Especial SMS Pirata na Teletime

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6 TELETIME ABR_2013 O mercado brasileiro de men- sagens de texto (SMS) corpo- rativas está em pé de guerra. De um lado, integradores homologados pelas teles denunciam a prática do que chamam de “SMS pirata”: a exploração indevida de rotas internacionais e de chipeiras para envio de mensagens de texto a preços abaixo da média do mercado, um serviço sem garantia de qualidade e que serve como uma porta aberta para spams e fraudes. Do outro lado, empresas de SMS de menor projeção defendendo seu modelo de negócios e afirmando que não estariam cometendo qualquer infração. No meio, as operadoras móveis, por cujas redes trafegam bilhões de SMS a cada mês e cujos sistemas têm dificulda- de em combater as fraudes. O clima esquentou no começo deste ano com o envio para as teles de um dossiê elabora- do pela TWW, uma das integradoras homologadas, no qual são listadas 14 empresas suspeitas de exploração de SMS através de canais irregulares. A Zenvia, outra integradora homologada, afirma ter uma lista com 80 empresas suspeitas. Essas e outras companhias conectadas às teles, dentre as quais Spring Wireless, Movile e Takenet, se juntaram em torno do MEF-LatAm e iniciaram uma cruzada contra o SMS pirata, em um esforço de identificação e denúncia de irregularidades. Faltam números confiáveis para dimensionar com precisão o problema, mas as variadas projeções indicam que se trata de uma briga de grande porte. Estima-se que o volume de SMS corpo- rativo trafegado no Brasil por canais não-certificados seria quase tão grande quanto aquele enviado por meios homo- logados, algo da ordem de 150 milhões de mensagens por mês. A maioria das empresas acusadas de pirataria de SMS vende seus serviços pela Internet por meio de websites atra- entes, com imagens que transmitem uma ideia de seriedade e qualidade. Algumas provêm de outros mercados, como o de VoIP, possuindo as autorizações exigidas pela Anatel, como a licença de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). Para estas, o SMS corporativo é apenas um serviço a mais em seu portfólio. O que atrai os clientes é, geralmente, o preço baixo. No SMS corporativo homologado, cada mensagem custa cerca de R$ 0,15 quando contratados volumes pequenos (leia-se poucos milhares), podendo chegar a R$ 0,08, quando acima de um milhão de mensa- gens ou, no mínimo, R$ 0,05, quando superior a cinco milhões de SMS. Alguns canais não homologados, por sua vez, conseguem preços abaixo de R$ 0,05, mesmo nas compras de volumes peque- nos. “Muitas vezes o cliente não sabe que está contratando SMS pirata. Ele vê apenas o preço. É como comprar uma carga roubada”, compara Cássio Macha- do, CEO da Zenvia. A diferença de preço fica ainda mais gritante quando a finalidade do SMS é para uma campanha de marketing. Isso porque as operadoras brasileiras cobram um preço mais caro para esse tipo de mensagem. Como não precisam pedir autorização para as teles, os piratas pra- ticam em mensagens de marketing os mesmos preços baixos cobrados pelo SMS corporativo. “Alguns clientes con- tratam SMS corporativo com integrado- res legais e SMS marketing com os pira- tas. Quando veem a diferença de preço, acabam trocando para o pirata o seu tráfego de SMS corporativo também”, reclama Michele Bader, COO da TWW. Na opinião do executivo, o problema diminuiria se as teles igualassem suas tabelas de preço, barateando o SMS de marketing. Michele estima que se isso acontecesse o volume mensal de men- sagens da TWW dobraria, passando de 15 milhões para 30 milhões. Há uma razão para as teles pratica- rem preços mais altos para mensagens de marketing: o medo de que o SMS se torne um canal para o envio de spams, o que destruiria o seu valor, tal como aconteceu com o email. Porém, o preço alto acaba estimulando a procura pelas empresas não homologadas. Muitas ofe- recem abertamente em suas páginas o Fernando Paiva [email protected] Pirataria de SMS Operadoras e integradores homologados intensificam esforço para identificar e denunciar a exploração indevida de rotas internacionais e chipeiras. .: CAPA SERGEY NIVENS/SHUTTERSTOCK.COM

