularmente judeus e fenícios que vieram da África Oriental em

pesquisa de ouro, tivesse também introduzido algumas plantas

cultivadas, nada se sabendo ao certo, a esse respeito”. (MARQUES,

Lourenço. Documento Trimestral de Moçambique. p. 101)

A presença constante dos mercadores mulçumanos e povos arabizados da costa

africana vindos de Zanzibar e Quiloá, também influenciaram a religião em

Moçambique, e através da religião estabeleceram uma política local com alianças entre

os chefes e os grandes comerciantes.

“Uma vez adoptado, o Islão fornecia a estas chefias uma articulação

com outros também mulçumanos que lhe era muito útil para reforçar e

mesmo justificar a sua posição.” (MEDEIROS, Eduardo. O Islão e a

Construção do Espaço Cultural e Social Macua. p. 213)

Para estreitar ainda mais os laços de sociabilidade uma nova língua comercial foi

inserida o Suaíli (ou Ki-suaíli). A chegada de comerciantes arabizados no continente

africano fez difundir essa língua ao longo da costa oriental africana, mas

especificamente desde a Somália, passando por Moçambique, Lamu, Pemba, Monbaça,

Zanzibar, Comores, Maurícias e expandindo para o interior ao longo dos séculos. O

objetivo da língua Ki- Suaíli era facilitar a comunicação entre os povos arabizados que

buscavam por riquezas e escravos. Mais tarde, com a colonização dos portugueses, a

língua oficial de Moçambique passou a ser o português. Apesar de terem línguas bem

diversificadas, os povos de Moçambique compreendiam inúmeras delas, e falavam o

português e outras línguas locais [7].

Com tantas influências, Moçambique se tornou um mosaico de etnias, além dos

suaílis que eram mulçumanos e foram descritos acima, havia também os povos macuas

que surgiu a partir da união de mulheres macuas com imigrantes de Mombaça e também

de Zanzibar, onde havia uma grande concentração de árabes e indianos, os indonésios

que migraram para a costa oriental africana e levaram diversos produtos agrícolas, os

indo-europeus que vinham da Europa e da Ásia e tinha uma língua comum. Os Codjás

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eram comerciantes e adotaram o islamismo como a sua religião. Os Hindus também

eram comerciantes e grandes agricultores. Os Memanes tinham características bem

parecidas com os Hindus, mas a sua religião era bem diferente, pois eles eram

mulçumanos ortodoxos. Os portugueses que levaram o cristianismo para Moçambique e

fundaram algumas igrejas na região com o objetivo de civilizar os povos, e muitos

outros.

Com tanta diversidade entre os povos, a disputa pelo controle político e

comercial foi inevitável e o século XIX foi um divisor de águas, pois a demanda por

produtos se intensificava no campo da importação e da exportação. A presença de

grandes navios e a praticidade do contato em contatar com outros comerciantes por

estarem no litoral fomentava ainda mais o comércio. [9]

B. G. Martins ainda afirma que os aspectos geográficos no Oceano Índico

facilitaram essa transação com a Costa da Arábia e que isso foi muito importante para

os laços de sociabilidade entre os comerciantes mulçumanos. Assim, o Norte de

Moçambique, Madagascar, Comores e Zanzibar se tornaram verdadeiros pólos

comerciais no final do século XIX e início do século XX [13]. O tráfico negreiro desde

o século XVIII já era praticado e muito lucrativo. Mas no século XIX ele foi maciço e

milhões de escravos foram vendidos. A América do Sul foi a que mais recebeu cativos

até o início do XX [3].

Medeiros afirma que ao longo do século XVIII e XIX o tráfico negreiro

suplantou o comércio do marfim, e que todos os chefes suaílis do Norte de Moçambique

participaram, assim como os portugueses, brasileiros e franceses [10].

