Especial Azinhaga

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20 Maio 2010 | O MIRANTE 32 | ESPECIAL AZINHAGA - FESTA DO BODO O bodo é uma dádiva de alimentos aos pobres. Antigamente eram as casas abastadas da Azinhaga, Golegã, que ofereciam alimentos aos mais necessi- tados e vestiam as raparigas. Com o passar dos anos o ritual passou a festa, que se realiza de quatro em quatro anos. Agora é a população que contribui com quotas mensais, nomeadamente, para vestir as raparigas que transportam tabuleiros enfeitados durante os três dias de procissão. No ano que antecede a festa, relançada em 1999, a população trabalha para que fique tudo num brin- quinho. As casas são caiadas e as mulheres fazem flores para enfeitar as ruas. Vítor Guia, actual juíz da festa e presidente da junta de freguesia da Azin- haga, entrega a Coroa do Espírito Santo a Manuel Veiga, proprietário da Quinta da Broa na tarde do próximo domingo, 23 de Maio, que vai ser o juz da festa em 2011. Entrega da coroa ao novo mordomo é no domingo Festa do Bodo da Azinhaga de 2011 já está a ser preparada A passagem de testemunho tem sempre lugar no dia de Pentecostes e marca o arranque da preparação dos festejos. Às 15h45, a Coroa sai da Capela do Es- pírito Santo para a Igreja de Nossa Sra. da Conceição e, depois da missa, sai em procissão, pelas 17 horas, com todos os estandartes até à Quinta da Broa, a cerca de um quilómetro e meio de distância. Após receber a Coroa do Espírito Santo, o novo ju´´iz abre as portas de sua casa e convida todos a comer e a beber. Como manda a tradição. foto arquivo O MIRANTE

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20 Maio 2010 | O MIRANTE32 | ESPECIAL AZINHAGA - FESTA DO BODO

O bodo é uma dádiva de alimentos aos pobres. Antigamente eram as casas abastadas da Azinhaga, Golegã, que ofereciam alimentos aos mais necessi-tados e vestiam as raparigas. Com o passar dos anos o ritual passou a festa, que se realiza de quatro em quatro anos. Agora é a população que contribui com quotas mensais, nomeadamente, para vestir as raparigas que transportam tabuleiros enfeitados durante os três dias de procissão.

No ano que antecede a festa, relançada em 1999, a população trabalha para que fique tudo num brin-quinho. As casas são caiadas e as mulheres fazem flores para enfeitar as ruas. Vítor Guia, actual juíz da festa e presidente da junta de freguesia da Azin-haga, entrega a Coroa do Espírito Santo a Manuel Veiga, proprietário da Quinta da Broa na tarde do próximo domingo, 23 de Maio, que vai ser o juz da festa em 2011.

Entrega da coroa ao novo mordomo é no domingoFesta do Bodo da Azinhaga de 2011 já está a ser preparada

A passagem de testemunho tem sempre lugar no dia de Pentecostes e marca o arranque da preparação dos festejos. Às 15h45, a Coroa sai da Capela do Es-pírito Santo para a Igreja de Nossa Sra. da Conceição

e, depois da missa, sai em procissão, pelas 17 horas, com todos os estandartes até à Quinta da Broa, a cerca de um quilómetro e meio de distância. Após receber a Coroa do Espírito Santo, o novo ju´´iz abre as portas de sua casa e convida todos a comer e a beber. Como manda a tradição.

foto arquivo O MIRANTE

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O MIRANTE | 20 Maio 2010 ESPECIAL AZINHAGA - FESTA DO BODO | 33

“Só pela união das pessoas vale a pena”Vítor Guia, 54 anos, presiden-te de Junta de Freguesia

Para o actual presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga, Vítor Guia, a Festa do Bodo tem muito valor, destacando-se a união das pessoas nesta época. “Pela maneira como se envolvem, dão as mãos, enfeitam as ruas, pelas casas caiadas de branco… Só por isso vale a pena fazer a festa”, refere. Vítor Guia diz que a festa tem-se imposto por ela própria mas que a vila ganha outro embelezamento que per-dura nos anos seguintes. O autarca reconhece que desde que José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998, a Azinhaga passou a ser con-hecida no mundo. “Temos 300 visitantes estrangeiros por ano à Fundação e que viajam com o objectivo de ver a terra onde nasceu José Saramago”, indica.

