Especial noivos

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15 Abril 2010 | O MIRANTE 30 | ESPECIAL NOIVOS Quem disse que o casamento deve realizar-se na terra da noiva? E que o fato do noivo não serve para ser usado depois? Um ramo feito com vides enfeitadas com rosas vermelhas pode servir de bouquet de noiva? Nem só da tradição vive o grande dia. “Queres casar? Sim ou não?” O pedido foi espontâneo e apanhou de surpresa a namorada de Pedro Lagarei- ro dos Santos, 30 anos, residente em Benavente. A casa já estava montada quando o técnico superior de comu- nicação mudou de opinião e decidiu partir para o enlace com Susana Simões indo assim ao encontro da tradição de família. O dia do casamento, 8 de Outu- bro de 2005, não foi menos original. A marcação foi feita em Março do próprio ano, quando os salões já têm as agendas preenchidas, e por isso o noivo não conseguiu dar o nó a 24 de Setembro, data de aniversário, aproveitada para a despedida de solteiro. “Fui um noivo radical”, avisa Pedro no início da conversa. O fato para a cerimónia foi comprado numa loja de roupa casual. Escolheu um modelo que lhe permitisse voltar a vesti-lo. O mes- mo aconteceu com os sapatos, explica quem não suporta a ideia de comprar uma peça para um dia único. “Fugiu” à cerimónia na Igreja e casou às 16h00 de um sábado pelo registo. Não houve recepção aos convidados em casa e o casamento não se realizou na terra da noiva (Marinhais) já que o noivo tinha maior número de convidados. A cerimónia civil decorreu no salão nobre da Casa Calheiros, que acolhe hoje a Biblioteca Municipal de Benavente. Pedro Lagareiro dos Santos proibiu os apitos dos convidados no percurso até ao restaurante “O Miradouro” e foi o último a chegar para evitar surpresas sonoras de última hora. Ao contrário do que é habitual as fotografias foram reduzidas ao mínimo e os 350 convi- dados não perderam tempo na ronda pelos jardins. “Gastei 300 euros nas fotos”, exemplifica. O DVD foi realizado por um amigo. Os convidados foram distribuídos por mesas com nomes de desenhos animados como a formiga fenómeno ou o coelho, Bugs Bunny, e como brinde o noivo ofereceu um artigo útil: uma almofada para prender agulhas que a mãe e madrinha do noivo ajudaram a fazer. Ao contrário de Pedro Lagareiro dos Santos a professora do primeiro ciclo do ensino básico, Ana Costa, 32 anos, escolheu a manhã para realizar o ca- samento num registo mais tradicional. A cerimónia realizou-se a 5 de Julho de 2003 na aldeia de Vale da Pedra, no concelho do Cartaxo, onde residia também o noivo, Isidro Martins. Às 10h00 já estava à beira rio, em Valada, para ser fotografada na aldeia de onde era natural a mãe. “É um dia em que passamos muito tempo com o fotógrafo para relembrar mais tarde como foi esse dia”, admite. Organizou em casa uma recepção aos convidados e ainda teve que fazer um compasso de espera para ver pas- sar os carros do noivo. Saiu depois em direcção à igreja. Entrou de braço dado com o pai quando todos os convidados já estavam sentados. A vela de baptis- mo dos dois noivos foi usada durante a cerimónia. O noivo passou o dia gelado, não por causa da temperatura que se fazia sentir em início de Julho, mas pelo receio de que alguma coisa não corresse bem, revela a noiva, mais tranquila, que esteve preocupada sobretudo com a mãe, na altura bastante debilitada em termos de saúde. Os convidados foram distribuídos por mesas com pensamentos sobre a felicidade, o amor e alegria. A noiva usou liga e um saiote emprestado, como manda a tradição. Os sapatos baixos que usou durante o dia já tinham sido estreados numa outra cerimónia e por isso a caminhada foi confortável. O bouquet em tons dourados com ramos de vides e rosas vermelhas ficou esquecido no restaurante onde se reali- zou o casamento. Não por superstição, mas por mero acaso. “Não voltei lá para o ir buscar”, diz divertida entre duas gargalhadas. O noivo radical e o bouquet de vides e rosas vermelhas O dia do casamento é feito de pormenores RADICAL. Pedro Lagareiro dos Santos quis um casamento mais sóbrio FESTA. Ana Costa usou um bouquet original “Fui um noivo radical”, avisa Pedro no início da conversa. O fato para a cerimónia foi comprado numa loja de roupa casual. Escolheu um modelo que lhe permitisse voltar a vesti-lo. O mesmo aconteceu com os sapatos, explica quem não suporta a ideia de