“No comércio esclavagista estiveram envolvidos muitos chefes negreiros

do interior que, por razões políticas e econômicas do tráfico e da

necessária reestruturação do poder supra linhageiro usaram o Islão

para se sobrepor as regras dos clãs e das linhagens matrilineares e para

cooptarem os filhos para as suas estratégias na montagem das redes do

comércio”. (MEDEIROS, Eduardo. O Islão e a Construção do Espaço

Cultural e Social Macua. p. 212-213)

Para tentar organizar o comércio em Moçambique foi necessário fazer uma

divisão para evitar diferentes conflitos. Com a proibição do tráfico de escravos nos

portos portugueses, foi preciso fazer manobras muito arriscadas para dar continuidade a

essa prática e com isso às comunidades islamizadas ficaram com a comercialização no

norte e os afro-portugueses responsáveis pelo comércio mais ao sul [12].

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Rita A. Ferreira analisa as influências mulçumanas e entende o quanto elas

foram marcantes e cada vez mais incorporadas nos sultanatos de Angoche e de

Zanzibar. Um exemplo muito utilizado em sua análise é a produção de tecidos que

impulsionou o comércio nessa região, e esses tecidos eram comercializados como

moeda de troca e vendidos a altos preços gerando riquezas e poder político [5]. Zonta

também escreve sobre as transformações comerciais no Índico a partir de 1850 quando

o mercado era predominantemente escravista. Mais tarde, em meados do século XX, o

comércio de escravos, ouro e marfim vai perdendo espaço por conta da fiscalização.

Novas mercadorias como as sementes oleaginosas, café, tabaco, algodão ganham espaço

na economia de Moçambique e por conta da demanda dos novos produtos agrícolas, a

mão de obra fica e ela passa a ser remunerada. [12].

Durante todo século XIX, funcionários da coroa registraram as transações

comerciais que ocorriam no Índico, diferentes tratados de comércio foram realizados

entre mulçumanos, árabes, persas e portugueses [2]. Um manuscrito do século XIX

informava sobre as transações comerciais, políticas e manufaturas que vinham da

Arábia, Pérsia e Índia. Em oito de abril de 1827, uma carta de João Manuel Silva

endereçada ao Rei Abdrame mostra a importância da aliança política para o crescimento

do comércio, o parecer sobre: Tratados de Comércio com o Irman de Mascate e com o

Rei Abderame de Madagascar e Proteção ao Régulo de Quissumbo, ainda informa

sobre diferentes produtos que saem de Madagascar como; gado, arroz, milho, além da

grande quantidade de marfim, como também indica sobre diferentes produtos de

manufaturas que eram destinados a Madagascar [11].

Contudo, é possível observar que existe entre esses povos ações muito

conectada, e essas alianças resultaram na circulação de pessoas, produtos, práticas e

saberes, que veio a sustentar a dinâmica comercial no Índico durante todo o século XIX

e início do XX.

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REFERÊNCIAS:

1-ANDRADE Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL. .

- Lourenço Marques: Imprensa nacional, 1910.

2- BAYLY. A .W. Anuário da Colônia de Moçambique. Lourenço Marques. 1948.

1949. 1951

3- CURTIN, Philip. et. al. African History. Boston: Litlle Brown, 1978.

4- FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço

Marques ao Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

5- FERREIRA, Rita Antonio. Povos de Moçambique: História e Cultura/ Rita Antonio

Ferreira. Porto, Afrontamento, p. 378, 1975.

6- HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e XVII: Estudos Sobre Fontes, Métodos

e História. Lunda, Kilombelombe, 2007.

7- MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando

Moçambique / A. J. De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa: Prelo editora, 1970.

8- MARQUES, Lourenço. Moçambique: Documento Trimestral/ Lourenço Marques,

Imprensa Nacional, 1935 n.p.

9- MARTINS, B. G., “On some members of the Learned Class of Zanzibar and East

African in the Nineteenth Century”. Boston, Boston University, 1971.

Disponível em;

<http://www.jstor.org/discover/10.2307/216528?sid=21106336645783&uid=70&uid=2

134&uid=3737664&uid=2129&uid=4&uid=2 [1]> Acessado em 08 de Mai 2015.

