Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As...

31
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos Curso de Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos Especiarias: aplicações e propriedades Fabiane Steurer Pelotas, 2008.

Transcript of Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As...

Page 1: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos

Curso de Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos

Especiarias: aplicações e propriedades

Fabiane Steurer

Pelotas, 2008.

Page 2: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

1

FABIANE STEURER

ESPECIARIAS: APLICAÇÕES E PROPRIEDADES

Orientadora: Carla Mendonça

Pelotas, 2008.

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial da Disciplina de Seminários em Alimentos

Page 3: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

2

Agradecimentos

Aos meus familiares, principalmente aos meus pais, pela doação completa,

amor incondicional, apoio, carinho, compreensão e principalmente por terem sempre

se empenhado em me ensinar a ser melhor.

A todos os professores que me ajudaram na elaboração deste trabalho

acadêmico, pela atenção e orientação.

Aos colegas e amigos que de alguma forma contribuíram no desenvolvimento

deste trabalho, pela paciência e compreensão em alguns momentos.

A Deus, pela presença constante em minha vida.

Page 4: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

3

Se teus sonhos estão nas nuvens, não te preocupes! Eles estão no

lugar certo; agora construa os alicerces.

William Shakespeare

Page 5: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

4

Resumo

STEURER, Fabiane. Especiarias: aplicações e propriedades. 2008. 30f. Trabalho

Acadêmico (Bacharelado em Química de Alimentos), Universidade Federal de

Pelotas, Pelotas.

As especiarias ou condimentos vêm sendo utilizadas desde a pré-história, tendo sido

empregadas para embalsamar no antigo Egito, para fins medicinais, para mascarar o

sabor e odor de carnes no início de decomposição, entre outros. Desde a

antiguidade até hoje o homem busca alguma coisa além do alimento em si, e com

isso vem desenvolvendo a arte de comer e beber, inovando gostos e sabores

diferentes nos alimentos pelo uso das especiarias. A atual tendência adotada pelos

órgãos legisladores da produção de alimentos e pelos consumidores tem exigido

uma progressiva retirada de aditivos químicos na produção de alimentos. Esta

tendência tem conduzido a indústria de alimentos a buscar compostos alternativos

para alcançar suas metas relacionadas à estabilidade microbiana e conservação das

características dos seus produtos finais. Dentre os novos compostos estudados, as

especiarias vêm tornando-se cada vez mais enfatizadas. A presença de alcoóis,

aldeídos, ésteres, terpenos, fenóis, ácidos orgânicos e, principalmente, óleos

essenciais nas especiarias, tem mostrado eficiência no combate do crescimento de

microrganismos e na inibição ou retardamento da oxidação, funcionando como

compostos antioxidantes. No entanto, apesar de suas propriedades terem sido

comprovadas, é necessário um maior controle da contaminação das especiarias,

desde seu cultivo até sua utilização no produto final.

Palavras-chave: Condimentos. Antioxidantes. Antimicrobianos. Óleos essenciais.

Page 6: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

5

Lista de Figuras

Figura 1 – Antioxidantes sintéticos de uso comercial................................................17

Figura 2 – Estrutura de compostos fenólicos............................................................18

Figura 3 – Estrutura do eugenol, carvacrol e timol....................................................21

Page 7: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

6

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Principais especiarias com respectivo nome comum e parte utilizada...11

Tabela 2 – Especiarias empregadas na preparação de alimentos............................13

Page 8: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

7

Sumário

Resumo.......................................................................................................................4 Lista de Figuras..........................................................................................................5 Lista de Tabelas..........................................................................................................6 1. Introdução...............................................................................................................8 2. Histórico..................................................................................................................9 3. Definição e principais especiarias......................................................................10 4. Importância e finalidades....................................................................................12 5. Obtenção das especiarias e extração de óleos essenciais..............................14 6. Propriedades das especiarias ............................................................................16 6.1 Ação Antioxidante..............................................................................................16 6.1.1 Antioxidantes utilizados.................................................................................16 6.1.2 Principais especiarias com poder antioxidante...........................................18 6.2 Ação antimicrobiana..........................................................................................19 6.2.1 Interações entre os antimicrobianos naturais e os constituintes da matriz alimentar....................................................................................................................22 7 Contaminação e conservação das especiarias..................................................23 8 Conclusão..............................................................................................................25 Referências ..............................................................................................................26

Page 9: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

8

1 Introdução

Especiarias são substâncias vegetais de origem indígena ou exótica,

aromáticas ou de sabor forte, picante, utilizadas para realçar o gosto dos alimentos

ou adicionar-lhes os princípios estimulantes nelas contidos (GERMANO;

GERMANO, 1998). São utilizadas em alimentos diariamente, sendo que sua

concentração é determinada pela preferência de sabores (BEDIN; GUTKOSKI;

WIEST, 1999).

São produtos que passaram a ser utilizados a partir do conhecimento de suas

propriedades, como estimular o apetite, conferir aroma antes e durante a cocção,

bem como para a conservação de alimentos. São largamente utilizadas em saladas,

sopas, carnes, molhos, licores, cremes, chás, caldas, compotas, como enfeites

decorativos entre outros (GERMANO; GERMANO, 1998).

Os consumidores procuram alimentos de boa qualidade, livres de

conservantes e com mínimo processamento e aditivos químicos possíveis, porém

com vida-útil longa (GOULD, 1995). Nesta perspectiva, os elementos vegetais, como

as especiarias, recebem grande ênfase em um possível uso racional na linha de

produção de indústrias alimentícias, por conferir sabores agradáveis e por

apresentarem óleos essenciais, os quais mostram propriedades antimicrobianas,

antivirais, antioxidante, antimicótica, antitoxigênicas, antiparasíticas e inseticidas

(BURT, 2004 apud KRUGER, 2006).

