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espiral Nº 19 - Abril / Junho de 2005 boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO Eleito na Assembleia-Geral de Fraternitas em 24 de Abril, queria dedicar uma primeira palavra a todos quantos antes de mim fizeram crescer e solidificar este movimento, com a sua competência, generosidade e profunda fraternidade para com todos os que estamos nesta situação peculiar de dispensados do exercício ministerial. Uma primeira palavra de gratidão, apreço e profundíssima admiração para com o nosso Presidente desde o primeiro momento há oito anos, o Prof. Dr. João Simão. Para além do nosso Fundador, Cónego Filipe de Figueiredo a quem Deus já concedeu a graça de viver na Sua presença definitiva, o João foi sem dúvida a personalidade que mais nos marcou, e constituiu a verdadeira “pedra angular” do nosso Movimento, sempre com uma enorme simplicidade de trato, uma profundíssima lucidez intelectual, um dom magnífico de expressão e escrita, e sobretudo com tudo aquilo que o configura como um verdadeiro “Homem de Deus”. Nunca seremos capazes de agradecer tamanho dom, e nesta gratidão devemos englobar também todos os que com ele foram os dirigentes generosos e competentes durante estes anos. Chegada agora a minha vez de assumir a tarefa, embora perfeitamente consciente de que nunca serei capaz de atingir o seu nível, apenas poderei prometer esforçar-me por servir todos Após oito anos de caminhada, poderemos dizer que a nossa Associação já ganhou rosto e definição, que nós próprios aclarámos ideias relativamente à nossa situação eclesial e que estamos preparados para novos rasgos e novos horizontes. Olhando para os acontecimentos com o sentido providencialista do P. Filipe, consegue-se perceber que o Espírito Santo suscita sempre em tempo oportuno aquela inspiração que há de conduzir às transformações que são necessárias. Então, é nossa obrigação tentar descobrir em cada momento qual é o papel que nos está destinado nesta conjuntura de renovação eclesial. Perante a actual crise de vocações, a nossa decisão de pedir a dispensa do celibato é susceptível de ser valorizada negativamente, mas também pode ter uma valoração positiva. A visão negativa avalia-a como deserção e infidelidade a um compromisso assumido. Institucionalmente é esse o juízo. Tendo em conta que, ao longo da sua história, a Igreja já passou por muitas crises graves e sempre conseguiu superá- las, esta será mais uma e, porventura, a de menores dimensões. Apenas uma questão de tempo e a crise logo se resolverá. A visão positiva considera-a uma chamada de atenção para uma situação institucional que precisa de ser revista. É minha convicção de que não há falta de vocações para o serviço dos outros, mesmo nos ministérios ordenados. Basta considerar a forma entusiasta como os jovens aderem aos serviços de voluntariado, não hesitando em participar nas missões ad gentes e noutras iniciativas humanitárias, mesmo com sacrifício das suas próprias carreiras. Se não chegam ao sacerdócio é porque não lhes são garantidas as liberdades fundamentais inerentes à própria natureza humana, como seja o direito de constituírem família, se assim o desejarem. Na dúvida, pessoas conscientes não arriscam. Várias vezes ouvi o Reitor do meu Seminário dizer-nos o seguinte: quando uma árvore é fustigada pelo vento, são os EDITORIAL (continua na pág. 3) (continua na pág. 2) Sumário: A nossa Páscoa 3 XII Encontro Nacional 4 Breves... 6 Igreja ao ritmo do Pentecostes 7 In Memoriam... Drª. Mª Fernanda M. Fernandes 8 NA HORA DO RENDER DA GUARDA

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espiralNº 19 - Abril / Junho de 2005

boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO

Eleito na Assembleia-Geral de Fraternitas em 24 deAbril, queria dedicar uma primeira palavra a todos quantos antesde mim fizeram crescer e solidificar este movimento, com a suacompetência, generosidade e profunda fraternidade para comtodos os que estamos nesta situação peculiar de dispensados doexercício ministerial. Uma primeira palavra de gratidão, apreçoe profundíssima admiração para com o nosso Presidente desde oprimeiro momento há oito anos, o Prof. Dr. João Simão. Paraalém do nosso Fundador, Cónego Filipe de Figueiredo a quemDeus já concedeu a graça de viver na Sua presença definitiva, oJoão foi sem dúvida a personalidade que mais nos marcou, econstituiu a verdadeira “pedra angular” do nosso Movimento,sempre com uma enorme simplicidade de trato, umaprofundíssima lucidez intelectual, um dom magnífico de expressãoe escrita, e sobretudo com tudo aquilo que o configura como umverdadeiro “Homem de Deus”. Nunca seremos capazes deagradecer tamanho dom, e nesta gratidão devemos englobartambém todos os que com ele foram os dirigentes generosos ecompetentes durante estes anos.

