Especialização Multipro˜ssional na Atenção Básica · de trabalho direcionadas às pessoas...

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Universidade Aberta do SUS Eixo III - Eixo III A Assistência na Atenção Básica Assistência na Atenção Básica Atenção Integral à Saúde do Adulto Medicina Especialização Multiprofissional na Especialização Multiprofissional na Atenção Básica

Transcript of Especialização Multipro˜ssional na Atenção Básica · de trabalho direcionadas às pessoas...

  • UNA-SUSProcesso de Trabalho e Planejam

    ento na Estratgia Sade da Famlia -2012

    Secretaria de Estado da SadeSanta Catarina

    Universidade Aberta do SUS

    Universidade Aberta do SUS

    Eixo III - Eixo III A Assistncia na Ateno BsicaAssistncia na Ateno Bsica

    Ateno Integral Sade do AdultoMedicina

    Especializao Multiprossional naEspecializao Multiprossional na

    Ateno Bsica

    CCS

    UFSC

    CCS

    UFSC

  • GOVERNO FEDERAL

    Presidente da RepblicaMinistro da Sade Secretrio de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade (SGTES) Diretora do Departamento de Gesto da Educao na Sade (DEGES) Coordenador Geral de Aes Estratgicas em Educao na Sade Responsvel Tcnico pelo Projeto UNA-SUS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Reitor Lus Carlos Cancellier de Olivo Vice-Reitora Alacoque Lorenzini Erdmann Pr-Reitor de Ps-graduao Srgio Fernando Torres de Freitas Pr-Reitor de Pesquisa Sebastio Roberto SoaresPr-Reitor de Extenso Rogrio Cid Bastos

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    Diretora Isabela de Carlos Back Giuliano Vice-Diretor Ricardo de Souza Vieira

    DEPARTAMENTO DE SADE PBLICA

    Chefe do Departamento Antonio Fernando Boing Subchefe do Departamento Fabrcio Augusto MenegonCoordenadora do Curso Ftima Buchele Assis

    COMIT GESTOR

    Coordenadora Elza Berger Salema Coelho Coordenadora Pedaggica Kenya Schmidt Reibnitz Coordenadora Executiva Rosngela Leonor Goulart Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing

    EQUIPE EAD

    Alexandra Crispim BoingAntonio Fernando BoingEleonora Milano Falco VieiraMarialice de MoresSheila Rubia Lindner

    1 EDIO - AUTORES 2 EDIO ADAPTADA - AUTORES

    Calvino Reibnitz Jnior Calvino Reibnitz Jnior Fernanda Lazzari Freitas Fernanda Lazzari FreitasFlvia Regina Souza Ramos Flvia Regina Souza RamosHeitor Tognoli Heitor TognoliLcia Nazareth Amante Lcia Nazareth AmanteLuiz Roberto Agea Cutolo Luiz Roberto Agea CutoloMaria Itayra Coelho de Souza Padilha Maria Itayra Coelho de Souza Padilha Fernanda Alves Carvalho de Miranda

  • Ateno Integral Sade do Adulto

    Medicina

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Florianpolis

    2016

    Eixo III A Assistncia na Ateno Bsica

    UFSC

    Verso adaptada do curso de Especializao Multiprossional em Sade da Famlia

  • 2016 todos os direitos de reproduo so reservados Universidade Federal de Santa Catarina. Somente ser permitida a reproduo parcial ou total desta publicao, desde que citada a fonte.

    Edio, distribuio e informaes:Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitrio, 88040-900 Trindade Florianpolis SCDisponvel em: www.unasus.ufsc.br.

    Ficha catalogrfica elaborada por Eliane Maria Stuart Garcez CRB 14/074

    Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Cincias da Sade. Curso de Especializao Multiprofissional na Ateno Bsica Modalidade a Distncia.

    Ateno integral sade do adulto: medicina [recurso eletrnico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Calvino Reibnitz Jnior... [et al] (Organizadores). 2. ed. Florianpolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.

    120 p.

    Verso adaptada do curso de Especializao Multiprofissional em Sade da Famlia.Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

    Contedo do mdulo: Introduo ateno integral sade do adulto. Ateno integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis. Principais doenas crnicas no transmissveis. O usurio com doenas transmissveis. Experincias exitosas no trabalho interdisciplinar na ateno bsica, sade do adulto.

    ISBN: 978-85-8267-090-3

    1. Ateno bsica em sade. 2. Sade do adulto. 3. Ateno integral sade. I. UFSC. II. Reibnitz Jnior, Clavino. III. Freitas, Fernanda Lazzari. IV. Ramos, Flvia Regina Souza. V. Tognoli, Heitor. VI. Amante, Lcia Nazareth. VII. Cutolo, Luiz Roberto Agea. VIII. Padilha, Maria Itayra Coelho de Souza. IX. Miranda. Fernanda Alves Carvalho de. X. Ttulo.

    CDU: 616-053.8

    EQUIPE DE PRODUO DE MATERIAL

    Coordenao Geral da Equipe: Eleonora Milano Falco Vieira, Marialice de Moraes Coordenao de Produo: Giovana Schuelter Design Instrucional: Marlete VieiraReviso Textual: Ariele Louise Barichello Cunha, Flvia GoulartDesign Grfico: Fabrcio SawczenIlustraes: Rafaella Volkmann Paschoal, Fabrcio SawczenDesign de Capa: Rafaella Volkmann Paschoal

    U588a

    http://www.unasus.ufsc.br

  • SUMRIO

    Unidade 1 introdUo ateno integral sade do adUlto .........................111.1 Atividades de grupo para a populao adulta .................................................... 131.2 Atividades de sala de espera ............................................................................ 141.3 Visita domiciliar ................................................................................................ 14

    referncias .........................................................................................16

    Unidade 2 ateno integral aos UsUrios com doenas crnicas no transmissveis .....................................................19

    2.1 Ampliando a capacidade de interveno ........................................................... 202.2 Fundamentos para a abordagem integral aos usurios com

    Doenas Crnicas No Transmissveis .............................................................. 202.3 Rastreamento de doenas crnicas mais comuns em Ateno Bsica .............. 242.4 Desenvolvendo a habilidade de comunicao com o usurio ............................ 28

    referncias .........................................................................................33

    Unidade 3 principais doenas crnicas no transmissveis .............................353.1 Hipertenso Arterial Sistmica .......................................................................... 35

    3.1.1 Fatores de risco para a hipertenso arterial ........................................................... 363.1.2 Tratamento da hipertenso arterial ........................................................................ 373.1.3 Abordagem clnica ao usurio com hipertenso arterial ......................................... 393.1.4 Chaves na abordagem ao indivduo com hipertenso arterial ................................. 41

    3.2 Diabetes mellitus ............................................................................................. 423.2.1 Algumas consideraes e conceitos sobre Diabetes mellitus ............... ................. 423.2.2 Diagnstico clnico e laboratorial do Diabetes mellitus ......................... ................. 453.2.3 Ateno ao usurio com Diabetes mellitus ............................................................. 453.2.4 Complicaes do Diabetes mellitus ....................................................................... 463.2.5 Chaves na abordagem da pessoa com Diabetes mellitus ....................................... 49

    3.3 Doena renal crnica ....................................................................................... 513.4 Preveno de eventos cardacos isqumicos .................................................... 52

    3.4.1 Indicadores de alto risco ........................................................................................ 533.4.2 Indicadores intermedirios de risco ....................................................................... 54

    3.5 Doenas respiratrias ...................................................................................... 553.5.1 Consideraes gerais ............................................................................................ 553.5.2 Doena pulmonar obstrutiva crnica ...................................................................... 56

    3.6 Doenas osteomusculares................................................................................ 613.6.1 Lombalgia ............................................................................................................. 613.6.2 Osteoartrose ......................................................................................................... 64

    referncias .........................................................................................68

  • Unidade 4 o UsUrio com doenas transmissveis .........................................714.1 Consideraes gerais sobre doenas transmissveis ......................................... 714.2 Tuberculose ...................................................................................................... 74

    4.2.1 Aes de combate tuberculose ........................................................................... 774.2.2 Abordagem clnica ................................................................................................. 78

    4.3 Pneumonia comunitria no adulto .................................................................... 804.4 Hepatites Virais ................................................................................................ 82

    4.4.1 Aes contra as hepatites virais ............................................................................ 854.5 Doenas sexualmente transmissveis e AIDS .................................................... 87

    4.5.1 A AIDS e as polticas pblicas de sade ................................................................ 874.5.2 Diagnstico e tratamento ...................................................................................... 92

    referncias .......................................................................................104

    Unidade 5 experincias exitosas do trabalho interdisciplinar na ateno bsica sade do adUlto ........................................109

    5.1 Capacitao dos profissionais de sade para o atendimento de parada cardiorrespiratria na ateno primria ..................... 109

    5.2 Calendrio educativo da sade ....................................................................... 1105.3 Todos contra um: a experincia de um trabalho multiprofissional

    contra o tabagismo ........................................................................................ 1125.4 Construindo cidadania: educao popular em sade via rdio comunitria ..... 114

    referncias .......................................................................................115

    sntese do mdUlo .............................................................................116

    aUtores ............................................................................................117

  • APRESENTAO DO MDULO

    Seja bem-vindo(a)!

    O presente mdulo aborda a Ateno Integral Sade do Adulto e pretende levantar aspectos relacionados ateno pessoa adulta e ao processo de trabalho na ateno bsica.

    Neste sentido, o contedo foi organizado de modo a contemplar a discusso sobre a aquisio de uma srie de habilidades e atitudes necessrias s aes em sade direcionadas aos indivduos nesta faixa etria, reforando a importncia de uma postura diferenciada, solidria e acolhedora. Para tanto, estudaremos a importncia das atividades de grupo para a populao adulta, atividades de sala de espera e visita domiciliar, a ateno integral aos usurios com agravos, principais doenas crnicas no transmissveis e o usurio com doenas transmissveis.

    Os contedos foram assim distribudos e apresentados com o objetivo de contribuir para o aperfeioamento do trabalho da equipe de ateno bsica e para que ofeream subsdios e conhecimentos sobre este tema, orientando o profissional de sade para uma ateno integral sade do adulto no contexto da ateno bsica. Esses contedos abordam os problemas mais prevalentes na prtica clnica da ateno sade do adulto e, consequentemente, aes que devem ser empregadas no enfrentamento de tais problemas.

    Outro aspecto relevante a ser destacado neste mdulo a apresentao de exemplos prticos e relatos de experincias na ateno bsica sobre possibilidades de interlocuo entre a Equipe de Sade da Famlia ESF e o Ncleo de Apoio Sade da Famlia NASF. Busca-se com isto reforar a importncia do trabalho em equipe interdisciplinar.

