ESPECIAL LINGUA PORTUGUESA - VESTIBULAR

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ST. JAMES ESPECIAL DE LÍNGUA PORTUGUESA – VESTIBULAR PROFESSORA CLAUDIA BETONI DATA: 5 DE SETEMBRO 1. (Unesp 2012) Leia os dois textos. Texto 1 O livro de língua portuguesa ‘Por uma Vida Melhor’, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), contém alguns erros gramaticais. “Nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe” são dois exemplos de erros. Na avaliação dos autores do livro, o uso da língua popular, ainda que contendo erros, é válido. Os escritores também ressaltam que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”. A autora Heloisa Ramos justifica o conteúdo da obra. “O importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa.” (www.opiniaoenoticia.com.br. Adaptado.) Texto 2 Ninguém de bom-senso discorda de que a expressão popular tem validade como forma de comunicação. Só que é preciso que se reconheça que a língua culta reúne infinitamente mais qualidades e valores. Ela é a única que consegue produzir e traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia, da literatura, das artes e das ciências. A linguagem popular a que alguns colegas meus se referem, por sua vez, não apresenta vocabulário nem tampouco estatura gramatical que permitam desenvolver ideias de maior complexidade – tão caras a uma sociedade que almeja evoluir. Por isso, é óbvio que não cabe às escolas ensiná-la. (Evanildo Bechara. Veja, 01.06.2011. Adaptado.) Assinale a alternativa correta acerca da relação entre linguagem popular e norma culta. a) Os dois textos apresentam preocupação com a prática do preconceito linguístico sobre pessoas que se expressam fora dos padrões cultos da língua portuguesa. b) Os dois textos defendem ser possível expressar ideias filosóficas tanto em linguagem popular quanto seguindo os padrões da norma culta. c) Para Evanildo Bechara, não existem critérios que possam definir graus de superioridade ou inferioridade entre linguagem popular e norma culta. d) O texto 2 sugere que a norma culta é instrumento de dominação das elites burguesas sobre as classes populares. e) Para Evanildo Bechara, a norma culta é superior no que se refere à capacidade de expressão de ideias complexas no campo cultural. 2. (G1 - ifsc 2012) Leia e observe com atenção o quadrinho e, a seguir, assinale a alternativa CORRETA.

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ST. JAMES ESPECIAL DE LÍNGUA PORTUGUESA – VESTIBULAR PROFESSORA CLAUDIA BETONI DATA: 5 DE SETEMBRO

1. (Unesp 2012) Leia os dois textos.

Texto 1

O livro de língua portuguesa ‘Por uma Vida Melhor’, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), contém alguns erros gramaticais. “Nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe” são dois exemplos de erros. Na avaliação dos autores do livro, o uso da língua popular, ainda que contendo erros, é válido. Os escritores também ressaltam que, caso deixem a norma culta, os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”. A autora Heloisa Ramos justifica o conteúdo da obra. “O importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo da situação comunicativa.”

(www.opiniaoenoticia.com.br. Adaptado.)

Texto 2

Ninguém de bom-senso discorda de que a expressão popular tem validade como forma de comunicação. Só que é preciso que se reconheça que a língua culta reúne infinitamente mais qualidades e valores. Ela é a única que consegue produzir e traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia, da literatura, das artes e das ciências. A linguagem popular a que alguns colegas meus se referem, por sua vez, não apresenta vocabulário nem tampouco estatura gramatical que permitam desenvolver ideias de maior complexidade – tão caras a uma sociedade que almeja evoluir. Por isso, é óbvio que não cabe às escolas ensiná-la.

(Evanildo Bechara. Veja, 01.06.2011. Adaptado.)

Assinale a alternativa correta acerca da relação entre linguagem popular e norma culta.

a) Os dois textos apresentam preocupação com a prática do preconceito linguístico sobre pessoas que se expressam fora dos padrões cultos da língua portuguesa.

b) Os dois textos defendem ser possível expressar ideias filosóficas tanto em linguagem popular quanto seguindo os padrões da norma culta.

c) Para Evanildo Bechara, não existem critérios que possam definir graus de superioridade ou inferioridade entre linguagem popular e norma culta.

d) O texto 2 sugere que a norma culta é instrumento de dominação das elites burguesas sobre as classes populares. e) Para Evanildo Bechara, a norma culta é superior no que se refere à capacidade de expressão de ideias complexas no campo

cultural.

