Espiral 47

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POR POR POR POR POR fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX espiral ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012 ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012 ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012 ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012 ANO xiII - N.º 47 - ABRIL/JUNHO de 2012 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento somos somos somos somos somos um só C um só C um só C um só C um só CORPO ORPO ORPO ORPO ORPO sejamos sejamos sejamos sejamos sejamos coerentes coerentes coerentes coerentes coerentes R ecebi uma carta do nosso colega José da Silva Pin to, aliás grande colaborador para o «Espiral». Trans- crevo apenas alguns parágrafos, onde adensa o seu sentir-se Igreja, em particular as suas dores e os seus desafios: «Há muito tempo, penso, medito e sofro: a nossa Santa Igreja Católica Apostólica tem retrocedido no número de católicos praticantes e no número de vocações sacerdotais e consagradas, em Portugal. Numa população de onze milhões, os católicos são metade, porque dois milhões se afastaram nos últimos dez anos. Isto não é triste? Mais, não será motivo para nos incomo- dar, preocupar e, mais importante do que isso, pela positiva, para nos lançarmos “à pesca”, à pregação? Os discípulos do Senhor eram pescadores, cobradores de impostos, médicos Tinham a cultura do povo. Desde que o Senhor os chamou, começaram a ser homens de Fé, de muita Fé, a ponto de darem a vida por Ele, como testemunho de Fé e de Amor fortes, indeléveis. Não teremos nós a mesma Fé e o mesmo Amor?» E José da Silva Pinto termina dizendo que todos os batizados precisamos de estar bem preparados para a responsabilidade de sermos testemunhas do Evange- lho pelo exemplo de vida. «Sejamos coerentes! «Sejamos coerentes! «Sejamos coerentes! «Sejamos coerentes! «Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos para os homens Não existem dez mandamentos para os homens Não existem dez mandamentos para os homens Não existem dez mandamentos para os homens Não existem dez mandamentos para os homens e dez mandamentos para as mulheres. e dez mandamentos para as mulheres. e dez mandamentos para as mulheres. e dez mandamentos para as mulheres. e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pede às mulheres a mesma santidade que Jesus pede às mulheres a mesma santidade que Jesus pede às mulheres a mesma santidade que Jesus pede às mulheres a mesma santidade que Jesus pede às mulheres a mesma santidade que pede aos homens.» pede aos homens.» pede aos homens.» pede aos homens.» pede aos homens.» N o 32.º Encontro Nacional da Fraternitas, em Fáti ma, de 27 a 29 de abril, centrámos a atenção num dos dinamismos da Igreja: a presença e acão das mulheres. O tema foi orientado por Artur Cunha de Oliveira, biblista re- conhecido, e Ana Vicente, do Movimento Nós Somos Igreja. O mote do tema do encontro foi a recente edição do livro «Jesus e as Mulheres. A propósito de Maria Madalena», pelo Artur Oliveira. Para ele, o único propósito da obra «é o de reabilitar a pessoa digníssima de Madalena e salientar a pessoa do Senhor Jesus, que até no trato com as mulheres é, para nós, um exemplo de delicadeza, de atenção, de carinho, e até de afeto, sem ser sexual. Atualmente é que os homens olham para as mulheres com tensão sexual, e isso é animal. Não existe espiritualidade nesta atitude. Maria de Magdala não é uma qualquer, não é a Madalena das lágrimas, a pecadora, mas sim uma senhora de linhagem, da alta sociedade da altura e que se dedicou a Jesus, tal como Joana, a mulher de Cusa, que era administrador do Rei Herodes, e Susana. As três mulheres, com os seus bens, acom- panhavam o senhor Jesus que era o profeta itinerante, assim como os discípulos que o seguiam mais de perto.» Artur acaba com a lenda de Maria Madalena pecadora, transportada pela própria Igreja. No livro, verifica-se que essa lenda começou com uma infeliz homília do Papa Gregório Magno, que, na Basílica de S. Clemente, em Roma, confundiu Maria Madalena com a “pecadora arrependida” do evangelista Lucas (7,36-50). A partir de então terminou a história e prin- cipiou a lenda. Agora tenta-se criar o Mito. Desde essa homília por diante houve que explorar este equívoco para satisfação das pecadoras, tendo em Madalena um exemplo, pois pode- riam viver consoladas. E o autor assenta a sua tese em factos históricos. Basta verificar a bibliografia que é citada para verificar que os teó- logos e biblistas o confirmam, porque está provado histori- camente. Por sua vez, Ana Vicente defende que a Igreja Católica deverá ter uma estrutura menos hierarquizada, que permita um maior envolvimento de todo «o povo de Deus» nas ques- tões essenciais. Na sua opinião, o imenso fosso que separa clero e leigos é totalmente despropositado. E, concretamen- te, excluir as mulheres dos ministérios na Igreja vai contra a mensagem de Jesus! De facto, permite-se à mulher ler a Pala- vra de Deus, mas elas não podem receber a ordem menor de leitor, por exemplo. Mas é a origem dessa discriminação que é absurda: na Igreja o masculino é que prevalece, porque Je- sus era homem, sustenta o Magistério. Ana Vicente contrapõe com a frase paulina: «Não há ho- mem nem mulher, pois todos sois um em Cristo.» E arrema- ta: «Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos para os homens e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pede às mulheres a mesma santidade que pede aos homens.»