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Especial da revista Teletime que aborda o SMS Pirata no mercado - sua utilização - prejuízos ao mercado e ao consumidor, além das penalidades previstas em lei. A matéria ainda traz opiniões de especialistas de empresas homologadas com as operadoras no mercado e o MEF - que se uniram para tentar eliminar empresas piratas do setor. Vale a leitura!

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O mercado brasileiro de men-sagens de texto (SMS) corpo-rativas está em pé de guerra. De um lado, integradores homologados pelas teles

denunciam a prática do que chamam de “SMS pirata”: a exploração indevida de rotas internacionais e de chipeiras para envio de mensagens de texto a preços abaixo da média do mercado, um serviço sem garantia de qualidade e que serve como uma porta aberta para spams e fraudes. Do outro lado, empresas de SMS de menor projeção defendendo seu modelo de negócios e afirmando que não estariam cometendo qualquer infração. No meio, as operadoras móveis, por cujas redes trafegam bilhões de SMS a cada mês e cujos sistemas têm dificulda-de em combater as fraudes. O clima esquentou no começo deste ano com o envio para as teles de um dossiê elabora-do pela TWW, uma das integradoras homologadas, no qual são listadas 14 empresas suspeitas de exploração de SMS através de canais irregulares. A Zenvia, outra integradora homologada, afirma ter uma lista com 80 empresas suspeitas. Essas e outras companhias conectadas às teles, dentre as quais Spring Wireless, Movile e Takenet, se juntaram em torno do MEF-LatAm e iniciaram uma cruzada contra o SMS pirata, em um esforço de identificação e denúncia de irregularidades.

Faltam números confiáveis para dimensionar com precisão o problema, mas as variadas projeções indicam que se trata de uma briga de grande porte. Estima-se que o volume de SMS corpo-rativo trafegado no Brasil por canais não-certificados seria quase tão grande quanto aquele enviado por meios homo-logados, algo da ordem de 150 milhões de mensagens por mês.

A maioria das empresas acusadas de pirataria de SMS vende seus serviços pela Internet por meio de websites atra-entes, com imagens que transmitem uma ideia de seriedade e qualidade. Algumas provêm de outros mercados, como o de

VoIP, possuindo as autorizações exigidas pela Anatel, como a licença de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). Para estas, o SMS corporativo é apenas um serviço a mais em seu portfólio.

O que atrai os clientes é, geralmente, o preço baixo. No SMS corporativo homologado, cada mensagem custa cerca de R$ 0,15 quando contratados volumes pequenos (leia-se poucos milhares), podendo chegar a R$ 0,08, quando acima de um milhão de mensa-gens ou, no mínimo, R$ 0,05, quando superior a cinco milhões de SMS. Alguns canais não homologados, por sua vez, conseguem preços abaixo de R$ 0,05, mesmo nas compras de volumes peque-nos. “Muitas vezes o cliente não sabe que está contratando SMS pirata. Ele vê apenas o preço. É como comprar uma carga roubada”, compara Cássio Macha-do, CEO da Zenvia.

A diferença de preço fica ainda mais gritante quando a finalidade do SMS é para uma campanha de marketing. Isso porque as operadoras brasileiras cobram um preço mais caro para esse tipo de

mensagem. Como não precisam pedir autorização para as teles, os piratas pra-ticam em mensagens de marketing os mesmos preços baixos cobrados pelo SMS corporativo. “Alguns clientes con-tratam SMS corporativo com integrado-res legais e SMS marketing com os pira-tas. Quando veem a diferença de preço, acabam trocando para o pirata o seu tráfego de SMS corporativo também”, reclama Michele Bader, COO da TWW. Na opinião do executivo, o problema diminuiria se as teles igualassem suas tabelas de preço, barateando o SMS de marketing. Michele estima que se isso acontecesse o volume mensal de men-sagens da TWW dobraria, passando de 15 milhões para 30 milhões.

