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  • 7/24/2019 Espetaculo de Vc

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    Escola SESC de Ensino Mdio

    um produto

    Espetculo

    de voc

    Raquel Catunda Pereira

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    Raquel Catunda Pereira (CE)

    SESC | Servio Social do Comrcio

    Escola SESC de Ensino Mdio

    Assessoria de Cultura

    Rio de Janeiro, setembro, 2011

    Espetculo

    de voc

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    PUBLICAO

    Assessoria de Divulgao e Promoo/DG

    CHRISTIANE CAETANO

    Superviso editorial

    JANE MUNIZ

    Pj c

    AnA CristinA PereirA HAnnAH23

    Reviso

    CLARISSA PENNA

    P ca

    CELSO MENDONA

    Escola SESC de Ensino Mdio

    Assessoria de Cultura

    Av. Ayrton Senna, 5677 - Jacarepagu

    Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22775-004

    tf: (21) 3214-7404

    www.escolasesc.com.br

    www.teatroescolasesc.worpress.com

    Impresso em setembro de 2011.

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610

    de 19/02/1998. Nenhuma parte desta publicao poder

    ser reproduzida sem autorizao prvia por escrito da

    Escola SESC de Ensino Mdio, sejam quais forem os meios

    e mdias empregados: eletrnicos, impressos, mecnicos,

    fc, aa a .

    Pereira, Raquel Catunda.

    Espetculo de voc / Raquel Catunda Pereira. Rio de Janeiro :

    Escola SESC de Ensino Mdio, Assessoria de Cultura, 2011.

    44 p. ; 11x17 cm.

    Texto selecionado no 1. Concurso Jovens Dramaturgos, 2011.

    1. Teatro - Brasil. I. Escola SESC de Ensino Mdio. II. Ttulo.

    CDD 792

    SESC | Servio Social do Comrcio

    PRESIDNCIA DO CONSELHO NACIONAL

    ANTONIO OLIVEIRA SANTOS

    Departamento Nacional

    Direo-Geral

    MAron eMile AbiAbib

    ESCOLA SESC DE ENSINO MDIO

    Diretora

    CLAUDIA FADEL

    Assessor de Cultura

    SIDNEI CRUZ

    Programao e Produo Cultural

    VIVIANE DA SOLEDADETAHIBA MELINA CHAVES

    Palco e Iluminao

    JOS MRIO TAMAS

    ALBERTO TIMB

    Contrarregra

    CARLOS ALBERTO ARTIGOS

    Ac

    JORGE LUIZ DA CONCEIO

    Ama lcaMARIANA PENTEADO

    WAGNER BETTERO

    Estagirios

    CAMilA reis Artes

    CAroline AlCiones Produo Cultural

    CsAr Augusto Comunicao Social

    JuliAnA turAno Produo Cultural

    tHiAgo sArdeMberg Teatro

    Wilson Jnior Produo Cultural

    Camareira Teatral/Copeira

    ANA CRISTINA DOS SANTOS

    ADRIANA LAPA DOS SANTOS

    Paca e

    eliAne CArMo Teatro

    gustAvo Henrique Teatro

    Primeira reviso dos textos

    CAROLINE ALCIONES

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    com imensa satisfao que a Escola SESC de Ensino

    Mdio e a Assessoria de Cultura abrem espao para novos

    talentos da dramaturgia.

    O estmulo a jovens talentos brasileiros tem sido objeto

    constante de nossas aes. Nesse sentido, o I Concurso Jovens

    Dramaturgosrevelou, e agora apresenta ao grande pblico, a

    riqueza da expresso literria brasileira no mbito das Artes

    Cnicas.

    Esta bela coletnea revigora a crena no potencial da nossa

    dramaturgia de sintonizar o imaginrio coletivo e de rein-

    ventar-se cotidianamente.

    um grande presente para todos ns.

    Claudia Fadel

    Diretora da Escola SESC de Ensino Mdio

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    DRAMATURGIA,JUVENTUDE,

    DIREITOSCULTURAIS E

    DESENVOLVIMENTOCULTURAL

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    A publicao dos cinco textos selecionados no I Concurso

    Jovens Dramaturgos o incio de um programa que tem como

    objetivo estimular jovens criadores brasileiros no s naslinguagens das Artes Cnicas, mas em todas as reas de artes

    e cultura.

    O concurso incentiva a escrita dramtica entre jovens de 15 a

    20 anos e proporciona ao jovem dramaturgo a oportunidade

    de desenvolver sua vocao literria ao oferecer ferramen-

    tas que lhe auxiliem em sua orientao profissional. Aes

    complementares so realizadas, como ciclos de leituras en-

    cenadas dos textos selecionados e um encontro-residncia

    entre os autores premiados e representantes da nova gerao

    de dramaturgos brasileiros.

    Dessa forma, entendemos que compomos um campo de

    fora, colaborao e desenvolvimento em torno da drama-

    turgia, acompanhando os elos de uma cadeia criativa que

    engloba criao, leitura pblica, intercmbio e publicao,

    indo um pouco adiante do simples concurso e seleo de

    textos e autores. Na verdade, estamos em consonncia com

    uma poltica de direitos culturais extenso dos direitos

    humanos que so resumidos em um trio de direitos essen-

    ciais: o direito participao da vida cultural, das conquistas

    cientficas e tecnolgicas e o direito moral e material pro-

    priedade intelectual.

