ESPECIAL CENTENÁRIO DE JUAZEIRO

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 1 Juazeiro do Padre Cícero 100 anos Especial de sonhos e realizações

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de sonhos e realizações Juazeiro do Padre Cícero 1 CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 1

Juazeiro do Padre Cícero

100 anosEspecial

de sonhos e realizações

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20112Vila do Joazeiro - A Terra de Cícero

Três pés de Juá, mercadores e tropeiros

Da simbiose entre um padre e sua gente. O grande milagre do lugar

Ele é chamado de Cícero Romão Batista, o padre Cícero do Joa-seiro ou Juazeiro. Padim, santo

Popular do Nordeste, homem religioso, político, filho dedicado, irmão aten-cioso, administrador de conflitos e de pessoas, idéias e ideais. Além de con-selheiro do povo e acima de tudo obe-diente, fiel a Igreja Católica Apostólica Romana, que mesmo tendo perdido as ordens para celebrar, casar e batizar, não abandonou a batina, nem os fiéis e romeiros até o último dia dos seus 90

anos, quando faleceu em 20 de julho de 1934.

Suspenso do sacerdócio por Roma, padre Cícero encontrou nos braços dos juazeirenses e tantos outros nor-

destinos o conforto e carinho que precisava num momento tão difícil da vida. A imagem dele não está no altar da Igreja, mas nos corações e altares das casas.

O nome na placa de uma das princi-pais ruas da cidade, na avenida de liga-ção entre Juazeiro e o Crato, em praças, lojas, escolas, faculdades, órgãos públi-cos e privados. Lembrando que muitos ‘Cíceros e Cíceras’ só receberam esse nome em homenagem a ele. Certo que até hoje os cartórios do Cariri registram muitos filhos com o nome do padre.

A história de vida então, já trans-cendeu as fronteiras do Nordeste e até do Brasil há muito tempo. A trajetória polêmica de um padre, eleito primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, depois deputado estadual e federal e até vice-governador, é objeto de pesquisas e discussões não só pela própria Igreja, que estuda uma possibilidade na rea-de na rea-bilitação do sacerdote. Estudiosos con-tinuam intrigados em entender, ques-tionar, admirar, relatar e comparar tudo que aconteceu de 1889, ano do primeiro milagre na Vila Joaseiro até o Juazeiro de hoje, Centenário.

A origem do nome e das terras na Fazenda Tabuleiro Grande  As  terras  do  pequeno  povoado  Jo-aseiro  –  como  grafava  a  escrita  da época,  abrigavam  apenas  uma  pe-quenina capela, meia dúzia de casas, poucos moradores e três grandes pés de  Juá  –  que  segundo os primeiros habitantes foi o que posteriormente deu nome à  vila.  Sob a  sombra das árvores  espinhentas  mercadores  e tropeiros  descansavam  do  seu  iti-nerário ou aproveitavam a folga da viagem  para  vender  seus  produtos até pernoitar. No  livro  “Padre Cice-ro: Poder, Fé e Guerra no Sertão”, do jornalista  cearense Lira Neto,  algu-mas  páginas  dedicadas  a  este  capí-tulo detalham a história da época do “Juazeiro primitivo”.  

Um dos trechos diz exatamente assim: “As terras pertenciam originalmente à fa-zenda Tabuleiro Grande, propriedade do brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro (...) O neto dele, Padre Pedro Ribeiro da Sil-va, sacerdote recém ordenado pelo Semi-nário de Olinda, lançou em 1827 a pedra fundamental da histórica capelinha dedi-cada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem de madeira fora mandada trazer diretamente de Portugal. A capela fazia companhia às outras poucas edificações da fazenda: casa principal, senzala e casa de farinha – o engenho para moer cana e fabricar rapadura, então base da eco-nomia local. Em torno desse núcleo pri-mitivo, nasceu a acanhada povoação do

Juazeiro(...)” Aos poucos o vilarejo foi crescendo

influenciado pelo convívio das pessoas que ficavam debaixo dos pés de juá ou mesmo a rezarem na capelinha. Devido a esse crescimento vertiginoso da Vila Joaseiro, muitos proprietários de terras começaram a construir suas casas, au-mentando a produtividade de suas roças.

A chegada do recém-ordenadoDe acordo com relatos históricos,

próximo ao Natal de 1871 o professor Simeão Correia de Macedo convidou o padre Cícero, recém-ordenado e chega-do de Fortaleza, para celebrar a primeira missa na Vila Joaseiro. Nessa época, cer-ca de 20 famílias já residiam em torno da capela de Nossa Senhora das Dores, que estava sem padre há algum tempo.

“Foi tão empolgante a presença do pa-dre Cícero naquele dia, que muitas pes-soas lhe pediram que todos os domingos ele celebrasse missa no vilarejo, porque havia carência da palavra de Deus. Padre Cícero, ainda sem igreja, aceitou o convi-te e, a cavalo, percorria a estrada todos os sábados, pernoitando na casa de amigos e no domingo cedinho celebrava a missa.

O povo foi gostando até que pediu para que ele ficasse em definitivo, coin-cidindo inclusive, com uma visão que ele teve de Jesus Cristo aparecendo na Capelinha, lhe pedindo para ‘tomar con-ta do povo’. E o padre Cícero entendeu isso como se fosse uma mensagem para

A história de Juazeiro do Norte co-meçou a ser escrita alguns anos antes do padre Cícero vir ao mun-do. Mas, a relação que há entre o município e o sacerdote, patriarca e fundador é tão forte que para falar de um, obrigatoriamente, toma-se como ponto de referência o outro.

cuidar daquela simples vila. A mudança definitiva ocorreu meses depois, em 11 de abril de 1872”, conta o escritor e me-morialista Geraldo Menezes Barbosa.

Beatas e moralização de costumesO pesquisador e escritor Daniel

Walker relata em um de seus trabalhos que o padre “ganhou a simpatia dos ha-bitantes, passando a exercer grande li-derança na comunidade. Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaura-da a harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atrain-do gente da vizinhança curiosa por co-nhecer o novo capelão.

Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, padre Cícero resolveu, a exemplo do

que fizera Padre Ibiapina, famoso mis-sionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira au-toridade”.

Lira Neto complementa na sua mais recente obra que as beatas recebiam das mãos do próprio Padre Cícero o manto preto da irmandade e passavam a residir na mesma casa que o sacerdote morava com a mãe e as irmãs, já que o pai fale-cera em 1862, fato que obrigou Cícero a deixar o Seminário do Padre Rolim, em Cajazeiras, na Paraíba. Só retornando aos estudos três anos depois, com a ajuda fi-nanceira do padrinho, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno, que bancou o ingres-so do afilhado no Seminário da Prainha, em Fortaleza, de 1865 até a ordenação de Cícero Romão Batista, em 1870.

Por Monike Feitosa

Mesmo suspenso das ordens, Padre Cícero continuou a evangelizar

Juazeiro quando ainda era fazenda Taboleiro Grande em 1827: por Assunção Gonçalves

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 3Maria de Araújo, o padre e a hóstia

Milagre muda história de uma pequena vila para sempre

O fato conhecido como “Milagre da Hóstia ou de Juazeiro” ocorri-do em 1º de março de 1889, numa sexta-feira de Quaresma, se re-petiu durante dois anos, sempre às quartas e sextas-feiras. Daí em diante a Vila do Juazeiro passou a ser considerado chão sagrado pelo povo e objeto de questiona-mento da Igreja Católica.

Segundo relatos da época, por causa do “Milagre da Hóstia” a primeira romaria aconteceu em

7 de julho do mesmo ano, domingo que marcava a festa cristã do Precioso Sangue. Os moradores da vila que não passavam de 400 se espantaram com aproximadamente três mil pessoas na comunidade. Daí em diante, nem o si-lêncio de Padre Cícero abafava o tal fenômeno, que já era chamado de “mi-lagre do Juazeiro”, pelos moradores e

Um movimento emancipacionista iniciado por eminentes cidadãos locais, entre os quais José André de Figueiredo, Joaquim Bezerra de Menezes, Francisco Nery da Costa Morato, Cincinato Silva, Manoel Vitorino da Silva e João Bezerra de Menezes recebeu mais tarde a adesão do Padre Cícero, do médico baiano Floro Bartolomeu da Costa, do padre Joaquim de Alencar Peixoto e do professor José Teles Marrocos, culminando com a vitória em 22 de julho de 1911, quando foi assi-nada a lei nº 1028, que elevou o povoado à categoria de Vila e sede do Município.

Um forte aliado do movimento de independência de Juazeiro foi o jornal O Rebate, o pioneiro da imprensa jua-zeirense, fundado pelo padre Joaquim Marques de Alencar Peixoto, em 18 de julho de 1909. No dia 4 de outubro de 1911, a Vila de Juazeiro foi inaugurada oficialmente, e o padre Cícero empossa-do como seu primeiro prefeito, ou Inten-dente, como se chamava naquela época.

No dia 23 de julho de 1914, através da Lei nº 1178, a Vila de Joazeiro foi elevada à categoria de cidade. Esta data,

visitantes. O termo “amiguinho” como

gostava de tratar as pessoas da comunidade se tornou ícone do padre Cícero. O homem de ape-nas 1,60 cm de altura, branco e olhos azuis fazia história da pe-quena vila a ponto de influenciar os moradores a construírem jun-tos o altar da Capela da Padro-eira. Em 1884, a vila recebeu a primeira visita do então bispo do Ceará, dom Joaquim José Vieira, que estava em comitiva pelo in-terior do Estado para conhecer as capelas e os padres.

Igreja reage e suspende ordens do padre

Logo o bispo da Diocese do Ceará tomou conhecimento da fama dos acontecimentos extra-ordinários e escreveu diversas vezes ao Padre Cícero cobrando explica-

ções. Dom Joaquim queria esclarecer de uma vez por todas que não havia milagre. Por isso, nomeou dois sacer-

dotes de sua confiança: pa-dres Clycério da Costa Lobo e Francisco Pereira Antero.

Ambos interrogaram dezenas de pessoas do po-voado, celebraram missa, assistiram as transforma-ções, examinaram a beata e escreveram em seu relatório que o fato se tratava de algo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra Comissão, constituída pelos padres Antônio Ale-xandrino de Alencar e Ma-noel Cândido, que afirma-ram não haver milagre. Dom Joaquim enviou relatório do Inquérito ao Vaticano, Por sua vez, Roma acatou posi-ção do bispo. Padre Cícero

ainda foi à Roma, mas de nada adiantou. Teve as ordens suspensas.

A luta pela emancipação políticaEm 1907, o povoado de Juazeiro  já havia alcançado um considerável ní-vel  de  desenvolvimento, mas  conti-nuava pertencente ao município de Crato. Isto começou a incomodar os juazeirenses,  surgindo  daí  o  desejo de independência.

porém, não é comemorada. Prevalece a data de criação do município. Em 9 de setembro de 1943, numa reunião reali-zada na Biblioteca Municipal foi adotada

a denominação de Juazeiro do Norte. Os outros nomes sugeridos foram: Juripeba, Cariris, Padre Cícero, Nordestina e Cice-rópolis.

“Padre Cícero é o maior benfei-tor de Juazeiro e a figura mais im-portante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro as Ordens dos Salesianos e dos Capuchinhos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aero-porto; construiu as capelas do Socor-ro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Asso-ciação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dina-mizou o artesanato artístico e utilitá-rio, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas cultu-ras; contribuiu para instalação de mui-tas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Ju-azeiro no cenário político nacional, transformando um pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.”

O legado do maior benfeitor Por Daniel Walker,

professor e pesquisador

Juazeiro quando ainda era fazenda Taboleiro Grande em 1827: por Assunção Gonçalves

Tela de Francisco Matos: proclamação da independência pelo padre Alencar Peixoto

Alenca Peixoto, Floro Bartolomeu, Zé Ferreira de Menezes e José Marrocos: lideres

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Cidadela de arte e ofíciosse reinventa com as mãos  Que  desafio  para  jornalistas,  pes-quisadores e escribas descrever em algumas linhas um pouco da cultura juazeirense. É de apertar o coração e enxugar as idéias. Não são 100 anos apenas  de  emancipação  política. Arte e cultura popular local também estão em festa para lá de centenária.