2. (G1 - ifsc 2012) Leia e observe com atenção o quadrinho e, a seguir, assinale a alternativa CORRETA.

a) A mensagem de humor transmitida pelo quadrinho se dá com a concomitância da linguagem escrita e da linguagem visual. b) Só a linguagem escrita é suficiente para a composição e a transmissão da mensagem humorística contida no quadrinho. c) É na linguagem visual que está centrada toda a mensagem humorística transmitida, sendo a escrita dispensável. d) A mensagem escrita no quadrinho, representada pela fala da personagem, apresenta todas as características da linguagem

culta, ou padrão. e) Na mensagem escrita, há ocorrência de um mesmo substantivo, ora no masculino, ora no feminino.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

3. (Uerj 2012) Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno presente na literatura e nas artes em geral.O quadro A perspicácia, do belga René Magritte, é um exemplo de metalinguagem porque:

a) destaca a qualidade do traço artístico b) mostra o pintor no momento da criação c) implica a valorização da arte tradicional d) indica a necessidade de inspiração concreta

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Sobre a origem da poesia

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso

não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, 1a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.

4Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.

A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado.

Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?

2Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.

Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), 5não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.

3Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).

6No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo.

(...)Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos

se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. 8Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.

ARNALDO ANTUNESwww.arnaldoantunes.com.br

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4. (Uerj 2012) No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à linguagem referencial.Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental: a) o desgaste da intuição b) a dissolução da memória c) a fragmentação da experiência d) o enfraquecimento da percepção

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO I

A Rede VeiaLuiz Queiroga e Cel. Ludugero

Eu tava com a Felomena Ela quis se refrescar O calor tava malvado Ninguém podia aguentar Ela disse meu Lundru Nós vamos se balançar A rede veia comeu foi fogo Foi com nois dois pra lá e pra cá

Começou a fazer vento com nois dois a palestrarFilomena ficou beba de tanto se balançar Eu vi o punho da rede começar a se quebrar A rede veia comeu foi fogo Só com nois dois pra lá e pra cá

A rede tava rasgada e eu tive a impressão Que com tanto balançado nois terminava no chão Mas Felomena me disse, meu bem vem mais pra cá A rede veia comeu foi fogo Foi com nois dois pra lá e pra cá

Disponível em http://www.luizluagonzaga.mus.br/index.php?option=com_content&task=view&id=&&&Itemid= 103

Acessado em: 02 ago 2011.

TEXTO II

PescariaDorival Caymmi

Ô canoeiro, bota a rede, bota a rede no mar ô canoeiro, bota a rede no mar.

Cerca o peixe, bate o remo,puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro, puxa a rede do mar.

Vai ter presente pra Chiquinha ter presente pra laiá, canoeiro, puxa a rede do mar. Cerca o peixe, bate o remo, puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro, puxa a rede do mar.

Louvado seja Deus, ó meu pai.

Disponível em: http://www.miltonnascimento.com.br/#/obra. Acessado em: 02 ago 2011.

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TEXTO III

A RedeLenine e Lula Queiroga

Nenhum aquário é maior do que o mar Mas o mar espelhado em seus olhos Maior me causa o efeito De concha no ouvido

Barulho de mar Pipoco de onda Ribombo de espuma e sal Nenhuma taça me mata a sede Mas o sarrabulho me embriaga Mergulho na onda vaga E eu caio na rede, Não tem quem não caia E eu caio na rede, Não tem quem não caia

Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixeDe raios que controla a onda cerebral do peixe

Nenhuma rede é maior do que o mar Nem quando ultrapassa o tamanho da TerraNem quando ela acerta,Nem quando ela erra Nem quando ela envolve todo o Planeta

Explode e devolve pro seu olhar O tanto de tudo que eu tô pra te dar Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove

Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/a-rede-1Acessado em: 02 ago 2011.

TEXTO IV

NinaChico Buarque

Nina diz que tem a pele cor de neveE dois olhos negros como o breuNina diz que, embora novaPor amores já chorouQue nem viúvaMas acabou, esqueceu

Nina adora viajar, mas não se atreve Num país distante como o meu Nina diz que fez meu mapa E no céu o meu destino rapta O seu

Nina diz que se quiser eu posso ver na tela A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela Posso imaginar por dentro a casa A roupa que ela usa, as mechas, a tiara Posso até adivinhar a cara que ela faz Quando me escreve

Nina anseia por me conhecer em breve Me levar para a noite de Moscou Sempre que esta valsa toca Fecho os olhos, bebo alguma vodca E vou

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Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=nina_2011.htmAcessado em: 02 ago 2011.

5. (Uff 2012) Uma língua varia em função de aspectos sociais, localização geográfica e uso de diferentes registros, ligados ás situações de comunicação.