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Recebi uma carta do nosso colega José da Silva Pinto, aliás grande colaborador para o «Espiral». Trans-crevo apenas alguns parágrafos, onde adensa o seu

sentir-se Igreja, em particular as suas dores e os seus desafios:«Há muito tempo, penso, medito e sofro: a nossa Santa

Igreja Católica Apostólica tem retrocedido no número decatólicos praticantes e no número de vocações sacerdotais econsagradas, em Portugal. Numa população de onze milhões,os católicos são metade, porque dois milhões se afastaramnos últimos dez anos.

Isto não é triste? Mais, não será motivo para nos incomo-dar, preocupar e, mais importante do que isso, pela positiva,para nos lançarmos “à pesca”, à pregação?

Os discípulos do Senhor eram pescadores, cobradores deimpostos, médicos Tinham a cultura do povo. Desde que oSenhor os chamou, começaram a ser homens de Fé, de muitaFé, a ponto de darem a vida por Ele, como testemunho deFé e de Amor fortes, indeléveis. Não teremos nós a mesmaFé e o mesmo Amor?» E José da Silva Pinto termina dizendoque todos os batizados precisamos de estar bem preparadospara a responsabilidade de sermos testemunhas do Evange-lho pelo exemplo de vida.

«Sejamos coerentes!«Sejamos coerentes!«Sejamos coerentes!«Sejamos coerentes!«Sejamos coerentes!Não existem dez mandamentos para os homensNão existem dez mandamentos para os homensNão existem dez mandamentos para os homensNão existem dez mandamentos para os homensNão existem dez mandamentos para os homens

e dez mandamentos para as mulheres.e dez mandamentos para as mulheres.e dez mandamentos para as mulheres.e dez mandamentos para as mulheres.e dez mandamentos para as mulheres.Jesus pede às mulheres a mesma santidade queJesus pede às mulheres a mesma santidade queJesus pede às mulheres a mesma santidade queJesus pede às mulheres a mesma santidade queJesus pede às mulheres a mesma santidade que

pede aos homens.»pede aos homens.»pede aos homens.»pede aos homens.»pede aos homens.»

No 32.º Encontro Nacional da Fraternitas, em Fátima, de 27 a 29 de abril, centrámos a atenção num

dos dinamismos da Igreja: a presença e acão das mulheres. Otema foi orientado por Artur Cunha de Oliveira, biblista re-conhecido, e Ana Vicente, do Movimento Nós Somos Igreja.

O mote do tema do encontro foi a recente edição dolivro «Jesus e as Mulheres. A propósito de Maria Madalena»,pelo Artur Oliveira. Para ele, o único propósito da obra «é ode reabilitar a pessoa digníssima de Madalena e salientar apessoa do Senhor Jesus, que até no trato com as mulheres é,para nós, um exemplo de delicadeza, de atenção, de carinho,

e até de afeto, sem ser sexual. Atualmente é que os homensolham para as mulheres com tensão sexual, e isso é animal.Não existe espiritualidade nesta atitude.

Maria de Magdala não é uma qualquer, não é a Madalenadas lágrimas, a pecadora, mas sim uma senhora de linhagem,da alta sociedade da altura e que se dedicou a Jesus, tal comoJoana, a mulher de Cusa, que era administrador do ReiHerodes, e Susana. As três mulheres, com os seus bens, acom-panhavam o senhor Jesus que era o profeta itinerante, assimcomo os discípulos que o seguiam mais de perto.»