    Sem a pretenso de esgotar os temas abordados, o texto traz um referencial atualizado que tem sua base em evidncias cientficas. Pretendemos colaborar na construo de um processo de trabalho fundamentado na integralidade em suas diferentes vertentes ou sentidos, um verdadeiro e constante desafio para o profissional de sade.

    Assim, convidamos voc a aprofundar seus conhecimentos acerca da Ateno Integral Sade do Adulto no mbito da sade brasileira.

    Desejamos a voc um timo proveito deste material!

  • Ementa

    Abordagem integral sade do adulto; humanizao da assistncia; trabalho interdisciplinar em equipe; ateno integral sade do adulto na ateno bsica; ateno integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis; principais doenas crnicas no transmissveis; o usurio com doenas transmissveis; experincias exitosas do trabalho interdisciplinar na ateno bsica sade do adulto.

    Objetivo geral

    Compreender a ateno sade do adulto de maneira mais abrangente, de modo a incluir os diferentes olhares do trabalho em equipe nas questes relativas sade do adulto na perspectiva do cuidado integral sade, da humanizao da assistncia e do trabalho interdisciplinar.

    Objetivos especficos

    Contextualizar a sade do adulto no cenrio brasileiro com vistas ao reconhecimento das possibilidades de ateno fundamentadas pela clnica ampliada e integralidade do cuidado, tais como as atividades de grupo para a populao adulta na sala de espera e na visita domiciliar.

    Compreender as aes envolvidas na promoo da ateno integral sade do adulto na ateno bsica.

    Revisar as principais condies crnicas de sade do adulto, sob a perspectiva da clnica ampliada, do trabalho interdisciplinar e da integralidade do cuidado.

    Refletir sobre as principais doenas transmissveis que acometem a populao adulta, reorganizando a ateno com vistas integralidade da ateno sade do adulto.

    Identificar possibilidades de trabalho interdisciplinar na ateno bsica por meio do relato de experincias exitosas para subsidiar uma prtica profissional fundamentada pela integralidade do cuidado.

    Carga horria: 30h

    Unidades de Contedo

    Unidade 1: Introduo ateno integral sade do adulto Unidade 2: Ateno integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveisUnidade 3: Principais doenas crnicas no transmissveisUnidade 4: O usurio com doenas transmissveisUnidade 5: Experincias exitosas do trabalho interdisciplinar na Ateno Bsica sade do adulto

  • PALAVRAS DOS PROFESSORES

    Seja bem-vindo a este mdulo!

    O trabalho da equipe na ateno bsica possui caractersticas prprias que lhe conferem a capacidade de acompanhar a populao ao longo do tempo. Esta oportunidade permite aos profissionais que atuam neste nvel de ateno no apenas alcanarem a longitudinalidade do cuidado, mas tambm estabelecerem vnculos e laos solidrios com a comunidade. Neste contexto, a populao desloca-se do papel tradicional de receptor de aes definidas unilateralmente pela equipe para assumir sua funo de protagonista do cuidado e de cidado, discutindo coletivamente questes de qualidade de vida, bem-estar e determinantes de sade do seu territrio, na perspectiva da corresponsabilizao, da cogesto e da integralidade do cuidado.

    Os adultos compem uma parcela significativa assistida pelas equipes de sade na ateno bsica e as mudanas do perfil demogrfico brasileiro fazem com que, nas ltimas dcadas, o nmero de pessoas nesta faixa etria aumente no pas. A procura pelos servios de sade por parte desta populao ocorre em diversas situaes, mas principalmente por doenas crnicas e doenas relacionadas ao trabalho.

    Neste contexto, este mdulo estrutura-se de forma a compreender as estratgias de trabalho direcionadas s pessoas adultas no mbito da ateno bsica, procurando identificar suas necessidades de sade e organizar o processo de cuidado a partir delas, entendendo que estes so pontos fundamentais para a qualidade da ateno integral sade do adulto.

    As aes devem ser desenvolvidas pelos profissionais da ateno bsica de modo articulado com a comunidade, especialmente aquelas relacionadas prtica clnica, como no caso das doenas crnicas, patologias transmissveis prioritrias, sexualmente transmissveis e aquelas ligadas obesidade e aos transtornos alimentares.

    Pensamos ainda que os profissionais da ateno bsica devem considerar em sua abordagem os aspectos sociais e culturais do territrio adscrito e a relao destes com os problemas prevalentes na populao adulta. Neste mdulo, em particular, buscar-se- compreender o papel do mdico na equipe multiprofissional e a sua atuao na busca da integralidade do cuidado em sade da populao adulta.

    Desejamos a voc um timo proveito deste material!

    Bons estudos!

    Calvino Reibnitz JniorFernanda Lazzari Freitas

    Flvia Regina Souza RamosHeitor Tognoli

    Lcia Nazareth AmanteLuiz Roberto Agea Cutolo

    Maria Itayra Coelho de Souza PadilhaFernanda Alves Carvalho de Miranda

  • Unidade 1

    Ateno Integral Sade do AdultoMedicina

  • Unidade 1 Introduo ateno integral sade do adulto 11

    1 INTRODUO ATENO INTEGRAL SADE DO ADULTO

    Nas ltimas dcadas, o pas passou por diversas mudanas, dentre as quais o processo de urbanizao, a intensa migrao, o aumento da expectativa de vida, a reduo da fecundidade e as transformaes na composio das famlias. Essas mudanas contriburam para que a estrutura etria da populao brasileira tambm se modificasse, ampliando-se o nmero de pessoas adultas, aquelas com idade entre 20 e 59 anos.

    Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da populao, as doenas crnico-degenerativas aparecem como principais causas de morbidade e mortalidade.

    Essa populao adulta, em nosso pas, a populao est exposta a fatores de risco, como nvel insuficiente de atividade fsica (48,7%), o consumo de carnes com excesso de gordura (29,4%), consumo de refrigerantes 5 ou mais dias na semana (20,8%). Apenas 24,1% a populao adulta consome frutas e hortalias cinco ou mais dias na semana. A prevalncia de excesso de peso e a obesidade atingem 52,5% e 17,9% dos adultos respectivamente (BRASIL, 2015).

    As doenas crnicas no transmissveis correspondem a 72% das mortes no Brasil, atingindo principalmente as camadas mais pobres da populao. No entanto, na ltima dcada, observou-se uma reduo de 20% na taxa de mortalidade por doenas crnicas no transmissveis, sendo essa diminuio atribuda expanso da Ateno Bsica, melhoria na assistncia e reduo do tabagismo nas ltimas duas dcadas (BRASIL, 2011).

    Neste contexto, o Ministrio da Sade prope um Plano de Enfrentamento das Do-

    enas Crnicas No Transmissveis para o perodo de 2011 a 2022, abordando as

    doenas do aparelho circulatrio, o cncer, as doenas respiratrias crnicas e o

    diabetes. Enfatiza neste plano a necessidade de enfrentamento dos fatores de risco,

    incluindo o tabagismo, o consumo nocivo de lcool, a inatividade fsica, a alimenta-

    o inadequada e a obesidade.

    Ao mesmo tempo, importante que a equipe de sade esteja atenta s doenas transmissveis que tambm acometem esse grupo populacional. A AIDS, as hepatites virais e a tuberculose so destaque nas polticas pblicas direcionadas ao grupo populacional em questo.

  • 12 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    A Ateno Integral Sade do Adulto possui um carter transversal nas polticas pblicas de sade e est presente sob diferentes perspectivas, como nas polticas de promoo da sade e de ateno s doenas, exigindo de gestores, profissionais (sade, educao, etc.) e comunidade um esforo coletivo para o fortalecimento da rede de servios de sade, para a melhoria das condies de vida.

    A fim de organizar a ateno sade do adulto no Brasil, o Ministrio da Sade estruturou-se em diferentes reas tcnicas, entendendo que a proposio de polticas especficas, como a sade da mulher, a sade do idoso ou a sade mental, responde s principais demandas dessa parcela da populao. Essas polticas possuem, por sua vez, uma longa histria de construo, que produto de movimentos sociais, intelectuais e polticos, at virem a expressar a defesa de valores essenciais para cada um dos campos, e de acordo com especificidades desses sujeitos: necessidades, demandas, agravos, modos de viver.

    Em virtude dessa transversalidade, as polticas pblicas direcionadas sade do adulto esto fortemente presentes na estruturao da Ateno Bsica Ampliada, em que diferentes reas estratgicas so entendidas como prioritrias e, por isso, possuem polticas prprias, como Sade da Mulher, Sade do Homem, Sade do Idoso, Sade Bucal, Sade Mental, Sade da Criana, Sade do Adolescente e Jovem, Sade do Trabalhador. Outras reas estratgicas so trabalhadas em programas e projetos especiais, como os dirigidos para a sade indgena, hipertenso e diabetes, alimentao e nutrio, para as urgncias, hepatites, DSTs/AIDS.

    importante ressaltar que a Poltica Nacional de Ateno Integral Sade do Homem uma das ltimas polticas implementadas no mbito do SUS e evidencia os principais fatores de morbimortalidade na sade do homem. Este documento reconhece os determinantes sociais que resultam na vulnerabilidade da populao masculina aos agravos sade, considerando que representaes sociais sobre a masculinidade comprometem o acesso ateno primria, bem como repercutem de modo crtico na vulnerabilidade dessa populao a situaes de violncia e de risco para a sade. A mobilizao da populao masculina brasileira para a luta pela garantia de seu direito social sade um dos desafios desta poltica, que pretende politizar e sensibilizar os homens para o reconhecimento e a enunciao de suas condies sociais e de sade, para que advenham sujeitos protagonistas de suas demandas, consolidando seu exerccio e gozo dos direitos de cidadania (BRASIL, 2008, p. 7).

    importante que a equipe de sade esteja atenta s especificidades da populao adulta de seu territrio e promova com esta o estmulo a hbitos saudveis dentro da poltica de promoo de sade, objetivando reduzir a incidncia de doenas crnicas. Alm disso, a equipe de sade tem um importante papel tambm na ateno s doenas transmissveis, com aes de educao em sade e medidas de preveno, monitoramento e controle.

  • Unidade 1 Introduo ateno integral sade do adulto 13

    Na Prtica

    Aproveite este momento para rever a configurao da populao adulta de seu ter-

    ritrio e as aes que a sua equipe de sade desenvolve, cuidando dessa parcela

    da populao. A seguir, veremos algumas aes importantes a serem desenvolvi-

    das pelas equipes de sade no cuidado populao adulta. Acompanhe.