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15 Abril 2010 | O MIRANTE30 | ESPECIAL NOIVOS

Quem disse que o casamento deve realizar-se na terra da noiva? E que o fato do noivo não serve para ser usado depois? Um ramo feito com vides enfeitadas com rosas vermelhas pode servir de bouquet de noiva? Nem só da tradição vive o grande dia.

“Queres casar? Sim ou não?” O pedido foi espontâneo e apanhou de surpresa a namorada de Pedro Lagarei-ro dos Santos, 30 anos, residente em Benavente. A casa já estava montada quando o técnico superior de comu-nicação mudou de opinião e decidiu partir para o enlace com Susana Simões indo assim ao encontro da tradição de família. O dia do casamento, 8 de Outu-bro de 2005, não foi menos original. A marcação foi feita em Março do próprio ano, quando os salões já têm as agendas preenchidas, e por isso o noivo não conseguiu dar o nó a 24 de Setembro, data de aniversário, aproveitada para a despedida de solteiro.

“Fui um noivo radical”, avisa Pedro no início da conversa. O fato para a cerimónia foi comprado numa loja de roupa casual. Escolheu um modelo que lhe permitisse voltar a vesti-lo. O mes-mo aconteceu com os sapatos, explica quem não suporta a ideia de comprar uma peça para um dia único.

“Fugiu” à cerimónia na Igreja e casou às 16h00 de um sábado pelo registo. Não houve recepção aos convidados em casa e o casamento não se realizou na terra da noiva (Marinhais) já que o noivo tinha maior número de convidados. A cerimónia civil decorreu no salão nobre da Casa Calheiros, que acolhe hoje a Biblioteca Municipal de Benavente.

Pedro Lagareiro dos Santos proibiu os apitos dos convidados no percurso até ao restaurante “O Miradouro” e foi o último a chegar para evitar surpresas sonoras de última hora. Ao contrário do que é habitual as fotografias foram reduzidas ao mínimo e os 350 convi-dados não perderam tempo na ronda pelos jardins. “Gastei 300 euros nas fotos”, exemplifica. O DVD foi realizado por um amigo. Os convidados foram distribuídos por mesas com nomes de desenhos animados como a formiga fenómeno ou o coelho, Bugs Bunny, e como brinde o noivo ofereceu um artigo útil: uma almofada para prender agulhas que a mãe e madrinha do noivo ajudaram a fazer.

Ao contrário de Pedro Lagareiro dos Santos a professora do primeiro ciclo do ensino básico, Ana Costa, 32 anos, escolheu a manhã para realizar o ca-samento num registo mais tradicional. A cerimónia realizou-se a 5 de Julho de 2003 na aldeia de Vale da Pedra, no concelho do Cartaxo, onde residia também o noivo, Isidro Martins.

Às 10h00 já estava à beira rio, em Valada, para ser fotografada na aldeia de onde era natural a mãe. “É um dia em que passamos muito tempo com o fotógrafo para relembrar mais tarde como foi esse dia”, admite.

Organizou em casa uma recepção aos convidados e ainda teve que fazer um compasso de espera para ver pas-sar os carros do noivo. Saiu depois em direcção à igreja. Entrou de braço dado com o pai quando todos os convidados já estavam sentados. A vela de baptis-mo dos dois noivos foi usada durante a cerimónia.