Artur acaba com a lenda de Maria Madalena pecadora,transportada pela própria Igreja. No livro, verifica-se que essalenda começou com uma infeliz homília do Papa GregórioMagno, que, na Basílica de S. Clemente, em Roma, confundiuMaria Madalena com a “pecadora arrependida” do evangelistaLucas (7,36-50). A partir de então terminou a história e prin-cipiou a lenda. Agora tenta-se criar o Mito. Desde essa homíliapor diante houve que explorar este equívoco para satisfaçãodas pecadoras, tendo em Madalena um exemplo, pois pode-riam viver consoladas.

E o autor assenta a sua tese em factos históricos. Bastaverificar a bibliografia que é citada para verificar que os teó-logos e biblistas o confirmam, porque está provado histori-camente.

Por sua vez, Ana Vicente defende que a Igreja Católicadeverá ter uma estrutura menos hierarquizada, que permitaum maior envolvimento de todo «o povo de Deus» nas ques-tões essenciais. Na sua opinião, o imenso fosso que separaclero e leigos é totalmente despropositado. E, concretamen-te, excluir as mulheres dos ministérios na Igreja vai contra amensagem de Jesus! De facto, permite-se à mulher ler a Pala-vra de Deus, mas elas não podem receber a ordem menor deleitor, por exemplo. Mas é a origem dessa discriminação queé absurda: na Igreja o masculino é que prevalece, porque Je-sus era homem, sustenta o Magistério.

Ana Vicente contrapõe com a frase paulina: «Não há ho-mem nem mulher, pois todos sois um em Cristo.» E arrema-ta: «Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos paraos homens e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pedeàs mulheres a mesma santidade que pede aos homens.»

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PORPORPORPORPOR ALÍPIO AFONSO ALÍPIO AFONSO ALÍPIO AFONSO ALÍPIO AFONSO ALÍPIO AFONSO

Livro de Artur Oliveiraapresentado no Encontro Nacional

O Evangelho, enquanto BoaNova, é herdeiro das Pro-clamações Imperiais, ditas

Boa Nova, quer agradassem quer desa-gradassem aos populares, com esta gran-de diferença, o Evangelho não é merodiscurso informativo mas, também e es-sencialmente, operativo com a força daeficácia purificadora do mundo (BentoXVI, Jesus de Nazaré, cap. III).

Por sua vez, o Evangelho esclarece ecompleta a revelação das velhas Escri-turas Sagradas que nasceram em tradi-ções religiosas marcadas por várias cul-turas, transmitindo-nos no seu conjun-to a convicção de ser Deus a falar-nosde muitos modos. O encontro com aeterna e discreta presença divina dá-senesta sinuosidade de caminhos dos tem-pos (P.e Tolentino).

Esquecer esta sinuosidade pode le-var a graves erros. Assim aconteceu há50 anos, aos 18 cardeais que acompa-nhavam João XXIII na igreja de S. Pau-lo, quando o papa anunciou a procla-mação do Concílio, considerando-o inú-til, mercê da interpretação (dogmática)declarada no Concílio de Trento. Esteconcílio separou a revelação inteiramenteda ciência como afirmou ao programaEclesiae, em 22/03/12, o presidentedum Instituto de Teologia, tornandonorma o princípio do «Roma locutacausa finita». Deu asas novas ao divór-cio latente entre a razão e a fé abando-nando a dialética de aproximação às ci-ências, de que são testemunhas as cartasde Paulo, a Cidade de Deus de Agosti-nho, a Súmula Teológica de Tomás deAquino, etc, etc.

João XXIII tinha toda a razão hu-mana e divina consigo, reforçada noexercício da nunciatura em vários paí-ses, ao proclamar um novo concíliocomo chave para reabrir as portas do

diálogo. Uma experiência e sabedoriaque faltara, no séc. VII, ao papa Gre-gório Magno, confundindo MariaMadalena com Maria a pecadora pordesatenção histórica e filológica, comoneste livro o nosso grande Artur referee contradiz historicamente. E faltara, em1870, no decorrer do Vaticano I, a PioIX, ao não atender uma delegação debispos em nome da maioria do colégiopontifício, para desistir da imposição dainfalibilidade pontifícia, sob a alegaçãode não ser necessária à Igreja e de difi-cultar os diálogos com outras igrejas. Éconhecida a resposta de Pio IX: «A Igrejasou eu.»