    1.1 Atividades de grupo para a populao adulta

    Grande parte da populao adulta possui alguma doena crnica. Diante desta realidade, algumas aes em sade podem ser particularmente teis para promover o cuidado s pessoas com tais problemas, assim como para grupos de pessoas que possuam um problema em comum.

    As atividades de grupo so estratgias promissoras para o enfrentamento dos problemas crnicos apresentados pela populao adulta, uma vez que facilitam o acompanhamento desses usurios e fortalecem o vnculo entre a comunidade e a equipe de sade. Esta ao propicia espao para a troca de experincias entre profissionais-usurios e usurios-usurios, educao em sade e criao de rede de apoio dentro da comunidade. Ademais, estimula os usurios a serem protagonistas na construo de sua condio de sade.

    Algumas sugestes de grupos destinados populao adulta: Grupos de Promoo de Sade; Grupos para Hipertensos e Diabticos, Grupo de Atividade Fsica, Grupo de Sade Mental, Grupo de Trabalhos Manuais, Grupo de Tabagismo e Grupo de Reabilitao.

    Em toda atividade de grupo, importante o planejamento. Um planejamento mnimo

    essencial para o bom andamento de um grupo, para o alcance dos objetivos e

    melhor aproveitamento do tempo.

    De acordo com o objetivo, a faixa etria, o interesse do grupo, as caractersticas da comunidade, a criatividade e a opo metodolgica da equipe, existe uma grande variedade de opes para se trabalhar determinado contedo nas atividades de grupo. Sugerimos a pedagogia problematizadora1, em que o educador

    1 Paulo Freire, que um educador muito va-

    lorizado internacionalmente, considerado

    o pai da pedagogia problematizadora.

  • 14 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    busca construir o conhecimento a partir da realidade do educando, trabalhando com base nos conhecimentos pr-adquiridos. Buscam-se solues em conjunto, de forma a constituir um educando ativo, crtico, com liberdade para expressar suas percepes e opinies, numa relao menos hierrquica.

    O tamanho do grupo depende dos seus objetivos. Para facilitar o processo, grupos teraputicos, por exemplo, no devem ter mais que 15 participantes. J os grupos de atividade fsica podem ser maiores.

    preciso ter claro que o profissional de sade est no grupo com um papel definido e que no um mero participante. Tem a responsabilidade de utilizar seus conhecimentos para contribuir de alguma forma com a melhoria da sade do grupo. Durante o planejamento do grupo, bom que j se defina quem sero o coordenador e o relator. Isso evita que, na hora do andamento do grupo, os profissionais de sade fiquem competindo pela coordenao ou cada um instigue o grupo para direes diferentes.

    1.2 Atividades de sala de espera

    A sala de espera territrio muitas vezes pouco utilizado pelos profissionais de sade. um espao que possibilita prticas pontuais de educao em sade e troca de informaes. Os profissionais de sade podem utiliz-la para esclarecimentos sobre o fluxo de atendimento na Unidade, atividades de educao em sade, exibio de vdeos e at atividades ldicas.

    Link

    Grupo sala de espera: trabalho multidisciplinar em unidade bsica de sade.

    http://www.boletimdasaude.rs.gov.br/conteudo/1378/grupo-sala-de-espera:-tra-

    balho-multiprofissional-em-unidade-basica-de-saude

    1.3 Visita domiciliar

    A visita domiciliar na Ateno Bsica tem como objetivo aes de vigilncia, assistncia e promoo sade no domiclio. A visita domiciliar , sem dvida, uma das principais ferramentas da Estratgia Sade da Famlia (ESF), por aproximar a equipe de sade famlia. Atravs dela, a equipe passa a conhecer melhor as condies de vida e sade da comunidade e as potencialidades da famlia na construo de solues para seus problemas. Propicia a corresponsabilidade do indivduo ou da famlia, tornando-o sujeito para decidir junto com a equipe sobre os problemas de sade e agravos.

    http://www.boletimdasaude.rs.gov.br/conteudo/1378/grupo-sala-de-espera:-trabalho-multiprofissional-em-unidade-basica-de-saudehttp://www.boletimdasaude.rs.gov.br/conteudo/1378/grupo-sala-de-espera:-trabalho-multiprofissional-em-unidade-basica-de-saude

  • Unidade 1 Introduo ateno integral sade do adulto 15

    Todos os membros da equipe devem realizar visitas domiciliares. O trabalho em equipe fortalecido, e a integralidade de ateno aos usurios favorecida pela troca de informaes e conhecimentos das competncias de todas as disciplinas envolvidas (profissionais da ESF e os profissionais do Ncleo de Apoio a Sade da Famlia NASF).

    Quanto populao adulta, as visitas podem ser efetuadas em diferentes situaes: pessoas com doenas crnicas com limitao fsica, egressos de hospital com condio incapacitante, usurios em fase terminal, pessoas que necessitam ateno em sade mental com limitao de acesso unidade de sade, abordagem familiar, busca ativa de marcadores do Sistema de Informao da Ateno Bsica (SIAB) ou de doenas de notificao compulsria.

    Apesar de ser uma ferramenta preciosa do trabalho em Ateno Bsica Sade, a assistncia domiciliar traz algumas reflexes ticas desse procedimento: o cuidado deve ser individualizado para cada usurio e no para cada patologia, grupo etrio ou rea de risco; deve-se obter consentimento da famlia para a realizao da visita e respeito autonomia da famlia em relao aos cuidados domiciliares.

    Todas as aes sugeridas devem ser avaliadas rotineiramente. A avaliao proporciona a retomada dos objetivos definidos no planejamento e anlise do que foi alcanado. Muitas vezes, a avaliao auxiliar na mudana das prticas ou no incremento de algumas aes j em execuo. Assim, a avaliao deve ser adotada rotineiramente no processo de trabalho dos profissionais de sade.

    Sua equipe j desenvolve essas atividades voltadas para esse grupo populacional de seu territrio? Se a resposta for afirmativa, parabns! Caso seja negativa, leve esta discusso para uma reunio de sua equipe! A reunio de equipe um momento importante para discutir e avaliar o processo de trabalho que est sendo desenvolvido e tambm para, a partir disso, construir novas estratgias de ao, caso necessrio.

    SNTESE DA UNIDADE

    O Ministrio da Sade, atento s mudanas do perfil epidemiolgico e realidade socioeconmica brasileira, orienta para uma atuao em sade voltada assistncia integral com especial ateno para as Doenas Crnicas No Transmissveis, no entanto, sem negligenciar as doenas transmissveis e a ateno a outras necessidades individuais e coletivas em sade que a populao apresente ou que os profissionais de sade identifiquem. A assistncia deve, ainda, valorizar estratgias de atuao coletivas como o desenvolvimento de grupos operativos, as atividades de sala de espera e as visitas domiciliares na perspectiva da educao problematizadora e da ao interdisciplinar, com vistas integralidade do cuidado.

  • 16 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. Departamento de Vigilncia em Sade. Dengue, esquistossomose, hansenase, malria, tracoma e tuberculose. Braslia: Ministrio da Sade, 2008.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Departamento de Anlise de Situao de Sade. Plano de aes estratgicas para o enfrentamento das doenas crnicas no transmissveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Braslia: Ministrio da Sade, 2011.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Departamento de Vigilncia de Doenas e Agravos no Transmissveis e Promoo da Sade. Vigitel Brasil 2014: vigilncia de fatores de risco e proteo para doenas crnicas por inqurito telefnico. Braslia: Ministrio da Sade, 2015.

  • Unidade 2

    Ateno Integral Sade do AdultoMedicina

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

    19

    2 ATENO INTEGRAL AOS USURIOS COM DOENAS CRNICAS NO TRANSMISSVEIS

    Frente aos nmeros crescentes de casos de Doenas Crnicas No Trasmissveis (DCNT) na populao brasileira, apesar dos avanos cientficos, percebe-se uma mudana na percepo do significado de doena crnica, pois ainda que englobe doenas ou estados de mal-estar com caractersticas bastante distintas na forma como se apresentam - etiologia, fisiopatologia, evoluo, rgos afetados e tratamento -, as doenas crnicas possuem algumas semelhanas, especialmente na maneira como afetam a vida das pessoas que passam a viver nesta nova condio de sade (PADILHA; SILVA; BORENSTEIN, 2004). Buscaremos mostrar como estas semelhanas podem ser consideradas no trabalho das Equipes de Ateno Bsica, em especial da Equipe de Sade da Famlia, de modo que consigam auxiliar o usurio a ter uma qualidade de vida melhor.

    Adiantamos que as aes de ateno integral sade do adulto em condio crnica constituem um tema cuja reflexo remete necessidade de compreenso dos diversos fenmenos que pertencem ao processo sade-doena. Um complexo conjunto de fatores sociais, culturais e emocionais mescla-se neste processo e deve ser enfatizado para alm do diagnstico e do tratamento das doenas. Logo, esta unidade procurar mostrar que postura a medicina pode assumir para empregar aes que considerem todos esses fatores em sua prtica.

    A assistncia na ateno bsica pressupe a ampliao da resolubilidade dos agravos sade a que a populao est exposta. Considerando a multiplicidade de exposies, agravos e doenas, o Ministrio da Sade lana, em 2011, o Plano de Aes Estratgicas para o Enfrentamento das Doenas Crnicas No Trasmissveis (DCNT) no Brasil (BRASIL, 2011).

    Entre as melhores apostas e outras intervenes custoefetivas para a assistncia a esta populao esto:

    Aconselhamento e terapia multidrogas, incluindo o controle da glicemia nos casos de diabticos que apresentam risco de sofrer um evento cardiovascular fatal ou no fatal.

    Terapia de cido acetilsaliclico para preveno do infarto agudo do miocrdio.

    Rastreamento para cncer do colo do tero, com garantia do seguimento dos casos alterados e com utilizao do mtodo Ver e Tratar, sempre que houver indicao clnica.

    Deteco precoce para cncer de mama por meio do rastreamento com exame bienal de mamografia (50-69 anos), seguido de confirmao diagnstica e tratamento oportuno de 100% dos casos diagnosticados.

  • 20 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Deteco precoce para cncer colorretal e oral.

    Tratamento de asma persistente com inalantes de corticosteroides e agonistas beta-2.

    Financiamento e fortalecimento dos sistemas de sade para oferecer intervenes individuais custoefetivas por meio da abordagem da ateno primria.