Chegada agora a minha vez de assumir a tarefa, emboraperfeitamente consciente de que nunca serei capaz de atingir oseu nível, apenas poderei prometer esforçar-me por servir todos

Após oito anos de caminhada, poderemos dizer que a nossaAssociação já ganhou rosto e definição, que nós própriosaclarámos ideias relativamente à nossa situação eclesial eque estamos preparados para novos rasgos e novos horizontes.

Olhando para os acontecimentos com o sentidoprovidencialista do P. Filipe, consegue-se perceber que oEspírito Santo suscita sempre em tempo oportuno aquelainspiração que há de conduzir às transformações que sãonecessárias. Então, é nossa obrigação tentar descobrir emcada momento qual é o papel que nos está destinado nestaconjuntura de renovação eclesial.

Perante a actual crise de vocações, a nossa decisão depedir a dispensa do celibato é susceptível de ser valorizadanegativamente, mas também pode ter uma valoração positiva.

A visão negativa avalia-a como deserção e infidelidade aum compromisso assumido. Institucionalmente é esse o juízo.Tendo em conta que, ao longo da sua história, a Igreja jápassou por muitas crises graves e sempre conseguiu superá-las, esta será mais uma e, porventura, a de menores dimensões.Apenas uma questão de tempo e a crise logo se resolverá.

A visão positiva considera-a uma chamada de atençãopara uma situação institucional que precisa de ser revista. Éminha convicção de que não há falta de vocações para oserviço dos outros, mesmo nos ministérios ordenados. Bastaconsiderar a forma entusiasta como os jovens aderem aosserviços de voluntariado, não hesitando em participar nasmissões ad gentes e noutras iniciativas humanitárias, mesmocom sacrifício das suas próprias carreiras. Se não chegam aosacerdócio é porque não lhes são garantidas as liberdadesfundamentais inerentes à própria natureza humana, como sejao direito de constituírem família, se assim o desejarem. Nadúvida, pessoas conscientes não arriscam.

Várias vezes ouvi o Reitor do meu Seminário dizer-nos oseguinte: quando uma árvore é fustigada pelo vento, são os

E D I T O R I A L

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Sumário:A nossa Páscoa 3

XII Encontro Nacional 4

Breves... 6

Igreja ao ritmo do Pentecostes 7

In Memoriam... Drª. Mª Fernanda M. Fernandes 8

NA HORA DO RENDER DA GUARDA

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ramos secos ou podres que caem e isso é bom que aconteça,porque, assim, a árvore fica mais limpa. No entanto,explorando a mesma analogia, podemos chegar a umaconclusão bem diferente. De facto, esquece-se que é sempresobre os ramos que maior folhagem possuem – os maisprodutivos – que a pressão dos ventos é maior e que, se elesnão forem amparados, acabam por quebrar. Nos poucofolhosos e pouco produtivos a tempestade não exerce qualquerinfluência devastadora, esses ficam. Mas a árvore ficou maispobre.

Novidade hoje é o abandono massivo de elementosordenados, o que, a nosso ver, constitui um sinal de que háalgo que precisa de reflexão sobre as causas e ascorrespondentes soluções.

É neste contexto que surge a Fraternitas através dainiciativa do P. Filipe, a quem o Espírito Santo já tinha inspiradoantes o interesse pelos marginais.

A Conferência Episcopal Portuguesa acolheu comsimpatia essa iniciativa e aprovou a nossa associação,cometendo-lhe a incumbência de contribuir para aregularização canónica da situação dos padres que deixaramo exercício do ministério. Trata-se de um gesto inovador, pois,em vez de esconder os casos da comunidade eclesial, decide-se envolver os próprios excluídos na resolução do problema.

A Fraternitas tem-se esforçado por corresponder aosobjectivos propostos, ao mesmo tempo que tem procuradoajudar os colegas que se encontrem em necessidade de apoioeconómico ou psicológico. Tudo no rigoroso acatamento dasregras canónicas pertinentes. Mas ninguém nos poderá impedirde reflectirmos sobre as causas que proporcionaram esteabandono massivo de tantos padres (cerca de um em cadatrês) em tão pouco tempo.