As especiarias conferem características desejadas somente se forem obtidas

de maneira adequada, com a colheita efetuada no correto estado de maturação,

sendo que após estas passam por uma série de tratamentos, tais como lavagem,

descascamento, cura, secagem, etc., antes de chegarem ao consumidor (PRUTHI,

1980 apud ALMEIDA, 2006).

Com ênfase no exposto, realizou-se este trabalho com o objetivo de

aprofundar o estudo das especiarias, abordando características como utilização e

finalidades, propriedade antimicrobiana e antioxidante, bem como as possíveis

contaminações causadas pelo seu uso inadequado.

Page 10: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

9

2 Histórico

As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas

desde a pré-história. Elas tiveram grande importância para o comércio e acumulação

de riqueza, sendo empregadas para as mais diversas funções, tais como para

embalsamar no antigo Egito, para fins medicinais em outros países e, em locais de

clima quente onde a refrigeração era escassa, serviam para mascarar o sabor e odor

de carnes no início de decomposição (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999; ALMEIDA,

2006).

Os condimentos e especiarias têm sua significância na história da

alimentação humana. Desde a antiguidade até hoje o homem busca alguma coisa

além do alimento em si, e isso vem desenvolvendo a arte de comer e beber,

inovando gostos e sabores diferentes nos alimentos (SAVARIN, 1995 apud ABREU

et al.,2001).

Na Europa, no outono, sacrificava-se grande parte dos rebanhos de gado,

pois sabia-se que, até a próxima primavera, não haveria alimento disponível para

esses animais. Mesmo quando salgadas ou defumadas, as carnes de peixe e bovina

se deterioravam com facilidade, o que não impedia que fossem consumidas,

especialmente durante o rigoroso inverno da maioria dos países. Assim, aqueles que

não moravam na costa e não dispunham de peixe fresco durante todo o ano, eram

obrigados a temperar a carne com condimentos fortes, picantes e odoríferos

(PESTANA, 2004).

O cravo tinha uso exclusivo na fabricação de doces, o gengibre sendo mais

versátil, era empregado nos pastéis de peixe fresco, na salada, em legumes regados

com azeite, vinagre e sal e em conservas, com a função de aromatizante. O açafrão

servia para melhorar o sabor da carne, no entanto, a especiaria mais indicada para

tornar comestível a carne salgada e freqüentemente pútrida, era a pimenta forte

(PESTANA, 2004).

Page 11: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

10

3 Definição e principais especiarias

Condimentos são produtos constituídos de uma ou diversas substâncias

sápidas, de origem natural, com ou sem valor nutritivo, empregado nos alimentos

com o fim de modificar ou exaltar o seu sabor. Seus produtos classificam-se em

glutamato monossódico, sais sódicos dos ácidos ribonucléicos e especiarias ou

condimento vegetal (CNNPA, 1978).

O condimento vegetal, de acordo com a sua composição, pode ser simples,

quando constituído por uma especiaria genuína e pura, e misto quando constituído

da mistura de especiarias, inteiros, fragmentados ou em pó (CNNPA, 1978;

GERMANO; GERMANO, 2008).

Especiarias ou condimentos vegetais são os produtos constituídos de partes

de espécies vegetais, como raízes, rizomas, bulbos, cascas, folhas, flores, frutos,

sementes e outras partes das plantas, possuidoras de substâncias aromáticas ou

picantes, com ou sem valor alimentício, utilizadas para agregar sabor ou aroma aos

alimentos e bebidas, sendo que as principais especiarias podem ser observadas na

tab. 1 (ANVISA, 2005; BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999).

Especiarias são usadas em alimentos diariamente, principalmente por seus

sabores e aromas. Os componentes dos sabores consistem em compostos como

alcoóis, aldeídos, ésteres, terpenos, fenóis, ácidos orgânicos e outros, muitos dos

quais ainda não identificados. Suas concentrações nos alimentos são determinadas

pela preferência de sabores, normalmente encontrando-se entre 0,5 a 1% no

produto final (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999).

Page 12: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

11

Tabela 1 – Principais especiarias com respectivo nome comum e parte utilizada

Nome comum / nome científico Parte do vegetal utilizada

Açafrão / Crocus sativus L. estigmas florais

Alecrim / Rosmarinus officinalis L. folhas e talos

Alho / Allium sativum L. bulbos

Alho porro / Allium porrum L. folhas e talos

Baunilha / Vanilla planifolia Jacks. frutos

Canela-da-china / Cinnamomum cassia Ness

ex Blume

cascas

Cebola / Allium cepa L. bulbos

Cebolinha verde / Allium schoenoprasum L. folhas e talos

Coentro / Coriandrum sativum L. talos, folhas e frutos

Cominho / Cuminun cyminum L. frutos

Cravo-da-índia / Caryophyllus aromaticus L.

ou Eugenia caryphyllata Thumb

botões florais

Cúrcuma / Curcuma longa L. e Curcuma

domestica Valenton

rizomas

Erva-doce ou anis ou anis doce / Pimpinella

anisum L.

frutos

Gengibre / Zingiber officinale Roscoe rizomas

Gergelim / Sesamum indicum L. sementes

Orégano chileno / Origanum vulgare L. folhas e talos

Páprica / Capsicum annuum L. frutos

Pimentão vermelho, pimentão verde,

pimentão amarelo e pimenta doce /

Capsicum annuum L.

frutos

Salsa / Petroselinum sativum Hoffm. ou

Petroselinum crispum (Mill.) Nyman.

folhas e talos

Tomate/ Lycopersicum esculentum L. frutos

Urucum / Bixa orellana L. sementes

Fonte: ANVISA, 2005.