    2.1 Ampliando a capacidade de interveno

    Intervenes efetivas para DCNT so determinadas, em grande parte, pela capacidade do sistema de sade. Assim, fortalecer e priorizar os programas de doenas crnicas so aes fundamentais para expandir essa capacidade. Programas e polticas locais e regionais devem ser articulados com o Plano Nacional de DCNT para ofertar cuidados aos indivduos com doenas crnicas, por meio do SUS, especialmente na ateno bsica. O Plano deve estar articulado com aes que promovam a melhoria do sistema de informaes, formao dos profissionais de sade, financiamento adequado, obteno de medicamentos e tecnologia essencial.

    2.2 Fundamentos para a abordagem integral aos usurios com Doenas Cr-nicas No Transmissveis

    O debate sobre os Determinantes Sociais da Sade (DSS) iniciou-se nos anos 1970/1980 a partir do entendimento de que as intervenes curativas e orientadas para o risco de adoecer eram insuficientes para a produo da sade e da qualidade de vida de uma sociedade, tendo-se em vista que muitos fatores sociais tambm influenciam na sade dos indivduos, como as condies em que as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem. A relao estabelecida entre os seres humanos e o meio ambiente ao longo dos tempos tem sido crucial na determinao do impacto causado pelas doenas na sociedade humana.

    O crescimento rpido das cidades criou uma grande deteriorao ambiental, em termos de condies de vida, sade e ambientais. A m qualidade do ar, por exemplo, a grande responsvel por doenas respiratrias. A maneira como o espao urbano organizado pode influenciar tanto positiva quanto negativamente a prtica de atividades fsicas, de lazer e os meios de locomoo. Entre os fatores determinantes para a prtica de atividades fsicas esto: a criminalidade, a existncia e qualidade de caladas, a iluminao pblica, a segurana no trnsito, o transporte pblico e os espaos para a opo de ser ativo. Alm disso, a prtica de atividade fsica como meio de locomoo pode contribuir significativamente para a sade do ambiente com a reduo da emisso dos poluentes (WOODCOCK et al., 2007). A poluio e a escassez da gua potvel, o baixo acesso ao

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

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    saneamento bsico e ao tratamento de resduos, a contaminao dos solos, a falta de planejamento urbano e os ambientes insalubres de trabalho so tambm determinantes das doenas crnicas (violncia, depresso, alcoolismo, doenas respiratrias, cncer). A pobreza, entendida no apenas como falta de acesso a bens materiais, mas tambm como falta de oportunidades, de opes e de voz perante o Estado e a sociedade, uma grande vulnerabilidade frente aos imprevistos e aos fatores de risco para as doenas crnicas.

    Nesse contexto, aes sobre os DSS que diminuam os diferenciais de exposio aos riscos, tendo como alvo, por exemplo, grupos que vivem e trabalham em condies insalubres, em ambientes pouco seguros ou expostos a contaminantes ambientais e com deficincias nutricionais, so de suma relevncia para enfrentar as DCNT.

    Ao Intersetorial: Aes de preveno e controle de DCNT requerem articulao e suporte de todos os setores do governo, da sociedade civil e do setor privado, com a finalidade de obter sucesso contra a epidemia das DCNT. Desenvolvimento Sustentvel: A epidemia de DCNT tem relevante impacto negativo sobre o desenvolvimento humano e social. A preveno deveria, por essa razo, ser includa como prioridade nas iniciativas de desenvolvimento e investimento. O fortalecimento da preveno e o controle de DCNT devem tambm ser considerados como parte integral dos programas de reduo da pobreza e outros programas de assistncia ao desenvolvimento.

    A Sociedade Civil e o Setor Privado: As instituies, os grupos da sociedade civil e a Ateno Bsica Sade so locais distintos para mobilizao poltica e conscientizao dos usurios para esforos na preveno e no controle de DCNT. As empresas podem fazer contribuies importantes em relao aos desafios da preveno de DCNT, principalmente quanto reduo dos teores de sal, gorduras saturadas e acar dos alimentos. Alm disso, um setor que evite a propaganda de alimentao ou de outros comportamentos prejudiciais ou, ainda, que reformule produtos para proporcionar acesso a opes de alimentos saudveis estar dando exemplos de abordagens e aes que deveriam ser implementadas por parceiros de todo o setor corporativo. Os governos so responsveis por estimular as parcerias para a produo de alimentos mais saudveis, bem como monitorar os acordos estabelecidos entre as partes. E os profissionais da sade podero orientar os usurios a compreenderem as informaes nutricionais que constam nos rtulos, sobre a ingesto diria de cada nutriente e sua relao com a dieta adequada a cada indivduo. Para isso a Equipe de Sade da Famlia pode contar com o auxlio do profissional nutricionista da Equipe do NASF.

  • 22 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Abordagem precoce e abrangente: Os fatores de risco para DCNT esto disseminados na sociedade. Frequentemente iniciam de modo precoce e se estendem ao longo do ciclo vital. Evidncias de pases onde houve grandes declnios em certas DCNT indicam que as intervenes de preveno e tratamento so necessrias (WHO, 2000; WHO, 2011). Por essa razo, a reverso da epidemia de DCNT exige uma abordagem populacional abrangente, incluindo intervenes preventivas e assistenciais. A mortalidade por acidente vascular enceflico, por exemplo, pode ser reduzida com o aumento de medidas preventivas, como o controle da hipertenso e o acompanhamento dos indivduos que sofreram acidente vascular enceflico (LOTUFO; BENSEOR, 2009).

    Evidncias: medidas de preveno e controle devem estar embasadas em claras evidncias de efetividade e devem tambm ser custoefetivas. Intervenes de base populacional devem ser complementadas por intervenes individuais de ateno sade.

    Vigilncia e monitoramento: A vigilncia de DCNT deve ser integrada ao sistema de informaes em sade, adotando indicadores mensurveis e especficos. Rede de Servio: O fortalecimento dos sistemas de ateno sade para a abordagem de DCNT inclui o fortalecimento da ateno bsica, articulando os demais nveis de ateno e as redes de servios.

    Linha de cuidado de DCNT: Abordagem integral das DCNT, inclui atuao em todos os nveis (promoo, preveno e cuidado integral), articulando aes da linha do cuidado no campo da macro e da micropoltica. No campo da macropoltica, situam-se aes regulatrias, articulaes intersetoriais e organizao da rede de servios; na micropoltica, atuao da equipe na linha do cuidado, vinculao e responsabilizao do cuidador e no fomento ao protagonismo e autonomia do usurio (MALTA; MEHRY, 2010).

    Modelos de ateno aos portadores de doenas crnicas: O modelo de cuidado direcionado s doenas crnicas tem componentes no suporte ao autogerenciamento (aconselhamento, educao e informao), ao sistema de sade (equipes multidisciplinares), deciso (guidelines baseados em evidncias, treinamento dos profissionais) e ao sistema de informao clnico (informaes do portador). Os pontos centrais desse modelo so: a produo de informaes entre os servios, a avaliao de portadores, o autogerenciamento, a otimizao das terapias e o seguimento. Veja a figura a seguir.

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

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    Comunidade

    Recursose polticas

    Interaoprodutiva

    MELHORES RESULTADOS

    Sistema de SadeOrganizao da Ateno Sade

    Apoio aoauto-cuidado Sistemade informao

    clnicaApoioa decises

    clnicas

    Desenhoda linha de

    cuidado

    Pacienteinformado e

    empoderado

    Equipe desade preparada

    e pr-ativa

    Figura 1 Abordagem integral da linha de cuidado em doenas crnicas Fonte: Noite e McKee (2008, apud BRASIL, 2011).

    Atuar em todo o ciclo vital: A abordagem de DCNT estende-se por todo o ciclo da vida. As aes de promoo da sade e preveno de DCNT iniciam-se durante a gravidez, promovendo os cuidados pr-natais e a nutrio adequada, passam pelo estmulo ao aleitamento materno, pela proteo infncia e adolescncia quanto exposio aos fatores de risco (lcool, tabaco) e quanto ao estmulo aos fatores protetores (alimentao equilibrada, prtica de atividade fsica) e persistem na fase adulta e durante todo o curso da vida. Veja a figura a seguir.

    Preveno de DCNT ao longo da vida

    VidaFetal

    Fatoresmaternos

    e fetais NutrioCrescimentoDesenvolvimento

    FR comportamentais / FR biolgicos

    ObesidadeInatividade

    Tabaco

    Infncia

    Des

    envo

    lvim

    ento

    das

    DCN

    T Adolescncia Vida Adulta

    Riscoacumulado

    Figura 2 Benefcios na atuao sobre fatores ambientais e comportamento saudvel ao longo do ciclo de vida Fonte: WHO, 2003 (apud BRASIL, 2011).

  • 24 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Em virtude da relao existente entre o processo sade-doena e os aspectos de cunho social e histrico envolvidos, importante que a equipe de sade compreenda o usurio como parte da sociedade. Ele influencia e influenciado por ela no cuidado de sua prpria sade, como tambm nas diferentes concepes que possui desta.

    Esta unidade pretende oferecer uma base conceitual que o auxilie na compreenso da importncia desses aspectos no tratamento das principais doenas crnicas que assolam atualmente nossa sociedade: a hipertenso arterial, o Diabetes mellitus, as doenas respiratrias e as leses neurolgicas.

    2.3 Rastreamento de doenas crnicas mais comuns em Ateno Bsica

    O cuidado com a vida humana revela significados, comportamentos e expresses de acordo com a cultura e o momento histrico e social vivido. Assim, h de se problematizar eventos, fatos, transformaes que ocorreram com a passagem dos anos e recapturar a noo de que o dilogo entre o profissional, o usurio e a famlia essencial para a incorporao de novas prticas, saberes e tecnologias (MAIA; VAGHETTI, 2008).

    Sem perder de vista que os profissionais so responsveis pela conduo da relao dialgica entre eles e o usurio dos seus servios, ambos desenvolvem potenciais e habilidades com a aceitao da ambiguidade, da discrepncia entre as situaes e o uso de tecnologias. O servio de sade usa a tecnologia quando alia vrios conhecimentos cientficos com o objetivo de encontrar a soluo para um problema ou situao vivida na prtica, isto ocorre no encontro entre ele, o usurio e sua famlia (SOUZA, 2005).

    Diante dessas observaes, possvel reconhecer que o cuidado s pessoas com doenas crnicas exige do profissional mais do que conhecimentos sobre os aspectos biomdicos, exige tambm compreenso sobre como a doena crnica afeta a vida das pessoas, de suas famlias e das comunidades. Nessa perspectiva, a relao dialgica entre profissionais da sade e pessoas com doenas crnicas, na qual ambos, contnua e dinamicamente, compartilham o momento vivido, torna-se uma referncia.