Há uma razão para as teles pratica-rem preços mais altos para mensagens de marketing: o medo de que o SMS se torne um canal para o envio de spams, o que destruiria o seu valor, tal como aconteceu com o email. Porém, o preço alto acaba estimulando a procura pelas empresas não homologadas. Muitas ofe-recem abertamente em suas páginas o

Fernando [email protected]

Pirataria de SMSOperadoras e integradores homologados intensificam esforço para identificar e denunciar a exploração indevida de rotas internacionais e chipeiras.

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uso de SMS para marketing, inclusive para campanhas políticas. A prática é autorizada pelo Tribunal Superior Elei-toral (TSE), cabe lembrar. Contudo, seria de bom tom, tanto para mensa-gens políticas quanto para aquelas de marketing de produtos, que o receptor tenha concordado com o recebimento do SMS. TELETIME entrou em contato através de atendimento online no site de uma prestadora de marketing por SMS e constatou que não há qualquer preo-cupação com a autorização dos consu-midores. Informada de que queríamos enviar SMS de marketing para nossos clientes mesmo sem ter o opt-in expres-so deles, a atendente disse que não haveria qualquer problema.

Há informações de que as operadoras já estariam discutindo a possibilidade de reduzir o preço do SMS para fins de marketing, com o objetivo de combater o problema do SMS pirata.

Rotas internacionaisUm dos caminhos usados pelas

empresas não homologadas no Brasil é a compra de tráfego SMS no exterior. Há diversas empresas estrangeiras reven-dendo mensagens de texto no atacado, usando rotas internacionais. Elas se aproveitam de acordos de interconexão gratuita ou a preços muito baixos das teles para tráfego P2P (peer-to-peer), ou seja, entre usuários finais. Algumas têm o próprio SMSC (SMS Center) instalado na infraestrutura de operadoras de pequeno porte no exterior, algo impossí-vel de ser feito no Brasil, onde a conexão dos integradores às operadoras acontece em uma camada externa ao SMSC. Pos-suindo um SMSC, o pirata passa a ter acesso a todas as teles GSM do mundo, por meio de um emaranhado de contra-tos de interconexão. As mensagens fa -zem caminhos tortuosos para chegar ao seu destino, guiadas por algoritmos que indicam a rota mais barata. Se algum caminho é bloqueado, o sistema recalcu-la a rota automaticamente e reajusta o preço, se necessário. “As rotas interna-cionais são infinitas. Corta-se uma, apa-rece outra”, comenta Bader, da TWW.

É prática comum entre os piratas internacionais a falsificação do remetente, conhecida como “faking”, para enganar os sistemas das operadoras por onde as mensagens pas-sam. Outra artimanha atende pelo nome de “spoofing” e consiste na variação sistemá-

tica do remetente, para dificultar a iden-tificação da fraude. Estima-se que haja entre 40 e 60 SMSCs piratas espalhados mundo afora.

Para combater o SMS pirata em rotas internacionais, as teles investem em fil-tros que alertam quando acontece uma movimentação atípica. O indício de que algo está errado pode ser um grande volume de mensagens proveniente de um país pequeno em um curto espaço de tempo, ou muitas mensagens repeti-das ou de um mesmo reme-tente. Para burlar esse con-trole, os piratas procuram distribuir os envios entre várias rotas e ao longo do tempo. Outra técnica é usar rotas de grande tráfego, como a Brasil-EUA, o que dificulta a identificação, informa o diretor geral do MEF-LatAm, Rafael Pellon.