Na hora da passagem do testemunho gostaria de agradecera todos os membros da Fraternitas a confiança que, ao longodestes oito anos, sempre depositaram nos seus corposdirectivos. Sem a vossa compreensão e adesão, tudo quantojá vivemos não teria certamente acontecido.

Não posso deixar de mencionar com gratidão a assistênciado P. Filipe, que sempre nos acompanhou, ajudando-nos a daros passos certos. Não foi fácil. Por tudo isso damos graças aDeus e reiteramos a nossa fidelidade à sua iniciativa e à suamemória.

Uma vez que os corpos directivos trabalharam sempreem sintonia, com dedicação e espírito colaborativo, asrealizações conseguidas foram resultado dum trabalho de todaa equipa.

Gostaria de mencionar todos aqueles que comigotrabalharam, tanto na comissão instaladora como nassucessivas direcções. A presença do P. Filipe foi sempreconstante, embora discreta.

Comissão instaladora: Francisco Sousa Monteiro, MariaIsabel Beires Fernandes, José Sampaio Ferreira, José AlvesCarneiro, João Simão, P. Filipe.1ª Direcção eleita: João Simão, José Sampaio Ferreira,Maria Isabel Fernandes, Luís António Gouveia, Alberto Osóriode Castro.2ª Direcção eleita: João Simão, José Sampaio Ferreira,Maria Isabel Fernandes, Alberto Osório de Castro, AntónioCarlos Figueiredo Reis, Boaventura Santos Silveira.3ª Direcção eleita: João Simão, António Carlos FigueiredoReis, Antónia Adelina Cecílio Sampaio Ferreira, Carlos LeonelPereira dos Santos, Paulo Tunes Eufrásio.Mesa da Assembleia Geral – João António MartinsBaptista, Manuel António Silva Ribeiro, Alípio Martins Afonso,Manuel Joaquim Alves Tuna, Manuel Batista Calçada Pombal.Conselho Fiscal – José Serafim Alves de Sousa, AlbertoJosé Parente Videira d’Assumpção, Cibele da Silva CarvalhoSampaio, Luís da Luz e Cunha.

Em todos eles encontrei competência, dedicação,amizade, espírito de serviço e colaboração incondicional. Asminhas homenagens por isso.

Finalmente, uma palavra especial de agradecimento édevida ao nosso colega Artur da Cunha Oliveira. Porque ele,por diversas vezes e sempre com muita generosidade, se dispôsa partilhar connosco os seus muitos conhecimentos de SagradaEscritura, nos ensinou a lê-la com olhos de hoje e nos orientounos caminhos da oração com a Bíblia.

Last but not least: uma nota absolutamente necessária:Embora eu tenha referido acima nomes isolados, a verdade

manda dizer que eu deveria ter falado em casais, pois, quer notrabalho quer na disponibilidade, tanto a esposa como o marido,conforme os casos, deram uma contribuição indispensável efundamental. Todos nós estamos em condições de o poderavaliar devidamente.

Nós, os que agora cessamos funções, desejamos aospróximos corpos gerentes da nossa associação bom trabalhoe muitas felicidades no desempenho das suas tarefas. Estamosabsolutamente convictos de que a Fraternitas vai ficar emboas mãos.

Fátima, Casa de Nossa Senhora das Dores, 24-04-2005João Simão

(continuação da pág. 1)

Na hora do render da guarda

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os membros de Fraternitas com a minha melhor vontade e asminhas limitadas capacidades, contando com todos eles parame perdoarem as insuficiências, me darem a mão nas dificuldades,e me advertirem fraternalmente para corrigir a rota quandoentenderem que me desvio dela. De todos, mormente dos queme acompanham nos novos corpos gerentes, espero sempresugestões e conselhos e uma colaboração paciente e atenta. Masclaro que conto também com todos os Sócios actuais e futuros, ecom os que não sendo sócios são pelo menos simpatizantes,sobretudo com os mais jovens, e consequentemente de espíritomais aberto aos sinais dos tempos na Igreja e no Mundo.