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

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    Voc sabia que h algumas dcadas as doenas do aparelho circulatrio so a pri-

    meira causa de morte no Brasil e por esta razo representam um importante pro-

    blema de sade pblica? Que estas doenas geram um custo aproximado de 475

    milhes de reais, no incluindo as despesas com procedimentos de alta complexida-

    de? Voc e sua equipe j realizaram um diagnstico sobre a realidade da populao

    adscrita e as doenas crnicas que mais afetam os usurios? Conseguiram planejar

    aes que contribuam com a assistncia s necessidades desses usurios? Quais

    so as necessidades que estes usurios indicam e que alternativas eles sugerem?

    Converse com sua equipe, chame o NASF para esta discusso, a interdisciplinaridade

    pode contribuir sobremaneira frente a estes problemas to complexos.

    Leitura Complementar

    BRASIL. Ministrio da Sade. Departamento de Informtica do SUS. Sishiperdia.

    Disponvel em: .

    A hipertenso arterial e o Diabetes mellitus constituem-se nos principais fatores de risco para as doenas do aparelho circulatrio. As complicaes mais frequentes decorrentes destes agravos so: o infarto agudo do miocrdio, o acidente vascular cerebral, a insuficincia renal crnica, a insuficincia cardaca, as amputaes de ps e pernas, a cegueira definitiva, os abortos e as mortes perinatais.

    Com o propsito de identificar precocemente os casos, o Ministrio da Sade brasileiro criou mecanismos para acompanhar e controlar a hipertenso arterial e o Diabetes mellitus no mbito da ateno bsica e, desta forma, reduzir o nmero de internaes hospitalares e a mortalidade em decorrncia destes agravos. Neste sentido, assumiu o compromisso de executar aes em parceria com estados e municpios; com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, Hipertenso, Nefrologia e Diabetes; com as Federaes Nacionais de Portadores de Hipertenso Arterial e Diabetes e; com o Conselho Nacional de Secretrios da Sade (CONASS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade (CONASEMS) para apoiar a reorganizao da rede de sade, para a melhoria da ateno s pessoas com estes agravos, por meio do Plano de Reorganizao da Ateno Hipertenso Arterial e ao Diabetes mellitus.

    http://hiperdia.datasus.gov.br/

  • 26 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Uma das aes propostas pelo Ministrio da Sade para o acompanhamento e con-

    trole da hipertenso e do Diabetes mellitus foi a disponibilizao de um sistema informatizado para o cadastramento de pessoas com estes agravos. Esta ao visa,

    a mdio prazo, estabelecer o perfil epidemiolgico desta populao e desencade-

    ar estratgias de sade coletiva com vistas mudana do quadro atual, propondo

    melhoria na qualidade de vida das pessoas e de seus familiares, assim como, a

    diminuio do custo social.

    Voc sabe onde encontrar informaes confiveis sobre o rastreamento?

    Em 1976, no Canad, e em 1984, nos Estados Unidos, foram criadas foras-tarefas

    para avaliar procedimentos utilizados na deteco de doenas em indivduos assin-

    tomticos. As avaliaes destes dois grupos basearam-se sobretudo na anlise cui-

    dadosa dos estudos mais pertinentes a cada procedimento publicados na literatura

    cientfica da poca.

    Em relao Sade do Adulto, preconizam-se atualmente as seguintes recomendaes:

    Hipertenso Arterial Sistmica: O rastreamento da HAS, por meio da aferio da presso arterial, em indivduos acima de 18 anos.

    Dislipidemia: O rastreamento da dislipidemia, por meio da dosagem srica dos nveis de colesterol, recomendado para homens acima de 35 anos e mulheres acima de 45 anos. O intervalo de rastreamento ainda incerto. Homens com fatores de risco como diabetes, uso de tabaco, obesidade, histria familiar de doena arterial coronariana antes dos 50 anos ou histria pessoal de aterosclerose devem ser rastreados para dislipidemia a partir dos 20 anos.

    Diabetes mellitus Tipo II: Recomenda-se o rastreamento do Diabetes mellitus tipo II por meio da dosagem srica de glicose em indivduos com aumento dos nveis pressricos acima de 135/80.

    Neoplasia de clon: O rastreamento da neoplasia de clon recomendado por meio da pesquisa de sangue oculto nas fezes, sigmoidoscopia ou colonoscopia, deve-se iniciar dos 50 anos at os 75 anos de idade. A frequncia de rastreamento anual para pesquisa de sangue oculto nas fezes, a cada 5 anos para sigmoidoscopia e a cada 10 anos para a colonoscopia.

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

    27

    Uso de tabaco: O rastreamento sobre o uso de tabaco recomendado para os adultos e gestantes. Deve ser questionado o uso de tabaco em todo o encontro com estes usurios e eles devem ser encorajados a cessarem o tabagismo.

    Abuso de lcool: recomendado o rastreamento do uso abusivo de lcool e o aconselhamento sobre o abandono do uso nos encontros com a populao adulta. Pode-se usar o questionrio de CAGE, nomenclatura derivada das questes: Cut down, Annoyed by criticism, Guilty e Eye-opener, que utilizado para rastreamento de transtornos de uso de lcool em pronto-socorro.

    Leitura Complementar

    Para maiores informaes sobre o uso do questionrio CAGE, acesse:

    .

    No h evidncias suficientes para recomendar a incluso ou excluso dos seguintes

    procedimentos como rastreamento: autoexame para cncer de mama e de pele; exa-

    me por profissional de sade para cncer de pele e oral, e toque retal para cncer de

    reto. Em relao ultrassonografia de abdmen para cncer de ovrio, R-X de trax

    para cncer de pulmo, dosagem sorolgica de PSA (antgeno prosttico especfico)

    e ultrassonografia transretal para cncer de prstata, as evidncias indicam a no

    incluso em rastreamentos.

    Como vimos acima, so poucas as doenas que hoje tm indicao de rastreamento. Mas, apesar disto, crescente a procura por exames ou check up pelos indivduos assintomticos. Esta prtica acontece impulsionada pela mdia, que dissemina informaes no cientficas nos meios de comunicao de massa e por alguns profissionais no estudiosos do tema. Assim, importante compreendermos que quando propomos o rastreamento sem evidncia cientifica, alm de no obtermos benefcios para o indivduo, podemos submet-lo a procedimentos desnecessrios e at mesmo deletrios. Devemos sempre buscar maior clareza sobre os benefcios e riscos do rastreamento.

    http://www.scielo.br/pdf/ramb/v47n1/a32v47n1.pdf

  • 28 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    2.4 Desenvolvendo a habilidade de comunicao com o usurio

    O trabalho do mdico na ateno bsica, em especial na ESF, tem como caractersticas a longitudinalidade, o vnculo, a coordenao compartilhada do cuidado e a corresponsabilizao entre os profissionais e a comunidade. Quanto mais tempo ele estiver na comunidade, mais conhecer os usurios. Certamente muitos de vocs j fizeram o pr-natal e seguem acompanhando a criana ao longo dos anos, no ? Os usurios, tambm ao longo do tempo, vo identificar o mdico como uma das referncias na ateno sade.

    Neste sentido, importante que o mdico tenha habilidades de comunicao e de estabelecer uma boa relao mdico-usurio. Mas o que caracteriza uma boa relao mdico-usurio?

    Neste momento, voc pode se perguntar: o que uma boa relao mdico-usurio?

    O que define e estabelece esta relao?

    Considera-se uma boa relao mdico-usurio aquela que centrada na pessoa e no na doena.

    Os usurios que procuram o atendimento mdico so pais, mes, avs, avs ou filhos. Eles estabelecem relaes, desenvolvem atividades e possuem uma organizao familiar que pode ou no ser considerada ideal pelo profissional que os atende. O contexto de cada famlia ou indivduo envolve amigos, religio, trabalho e recursos de sade. Entender tal contexto permite que o mdico de famlia no veja o problema de sade de forma isolada.

    Para explicar como desenvolver uma boa relao mdico-usurio, vamos apresentar um caso fictcio, acompanhe:

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

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    Uma mulher de 68 anos, moradora do bairro e usuria da Unidade de Sade, chega

    ao servio em um final de tarde tumultuado. Ela recebe acolhimento da enfermeira

    da unidade e, neste momento, relata dificuldade para dormir. Diz ainda que, para

    sentir-se melhor, necessita levantar e ir at uma janela aberta. A enfermeira, ento,

    verifica os sinais vitais e encontra os seguintes dados:

    PA: 140/90mmHg, FC: 78 bpm e FR: 18 mrm.

    Como a mulher estava tensa, a equipe procura tranquiliz-la e, por solicitao da en-

    fermeira, a usuria examinada pelo mdico, que a escuta e sugere que ela retorne

    em outro dia para uma consulta mais detalhada.

    No retorno Unidade, ela apresentava os mesmos sinais vitais e relatou uma histria

    de desconforto abdominal e aumento dos movimentos peristlticos abdominais notur-

    nos. Ela referiu que ficava tensa durante a noite e permanecia acordada por horas, o

    que fazia com que ela piorasse a ponto de sentir-se sufocada, indo ento at a janela.

    Tinha medo de que fosse cncer. Seu pronturio trazia os registros de mastectomia

    por cncer e colecistectomia realizadas h a cerca de 20 anos. A mulher era viva e

    morava sozinha num imvel alugado. Queixou-se do valor do aluguel, que havia sido

    reajustado, pois julgava que o proprietrio havia sido desonesto e insensvel. Tinha

    2 filhos, um homem e uma mulher, que em breve viriam morar no mesmo bairro.

    Durante o exame fsico, mantinha frmito traco vocal. ausculta, foram detectados

    poucos rudos sibilantes. O exame do abdmen demonstrou que este estava flcido e

    com ausncia de outros problemas. Assim, o mdico conversou acerca de ansiedade

    e distrbios de ansiedade e sugeriu que o caso fosse acompanhado no domiclio pela

    equipe de sade, inicialmente sem o uso de medicao.

    O caso acima uma boa ilustrao de como a abordagem centrada na pessoa pode ser benfica. Caso no houvesse combinado uma nova consulta em que pudesse escutar com mais tempo e examinar a usuria, provavelmente teria um diagnstico equivocado. Voc reparou que naquele primeiro encontro a usuria no cita as dores abdominais? Ser que se o profissional ficasse somente com aquela primeira entrevista, no teria pedido exames desnecessrios? Mas como fazer uma abordagem centrada na pessoa dentro de todas as dificuldades que temos na ateno bsica?