Estes acontecimentos pontifíciosajustam-se à saga do grande inquisidor,do romance Irmãos Karamazov, loca-lizada em Sevilha, nos tempos da gran-de inquisição. Escreve Karamazov:

«Jesus, por misericórdia, volta aoconvívio dos homens sob a forma quetivera nos três anos de vida pública. Apa-rece docemente, mas todos o vão co-nhecendo. Atraído pela sua forçairresistível, o povo comprime-se à suapassagem e segue-lhe os passos. Jesus,

silencioso, passa por entre a multidãocom um sorriso de compaixão infinita.Estende-lhe os braços, abençoa-os. Umvelho, cego de infância, exclama do meioda multidão: «Senhor cura-me e eu teverei.» O cego passa a ver. O povo der-rama lágrimas de alegria e beija o chãosobre as marcas dos seus passos (...) Ascrianças lançam flores à sua passagem,cantando: «Hossana, é Ele, deve ser Ele!Exclama-se: só pode ser Ele!»

Chega ao adro da Catedral de Sevi-lha no momento em que uma multidãoacompanha um pequeno ataúde brancocom o corpo de uma menina de 7 anos,filha única duma pessoa notável. «Ele res-suscitará a tua menina», gritam na multi-dão para a mãe lacrimosa. A mãe lança-se aos pés de Jesus e exclama: «Se és Tu,ressuscita a minha filha», e estende osbraços para Ele. O cortejo para. Des-cem o caixão sobre as lajes. Jesus con-templa a defunta e cheio de compaixãodiz: «Menina, levanta-te!» E a menina le-vantou-se. Neste momento, surge ogrande Inquisidor. Olhando para o su-cedido e reconhecendo entre a multi-dão a pessoa de Jesus, manda-o pren-der. Naquela noite, em silêncio, vai tercom Ele à prisão e diz-lhe: «Tu não po-des fazer mais nada, o que tinhas a fazerjá está feito. Agora somos nós que man-temos aquilo que disseste.»

Para um cristão não há diálogo maisperturbador, comenta o P.e Tolentino.Mas é esta, muitas vezes, a religiosidadeoficial, ao dizer-se: Deus é isto, o seunome é aquilo. Deus tem de ficar ali en-caixado, submisso: «Tu não podes, Tunão podes!»

Por falta de diálogo eclesiástico-ci-entífico conclui o teólogo J. I. Gonzalez:«A Cúria é responsável por mais ateusque Marx, Nietzsche e Freud juntos.» Eo teólogo, sociólogo e filósofo AnselmoBorges, em 11/12/01: «O atual papa

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enquanto cardeal Ratzinger converteu-se para muitos no principal obstáculopara a Fé.»

O Vaticano II (1962) não foi tão lon-ge como desejara João XXIII. Às re-formas iniciais - tradução litúrgica dolatim nas línguas vernáculas, reformu-lação catequética e atualização do Direi-to Canónico - seguiu-se um grande si-lêncio. Até hoje está longe de traduzirpara o grande público todas as suas de-duções, devido ao travão imposto pe-las velhas Comissões Consistoriais. Vemfaltando a muitas a coragem de pôr aIgreja contemporânea a refletir sobre ahistória no mundo contemporâneo, ar-ticulada nos dois eixos complementa-res: - Pensar a diferença/Viver a dife-rença - (sendo isto) o cerne do VaticanoII que não acrescentou verdades paraacreditar (monge Sertório).

O último - um fumo branco notó-rio - tem a data de 1993, saído da Co-missão Pontifícia Bíblica, ao declarar queo «o método histórico-crítico é indis-pensável para O ESTUDO CRÍTICODO SENTIDO DOS TEXTOS AN-TIGOS.»

Aqui entra em pleno o nosso mestreArtur. Por sua vez, como apóstoloavalizado da Boa Nova, o Artur nãoguardou os talentos para si e seus fami-liares. Vem-nos dividindo connosco nes-tes encontros e com tantos outros emencontros similares e nas várias obraspublicadas, a última das quais é a baseda presente reflexão.

Este decreto é a confirmação do queo Artur sempre afirmou. Nas entreli-nhas do texto diz-se que a revelação nãoacabou, como o Artur nos vem de-monstrando. Deus continua a revelar-seaos povos, segundo a capacidade de en-tendimento destes. Tal como afirmamo P.e Tolentino, em recente entrevista eD. Manuel Clemente, em resposta ao in-vestigador Cardoso Bernardes. D. Ma-nuel, neste contexto, atribui à Igreja opapel de estalagem rulote em andamen-to, (acrescentando), uma Igreja que parenão chega a Deus (J.N. 18/03).