O secretário de Cultura Municipal, Fábio Carneirinho, por exemplo, diz que “2011 é o ano de alguns

Centenários, como é o caso de lapinhas e reisados que são merecedores de uma comemoração à parte, pela sua impor-tância no nosso cenário histórico e cul-tural. Existem ainda pessoas que traba-lham para alimentar as bandas cabaçais, a literatura de cordel, os cantadores de repente e o artesanato, um dos melhores do mundo” acrescenta.

O artista popular, Hamurabi Batista, presidente da Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte, entidade responsá-vel por administrar o Centro de Cultura Popular Mestre Noza, explica que bem antes do Padre Cícero vir celebrar aquela bendita missa de Natal, os moradores do povoado da pequena, pacata e anônima Fazenda Tabuleiro Grande, já costuma-vam fazer manualmente aquilo que se tinha dificuldade de comprar feito, como artigos em palha e madeira.

Filho do então professor, cordelista e artesão Abraão Batista, Hamurabi se sen-te orgulhoso por acreditar que a iniciati-va do pai na década de 80, em fundar um ponto de cultura na cidade, foi o divisor de águas para a valorização e reconhe-cimento dos artesãos da Terra do padre Cícero.

“O espaço físico do Centro Mestre Noza inaugurado em junho de 1983, com apoio da Funarte – Fundação Nacio-nal de Arte e INF - Instituto Nacional do Folclore, serviu para organizar a classe dos artesãos de Juazeiro do Norte. Com apoio do poder municipal da época, meu pai conseguiu reabrir e reformar esse prédio, que já abrigou a Polícia Militar e Cadeia Pública, e transformou um edi-fício antigo e abandonado num ce-leiro de arte, referência até hoje”, pontua Hamurabi.

Tudo de cultura popular

EXPEDIENTE:Diretor-presidente: Luzenor de Oliveira - Diretor de Conteúdo: Donizete ArrudaChefe de Redação: Jaqueline Freitas - Editor Caderno Especial: Wilton Bezerra JrReportagem e textos: Monike Feitosa - Projeto Gráfico e diagramação: Flávio Marques - Fotografias: Cícero Valério

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Wilson Bernardo

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ZCidadela de arte e ofíciosse reinventa com as mãos

Mestre Noza, 180 caracteresde genuíno apelo regional

Artesanato

O Centro Mestre Noza, como é mais  conhecido  popularmen-te  fica  na  Rua  São  Luíz,  Cen-tro  de  Juazeiro.  Hoje,  estão cadastrados na entidade, pelo menos, 180 artistas populares dos diversos ramos. 

Hamurabi faz questão de ex-plicar o porquê da classifi-cação “artista popular”. “O

artesão é toda e qualquer pessoa que fabrique objetos manualmen-te, sem ter que se preocupar em manter um determinado estilo. Já o artista contemporâneo de origem popular (ou artista popular), só fabrica peças que resgatem ou mante-nham o caráter regional” compara.

Ao entrarmos no reduto da arte jua-zeirense, constatamos que são inúmeros os objetos artísticos em madeira, barro, zinco (lata), vidro. De tudo que é produ-zido pela associação, apenas 15% ficam no Cariri, o restante é vendido principal-mente para Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país. Muitos trabalhos já foram até para fora do Brasil.

No Centro de Cultura Popular Mes-tre Noza, há peças de diversas cores, formatos, tamanhos e preços. As mais procuradas são esculturas sacras e fol-clóricas ( representações de mateu, ban-da cabaçal, reisado, etc) e cordéis. O lo-cal é aberto de segunda a sábado, mas durante os quatro primeiros meses do ano é preciso muita criatividade e união dos artistas populares, pois são os meses com baixa movimentação.

“Já teve dia aqui da gente dividir o lu-cro e cada associado ficar com dez reais. Assim como já teve dia de todo mundo ficar satisfeito”, lembra Hamurabi. Mas, para quem é apaixonado pela profissão e não pensa de jeito nenhum em se en-veredar por outros caminhos como o escultor Paulo Sérgio de Sousa, a dica: “Sou artista popular há doze anos, pai de família e graças a Deus sempre dá pra passar. Claro que tem dia que é preciso fazer algum trabalho por fora para não passar necessidade, mas sempre apa-rece alguém querendo comprar nossa arte” diz aliviado.

O sobrinho não teve como escapar do ramo artístico. Com apenas 23 anos, Hércules Modesto é um dos membros mais jovens da associação. O dom ele diz que veio de Deus, do pai, do tio e dos amigos do Centro Mestre Noza. “Ainda garoto, com uns doze para treze anos eu já vinha pra cá e ficava olhando eles trabalharem. Comecei a fazer uma peça, outra e hoje tenho quase o mesmo tem-

po de profissão que o tio Paulo Sérgio”, brinca. O jovem artista diz mais: “cada um tem um jeito de trabalhar. Aqui, a gente sempre aprende um pouco com cada artista. Mas, a arte fica tão parecida com o dono que só de olhar a gente sabe

quem esculpiu ou pintou mesmo se não colocasse o nome”, detalha.

Arte sem preço fica no acervo No Centro de Cultura Popular Mes-

tre Noza tem uma sala com inúmeros ob-jetos, mas sem preço. É o acervo cultural

"Claro que a data traz muitas expectativas po-sitivas. Pessoas movidas pelo clima com certeza vão procurar o Centro de Cultura para garantir uma lembrançinha com a cara de Juazeiro. En-tão, vão vir ao lugar certo porque tudo que está aqui dentro já é especial sem ter o nome do Cen-tenário, mas por ser de Juazeiro".

da associação. Ele não pode ser vendido, doado, trocado para nenhuma pessoa física ou jurídica. E para garantir a pre-servação da memória da arte popular ju-azeirense, até circuito interno de câmera reforça a segurança.

Dentre tantos nomes de peso da arte popular, o acervo guarda peças de Mes-tre Noza, Celestino, Zé Ferreira, várias da família Cândido. Tem ainda de Manoel Graciano, recém aposentado do trabalho artístico, de quem as peças aptas a co-mercialização, não resta nenhuma.

Dentre tantas imagens rústicas e co-loridas, uma das que mais emocionam os visitantes é uma escultura do padre Cícero em madeira pesada e com traços brutos. No verso a assinatura: NOZA, em letras garrafais. Hamurabi Batista, presi-dente da associação dos artesãos, conta que Mestre Noza, mesmo sem dar crédi-to ao próprio talento, fez a vontade do Padre Cícero e foi o primeiro artesão a esculpir uma imagem do sacerdote. A do acervo não é a primeira, mas é uma das primeiras experiências de Noza com o “Padim”.

(HAMURABI BATISTA)

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Se o assunto é literatura de cordel a editora de Juazeiro do Norte especia-lista no assunto é a Lira Nordestina. Em 1926, José Bernardo da Silva, romeiro de Alagoas, veio para Juazeiro do Norte pedir bênção ao “Padim”. Daí, começou as atividades como folheteiro, chamado o vendedor de cordel na época.

De lá pra cá Zé Bernardo criou a Ti-pografia Silva, que depois se chamou Tipografia São Francisco. Inquieto e empreendedor José Bernardo comprou os direitos de publicação, e de quebra, algumas máquinas tipográficas, de dois dos maiores poetas de cordel do Brasil:

Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde.

Na década de 50 a Tipografia São Francisco se tornou a editora de cordel mais importante do Brasil. Mas, apenas dez anos depois veio uma fase de dificul-dades para o comércio de folhetos em geral. Na mesma época, José Bernardo faleceu. Só em 1988 o Governo Estadual do Ceará comprou a Tipografia São Fran-cisco e, em seguida, deixou a editora sob os cuidados da Universidade Regional do Cariri (Urca) até hoje.

Diretamente, hoje, trabalham quatro pessoas. Indiretamente, dezenas de xiló-grafos que desenham em madeira e le-vam até a Lira para fazer a impressão do material. Entre eles, os famosos Walde-redo Gonçalves, José Lourenço, Abraão Batista e Stênio Diniz (neto de José Ber-nardo).

Um dos artistas mais atuantes é Cícero Lourenço, apaixonado por tipografia, cordel e xilogravura. está na oficina desde os sete anos de idade. Além do trabalho na Lira ele faz xilo e, por causa do Centenário, Cícero criou a coleção com 22 telas. Batizou a obra de

“História de Juazeiro – em xilogravura”. O trabalho rico em detalhes teve a gran-de influência e estímulo, sengundo ele, do xilógrafo Stênio Diniz. Nos painés em preto e branco a coleção retrata pesso-as, lugares e situações ao longo dos 100 anos de emancipação política; infeliz-mente Cícero Lourenço está sem apoio financeiro para comercializar cópias do trabalho.

Sobre o que é produzido mensal-mente pela Lira Nordestina, seu Cícero se sente orgulhoso. “Antes, a gráfica

só recebia visita quando era cliente querendo comprar, encomendar algo, agora não, quase todo dia tem gente aqui querendo ver nossa arte, querendo pesquisar o cordel, a xilogravura” comemora. Além de imprimir cordel, a Lira fabrica outras peças para atrair mais clientes e diversificar a atividade. Tem cerâmica, canecas de louça, objetos de papelão, madeira, chinelos, agendas, carimbos, camisetas, bolsas, enfim, uma variedade de objetos xilogravados pelos artistas de Juazeiro do Norte.

Cariri encantado e reconhecidoem música, dança e poesiaA riqueza do artesanato local se de-senvolveu  com  incentivos  do padre Cícero,  seja  na  palha,  na  madeira, zinco,  couro,  barro,  vidro  e  outros materiais. Mas, a cultura popular do Juazeiro passeia com encanto por di-versos segmentos da dança, música, xilogravura e literatura de cordel. 

Então, uma homenagem aos dança-rinos de côco como Mestre Dodô, cantadores de viola, de benditos,

como Dorinha e Maria do Horto; aos inúmeros grupos de reisado, entre eles, Mestres Raimundo e Antônio, her-deiros do Mestre Pedro, dona Fátima, herdeira do marido Mestre Sebastião e Mestres Valdir e Tarcisio, que já for-mam uma nova geração; no maneiro pau e bacamarte o Mestre Bigode, um dos mais famosos da cidade; no guer-reiro, com a pioneira Mestra Margari-da; na lapinha, Mestra Vanda de dona Tatai; bandas cabaçais, penitentes, aos artesãos ou artistas populares da cida-de, sejam do Mestre Noza ou do Horto; no ritmo e nas cores das quadrilhas ju-

Homenagem aos Mestres da Cultura

Aos falecidos e inesquecíveis represantantes da cultura popular de Juazeiro do Norte fica o regis-tro para: João de Cristo Rei, Mestre Noza, Ciça do Barro Cru, Mestre Miguel, dona Tatai, Mestre Pedro, Mestre Manoel Messias, Mestre Zequinha, Sebastião Cosmo, Mes-tre Cego Oliveira e tantos outros que lutaram pela preservação da cultura local, muitas vezes, no ano-nimato.

ninas do Gil, Flor do Sertão, Rojão Nor-destino e Xique-xique.

Na xilogravura e literatura de cor-del, temos Stênio Diniz. E por que nao lembrar do talento contemporâneo de

atores, músicos, compositores que es-tão contribuindo para uma nova iden-tidade, uma nova fase do Juazeiro do Norte, da Terra do Padre Cícero?

Para o Gerente de Cultura Popular da Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte, André de Andrade, os artis-tas contemporâneos já são muitos, mas os destaquse são o Mestre professor Benício, que mantém escola de músi-ca, o cantor e compositor Luís Fidélis, o próprio Secretário de Cultura, Fábio Carneirinho, sanfoneiro, cantor e com-positor do autêntico forró pé-de-serra acompanhado da revelação chamada Maurício Jorge.

"O Nordeste inteiro trabalha, come, dorme, mas quando pensa na cultura popular, na religiosidade e misticismo é na capital da fé, é aqui que o nordestino encontra alento para alma, beleza e encantamento" (ANDRÉ DE ANDRADE)

In memoriam

Lira Nordestina: a "impressão" do cordelf

Stênio Diniz, artista juazeirense

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Cariri encantado e reconhecidoem música, dança e poesia

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Juazeiro do Norte completa 100 anos. Os homens acostumaram-se a usar as marcações do tempo como símbolos poderosos. E um século é um desses exem-plos. Nada mais natural do que usar desse pretexto para celebrar as glórias do passado, as conquistas do presen-te e os desafios do futuro. No caso de Juazeiro, não fal-tam motivos para isso.