    Sidnei CruzAssessor de Cultura da Escola SESC de Ensino Mdio

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    A ESCUTAFALA PORQUE

    ELA NO PASSIVA

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    Na pea Espetculo de voc, de Raquel Catunda Pereira, h

    uma indicao na rubrica inicial do texto que o narrador de-

    ver estar vestido de forma atemporal. Sabe-se pouco sobreo personagem para alm das suas vestimentas, que buscam

    certa neutralidade. Ao longo do texto os demais persona-

    gens se apresentam como tipos sociais: meninozinho, mu-

    lher, senhora, soldado, menino de rua, moa negra... No en-

    tanto, essa diferenciao dos tipos e sexos dos atores no dindcios de que na pea as vozes dos personagens coincidem

    com uma noo de voz ligada a um corpo, a um sujeito e a

    uma interioridade.

    O teatro proposto pela autora no se baseia em uma drama-

    turgia focada na psicologizao dos personagens. Em

    Espet-culo de vocparece que o objetivo no delinear psicologica-

    mente um personagem (tanto que se sabe pouco sobre cada

    um), mas lanar mo da simbologia que cada tipo possui so-

    cialmente para dar conta de algumas reivindicaes.

    Ainda que na maioria das vezes a expectativa dos au-tores em relao aos atores seja a fala, no caso de Raquel

    Catunda Pereira, est implcita na construo de seu texto a

    necessidade de que a fala seja ao. A partir dessa pre-

    missa, o que a autora parece esperar desse espetculo

    principalmente a ao do pblico, na medida em que seestabelece uma separao entre ns(os atores), que esto no

    palco, e vocs (o pblico), que esto na plateia. Entretanto,

    o que parece problemtico a maneira como a construo

    do texto enfatiza o entendimento de que os personagens,

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    ao falar, esto agindo em prol do seu discurso, enquanto o

    pblico que escuta est passivamente ouvindo. H uma fra-

    gilidade nessa comunicao, na medida em que a autora pa-rece acreditar que o pblico, enquanto ouve, est passivo em

    relao aos acontecimentos e s falas apresentadas. Parece

    que o seu entendimento sobre recepo teatral est direta-

    mente relacionado com a noo de que o posicionamento

    do pblico est, necessariamente, atrelado ao agir, mas nonecessariamente.

    H um trabalho com a construo do texto em que as falas

    so dirigidas para os espectadores que so tambm ouvintes.

    A construo do texto se d sempre em relao aos especta-

    dores, assumidamente presentes durante todo o espetculo,a ponto de se tornarem mais um personagem.

    No primeiro momento, a pea inicia com a ntida separao

    entre ns (o narrador e o meninozinho) e eles (o pblico

    seres humanos e animais pensantes). O ttulo Espetculo de

    vocratifica essa relao entre o espetculo e o pblico emque voc o pblico e o espetculo ao mesmo tempo. Os

    personagens acreditam poder escolher algum dos lados, na

    medida em que essa separao entre palco e plateia, ns e

    vocs, se acirra. A atribuio do adjetivo pensante ao pbli-

    co um deboche que se justifica com todo o dilogo entreo narrador e o meninozinho. Essa crtica ao ser humano me

    parece estar totalmente respaldada na dicotomia entre o

    pensar e o agir. Dessa forma dicotmica se estabelece uma

    relao com o pblico.

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    A utilizao do pronome ns, mesmo que implicitamente,

    causa uma tenso entre o eue o tu, pronomes que indicam,

    respectivamente, quem fala e com quem se fala. O uso dessadimenso pronominal construdo para criar a separao

    entre o pblico e os atores. Segundo Benveniste, toda lo-

    cuo pressupe um ouvinte, toda alocuo pressupe o

    pronome eue o tue toda expresso vocal uma alocuo,

    logo, ela necessariamente uma estrutura dialgica.Em Espetculo de voco desejo da ao atribuda fala e

    escuta to presente que parece, inclusive, borrar as dimen-

    ses de autor e diretor, na medida em que Raquel Catunda

    Pereira, ao escrever, tambm d todas as dimenses da cons-

    truo cnica; material, espacial e sonoramente. Ao ler o tex-to, a impresso que se tem que a autora quer transformar as

    suas palavras em ao, pois acredita que assim ir modificar

    a condio do ser humano. Na sua escrita, rapidamente se

    entende por que a autora escolhe a dramaturgia como forma

    de escrita, pois no teatro possvel transformar a escrita emao fsica. No entanto, preciso sempre ter em mente o que

    Roland Barthes insiste em afirmar: necessrio repetir que

    a escuta fala . Barthes tenta chamar a ateno para a impor-

    tncia de perceber a escuta como o estabelecimento de uma

    relao a escuta fala porque ela no passiva. Logo, o p-

    blico pode ser to ativo quanto os atores-atuadores.

    Viviane da Soledade

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    RAQUEL CATUNDA PEREIRA nasceu em setembro de1990, em Fortaleza, Cear. Ainda criana j ousava escrever peque-

    nos romances e poemas aprimorando seu talento no romance Hist-

    ria entre mundos, contemplado pela Secretaria de Cultura do Estado

    do Cear, em 2010, com o Prmio Rachel de Queiroz. Em 2011, foi

    paa p A l Ca cm eca Ca

    Cmpa. v, p xca a ap paa ca m -dos os gneros literrios, romances, contos, crnicas, poesias e peas

    teatrais. Atualmente estudante de Letras da Universidade Federal do

    Cear. Est envolvida em movimentos pela Emancipao Humana e

    cm aa a Pmaca, aa a ma cm mm

    a a cm ca i Pmaca Ca, iPC.