Não escondo a minha apreensão, e também a minhaenorme expectativa pelos caminhos que a Igreja irá tomando,como presença sacramental e viva num mundo tão afastadodaquilo que Cristo deseja como caminhos do Reino. O novo Papa,Bento XVI, ainda tão recentemente escolhido, marcará sem

dúvida as grandes rotas, e a elas estaremos sempre muito atentos.Cada um de nós, e o Movimento no seu conjunto, emboraconscientes da nossa pequenez, será sempre “pedra” desta Igrejaque amamos e queremos servir. Teremos que aprofundar qual onosso papel concreto como conjunto, e qual a tarefa pessoal aque Deus nos chama. Não nos podemos resignar passivamente atentar sobreviver, mas cumpre-nos avançar, renovar, aperfeiçoar,na reflexão teológica e pastoral, no espírito de oração e notestemunho de “homens e mulheres” no mundo e para o mundo,como construtores do Reino.

Fraternamente de mãos dadas, atentos àqueles deentre nós que mais precisarem do nosso apoio, caminharemosdecididos e abertos à presença do Espírito, e nesta caminhada eusou o primeiro a contar com todos. Só peço com simplicidadeque contem também comigo.

Porto, 11 de Maio de 2005Vasco Fernandes

Editorial(continuação da pág. 1)

1- No encontro regional de Março, no Porto, foi passado umdiaporama: diversos poços, atulhados, impediam o livreacesso à água. Após limpeza profunda, houve água arodos… é uma parábola!

2- Aproximei este diaporama da visita de Jesus a casa deMarta e Maria (Lc. 10, 38ss). Recordemos essa passagem.Maria ouvia Jesus; Marta atarefava-se com as lides dacasa. Jesus certificou: “… uma só coisa é necessária.Maria escolheu a melhor parte...”.

3- Esta passagem sempre me intrigou: “uma só coisa énecessária”!... O diaporama deu-me a percepção de doisníveis: a superfície e a profundidade. Assim decorre anossa vida. Na superfície, preocupamo-nos, enchemo-nosde coisas, atafulhamo-nos… Eu diria mesmo: entulhamo--nos!Aqui entra a sabedoria. Será possível encontrar um sentidonovo para a vida? Por iniciativa própria ou com apoio deamigos, de picareta em punho, lá vamos furando o sistemaem busca da água pura que nos escapava.

4- Na profundidade tudo se explica e simplifica. Todas ascoisas perdem o relevo, que no horizonte nos empecilhavae deturpava a visão. E descobrimos, deslumbrados, que,

A nossa Páscoa

afinal, na superfície, só têm valor as coisas que se radicamno mais fundo.E saciamo-nos de água fresca. Só esta reconforta,equilibra… satisfaz.

5- Que convite! E o Senhor passou. Deixou-nos a batataquente: “escolher a melhor parte”! O trabalho agoracompete a nós. Enchemos a vida com nadas. E comocusta limpar o poço! “Tudo o que sobe converge” — éaxioma assumido. Também tudo o que se aprofundaunifica. Oh! Se parássemos para aprofundar as razões donosso proceder! Decerto concluiríamos que há muitascoisas que só aparentemente nos dividem.

6- Preparar a Páscoa é atravessar este longo deserto. Àsvezes, as cebolas do Egipto fazem-nos ter saudades. Sóquem avançar, os corajosos, gozará a Terra Prometida.Não é fácil. Os fogos-fátuos do consumismo, da moda,dos penachos, de vaidades… atrapalham a nossacaminhada. Com o dom de Deus, a ajuda e amizade dosamigos, manteremos o rumo…Santa Páscoa!

Joaquim Soares(Terça-feira Santa)

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Ocorreu em Fátima, aos pésda Mãe de todos oshomens, na Casa da Nossa

Senhora do Carmo, de 22 a 25 de Abrilpassado.

Logo que surgiu a hipótese deste textode reflexão, delineou-se-me no espíritoum esquema simples: Na Expectativa— Chegar — Com-viver — Reflectir/Re-pensar.

Alguns óbices e percalços de saúdenão nos permitiram ser fiéis e assíduoscomo nos primeiros quatro Encontros (D.Serafim, D. Jorge Ortiga, D. ManuelMartins e D. Manuel Falcão). Já nãocom D. Vitalino Dantas e D. AntónioTaipa, embora sim com o nosso CristoMartins e, ultimamente, com D. AlbinoCleto e Frei Bento Domingues.

Chegados os dias do Encontro, foi aalegre e desejada viagem de Elvas parao reencontro. Muitas caras novas?Ausência de caras conhecidas?

Louvado seja Deus pelas irmãs eirmãos que já partiram para a Casa dopai e pelos muitos novos irmãos e irmãsda Fraternitas!

Para mim, alegria suplementar foi oEncontro ter permitido também que nosreencontrássemos cinco do mesmocurso e ano de ordenação (1964). Deusseja bendito eternamente!