Nascida de um povoado miserável, sob a égide de um sacerdote desconhecido, a cidade conquistou sua independência após intensa luta política e social, poste-riormente confirmada por violentos combates armados. Por meio da ação pastoral e política de Padre Cícero Ro-mão Batista e todos quantos se uniram a ele, o projeto de uma nova comunidade no Cariri materializou-se ao

longo de cem anos. O desen-volv imento

comercial , r e l i g i o s o , turístico e

no setor de serviços foi a marca dessas

dez décadas. O Cariri jamais seria o mesmo após o nas-cimento e a consolidação de Juazeiro.

As celebrações do centenário tem, evidentemente, as necessárias (e mais do que justas) celebrações ao Padre Cícero, mentor, idealizador e pai do município. Debates entre historiadores, sociológos, teólogos e todos quantos se interessam pelo sacerdote e por suas conexões com Juazeiro ocorrem de maneira intensa. Longe se vai o tem-po em que havia preconceito contra Cícero e sua obra. Hoje, trata-se de entender e de decifar, passados tantos anos, seu legado e sua influência na vida e na História de Juazeiro do Norte e de seus habitantes.

O JC une-se a todos os juazeirenses nesse momento tão especial, que se constitui num marco histórico e num símbolo de consolidação do projeto de uma nova cida-de. As festividades que marcam os cem anos expressam o reconhecimento dos méritos de Juazeiro, mas é funda-mental que permitam a todos visualizar o futuro e tentar estabelecer metas para os próximos cem anos.

Uma cidade constrói-se a partir de sonhos. Foram eles que tornaram Juazeiro possível há cem anos. Mas, quais serão os novos sonhos? Aqueles que alimentarão o futuro, moverão as pessoas, firmarão as vontades e

darão margem aos pro-jetos vindouros? A terra do Padre Cícero deve co-meçar a vislumbrar essas questões, especialmente no marco de seu cen-tenário. Nada melhor e nada mais apropriado.

Passados cem anos, há problemas que persistem, contradições que continuam a se revelar e projetos que carecem de implementação. A contemplação desses desafios deve ser um projeto de toda a comunidade ju-azeirense e há de ser encampada por sua elite política, econômica e cultural.

Cem anos de sucessos e de vitórias, eis o legado da criação da maior cidade do Cariri. É fundamental que, para assim permanecer, Juazeiro assuma seus desafios como um projeto coletivo, de realização permanente, voltado para todos e não para um grupo específico de pessoas. Foi essa perspectiva generosa que fez de Jua-zeiro o que ela é. *O Editorial, veiculado na nossa última edição, é republicado hoje neste caderno especial do JC com tiragem de 20.000 exemplares).

CEM ANOS DE UM SONHOEditorial

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“Nas celebrações dos 100 anos de independência da terra do Padre Cícero, nada nos cus-ta rememorar que a marcante história de progresso da nossa cidade foi acompanhada pelo desenvolvimento do seu futebol. De um espaço mura-do pelo empresá-rio Odílio Figuei-redo, onde atual-mente se situa a Igreja dos Franciscanos, passando pelo estádio da Liga Desportiva Juazeirense ( LDJ ), no São Miguel, e chegando ao Es-tádio Municipal Mauro Sampaio, “O Ro-meirão”, no Pirajá, o esporte mais popu-lar do mundo ultrapassou importantes barreiras no Cariri. Até firmar a cidade de Juazeiro do Norte hegemônica em sua prática na região.

Não foi tarefa fácil. No passado, exi-giu idealismo e obstinação de despor-tistas dirigentes como Emicles Barreto, Antonio Fernandes Coimbra, Dr. Mozart Cardoso de Alencar, Dr. Luiz Bezerra de Souza, Antonio de Araújo “Patú”, Pe-dro Leônidas, Praxedes Ferreira, José Cazé, Ednaldo Dantas Ribeiro, Feijó de Sá, Doro Germano, Silva Lima e muitos outros, igualmente importantes, até os dias de hoje como Zacarias Silva, Kleber Lavor e José Moura.

Dos antigos grandes times como

Treze, América, Volante, detentores de um maior status, a pequenas equipes que existiram em grande número, sobreviveram Icasa e Gua-

rani, como forças maiores. Hoje, as duas estão inseridas no calen-

dário do futebol nacional nas segunda e quarta di-visão, respectivamente. O Verdão, por exemplo, en-cantou platéias no Cam-peonato Brasileiro do ano passado. Já o Leão do Mercado, brilhou no

último certame cearense ao ponto de figurar, hoje, como vice-campeão esta-dual.

Admirável, portanto, a forma como os dirigentes apostaram no sucesso de uma atividade amparada em bases profissionais tão precárias ao longo do tempo. Os vínculos contratuais eram representados apenas por uma ficha de inscrição na Liga local. Ainda assim, o fu-tebol juazeirense, movido pelo espírito empreendedor insuperável de sua gen-te, foi adiante, com bravura, criatividade, competências e, claro, presunções.

Para se ter idéia da incipiência das coisas do setor ainda na primeira meta-de do século passado, basta nos reme-termos a fatos interessantíssimos. Como a contratação, em meados dos anos 40, de um técnico paraguaio chamado A. Costa. Incumbência, talvez sui generis no futebol brasileiro: treinar simultane-

O FUTEBOL NO JUAZEIRO DOS 100 ANOS

CENTENÁRIO: ETERNO RETORNO?

amente, três forças locais: Treze, às terças--feiras; Guarani, às quartas e América, às quintas. Desfecho: rápida dissolução dos respectivos elencos face os elevados cus-tos e nenhum retorno financeiro. Algo típico do amadorismo que movia o espí-rito competitivo dos primeiros dirigentes locais.

A crônica esportiva, por sua vez, atra-vés das emissoras Iracema e Progresso, teve papel preponderante. As vozes da rivalidade vociferavam que a superiorida-de juazeirense só existia pela força pro-mocional do rádio. Um superlativo elo-gio, sem sombra de dúvidas, mas nada injusto em sua essência. Com o advento

do “Romeirão”, regime profissional se impõe para Icasa e Guarani, que se proje-taram das competições locais e ingressa-ram no campeonato estadual. Esse novo desafio acabou por consagrar definitiva-mente a trajetória futebolística da “Meca do Cariri”. Hoje, Icasa e Guarani fazem parte das divisões B e D do “Brasileirão” promovido pela CBF. Se olharmos para o passado heróico, foi uma vitória e tanto. Salvo os sobressaltos naturais do fute-bol, alviverdes e rubro-negros defendem posições possíveis, com a dignidade dos bem sucedidos. Se muitos acreditam que tudo aconteceu por milagre, aproveite-mos para agradecê-lo”.

Wilton Bezerra - Comentarista de Radio e TV

Muitos acontecimentos, fatos e dis-cursos nos fazem interrogar sobre as motivações, as razões e conseqüências da história na qual vivemos e fazemos parte. Perguntamo-nos: “Por que isto está acontecendo?”, “Por que estas pessoas agem desta forma?”, “Por que regredimos ao em vez de progredir-mos?”, “Será o nosso fim?”. São inquie-tações profundas para as quais se apa-renta não ter respostas.

No entanto, um filósofo chamado Nietzsche, com sua filosofia, pode cla-rificar um pouco tais questionamentos.

Para Nietzsche, a vida é regida pelo que ele chama de vontade de potên-cia. O que isto significa? Ora, tudo o que existe luta pela sua existência, pela sua sobrevivência. O que impulsiona esta luta é justamente a força. Mas a força é autônoma em si mesma, ou melhor, ela se torna por si mesma, ela não está para outra coisa a não ser para si mes-ma. Assim, o que impulsiona a vida são as lutas de forças. O que existe são as disputas de potências de forças, a luta para se tornar o mais forte. Algo seme-lhante acontece quando se diz sobre “a lei da selva”, “a lei dos animais” ou “a lei da sobrevivência e do mais forte”: aquele que é mais forte sobressai-se sobre o mais fraco, garantido assim sua existência. Portanto, a vida se resume a disputar por mais força, por mais espa-ço na existência, por mais potência.

No entanto, esta luta de forças ocorre sempre em ciclos: como a vida se resume à luta de forças, então tudo se repete. Para o filósofo, as lutas de forças são múltiplas, no entanto, são finitas, limitadas. O que isso quer dizer? Quer dizer que sempre haverá luta por-que sempre haverá uma força que irá sobressair-se sobre outra. Assim, tan-to uma força tem um fim, um cessar, como também sempre existirá a luta, já que é inerente a vontade de potência. Para este aspecto Nietzsche denomina de eterno retorno.

Assim, voltando para a realidade na qual nos encontramos, pode-se dedu-zir que todo tipo de disputas existentes

nada mais são do que a luta de forças, a vontade de potência. Por isso, consta-tamos que os personagens são exata-mente os mesmos, mudando somente as figuras. É o eterno retorno! Assim, como um ciclo, a história parece repe-tir-se: o total envolvimento das partes em defesa de seus interesses (ideais?!), sempre com envolvimento e movi-mentação muito bem arquitetada das peças no tabuleiro, ao molde do jogo de xadrez.

Desta forma, nunca caiu tão bem a filosofia de Nietzsche à realidade que se origina da etimologia da palavra Ju-azeiro: do tupí, fruto de espinhos! SAU-DAÇÃO À NOSSA JUAZEIRO

Cristiano Ferreira Silva

A Deus peço conversãoAo espírito santo iluminação

Para escrever estas quadras de saudaçãoAo nosso padrinho padre Cícero Romão

A sua intercessão, junto a Maria santíssimaA padroeira das comunidades da cidade do sertão.

Juazeiro cem anos completouNão causou admiração, o que chamou a atenção

É a sua evolução, com tanta rapidez que causou admiração

De fazenda vila transformou-se esta a Deus a sua benção

Padre Pedro Ribeiro aqui nasceu e se criouNo recife ordenou-se, voltando ao Ceará

resolveu aqui ficar.

Primeiro capelão deste lugar desconhecido num recanto do Ceará

A família resolveu uma capela edificar para o padre celebrarConsagrou a nossa senhora das Dores

padroeira do lugarCom a virgem eterna do padre, a terranão

mais vai voltarVieram outros padres também capelão,

fizeram algo pela evolução O quinto foi o querido padreCícero Romão.

Padre Cícero convidado para a missa do galo celebrar

Viu a pequena comunidade descalça sem pão e sem larCompadeceu dos mesmos e resolveu vim morar

Foi uma dádiva que Deus mandou para cáComeçou o desenvolvimento com orientação,

e todos a ele iam procurarPadre Cícero nunca se negou a todos ajudar,

ensinava a trabalhar e rezar.

No centenário de Juazeiro temos que louvarA cidade cresceu tanto e tem algo a desejar

O nosso aeroporto falta reformar, tem que melhorarA casa de embarque quem chega vai lamentar

E o estacionamento nem vamos falar tudo decadente deixa pra lá

E os passageiros que vão embarcar escutam a voz o avião vai atrasar.

Padre Cícero dizia Juazeiro vai ser a capital do sertão

Era homem de muita fé e visão e a sua profecia não foi em vãoConsagrado santo em nosso coração

Lá na cidade eterna a documentação pra sua reabilitaçãoEm seguida a sua beatificação é o que esperamos

com amor no coraçãoAgradecemos ao patriarca do sertão patriarca do

sertão padre Cícero Romão.

Saudação à nossa Juazeiro

João Antonio Bonfim

FOTO AÉREA DO ROMEIRÃO quando foi inaugurado em 1 de maio de 1970

CENTRO DE JUAZEIRO na década de 60

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20111010

Século de grandes desafios e triunfos ampara o "Juá" para outros 100 anos Dez décadas se passaram desde

a elevação do povoado à vila in-dependente do Crato. Três anos

depois, o distrito passou a município e, em 1946, o nome adotado para a Terra do Padre Cícero foi Juazeiro do Norte, fazendo a diferença entre a cidade do Cariri cearense da então já emancipada Juazeiro, no estado da Bahia. A jovem ci-dade do Cariri, que completa seu primei-ro Centenário em 22 de julho, está cheia de vida, de expectativas para um ano comemorativo, mas também já mostra preocupação com o século pela frente.