O noivo passou o dia gelado, não por causa da temperatura que se fazia sentir em início de Julho, mas pelo receio de que alguma coisa não corresse bem, revela a noiva, mais tranquila, que esteve preocupada sobretudo com a mãe, na altura bastante debilitada em termos de saúde.

Os convidados foram distribuídos por mesas com pensamentos sobre a felicidade, o amor e alegria. A noiva usou liga e um saiote emprestado, como manda a tradição. Os sapatos baixos que usou durante o dia já tinham sido estreados numa outra cerimónia e por isso a caminhada foi confortável.

O bouquet em tons dourados com ramos de vides e rosas vermelhas ficou esquecido no restaurante onde se reali-zou o casamento. Não por superstição, mas por mero acaso. “Não voltei lá para o ir buscar”, diz divertida entre duas gargalhadas.

O noivo radical e o bouquet de vides e rosas vermelhasO dia do casamento é feito de pormenores

RADICAL. Pedro Lagareiro dos Santos quis um casamento mais sóbrio

FESTA. Ana Costa usou um bouquet original

“Fui um noivo radical”, avisa Pedro no início da conversa. O fato para a cerimónia foi comprado numa loja de roupa casual. Escolheu um modelo que lhe permitisse voltar a vesti-lo. O mesmo aconteceu com os sapatos, explica quem não suporta a ideia de

O MIRANTE | 15 Abril 2010 ESPECIAL NOIVOS | 31

Um pavilhão construído para o

grande diaAna Bela e Abílio Rodrigues, um casal

de empresários de Azambuja, casaram há quase 33 anos num tempo em que a tradição mandava que fossem os pais a organizar a festa.

A noiva, 19 anos, vivia em Casével, no concelho de Santarém. O noivo, 23 anos, residia em Alcorochel, já no município de Torres Novas. O que a Estrada Nacional 3 separava o matrimónio uniu a 9 de Julho de 1977.

A boda foi feita em casa e o pai de Ana Bela, que chegou a estar emigrado na Alemanha, construiu um pavilhão propositadamente para o casamento da filha mais velha. No mesmo espaço casaram depois os três irmãos mais novos (mais duas raparigas e um rapaz).

O vestido da noiva era branco com véu comprido. Foi comprado num pronto-a-vestir em Torres Novas o que não era muito comum na altura. Na semana do casamento os padrinhos receberam um tabuleiro com vários doces e à casa dos convidados também chegou arroz doce e bolos ferraduras.

Para preparar a boda a família rece-beu a cozinheira durante uma semana em casa. “Lembro-me que foi dormir à segunda-feira a nossa casa”, recorda Ana Bela. Os bolos começaram a ser prepa-rados à terça e à quinta-feira foi a vez das carnes. Receberam 232 convidados, recorda a o noivo, Abílio Rodrigues.

Na noite anterior à cerimónia a noiva não dormiu o sono de beleza porque foi preciso ajudar a família. Uma hora de descanso chegou. Às seis da manhã, mesmo sem despertador, Ana Bela correu até ao cabeleireiro. Vestiu-se em casa e seguiu depois para a igreja de táxi, propriedade de um tio. Começava assim uma festa que prometia durar até às seis horas da manhã do dia seguinte. Um grupo de amigos não arredou pé e quis ficar. Os noivos fizeram companhia até chegar a altura de receber as “visitas”, a prenda para ajudar os noivos em início de vida.

Ana Bela Rodrigues

15 Abril 2010 | O MIRANTE32 | ESPECIAL NOIVOS

Já lá vão os tempos em que havia meio milhar de casamentos no Santuário, como aconteceu num ano da década de cinquenta.

José e Maria Reis vivem em Moita, freguesia de Fátima, e casaram há 17 anos no Santuário de Fátima. Ele era jardineiro nos jardins do Santuário e ela, oriunda do Norte do país, tinha vin-do trabalhar para a hotelaria. A decisão de casarem naquele local surpreendeu muitos convidados. José lembra que foi o patrão que o casou. “Quem celebrou o casamento foi o Reitor do Santuário, Monsenhor Luciano Guerra”.