Mas o grande encontro, através donosso muito querido Dr. Artur da CunhaOliveira, foi com o Jesus de Nazaré —menino, jovem, pregador, mortomiseravelmente, mas ressuscitado! ComEle e com a Sua Mãe e, fugazmente,

com o pai, S. José. (No serãode 22, foi delicioso convi-vermos com o jovem irmãoDr. Francisco Fanhais!).Pessoalmente sentimo-l’Osmuito próximos de nós e danossa realidade vital. Sepossível, ainda ficámos a

gostar mais de Deus e deles, com umfraquinho especial por terem entradotanto adentro da nossa condição e dasnossas condições, excepto no pecado!...Bem gostaria a nossa curiosidadehistórica que tivesse havido então umcronista e jornalista modernos...

Assim, queda-nos o Amor e a Fé,apelando à razão. Mas que não caiamosmo racionalismo, pois os nosso avataresna Fé cristã partiram doutros princípiose escreveram com pressupostosdiferentes!... E experiências doRessuscitado.

Foi muito bom adensarmos o nossoEncontro com Jesus, em Mateus.Mesmo as incursões, atrás de Jesus, porCafarnaúm, pelo Gólgota, o encontrocom Maria e os Apóstolos, assim comoa deter-nos a reflectir sobre os génerosliterários nos Evangelhos, a “cheia degraça”, a Ressurreição de Jesus e anossa própria. Sem esquecer a realidadeincomensurável do Universo espácio--temporal passado e futuro, oaparecimento da vida e do homem//mulher, descendo a realidades mais

XII ENCONTRO NACIONAL DA

Os dias que precederam este XIIEncontro Nacional foram de reflexão erevisitação às origens do Movimento. Aínos encontrámos com colegas das zonasde Cáceres, Mérida e Badajoz, atravésdo MOCEOP (Movimento do CelibatoOpcional — 1986-1990..., já integradona Federação Internacional deSacerdotes Católicos Casados).

Vi-me em Badajoz com o nossosaudoso e querido Cónego Pe. FilipeMarques de Figueiredo a sonhar ea diligenciar por que a futuraFRATERNITAS–Movimento fosse,desde a sua génese, internacional. Aspectos do serão com o Francisco Fanhais.

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nossas, como o pecado, o casamento, omatrimónio, seu sacramento, o celibatoe a ordem do presbiterado/sacerdócio,vistos à luz, sempre, da analogia da Fé.E em espírito de serviço à Comunidadehumana, dos crentes e não-crentes.

Apraz-nos registar, com agrado, queeste XII Encontro Nacional foi, de todos,o mais numeroso: a família alarga-se.(Será que o JAAI 2000 não vai surgirda letargia?). E a dimensão doacolhimento, o sentir-se-em-casa, bem--estar, alegria e paz, também.

Igualmente, digna de registo aEucaristia presidida no VI Domingo daPáscoa pelo Pe. João Caniço, SJ,disponível amavelmente para nós.

A FRATERNITAS-MOVIMENTO

Outrossim, não pode passar em claroa sempre afectuosa e alegre presençado Sr. D. Serafim, ao vir saudar as“cunhadas & sobrinhos”! Bem haja,Senhor Bispo de Leiria-Fátima, quetemos e sentimos como Irmão. Amigo emuito querido.

Só mais uma impressão. Pareceu--nos pairar nos espíritos uma certa fome

de encontros/retiro , com mais momentosespecíficos de oração, mesmo daLiturgia da Horas.

Por último e, agora, mesmo paraterminar: exaramos aqui uma palavra deagradecimento e apreço às irmãs eIrmãos que deram vida aos CorposGerentes que, desde os primeiros passosaté aqui, exerceram e cessaram funções.Generosa e abnegadamente.

Um sentido bem-vindos e obrigadoaos que oferecem os ombros, o coração,inteligência, vontade e tempo parasobraçarem as pastas dos “ministérios”da nossa Fraternitas–Movimento.

Vila Nova da Barquinha, 02.05.2005Clara de Jesus e

Alberto Oliveira Marinho

Um plano dos participantes no XII Encontro Nacional.

Parte da assembleia em Eucaristia.

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A morte do pai aos 7 anos marcou-atoda a vida… teve que crescer maisrápido do que seria esperado… mudou-se para Coimbra com a mãe e o irmãoajudando sempre na economia familiar.Quer fosse a ajudar nas lides da casa eno tratamento das hóspedes (meninasque estavam a estudar na universidade),quer mais tarde a dar explicações dematemática para pagar o próprio cursouniversitário.