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    ESPETCULO

    DE VOC

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    PERSONAGENS:Narrador

    Meninozinho

    Soldado

    Mulher

    Senhora

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    16 CENA 1Um homem, vestido de forma um tanto atemporal,

    usando cartola, palet, acessrios modernos e brilhan-

    tes, dentre outros componentes que no possibilitam

    enquadr-lo em um estilo de poca, comea a declamar

    a seguinte fala no espao do palco posterior cortina,

    pois ela ainda se mantm fechada. O homem anda com

    diiculdade, apoiando-se em uma bengala.

    NARRADOR A arte imita a vida ou a vida imita a

    arte? Oscar Wilde dizia que a vida imita a arte mui-

    to mais do que a arte imita a vida. Em A potica,

    Aristteles diz que no ocio do poeta narrar o

    que aconteceu; , sim, o de representar o que pode-

    ria acontecer, quer dizer: o que possvel segundo a

    verossimilhana e a necessidade. Muito tempo de-

    pois, Picasso diz que A arte no a verdade. A arte

    uma mentira que permite que nos aproximemos da

    verdade, ao menos da verdade que podemos discer-

    nir. (Pausa. Relete um pouco, depois conclui:) O que

    h, ento, de imitao, verossimilhana e verdade na

    arte? O que belo harmonioso e proporcional. O

    que harmonioso e proporcional verdadeiro, e o

    que ao mesmo tempo belo e verdadeiro , por con-

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    17seguinte, agradvel e bom, airma Tzvetan Todorov.

    Mas os acontecimentos a seguir sero julgados por

    vs. Talvez, no sejam to belos, harmoniosos, pro-

    porcionais ou verdadeiros. Se ser bom ou agradvel

    (tom de deboche), se arte, verossimilhana ou imi-

    tao, eu no sei. (Pausa.) Mas, de certo, faz parte do

    espetculo de voc. (Aponta para a plateia enquan-

    to diz. Sai em seguida, mas volta e convida a plateia,

    fazendo gesto com a mo:) Vamos? (As cortinas se

    abrem. Ele d as costas e caminha para a coxia.)

    CENA 2

    No primeiro toque do sino, os atores, que at ento es-

    tavam camulados na plateia, se erguem, usando uma

    mscara. As mscaras femininas sero todas iguais e

    marcaro as feies do ideal de beleza da mulher de

    forma caricatural; o mesmo ocorrer com as mscaras

    masculinas. Com o segundo toque do sino, eles giram

    90 graus em direo ao corredor de sada. Apenas de-

    pois do terceiro toque eles iro caminhar em direo

    ao placo. Iniciar-se- uma msica instrumental bem

    ritmada. O caminhar dos atores mascarados tambm

    ser bastante exagerado. As mulheres tero um rebola-

    do artiicial e os homens uma postura exageradamente

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    18mscula. Chegando ao palco, eles se posicionaro em

    uma ila na qual todos estaro visveis e de frente para

    a plateia. A msica cessar abruptamente. Alguns se-

    gundos depois, e ao mesmo tempo, eles arrancaro a

    mscara segurando-a com a mo direita. Em vez de

    exibir sua face nua, tero por baixo da primeira uma

    segunda mscara, mas, dessa vez, sero todas iguais e

    de feies sombrias e tristes, o entorno de seus olhos

    lembrar o de zumbis. Os atores ainda icam ali para-

    dos por um instante. Novamente a msica se inicia e

    eles caminham para a coxia com um andar robtico e

    disciplinado. O volume da msica vai baixando e inicia-

    -se o quadro.

    CENA 3: SERES HUMANOS, ANIMAIS PENSANTES

    A luz do palco est suave. Pela coxia esquerda, o Nar-

    rador puxa o Meninozinho pelo brao para entrar em

    cena.

    NARRADOR Vou te apresentar agora a espcie mais

    estranha e contraditria da natureza. (Aponta para a

    plateia enquanto caminham.)

    MENINOZINHO Quem so? (Olha para a plateia, ad-

    mirado.)

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    19NARRADOR Os seres humanos!

    MENINOZINHO E o que os difere dos outros ani-mais?

    NARRADOR So racionais. (Senta na ponta do palco,

    ainda olhando para a plateia. Volta o olhar rapida-

    mente para o Meninozinho e completa.) Eles pensam!

    (Volta a observar a plateia.)

    MENINOZINHO Decidi! (Sorri.) Quero ser um deles!

    (Olha novamente para a plateia.) Onde esto seus jo-

    vens? (Procura.)

    NARRADOR Foram ao estdio.

    MENINOZINHO E o que eles fazem l? (Volta o olhar

    para o Narrador.)

    NARRADOR Gritam, xingam, brigam. (Enquanto res-

    ponde, no deixa de olhar a plateia.)

    MENINOZINHO Por que eles gritam?

    NARRADOR Para que os escutem.

    MENINOZINHO E quem eles xingam?

    NARRADOR O juiz, os jogadores, o outro time...

    MENINOZINHO E com quem eles brigam?

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    20NARRADOR Com os outros jovens.

    MENINOZINHO E depois? (Mantm o olhar ixo eapreensivo no Narrador, que mantm a serenidade.)

    NARRADOR Depois o qu? (Olha para o Meninozinho.)