O SMS pirata através de rotas inter-nacionais não oferece nenhuma garantia de entrega das mensagens. Há quem estime que apenas de 30% a 40% delas efetivamente alcancem o seu destino. Algumas fontes afirmam ter testado prestadoras piratas e constatado que elas mentem em seus relatórios, dizendo que certas mensagens foram entregues e na verdade não o foram.

No Brasil, a operadora apontada como a mais adiantada no combate a rotas internacionais é a Claro, que tem há bastante tempo um sistema eficien-te de filtragem.

ChipeirasOutro método adotado pelos piratas

consiste na adoção de chipeiras, equi-pamentos em que são instalados vários SIMcards para disparo simultâneo de mensagens. É fácil comprar uma chi-peira pela Internet. O dossiê elaborado pela TWW apresenta como exemplo um anúncio no MercadoLivre de uma chipeira com entrada para oito SIMcar-ds, capaz de enviar dez mil mensagens de texto por hora, oferecida por R$ 2.950.

O equipamento em si não é ilegal. Ele pode ser usado

como um PABX por uma empresa para tráfego de mensagens entre seus funcio-nários. O problema é o uso da chipeira para venda do serviço de SMS corporati-vo aproveitando SIMcards de pessoas físicas e promoções de mensagens ilimi-tadas P2P criadas pelas teles. A prática ganhou força no Brasil depois que algu-mas operadoras lançaram promoções de SMS ilimitado intrarrede. Os piratas

compram chips pré-pagos das quatro grandes opera-doras e botam todos na mesma chipeira: com ajuda de um software, disparam as mensagens. A prática fere o termo de serviço do contrato de pessoa física proposto pela operadora. Se esta perceber, pode blo-quear o chip. Mas aí basta o

pirata trocar por outro SIMcard.Dependendo do volume de SMS

enviado em um curto espaço de tempo, uma chipeira pode causar congestiona-mento da rede em determinada antena. Na Europa, as chipeiras ganharam o apelido de “SIMfarm”, ou “fazendas de chips”. Depois que as teles começaram a combater o problema por lá, os pira-tas inventaram a “SIMvan”: furgão que roda a cidade com chipeiras dentro, funcionando a pleno vapor. Em movi-mento, o tráfego passa a ser distribuído entre várias antenas, dificultando a localização dos piratas. “É um jogo de gato e rato. As operadoras bloqueiam e os piratas dão um jeito de contornar”, lamenta Machado, da Zenvia.

Sem short codeUma forma de identificar o uso de

chipeira é se a mensagem for provenien-te de um número telefônico completo, com DDD e oito dígitos (ou nove, no caso de São Paulo). Quando prestado por empresas homologadas, é utilizado o chamado “short code”, um número com apenas cinco dígitos, sem DDD.

As chipeiras vêm sendo usadas no Brasil para envio de spam publicitário e para tentativas de estelionato. São comuns mensagens sobre supostos sorteios de carros e casas nas quais se pede para o consumi-dor ligar de volta para um número celular. Se ligar, a pes-soa é instruída a fazer um depósito de baixo valor, ape-nas para trâmites burocráticos para liberação do prêmio. O

“É um jogo de gato e rato. as operadoras bloqueiam e os piratas

dão um jeito de contornar.“Cássio Machado, da Zenvia

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estima-se que o volume de

sms pirata pode chegar à ordem de

150 milhões de mensagens por mês.

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problema é que não existe prê-mio nenhum. No fim das con-tas, os golpes acabam afetan-do a credibilidade do serviço e atrapalhando as empresas que atuam legalmente com promo-ções e sorteios de verdade via mensagem de texto, queixa-se Paulo Curio, diretor da Movile.

Operadoras As operadoras, além de

não gerarem receita com o SMS pirata, ainda sofrem di versos efeitos colaterais, que vão desde o con-gestionamento de suas redes até o aumento das reclamações em seus call centers. Eventualmente, podem até perder o assinante.