Licenciou-se em 1966 em CiênciasMatemáticas pela Universidade deCoimbra e começou o seu périplo pelasestradas a caminho das escolas ondetrabalhou. Desde Carregal do Sal,Arganil, Lousã.

Em Agosto de 1974 conhece, quemdois anos depois, seria marido. A 9 deSetembro de 1976 casam-se noConvento da Rainha Santa Isabel numacerimónia discreta pois estavam de luto.

Peripécias durante as gravidezes nãofaltaram… desde o comboio começar aarder e ter que ser tirada ao colo comuma barriga de 8 meses a ir mais cedopara a maternidade porque a última filhadecidiu vir ao mundo mais cedo!!!

O maior sofrimento que passou, eque nunca curou, foi sair em 1979 damaternidade de braços vazios… omenino tinha nascido morto!

Não baixou os braços e continuou alutar pela vida… por ela, pelo marido epela filha… e depois pela outra filha queveio ao mundo!

pessoa que estava sempre PRESENTEna luta pela vida, perpassada pordoenças, desaires, complicações e tantomais! Como a mãe e mulherPROTECTORA, que não largava onosso leito nos momentos de dificuldade,de doença...

Mãe, de facto, partiste, deixaste denos iluminar com a tua presença física,contudo a tua luz continua bem acesadentro de nós, não só porque serássempre a nossa guia interior, comotambém porque onde quer que estejasestarás sempre, como, aliás, sempreestiveste, a olhar por nós!

Sandra

Por razões familiares toda a famíliarumou a Braga, distrito natal domarido… de início detestou a mudança…mas 18 anos depois suspirava pelo tempoque lá viveu…

Lá a vida nem sempre foi fácil…mas nunca deixou de também estaratenta aos outros! Numa noite descobriuque uma aluna não tinha tomadonenhuma refeição naquele dia e que tinhasido posta fora de casa… o que fez? Deu-lhe o jantar e trouxe-a para casa… e foicuidando dela… mesmo à distância atémorrer…

Os momentos de felicidade e orgulhotambém foram muitos… as filhascartoladas no cortejo da queima das fitasde Coimbra… os almoços de domingoem família a comer Papas deSarrabulho… o aprender a nadar com50 anos, pelas mãos das filhas… asbodas de prata de casamento…

Adorava conduzir, ir para a Praia,passear… sentir as filhas enfiarem-sena sua cama aos domingos de manhã…ver novelas (gravava os últimosepisódios para não perder pitada!) …estar a jogar no computador (ninguém abatia no freecell), sempre com a cadelaà beira!

Mesmo com graves problemas desaúde nunca deixou de lutar… nunca sedeixou abater pelas crueldades que avida lhe fez… conquistou com pulsofirme o que quis a nível pessoal eprofissional…

O coração pregou-lhe uma partidafatal… mas até parece que ela pressentia

(continuação da pág. 8) (continuação da pág. 8)Mumy Mãe

o que lhe ia acontecer, pelas decisõesque tomou, pelas palavras queproferia… parece que esperou até podermorrer nos braços de quem amava! Foicom grande serenidade que foi para océu… e foi levada para a sua últimamorada no dia e à hora que fazia 62anos… 15 de Abril de 2005.

As coisas visíveis vão… as invisíveisficam… Fica a memória da tua força…fica a tua forma de organizar a casa…ficam os teus gostos… fica a tua marcaem nós!!!

Paula

b r e v e s . . .l FALECIMENTO:No passado dia 10 de Abril, pelas 13:40horas, faleceu a mãe da Margarida,terminando um longo tempo de prova-ção e de sofrimento.Aqui se regista o nosso agradecimen-to por todo o carinho, presença física e

espiritual que, quer ela quer os seus fa-miliares mais chegados, recebemos daFraternitas.

l DOENTES:Damos notícia deintervenções cirúrgicasa que foram submetidos dois irmãos nos-sos: o Carlos Reis e o Francisco Valente.O Carlos Reis foi operado à anca, no dia

12 de Maio. A recuperação está a cor-rer bem.O Francisco Valente foi operado àpróstata no dia 19 de Maio. A sua recu-peração, embora segura, não tem sidoisenta de dificuldades.Rezemos por eles e por todos os nos-sos doentes.