    MENINOZINHO O que eles fazem depois?

    NARRADOR Voltam para casa e esperam outro

    jogo. (Olha novamente para frente.)

    MENINOZINHO Quantos so?

    NARRADOR So muitos.

    MENINOZINHO Mas no so todos?!

    NARRADOR No!

    Pausa. Os dois olham para frente como se observassemanimais em um zoolgico.

    MENINOZINHO E onde esto os outros?

    NARRADOR Esto assistindo TV.

    MENINOZINHO E o que eles veem na TV?

    NARRADOR Veem vidas.

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    21MENINOZINHO Por qu? (Olha para o Narrador.)

    NARRADOR Veem vidas porque no podem viv-las.

    MENINOZINHO Por que no vivem? (Olha para a

    plateia.)

    NARRADOR Porque esto ocupados vendo TV.

    MENINOZINHO Mas e depois? (Olha para o Narra-

    dor.)

    NARRADOR Depois eles dormem, acordam, traba-

    lham e veem TV.

    (Pausa.)

    MENINOZINHO (Olha para a plateia, depois para o

    Narrador, depois para a plateia.) Faz sentido dormir,

    acordar, mas... (Olha para o Narrador ixamente.) Porque trabalham?

    NARRADOR Para ganhar dinheiro. (Mantm a sere-

    nidade, mas agora com tom mais desanimado.)

    No decorrer da conversa, embora o Meninozinho esteja

    itando-o nos olhos, ele continua observando a plateia

    sem sobressaltos.

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    22MENINOZINHO Para que dinheiro?

    NARRADOR Para comprar.

    MENINOZINHO Comprar o qu?

    NARRADOR O mais comum comida. Eles com-

    pram todo dia!

    MENINOZINHO E depois que comem?

    NARRADOR Trabalham.

    MENINOZINHO (abismado) Mais? Por qu?

    NARRADOR Para ter mais dinheiro.

    MENINOZINHO (estranhando) Pra comprar mais

    comida?

    NARRADOR No! (Olha para o menino.) Outras coi-

    sas.

    MENINOZINHO Mas e depois que eles tm tudo?

    NARRADOR Eles nunca tm tudo! (Olha novamente

    para a plateia.)

    MENINOZINHO E todas essas coisas que eles tm

    so importantes?

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    23NARRADOR No! (Olha para o menino.) So s coi-

    sas. (Olha para a plateia desanimado.)

    O menino para, relete, volta o olhar para a plateia,

    relete um tanto mais e pergunta agoniado:

    MENINOZINHO E que horas eles pensam?

    NARRADOR No pensam!

    MENINOZINHO Mas no isso que os difere dos

    outros animais?

    O Narrador d de ombros. Silncio. Os dois continuam

    a observar a plateia.

    NARRADOR So s animais.

    MENINOZINHO So estranhos e contraditrios!

    (Decepcionado, vira-se de costas para a plateia e cru-za os braos.) Ainal (descruza), para que eles vivem?

    NARRADOR Para trabalhar, ganhar dinheiro,

    comer, comprar, ver TV, trabalhar, vestir, usar, tra-

    balhar, comer, ver TV, trabalhar e morrer.

    MENINOZINHO Mas quando eles se encontram,

    no concluem que estranho viver assim?

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    24O Narrador olha para a plateia como se esperasse

    alguma reao deles.

    NARRADOR No! (Respira fundo e conclui com tom

    de decepo.) No percebem nada.

    MENINOZINHO No pensam! (Aponta para a plateia

    indignado.)

    Vira-se de costas novamente e parece escutar rudos,

    ento completa:

    MENINOZINHO Mas... Ainal, o que eles falam?

    NARRADOR Eles repetem!

    MENINOZINHO O qu? (Olha para o Narrador.)

    NARRADOR O que escutam na TV.

    MENINOZINHO E os que falam na TV no avisam

    que eles vivem de forma estranha?

    NARRADOR No! Pois se eles no fossem estranhos

    no veriam TV.

    MENINOZINHO Ento... O que eles falam na TV?

    NARRADOR Falam das coisas. Que bom ter coisas,

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    25que s quem tem coisas que legal, que eles tm

    que ter coisas, se no no sero coisa alguma. (Vai se

    levantando enquanto fala.)

    MENINOZINHO E o que acontece com quem no

    tem coisas? (Levanta tambm.)

    NARRADOR Tem que conseguir! (Vai saindo, mos-

    trando desinteresse em icar.)

    MENINOZINHO E por que o outro tem?

    NARRADOR Porque ele trabalhou, comprou, agora

    dele.

    MENINOZINHO E no de todo mundo? (Julgando

    absurdo.)

    NARRADOR No, s de quem comprou.

    MENINOZINHO At a comida?

    NARRADOR A comida tambm.

    MENINOZINHO Mas no d para viver sem comida.

    Veja! (Aponta para a plateia com empolgao.) Temcomida para todo mundo! (Esboa um sorriso.)

    O Narrador puxa o menino pelo brao, levemente, e o

    olha nos olhos.

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    26NARRADOR Mas no de todo mundo!

    MENINOZINHO Tem algo errado... (Diz entristecido.)

    NARRADOR T tudo errado! (Diz exaltado.)

    MENINOZINHO E eles ainda se dizem racionais! (Se

    exalta tambm.) Por que eles no gritam, xingam, bri-

    gam?

    NARRADOR Porque no esto no estdio. (Volta a

    falar desanimado.)