Marque a alternativa que analisa corretamente a ocorrência de variação linguística nos textos. a) O verso “Nós vamos se balançar” (Texto 1, linha 6) apresenta um exemplo da modalidade culta da língua, revelada no emprego

dos pronomes. b) No verso “A rede veia comeu foi fogo” (Texto 1, linha 7), a grafia da palavra sublinhada procura reproduzir pronúncia comum em

algumas regiões do Brasil (veia por velha), que exemplifica uma variação fonética. c) Em: “E eu caio na rede / Não tem quem não caia” (Texto III, linhas 11 – 12), o emprego do verbo ter é marca do registro culto da

língua, utilizado preferencialmente na modalidade escrita. d) Em: “Vai ter presente pra Chiquinha” (Texto II, linha 12), o nome “Chiquinha” exemplifica o uso do registro informal, utilizado,

sobretudo, em documentos oficiais e sermões religiosos. e) No verso: “Posso até adivinhar a cara que ela faz” (Texto IV, linha 16) a palavra cara exemplifica uma variação de registro

linguístico predominante em situações formais.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Casa de Pensão (fragmento)

Às oito horas, quando entrou em casa tinha já resolvido não ficar ali nem mais um dia. − 1Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem!

Mas também, se por um lado não lhe convinha ficar em companhia do Campos; por outro, a ideia de se meter na república do Paiva não o seduzia absolutamente. 2Aquela miséria e aquela desordem lhe causavam repugnância. 3Queria liberdade, a boêmia, a pândega − sim senhor! tudo isso, porém, com um certo ar, com uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem travesseiros, um almoço sem talheres e uma alcova sem espelhos. 4Desejava a bela crápula, − por Deus que desejava! mas não bebendo pela garrafa e dormindo pelo chão de águas-furtadas! − Que diabo! − não podia ser tão difícil conciliar as duas coisas! ...

Pensando deste modo, subiu ao quarto. 5Sobre a cômoda estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo:

6"Querido Amâncio.7Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como, porém, já sou seu amigo, não encontro jeito de lhe falar doutro modo.

Ontem, quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para domingo, 8não me passava pela cabeça que hoje era dia santo e que fazíamos melhor em aproveitá-lo; por conseguinte, se o amigo não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que nos dará com isso grande prazer. Minha família, depois que lhe falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica à sua espera."

Assinava "João Coqueiro" e havia o seguinte post-scriptum: 9"Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha. Resende n ... "

Amâncio hesitou em se devia ir ou não. O Coqueiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisas que mais o atraíssem. No entanto, bem podia ser que ali estivesse o que ele procurava, − um cômodo limpo, confortável, um pouquinho de luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite.

− 10Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca.

− 11Foram passear ao Jardim Botânico, respondeu aquele, descendo as escadas.− Todos? ainda interrogou Amâncio.− Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o rosto. E saiu.− Está resolvido! pensou o estudante. − Vou à casa do Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo!E voltando ao quarto:− Não! É que tudo ali em casa do Campos já lhe cheirava mal!... Olhassem para o ar impertinente com que aquele

galeguinho lhe havia falado! ... E tudo mais era pelo mesmo teor. − Uma súcia d'asnos!12Começou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, atirando com as gavetas. O jarro vazio causou-lhe febre,

sentiu venetas de arrojá-lo pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, porque ela se não desprendesse logo, deu-lhe tal empuxão que a fez em tiras.

− Um horror! resmungava, a vestir-se furioso, sem saber de quê.− Um horror!E, quando passou pela porta da rua, teve ímpetos de esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de plantão.

AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. São Paulo: Ática, 2009, p.59-60.

6. (Ufpb 2012) Considerando a carta escrita por João Coqueiro para Amâncio, é correto afirmar: a) O emissor da carta, no fragmento “Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha.” (ref.9), assume uma postura

autoritária, ao expressar uma ordem. b) O emissor, ao escrever “Desculpe tratá-lo com esta liberdade.” (ref.7), deseja manter um distanciamento do receptor da carta. c) A principal finalidade da carta é fazer um convite a Amâncio, para passar a tarde do domingo no Hotel dos Príncipes. d) O uso do vocativo “Querido Amâncio” (ref.6) revela que o emissor deseja construir uma relação de intimidade com esse

destinatário. e) O uso da expressão “[...] não me passava pela cabeça [...]” (ref.8) sugere uma atitude ríspida de João Coqueiro.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do ouro da classe C. A

classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando jovem pato. Lembro do futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca paraobter suas primeiras patacas. Era preciso conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se busca, agora, fincar a bandeira do consumo no seio dos emergentes brasileiros.

Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a massa. É preciso dar o que a classe C quer ler – ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler. Daí as políticas de didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor e tornar estanque a informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender algo, ele fosse beber em outras fontes. 1Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo.

Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma revista popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher da classe C” ou “nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir cada vez mais artigos de decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com beleza, sobretudo o cabelo; que está preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e profissionalmente. É com base nestes números que 2a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal.

Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas amalucadas? A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30 kg com fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com florais de Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai passar o dia comendo linhaça? 3Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode.

Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar como tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que ninguém vai fazer, 4tipo uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte de ascensão profissional vem em matérias como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate feitos em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus doces”. Falar das possibilidades de voltar a estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido no trabalho? Nada. 5Dicas culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar.

Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas. A internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova classe média quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada impressionante. São todas inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a “Take a Break”. A fórmula é a mesmade uma “Sou + Eu”: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e distribuição de prêmios. Além deste tipo de abordagem também fazem sucesso as publicações de fofocas de celebridades ou sobre programas de TV –aqui, as novelas.

Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as pessoas a se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque se come mal. Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast food e guloseimas, sem se preocupar em perder anunciantes. Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância de fazer exercícios e de levar uma vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres da classe C a se sentirem bem com seu próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando pouco, sem se importar com marcas.

Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do computador e de levá-las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o mundo, ciências, artes –é possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para conhecedores, como se a cultura fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas populares que fossem feitas para ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que a classe C tenha suas próprias ideias?

(Cynara Menezes, 15/07/2011, em: http://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c)

7. (Ita 2012) Das opções abaixo, a única que não apresenta linguagem informal é a) Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de quase todo mundo. (ref.1) b) [...] a editora oferece o produto – a revista – ao mercado de anunciantes. Normal. (ref.2) c) Estão confundindo a classe C com passarinho, só pode. (ref.3) d) [...] tipo uma parede toda de filtros de café usados. [...]. (ref.4) e) Dicas culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar. (ref.5)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O padeiro

Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento − mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

– Não é ninguém, é o padeiro!Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de

uma casa e ser atendido por uma empregada ou por uma outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia trabalho noturno. Era pela

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madrugada que deixava a redação do jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estavam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi uma lição daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”.

E assoviava pelas escadas.

(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado)

8. (G1 - ifsp 2012) Considere as afirmações sobre o texto.

I. O cronista, embora se baseie em uma experiência particular e cotidiana, relata os fatos de forma impessoal e neutra.II. A facilidade de compreensão do texto ocorre porque o cronista desrespeita a linguagem padrão, optando pela linguagem

coloquial.III. O texto apresenta o discurso indireto e há a reconstituição dos eventos marcada pelas recordações do cronista.

É correto o que se afirma em a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Texto I

Língua portuguesaOlavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela (...)

Observação: Última flor do Lácio = Lácio é uma região na Itália central onde se falava latim. Muitas línguas derivam do latim, como o francês, o espanhol e o italiano; a última delas foi a língua portuguesa, conforme diz o poema, que também a caracteriza como inculta, ou seja, não lapidada, em comparação às outras também formadas a partir do latim.

Vocabulárioganga = matéria inútil que se separa dos mineraisvela = permanece de vigia

(Olavo Bilac. Tarde. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Adaptado)

Texto II

[…] Fiquei pensando: “Mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia!”, repensei baixando o olhar para a terra. Se eu escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos? Fui falar com meu pai. […] Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse-me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser em italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo?

(Lygia Fagundes Telles. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. p. 109-111. Adaptado)

9. (G1 - ifsp 2012) No trecho – “O tal de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultura eu entendia bem”,... – a expressão “O tal de Lácio” revela um uso de linguagem apropriado a) às situações de emprego da norma-padrão. b) às situações de fala, em conversas. c) à manifestação de respeito pelo local indicado. d) aos autores de literatura clássica. e) a um discurso em situação de extrema formalidade.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Futebol de ruaLuís Fernando Veríssimo

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. (I) Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. (II) Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. (III) Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. (...)

DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. (IV) Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentarem o impacto. (...)

DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO – (V) Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DO JUIZ – Não tem juiz.(...)

DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições:a) No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição.b) Em caso de atropelamento.

DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner*.

DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.

DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa.

*córner = escanteio(Publicado em Para Gostar de Ler. v.7. SP: Ática, 1981)

10. (G1 - ifpe 2012) Em relação ao registro linguístico usado na crônica, assinale a alternativa correta. a) A linguagem é formal, como se verifica pela presença de um termo estrangeiro – córner. b) A linguagem é informal, visto que o texto é permeado de gírias, como “pelada”. c) A linguagem é culta, dado o uso de termos jurídicos como “litígio” e “penalidades”. d) A linguagem é coloquial, uma vez que predomina o vocabulário comum, do dia a dia. e) A linguagem é rebuscada, dada a presença de termos eruditos - “esférica” e “reverência”.