Pelo que apurou TELETIME, as quatro grandes operadoras nacionais estão cientes do problema e vêm estu-dando soluções. Claro, TIM e Oi res-ponderam sobre o tema com comuni-cados por escrito.

A Claro diz que “um caminho utiliza-do por fraudadores para o envio de SMS sem custo são as rotas de sinalização, utilizadas para o tráfego de roaming internacional. Para evitar este tipo de fraude, a operadora bloqueia o recebi-mento de SMS internacional por este sistema e utiliza rotas monitoradas (...) Além disso, as mensagens com origem em operadoras internacionais destina-das para números da Claro são submeti-das a um filtro que classifica o tráfego como perfil de spam.”

A TIM, por sua vez, esclarece que possui um serviço próprio de SMS cor-porativo chamado InfoTIM, que requer uma conexão privada virtual (VPN). Para clientes de menor porte, ela reco-menda a contratação de brokers homo-logados, cuja atuação “é feita de forma totalmente legalizada e monitorada, para que não haja irregularidades no envio das mensagens corporativas”. Sobre o SMS pirata, a tele diz que “está atenta a possíveis fraudes nesse serviço, em linha com suas premissas de quali-dade e transparência no relacionamen-to com o cliente” e que “busca, junto a entidades como o MEF e a ABR Tele-com, coibir o uso do SMS pirata, divul-gando as suas consequências � que traz prejuízos para todos os envolvidos legal-mente no processo e denunciando casos identificados. Adicionalmente, a compa-nhia atualiza e implanta constantemen-te, em sua rede, novos equipamentos

capazes de identificar os SMS de origem desconhecida ou duvidosa, para tentar minimi-zar seus impactos.”

A Oi, por fim, enviou resposta que concerne à questão das chipeiras: “A Oi explicita nos regulamentos de suas ofer-tas para o varejo que não permite o uso do serviço de SMS com finalidades comerciais, considerado indevido pela companhia, e dispõe de mecanismos de controle sistêmico para minimizar o não cumprimento dos regulamentos e para inibir a utilização indevida de suas ofer-tas de SMS para o varejo.”

CampanhaProporcionalmente, quem mais perde

receita com o SMS pirata são as integra-doras homologadas. Um grupo formado por cinco delas (Movile, Spring Wireless, Takenet, TWW e Zenvia) decidiu se unir em torno do MEF-LatAm para enfrentar o problema conjuntamente. Elas traba-lham agora no processo de identificação das empresas piratas e na coleta de pro-vas para que sejam denunciadas junto aos órgãos competentes. Há indícios de irregularidades relacionadas à legislação tributária, de telecomunica-ções e de direito do consu-midor, além de uso indevi-do da logomarca das opera-doras em sites da Internet. A expectativa é ter uma lista de piratas identificados até o fim do ano. O trabalho é coordenado pelo MEF.

Outra frente consiste na conscientização do mercado. Para tanto, foi criado um site sobre o tema, no ende-reço www.smspirata.com.br, e uma carta seria enviada ainda em abril para diver-sos agentes do mercado e órgãos públi-cos. Prepara-se também uma lista bran-ca com os nomes das integradoras homologadas que possuem conexão direta com as teles, a ser divulgada no referido site.

Os participantes dessa força-tarefa reconhecem que a maior dificuldade re -side em convencer as empresas priva-

.:capadas, pois nem sempre seus processos de compra são abertos. Por outro lado, na esfera pública, o grupo está pronto para atacar. A ideia é analisar os editais de li -ci tação e pedir sua impugnação com ba se no interesse público, quando não hou ver restrições aos pi ratas. O argu-mento é que uma empresa dita pirata não teria como garantir a execução do serviço. Serve de exemplo um recente caso da Defesa Civil do Rio de Janeiro que contratou, sem saber, para o envio de SMS de alerta de chuvas, uma empre-sa que usava uma chipeira. Resultado: as mensagens chegavam com atraso, horas depois das chuvas. O contrato foi rescin-dido e nova licitação seria aberta.