Page 13: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

12

4 Importância e finalidades

Os consumidores contemporâneos têm buscado consumir alimentos de alta

qualidade, naturais, mais saudáveis, frescos, livres de aditivos e com menor

quantidade de sal, gordura e ácidos, além de sofrerem o menor processamento

possível. Porém, estes devem apresentar vida-de-prateleira longa e inocuidade com

relação à presença de microrganismos patógenos e suas toxinas (GOULD, 1995

apud BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999).

A utilização de substâncias naturais, de origem vegetal, torna o alimento mais

atrativo ao consumidor por não apresentarem efeito tóxico, mesmo quando

empregadas em concentrações relativamente elevadas. Além dos benefícios

proporcionados à saúde, diversos estudos têm demonstrado o efeito inibidor de

especiarias no desenvolvimento de microrganismos deterioradores e patogênicos

veiculados por alimentos (PEREIRA, 2005).

As especiarias passaram a ser utilizadas na culinária a partir do conhecimento

de suas propriedades, como estimular o apetite e conferir aroma antes e durante a

cocção. São responsáveis pelo sabor picante em carnes, pescados e verduras e

também proporcionam excelentes azeites de cozinha, como o de gergelim. São

largamente utilizadas como aromatizantes de licores, destacando-se entre eles o

absinto, anis (anisette e pernod) (GERMANO; GERMANO, 2008).

As especiarias constituem ainda, enfeite importante para molhos, catchups,

embutidos e salames, além de serem utilizadas como ingredientes em produtos

curtidos e em conservas. Na tab. 2, estão relacionadas as principais especiarias

empregadas na preparação de alimentos (BEDIN; GUTKOSKI; WIEST, 1999;

GERMANO; GERMANO, 2008).

Page 14: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

13

Tabela 2 – Especiarias empregadas na preparação de alimentos

Nome Apresentação Utilização

Açafrão Pó. São necessários cerca

de 225.000 estigmas para

fazer 500 gramas deste

caríssimo tempero

De seus estigmas secos é feito um pó, de cor

amarelo-forte, que diluído em água quente e

colocado em pães, arroz e outros alimentos, para

dar cor e sabor

Baunilha Vagem e essência Baunilha (vagem) usada em sorvetes, cremes e

musses, que deve ser colocada para cozer na

calda do alimento e retirada antes dos doces

serem enformados ou servidos. Líquido usado

moderadamente para dar gosto de baunilha a

doces, cremes, sorvetes entre outros

Canela Tubos de casca

enrolados, secos e pó

Cremes, marmeladas, caldas, compotas, crepes,

bolinhos, vinho quente. Chá de efeito calmante e

descongestionante

Coentro Folhas Uso diário na cozinha brasileira para temperar

peixes, camarões ou para substituir a salsa,

sobretudo na moqueca capixaba

Cominho Grãos e pó Embutidos, salsichas, chucrute, queijo e pão

Cravo Seco Espetado em cebolas de ensopados, sopas e

caldos, pepinos em conserva e licores caseiros

Orégano Folhas Confecção de diversas especiarias, refogados,

molhos, tomates, embutidos, grãos, saladas,

cerveja, chá e licor

Salsa Folhas e talos Utilizado para decoração, em sopas, molhos,

refogados, carnes, saladas

Tominho Folhas aromáticas usadas

fresca ou secas

Dá sabor a gelatina, salmoura, sopas de peixe.

Usado na Grécia antiga para aromatizar vinhos

Urucum Pó que dá cor a vários

alimentos

Participa na composição de queijos, óleos e

risotos, sem alterar seu sabor

Fonte: GERMANO; GERMANO, 1998.

Page 15: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

14

5 Obtenção das especiarias e extração de óleos essenciais

As especiarias conferem características desejadas se forem obtidas de

maneira adequada. A colheita é efetuada no correto estado de maturação, que varia

de especiaria para especiaria. Após a colheita, as especiarias passam por uma série

de tratamentos, tais como lavagem, descascamento, cura, secagem, etc., antes de

chegarem ao consumidor. Este tratamento pós-colheita, apesar de ser específico

para cada especiaria, tem por finalidade reduzir o teor de umidade para valores de 8

a 12%, objetivando evitar alterações e manter a qualidade durante o período de

armazenamento (PRUTHI, 1980 apud ALMEIDA, 2006).

Os óleos essenciais presentes nas especiarias são compostos que

apresentam propriedades antimicrobianas, antivirais, antimicótica, antitoxigênicas,

antiparasíticas e inseticidas. São fluídos oleosos e aromáticos extraídos de

diferentes partes de plantas (flor, caule, folha, fruto, broto, semente, tronco ou raiz)

através de diversos processos como destilação a vapor, pressão a frio e extração

com dióxido de carbono supercrítico, sendo a destilação a vapor o método

comercialmente utilizado (BURT, 2004 apud KRUGER, 2006).

A destilação por arraste com vapor é um processo simples, no qual o extrato

bruto obtido é extraído diversas vezes com solventes orgânicos, sendo que a fase

oleosa não se mistura com a fase aquosa. Por serem mais leves, os óleos

essenciais ficam concentrados sobre a camada de água, os quais posteriormente

são removidos, resultando em um produto final constituído de voláteis e material

resinoso não-volátil contendo os principais ativos característicos (ARAÚJO, 1999;

BORSATO et al., 2008).

Apesar de este processo ser simples, apresenta desvantagens como baixos

rendimentos e, principalmente, a eventual perda de componentes termolábeis

presentes no óleo volátil, devido ao uso de altas temperaturas (MARTÍNEZ, 2005).