10- MEDEIROS, Eduardo. O Islão e a construção do <espaço cultural e social Macua>.

In: Representações de África e dos africanos na história e cultura: séculos XV a XXI.

Ponta Delgada: Centro de História de Além-Mar, 2011. p.195-280. (Coleção Estudos &

Documentos; 10).

11- SILVA, João Manuel da. Parecer sobre: tratados de comércio com o Irman de

Mascate e com o rei Abderame de Madagascar e proteção ao régulo de Quissumbo.

Lisboa. 1827.

12- ZONTA, Diego. Moçambique e o Comércio Internacional das Oleaginosas (1855-

1890)/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa (Tese de Doutorado), 2011.

Disponível em;

<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/6957/1/ulfl118294_tm.pdf[01]> Acessado em

18 de Jun 2016.

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13- ____________ “Moçambique” no Século XIX: do Comércio de Escravo ao

Comércio Legítimo/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa, (Tese de pós

graduação), 2012.

Disponível em;

<http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/4320/3380[01]> Acessado

em 21 de Jun 2016.

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ANEXO 1

Exemplos de Fichamento da bibliografia

Machado , A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A.

J. De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970.

O TERRITÓRIO DE ANGOCHE

“Séculos atrás, negros islamizados da Costa Suahili, rumaram seus batéis

demarcadores para os mares do Sul, na busca de riquezas e mercados. Navegando junto

à costa, esquadrinharam enseadas e canais, procurando clientela entre o gentio, a quem

atiçava a cobiça, deslumbrando-o com panos coloridos”. (Pg. 8)

“Estabeleceram- se os mulçumanos, onde o negócio se tornou rendoso e a

segurança natural o consentiu. E os mercados tornavam-se feitorias nos locais bem

defendidos e ao abrigo das pilhagens do gentio”. (Pg. 9)

“Atrás dos mercadores, retardados no regresso pela sorte dos negócios, novas

levas de imigrados se lhes vieram juntar. Assim nasceram as feitorias mulçumanas da

Costa moçambicana”. (Pg. 9)

“Na sua Aventura mercantil, os mulçumanos visitaram a ilha de Angoche. As

visitas repetiram-se”. (Pg.9)

“Frotas de mercadores convergiam para Angoche. Intenso era o intercâmbio com

as restantes feitorias dispersas pela costa”. (Pg. 9)

“Cedo Angoche se tornou o maior potentado mulçumano a sul de Moçambique.

O seu governante adotou o título de sultão e conseguiu impor a sua orientação política

às restantes feitorias nascidas da mesma aventura”. (Pg. 9)

“O Comércio de permuta foi o prólogo do negócio mais ambicioso pelos

islamitas – o tráfico de escravatura. E todos os estabelecimentos mulçumanos depressa

se tornaram mercados negreiros, para o que usaram de hábil política, incitando os

nativos a rapina, fornecendo-lhes armas, forjando intrigas, alimentando-lhes a cobiça,

instigando-os às lutas tribais e acabando por convidá-los a venda dos prisioneiros

conseguidos. E o tráfico negreiro tornou-se o negócio quase exclusivo dos mercadores.”

(Pg. 9-10)

(Pg. 22-111) Curso das águas

“A terra moçambicana desce em suava declive, do interior para o oceano, que

lhe acolhe os cursos de água como concha imensa. Os sistemas hidrográficos têm uma

orientação geral que os dirige para o Oriente, escoando as águas no Índico e

compartimentando o território em faixas transversais”. (Pg.22)

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(Pg. 112-117) Os Mouros Suaílis

“Os árbes Sabeus se acompanhavam já de escravos negros, o que nos leva a

aceitar a possibilidade de contactos comerciais, nessas épocas recuadas, entre os portos

arábicos e a Costa africana vizinha”. (Pg. 112)