O escritor Raimundo Araújo diz que a comemoração do primeiro Centená-rio é uma grande conquista. “Fruto, sem dúvida alguma, de um sonho acalentado por um pugilo de idealistas que, sob a orientação do padre Cícero Romão Batis-

Passado, presente e futuro - Depoimentos

“Ei-los: “É chegado o momento de pugnarmos com alta energia e vigor, pela nossa elevação social, elevando Joazeiro à categoria de Município, aumentando, assim, a importância de toda zona do Cariri que bem merece os vossos serviços para chegar ao grau de prosperidade que é digna”. “Tenhamos confiança no fu-turo e podemos aguardar os louros de uma esplendente vitória”. No rodapé do documento a seguinte informação: Joazeiro, 16 de “agosto de 1907”.

ta, se uniram ao padre Alencar Peixoto, Floro Bartolomeu da Costa, José Mar-rocos, José André de Figueiredo, major Joaquim Bezerra de Menezes, coronel Francisco Néri da Costa Morato, Cincina-

to Silva, Manoel Vitorino e coronel João Bezerra de Menezes, entre outros, para abraçarem uma nobre causa, ou seja, o movimento pró-autonomia de Joazeiro”.

Araújo relembra ainda parte do texto publicado pela professora Amália Xa-vier, em seu livro “O Padre Cícero que eu Conheci”. Chama atenção o fato de que esse parágrafo foi fornecido à professora Amália pelo advogado José Ferreira de Menezes, em 1943.

Mesmo diante de um cenário que passa impressões progressistas, nem tudo é apenas desenvolvimento. Nos últimos cinco anos, importante se faz relembrar a luta pela ampliação do Aeroporto Orlando Bezerra de Mene-zes ou Aeroporto Regional do Cariri (ARC). A capacidade é para apenas 100 mil passageiros anualmente, mas entre essa previsão e a realidade, a distância é bem maior.

Em 2009, o movimento operacio-nal superou 247 mil passageiros, o que deu ao ARC a visibilidade de ser o aeroporto que mais cresceu em todo Brasil. Em 2010, houve uma pequena queda para 244 mil passageiros. Mes-mo assim é como se toda população de Juazeiro do Norte tivesse viajado de avião, pelo menos, uma vez duran-te o ano. E no Centenário, os primeiros

cinco meses do ano registraram uma movimentação maior: 113 mil pesso-as, entre embarques e desembarques.

Diante dos números, que mostram a necessidade do ARC se manter fun-cionando, Poder municipal e a classe empresarial, além de outros setores, encabeçam a luta por melhorias, principalmente quanto ao funciona-mento 24 horas, a instalação de novas operadoras as ampliações do saguão e estacionamento.

O vice-prefeito, José Roberto Ce-lestino, relata um pouco dessa novela que se tornou a reforma e amplia-ção do Aeroporto Regional do Cari-ri. “Foram centenas de audiências e reuniões, elaboração e entregas de relatórios técnicos para órgãos es-taduais e federais nos últimos anos. Por trabalho meu, Gol e Azul Linhas

Aéreas vieram operar no nosso aeródromo. Há outras, fruto desse trabalho, que também pediram recentemente para operar aqui, mas não puderam pela falta de infraestrutura. Te-mos de dotar o aeroporto do mínimo, melhorar a pista para esta receber aeronaves Boeing 767-300 de 280 passageiros e instalar os Módulos Operacio-nais Provisórios, o que daria uma sobrevida ao nosso Ter-

minal de Passageiros por mais alguns anos”.

A Prefeitura Municipal realiza uma obra de duplicação na Avenida Virgí-lio Távora, trecho de 800 metros, no seu estágio final até a praça de esta-cionamento de veículos do ARC, que comportará até 200 automóveis.

Segundo a Infraero, como o ARC atende além da região do Cariri, o

Centro Sul do Ceará, Alto Sertão da Paraíba, Noroeste de Pernambuco e Sudoeste do Piauí, o público que em-barca e desembarca diariamente nos voos é bem diversificado. Vai desde o turismo de eventos, religioso e de ne-gócios até o ecológico. Sem deixar de considerar a movimentação significa-tiva ligada às instituições de ensino superior.

Centenário leva marca de luta pelaampliação do Aeroporto Regional

Quatro vôos diários - 247 mil passageiros

PROFESSORA Amália Xavier

RAIMUNDO ARAÚJO, pesquisador

VICE-PREFEITO de Juazeiro, Roberto Celestino

PRÉDIO DO TERMINAL de passageiros ficou pequeno para a região

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 1111

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Prefeito da estátua do "Padim"relembra o desafio do beatoCerto dia o então prefeito

Mauro Sampaio, rece-beu em sua residência

o conhecido beato da Cruz, que lhe pediu para que cons-truísse um cruzeiro na colina do horto. Imediatamente, Dr. Mauro, como é conhecido, sugeriu que ao invés de edifi-car um cruzeiro, seria melhor uma estátua do Padre Cícero, tendo em vista o grande nú-mero de cruzeiros, já naquela época, espalhados por todo o Brasil. Conforme Dr. Mauro, o beato sorriu e, em seguida, disse: “Os outros prefeitos me prometeram um cruzeiro e não fizeram. Quanto mais a estátua do meu Padim Ciço”.

Pacientemente, Dr. Mauro diz que respondeu: “Não estou prometendo nem uma coisa, nem outra, mas se eu tiver de fazer, será a estátua do Padre Cícero”. No dia seguinte, re-cebeu a visita de um cidadão chamado Chico Bento, que lhe perguntou se era verdade que ele pretendia construir uma estátua do padre Cícero no horto. O prefeito confirmou. Chico Bento lhe apresentou então Armando Lacerda, es-cultor do futuro monumento em 1969. “Ficamos muito fe-lizes de ter construído o que hoje é conhecido internacio-nalmente”, diz emocionado o ex-prefeito.

A estátua do Padre Cíce-ro é um dos grandes marcos históricos, tanto para a car-reira do político como para o Centenário do município. “Lá do alto, observa-se uma vista esplendorosa desta cidade de-tentora de um invejável cresci-mento assumindo a liderança em diversos setores, possuin-do um comércio em franca expansão, faculdades, entre tantas outras instituições que contribuem decisivamente para o seu desenvolvimento. Por isso, devemos festejar as obras de todas as administra-ções, que contribuíram para o seu desenvolvimento” celebra Dr. Mauro.

Dr. Mauro Sampaio

"O Rebate"

Já o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Juazeiro do Norte Carlos Cruz, compara o município a maior cidade do Brasil, em alguns aspectos. “Todas essas pessoas, sejam de Juazeiro ou não, deram a sua contribuição para o cresci-mento da cidade. Por isso, Jua-zeiro e São Paulo se parecem. Ou seja, acolhe gente de todos os lugares, gente que vem mo-rar aqui colaborando com o seu desenvolvimento. E no dia em que o padre Cícero for ca-nonizado, Juazeiro vai crescer muitas e muitas vezes mais do que isso”, observa Carlos Cruz.

O político relembra quan-do assumiu pela primeira vez o cargo de prefeito. “Foi uma emoção muito forte que eu tive, ao me sentar naquela cadeira, onde o padre Cíce-ro também se sentou, assim como o meu pai José Geraldo da Cruz sentou lá, por cinco mandatos. Eu me emocionei. Primeiro porque sou filho des-ta cidade e segundo porque é muito importante a gente ser político e governar a cidade onde a gente nasceu. Agora, um cidadão para governar bem uma cidade não é preci-so ele ter nascido nela. Basta apenas ter vocação, amor e se dedicar naquilo que pretende fazer pelo seu povo”.

De acordo com o diretor do Departamento Histórico Diocesano, padre Roserlândio de Sousa, em 2011 faz 10 anos que a Diocese do Crato traba-lha a reabilitação do Padre Cí-cero perante a Igreja Católica. A coleta de informações do-cumentais, como correspon-dências da época entre 1862 a 1867, depoimentos compos-tos por inquéritos, atestados e experiências das comunhões que eram dadas a beata Maria de Araújo começou em 2001. “Foram cinco anos de trabalho intenso para reunir as peças necessárias que pudessem justificar o pedido de reabili-tação”, explica Padre Roser-landio.

Ainda conforme o Depar-tamento Histórico estão sen-do enviados mais dois livros a serem anexados como peças importantes no processo. A Diocese do Crato não tem in-formações sobre a conclusão do trâmite e aguarda o resulta-do com expectativa positiva, já que os documentos foram en-tregues na Santa Sé a pedido do então, cardeal Joseph Rat-zinger, hoje Papa Bento XVI.

Imprensa Centenária deu impulsoà história de emancipação política

Ex-prefeito

Igreja Católica

Carlos Cruz compara aspectos de Juazeiroa São Paulo

Diocese do Crato completa 10 anos deluta pela reabilitação do Padre Cícero

Em 18 de julho de 2009, foi celebrado o centenário de “O Rebate”, primeiro jornal im-presso publicado em Juazeiro do Norte. No ano de 1909, quando os Padres Joaquim Marques de Alencar Peixoto e Cícero Romão Batista, junto com Floro Bartolomeu e José Marrocos lideravam o movi-mento pela independência da Vila Joaseiro do Crato, esse veículo foi fundamental para difusão e, porque não dizer, persuasão das lideranças polí-ticas e dos 18 mil habitantes que viviam no então povoado, sendo obrigados a pagar altos impostos ao Crato e sem re-ceber nenhum benefício por isso. O jornal também era usa-do para responder ataques do povo cratense.

O atual prefeito, Manoel Santana, sancionou a lei dando ao dia histórico de 18 de julho a comemoração do Dia da Im-prensa do Juazeiro. “O Rebate” contagiou o povo em 1909, época em que os historiado-res relatam que Juazeiro já era maior que o Crato, em número de habitantes.

O jornal de Alencar Peixoto logo envolveu o povo na luta pela emancipação política, ocorrida em 07 de setembro de 1910, quando a população do Juazeiro deu o Grito de In-

dependência. Nesse dia, con-tam os historiadores, que Pa-dre Cícero promoveu uma reu-nião em sua casa com diversos líderes, entre eles: Floro Barto-lomeu, Padre Alencar Peixoto, José André, Paulo Maia e Cici-nato Silva. De lá, todos foram para a praça principal, perto da igreja de Nossa Senhora das Dores, onde já havia muita gente esperando.

Paulo Maia levou uma bandeira com a frase “Viva a Nossa Independência”, o Pa-dre Alencar Peixoto discursou e encerrou a sua fala “Viva a Independência do Juazeiro”. Foi um dia de festa, fogos e co-memoração! Mas, só um ano

depois, 22 de julho de 1911, a Assembléia Legislativa do Ceará decretou ‘Juazeiro cida-de independente do Crato’. O governador da época, Noguei-ra Acioly, nomeou em 4 de outubro de 1911 Padre Cícero como prefeito.

PREFEITO MANOEL SANTANA ao lado do ex-prefeito Mauro Sampaio em visita ao monumento

PROFESSOR RENATO CASIMIRO com o primeiro exemplar de O Rebate

Dom Panico, Roma em 2001

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 1313

Para o Secretário de Desenvol-vimento, Turismo e Romaria, José Carlos dos Santos, o processo de pe-regrinação é mais antigo que a festa do Centenário de emancipação políti-ca de Juazeiro do Norte. “As romarias existem há 122 anos e, até hoje, ainda falta infraestrutura, para melhor aco-lhida aos irmãos romeiros” ressalta.

A criação de políticas públicas para romarias existe, mas pode me-lhorar. Acolher a nação romeira de forma mais digna e solidária é preten-são do poder municipal. “Por muito tempo, os juazeirenses gostaram da romaria, por deixarem dinheiro na ci-dade. Mas, receber milhares de pesso-as durante o ano implica em centro da cidade lotado, trânsito lento. Isso faz

parte do fenômeno. Nos últimos anos, é que a população da cidade passou a demonstrar mais reconhecimento ao romeiro como parte do processo de crescimento de Juazeiro” ressalta.