A extração com dióxido de carbono supercrítico envolve duas etapas:

extração e separação. A extração é baseada no contato de uma matriz sólida com

um solvente, de forma que este remove do sólido as substâncias que se deseja

obter (óleos voláteis, por exemplo). A separação é obtida após a extração, com a

Page 16: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

15

redução da pressão ou aumento da temperatura do solvente, ou ambos

simultaneamente. Desta forma o extrato é separado obtendo-se o produto final. É a

forma mais eficiente de extração de óleos essenciais, porém seu maior obstáculo é o

alto investimento necessário para a instalação de uma unidade de extração

(MARTÍNEZ, 2005).

Page 17: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

16

6 Propriedades as especiarias 6.1 Ação Antioxidante

Os alimentos contêm componentes como carboidratos, proteínas, lipídios,

vitaminas e pigmentos que regulam seu sabor, aspecto e valor nutritivo. Alguns

desses componentes podem ser sensíveis à irradiação e, se sua dose for alta, pode

causar transformações prejudiciais no sabor, odor e cor desses alimentos. As

alterações causadas pela irradiação nas propriedades sensoriais dos alimentos são

resultantes principalmente de reações químicas, dentre as quais a oxidação lipídica,

que resulta em sabor rançoso (KILCAST, 1994 apud TRINDADE, 2007).

A oxidação lipídica pode ser prevenida pela adição de antioxidantes. Os

antioxidantes são substâncias capazes de seqüestrar ou impedir a formação de

radicais livres. Estes presentes em baixas concentrações, quando comparados com

um substrato oxidável, atrasam ou inibem a oxidação desse substrato de maneira

eficaz, inibindo a formação de radicais livres na iniciação (antioxidante primário), na

cadeia de oxidação ou interrompendo a propagação (antioxidante secundário) da

cadeia de radicais livres (FENNEMA, 2007 apud TRINDADE, 2007).

Na seleção de antioxidantes, são desejáveis as seguintes propriedades:

eficácia em baixas concentrações (0,001 a 0,01%), ausência de efeitos indesejáveis

na cor, odor, sabor ou em outras características do alimento e fácil aplicação. Além

destes, a estabilidade nas condições de processo e armazenamento e o composto e

seus produtos de oxidação não podem ser tóxicos, mesmo em doses muito maiores

das que normalmente são ingeridas no alimento, devem ser considerados também a

legislação vigente, custo e preferência do consumidor por produtos naturais

(RAMALHO; JORGE, 2006).

6.1.1 Antioxidantes utilizados A origem das substâncias antioxidantes pode ser sintética ou natural. Os

antioxidantes sintéticos como, o Butil-hidroxianisol (BHA), o Butil-hidroxitolueno

(BHT), o Terc-butilhidroquinona (TBHQ) e o Propil Galato (PG) são utilizados

Page 18: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

17

para diminuir a fase de propagação da reação de oxidação, sendo que a estrutura

destes antioxidantes sintéticos de uso comercial podem ser observadas na Fig. 1.

Entretanto, apresentam o inconveniente de serem voláteis e facilmente decompostos

em altas temperaturas. Os riscos à saúde associados com o consumo crônico

dessas substâncias são preocupantes e estão sendo estudadas (MARTINEZ-TOME

et al., 2001 apud ANDREO; JORGE, 2006).

Figura 1 – Antioxidantes sintéticos de uso comercial

Fonte: HUI, 1996 apud ANDREO; JORGE, 2006

Em razão de estudos que apontam possíveis efeitos deletérios ao organismo

causados pelos aditivos sintéticos, diversas pesquisas têm-se dirigido no sentido de

encontrar produtos naturais com atividade antioxidante que permitam substituir os

sintéticos ou fazer associações entre eles, com o intuito de diminuir sua quantidade

nos alimentos. Estes estudos são concentrados nos compostos fenólicos de origem

vegetal, pois eles agem como aceptores de radicais livres, interrompendo a reação

em cadeia provocada por estes, além de atuarem nos processos oxidativos

catalisados por metais (SOARES, 2002).

A atividade antioxidante das especiarias é atribuída principalmente a

presença de compostos fenólicos. Compostos fenólicos englobam moléculas simples

até outras com alto grau de polimerização. Antioxidantes fenólicos atuam como

seqüestradores de radicais livres e algumas vezes como quelantes de metais,

Page 19: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

18

agindo tanto na etapa de iniciação como na propagação do processo oxidativo

(BRAVO, 1998 apud TRINDADE, 2007)

Estruturalmente, os compostos fenólicos compreendem um anel aromático,

com um ou mais grupos hidroxila, formando desde moléculas simples a compostos

altamente polimerizados, sendo que dentre os quais dois exemplos são observados

na Fig. 2. Devido a esta grande diversidade estrutural, este grupo de compostos é

comumente denominado “polifenóis” (SAMMAN et al., 2006 apud SANTOS, 2007) .

Figura 2 – Estrutura de compostos fenólicos

Fonte: LE COUTEU; BURRESON, 2006

O conteúdo de compostos fenólicos presentes nas plantas é influenciado por

diversos fatores intrínsecos, tais como gênero, espécie e cultivar, assim como

extrínsecos, condições de cultivo, colheita e armazenamento (SAMMAN et al., 2006

apud SANTOS, 2007).

A ingestão diária de antioxidantes fenólicos tem desempenhado um papel

importante na redução do risco de desenvolvimento de algumas doenças crônicas

relacionadas ao estresse oxidativo, como problemas cardiovasculares, câncer,

infecções e mal de Alzheimer (AKYON, 2002 apud SANTOS, 2007).

6.1.2 Principais especiarias com poder antioxidante

O efeito antioxidante das especiarias foi inicialmente evidenciado por Vhipaul

et al (1952), em 32 especiarias, das quais o alecrim e a sálvia foram considerados as

mais eficazes. Posteriormente, esta ação foi comprovada no orégano e no tominho,

no gengibre, na pimenta, na mostarda, na canela, no coentro, entre outros (MELO et

al., 2003).