«Ou respondemos aos homens e mu-lheres de hoje com uma linguagem dehoje, acompanhando a ciência, ou con-tinuaremos a assistir ao esvaziamento dasnossas igrejas», afirmou D. AntónioCouto, bispo de Lamego, desafiando,por isso, os fiéis a seguirem com aten-ção os novos tempos com respostascristãs atualizadas, contrapondo ao faci-litismo existencialista, o valor cristão doamor das Bem-Aventuranças, atualizadoem nós próprios e no fermento da mas-sa que nos rodeia. Doutra forma o mun-do continuará a passar-nos de lado porculpa nossa, por não cumprimos o pre-ceito evangelizador - «Ide e ensinai». (As-sembleia Diocesana, 27/03).

Também Bento Domingues falandoda doutrina social da Igreja reafirma queela deve incarnar em cada época as exi-gências do Evangelho. Quando se pro-cura responder, apenas, com as palavrasde LEÃO XIII e de Bento XVI, corre-se o risco de identificar a Igreja com aHierarquia, desprezando a pluralidade darealidade social estudada por Jean YvesCalvez e tantos outros (Mail, 25/03/12)

Certamente que a presente falta dediálogo com o mundo contemporâneoé uma das causas responsáveis pela per-da de dois milhões de católicos em Por-tugal, na última década?

Por sua vez, esta rulote em andamen-to reveste-se de vários formatos, que nossão descritos pelos exegetas, linguistas,filólogos e teólogos, comprovados pe-los exemplos dos santos e confirmadospela hierarquia. Os exegetas, filólogos eteólogos como guias teóricos, os santoscomo modelos, a hierarquia como au-toridade. As rotas seguras pressupõem

a cooperação dos três. Em presençadeles, o Espírito Santo talha a cada qualo seu caminho, de acordo com o pró-prio carisma.

Cinco exemplos: 1. Teillard de Chardin no seu es-

pantoso testamento espiritual que é a suaMissa sobre o Mundo:

- Senhor já que uma vez mais longedas florestas da França, aqui, nas este-pes da Ásia, não tenho pão, nem vinho,nem altar, eu me elevo acima dos sím-bolos até à pura majestade do Real, evos ofereço, eu, vosso sacerdote, sobreo altar da terra inteira, o trabalho e osofrimento do mundo... coloco sobre aminha patena, meu Deus, a messe espe-rada deste novo esforço. Derramo so-bre o meu cálice todos os frutos quehoje são esmagados...

A oferenda que esperais agora, Se-nhor, aquela de que tendes imensa ne-cessidade cada dia para aplacar a vossafome, para acalmar a vossa sede, é ocrescimento do mundo impelido pelodevir universal.

Este pão, o nosso esforço, não é emsi, eu o sei, mais que uma degradaçãoimensa. Este vinho, a nossa dor, não é,ainda, ai de mim, mais que umadissolvente poção. Mas, no fundo destamassa informe, colocastes - disso estoucerto, porque o sinto - um irresistível eincessante desejo que nos faz a todosgritar, desde o ímpio ao fiel: «Senhor,fazei-nos Um» no Amor.

2. Teresa de Calcutá, que a Deus re-zava assim: «Senhor, não te importescom o que eu sinto.» E que de Deusdizia: «Quero amar a Deus por aquiloque Ele tira. Ele destruiu tudo em mim(...) O pensamento do Céu nada signifi-ca para mim e contudo vivo esta ânsiatorturante de Deus (...) Se alguma vezvier a ser Santa serei com certeza umasanta da escuridão». Não ficou como aSanta da escuridão mas do Amor, leva-do ao extremo das suas capacidades.

3. Zaqueu. Na sequência do encon-tro com Jesus mudou de vida, compro-metendo-se a distribuir metade da for-

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tuna pelos pobres e a restituir em quá-druplo o que roubara aos clientes.

- Hoje veio a salvação a esta casa, oFilho do Homem veio para procurar esalvar o que estava perdido - confirmouJesus. Um Amor arrependido, justo e so-lidário.

4. O jovem monge, que desafiou aregra. A história é sobejamente conheci-da. Eram dos dois monges peregrinos.Chegados a uma ribeira encontram umajovem e bela mulher angustiada, à espe-ra de alguém que a passasse para o ou-tro lado. Vendo-os, pede-lhes insisten-temente para a transportarem às costas.Um pedido que ia contra as regras.