    Existe um mtodo sistematizado chamado de abordagem centrada na pessoa. Este mtodo fornece alguns passos que auxiliam no desenvolvimento de uma boa relao mdico-usurio. Ele foi criado para contribuir com as expectativas tanto dos mdicos como das pessoas atendidas. Confira um pouco da histria da abordagem centrada na pessoa:

  • 30 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    A partir de 1964, para contrastar com a chamada medicina centrada na doena, Balint et al. (2005) introduziram o tema medicina centrada no paciente. Por meio de grupos com mdicos de famlia ingleses, eles exploravam os casos mais difceis e as respostas efetivas dos mdicos a estes. Naquela poca, a ideia de que o mdico deveria estar atento aos seus sentimentos e tambm aos de seus pacientes era revolucionria.

    Em 1968, o Departamento de Medicina de Famlia da Universidade de Western Ontrio no Canad, sob a coordenao do professor Ian McWhinney, iniciou vrios estudos sobre a relao mdico-paciente. O trabalho esclarecendo a verdadeira razo de a pessoa procurar o mdico foi o estgio inicial para explorar a amplitude dos problemas das pessoas. Em 1981, Joseph Levenstein, mdico e professor na frica do Sul, estava como professor visitante de medicina de famlia na mesma Universidade e compartilhou com o grupo a sistematizao do mtodo de abordagem centrada na pessoa.

    Voc deve estar se perguntando: Mas do que se trata este mtodo? Ele consiste em

    alguns passos que auxiliam no desenvolvimento de uma boa relao mdico-usurio.

    So eles:

    Explorando a experincia com a enfermidade e com a doena: consiste em acessar as duas contextualizaes do estar doente: doena e enfermidade. Esta experincia se compe em acessar o estar doente, atravs da anamnese e do exame fsico, e tentar perceber a compreenso e o sentimento da pessoa sobre a experincia do adoecimento (enfermidade). Os sentimentos sobre estar doente, a ideia da pessoa a respeito do adoecimento e como isto impacta em sua atividade diria, alm das expectativas em relao ao mdico tornam-se fatores importantes neste contexto.

    Entendendo a pessoa como um ser integral: a compreenso da pessoa no seu contexto sociocultural, levando em conta os seus mltiplos aspectos, tais como personalidade, ciclo de vida, famlia, comunidade, trabalho, religio, dentre outros.

    Buscando um projeto comum ao mdico e pessoa para manejar problemas: o estabelecimento de um plano comum de ateno e cuidado negociado entre mdico e usurio: definindo o problema, estabelecendo metas de acompanhamento e tratamento e identificando os papis assumidos pelo mdico e pela pessoa atendida.

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

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    Incorporando preveno e promoo da sade: oportunizar em cada encontro aspectos de promoo da sade e de preveno da doena.

    Intensificando a relao mdico-usurio: aproveitar cada encontro com a pessoa para construir e desenvolver a relao mdico-usurio e suas dimenses de compaixo, empatia, verdade e diviso de responsabilidades.

    Sendo realista: usar o tempo e a energia eficientemente, no tendo expectativas alm das possibilidades. Desenvolver habilidades para definir prioridades, alocao de recursos e trabalho em equipe.

    O mtodo clnico centrado na pessoa traz uma nova abordagem que considera o paciente2 como sujeito. Assim, passa-se de uma postura paternalista, em que o mdico sabe o que bom, para um novo modelo de empoderamento da pessoa e no de um paciente.

    O tempo pode ser um limitante de aplicaes desta metodologia. O mdico de famlia deve se valer de longitudinalidade, de repetio dos encontros e, por vezes, priorizar alguma das etapas do mtodo.

    Para refletirEm uma comunidade em que a maior parte dos homens adultos trabalha na indstria carbonfera, os profissionais da sade enfrentam a dura realidade de acompanhar diversos usurios (trabalhadores e moradores prximos s indstrias) com problemas respiratrios graves, como enfisema pulmonar e bronquite. Preocupados com esta realidade e desejando reduzir o nmero de casos, levam esta situao para discusso com os profissionais do NASF. Os profissionais que atuam naquele NASF, em especial o mdico acupunturista, o mdico do trabalho, o farmacutico, o fisioterapeuta, o assistente social e o mdico internista (clnica mdica), propem um Projeto de Sade no Territrio (PST), com a incorporao de aes educativas para a comunidade de forma articulada com a Secretaria de Segurana Ambiental e Secretaria de Vigilncia Sanitria. Elaborada a proposta, ela debatida no Conselho Local de Sade a fim de discutir com a comunidade o problema percebido pela equipe, para conhecer o entendimento da populao sobre a situao, o estabelecimento de prioridades em sade daquele territrio e a aceitao, por parte da comunidade, do PST proposto, suas contribuies, modificaes e pactuaes.

    2 O termo paciente indica que a pessoa

    passiva e, portanto, espera por uma con-

    duta advinda unilaterlamente do mdico

    ou do profissional de sade.

  • 32 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Na sua comunidade, qual o principal problema de sade da populao adulta? Hiper-

    tenso arterial sistmica? Diabetes mellitus? Doenas respiratrias? Voc e sua equipe j conversaram sobre qual a prioridade no territrio onde atua? E sobre a possibilidade

    de articular aes com os profissionais do NASF ou outros setores? Reflita, discuta,

    identifique as necessidades regionais e possibilidades de atuao com sua equipe.

    SNTESE DA UNIDADE

    Vimos como aprimorar a habilidade de comunicao com o usurio na relao mdico-usurio e discutimos a abordagem centrada na pessoa e no na doena, apresentando no mtodo sistematizado chamado de Abordagem Centrada na Pessoa. Esse mtodo fornece alguns passos que auxiliam no desenvolvimento de uma boa relao mdico-usurio/cidado. Na prtica diria, alm de considerar a longitudinalidade e a limitao espacial da abrangncia de rea, as equipes de sade devem assumir como conduta aes de promoo da sade e de preveno de doenas. Uma das formas mais eficazes a utilizao do rastreamento ou screening populacional visando descoberta de alteraes antes que apaream os sintomas do agravamento do quadro ou da procura pelo servio de sade.

  • Unidade 2 Ateno Integral aos usurios com doenas crnicas no transmissveis

    33

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Sade. Departamento de Informtica do SUS. Sishiperdia. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 28 mar.2016.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Departamento de Anlise de Situao de Sade. Plano de aes estratgicas para o enfrentamento das doenas crnicas no transmissveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Braslia: Ministrio da Sade, 2011.

    LOTUFO, P. A.; BENSEOR, I. M. Stroke mortality in Brazil: one example of delayed epidemiological cardiovascular transition. International Journal of Stroke, v. 4, n. 1, p. 40-41, 2009.

    MAIA, A. R.; VAGHETI, H. H. O cuidado humano revelado como acontecimento histrico e filosfico. In: SOUZA, F. G. M. de; KOERICH, M. S. (org.). Cuidar-cuidado: reflexes contemporneas. Florianpolis: Papa-Livro, 2008.

    MALTA, D. C.; MERHY, E. E. O percurso da linha do cuidado sob a perspectiva das doenas crnicas no transmissveis. Interface, Botucatu, v. 14, p. 593-605, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 28 mar.2016.

    PADILHA, M. I. C. de S.; SILVA, D. M. G.; BORENSTEIN, M. S. Enfermagem ambulatorial: o cliente em situao crnica da sade. In: SANTOS, I. dos et al. Enfermagem assistencial no ambiente hospitalar: realidade, questes, solues. So Paulo: Atheneu, 2004. p. 159-178.

    SOUZA, L. N. A. de. Perspectivas do agir comunicativo implcitas no discurso da enfermagem. 2005. 311 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2005.

    WHO. Global strategy for the prevention and control of noncommunicable diseases. Geneva: World Health Organization, 2000.

    WHO. Global status report on noncommunicable diseases 2010. Geneva: World Health Organization, 2011.

    WOODCOCK, J. et al. Energy and transport. Lancet, v. 370, n. 9592, p. 1078-1088; 2007.

    http://hiperdia.datasus.gov.brhttp://www.scielo.br/pdf/icse/2010nahead/aop0510.pdf

  • Unidade 3

    Ateno Integral Sade do AdultoMedicina

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 35

    3 PRINCIPAIS DOENAS CRNICAS NO TRANSMISSVEIS

    Na atualidade, existe uma alta prevalncia de problemas crnicos na populao adulta brasileira e na ateno bsica sade que grande parte destes problemas sero acompanhados. As doenas crnicas se caracterizam por sua longa evoluo e necessidade de acompanhamento sistemtico por toda a equipe de sade. Selecionamos as doenas mais frequentes no dia a dia do mdico da equipe de ateno bsica e tambm vamos ilustrar a discusso por meio de casos clnicos.

    3.1 Hipertenso Arterial Sistmica

    A Hipertenso Arterial (HA) pode ser definida como a elevao intermitente ou sustentada da presso arterial sistlica superior a 140 mmHg ou mais, ou presso diastlica maior que 90 mmHg, Sua prevalncia no Brasil varia entre 22,3% e 43,9%, para adultos, apresentando mdia de 32,5%. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010).

    A medida da hipertenso arterial de um indivduo definida com base na mdia de duas ou mais mensuraes dos valores de sua presso arterial verificados em um ou mais encontros deste com o profissional da sade depois de uma triagem inicial (SMELTZER; BARE, 2005).

    A etiologia da hipertenso arterial essencial complexa e envolve vrios mecanismos homeostticos em interao. Existem dois tipos de hipertenso arterial: a essencial (tambm chamada primria ou idioptica) e a secundria. Esta ltima est relacionada a uma doena sistmica que eleva a resistncia arterial perifrica ou o dbito cardaco. A partir destas duas situaes, pode surgir a hipertenso arterial maligna, forma grave e fulminante do distrbio de regulao da presso arterial (CORPORATION, 2003).

    A presso arterial pode ser visualizada como um sinal, como um fator de risco para a doena cardiovascular aterosclertica, ou como uma doena. Como um sinal porque ela monitora o estado clnico de uma pessoa e pode, por exemplo, indicar o uso excessivo de um medicamento vasoconstritor. visualizada como fator de risco quando ela demonstra que ocorre um acmulo acelerado de placa aterosclertica na ntima das artrias. E quando vista como doena porque tem papel decisivo na morte por doena cardaca, renal e vascular perifrica (AMBROSE et al, 2005).