Romeiros do "Meu Padim"

Nada parece  ser mais  importante para o  ro-meiro do que se sentir “chamado” pelo Padre Cícero a essa  terra abençoada. Uma maioria de agricultores passa o ano todo a trabalhar em  comunidades  rurais,  cidades  pacatas  no interior do Nordeste (Alagoas e Pernambuco, 

principalmente)  para  fazer  a  santa  viagem. Desde o milagre da hóstia, relatos históricos mostram  que  há  tempos  não  se  contentam apenas na visita. A peregrinação vai além de pedir a bênção ao sacerdote do lugar. Redun-da em moradia para sempre

"O s romeiros são embalados com cantigas, ladainhas e até as crianças rezam pedin-do pra vir em romaria à Juazeiro. Elas

não pedem brinquedos ou outras coisas, pedem para estar na romaria”, conta Deusimária Dantas, bibliotecária que pesquisou sobre a fé e devoção do romeiro. Segundo ela, vários fiéis relatam que são chamados em sonho ou recebem um sinal do “convite”. Através de um vizinho ou motorista de ônibus que avisa sobre tal vaga para viagem. Isso, para o romeiro, é um sinal de que o “Padim” está chamando.

De caminhão pau-de-arara arriscando a própria vida, de ônibus ou até de avião, para os que têm um pouco mais de condições fi-nanceiras, o importante é vir. Deusimária diz que os romeiros têm suas vindas certas, cada um no seu ciclo e, às vezes, pode até vir fora de época. Mas, em ocasiões especiais, como a “ro-maria do Centenário”, por exemplo. “Romeiro anda em bando, de cabeças cobertas com cha-péus e baixas, rezando o terço ou cantando la-dainhas. Eles pedem graças, agradecem e re-zam pelos outros que não foram chamados”.

A visitação anual dos romeiros é permanente, mas a concentração dos devotos se dá, principalmente, no ciclo de setembro a fevereiro, quando acontecem as três maiores romarias do ano: Padroeira, Finados e Candeias.

Romaria e turismo religioso.Duas coisas bem distintas

122 anos de romarias eacolhidas sem estrutura

Frei Barbosa, administrador do Santuário de São Francisco é enfá-tico ao dizer que em Juazeiro exis-tem as romarias e o turismo religio-so. Dois processos bem diferentes. “O romeiro, aquele ser mais humil-de, de poucas posses, vem pagar suas promessas alcançadas ano a ano, renova sua fé, visita os mes-mos lugares de sempre e se hospe-

da no mesmo rancho, pousada ou casa de família. O turista religioso não. Vem fazer turismo mesmo, conhecer a cidade, ainda que siga o “Roteiro da Fé”, pois os pontos turísticos da cidade estão ligados ao fator religioso. É comum, por exemplo, o turista não professar fé nenhuma, mas querer conhecer Juazeiro do Padre Cícero”, explica.

Anualmente, 2,5 milhões pessoas passam pela Terra do Padre Cícero. É como se toda população de Fortaleza visitasse Juazeiro no período

Nações de fieis a construir umacidade pelo "chamado" santo

ROMARIA DAS CANDEIAS abre o ciclo dos eventos religiosos em Juazeiro

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Promessas pagas, sacrifícios diversos

Quantas vezes os juazeiren-ses já se depararam com romei-ros descalços, vestidos em túni-ca preta (homenagem a Padre Cícero), marrom (homenagem a São Francisco de Assis ou Frei

Damião), azul (Nossa Senhora das Dores) e por aí vai? Subir a Rua do Horto sem chinelo é o de menos. Alguns carregam cruzes de madeira nas costas até chegar na estátua ou sobem

de joelhos até o último degrau da Colina.

Outra forma de pagar pro-messa é acender vela, celebrar missa em intenção de alguém ou trazer um ex-voto e entregar pessoalmente no Museu Vivo do Horto ou na Casa-Museu do Padre Cícero, no bairro do So-corro.

Ex-votos, tradição milenarOs ex-votos são uma tradi-

ção greco-romana difundida em 2000 a. C. que se mantém viva até hoje. Os motivos para a entrega do “presente votivo” variam desde proteção contra catástrofes naturais, cura de do-enças, recuperação em virtude de sofrimentos amorosos, aci-dentes, dificuldades financeiras, compra da casa própria, carro, passar no vestibular, concurso dentre tantos outros.

A maioria dos votos feitos ao Padre Cícero recebe a forma de partes do corpo afetadas por doenças (perna, cabeça, mão, pé, coração, seio, etc.) Em geral, são de madeira, barro ou cera.

Entre outras inúmeras curio-sidades no pagamento das gra-ças alcançadas, Frei Barbosa relata: “Uma vez perguntei por que eles dão três voltas ao redor da imagem de São Francisco que

fica no pátio do Santuário. O ro-meiro respondeu: padre quando a gente chega pede a bênção do santo e agradece pela viagem,

já entregando o retorno. As três voltas porque uma é para o Pai, outra para o Filho e outra para o Espírito Santo”.

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 1515

O Centro de Apoio aos Romeiros é uma obra inconclusa e antiga. Data de mais de 20 anos, segundo a Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Roma-ria, mas que somente foi assumida pelo Governo do Estado do Ceará em 2009. Está orçada em aproximadamente R$ 10 milhões. O governador Cid no último dia 12 de março inaugurou a primeira par-te de um centro de comercialização que corresponde a mais de mil boxes e será administrado pela Ceasa. A companhia garantiu colocar o espaço em funciona-mento durante o mês do Centenário.

Quanto à outra parte, corresponde a um centro multifuncional que terá an-fiteatro para shows e celebrações, um centro administrativo com órgãos do go-verno, de instituições não governamen-tais e da Prefeitura. “O projeto faz parte do processo de humanização das nossas romarias e um acolhimento digno para todas as pessoas que visitam essa terra. Estamos em fase de discussão sobre que

Centro de Apoio aos Romeiros, obra esperada há 20 anos

órgãos irão para o centro multifuncional. Eu defendo a sede da Secretaria de De-senvolvimento, Turismo e Romaria, pois tem grande significado ficar naquele es-paço” explica José Carlos dos Santos.

CALENDÁRIO DAS ROMARIASRomaria dos Santos Reis - 06 de janeiro

Romaria de São Sebastião - 20 de janeiro

Romaria das Candeias - 02 de fevereiro

Romaria do Padre Cícero (nascimento) - 24 de março

Romaria da Semana Santa - (abril)

Romaria da Coroação de Nossa Senhora – 30 de maio

Romaria da Festa da Coroação de Jesus Cristo – junho

Romaria do Padre Cícero (falecimento) - 20 de julho

Romaria da Nossa Senhora das Dores - 15 de setembro

Romaria de São Francisco - 04 de outubro

Romaria de Finados - 02 de novembro

Romaria de Natal - 25 de dezembro

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20111616

Mais que pontos turísticos, um inesquecivel Roteiro da FéNova  Jerusalém,  Terra  da Mãe  das Dores, Juazeiro do Padre Cícero, Ca-pital do Sertão, Capital do Triângulo Crajubar, Meca  do  Cariri  e  do Nor-deste.  Dentre  tantos  epítetos  rela-cionados  ao município  de  Juazeiro, talvez nenhum seja tão forte quanto “Terra do Padre Cícero”. Para ador-nar  essa  fama,  a  cidade  oferece  a seus visitantes um amplo e bem di-fundido conjunto de ícones arquite-tônicos.  Cartões  postais  que  nunca abandonam a memória romeira. São santuários, museus, casarões, basíli-cas, grandes monumentos, igrejas e capelas.

O secretário de Desenvolvimento, Tu-rismo e Romaria, José Carlos dos Santos, explica que Juazeiro vive

uma experiência diferente com as roma-rias e o turismo religioso, se comparada a outros centros de peregrinação. “Aqui, os romeiros vêm atrás de um padre que

Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Em 1827, era apenas uma cape-linha erguida pelo Padre Cícero, em devoção a Nossa Senhora das Dores. Com o aumento do número de ro-meiros devotos da Mãe das Dores, a capela foi ampliada e, em 1917, tor-nou-se Paróquia. No ano de 2004, foi consagrada Santuário Diocesano. Em 2008, recebeu o título de Basílica Me-

nor, pelo Papa Bento XVI. Em frente à Matriz, está o Pátio do Povo (tam-bém chamado de Praça dos Romeiros ou Praça das Orações) e um Centro de Apoio aos Romeiros (em constru-ção). É naquelas imediações que vai ser construída ainda este ano, a Praça do Centenário, comemorativa a data e representando o marco zero.

ainda não está canonizado, que de fato ainda não é reconhecido pela Igreja Ca-tólica

Mas, é o grande responsável por atrair toda essa gente ano a ano”, com-para.

Sobre os locais mais freqüentados pelos romeiros, o secretário explica que Juazeiro não consiste apenas de um pon-to de referência das romarias, mas de um verdadeiro roteiro de fé. “Nos outros centros de peregrinação, as pessoas têm um ponto de convergência, como o San-tuário de Aparecida, em São Paulo. En-quanto, aqui, os devotos estão em vários espaços ao mesmo tempo. A missa das 19 horas é um exemplo disso. A celebra-ção acontece em três igrejas diferentes, como Salesianos, Franciscanos e Basílica, se formos as três, todas estarão lotadas”.

Tudo que existe na cidade com o nome do padre Cícero ou que tenha sido local de passagem do “Padim” é impor-tante. Então, façamos uma breve viagem histórica ao Roteiro da Fé do romeiro.

-Santuário de São Francisco (Franciscanos)

Construído em 1950. O local é capaz de abrigar até 30 mil pessoas. Os frades se estabeleceram em Juazeiro atendendo ao chamado da fé e ergueram ali um grande templo, considerado o maior santuário religioso do Norte e Nordeste brasileiro. A igreja está centrada em um grande pátio cercado por uma bela passarela suspensa chamada “passeio das almas”.

"Santuário"

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-Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Sogorro (Igreja do Socorro)

A Capela do Socorro está com 102 anos. Ali, foi sepultado o corpo de Padre Cícero Romão Batista. Na frente da capela, está a Torre Monumental com o relógio, marco em homenagem aos 70 anos da morte do Padre Cícero.

-Casa-Museu Padre Cícero No casarão, há réplicas em tamanho natural do sacerdote e pessoas que conviviam com ele. Nos

quartos, existem imagens do padre em momentos de descanso, oração e conversas com o médico e político Floro Bartolomeu e as beatas. O museu está localizado na Colina do Horto.

-Complexo da ''Colina do Horto''Há sete quilômetros de dis-

tância do centro de Juazeiro do Norte, o Complexo “Colina do Horto” compreende a estátua do Padre Cícero, com 27 metros de altura; o Museu Vivo do Pa-dre Cícero, antigo Casarão do Horto, onde estão representa-ções em resina de poliéster (em tamanho natural) com algumas cenas da vida do sacerdote, e a Igreja do Senhor Bom Jesus do Horto, um sonho antigo do pa-dre Cícero. Está em construção desde 1999 pelos padres Sale-sianos.

-Memorial Padre CíceroA Fundação guarda centenas de objetos que foram de uso pes-

soal do sacerdote, além de fotografias da época e uma biblioteca reunindo dezenas de livros sobre o padre e Juazeiro do Norte, além de edições do primeiro jornal da cidade “O Rebate”. O memorial está localizado na Praça do Cinqüentenário, em frente à Capela do Socorro.

-Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes (Igreja de São Miguel)

Instituída em 1958, a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes é a primeira paróquia de Juazeiro, após a de Nossa Senhora das Dores. A igreja pertence à ordem Diocesana e tem um altar externo, edificado em alvenaria para a realização de missas ao ar livre. Ao lado da igreja, este altar revestido de azulejos é palco de importan-tes celebrações anuais como a coroação de Nossa Senhora, no mês de maio.

-Santuário Sagrado Coração de Jesus (Salesianos)

Construído pelos padres Salesianos. Lá, estão sepultados reli-giosos como os padres Francisco e Nestor. A igreja foi construída a pedido do Padre Cícero.