Casar no Santuário de Fátima não é tão difícil como parece mas já teve mais adeptos. Segundo o Padre Francisco Pereira, director do Serviço de Pas-toral Litúrgica, o número de pedidos anuais anda entre os vinte e os trinta. O ano passado foram celebrados vinte e nove casamentos. Para este ano já estão marcados quinze. E raramente surge uma desistência. O recorde foi estabelecido nos anos 50. A mesma fonte disse a O MIRANTE que houve um ano em que foram celebradas quinhentas uniões.

O casamento de José e Maria Reis foi em Dezembro de 1993. E foi celebrado em conjunto com os de outros dois casais. “É a única coisa que lamento”, diz Maria. “Eu preferia um casamento só para mim”. Se fosse hoje, ela teria possibilidade de ver o seu sonho concretizado. Os casamentos na Basílica são aos sábados às 12h00 sendo a escolha do sacerdote da responsabi-

lidade do Santuário. Só é aceite uma marcação por cada sábado, o que pode explicar a diminuição acentuada dos casamentos no local.

Mas há outra possibilidade. Os casa-mentos celebrados na Capela dos San-tos Anjos e Capela de S. José. Também são individuais mas pode ser marcado mais que um para o mesmo sábado uma vez que decorrem celebrações de uniões ao meio-dia e às três da tarde. Todas as informações podem ser solici-tadas através do telefone 249539600 ou mesmo através de correio electrónico: sepali fatima.pt

A utilização da Basílica tem a ver com a dignidade do acto e com a vontade do Santuário de dar mais visibilidade aos casamentos. O padre Francisco Pereira diz que “sendo o sacramento do matrimónio também uma celebração comunitária e o San-tuário um espaço de vida espiritual para a comunidade cristã, a institui-ção desejou oferecer-lhe a dignidade grande que têm como sacramentos marcantes para a vida das pessoas. A Basílica é a igreja mais digna que temos. Aquela que acolhe todos os momentos importantes”.

O vestido de noiva de Maria Reis foi comprado no Santuário por 5 contos de entre os vestidos em segunda mão que muitas noivas ofereciam a Nossa Senhora. À saída da Basílica, local onde decorreu a cerimónia, os noivos foram recebidos com a tradicional chuva de arroz que actualmente não é permitida. Fora de questão estão também os enfeites que se têm que resumir à balaustrada. “Como temos a Igreja enfeitada não queremos uma coisa muito espampanante que acabe

por trazer perturbação à celebração”, explica o Padre Francisco Pereira.

Seguindo a tendência nacional, o terceiro trimestre é aquele em que se realizam mais casamentos no Santuário de Fátima. Os noivos que ali se casam são oriundos de todo o país e cerca de vinte por cento vêm de outros países. A principal razão para a escolha do Santuário é a grande devo-ção a Nossa Senhora. A seguir surge a localização geográfica que facilita bastante quando há famílias do Norte e do Sul de Portugal. Segundo dados do Santuário há também quem procure o santuário “invocando motivos de discordância com a sua paróquia como: idade avançada e quererem fugir dos olhares dos conterrâneos; ausência de qualquer vínculo com a paróquia e outras”. José Reis, recorda que o pároco da freguesia de Fátima, não ficou muito contente quando soube que ele ia casar no Santuário.

Sendo o casamento um dia muito especial para os noivos, o que se deseja é que tudo corra bem. José e Maria contam que apesar de ser Dezembro estava sol, que tiraram fotografias nas colunatas do Santuário e no Castelo de Ourém onde a noiva rasgou o vestido. A lua-de-mel é que nunca chegou a acontecer. “No dia seguinte ao ca-samento foi o dia da Festa de Natal no Santuário e nessa semana jogou o Benfica”, lembra José. Mas uma lua-de-mel é quando os noivos quiserem e nem sequer há pressa porque um casamento na Basílica de Fátima sob o olhar de um a Nossa Senhora, é um casamento com…certificado de garantia.

Casar na Basílica do Santuário de Fátima já esteve mais na modaCerimónias são aos sábados ao meio-dia e só uma por cada sábado