“Onde se fixavam, instalavam burgos espaçosos e confortáveis, protegidos por

muralhas ou organizações defensivas, à maneira da sua terra. Consolidada a ocupação,

passavam a explorar o Comércio do Sertão, colhendo das caravanas negros que desciam

ao litoral, as rica pedrarias, marfim, o oiro, as peles, a cera, madeiras preciosas, ou

fragantes essências, que permutavam por tecidos berrantes e adornos garridos, joalheria

e armas com que atiçavam a cobiça do nativo”, (Pg. 113)

“Cedo as feitorias monopolizaram o comércio do Índico. No século X todo o

comércio entre as costa orientais africanas e os portos dos arábicos e indianos estavam

nas mãos dos árabes de Oman e dos Sirazianos da Pérsia”. (Pg. 113)

“Das feitorias partiram frotas em busca de novos mercados. Os negros das

enseadas, angras e rias que bordejam o sertão, viviam deslumbrados a chegada dos

pangaios mouriscos, que lhes ofereciam tecidos berrantes, cabaias vistosas, pulseiras e

colares, em troca de produtos do mato”. (Pg113)

“O estabelecimento mercantil foi assim, de início um processo pacífico, e dele

nasceu uma população mestiçada que deu origem aos primeiros núcleos Suaílis que

habitam o litoral”. (Pg113)

“Alianças de família originaram a hegemonia de alguns sobre outras. Quiloá

estava no seu apogeu à chegada dos Portugueses. Em Sofala colheu o oiro que a

enriqueceu e cujo exclusivo do comércio chamou a si”. (Pg. 114)

“O negócio de armas que introduziram, fez surgir outro muito mais lucrativo, o

da escravatura” (Pg. 114)

“No século X todo o comércio entre as costas orientais africanas e os portos

arábicos e indianos estavam nas mãos dos Árabes de Oman e dos Sirazianos da Pérsia.

(Pg.128)

“Das feitorias partiam frotas em busca de novos mercados. Os negros da

enseada, angras e rias que bordejam o sertão, viram deslumbrados a chegadas de

pangaios mouriscos, que lhes ofereciam tecidos berrantes, cabaias vistosas, pulseiras e

colares, em troca dos produtos do mato. O contacto foi estabelecido e repetido até se

tornar habitual. Periodicamente trazidos pelos ventos da monção, lá surgiam de novo os

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pangaios dos mercadores. Os negros acorriam ao mercado que se estabelecia.

Fundeados os navios, descarregavam-se as arcas no areal, e dava-se início a feira. Esta

demorava-se na espera das caravanas atrasadas pelo sertão. Havia então que aguardar

ventos favoráveis de monção. E durante a espera, os mercadores, ao jeito mulçumano,

tomava as mulheres da terra. Quando finalmente zarpavam, levavam os navios pejados

de ricos produtos permutados; na terra deixavam descendência e promessa de regresso.

E mais tarde voltariam, para se estabelecer, se o negócio fosse lucrativo. O

estabelecimento mercantil foi assim, de início, um processo pacífico, e dele nasceu uma

população mestiçada que deu origem aos primeiros suaílis que habitam o litoral. (Pg.

128)

“O mestiçamento intensificou-se. Nas populações resultantes podia

reconhecer-se agora a longínqua origem persa-xirazi ou árabe-omanita, nos traços

enobrecidos dos habitantes das cidades-feitorias (...) Havia-os por toda a costa, de

Sofala para o Norte. Moçambique era então um importante entreposto de comércio,

governado por um xeque mouro”. (Pg.129)

POVOS DE MOÇAMBIQUE

“Ao Norte de Moçambique, sobretudo no litoral, a influência maometana é

considerável”. (Pg. 140)

“Ela é agora representada por uma costa de indianos islamitas – os monhis – que

tem na mão quase todo o pequeno comércio da costa oriental. Esta influência é

altamente nova para o nosso prestígio, pois, moralmente, os indígenas sofrem muito

mais influências dos monhés que os portugueses” (Pg. 141).