    MENINOZINHO (Fora um pasmo sorriso.) Mas isso

    no mais importante na rua do que no estdio?

    NARRADOR , mas eles esto ocupados. (Tenta ir

    saindo novamente.)

    MENINOZINHO O que eles esto fazendo? (Cruza os

    braos e tenta encontrar a resposta na plateia.)

    NARRADOR Esto vendo TV!

    MENINOZINHO Todos eles? (Procura.)

    NARRADOR No! (Olha para trs, na direo do me-

    nino, e completa.) Os outros esto trabalhando!

    O menino olha triste e inconformado para a plateia.

    Depois completa.

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    27MENINOZINHO No quero mais ser um deles! Eles

    no tm ao, no vivem e no pensam!

    Eles saem cabisbaixos em direo coxia esquerda e a

    luz, paulatinamente, vai se reduzindo.

    MENINOZINHO Eles poderiam fazer tudo.

    NARRADOR Mas no queriam.

    MENINOZINHO Ainda no querem.

    NARRADOR Mas ainda podem!

    Os dois saem de cena, mas, em poucos instantes, inicia-

    -se a msica (uma segunda, tambm instrumental, mas

    que sugere trapalhadas). O Meninozinho retorna, vai

    ao centro do palco e sorri. Em seguida, com malcia,

    anda na ponta dos ps em direo coxia direita. O

    Narrador coloca a cabea para fora da coxia como se

    procurasse pelo Meninozinho; no o encontrando, sorri

    e caminha em direo coxia oposta, a mesma em que

    outrora o Meninozinho entrara. As luzes se apagam

    completamente.

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    28CENA 4: ORQUESTRA DO LER, LER, LER

    Um foco de luz, paulatinamente, se acende no centro do

    palco e revela uma moa negra lavando roupa e can-

    tarolando ler, ler... (msica tema da escravido). Ela

    usa um vestido pobre que lembra o de uma escrava. Em

    seguida, outro foco de luz se abre em um extremo do

    palco, nele aparece um agricultor de aparncia humil-

    de que, segurando uma enxada, aparenta capinar. Ele

    canta a mesma msica da outra moa, mas no ritmo

    mais conveniente ao seu gesto. Em outro extremo, apa-

    rece um homem bem vestido (usa um palet e segura

    uma maleta). Ele canta a mesma cano, porm em um

    ritmo um tanto mais descontrado. Do outro lado, apa-

    rece uma criana de rua (traje caracterstico e segu-

    rando um pote com moedas). Batendo o pote no cho,

    torna possvel ouvir o barulho das moedas, ela canta

    a mesma cano, mas demonstra indisposio. Com

    toda a orquestra formada, a luz geral do palco se acen-

    de e todos os personagens passam a andar em crcu-

    los, sem deixar de cantarolar. Eles trocam entre si seusobjetos e, medida que isso acontece, a interpretao

    caracterstica para cada objeto toma o seu receptor. A

    ciranda ica cada vez mais rpida e a velocidade das

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    29canes tambm. Os personagens comeam a demons-

    trar exausto. A luz se apaga, silncio absoluto.

    CENA 5: A ESPERANA DE PAZ

    Um homem vestido de soldado posiciona-se no centro

    do palco. Em seu discurso, ele aparenta uma perturba-

    o comum aos que retornam de uma guerra.

    SOLDADO Ele era sempre o primeiro a chegar. Antes

    de pensarmos em nos organizar para lutar, ele j esta-

    va l, unindo a todos. E, aproveitando-se dessa unio,

    ele nos incitava. Proferia frases fortes de signiicados

    um tanto prepotentes. Transmitia irmeza. Seu ar so-

    berano, lder nato, nos dava a base de sustentao ne-

    cessria para a guerra. Estvamos coniantes. Estva-

    mos prontos. Quando o confronto com o inimigo era

    inevitvel, quando sem dvida no havia outra sada

    a no ser lutar, eu olhava para o lado (o faz), para o

    outro (o faz) e, em nenhum canto, ele se encontrava

    (procura, preocupado). Para onde fora? (Entristece--se, mas logo se agita.) Antes que eu pudesse reletir

    sobre tal indagao, o calor da batalha me trazia de

    volta ao confronto. E l eu no estava s. Muitos lu-

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    30tavam ao meu lado. Somente ele, o grande incitador,

    (mostra-se relexivo), ele, como sempre, sumira.

    Ao fundo, a msica Adis Nonio, de Piazzola, vai au-

    mentando, forando o soldado a falar cada vez mais alto.

    SOLDADO Quando inalmente eu podia voltar a

    respirar aliviado e o suor do meu corpo j perdia sua

    liquidez, ao longe o avistava. Vinha correndo como

    se nada tivesse acontecido. E como se tudo estivesse

    bem, seu imenso sorriso logo contagiava o aguerri-

    do grupo. Ento, era s festa (demonstra uma insana

    felicidade). E ningum nunca se perguntava onde ele

    estava no momento mais crtico. Talvez estivssemos

    com medo (exibe uma face sombria). O mesmo medo

    que tnhamos antes de sua chegada. Aquele medo que

    ele fazia desaparecer com suas confortantes inspira-

    es que talvez nem fossem suicientes para conven-

    cer o seu prprio orador. Talvez seja ele um grande

    blefador. No pode nem mesmo airmar-se por si s,

    ento foge. (Mostra-se cada vez mais louco.) Ir-se-ia,

    mas voltaria. Na vitria ou na derrota, ele sempre vol-

    tava trazendo consigo o seu to contagiante sorriso.