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A vocação para o comércio é  forte, está  na  veia  do  juazeirense.  Mas, a  informalidade  também.  Se  gera renda de um lado, traz prejuízos de outro.  Em  entrevista  exclusiva  ao Jornal do Cariri, o professor do De-partamento de Economia da URCA, Micaelson Lacerda, fala sobre o as-sunto.

JORNAL DO CARIRI - Por que a infor-malidade no comércio de Juazeiro é tão grande e difícil de ser controla-da?

MICAELSON LACERDA: De forma geral, uma das características das economias atrasadas é o crescimen-to desigual, combinado e dependente das economias desenvolvidas, criando uma economia dual, na qual convivem segmentos modernos e atrasados ao mesmo tempo, tanto entre setores quanto dentro dos setores. O segmen-to moderno, apesar de proporcionar geração de emprego, exige cada vez menor contingente de trabalhadores e níveis elevados de qualificação, em função do desenvolvimento tecnológi-

Rua São Pedro, vitrine do comércio, onde tem de tudo e todos escapam

São quilômetros, quarteirões e quar-teirões de lojas coladas uma nas outras, com direito a dois merca-

dos públicos grandes (Senhora Santana e Central, ambos em reforma). Ao longo dos últimos anos, muitas mudanças ocor-reram no centro comercial que também recebe compradores de vários estados nordestinos, independente do fluxo de romeiros no segundo semestre do ano.

Dias de sexta e sábado é duplamente mais difícil conseguir estacionar, entrar numa loja, procurar o que se deseja com calma, pegar fila no caixa. Se for véspera de Natal e Dia das Mães pior ainda. Mas,

Economia

A  Rua  São  Pedro  é  considerada maior  centro  comercial  de  Juazei-ro  do  Norte.  Desça  a  via,  que  logo às  sete  da manhã  que  você  vai  en-contrar os primeiros “bom dia” nos pontos comerciais”. É  funcionário a varrer calçada, limpar vitrine, orga-nizar  estoque,  descarregar  merca-doria. Porque depois das oito horas da manhã  tudo fica bem mais com-plicado.  Mesmo em tempos de cam-

panha contra a informalida-de, em 2010 foram mais de cinco mil contratações, contra 6.500 da indústria e mais de 7.500 da construção. os me-ses que mais ofertam vagas antecedem datas comemorati-vas, como: dia das mães, na-morados, das crianças, natal e grandes romarias (padroeira e finados).

Informalidade, um traço inescapável

Entrevista, Micaelson Lacerda, professor de Economia da Universidade Regional do Cariri - URCA

co e das modernas formas de organiza-ção gerencial. Enfim, do avanço do ca-pitalismo sobre o espaço, o que implica cada vez menos empregos formais. Nesse processo, grande contingente de trabalhadores não consegue emprego e acaba por alimentar o setor informal.

JC - Isso dificulta o crescimento eco-nômico do município?

ML: Muitos estudos apontam na direção de que a economia informal dificulta o crescimento econômico. Isso porque os pequenos negócios têm acesso restrito ao crédito formal, estão impossibilitados de recorrer ao sistema legal para cumprimento de contratos e proteção da propriedade, etc. O que faz com que a produtivida-de no setor informal seja muito menor que no setor formal. Os choques que afetam a economia, como as crises econômicas, por exemplo, também são mais acentuadas em regiões com expressiva economia informal. Isso porque a capacidade dessas empre-sas de contrair empréstimos e neu-tralizar a queda em suas receitas são

praticamente nulas. Neste sentido, as empresas do setor informal operam em escala de produção desfavorável, são improdutivas e possuem elevada probabilidade de fracassar, elemen-tos que têm impacto negativo sobre o crescimento econômico.

JC - Um ano festivo impulsiona a eco-nomia. De que forma?

ML: O Centenário de Juazeiro do Norte é uma data para ser celebrada com grande entusiasmo. Juazeiro tem sido historicamente o município que imprime dinâmica econômica à região sul do Ceará e outras regiões fora do estado. É uma característica do muni-cípio para qual a figura do padre Cí-cero contribuiu de forma decisiva. Um ano comemorativo como esse atrairá significativo número de pessoas que aumentará a demanda em vários se-tores impulsionando tanto a economia formal quanto a economia informal do município. No entanto, a infraestrutura da cidade ainda é bastante precária em relação ao atendimento do grande aflu-xo de visitantes. Falta planejamento

urbano, tônica comum aos municípios médios brasileiros, pois sem planeja-mento urbano o crescimento da cidade pode ser comprometido a longo prazo.

JC - Qual sua sugestão para aquelas pessoas quem está sem ocupar pos-tos de trabalho?

ML - O empreendedorismo é uma característica marcante da população de Juazeiro do Norte. Aonde quer que exista uma oportunidade, seja na eco-nomia formal, seja na economia infor-mal, as pessoas irão descobrir e apro-veitá-la. De forma geral, o crescimento do comércio e da indústria, continua gerando empregos. Nos primeiros qua-tro meses de 2011 foram admitidas 3.687 pessoas nos 20 setores mais importantes da economia de Juazeiro, com destaque para indústria, comércio e construção civil.

o bom é a pechincha, as promoções, a negociação.

As estreitas calçadas são disputadas entre vendedores ambulantes com bu-gigangas, camisas de times, CDs e DVDs piratas, doces, biscoitinhos, controle re-moto, lanches, salada de frutas, tapioca, água de côco. Duas vezes por ano as bar-racas de material escolar tomam conta,

principalmente, da adjacente Rua Santa Luzia.

Nas vielas dos mercados públicos bijuterias, brinquedos, enxovais para be-bês, consertos de relógios, aviamentos, açougues e as famosas raízes que curam tudo que é doença. Quase tão milagro-sas quanto as pomadas “Padre Cícero”, vendidas em latinhas metálicas arredon-

dadas e que, segundo os comerciantes, resolvem problemas do corpo e da alma.

Com tantas peculiaridades uma gi-gantesca massa de consumidores giran-do em torno da informalidade, o comér-cio de Juazeiro continua com principal setor de geração de emprego e renda.

RUA SÃO PEDRO: um dos maiores centros comerciais do Nordeste brasileiro

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 2121

Pólo calçadista, pisada firmede um Juazeiro industrial

Quando o assunto é vender calça-do para Estados Unidos, Europa e países do Mercosul o Cariri está

bem representando. Só Juazeiro do Nor-te produz por ano aproximadamente 11 milhões de pares de calçados, sem falar nas bolsas e acessórios similares. Mais de 12% do produzido é exportado. Jua-zeiro, Crato e Barbalha respondem por mais de 50% da produção estadual. As sandálias de borracha e injetados em

Exportação

Ele é a força da indústria no Cariri, principalmente em Juazeiro do Nor-te.  Segundo o  Sindindústria  -  Sindi-cato  das  Indústrias  de  Calçados  e Vestuários  de  Juazeiro  do  Norte  e Região,  hoje  o  pólo  calçadista  está com  250  empresas  formais,  sendo responsável por mais de 16 mil em-pregos diretos. O maior do Ceará e o terceiro do Brasil. 

PVC são marcas do setor, com destaque para as micro e pequenas empresas.

A expectativa no Centenário é pro-duzir ainda mais e abrir novos postos de trabalho. Há dois anos não se promovia a Feira de Tecnologia e Calçados do Ce-ará (Fetecc). Mas, no final de agosto des-te ano, já teremos o evento Centenário. O Sindindústria calcula que devem ser movimentados, aproximadamente, R$ 9 milhões e alcançada uma visitação em torno de cinco mil pessoas. A promoção quer despertar grandes lojistas e atrair interesse das redes de lojas do eixo Su-deste e Sul do Brasil, graças a evolução na qualidade dos produtos, preços com-petitivos e agilidade na entrega.

Ao longo de 11 edições do evento, fa-bricantes de Juazeiro do Norte e região agregaram mais valor ao seu produto com equipamentos de ponta, matéria--prima, novas técnicas e tecnologias. A

Fetecc trouxe uma nova visão ao em-presariado local, o que contribuiu signi-ficativamente com o fortalecimento do Cariri como referência em produção e exportação de calçados.

A informalidade é outra dor de cabe-ça para o setor, mas “as parcerias entre o setor público e privado, a abertura do Banco do Nordeste para financiamento de máquinas e crédito tem sido signifi-cativo para ajudar na formalização de fá-bricas que antes funcionavam no fundo de quintal. O Sindindústria tem hoje 92 empresas filiadas, mas a meta é fechar 2011 com, pelo menos, mais 60.

Visitantes veem muitos tipos produ-tos juazeirenses em feiras nacionais e gostam, notadamente os diferenciados e feitos em couro. Tanto as sandálias quanto os acessórios são manufatura-dos, quer dizer menos industriais e mais manuais, artesanais mesmo.

Rua São Pedro, vitrine do comércio, onde tem de tudo e todos escapam

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20112222

Construção civil em arrancadacoroa centenário com empregos

A data comemorativa da emancipa-ção política veio a coroar o que também se celebra hoje, como um

“boom” imobiliário vivido por Juazeiro do Norte desde o ano de 2005. Mas, a cada temporada, o setor que busca mais trabalhadores se depara com uma reali-dade contrária: a ausência de profissio-

"Boom" imobiliário

Você já fez novena para todos os san-tos, promessa para o padre Cícero e ainda não conseguiu emprego? Pois está  na  hora  de  procurar  no  lugar certo e aproveitar a segunda metade de 2011. Diversos setores que movi-mentam  a  terceira  economia  mais forte  do  Ceará  estão  à  procura  de gente  para  ocupar  vaga  no  comér-cio,  na  indústria  e,  principalmente na construção civil. Isso mesmo. É lá no canteiro de obras que falta, hoje, o maior número de trabalhadores. 

“Queremos mostrar ao mercado que somos capazes de atuar e de-sempenhar tarefas difíceis e pesadas, como alvenaria. Precisamos quebrar esse paradigma machista que existe em alguns ambientes de trabalho”, desabafa Magdala Emanuele, de 26 anos.

Já Fabiana Januário, da mesma turma, com 29 anos, reconhece que antes era só dona de casa, mas ago-ra tem profissão. “Apesar de ser uma área ainda dominada por homens, as mulheres estão gostando do trabalho e agora sabem que podem melhorar de vida”, fala.

nais qualificados. Em 2009, a constru-ção civil gerou 7.500 empregos diretos e indiretos. Já em 2010, esse número ultrapassou a casa dos oito mil. Este ano, com o Centenário, a marca pode ser ainda maior.

É visível que, horizontalmente, Ju-azeiro do Norte quase não tenha mais para onde crescer. A conurbação, pro-cesso que aproxima dia após dia as vizi-nhas Crato e Barbalha, é positivo porque promove crescimento e valorização do território Crajubar.

As construtoras investem milhões e buscam a verticalização dos imóveis. Como no bairro Lagoa Seca, considera-do de classe alta. Ali, Juazeiro começou a se redesenhar nesse novo panorama e se tornou também referência no setor de construções até fora do Cariri.

Se antes Juazeiro era atraia apenas pela religiosidade e seus grandes ajun-

tamentos de públicos, hoje o município é procurado por grupos empresariais por motivos que vão desde a busca pela mão de obra local, até a instalação de grandes empreendimentos.

Recentemente, uma empresa de São Paulo levou dezenas de trabalhadores

do Cariri para obras no Sudeste. Agora, há escassez na oferta da mão de obra de trabalhadores como engenheiro civil, carpinteiro, pedreiro, ferreiro. E a ten-dência é piorar. Tem vaga, mas falta tra-balhador e os salários são melhores que os oferecidos pelo comércio local.

Pedreiras chegam aoscanteiros do Cariri

Mão de obra feminina

A Construtora Raimundo Coelho, com 25 anos de experiência no merca-do local, é a pioneira no Cariri a qualificar mão de obra feminina e oferecer opor-tunidade de trabalho na construção civil. Em meio a mil trabalhadores, 16 já se destacam. São as mulheres pedreiras que ajudam a construir o maior conjun-to habitacional do interior do Ceará.