As propriedades antioxidantes do alecrim são bem reconhecidas. É

considerado um antioxidante lipídico e um quelante de metais, além de atuar na

absorção de radicais superóxidos (MADHAVI et al., 1996 apud SANTOS, 2007).

Page 20: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

19

Estudos realizados por Lagouri et al. (1996, apud PIEDADE, 2007),

verificaram que o óleo essencial de orégano, rico em timol e carvacrol, possui efeito

antioxidante considerável no processo de oxidação de óleos e gorduras animais.

Racanicci et al. (2004, apud PIEDADE, 2007) demonstrou que o orégano e o alecrim

desidratados obtiveram ação antioxidante em almôndegas de peito de frango

cozidas e armazenadas sob refrigeração, sendo que na concentração de 0,050% o

alecrim foi mais eficiente.

Trindade (2007) analisou a influência de antioxidantes naturais sobre o perfil

lipídico de hambúrgueres bovinos. Observou que o alecrim possui elevado potencial

antioxidante tanto na concentração de 77,67% quanto na concentração de 85,62%,

sendo que seu melhor desempenho se dá quando utilizado em sinergismo com o

BHT/BHA na concentração de 89,71%. Observou também que o extrato aquoso do

orégano apresenta um potencial inibidor da oxidação reduzido quando comparado

ao extrato do alecrim, utilizando a concentração de 75,15% e o alecrim 85,62%,

porém utilizado em sinergismo com BHT/BHA possui um potencial antioxidante de

97,38%.

Piedade (2007) estudou a proteção antioxidante do orégano e do alecrim,

quando utilizados em filés de sardinhas pré-cozidas. Constatou que a adição de

0,10% de orégano previne mais que o alecrim, a oxidação dos lipídios durante 6 dias

de armazenamento refrigerado.

6.2 Ação Antimicrobiana A indústria alimentícia visa a produção de alimentos que apresentem vida-de-

prateleira longa e inocuidade com relação à presença de microrganismos patógenos

e suas toxinas. Os consumidores procuram alimentos de boa qualidade, livres de

conservantes e minimamente processados, porém com vida-útil longa (GOULD,

1995).

A indústria de alimentos tem passado por constantes pressões para que

substituam os métodos tradicionais de controle de microrganismos nos alimentos,

como tratamentos intensos de calor, acidificação, congelamento, desidratação e

adição de agentes químicos e sal. Entre estas alternativas encontram-se os sistemas

antimicrobianos naturais, sistemas de embalagens ativas ou com atmosfera

modificada e bioconservação (DEVLIEGHERE; VERMEIREN; DEBEVERE, 2004).

Page 21: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

20

Com a difusão das modernas técnicas de preservação houve interesse

acentuado e renovado sobre algumas especiarias, utilizadas principalmente como

condimentos alimentares. Além de participarem como ingredientes de inúmeros

alimentos, tornando-os mais saborosos e digestivos, apresentam ação indireta e

complementar como agentes antimicrobianos devido à presença de óleos essenciais

(BARA, 1992).

Com esta perspectiva de substituir os aditivos sintéticos por conservantes

naturais presentes nos condimento Deans e Ritchie (1987 apud PEREIRA et al.,

2006) afirmam que a substituição de aditivos sintéticos por naturais, dependerá

fundamentalmente da determinação de uma concentração ideal. Segundo Shelef

(1983), as concentrações normalmente empregadas para realçar o aroma e sabor

que variam de 0,5 a 1% não inibem o desenvolvimento microbiano que depende de

concentrações superiores a 1%.

As substâncias químicas dos óleos essenciais apresentam compostos

capazes de inibir direta ou indiretamente os sistemas enzimáticos bacterianos,

mesmo que a maioria de microrganismos seja ainda desconhecida. Seu

comportamento é semelhante ao dos antibióticos, que são definidos como

“substâncias químicas com capacidade para matar ou inibir o desenvolvimento de

bactérias ou outros microrganismos”. A caracterização da célula “alvo” é decisiva

para essa aplicação e somente os compostos naturais, que agem sobre sistemas

essenciais para a reprodução e sobrevivência desses microrganismos, têm atividade

antibiótica. Assim a inativação desses sistemas no metabolismo celular tem efeitos

letais (KURYLOWICZ, 1981 apud ERNANDES; GARCIA-CRUZ, 2007).

Os compostos fenólicos são os principais responsáveis pela atividade

antimicrobiana dos óleos essenciais. Componentes presentes em menor quantidade

também desempenham seu papel, provavelmente envolvendo-se em interações

sinérgicas com os compostos fenólicos. Considerando-se o grande número de

diferentes grupos e compostos químicos presentes nos óleos essenciais, sugere-se

que seu efeito antibacteriano não seja atribuído a um mecanismo específico, mas

esteja envolvido com vários alvos nas células sensíveis. Os principais efeitos seriam

a degradação da parede celular, danos à membrana citoplasmática, perda de

constituintes celulares e coagulação do citoplasma. Esses mesmos mecanismos não

funcionam como alvos separados e podem ocorrer em conseqüência dos outros

(BRUL; COOTE, 1999; BURT, 2004).

Page 22: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

21

Segundo Burt (2004), uma importante característica dos óleos essenciais e

seus componentes é o caráter hidrofóbico, que permite que se liguem aos lipídeos

da membrana celular modificando sua estrutura e aumentando sua permeabilidade.