    A msica se encerra abruptamente e leva consigo o

    sorriso caricato do soldado. O silncio toma conta da

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    31cena por mais alguns instantes. A luz do palco, paulati-

    namente, vai diminuindo.

    SOLDADO Mas dessa vez ele no voltou. Na verda-

    de, ningum sabe o exato momento em que partiu,

    mas sabem que ele no voltar. A fora que ele nos

    trazia antes da batalha se foi. O conforto de depois

    tambm. E no foi ele que nos tirou. Fomos ns que

    o expulsamos de nossas vidas. (Violentamente, faz

    gestos de quem arranca algo de seu prprio peito e

    grita ensandecido.) Onde estar por esses tempos a

    esperana de paz?

    Breu total.

    CENA 6: O TOTEMUma luz bem fraca acende no corredor abaixo do pal-

    co. L aparece uma mulher vestida como uma carocha

    de igreja. Ela se ajoelha de costas para a plateia e de

    frente para o palco. O Meninozinho entra na cena e ica

    curioso, observando a mulher.

    MULHER Vinde a ns, vinde a ns... (Repete inces-

    santemente aumentando sua euforia.)

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    32MENINOZINHO Quem? Quem vem? Quem vir?

    A mulher no para de falar.

    MULHER Vinde a mim, vinde a mim...

    Meninozinho se ajoelha ao lado dela e tenta enxergar

    para onde ela olha, mas logo desiste de tentar ver e,

    sorrateiramente, sai de cena. A mulher continua a fa-

    zer seu louvor, mas vai baixando o volume at tornar

    suas palavras inaudveis. Quando o Meninozinho apa-

    rece no canto do palco, notrio que ele esconde um

    segredo entre as mos (acende-se um pequeno e fracofoco de luz acima dele). Aos poucos, revela que segura

    uma cdula. Olha para ela com bastante curiosidade

    e a esconde principalmente da mulher que continua

    rezando. Ele tenta vestir, comer e abraar o papel

    dinheiro, mas no ica muito contente com seus

    resultados.

    MULHER Vende a ns, vende a ns, vende a ns...

    (Repete alto.)

    O Meninozinho a olha espantado e chega mais perto dela.

    MULHER Vende a mim, vende a mim, vende a mim...

    (Fervorosamente.)

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    33O menino se assusta, larga a cdula no cho e corre

    para fora de cena. As luzes se apagam.

    CENA 7: GREVE GERAL

    Uma senhora senta no centro do palco, perto da beira-

    da. Ela tira de sua bolsa uma caneta e a segura perto da

    boca de forma a lembrar um microfone.

    SENHORA Greve geral! Quem no tem dinheiro exi-

    ge trabalho. Quem tem trabalho exige aumento. E no

    acaba a, h semanas o mundo inteiro parou para exi-

    gir uma atitude de seus representantes polticos. No

    Brasil, a coisa no foi diferente. Muito pelo contrrio,

    as pessoas esto to determinadas a fazer greve que

    ningum mais trabalha. Um verdadeiro caos! Dessa

    vez, at as instituies de sade pararam, acarretan-

    do mortes a todo instante por falta de assistncia m-

    dica. At empresas particulares entraram na jogada

    para negociar apoio estadual e protecionismo. Os pro-

    fessores, nem se fala. Foram os primeiros a comear

    a paralisao, ainal, eles fazem isso todo ano (fala de

    lado, quase como um cochicho), observao eufemista

    quanto frequncia (volta a narrar como reprter). A

    novidade que, dessa vez, at mesmo alunos entra-

    ram em greve, esto exigindo professores! Um caos

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    34total! (Tira da bolsa um estojo de canetas e as derruba

    no cho.) Sem transporte, visto que os motoristas de

    nibus no poderiam icar de fora, a cidade inteira pa-

    rou. At mesmo aqueles que queriam continuar sua

    rotina foram impedidos, pois no havia como chegar

    a nenhum lugar. Por conta disso, o centro tambm

    fechou suas portas. Como no havia compradores,

    abrir as portas do comrcio s traria mais prejuzo.

    Um caos total! Neste momento, uma multido en-

    sandecida est reunida em frente ao Planalto Central

    ameaando invadi-lo, caso uma atitude imediata no

    seja tomada pelo Governo Federal. (Procura na bolsa

    alguma coisa para representar o governo. Franze a

    testa, mas depois parece achar algo e sorri, colocando

    um pouco ao lado das canetas um lixo qualquer). Que-

    remos um piso salarial! (Voz de multido, pegando

    em algumas canetas.), gritavam alguns (voz natural).Queremos aumento! (Voz de multido, pega um pou-

    co mais), gritavam outros tantos (voz natural). Que-

    remos, queremos, queremos... (voz de multido, em-

    purra todas as canetas para um s canto). Era o coro

    principal (voz natural, procura na bolsa mais algumacoisa e pega um lixo um pouquinho menor). Depois de

    alguns dias de manifestao, a multido foi surpreen-

    dida com a presena do presidente da Repblica que,

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    35um pouco exausto e impaciente, pegou o microfone

    principal usado pelos revoltosos e disse, em tom de

    ironia (ela pe o lixinho em cima de sua cabea e pega

    o microfone mudando agora sua voz para representar

    a do presidente). Queremos, queremos, queremos...