“Todas as línguas nativas falada na província de Moçambique pertencem a

grande família lingüística Bantu, a mais importante de toda a África Negra, quer pelo

número de gente que a falam, quer pela sua extensão geográfica” (Pg. 147)

(Pg. 118-586) Actividades habituais

“A penetração do continente africano pelos comerciantes arabizados, na

procura de riquezas e escravos, fez difundir esta língua pelo interior, tornado-se deste

modo a língua comercial ou veicular em vastas regiões.” (Pg.160)

“O Ki- Suaíli é falado ao logo da costa oriental africana desde a Somália a

Moçambique, nas ilhas e arquipélagos fronteiros (Lamu, Pemba, Monbaça, Zanzibar,

Comores, Maurícias) atingindo para o interior, com a sua expansão no passado século,

as nascentes do Congo. (Pg.161)

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“O vestuário é rudimentar entre as populações pagãs mais primitivas. Mas no litoral,

sobretudo nas áreas de António Enes e Moma, as mulheres vestem com imenso gosto e

colorido, enfeitando-se com lenços berrantes e adornos delicados e de bom gosto.

Surpreende o visitante a beleza dos trajes, a garradice e o colorido das <<capulanas>> o

aspecto airoso e agradável da apresentação feminina”. (Pg. 220)

“Outros potentados mulçumanos se sediam; Zanzibar, Pemba, Ampaza,

Mombaça, Melinde, Patta, Lamu, Brava, Mogadoxo” (Pg.368)

“Os estabelecimentos mulçumanos mantinham entre si estreitas relações de

comércio, cultura e religião e estavam, não poucas vezes, ligados por mútuos interesses

e íntimas alianças”. (Pg.367)

“Podemos portanto concluir: A colonização mulçumana do levante africano tem

origem na emigração agentes persas de Shiraz e árabes de Omam e costa meridional da

Arábia, fugidas as perseguições político-religiosas. A estas, outras se juntariam, ao

longo dos séculos, e comerciantes, aventureiros, familiares da mesma ou doutras

proveniências. Do demorado contacto e permanência entre os nativos das terras que lhe

escolheram para o novo lar surgiu a mestiçagem , e nasceu um novo tipo racial, os

suaílis, que os nossos cronistas apelidaram de Mouros. Irradiando das feitorias onde

inicialmente se estabeleceram, viriam mais tarde a multiplicar-se por todas as ilhas do

litoral. Quiloá e Zanzibar sua tributária, eram povoados de gente Moura de linhagem

predominantemente Shirazi. E foi destas cidades que o Islamismo partiu para se

assenhorear do litoral moçambicano.” (Pg. 374-375)

“A política unificadora dos sucessivos sultões do Oman faz actuar, com forças

convergentes, as diferentes colônias mulçumanas contra o domínio português. As

antigas feitorias mulçumanas, de remota origem perso-shirazi, acabam por aceitar

governantes árabes, nomeados pelo sultão de Zanzibar, os quais detiveram o poder

durante século e meio, para serem substituídos mais tarde pelos ingleses, que se

assenhorearam de toda a costa, a partir do que estruturaram a hoje desfeita África

oriental Inglesa”. (Pg.388)

“E assim que as dependências mulçumanas da costa moçambicana se tornaram

subordinadas aos sultões de Zanzibar, de quem atacava directivas de governação e a que

ficaram avassaladas e tributárias” (Pg.388)

(Pg. 587-611) Aspectos Econômicos

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“Têxteis – copra, sisal – algodão e sumaúma, oleaginosas – caju, amendoim,

coco (e com diminuta produção de gergelim, mafurra e rícino) Farinosas- arroz”. (Pg.