Um recente edital do MEC é apontado por integradores e pelo MEF como um exemplo a ser seguido. Seu pregão ele-trônico aconteceu em dezembro passado e a vencedora foi a Zenvia, que vai garantir o envio de 91 milhões de SMS por ano a três órgãos vinculados ao ministério: Inep, FNDE e Capes. Para evitar que piratas participassem do pre-gão eletrônico, foi exigida apresentação de um atestado de capacidade técnica comprovando “a execução de serviços de envio de SMS para todo o território nacional, através das operadoras de tele-fonia móvel”. Além disso, era preciso levar no ato de assinatura do contrato uma “cópia autenticada dos contratos de envio de mensagens de texto com todas as operadoras de telefonia móvel”. De forma a não deixar dúvidas, o mesmo edital expunha, em um documento ane -

xo: “Para a efetividade da contratação faz-se necessá-rio que o serviço seja pres-tado por uma empresa inte-gradora. Em presa integra-dora é aquela que, pelo pró prio nome, objetiva a integração de um serviço de mensageria com os diver-sos operadores de comuni-

cação, encaminhando para as operado-ras de telefonia mó vel vigentes no País as mensagens que deverão ser repassadas aos usuários dos programas. (...) As empresas integradoras são empresas com capacidade e ex pertise no envio de uma mesma mensagem simultaneamen-te a milhares de usuários.”

DespreparoCabe lembrar, todavia, que a falta de

conexão direta com as operadoras não significa que uma empresa de SMS seja

“as rotas internacionais são infinitas. corta-se uma, aparece outra.“Michele Bader, da TWW

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apenas de 30% a 40% dos sms piratas devem

alcançar efetivamente seu

destino final.

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“pirata”. Ela pode, por exemplo, estar conectada a um integrador, que por sua vez tem a conexão com as teles. Ou com um integrador que está conectado a outro integrador que está conectado às teles, e assim por diante. “O difícil é entender como algumas empresas na ponta dessa cadeia conseguem praticar preços tão baixos em determinadas lici-tações”, questiona uma fonte.

Empresas novas e de menor porte

que oferecem SMS corporativo se senti-ram atingidas pela campanha. Uma delas, a Vexx Mobile, publicou uma carta aberta em seu site, na qual trans-mite o seu ponto de vista sobre a ques-tão. Nela, as integradoras homologadas são chamadas de “velhas empresas de SMS corporativo”. TELETIME entrevis-tou por email um dos diretores da Vexx, Homero Romão (veja box abaixo). Ele não concorda com o uso do termo “pira-

ta” e acusa as integradoras homologa-das de não terem se preparado para as mudanças em andamento nesse merca-do. “Agora querem fazer pressão sobre as operadoras para alterar o seu mode-lo, para que as mesmas possam ser beneficiadas”, critica. “Hoje elas recla-mam sobre isso, e amanhã reclamarão que aplicativos como o WhatsApp e o Facebook Messenger estão roubando o espaço do SMS”, acrescenta.

Uma voz divergente

Diante da campanha do MEF-LatAm e de integradores homo-logados contra o chamado “SMS

pirata”, uma empresa que presta o servi-ço de SMS corporativo resolveu divergir publicamente: a Vexx Mobile. TELETI-ME entrevistou por email um dos direto-res da empresa, Homero Romão.

TELETIME - O uso de rotas inter-nacionais representaria uma porta aberta para o envio de spams e de men sagens para golpes financeiros (es telionato e afins). Sem falar na questão da impossibilidade de garan-tir a qualidade do serviço, uma vez que as teles tentam bloquear esses envios. Qual a opinião da Vexx quan-to a esse aspecto?