    Concluindo: vocs querem dinheiro! (Tira o lixo e

    volta a falar com voz normal.) O povo hesitou em

    concordar. Suas exigncias pareciam ser bem mais

    importantes e maiores, mas depois de algum tempo

    reletindo, concluram que, basicamente, dinheiro re-

    solveria todos os problemas. (Volta a falar como presi-

    dente, usando novamente o lixinho na cabea.) Direta

    ou indiretamente, vocs querem dinheiro! (tira o li-

    xinho e prossegue com seu tom natural), completou o

    presidente. A multido se manifestou positivamente

    com aplausos e sons indescritveis (faz esses baru-

    lhos, em seguida vira presidente novamente) Pois notem dinheiro! (voz normal). O presidente se retirou

    com a mesma agilidade que havia entrado minutos

    atrs. (Joga o lixinho perto da bolsa.) O povo estava

    empalidecido. Por alguns segundos, o silncio reinou

    sobre aquele recinto, mas logo foi interrompido poruma confuso de vozes. At que um grevista tomou

    o microfone fazendo o presidente parar no meio de

    seu trajeto. (Pega o lixinho de novo e o gira, fazendo

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    36meno a uma pessoa, olhando para trs. Coloca o mi-

    crofone (caneta) na boca do grevista). Como no tem

    dinheiro? (volta ao seu tom normal). E, novamente, o

    silncio reina no recinto. Todos ali aguardavam uma

    resposta, no mnimo apaziguadora, do presidente da

    Repblica, que, logo em seguida, tomou o microfone

    ainda nas mos do grevista e disse (coloca o lixinho

    em sua cabea e fala como presidente): No tem di-

    nheiro! simples! No tem! No tem salrio, no tem

    aumento, no tem nem emprego! No tem! Acabou!

    (voz normal). As vaias foram gerais. A imprensa, que

    ainda gozava de seus ltimos suspiros, transmitiu

    ao pas inteiro aquelas to frias e sinceras palavras

    sadas diretamente da boca da maior autoridade do

    pas. (Exibe, caricaturalmente, em sua face a possvel

    expresso das pessoas que assistiam a cena. Segue fa-

    lando com voz de presidente.) Podem vaiar, gritar,apedrejar, at depor o presidente se vocs quiserem!

    No vai adiantar de nada! No tem jeito! Acabou! Eu

    posso mandar fazer mais papel. Papel! o que ! Pa-

    pel o que vocs querem? Mas os advirto de que s

    um pedao de papel sem valor algum. No s umacrise cclica e passageira. o colapso geral do siste-

    ma. Eu nada posso fazer por vocs. Na verdade, agora

    que no tenho mais nem o que administrar, posso at

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    37me unir a vocs para fazer exigncias. Mas a quem?

    Eu vos pergunto. No tem jeito! Daqui o sistema no

    passa. Para o capitalismo funcionar preciso capital.

    Dinheiro! E no tem dinheiro! Sem dinheiro ningum

    compra. Se ningum compra, no tem pra que produ-

    zir. E se no tem pra que produzir, no tem trabalho.

    simples! lgico! Sem trabalho, no h mercado-

    ria, sem mercadoria, no h o que vender. E se no

    vende: no tem dinheiro! um ciclo. Se quebrar aqui,

    quebra ali. Da, quebra tudo! Acabou. (Volta ao seu

    tom normal, mas muito triste.) Frente a tal realidade,

    as pessoas se mostraram desamparadas e sem pers-

    pectiva. O silncio, ento, tomou conta do lugar. No

    s daquele lugar. Reiro-me, agora, a todo o planeta.

    (Derruba no palco tudo o que tem na bolsa, acendem-se

    tambm as luzes da plateia.) Pessoas do mundo todo,

    que h pouco cobravam respostas, se depararam comuma realidade mais cruel do que podiam imaginar. A

    falta de respostas. A falta de ao. E, principalmente,

    a falta de um futuro. No me reiro a algo distante.

    Falo do prximo passo: ir para onde? Para qu? Com

    que objetivo? O que dizer? O que fazer? At ento, ahistria daquelas pessoas se resumia a um cotidiano

    criado no por eles, mas por um sistema econmico.

    (Pausa.) Economia? Que signiicado tem essa palavra

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    38agora? Sem dinheiro, sem governo, sem ter o que ad-

    ministrar, ou algum para recorrer. Eles no tinham

    mais nada. Tudo estava um caos: as escolas, as ruas,

    as lojas, o lar. Tudo entrara em colapso. Eles no po-

    diam fazer nada. No tinham nada. Pois tudo, agora,

    era nada. Nada! o que sempre foi, mas perceber isso

    assim j tarde.

    O Meninozinho entra em cena e segura a caneta perto

    da boca.

    SENHORA Frente a to trgica constatao,

    algum, no meio da multido esttica, ainda con-

    seguira cuspir em palavras o que todos ali tinham

    vontade de dizer. Mas, desiludidos com a possibili-

    dade de uma resposta contundente, calavam-se.

    MENINOZINHO No somos mais nada? ramos al-guma coisa? Ser que podemos ser, quem sabe agora,

    seres humanos de verdade?

    SENHORA O silncio se manteve. E o presidente

    sentou ali mesmo, no cho, e logo foi acompanhado

    por outros tantos. (Todos os atores saem da coxia e

    sentam no palco.) E o mundo parou, tornando-se

    agora uma igura esttica, nitidamente oposta ao

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    39retrato de minutos atrs. Todos respiravam pro-

    fundamente. Tentavam no enlouquecer. E foi entre

    suspiros que, ainda com o microfone na mo, o Me-

    ninozinho replicou aquela enigmtica pergunta com

    uma airmao que, de to vaga, parecia ser o comeo

    para respond-la.