“Levantar 1.280 unidades habitacio-nais em 18 meses foi um grande desafio para a CRC. É uma obra para 6 mil mo-radores, como se fosse uma pequena

cidade. São 540 dias de trabalho, prati-camente duas casas por dia”, fala orgu-lhoso o engenheiro civil da obra, Felipe Coelho, também diretor Técnico da CRC.

A construtora pretende capacitar 70 mulheres em parceria com SESI e SENAI, além de levar para o canteiro de obras, após o trabalho, a escolinha bá-sica para que precisa concluir o ensino fundamental. O novo projeto, ainda para este ano, é capacitar 20 serventes em pedreiros, num prazo de até três meses de curso.

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Construção civil em arrancadacoroa centenário com empregos

Pedreiras chegam aoscanteiros do Cariri

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Galeria centenária prefeitos de Juazeiro

1o Prefeito:Pe. Cícero Romão Batista 1911 -1927

7o Prefeito:José Mauro Castelo Branco Sampaio(1967-1970-1996-2000)

3o Prefeito:José Monteiro de Macedo (1947-1948-1951-1955)

5o Prefeito:José Humberto Bezerra(1963-1966)

6o Prefeito:Edward Teixeira Ferrer (1966-1967)

2o Prefeito:José Geraldo da Cruz (1930-33-37-46-55-1959)

4o Prefeito: Antônio Conserva Feitosa (1947-1951-1963)

Orfanato Jesus, Maria José e Escola Izabel da Luz

Estádio Romeirão e Monumento do padre Cícero

Eletrificação deJuazeiro e serviço de telefonia

Sede da Prefeitura e todas as escolas da zona rural de Juazeiro

Grupo Padre Cícero e Associação Comercial

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Galeria centenária prefeitos de Juazeiro

13o Prefeito:Manoel Salviano Sobrinho(1983-1988/1993-1996)

14o Prefeito:Carlos Alberto da Cruz (1989-1992/2000-2004)

8o Prefeito: José Teófilo Macedo(1970-1971)

4o Prefeito: Antônio Conserva Feitosa (1947-1951-1963)

10o Prefeito:Mozart Cardoso de Alencar (1973-1975)

12o Prefeito:Ailton Gomes de Alencar(1977-1982)

11o Prefeito:Francisco Erivano CruzInterventor – (1975-1977)

15o Prefeito:Raimundo Antônio de Macedo - (2005-2008)

Memorial Padre Cícero e Ginásio Poliesportivo

Urbanização da via férrea (hoje, Avenida Carlos Cruz) e novo terminalrodoviário intermunicipal

Urbanização da via férrea (hoje, Avenida Carlos Cruz) e novo terminal rodoviário intermunicipal

Obra

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Obra

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9o Prefeito:Orlando Bezerra de Menezes (1971-1973)

Hotel Municipal, primeira estação rodoviária e ginásio municipal Antônio Xavier de Oliveira

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20112626

Afilhadas centenárias, exemplo decomo viver bem com os outros

Localizar essas pessoas não é tão simples quanto parece. Idosos dessa faixa etária saem pouco de

casa, levam uma vida bem mais tranqüi-

Testemunho vivo

Em meio a quase 250 mil habitantes, há  uma  particularidade  no municí-pio de Juazeiro do Norte, quando o assunto  é  expectativa de  vida.  Ape-sar do gráfico do IBGE (Censo 2010) mostrar  a  ponta  da  pirâmide  com 0,0% da população com idade acima de cem anos,  isso não significa que ninguém  atingiu  essa  marca.  Ates-tar esse percentual é que são “elas”. E eles. De fato: 13 homens e 26 mu-lheres, todos vivos há mais de um sé-culo. E morando aqui no município.

la do que a maioria dos longevos de sua faixa e são mais dependentes de filhos e netos para suas atividades diárias. Certo? Não, não é exatamente assim. Dona Cecília Cândido da Conceição, por exemplo, tem algumas limitações, mas boa memória é só uma entre tantas de-monstrações de vitalidade cotidiana. Filha de romeiros, nasceu em Alagoas, no dia 2 de fevereiro de 1911, poucos meses antes da emancipação política da cidade. A comemoração deste ano foi entre filhos, netos e bisnetos.

A senhora centenária se mudou para Juazeiro do Norte quando criança. Os pais, agricultores, eram devotos do padre Cícero e consultaram o sacerdo-te antes da mudança. Dona Cecília tem DONA CECÍLIA CÂNDIDO DA CONCEIÇÃO de 100 anos

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 2011 2727

Hospital

Afilhadas centenárias, exemplo decomo viver bem com os outros

muitas lembranças e conta cada histó-ria com uma riqueza de detalhes que impressiona. Uma vez ou outra é que um filho ou neto dá uma pequena ajuda.

Na época da mudança para Juazeiro, o “Padim” doou terreno para a família dela construir casa e morar na cidade. Após a instalação, a pequena Cecília foi batizada pelo “Padim” aos cinco anos de idade e ficou morando na casa dele até completar 15 anos. Dessa época, ela guarda lembranças do que fazia na casa do padre. “Recebia os romeiros, ajudava beata Moçinha, Maria de Araú-jo nas atividades da casa, cuidava dos passarinhos. É interessante que lá tinha sempre muita gente hospedada, a casa era cheia”, relembra sorridente. Um dos ensinamentos que ela repetiu várias ve-zes durante a entrevista é que “meu Pa-dim sempre aconselhava a gente a viver bem com as outras pessoas”.

Em 1934, ano da morte do padre, dona Cecília tinha 28 anos, estava casa-da. Ela relata que nunca tinha visto tan-ta gente em Juazeiro como neste triste dia. “Era tanta gente chorando nesse Ju-azeiro de meu Padim que não cabia nas ruas. Em frente a casa que ele morava, a mesma que morei quando criança, tinha uma multidão que queria entrar para se despedir dele. Como não cabia todo mundo, os devotos que estavam dentro ergueram o caixão em uma das janelas para que todo o povo da rua visse meu Padim pela última vez”, lembra .

Outra centenária que mora em Ju-azeiro e também foi batizada pelo pa-dre Cícero é dona Maria Cândida de 103 anos. Ela nasceu na zona rural de Assaré em 6 de maio de 1908 e só foi batizada pelo “Padim” aos três anos de idade, quando os pais vieram pedir ao sacerdote que fosse padrinho da me-nina que ele ajudou a salvar da morte. Dona Cândida conta a história que ou-via muitas vezes da própria mãe. “Quan-do ela estava grávida de mim, foi orde-nhar uma vaca lá na roça que eu nasci e acabou sendo atacada pelo bicho. A

vaca chutou a barriga dela várias vezes e bateu na cabeça de minha mãe. Meu irmão mais velho chegou e conseguiu tirar minha mãe dali. Com medo de me perder, ela foi até padre Cícero pedir para que ele rezasse por mim. Meses depois minha mãe me teve sem nenhum problema, mas as marcas roxas ficaram na barriga e mãe sentia muita dor de cabeça. Ela procurou meu Padim de novo, disse que eu tinha nascido saudável e fez outro pedido: para que ele a curas-se daquelas dores. Mãe contava que meu Padim colocou a mão três vezes na cabeça dela e que pediu apenas para que ela rezasse todo dia um Pai Nosso e uma Ave Maria na intenção

dele” conta. “Quando eu completei

três anos de idade, meus pais me levaram para ser batizada pelo meu Padim Ciço. Ele aceitou me ba-tizar, mas mãe me disse que ele pediu para acres-centar Maria em meu nome (como era de cos-tume, Cícero gostava de acrescentar Maria e José aos nomes dos afilhados). Dona Cândida relembra emocionada que o padre a batizou, mas foi sincero com os pais dela e disse que não poderia lhe dar “os santos óleos” porque estava sem as ordens da Igreja. “Meu Padim pediu a meus pais que procuras-sem outro padre para me dar os santos óleos, mas para meus pais, devotos do meu Padim, isso não seria necessário, pois eu já esta-va batizada e abençoada por um homem santo”.

MARIA CÂNDIDA ,103 anos: lucidez e grande memória afetiva relacionada ao Padre Cícero

DONA CECÍLIA e um santuario com o “Padim” na sala de casa

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Sustentabilidade para o progresso deJuazeiro é o foco dos atuais gestores

Meio Ambiente

Promover o desenvolvimento de uma região, fortalecendo sua po-tencialidade econômica, gerando

emprego e renda para população e, de quebra, cuidando do meio ambiente. Pa-rece um sonho, utopia, mas não é. Isso chama-se sustentabilidade. Em busca dessa condição, os atuais gestores da cidade centenária focam os próximos desafios. A riqueza natural é limitada, enquanto o consumo da população, por alimentos, roupa, calçado, entre outros bens duráveis só aumenta, o que provo-ca a indústria a produzir em larga esca-la para abastecer, suprir a demanda.

Tanto a população quanto o que se produz para abastecê-la, aumenta bem mais rápido do que revitalização de áreas degradadas, rios poluídos, lençol freático poluído, desigualdade social, renda, moradia, acesso a educação, saú-de e bens culturais. Ou seja, problemas gerados pela “não-sustentabilidade” en-tre tantos outros fatores.

“Esse é o único governo municipal que apresentou preocupação com a sustentabilidade. Fizemos parceria com Banco do Brasil e conseguimos trezen-tos mil reais em recursos para insta-lação do “Engenho do Lixo”, o que vai estimular e conscientizar a população, por exemplo, da coleta seletiva. Vamos começar o projeto atendendo, pelo me-

nos, o centro da cidade”, adianta o prefeito Manuel Santana.

Foi criada a Secretaria do De-senvolvimento Urbano e Econômi-co para pensar, de fato, o desen-volvimento de Juazeiro em vez de crescimento. “Essa secretaria não

vai trabalhar isolada, mas em par-ceria com as outras para pensar um desenvolvimento sustentável e respeitar o meio ambiente. Por isso, primeiro traçamos o plano de saneamento, que diminui a polui-ção e trata a água já utilizada. Jua-

zeiro do Norte se dispôs a abrigar o aterro sanitário da Região Me-tropolitana do Cariri. O próximo passo contra a poluição é instalar muitos coletores na cidade e ade-quar as pessoas à coleta para sele-tiva” explica.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel Cariri é testemunha da ascensão do setor

e comemora junto com a sociedade o ano do Centenário como mais uma possibilidade de crescimento e forta-lecimento.

Feitosa Júnior, presidente da Abra-sel Cariri, calcula que, há três anos, Ju-azeiro do Norte vem crescendo a pas-sos largos no segmento alimentício, com o surgimento de novos estabele-cimentos comerciais e ampliações dos que já existem. “Percebe-se uma gran-de mudança no perfil do consumidor que freqüenta o setor de alimentação fora de casa, devido ao crescimento da região, ao perfil das pessoas que es-tão se instalando aqui e dos turistas também. Mas, muitos empresários do ramo precisam se conscientizar e apri-morar a prestação do serviço. Por isso,

Bares e restaurantes

estamos fechando os últimos contra-tos para lançarmos ainda neste ano um guia da região com o melhor da gastronomia e hotelaria de Juazeiro e do Cariri. Assim, divulgaremos o que há de melhor entre os nossos clientes e turistas”.

Os consumidores do Cariri estão

mesmo bem servidos. Só em Juazeiro há restaurantes regionais, japoneses e italianos, entre outros. Mas, a mão de obra qualificada é o maior desafio para Feitosa Júnior. “Buscamos profissio-nais incessantemente. Já conseguimos fechar parcerias com empresas forne-cedoras, cursos de aperfeiçoamento,

Serviços em ascensão, pujança comerciale necessidade de mão de obra

projetos gastronômicos em anda-mento, participações em festivais nacionais, incluindo a nossa região, projetos do Ministério do Turismo, programa de gestão de software “res-taurante inteligente”, parceria com es-cola de gastronomia e até programa de reciclagem de óleo”.

O presidente da Abrasel acredita que será necessária mais dedicação ao segmento por parte do poder pú-blico. “É preciso haver uma diferencia-ção nas alíquotas dos impostos, como acontece em outras regiões. Juazeiro precisa de um aeroporto maior, ruas pavimentadas, coleta de lixo seletiva, transporte pública até meia noite. E se houver mais engajamento dos empre-sários do setor, o turismo local pode se tornar mais fortalecido, quem sabe até uma referência no Ceará”.