Devido a esta permeabilidade, pode ocorre a passagem de íons e outros

constituintes celulares provocando a morte da célula. Geralmente os óleos

essenciais que possuem maior atividade antimicrobiana apresentam maiores

concentrações de eugenol, carvacrol e timol, estruturalmente observados na Fig. 3,

sendo que a estrutura química dos componentes individuais dos óleos afeta o seu

modo de ação na célula bacteriana.

Figura 3 – Estrutura do eugenol, carvacrol e timol

Fonte: CARVALHO et al.2003; LE COUTEU; BURRESON, 2006

Estudos que avaliaram a ação dos óleos essenciais sobre os microrganismos

deteriorantes e patogênicos concordam que esses compostos têm maior ação contra

bactérias gram-positivas. Uma possível explicação para a menor suscetibilidade dos

organismos gram-negativos é a presença da membrana externa que restringe a

difusão dos compostos hidrofóbicos através dos lipopolissacarídeos (BURT, 2004).

O primeiro estudo sobre propriedades antimicrobianas, publicado em 1880,

descreve a atividade antimicrobiana de óleos essenciais de mostarda, cravo da índia

e canela. Extratos de alho, canela, curry, mostarda, manjericão, gengibre a outras

ervas exibem também essas propriedades. Extratos do cravo da Índia reduzem o

número de Escherichia coli e outras bactérias durante a armazenagem de sucos,

leites e chás (BOYLE, 1995; ARORA; KAUR, 1999 apud ERNANDES; GARCIA-

CRUZ, 2007).

Vários estudos têm sido realizados avaliando o potencial antimicrobiano dos

óleos essenciais. Ouattara et al. (1997 apud KRUGER, 2007) estudaram o efeito de

óleo essencial de canela, cravo, cominho, alho, orégano, pimenta preta, pimenta e

alecrim, na superfície de meio de cultura sólido, contra Carnobacterium piscicola,

Page 23: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

22

Lactobacillus curvatus, Lactobacillus sake, Pseudomonas fluorenscens, Brochothrix

thermosphacta e Serratia liquefaciens, que são os principais microrganismos

deteriorantes de produtos cárneos. Os óleos de canela, cravo, alecrim, pimenta e

alho foram os mais efetivos, apresentando efeito inibitório em concentrações de 1%

(v/v) contra todos os microrganismos testados. Os demais óleos testados foram

menos eficientes apresentando efeito inibitório apenas em concentrações acima de

10% (v/v).

Os níveis de óleos essenciais e seus compostos utilizados para inibir a

multiplicação bacteriana em testes realizados in vitro são menores do que aqueles

necessários para a inibição em modelos alimentares, devido às interações entre tais

componentes e as matrizes alimentares. Entretanto, níveis mais elevados podem

influenciar negativamente as propriedades sensoriais originais do alimento

(BAGABOULA et al., 2004 apud BÍSCOLA, 2007).

6.2.1 Interações entre os antimicrobianos naturais e os constituintes da matriz alimentar

Vários estudos têm se dedicado a elucidar a conformação estrutural e as

propriedades funcionais de compostos antimicrobianos, como os óleos essenciais.

Entretanto, sua aplicação como conservantes alimentares requer estudos que

avaliem o impacto das interações entre esse composto e os ingredientes das

matrizes alimentares (AASEN et al., 2003).

Segundo Burt (2004) altos teores de gordura diminuem a ação antimicrobiana

dos óleos essenciais, pois estes se dissolvem na fase lipídica do alimento resultando

em sua menor disponibilidade para atuação contra os microrganismos dispersos na

fase aquosa.

A baixa atividade de água pode diminuir a ação antimicrobiana dos óleos

essenciais, pois dificulta que o mesmo atinja seu alvo nas células sensíveis. Já altos

teores de água e/ou sal têm efeito positivo na ação antimicrobiana desses

compostos (KOUTSOUMANIS; NYCHAS, 2000 apud ERNANDES; GARCIA-CRUZ,

2007).

Page 24: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

23

7 Contaminação e conservação das especiarias

As propriedades das especiarias, tanto antioxidante, antimicrobiana como

suas funções de conferir sabor aos alimentos estimulam sua utilização, porém estas

podem chegar ao consumidor final, ou a indústria de alimentos, contaminadas. Sua

contaminação pode ser em sua origem, durante a colheita, estocagem, transporte,

armazenamento e até mesmo durante a manipulação final com esporos, fungos,

insetos e roedores (GERMANO; GERMANO, 1998).

Tanto as condições sanitárias das plantações influem nos níveis de

contaminação, como os cuidados com a colheita. Como as especiarias são oriundas

de diversos órgãos de vegetais, colhidas em regiões tropicais e subtropicais,

submetidas a variações climáticas e secas de modo artesanal, estão sujeitas com

relativa facilidade, à fermentação e a proliferação de microrganismos. O

armazenamento em galpões velhos, úmidos, mal ventilados, com paredes cobertas

de bolor, propiciam a multiplicação das especiarias contaminantes e/ou a invasão

por novas espécies a partir do ambiente (GERMANO; GERMANO, 1998).

A comercialização das especiarias, estimulada pela importação, nem sempre

é garantia de qualidade ao consumidor, podendo apresentar perda de qualidade, a

qual repercute na perda de essências voláteis, interferindo na cor e sabor.

(GERMANO; GERMANO, 2008).

Análises microbiológicas de pimenta do reino, revelaram que 54,4% das

amostras apresentaram número elevado de bolores e leveduras e coliformes fecais,

além da presença de Salmonella em 14,67% das amostras (SANTOS, 1999 apud

CHESCA et al., 2004).

Mistura de coentro e pimenta contaminadas com microrganismos esporulados

foram responsáveis pelo estufamento de latas de presunto fatiado, bem como

mistura de especiarias em picles ocasionou o extravasamento das embalagens

(GERMANO; GERMANO, 2008). Philippi (1995, apud CHESCA, 2004) analisaram a

presença de Salmonella e Coliformes fecais na canela em pó, obtendo 37% das

amostras contaminadas com coliformes, sendo que nenhuma possuía Salmonella.