    MENINOZINHO Agora podemos pensar! (Senta-se

    de frente para a plateia.)

    FIM

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    COMISSO

    JULGADORA

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    411 Fase

    CAROLINE ALCIONESFormada pelo curso de Letras Portugus/Ingls da

    Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuou como estagi-

    ria no projeto Peridicos Literriosda Fundao Biblio-

    teca Nacional (FBN). Na FBN, desenvolveu projeto

    prprio sobre caricatura. Atualmente cursa o bacha-

    relado de Produo Cultural da Federal Fluminense(UFF) e a licenciatura da UFRJ e integra, como esta-

    giria, a equipe da Assessoria de Cultura do Teatro

    Escola SESC.

    ELIANE CARMOAo longo de trs anos participou da Cia. Eletrone de

    Teatro, na qual desenvolveu trabalhos como Sonho de

    uma noite de vero, de Shakespeare, apresentado no

    FESTA! de 2010, e Morte e vida severina, de Joo Cabral

    de Melo Neto. Alm disso, foi monitora de direo te-

    atral, auxiliando na montagem das peas Despertar da

    primavera, de Frank Wedekind, eCapites da areia, de

    Jorge Amado. Atualmente est estudando na Casa das

    Artes de Laranjeiras (CAL).

    GUSTAVO HENRIQUE C.WANDERLEYEstudante do curso de Artes Cnicas (Licenciatura)

    da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    (Unirio), e ex-aluno da Escola SESC de Ensino Mdio,

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    42integra atualmente a equipe da Assessoria de Cultura

    da Escola como praticante egresso. Encenou as peas

    Jogos na hora da sesta(2008), O despertar da primavera

    (2009/2010) e o O pastelo e a torta (2010) em montagens

    escolares.

    THIAGO SARDENBERG

    Bacharel em cinema, ator e escritor, aos 16 anos publi-cou o romance No abismo da paixo. Escreveu, atuou

    e produziu o musical e monlogo cmicoSai de mim,

    Julie Andrews!, dirigido por Rubens Lima Junior.

    Atualmente cursa Licenciatura em Artes Cnicas

    na Universidade Federal do Estado do Rio de Janei-

    ro (Unirio). estagirio de teatro na Assessoria de

    Cultura do Teatro Escola SESC.

    2 Fase

    CLAUDIA SAMPAIO

    Jornalista, mestre em Literatura Brasileira (Uerj-Fa-perj) e doutoranda em Teoria da Literatura (UFRJ-

    -CNPQ/Capes), com a tese Dilogos, afetos e pensamen-

    to lrico: a poesia de Ceclia Meireles. pesquisadora das

    reas de linguagem, teoria da literatura e poesia desde

    2006. Trabalhou em jornal, rdio, televiso, internet ecinema. Tem experincia em redao, roteiro, edio

    de textos, investigao e preparao de livros. Seus

    textos podem ser lidos na revista Educao Pblica:

    www.educacaopublica.rj.gov.br.

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    43IEDA MAGRIGraduada em Letras Portugus/Literaturas (2002),

    mestre em Teoria da Literatura (2005) pela Universi-

    dade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutora em

    Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio

    de Janeiro (UFRJ). editora da revista Anjos do Picadei-

    roe em 2007 lanou o livro de fico Tinha uma coisa

    aqui(7 Letras).

    SIDNEI CRUZDramaturgo e diretor teatral (Unirio), MBA em Ges-

    to Cultural (Ucam) e mestre em Bens Culturais e

    Projetos Sociais (FGV-RJ), publicou Palco Giratrio:uma difuso caleidoscpica das artes cnicas (Dantes Edi-

    tora), onde sintetiza os dez anos do projeto que criou

    e coordenou de 1998 a 2007, quando atuava no Depar-

    tamento Nacional do SESC. Desde 2008 Assessor

    de Cultura da Escola SESC de Ensino Mdio, onde

    desenvolve projetos de arte e cultura voltados para o

    desenvolvimento cultural local. Suas mais recentes

    montagens so: Onde voc estava quando eu acordei?

    (2008), Relicrio(instalao cnica com o Bando Filho-

    tes de Leo 2009/2010) e O samba carioca de Wilson

    Baptista (musical brasileiro, de Rodrigo Alzuguir e

    Claudia Ventura 2010/2011).

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    44TAHIBA MELINA CHAVESBacharel em Interpretao Teatral pela Universidade

    de Braslia (UnB), cursou especializao em Terapia

    atravs do Movimento. assessora tcnica de Progra-

    mao e Produo Cultural da Assessoria de Cultura

    da Escola SESC de Ensino Mdio.

    VIVIANE DA SOLEDADECursou Profissionalizao de Ator na Casa das Artesde Laranjeiras (CAL), formou-se em Teoria do Teatro

    pela Unirio e ps-graduanda em Arte e Cultura pela

    Universidade Candido Mendes (Ucam). Em 2006,

    ministrou aulas de interpretao teatral para adoles-centes e adultos por meio do projetoJovem trabalhador

    social, realizado pelo Governo do Estado. Atualmente

    trabalha na concepo e realizao da programao do

    espao cultural Teatro Escola SESC.

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