O mais novo colocou as regras departe e satisfaz-lhe o pedido. Chegada àmargem oposta, a mulher agradeceu ecada qual seguiu o seu destino. O mon-ge mais velho levou o resto da viagem arecriminar o colega, até que ele se en-cheu de coragem e lhe ripostou: «Eutransportei a mulher entre as margens edeixei-a, tu, transportaste-a até aqui.»Amor que faz o bem sem olhar a quem.

Algo parecido fizemos nós padrescasados. Transportámos contra as regrasda ordem a mulher bela e presenteira,de entre as melhores de todas, falo porum meu familiar que conhece muitas devós, que encontrámos à beira do rio damudança. Depois fomos mais longe queo jovem monge. Prosseguimos a viagemjuntos, por mútua afeição.

No que nos diz respeito ao pensardo mais idoso, a Zélia e eu própriocompreendemos a sua reação instituci-onal, face ao velho Direito Canónicoque, neste ponto, não mudou uma vír-gula. Sobrepusemo-nos a tudo e manti-vemos sempre uma relação de amizadee de respeito mútuo com a hierarquia.

5. O pasteleiro condoído. Um casalpela manhã encomendara um bolo parao aniversário de um filho. Pelo meio-dia o jovem morre atropelado e os paismergulhados na dor não mais pensaramno bolo. Desconhecendo o sucedido, opasteleiro recrimina-os uma e mais ve-zes pelo telefone. Uma saga que só aca-ba quando, passada a maior dor, os paisvão explicar-se à pastelaria. O pasteleiro

com os cotovelos apoiados no balcãoouve-os condoído e responde-lhes: «SóDeus sabe quanto os lamento. Agi comopasteleiro, desconhecendo o que se ti-nha passado.» Convidou-os a sentarem-se, a tirarem os casacos ao mesmo tem-po que ia colocando duas chávenas namesa. Os pais passaram a ouvir o que opasteleiro tinha para lhes dizer. Calma-mente foi falando. Provavelmente, pre-cisam de comer alguma coisa. Esperoque comam estes bolinhos ainda quen-tes, feitos por mim. Foram comendo.As palavras do pasteleiro criaram nelesum clima de acolhimento e escuta. A suagenerosidade enxugara-lhes parte daslágrimas e foi-os abrindo ao perdão.Amor plurifacetado e mutuamente per-doado.

As Rulotes acima, divergentesenquanto modelos, convergem napropulsão que é a idêntica em to-das - Fé e Amor. Os únicos moto-res que permitem avançar espiritu-almente, tornando o Reino de Deuspresente em nós e no mundo, comodiz, também, o P.e Tolentino.

Neste contexto, vêm a propósito asseguintes respostas do P.e AnselmoBorges, fornecidas a determinado jor-nalista, pela afinidade que mostram como sentir da Fraternitas em geral.

A uma pergunta sobre quando terácomeçado a pensar que para convivercom a humanidade toda teria de renun-ciar a Deus e à Igreja, respondeu:

«Renunciar, não. Mas rever,desconstruir e reconstruir. Foi aos 25anos.»

Por aqui passaram as vidas de todosnós, Senhoras e Homens da Fraternitas.

A uma outra sobre como lidou comoutros credos e outras maneiras de sercristão, mormente quando frequentavaa Universidade Gregoriana Pontifícia efez férias na Alemanha, respondeu: «Sa-íamos de Portugal e de Romadogmáticos. Fora da Igreja, que tudo sa-bia, não havia salvação. Enquanto miú-dos fomos permanentemente formadosnisso. Diziam-nos que os protestanteseram gente com quem nós não podía-mos contactar, que estavam condenados

ao Inferno. Não foi isso que eu senti.Na Alemanha, uma família protestante,muito jovem, convidou-me para jantar.O mesmo aconteceu com uma famíliamuçulmana.

Perante eles, pessoas admiráveis, pen-sei o que na altura era um enorme atre-vimento: em primeiro lugar somos to-dos homens, não podemos andar aquia levantar barreiras. Este convívio trou-xe-me a primeira crise. Fez-me repensara Igreja e a própria figura de Jesus.»

Este livro do Artur – «Jesus Cristo eas Mulheres» – insere-se neste aprofun-dado repensar científico-cristão.

Sobre a forma como recebeu a acu-sação de herético, em 1970, o P.e

Anselmo Borges respondeu: «Fui consi-derado herético pelo bispo de Portalegrede então. Foi-me acusar ao diretor doISET, mas o diretor esteve muito beme desafiou-o a apresentar por escrito asminhas heresias, que, tanto quanto sei,não terá feito.»