602)

“O comércio praticado pelos nativos caracteriza-se fundamentalmente pela

permuta de generos alimentares”. (Pg.606)

“Todo o comércio efectuado no mato e éreas rurais é feito através de lojas e

cantinas, que se dedicam ao comércio geral, transaccionando produtos necessários à

manutenção dos nativos, sendo os mais procurados os panos, lanternas, chapéus,

gêneros alimentícios preparados (farinha, conservas, bebidas), tabaco bicicletas, contas

colares, artigos de higiene (sabonetes, pastas, loções). Grande número dessas lojas são

exploradas por comerciantes asiáticos”. (Pg. 606)

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ANEXO 2

Exemplo de fichamento de fontes

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques

ao Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

Pg 3

DESCRIÇÃO DA COSTA DE MOÇAMBIQUE

A costa de Moçambique

De Lourenço Marques ao Bazaruto.

1° “Esboço Histórico – No anno de 1502, uma das naus da Armada de Vasco da

Gama, do commando de Antonio do Campo, surprehendia por uma tormetosa procella

no travez do Cabo da Corrente, foi de corrida para o poente até encontrar abrigo n’ uma

espaçosa Bahia”.

4° “Vinte e dois annos mais tarde Lourenço Marques, Antonio Caldeira, Sahiados

de Moçambique a bordo d’um pangaio em viagem de reconhecimento da Costa para o

S., exploraram o Reio Reus (Limpopo), o Maputo e o Espírito Santo e, subindo o Rio de

Lagôa, verificaram ser errada a supposição de Antonio do Campo a respeito da origem

d’este rio”.

Pg 4

“Mais tarde, não se sabe quando, nem porquem, a designação Bahia da Lagôa ou

da Alagôa foi transferida para outra muito mais ao S. (Alagoa Bay), mas ainda hoje é

universalmente conhecida por Bahia da Lagôa (Delagoa Bay), a Bahia que só os

portugueses chamavam de Lourenço Marques”.

“Além de mandar um navio todos os annos ao resgate de marfim, nada mais

fizeram os portugueses para manifestar a sua soberania nas terras de Lourenço Marques,

e por isso, os hollandêses em 1721, se estabeleceram sem opposição na margem

esquerda do rio do Espírito Santo, onde permaneceram, até que, dizimados pela febre,

tiveram de retirar-se, abandonando uma pequena fortificação”.

As principaes vias de communicação com o sertão eram os rios que desagúam na

Bahia, percorridos pelas embarcações dos negociantes asiáticos, que iam a grande

distancia comprar, a troco de artigos da Europa e a da Índia, mendobi, urzella, cera,

couros e marfim, que depois vendiam as feitorias a presidio, os quaes exportavam esses

productos em navio de vela, pangaios e nos vapores da Union Line”. (pg 4-5)

(Pg 39)

“Produções - O Districto de Gaza têm uma flora riquíssima, encontrando-se nas

florestas boa borracha , excellentes madeiras, como o ébano preto e vermelho, e por

toda a parte belas postagens; abunda a caça e o gado bovino e caprino, apesar das razias

das últimas guerras.”

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“O commércio é exercido por europeus e mais ainda por asiáticos, que,

recebendo as suas mercadorias pelo rio Limpopo no Chai-Chai, as espalham por todo

districto e parte do de Inhambene, quer em embarcações que sobem o rio e seus

affluentes, quer, pelas estradas, as costas dos pretos ou em Carretas”.

“A exportação do Limpopo é, em pequena escala, milho, borracha e gado”.

(Pg 51)

“Inhamebe – Exporta café, borracha, algum marfim, cera e sementes oleaginosas”.

(Pg 57)

ARCHIPELAGO DO BAZARUTO

Communicação e Commercio

“As ilhas de Bazaruto, especialmente ade Santa Carolina, tiveram por meio de

lanchas a vela, communicações freqüentes com o continente fronteiro”.

“Desde que este archipelago pertence a companhia, são poucos os negociantes

ahi estabelecidos. Antigamente, principalmente na epoca da pesca das perolas, havia

em Bazaruto muitos negociantes aziaticos, sendo o principal commercio a permuta de

pólvora, armas e enxadas por perolas e aljofares.”

“Também com os negociantes comprar no continente fromendoir, urzella, cera,

marfim, etc.”