“A juventude tem que entrar no espírito da festa”Francisco Asseiceiro, 57 anos, gerente de oficina/serralharia

Francisco Asseiceiro sabe que esta é uma festa de origens muito antigas pelo defende que é necessário dar continuidade à mesma, cativando a juventude a participar. “Para que recordem os tempos pas-sados e perpetuem esta tradição da Azinhaga no futuro”, aponta. A partilha do bodo também é um momento significa-tivo. O antigo presidente da junta considera que a Azinhaga tem sido procurada por mais visi-tantes após a atribuição do Prémio Nobel a José Saramago, visitando não só a Fundação como tam-bém à procura de outras referências do escritor.

“As mulheres fazem as flores”António Rodrigues, 64 anos, serralheiro

António Rodrigues defende que a Festa do Bodo é uma tradição que deve continuar porque é uma festa antiga que une os azinhagenses. “As mulheres participam em força a fazer flores, de-pois temos a tradição da largada dos touros, que traz aqui muita gente, e finalmente o chur-rasco”, enuncia. “É tudo de borla e isso também conta”, sublinha. Não nota muitas diferenças na aldeia mas relembra a grande afluência de público no dia da in-auguração da estátua, junto ao jardim. “No dia-a-dia também há muitos que passam na estrada e param para ver a estátua, o que dantes não acontecia”, refere.

“Uma tradição que nunca deve acabar”Maria Júlia Gramacho, 64 anos, auxiliar de jardim

Para Maria Júlia Gra-macho, a Festa do Bodo é uma tradição que nunca deve acabar uma vez que representa o espírito de partilha na verdadeira acepção da palavra. “An-tigamente eram os ricos que faziam isso. Matavam a vaca e chamava-se a festa do Bodo porque da-vam a carne aos pobres”, explica. A habitante não considera que a vila mu-dou muito desde que foi atribuído o Prémio Nobel a José Saramago. “Até porque há muitas pessoas que não gostam da está-tua. Dizem que é muito grande”, sublinha apesar de notar que, de vez em quando, a vila recebe algumas excursões.

“Só as virgens é que podiam participar”Otelinda Nunes, 86 anos, aposentada

Otelinda Nunes recorda a festa desde que nasceu e sente diferenças notórias na tradição, considerando que agora há mais música e espectáculos quando, em tempos idos, eram apenas os três dias de Bodo. “Quan-do era pequena lembro-me da minha mãe contar que só participavam raparigas virgens à Festa do Bodo”, recorda acrescentando que, hoje em dia, “já não estão com estas cerimónias”. Otelinda Nunes considera que não se dá o devido valor ao facto de José Saramago ter recebido, em 1998, o prémio Nobel da Literatura pelo que não nota grandes diferenças na aldeia. “No meu caso, chorei de alegria quando vi um filho da terra receber um Prémio Nobel”, recorda.

“É a festa da partilha”Sónia Félix, 38 anos, cabe-leireira

Apesar de não ser natu-ral da Azinhaga, Sónia Félix costuma assistir à Festa do Bodo, que con-sidera como “uma festa de partilha”, costumando também contribuir com o pão. “É uma tradição que anima a vila e que mostra às gerações mais novas o que os antigos faziam, por isso é importante que se realize”, considera. Com um salão aberto no centro da vila, a poucos metros da estátua de José Saramago, considera que a Azinhaga não mudou muito desde que este ganhou o Prémio Nobel e que a vila pode-ria ter tirado um maior partido deste facto.