Dentre os microrganismos encontrados nas especiarias, o Clostridium

Page 25: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

24

perfringens é alvo de preocupação, estando presente em 5% de amostras de

pimenta-preta, açafrão, coentro e mostarda. Bacillus subtilis e b. mesentericus foram

observados em 94% de amostras de especiarias, dentre as quais páprica, pimenta e

cardamomo. O tempo de estocagem pode interferir no nível de contaminação

microbiana, porém o efeito é lento, como ficou demonstrado com amostras frescas

de pó para curry, contendo 5,4. 107 bactérias/g, e que, após dois meses em

temperatura ambiente, ainda continham 4,0. 105 bactérias/g (GERMANO;

GERMANO, 2008).

Apesar de algumas especiarias possuírem contaminação, os riscos oferecidos

à saúde, quando utilizadas na culinária familiar, onde o consumo se dá logo após o

preparo, há pouco perigo. No entanto, o maior problema diz respeito à indústria de

alimentos, onde a utilização é em larga escala e os produtos são consumidos após

um tempo variável de armazenamento (GERMANO; GERMANO, 2008).

Assim, as indústrias devem tomar medidas de precaução, como esterilizar

adequadamente pratos cozidos, embutidos, queijos, massas entre outros. Do

mesmo modo, armazenar os produtos em umidade e temperatura ideais, e tomar

cuidado na contaminação que pode ocorrer devido a manipulação, por exemplo,

quando adiciona-se salsa crua picada sobre pratos prontos (GERMANO;

GERMANO, 2008).

As especiarias também podem ser responsáveis por manifestações alérgicas.

Isto pode ser perigoso, pois sua presença nos alimentos é mascarada pela presença

de outros ingredientes, sendo que o consumidor na maioria das vezes não sabe que

está ingerindo-as. Açafrão, funcho, anis, coentro, cominho, páprica e pimenta-caiena

são freqüentemente apontadas como envolvidas em casos de alergias (GERMANO;

GERMANO, 2008).

Para obter especiarias com baixa, ou nenhuma contaminação, são utilizados

tratamentos, como moagem, cocção, esterilização a frio por irradiação, fumigação,

tratamento térmico, associação de procedimentos como acidificação, salga e cocção

entre outros (GERMANO; GERMANO, 2008).

Page 26: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

25

8 Conclusão

A utilização de especiarias tem se difundido cada vez mais, por proporcionar

um alimento com características sensorias que agradam o paladar. Com esse intuito,

e com base nas novas tendências dos consumidores por alimentos naturais, as

indústrias vem aumentando a utilização das especiarias, sendo que várias pesquisas

estão sendo realizadas com a finalidade de obter-se quantidades adequadas para a

utilização destas, afim de que possam desempenhar sua ação antioxidante e

antimicrobiana sobre os alimentos.

Apesar das crescentes pesquisas celerado acerca das especiarias, é

necessário, ainda, um maior empenho para estabelecer valores exatos para sua

utilização em larga escala industrial de alimentos, bem como deve-se ter um controle

rigoroso desde sua produção até a utilização no produto final, proporcionando ao

consumidor um alimento seguro. Assim como também, é de suma importância o

estudo mais aprofundado das interações que ocorrem entre as especiarias com a

matriz alimentar.

Page 27: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

26

Referências

AASEM. I. M.; MARKUSSSE, S.; MORETRO, T.; KATLA, T.; AXELSSON, L.;

NATERSTAD, K. Interaction or the bacteriocins sakacin P and nisin with food

constituents. International Journal of Food Microbiology, v.87, p. 35-43, 2003.

ABREU, Edeli Simioni de; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena;

TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. Alimentação mundial - uma

reflexão sobre a história. Saúde e Sociedade, v.10, n.2, p. 3- 14, 2001.

ALMEIDA, Ana Paula Gonçalves. Avaliação da influência do processo de irradiação em especiarias utilizando a técnica de difração de raio x. 2006. 94f.

Dissertação (Pós-graduação de engenharia nuclear) – Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro.

ANDREO, Denise; JORGE, Neuza. Antioxidantes naturais: técnicas de extração.

B.CEPPA, v. 24, n. 2, p. 319-336, 2006.

ARAÚJO, Júlio. Química de alimentos: teoria e prática. 2. ed. Viçosa: UFV, 1999.

416p.

BEDIN, Cleonara; GUTKOSKI, Simone B.; WIEST, José Maria. Atividade

antimicrobiana das especiarias. Higiene Alimentar, v.13, n.65, p. 26- 29, 1999.

BARA, M. T. F. Avaliação do efeito inibidor de condimentos no desenvolvimento de Yersinia enterocolitica. 1992. 73f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

BÍSCOLA, Vanessa. Influência da matriz alimentar no efeito antimicrobiano de óleo essencial de orégano e nisina contra Listeria monocytogenes: ação em modelos cárneos. 2007. 74f. Dissertação (Pós- Graduação em Ciências dos

Page 28: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

27

Alimentos) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo,

São Paulo.

BORSATO, Aurélio Vinicius; FILHO, Luiz Doni; CÔCCO, Lílian Cristina; PAGLIA,

Edmilson Cezar. Rendimento e composição química do óleo essencial da

camomila[Chamomilla recutita (L.) Rauschert] extraído por arraste de vapor d’água,

em escala comercial. Ciências Agrárias, v. 29, n. 1, p. 129-136, 2008.

BRASIL, Agência Nacional da Vigilância Sanitária. Resolução - CNNPA nº 12, de

1978. Padrões de identidade e qualidade para os alimentos e bebidas. Disponível

em:

<http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_78_condimentos.htm>

Acessado em: 13 de out. de 2008.