Homero Romão - Concordo com relação à questão da qualidade. Já com relação aos spams, precisamos lem-brar que, de acordo com os maiores meios de comunicação do País, como o próprio Teletime, a maior parte das reclamações de spams se refere aos praticados pelas próprias operadoras. Com relação a estelionatários, a maior parte deles provém de celulares comuns, em presídios, por exemplo, e são praticados por voz, e não por SMS. Mesmo os praticados por SMS, provém de celulares comuns. Isso porque, mesmo em uma empresa que utiliza rota internacional, é necessário fazer um cadastro e pagar pelas mensagens de alguma maneira, e, sendo assim, os dados poderiam ser rastreados.

Outra reclamação do MEF e de seus associados diz respeito ao uso de chipeiras para envio de SMS corporati-vo que se aproveitam de promoções de tráfego on-net. Como essas promoções deveriam se restringir ao tráfego entre

usuários finais, a utilização das chipeiras neste caso configuraria um uso abusivo de tais promoções e poderia ser bloquea-do pelas teles. Qual a opinião da Vexx sobre isso?

Também não estou de acordo. As ope-radoras devem definir como gerir seus modelos de negócio da maneira que bem entenderem. A questão é que essas empre-sas que se auto intitulam “homologadas” não se preocuparam em criar valor para o seu negócio, e se diferenciarem. O merca-do naturalmente mudou, elas não se pre-pararam, e agora querem fazer pressão sobre as operadoras para alterar o seu modelo, para que as mesmas possam ser beneficiadas. Não acredito que isso vai acontecer. Existem coisas maiores aconte-cendo no mundo e as operadoras preci-sam acompanhar esse cenário.

O MEF e seus associados chamam de

“SMS pirata” o envio de mensagens de texto corporativas através de rotas inter-nacionais e chipeiras (usando promoções on-net). Os senhores consideram esse termo apropriado? Por quê?

Sou contra o uso de rotas alternativas devido à qualidade do serviço, já que as mesmas entregam em média 40% do trá-fego enviado, e cobram por 100% do mesmo. Mas não considero um serviço “pirata”. En tendo por “pirata” algo que não paga im postos, e que está fora da lei. E nenhum dos dois se enquadram nesse perfil. Em ambos os casos são as próprias operadoras que realizam as entregas. Fazendo um pa ralelo, é igual preferir comprar um CD na Amazon, ao invés da Submarino. Se estou pa gando todos os impostos, qual é o problema?

Como a Vexx realiza o envio de suas

mensagens? A empresa possui conexão direta com as teles ou com algum inte-

grador a elas conectado?Não divulgamos essas informações,

pois consideramos um diferencial no nosso negócio. Mas posso dizer que não utilizamos rotas alternativas.

Existe um temor no mercado de que o uso indiscriminado de SMS para marketing, sem verificação de opt-in, possa desvalorizar esse canal, tal como aconteceu com o email marketing. Con-corda com essa afirmação?

Não, pois como citei anteriormente a maior parte das reclamações dos con-sumidores finais é de mensagens spam provenientes das próprias operadoras. Eu mesmo já recebi mensagens de LA’s (large accounts) das empresas recla-mantes, sem qualquer opt-in. Acho que as mesmas poderiam ter uma preocu-pação maior (e real) com esse ponto, como a Vexx, que integrou seu sistema com bases do Procon. A cada envio é verificado se o telefone está em alguma blacklist do Procon.

Como a Vexx procura se diferenciar das demais empresas de SMS existen-tes no Brasil?

Esse é o ponto chave de toda essa questão. A Vexx, antevendo o surgimen-to de muitas empresas que utilizam rotas internacionais, criou outros servi-ços inéditos no Brasil, como a integra-ção do SMS com torpedos de voz, VOIP, e m-payment. A meu ver, essas empre-sas deveriam buscar se diferenciar de seus concorrentes, e não ficar recla-mando das rotas internacionais ou das operadoras. Mesmo porque não acredi-to que o cenário atual vai mudar. Hoje eles reclamam sobre isso, e amanhã reclamarão que aplicativos como o WhatsApp e o Facebook Messenger estão roubando o espaço do SMS.

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