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Pousada que foi a poeira mediáticaque envolveu o final do pontificado deJoão Paulo II e a eleição de Bento XVI,entramos num clima mais desa-paixonado para olhar o actual momentoda Igreja.

Uma primeira observação se impõe.Nas escolhas dos últimos papas,nenhuma dela tinha suscitado tantasreacções de receio e de reserva comoaquelas que desta vez se manifestaramface à eleição de Ratzinguer. Tambémnunca terá havido em eleições anterioresuma tão grande catadupa de declaraçõesa elogiar o Papa, muitas delas emreacção às criticas veiculadas pelosmedia, dando do actual Sumo Pontíficeo perfil de um homem aberto, dialogantee afável.

Feita a observação, pode procurar-se uma possível explicação para o factode esta eleição ter sido feita sob o signoda polémica, por vezes apaixonada. Osque levantam reservas receiam queRatzinger venha a impor uma visãomonolítica da Igreja. Os que exteriorizamo seu contentamento procuram contrariara imagem de conservador e intolerantecom que o recém eleito papa se tornouconhecido em vários sectores, enquantoocupou o cargo de Prefeito daCongregação para a Doutrina da Fé.

Penso que a atitude mais avisadaserá a de esperar para ver. Esperemosque Bento XVI seja capaz de nossurpreender, tanto mais que a história jános reservou inesperadas surpresas.Basta recordar o que se passou com JoãoXXIII que, apesar de acolhido comreservas na altura em que foi eleito, semantém ainda na nossa memória comoo papa que mais contribuiu para afrescura duma Igreja próxima doEvangelho.

A tónica predominante das reservasa esta eleição está associada ao receiode um Papa avesso à liberdade de

investigação teológica e fechado ànecessidade de dar à colegialidadeepiscopal o vigor que se anunciara nostextos conciliares. Há também quempreveja que na Cúria do Vaticanopersista uma posição inflexível quanto aproblemas que se arrastam, como o docelibato dos padres e do sacerdócio damulher.

Temos, todavia, de reconhecer que,nos poucos dias do seu pontificado, BentoXVI abriu algumas inesperadas janelas.De facto, algumas das suas primeirasatitudes parecem ir na linha do perfil comque o carismático bispo PedroCasaldáglia sonhava, quando, emrecente entrevista, um jornalista lheperguntou que tipo de Papa gostaria dever como sucessor de João Paulo: «Queseja um Papa pobre, misericordioso,verdadeiramente ecuménico, que aceiteque ninguém tem o monopólio daverdade (...) Que ausculte a Igreja e omundo para saber que tipo de Papadesejam os crentes e não crentes». Asafirmações e actuações com que o SumoPontífice iniciou o seu ministériosugerem que ele tem certezas muitosólidas quanto à missão da Igreja, masque também sabe ouvir e perscrutar ossinais dos tempos. Além disso, uma veznomeado Papa, Bento XVI está a dar aimagem de um homem simples,evangélico e atento aos sofrimentos dahumanidade. Na celebração que marcouo início do seu pontificado tevedeclarações que revelam a suapreocupação não apenas diante dosdesertos da fome, da pobreza, doabandono, da solidão e do amor destruídomas também frente ao deserto daobscuridade de Deus. Através de umalinguagem de grande recorte teológico,lembrou ao homem contemporâneo que«quem crê nunca está sozinho nem navida nem na morte» e estabeleceu uma

relação de causa e efeito entre osdesertos exteriores e interiores.

Recordava-nos recentemente FreiBento Domingues que esperava que estePapa promovesse uma Igreja nopressuposto de que ela só será católicase a sua unidade for construída norespeito pela pluralidade dos carismas.De facto, a Igreja não pode serconcebida como uma multinacional coma sua sede em Roma, mas como umacomunhão de igrejas locais unidas namesma fé e como um rosto demultifacetadas manifestações doEspírito. Esperemos que o Papacontribua para organizar a cúria romanade modo a desfazer a ideia de que obispo de Roma é o bispo de toda a Igreja,limitando-se a ter nos bispos diocesanosuma espécie de auxiliares. A evoluçãoda Igreja no sentido de uma efectivacolegialidade dos bispos e de uma maiordescentralização, constitui um dosmaiores desafios que o actual Papa terápela frente. Sem se darem passos nessesentido, a eclesiologia do ConcílioVaticano II não passará de uma simplescosmética.