Não teremos todos nós passado porapreciações semelhantes?

Sobre quais as experiências mais mar-cantes nestas lutas, respondeu: «Várias.Uma foi acabar com o Inferno. Tinha45 anos. Foi em 1989, numa viagem decomboio, depois de ler «A História deDeus», de Schillebeeckx (...) Foi uma li-bertação. Não há condenados (...) Mashá Céu? Espero convictamente que namorte não cairemos no nada, mas naplenitude de Deus. Sou ortodoxo nosentido de seguir a reta doutrina. Tal qualcomo Bento XVI em «Jesus de Naza-ré». E continua: «Em 1994, tive de for-mar um puzzle: eu, Deus, os outros, asciências. E consegui articular a minha fécom os diferentes saberes e sabores eos diferentes posicionamentos dos ho-mens e das mulheres, ao longo dos tem-pos. Agora estou de bem. Foi um pro-cesso muito, muito doloroso. Tive dedesconstruir muito do que me tinhamensinado.»

Um caminho que vimos todos fa-zendo dentro da Fraternitas sob o pre-cioso impulso do Santo P.e Filipe.

Quanto à fé pessoal, respondeu: «Aminha fé convive com a dúvida. É fé,

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embora com razões. A fé não tem a ver,em primeiro lugar, com os dogmas. Nãoacreditamos em dogmas. Isso são coi-sas, o divino “coisificado”. Nós acredi-tamos em Deus.»

É o diálogo entre a ciência e a fé.O modelo global de orientação está

no Pai-Nosso. No seu conteúdo resideo caminho da santidade, dirigido a to-das as mulheres e homens, independen-temente do tempo e do espaço vitais.Por outro lado, a maior e fatal desgraçaque pode acontecer a alguém é não cor-responder a este convite, é não ser san-to. Sempre que recitarmos consciente-mente o Pai-Nosso estamos a actualizarem nós o Fiat da criação e da redenção.(P.e Tolentino):

O Fiat da 1.ª Criação da (terra e mar,dia e noite (...), plantas e animais, mulhe-res e homens). No que respeita à huma-nidade a criação não tem por base o aordem divina do faça-se mas o façamos... o ser mulher e homem à nossa ima-gem e semelhança.

O Fiat da Redenção (Faça-se, Pai aTua Vontade e não a minha) (tambémchamada 2.ª criação pelos padres daIgreja, iniciado no Fiat de Maria e con-

sumado na doação de Jesus: o meu ali-mento é fazer a vontade de meu Pai queme enviou e consumar a sua obra (Mt.39, 46). Com Jesus o mundo deixou deser só o cosmos original, é um mundoredimido

O Fiat da (3.ª criação), o nosso Fiat

dentro do mandato «Ccrescei,multiplicai-vos, dominai a terra.» É o Fiat

da criação atual. A vida cósmica cor-rente, por vontade de Deus depende,também, do homem. Um poder dele-gado que nos engrandece. Como nodeserto, onde um poço escondido o tor-na belo, nós somos belos pela belezalatejante de Deus em nós e em nossoredor.

Ao pedirmos ao Pai - o pão Nossode Cada dia nos dai hoje - estamos adizer que somos uns para os outros naescuta da palavra, no silêncio e no riso,no dom e no afeto e no alimento ne-cessário. É de vida partilhada que asnossas vidas se alimentam.

E se nalgum momento nos desvia-mos do caminho do amor, há que vol-tar atrás e fazer como o oleiro de Isaías(18, 1-4) que quando um modelo nãolhe saía bem misturava-o à massa e vol-

tava a moldá-lo. O perdão é o regressoao amor. Deus que nos criou não deitafora o barro de que somos feitos.

A oração que Jesus nos ensinou, éum sim continuado e concreto ao Amor,expresso nas entrelinhas destas palavrasde S. Paulo:

- Ainda que eu fale a língua dos ho-mens e dos anjos, se não tiver amor soucomo um bronze que soa ou umcímbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom da pro-fecia e conheça todos os mistérios e todaa ciência, ainda que eu tenha tão grandefé que transporte montanhas, se não ti-ver amor, nada sou.

Ainda que eu distribua todos os meusbens e entregue o meu corpo para serqueimado, se não tiver amor, de nadame aproveita. As profecias terão o seufim, o dom das línguas terminará, só oamor jamais passará (1.ª Cor, 13)

Termino com esta frase deNietzsche: «Se a Boa Nova da Bíblia es-tivesse escrita, também, no vosso rosto,não teríeis necessidade de insistir na féde modo tão obstinado. As vossas açõestornariam supérflua a leitura da Bíblia.Cada um de vós seria a própria Bíblia.»