JUAZEIRO É GUIA principal da gastronomia do Cariri

PANORÂMICA do bairro Lagoa Seca, região mais valorizada no setor imobiliário

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CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE, 22 DE JULHO DE 20113030

O Grupo Cearasat de Comunicação está presente nos 100 anos de Ju-azeiro do Norte com a edição sema-

nal do Jornal do Cariri. Com tiragem de 6.000 exemplares e circulação, as terças, o JC foi adquirido em 2007 pelo Grupo Cearasat e ainda, em 2011, será trans-formado em diário com formato tabloide berliner. O Jornal do Cariri tem priori-zado a cobertura dos fatos da Região Sul do Ceará, com ênfase no noticiário local e com assuntos que contribuem para o desenvolvimento da região.

O ano do centenário de Juazeiro do Norte é marcante, também, para o Jor-nal do Cariri que recebeu, em 2011, o primeiro equipamento entre os jornais do Ceará de produção de chapas para impressão sem uso de produtos quími-cos. O equipamento - CTP (Computer--to-plate), importado do Canadá, é o que há de mais moderno entre os jornais

Jornal do Cariri, primeiro jornal doCeará a usar chapas sem químicos

Nova tecnologia

brasileiros. ‘’O Jornal do Cariri se torna, assim,

o primeiro jornal impresso do Estado do Ceará sem uso de produtos quími-cos na confecção de chapas. É um fato marcante na história da imprensa cea-rense. Sem o uso de químicos, estamos contribuindo para preservação do meio ambiente e, ao mesmo tempo, dando mais agilidade ao processo de industria-lização do jornal, reduzindo custos e o tempo de impressão’’, disse o jornalista Luzenor de Oliveira, Diretor-presidente do Grupo Cearasat’’, integrado ainda por 18 emissoras de rádio na Região Metropolitana de Fortaleza e em todo interior do Estado e o portal de notícias Ceara Agora.

Ao longo dos últimos três anos como veículo integrante do Grupo Cearasat de Comunicação, o Jornal do Cariri tem contribuído com debates sobre ques-

tões de interesse econômico e social da Região do Estado. Debates como as pes-quisas sobre a existência de gás e petró-leo na Chapada do Araripe; canalização de gás natural para a Região Metropoli-tana do Cariri e a defesa da construção de um novo terminal do Aeroporto Re-gional Orlando Bezerra.

A presença nos debates sobre as

questões de interesse da região levou o Jornal do Cariri a Recber homenagem da Prefeitura de Juazeiro nas comemo-rações dos 100 anos de emancipação política do Município. ‘’A homenagem é um estímulo para termos o JC sempre envolvido nos assuntos de interesse do Cariri’’, expôs o jornalista Luzenor de Oliveira.

Rotativa Goss Urbanite.Impressão de 25.000 exemplares/hora, com 32 páginas coloridas, no tamanho tablóide Berliner

Primeira CTP no Ceará com produção de chapas para jornais sem agressão ao meio ambiente

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O DEPUTADO FEDERAL MANOEL SALVIANO PRESENTEIA O CENTENÁRIO.

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Bendita seja a imagem da terra do "meu Padim"

Para sempre, amém

Por Cícero Valério

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Bendita seja a imagem da terra do "meu Padim"

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Ensino superior muda realidade regional com mais de 70 cursos

Grande parte dos profissionais que ainda hoje atua no Cariri, com en-sino superior, se formou fora do

município. Outra considerável parcela simplesmente migrou de vez e seguiu carreira Brasil afora, notadamente nas praças das universidades Federal e Es-tadual do Ceará (UFC e UECE) e Uni-for, em Fortaleza; da Paraíba (UFPB e UEPB), de Pernambuco (UFPE) e da Bahia (UFBA).

O diretor da FATEC – Faculdade de Tecnologia Centec, professor Raimun-do Barreto, conta que a instituição foi criada para ajudar a desenvolver o po-tencial tecnológico no interior do Ceará. Em Juazeiro, a instituição funciona des-

100 anos em 10

Há cerca dez anos, o juazeirense que sonhasse ingressar em curso univer-sitário tinha como opção a Universi-dade Regional do Cariri (Urca) e sua maioria de  cursos  sediados no Cra-to, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (antigo CEFET\Escola Técnica Federal) e o CENTEC. Restavam como alternativas, deixar a cidade para tentar a vida acadêmi-ca em Fortaleza ou estados vizinhos. O cenário de hoje está bem diferen-te.  Educadores  acreditam que,  pelo menos,  na  formação  universitária, o que Juazeiro não cresceu durante um século, evoluiu em uma década.

de 1999 formando. Hoje, são quase 200 alunos formados por ano, como tecnó-logo de nível superior ou técnico de ní-vel médio. “Ao longo desses últimos dez anos, se voltou o olhar para o interior, principalmente para Juazeiro do Norte. Aqui, a educação no ensino superior promoveu um processo de qualificação nas áreas de saúde, indústria, serviços e agrícola”, explica.

São mais de 70 cursos, entre pre-senciais e a distância, oferecidos por 12 instituições de ensino superior, entre públicas e privadas. Formam em análise de sistemas, agronomia, músi-ca, tecnologia, saneamento ambiental, odontologia, fisioterapia, medicina, fí-sica, educação física, matemática, jor-nalismo, administração, serviço social, direito, engenharia de materiais, civil

e ambiental, artes, teatro, design de produto, tecnologia em alimentos, psi-cologia, enfermagem e contabilidade e tantoutros.

Agora, de vez, os papéis se inverte-ram. Em vez de exportar juazeirenses, a cidade importa gente de todo o país interessada em fazer uma faculdade ou mesmo pós-graduação (especialização ou mestrado).

O campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Juazeiro do Norte tem apenas cinco anos. Mas, já oferece 11 cursos de graduação e um mestrado acadêmico em Desenvolvimento Regio-nal Sustentável, o primeiro de Juazeiro do Norte e da UFC no interior. Mais dois estão para iniciar em 2012: Agronomia e Matemática.

“Acho que é muito cedo para atri-buirmos à UFC Cariri uma contribuição efetiva e mensurável para o crescimento que Juazeiro hoje experimenta, embora já tenha cerca de 1.600 alunos e um cor-po docente com quase 200 professores, 85% pós-graduados com mestrado ou doutorado. Não há dúvida de que a ainda contribuiremos muito para o crescimen-

to da região, pela formação de recursos humanos proporcionada com melhor qualificação profissional, pelos trabalhos de pesquisa, com geração de tecnologia e ampliação do conhecimento e pelas ações de extensão com o entorno não universitário, melhorando a qualidade de vida da população” prevê o diretor do campus Ricardo Ness.

UFC chega para qualificar

RICARDO NESS - Diretor da UFC CaririCAMPUS CARIRI da Universidade Federal do Ceará-UFC em Juazeiro

CHEGADA DA FACULDADE DE MEDICINA em Juazeiro teve como principal incentivador o médico e ex-prefeito Mauro sampaio

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Desafio é sintonizar agendauniversitária com a região

Sustentabilidade

A universidade a serviço da socieda-de, da região onde está inserida. Esse é um dos deveres das institui-

ções que fomentam o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. “É realmen-te uma tarefa difícil, mas já vem ocor-rendo. O grande desafio é reconstruir a agenda da universidade tendo como pauta as demandas locais. Por isso, nos-sa preocupação é também formar pro-fissionais que atendam essas necessida-des da região” diz o professor Eduardo Vivian, do curso de Administração da UFC Cariri.

Ele coordena a primeira experiência de Juazeiro do Norte com a economia solidária no bairro Timbaúbas, em Ju-azeiro. “A Associação de moradores, que já existia, procurou a universidade na busca de apoio. A partir do início do processo de acompanhamento, sur-giu a ideia do banco comunitário, que se encaixava perfeitamente dentro dos propósitos de trabalho desta associa-ção” conta. O banco comunitário trouxe a moeda social batizada de Timba (um Timba vale um Real), que já está circu-lando, com o propósito de promover o desenvolvimento local e gerar trabalho e renda.

A coordenadora do Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentá-

vel da UFC Cariri, Suely Chacon, é uma das responsáveis pela conquista desse curso de pós-graduação para o interior, com estudos focados, principalmente, na região semiárida. “O compromisso das instituições de ensino em fomentar uma visão mais crítica na sociedade, possibilita novas percepções em relação à valorização do território do ponto de vista social, cultural, ambiental e políti-co. E ainda influencia na formatação de políticas públicas realmente em sinto-nia com os princípios da sustentabilida-de” enfatiza.

No ano do Centenário há muito tra-balho para as universidades e faculda-des de Juazeiro. Dentro da programa-

ção festiva, a UFC Cariri, por exemplo, propôs à Comissão do Centenário um seminário para discutir o Juazeiro e a sua sustentabilidade para os próximos 100 anos. “Pensar e sonhar Juazeiro para daqui a cem anos é um grande desafio. Juazeiro é o ambiente catalisa-dor do desenvolvimento da região do Cariri, recentemente instituída Região Metropolitana e há vários problemas a serem encarados com muita seriedade, bom senso e responsabilidade. Só para mencionar um, dos mais urgentes a ser abordado, cito a gestão ambiental quan-to ao destino dos dejetos sólidos (lixo)” diz Ricardo Ness, diretor do campus da UFC Cariri.

Em 10 anos, as faculda-des particulares se mul-tiplicaram. Hoje, atuam na cidade a Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (FMJ), Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio (FALS), Fa-culdade de Juazeiro do Norte (FJN), Faculdade Paraíso (FAP), Faculdade Internacional de Teologia Aplicada (FITA) e exten-sões da Universidade Vale do Acaraú (UVA), Faculda-des Integradas de Patos (FIP) e um pólo da Univer-sidade Anhanguera e ou-tro da Estácio de Sá, com cursos a distância.

Faculdade Leão Sampaioaposta no Juazeiro competitivo

Empreendedores de fora que acredi-taram em Juazeiro se sentem satisfeitos com os resultados do investimento. Jai-me Romero, diretor-presidente da Fa-culdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio (FALS), considerada a maior faculdade particular do Cariri e uma das maiores do Ceará, diz que a instituição deu certo por vários motivos. Isto por-que a “Terra do Padre Cícero” tem po-tencial para se desenvolver de forma competitiva no mercado. “Juazeiro tem potencial para ser pólo por três fatores: primeiro é a questão geográfica é até estratégica, em segundo a visão do povo daqui direcionada ao trabalho e em terceiro a preocupação com a pre-servação ambiental, seguindo os pre-ceitos do Padre Cícero” lembra.

Junto com o Centenário a FALS completa dez anos e comemora os números: 13 cursos de graduação, 15 de pós-graduação, 7000 alunos ma-triculados, mais de 200 funcionários.

“Agora, queremos manter o cresci-mento sem perder a qualidade” ressal-ta o diretor.

No ano do Centenário há muito trabalho para as universidades e facul-dades de Juazeiro do Norte. Dentro da programação festiva, a UFC Cariri, por exemplo, propôs à Comissão do Cente-nário um seminário para discutir o Jua-zeiro e a sua sustentabilidade para os próximos 100 anos. “Pensar e sonhar Juazeiro para daqui a cem anos é um grande desafio. Juazeiro é o ambiente

catalisador do desenvolvimento da re-gião do Cariri, recentemente instituída Região Metropolitana e há vários pro-blemas a serem encarados com muita seriedade, bom senso e responsabili-dade. Só para mencionar um, dos mais urgentes a ser abordado, cito a gestão ambiental quanto ao destino dos deje-tos sólidos (lixo)” diz Ricardo Ness, dire-tor do campus da UFC Cariri.

Na formação de professores para o ensino do campo, Jua-zeiro do Norte foi pioneira no Brasil. Em 1934, ano da mor-te de Padre Cícero, foi funda-da a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, primeira do país nesse modelo. A ins-tituição funcionou de 1934 a 1946, ano em que foi institu-ída a Lei Orgânica do Ensino Normal, ocorrendo mudan-ças na estrutura curricular na referida escola.

VOCÊ sabia?

ENTRADA da Faculdade Leão Sampaio em Juazeiro

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