Veremos, pois, o que o futuro nosreserva. De qualquer modo, para-fraseando o nosso Presidente, há maisvida e vivência da fé para lá da eleiçãopapal. Por muito que amemos o Papa, ofundamento da nossa Fé está em JesusCristo e será para Ele que deveremosorientar a nossa atenção. Foi Pedro, oprimeiro Papa, a pedra sobre a qual oSenhor quis construir a Igreja, a pro-clamar que o Senhor Jesus é que é apedra angular e que todos os baptizadostambém são pedras vivas para aconstrução do Templo espiritual (1 Pedro2, 4).

Manuel António

IGREJA AO RITMO DO PENTECOSTES

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espiralRua Lourinha, 429 - Hab 2 = 4435-310 RIO TINTO

e-mail: [email protected]

boletim daassociação fraternitas movimento

Responsável: Alberto Osório de Castro

Nº 19 - Abril/Junho de 2005

In Memoriam...

DRA. MARIA FERNANDA MONTEIRO FERNANDES

Lembro-me ainda daquele dia 1 deAgosto de 1974 em que te conheci, na cidadede Coimbra, recordo o teu lindo sorriso, o teuolhar de contentamento e sobretudo o teucoração de ouro.

Recordo, com saudade, aquele dia 9 deSetembro de 1976, em que vestindo aquele vestidobranco, semelhavas um anjo de candura e beleza exterior esobretudo interior.

Recordo, com saudade, aqueles momentos em quealeitavas as nossas filhas, Paula e Sandra, numdeslumbramento de ternura materna. Não foste uma grandemãe, foste a maior das mães.

Lembro-me daqueles momentos em que eu chegava tarde,mais tarde do que o normal, e sentia o teu coração doloroso,pois era para ti a maior loucura do mundo.

Recordo o teu sofrimento nos Hospitais por causa dos teusproblemas de saúde… sempre sofrendo com um sorriso noslábios e oferecias o teu sofrimento ao Senhor. Só os santossabem sofrer assim…

Recordo a tua entrega total aos alunos nos Colégios, edepois nas Escolas Secundárias, até 2002. Eras a professoraexigente, mas sobretudo a professora amiga, atenta aosproblemas familiares dos teus alunos.

Queria ainda lembrar-te, aquele dia lindo em quecelebrámos as nossas Bodas de Prata, rodeados dos nossos

familiares e dos nossos melhores amigos, esobretudo da presença do nosso Padre Joãoe do nosso querido amigo, Cónego Filipe.Estavas felicíssima por eles e sobretudo por

poderes repetir de novo aquelas palavrasmágicas do nosso casamento: “Manuel, recebe

esta aliança em sinal do meu amor”.Maria Fernanda! Agora que gostavas de passear, já liberta

das obrigações escolares, Jesus chamou-te para o Céu, semse quer te despedires do marido, das tuas queridas filhas e detantos amigos que tinhas.

Queria finalmente lembrar-te aquela quadra que te fiz umdia e tanto gostavas de repetir:

Do alto do miradouroVejo Coimbra aos teus pés.As lágrimas que chorasteMostram a grandeza que és!

Estamos órfãos, ainda a viver a ilusão que poderás voltarse nós te merecêssemos.

Quando o Senhor quiser iremos ter contigo. Enquantoestamos de cá abençoa as filhas que tanto amavas, o maridoque amavas loucamente, os familiares e amigos a quem tededicavas e sê o nosso Anjo da Guarda no nosso caminhar emdirecção à eternidade.

Até logo, até sempre… Fernandinha!Manuel Fernandes

Até logo, Maria Fernanda

Mulher de garra, não se assustava com os problemas davida… aguentava-os no momento a sangue frio e só desabavaquando tudo estivesse bem!

Nasceu a 15 de Abril de 1943 na casa da estação de ferroda CP da Pampilhosa… como ela dizia tinha os comboios nosangue pois, era filha e neta de chefes de estação!

Com a tua partida o sentimento de orfandade foi o primeirode muitos outros sentidos em catadupa...

Mas passado o impacto inicial do inimaginável pesadelo,que aterrou bem no centro das nossas vidas... eis que fomosimbuídos do teu legado e tentamos refractá-lo nas nossas vidas!

Não passaste na vida por passar, passaste marcando a tuapresença nos corações de todos aqueles com quem conviveste,

em especial o das tuas filhas e marido! Como uma FORÇA, essa é sem

dúvida a imagem que vai ficar parasempre nos nossos corações! Como a

1943 – 200515 de Abril

(conclui na pág. 6)

(conclui na pág. 6)

MAMY Mãe,