    O Ministrio da Sade, por meio dos Cadernos de Ateno Bsica, fortalece as aes para a promoo da sade desenvolvidas em nosso pas. Eles so distribudos gratuitamente, podem ser acessados online, no Portal de Sade do MS, e contm informaes que auxiliam implementao do modelo assistencial de ateno sade na ateno bsica, valorizando as prticas de sade.

  • 36 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Leitura Complementar

    Acessando o site do Ministrio da Sade voc ter acesso a diversos contedos de orientao e ateno aos usurios com doenas crnicas, como hipertenso

    arterial, Diabetes mellitus, doenas respiratrias, dentre outras. Em Cadernos da Ateno Bsica, disponvel em: .

    3.1.1 Fatores de risco para a hipertenso arterialAlguns fatores de risco devem ser investigados e avaliados minuciosamente a fim de promover a ateno integral pessoa com hipertenso arterial, tais como: histria familiar, etnia, estresse, obesidade, dieta rica em sal e gordura, uso de contraceptivos orais, uso de tabaco e vida sedentria participam do desencadeamento da HAS.

    O excesso de peso e, especialmente, a obesidade abdominal correlacionam-se com a maioria dos fatores de risco cardiovascular, destacando-se como importantes fatores de desencadeamento da hipertenso arterial (CARNEIRO et al., 2003). Esta ocorrncia tem sido atribuda presena de hiperinsulinemia, a qual surge como resistncia insulina, presente em indivduos obesos, principalmente naqueles que apresentam excesso de gordura na regio do tronco. O ndice de Massa Corprea (IMC) e a Circunferncia Abdominal (CA) quando aumentados elevam o risco de o indivduo vir a apresentar agravos cardiovasculares, pelo fato de que existe uma forte associao entre tais fatores de risco (SARNO; MONTEIRO, 2007).

    A cronicidade da Hipertenso Arterial Sistmica (HAS) e a sua associao obesidade e circunferncia abdominal (em especial a visceral) e o grande impacto no perfil de morbimortalidade na populao brasileira mostram a necessidade de garantia de acompanhamento sistemtico dos indivduos com HAS, assim como o desenvolvimento de aes referentes promoo de sade e preveno de doenas (SMELTZER; BARE, 2005).

    Cabe destacar as seguintes caractersticas e medidas de combate referentes hipertenso arterial:

    No tem cura, mas possvel control-la com a adoo de uma dieta equilibrada associada prtica de atividade fsica e ao uso de frmacos;

    A mudana da dieta e a adoo de prticas de atividade fsica so indicadas como primeiras medidas teraputicas. Tais medidas apresentam resultados positivos na fase inicial do tratamento e para os casos considerados leves;

    http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.phphttp://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 37

    Suas complicaes tardias podero ser: acidente cerebrovascular, crises isqumicas cerebrais transitrias, cegueira, infarto agudo do miocrdio, insuficincia cardaca, proteinria, edema e insuficincia renal;

    O processo de envelhecimento provoca alteraes estruturais no sistema cardiovascular que contribuem para o aumento da presso arterial (SMELTZER; BARE, 2005).

    As referidas alteraes estruturais citadas acima incluem acmulo da placa aterosclertica, fragmentao das elastinas arteriais, depsitos aumentados de colgeno e vasodilatao prejudicada, resultando na diminuio da elasticidade dos grandes vasos. A aorta e os grandes vasos perdem sua capacidade em acomodar o dbito cardaco, assim a hipertenso arterial sistlica isolada mais comum em idosos (SMELTZER; BARE, 2005).

    3.1.2 Tratamento da hipertenso arterialAps a confirmao diagnstica da hipertenso, necessrio fazer uma estratificao de risco que levar em conta os valores pressricos, a presena de leses em rgos-alvo dessa enfermidade e o risco cardiovascular estimado. Existe, com base nestes aspectos, a classificao em trs graus distintos, chamada de classificao do risco cardiovascular global individual das pessoas em funo do escore de risco de Framingham3 e da presena de leso em rgosalvo.

    Seguindo tal classificao, voc poder verificar que existem duas abordagens teraputicas para a hipertenso arterial: o tratamento que tem por base mudanas nos hbitos de vida (incentivo s atividades fsicas, alimentao saudvel, perda de peso, dentre outras aes) e o tratamento medicamentoso.

    O cuidado realizado pela equipe deve enfocar, sobretudo, a mudana nos hbitos de vida do indivduo, identificando as necessidades e pactuando aes no processo de coparticipao no cuidado. A interao entre o mdico e o indivduo com Hipertenso Arterial e a sua famlia o ponto-chave para que o plano teraputico seja seguido. Pode parecer irracional um plano teraputico que modifique hbitos de vida, especialmente quando no esto presentes sinais e sintomas ou quando aparecem os efeitos colaterais dos medicamentos. Assim, o profissional de sade deve encorajar permanentemente estas pessoas a manterem o tratamento e estabelecer em conjunto um plano aceitvel de metas que as ajudem a conviver com a hipertenso arterial.

    3 Escore de risco de Framingham a fer-

    ramenta usada para calcular os fatores de

    risco de doena coronariana, ou seja, o

    risco de infarto e morte devido doena

    coronariana subsequente ao perodo de

    dez anos. Para isso, considera a idade, o

    colesterol, o colesterol HDL, a pressoar-

    terial sistlica, o tratamento para hiperten-

    so e o fumo.

  • 38 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    Nas aes de sade comunitrias que envolvam, dentre outras coisas, a verificao da presso arterial, so recomendadas as seguintes medidas: verificar a calibragem dos manmetros, empregar a tcnica adequada e destinar tempo suficiente para o esclarecimento s pessoas sobre os significados dos valores da presso arterial.

    Estamos at agora falando sobre o diagnstico de hipertenso arterial sem complicaes. Sabemos, no entanto, que nem sempre este diagnstico feito precocemente. Geralmente ele acontece quando j existe prejuzo das funes orgnicas, ou seja, quando algum rgo-alvo j foi atingindo. Diante disto, a educao para a sade tambm considerada uma importante ao da equipe de sade, uma vez que auxilia a pessoa com hipertenso arterial e sua famlia na compreenso do significado de uma condio crnica de sade e da necessidade de modificar hbitos e estilos de vida.

    Dessa maneira, os objetivos da educao em sade so: ajudar as pessoas a descobrirem formas de estabelecer qualidade de vida e bem-estar, mesmo convivendo com uma doena crnica; contribuir para a reduo da reinternao hospitalar decorrente da cronicidade da doena e minimizar as complicaes provocadas pela doena crnica com o passar do tempo. Uma das estratgias para desenvolver aes em sade a formao de grupos para pessoas com doena crnica, sejam teraputicos ou de convivncia. Nestes espaos, possvel compartilhar saberes e experincias, formar redes de suporte social, ampliar criativamente as formas de conviver com a doena crnica, dentre outras (PADILHA; SILVA; BORENSTEIN, 2004). Antes de iniciar a divulgao de algumas destas estratgias, importante considerar a vontade dos usurios de aderirem ao grupo, ou que outras sugestes alternativas eles tm para aprimorar a ateno sade. Tenha o cuidado de no rotular uma populao, escolham juntos o nome que daro ao grupo, a metodologia dos encontros, os temas abordados e isso favorecer a coeso do grupo e sua caracterizao.

    Leitura Complementar

    Para compreender o tratamento indicado para cada tipo de Hipertenso Arterial

    e de que forma os profissionais da sade podem conjuntamente decidir as aes

    teraputicas para o seu controle, acesse:

    VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSO ARTERIAL. Arq. Bras. Cardiol.

    vol.95 no.1 supl.1 So Paulo 2010. Disponvel em: .

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2010001700001http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2010001700001

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 39

    3.1.3 Abordagem clnica ao usurio com hipertenso arterialO PROGRAB4 um instrumento til para o planejamento das aes na ateno bsica. Para ajudar neste planejamento, muito importante que a equipe j tenha tido contato com esta ferramenta, que ir permitir, a partir do nmero de pessoas da rea, a programao da quantidade de aes que a equipe pode executar.

    Como a ferramenta flexvel, pode-se, a qualquer momento, dependendo da organizao do processo de trabalho da equipe, aumentar ou diminuir a cobertura sugerida e ainda entrar com nmeros de forma direta, em vez de entrar com faixas populacionais.

    Outro ponto que pode ser trabalhado com esta ferramenta o protocolo de exames complementares. O programa permite calcular o nmero de exames necessrios anualmente para a populao de uma rea especfica, facilitando a programao da equipe sobre a quantidade de exames necessrios. Alm disso, este recurso possibilita o planejamento de outras aes, como por exemplo, a partir da identificao de um percentual elevado de solicitao de exames (acima do esperado), o estabelecimento de meios para sua reduo.

    Que tal j na prxima reunio de equipe com todos os seus membros iniciar uma

    discusso sobre os pontos que trabalhamos at agora? Discuta em equipe sobre a

    implantao do Prograb e quais so as informaes necessrias para sua utilizao,

    caso esse processo ainda no tenha sido iniciado. Alm disso, aconselhvel que a

    equipe reveja as aes relacionadas a pessoas com hipertenso arterial.

    Ao manipular a ferramenta, voc perceber que uma das sugestes justamente diferenciar os usurios em estgio I de hipertenso dos com estgios II e III. Alm do estgio da hipertenso, de fundamental importncia classificar o risco de desenvolver algum evento cardiovascular.

    Para que planejamento e acompanhamento sistemtico dos usurios com hipertenso arterial sistmica sejam aprimorados, sugere-se que voc passe a acrescentar no pronturio de todo indivduo o grupo de risco/categoria segundo o escore de Framinghan, e o estgio de hipertenso atual, podendo acrescent-los inclusive, no incio do pronturio, permitindo uma melhor visualizao por todos os membros da equipe.

    4 Prograb Essa ferramenta vai permitir,

    a partir do nmero de pessoas da rea, a

    programao da quantidade de aes que

    a equipe pode executar.

  • 40 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    A reunio proposta com a equipe, que envolvia fornecer informaes sobre a po-

    pulao ao PROGRAB, foi realizada? Como foi? A partir desta conversa inicial j

    possvel ter uma noo maior sobre como anda o acompanhamento das pessoas

    com hipertenso na sua rea. Certamente outras coisas devem ter sido discutidas

    na reunio, como o funcionamento dos grupos, problemas de reterritorializao, etc.

    Se o planejamento estiver indo bem, melhor, mas caso contrrio, no se preocupe,

    vamos aos poucos discutindo com voc meios de organizar todo o servio em equipe.

    Aps esta etapa, que pode se estender por alguns meses, ser necessria a sistema-

    tizao de tais informaes, e voc junto equipe devero planejar como oferecer

    uma ateno sade diferenciada s pessoas com maior risco.