BRASIL, Agência Nacional da Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 276, de 22 de

setembro de 2005. Regulamento técnico para especiarias,

temperos e molhos. Disponível em :

<http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=18836&word= >

Acessado em: 13 de out. de 2008.

BRUL. S.; COOTE,P. Preservative agents in foods: mode of action and microbial

resistance mechanisms. International Journal of Food Microbioloby, v. 50, p. 1-

17, 1999.

BURT, S.A. Essential oils: their antibacterial properties and potential applications in

foods. International Journal of Food Microbioloby, v.94, p.223-253, 2004.

CARVALHO, Ana Fontenele Urano; MELO, Vânia Maria Maciel; CRAVEIRO, Afrânio

Aragão; MACHADO, Maria Iracema Lacerda; BANTIM, Márcia Braga; RABELO,

Emanuelle Fontenele: Larvicidal activity of the essential oil from Lippia sidoides

cham. against Aedes aegypti linn. Neotropical Entomology, v.34, n. 5, 2005.

CHESCA, Ana Claudia; MOREIRA, Patrícia Aparecida; ANDRADE, Silvia Cristina

Beozzo Junqueira de; D’Angelis, Carlos Eduardo; Silveira, Marieles da. Especiarias

Page 29: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

28

contaminadas: risco à saúde do consumidor. Higiene Alimentar, v.18, n. 118, p. 12-

14, 2004.

DEVLIEGHERE, F.; VERMEIREN, L.; DEBEVERE, J. Neu preservation technologies

possibilities and limitations. International Dairy Journal, v.14, p. 273-278, 2004.

ERNANDES, Fernanda Maria Pagane Guereschi; GARCIA-CRUZ, Crispin

Humberto. Atividade antimicrobiana de diversos óleos essenciais em

microrganismos isolados do meio ambiente. B.CEPPA, v. 25, n. 2, p. 193-206, 2007.

GERMANO, Pedro Manuel Leal; GERMANO, Maria Izabel Simões. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. In: Qualidade das especiarias. São Paulo:

Manole Ltda, 2008. p. 258-275.

GERMANO, Pedro Manuel Leal; GERMANO, Maria Izabel Simões. Importância e

riscos das especiarias. Higiene Alimentar, v. 12, n. 57, p. 23 – 31, 1998.

GOULD, G.W. Industry perspective on the use of natural antimicrobials and inhibitors

for food applications. J. Food Protection, v. 58, n. 1, p. 82-86, 1995.

KRUGER, Monika Francisca. Controle de Listeria monocytogenes em lingüiça frescal refrigerada através do uso de óleo essencial de orégano e nisina. 2006.

74f. Dissertação (Pós-graduação em Ciência dos Alimentos) – Faculdade de

Ciências Farmacêuticas,Universidade de São Paulo, São Paulo.

LE COUTEU, Penny; BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas

que mudaram a história. 1ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. 343p.

MARTÍNEZ, Julian. Extração de óleos voláteis e outros compostos com CO2 supercrítico: desenvolvimento de uma metodologia de aumento de escala a partir da modelagem matemática do processo e avaliação dos extratos obtidos. 2005. 172f. Tese (Doutorado em Engenharia de Alimentos)- Faculdade de

Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Page 30: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

29

MELO, E. A.; MANCINI FILHO, J.; GUERRA, N. B.; MACIEL, G.R. Atividade

antioxidante de extratos de coentro (Coriandrum sativum L.). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.23, p.195-199, 2003.

PEREIRA, A. S. C. Irradiação em alimentos. Revista Nacional da Carne. n. 324, fev.

2004.

PEREIRA, Marcelo Cláudio; VILELA, Georgia Rocha; COSTA; Lívia Martinez Abreu

Soares; SILVA, Reginaldo Ferreira da; FERNANDES, Anderson Felicori; FONSECA,

Ellen Waleska Nascimento da; PICCOLI, Roberta Hilsdor. Inibição do

desenvolvimento fúngico através da utilização de óleos essenciais de condimentos.

Ciências Agrotécnicas. , v. 30, n. 4, p. 731-738, 2006.

PESTANA, Fábio. No Tempo das Especiarias. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

286p.

PIEDADE, Karen Rother. Uso de ervas aromáticas na estabilidade oxidativa de filés de sardinha (Sardinella brasiliensis) processados. 2007. 160p. Dissertação

(Mestrado em Ciências e Tecnologias de Alimentos) – Escola Superior de Agricultura

“Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo.

RAMALHO, V. C.; JORGE, N. Antioxidantes utilizados em óleos , gorduras e

alimentos gordurosos. Química Nova, v. 29, n. 4, p. 755-760, 2006.

SANTOS, Renata Dinnies. Produto lácteo contendo fitoquímicos bioativos de extratos de especiarias. 2007. 94f. Dissertação (Pós-graduação em Ciência de

Alimentos)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

SHELEF, L. A. Antimicrobial effects os spices. Journal of Food Safety, Westport, n.

6, p. 29-44, 1983.

SOARES, S.E. Ácidos fenólicos como antioxidantes. Revista Nutrição, v. 15, n.1, p.

71-81, 2002.

Page 31: Especiarias: aplicações e propriedades · PDF file9 2 Histórico As especiarias, também conhecidas como condimentos, têm sido utilizadas desde a pré-história. Elas tiveram grande

30

TRINDADE, Reginaldo Almeida da. Influência de antioxidantes naturais sobre o perfil lipídico de hambúrgueres bovinos submetidos à irradiação por 60CO e aceleradores de elétrons. 2007. 110f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia

Nuclear) – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São

Paulo, São Paulo.