    Outros fatores podem ser considerados na organizao da ateno sade destes

    usurios, tais como: adeso e resposta ao tratamento, presena de fatores de risco

    associados, grau de instruo e autonomia. importante planejar um prazo para a

    execuo de cada uma destas etapas, para que a equipe esteja organizada para o

    desenvolvimento das aes.

    Vamos ilustrar a abordagem clnica ao usurio portador de hipertenso com o caso a seguir. Logo aps, disponibilizaremos informaes-chave sobre hipertenso. Essas informaes devem ser norteadoras para a ateno s pessoas com hipertenso de sua rea de abrangncia.

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 41

    L. S. V., 62 anos, vem consulta acompanhado de sua filha, que est preocupada com

    o aumento da presso arterial do pai. Ele aferiu a PA aleatoriamente por 2 vezes e foi

    aconselhado a procurar o mdico de famlia. Diz que no procurava atendimento m-

    dico desde sua adolescncia. No tem nenhuma outra queixa ou sintoma. Trabalha na

    construo civil e est planejando se aposentar em 3 anos. No usa nenhum medica-

    mento ou ch. Apresenta como antecedente familiar o falecimento do pai aos 53 anos

    por Infarto Agudo do Miocrdio. Ao exame fsico, apresenta IMC de 31,6 kg/m2, PA:

    164/78 mmHg repetida aps 10 minutos e foi de 162/76 mmHg. Sem outras alteraes

    no exame fsico. Neste primeiro momento, ele orientado a realizar mudanas no estilo

    de vida, tais como: incio de atividade fsica e orientao diettica com o objetivo de

    perda de peso. Alm disto, tambm foi orientado a fazer controle com registro da PA.

    Aps 60 dias, L. S. V retorna para reavaliao, um pouco contrariado em ter de retor-

    nar ao mdico, pois diz sentir-se bem. O controle da PAS variou e de 148 a 176 e PAD

    entre 64 e 88 mmHg. Foi ento estabelecido o diagnstico de Hipertenso arterial

    estgio 2. A necessidade de exames complementares (laboratrio e ECG) e as opes

    de tratamento foram discutidas com L. S. V e ele mostrou-se resistente em iniciar o

    tratamento medicamentoso, preferindo, neste momento, investir em atividade fsica

    e mudana alimentar com perda de peso. Foi programado um retorno em 1 ms com

    exames e registro da PA.

    3.1.4 Chaves na abordagem ao indivduo com hipertenso arterialUm dos componentes mais importantes no diagnstico e no manejo da Hipertenso Arterial a correta aferio da PA, descrita na pgina 11 do Caderno de Ateno Bsica, n..15 (BRASIL, 2006a).

    A Classificao da Hipertenso Arterial baseada no Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure que classifica:

    Normal PAS < 120 ou PAD < 80;

    Pr-Hipertenso PAS 120-139 ou PAD 80-89;

    Estgio 1 PAS 140-159 ou PAD 90-99;

    Estgio 2 PAS >160 ou PAD >100.

    Uma vez que o usurio foi diagnosticado com hipertenso, o estilo de vida, o risco cardiovascular (Framinghan), outras patologias e leso em rgo-alvo devem ser identificados;

    O objetivo do tratamento diminuir a morbidade e a mortalidade por Hipertenso Arterial;

  • 42 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    A meta atingir nveis pressricos menores que 140/90 mmHg ou menores que 130/80 mmHg para indivduos com doena aterosclertica, doena renal ou diabetes;

    A mudana de estilo de vida5 (estmulo atividade fsica sistemtica, controle do peso, cessao do tabagismo e orientao diettica) deve ser encorajada em todos os indivduos com hipertenso. A mudana de estilo de vida pode ser oferecida para algumas pessoas por at 6 meses antes de se iniciar a medicao;

    A classe de medicamentos para hipertenso que mais reduz mortalidade nesse grupo so os diurticos tiazdicos.

    Os betabloqueadores so preferidos para pessoas com antecedente de IAM ou angina estvel;

    Em indivduos com HAS e risco cardiovascular alto, recomendado o uso de cido acetilsaliclico profiltico (100mg/dia) aps controle ideal ou prximo do alvo da presso arterial (

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 43

    Diabetes mellitus associado a outras condies ou sndromes (problemas hormonais ou genticos), determinadas drogas ou substncias qumicas (CORPORATION, 2003).

    Geralmente as pessoas com diabetes tipo 1 relatam sintomas com progresso rpida, enquanto aquelas com diabetes do tipo 2 relatam histria familiar de DM, diabetes gestacional, bebs macrossmicos, dentre outros (CORPORATION, 2003).

    O Diabetes mellitus tipo 2 (DM-2) vem sendo considerado como uma das grandes epidemias mundiais do sculo XXI. O envelhecimento da populao e as novas abordagens teraputicas em relao a essa doena contribuem para o avano da epidemia. H de se destacar que o estilo de vida atual, caracterizado pelo sedentarismo e hbitos alimentares inadequados, alm de exposio frequente a situaes estressantes, como jornadas triplas de trabalho, transporte pblico inadequado, baixa remunerao, condies insalubres de vida, poucas horas para o lazer, dentre outros, predispe ao acmulo de gordura corporal constituindo-se em elemento essencial para a incidncia e prevalncia desta doena.

    Link

    DIABETES na prtica clnica. Em formato de livro eletrnico. Disponvel em: . Acesso em: 28 mar. 2016.

    Eis alguns dados sobre o aumento dos casos de diabetes no decorrer das dcadas:

    O nmero de pessoas com DM no mundo, em 1985, era de cerca de 30 milhes, passando para 135 milhes em 1995 e 240 milhes em 2005, com potencial de atingir 366 milhes em 2030, dos quais, dois teros habitaro os pases em desenvolvimento (WILD, 2004);

    No Brasil, em 2014 a frequncia mdia entre as capitais do diagnstico mdico prvio de diabetes foi de 8,0%, sendo de 7,3% entre homens e de 8,7% entre mulheres. Em ambos os sexos, a doena mais presente com o avano da idade, em especial aps os 45 anos. Cerca de 25% dos indivduos com 65 ou mais anos de idade referiram diagnstico mdico de diabetes.(24,4%). (BRASIL, 2014).

    No entanto, cerca de 50% das pessoas com DM tipo 2 no sabem que so portadoras e algumas vezes o diagnstico s realizado quando aparecem as complicaes. Os testes de rastreamento desta doena so indicados para pessoas sem sintomas ou outros de seus sinais e seguem os fatores indicativos de maior risco, tais como: idade maior que 45 anos, sobrepeso (IMC maior que 25), obesidade central (cintura abdominal maior que 102 cm para os homens e

    http://www.diabetesebook.org.brhttp://www.diabetesebook.org.br

  • 44 Reibnitz Jr., Freitas, Ramos, Tognoli, Ateno Integral Sade do Adulto Amante, Cutolo, Padilha, Miranda Medicina

    maior que 88 cm para as mulheres, esta medida obtida na altura das cristas ilacas), antecedente familiar de DM (pai ou me), colesterol HDL de 35 mg/dL ou triglicerdeos de 150 mg/dL, histria de macrossomia ou diabetes gestacional, diagnstico prvio de sndrome de ovrios policsticos, doena cardiovascular, cerebrovascular ou vascular perifrica definida.

    necessrio ressaltar aqui que esta caracterizao de risco ainda no est padroni-

    zada. A tendncia usar um escore de fatores de risco semelhante aos do risco car-

    diovascular. Mas os fatores de risco aqui elencados constituem um guia para a ao

    clnica. Isso no exclui a necessidade de interao com outros profissionais, usurios e

    ou outros setores da sociedade para buscarem alternativas de preveno, tratamento

    e reabilitao desta doena e suas sequelas, presentes em casos mais avanados.

    As complicaes do DM podem ser classificadas em agudas e crnicas. As agudas so a Cetoacidose Metablica (CAD) e a Sndrome No Cettica Hiperglicmica Hiperosmolar (SNHH), e se constituem em situaes de risco de vida, exigindo interveno imediata. J as complicaes crnicas atingem o sistema cardiocirculatrio, causando doena vascular perifrica, doena ocular (retinopatia), doena renal (insuficincia renal crnica), doena de pele (dermopatia diabtica) e neuropatia perifrica e autnoma (CORPORATION, 2003). O diabetes tambm responsvel pela morbimortalidade causada por doena cardiovascular, falncia renal, amputao de membros inferiores e cegueira.

    O DM uma das prioridades no mbito da ateno bsica em funo de suas graves consequncias sade da populao acometida por esta doena. Logo, a identificao de pessoas com alto risco para DM e dos casos no diagnosticados devem direcionar as aes neste nvel de ateno a fim de que o tratamento e do controle intensivo sejam prontamente oferecidos, visando prevenir as complicaes agudas e crnicas decorrentes desta patologia.

    Na evoluo do DM, o uso da insulina para o controle glicmico depende do tipo de diabetes e da sua progresso clnica. Por outro lado, antes do DM ser diagnosticado, alteraes na curva glicmica podem ser observadas.

  • Unidade 3 Principais doenas crnicas no transmissveis 45

    Faa uma pesquisa sobre os estgios do DM e estabelea um plano de intervenes

    que possa atender s pessoas com ndices glicmicos elevados que ainda no pos-

    suem critrios clnicos para o diagnstico mdico de DM, ou que previnam complica-

    es, nos casos em que a doena j est instalada. Identifique em sua realidade qual

    a prevalncia de usurios em cada estgio e utilize esses resultados para junto com

    sua equipe definirem estratgias de aes educativas e preventivas, que possibilitem

    uma maior aproximao com usurios que necessitam de acompanhamento.

    3.2.2 Diagnstico clnico e laboratorial do Diabetes mellitusSo quatro os sintomas clssicos de DM: poliria, polidipsia, polifagia e perda involuntria de peso, conhecidos como os 4 Ps. Fadiga, astenia, letargia, prurido cutneo e vulvar, balanopostite e infeces de repetio so outros sintomas que conduzem suspeita clnica (CORPORATION, 2003).

    Laboratorialmente, o usurio pode fazer os testes de glicemia em jejum, teste oral de tolerncia glicose e glicemia casual para verificar se possui ou no diabetes. Nos casos em que os parmetros de nveis glicmicos do indivduo no esto suficientemente elevados para caracterizar o diagnstico de DM, mas esto acima do ideal, este usurio faz parte do grupo de pessoas portadores de hiperglicemia intermediria com risco elevado para o desenvolvim