Segundo informação vaticanade 30 de abril, Bento XVI teriaenviado aos bispos católicos da

Alemanha uma mensagem determinan-do que a expressão pro multis, isto é, por

muitos, da consagração eucarística do vi-nho, e que em várias línguas (incluindo aportuguesa) é atualmente traduzida por

todos, seja a preferida, porque mais fielao texto bíblico. É verdade, filologica-mente. Mas não, semanticamente. E emhermenêutica bíblica, se interessa afilologia, mais, muito mais nos deve in-teressar a semântica.

Consagração eucarística do vinhoÉ verdade que no texto original do

Missal Romano se lê, na fórmula euca-rística da consagração do vinho e a pro-pósito do sangue do Senhor Jesus: quipro vobisetpro multiseffundetur inremissionempeccatorum, o que dá emportuguês e consta dos missaiscanonicamente aprovados e em uso: der-ramado por vós e por todos os homenspara remissão dos pecados. Assim tam-bém em outras línguas, em que o multis

do Missal Romano, isto é, muitos, é tra-duzido por todos. Quem tem razão? Va-mos a ver.

Observações PréviasO primeiro documento bíblico que

nos informa sobre o que hoje conside-ramos a Eucaristia (ou a Missa, se qui-

sermos), é a referência que Paulo faz àrefeição fraterna dos fiéis de Corinto(1Cor.11,17-34) – esta Primeira Cartade Paulo aos Coríntios terá sido escritauns vinte e poucos anos após a mortedo Senhor Jesus. Nele, Paulo afirmataxativamente: Com efeito, eu recebi doSenhor o que também vos transmiti: nanoite em que foi entregue, o Senhor tomou o

pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse

“Isto é o meu corpo, que é entregue por vós;

fazei isto em memória de mim”. Do mesmo

modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse:

“Este cálice é a nova Aliança no meu sangue:

todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em me-

mória de mim (1Cor.11,23-26). E mais nãodisse. Paulo nem escreveu.

A questão do “muitos” e do “todos”na consagração do vinho

PORPORPORPORPOR Ar Ar Ar Ar Artur Ctur Ctur Ctur Ctur C. de Oliveira. de Oliveira. de Oliveira. de Oliveira. de Oliveira

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Outros bem puxados vinte anos de-pois, o médico Lucas, caríssimo discí-pulo e companheiro – Como bem sefica a saber pelo uso do plural por Lucasem Act.16,10-17; 20,5-15; 21,1-18; 27,1-28) e colaborador de Paulo (Cl.4,14;Flm.24; 2Tm.4,11), na narrativa da Ceiade Despedida do Senhor Jesus escreve:“Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, di-

zendo: “Este cálice é a nova Aliança no meu

sangue, que vai ser derramado por vós”

(Lc.22,20), no que está essencialmente deacordo com Paulo (1Cor.11,25), diferin-do, quanto ao sangue, apenas naquele:que vai ser derramado por vós. E nada mais.

Os dois outros Sinópticos (Marcos,que escreveu antes dos demais, e Mateus)dão-nos as seguintes versões sobre omesmo: Depois, tomou o cálice, deu graças e

entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-

lhes: “Isto é o meu sangue da aliança, que vai

ser derramado por todos…” (Mc.14,23-24).Segundo Mateus: Em seguida, tomou um cá-

lice, deu graças e entregou-lho, dizendo: “Bebei

dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue

da Aliança, que vai ser derramado por muitos,

para perdão dos pecados (Mt.26,27-28). Embora no texto grego ori-ginal, e quanto ao sangue derra-mado, a expressão num e nou-tro evangelista seja a mesma, énotável que a tradução em Mar-cos e Mateus do termo gregopollôn, que é o busílis da questão,não seja a mesma: todos, em Mar-cos, e muitos, em Mateus. Afinalem que ficamos? Em todos ousó em muitos? Segundo BentoXVI deverá ser muitos. Segundome parece e justificarei, literari-amente, o tradutor de Marcos tem ra-zão: são todos.

A chave da questãoNão há dúvida nenhuma de que o

termo grego pollôn – que significa «mui-to», «numeroso», e similares – se podetraduzir, à letra, por muitos. Assim leio naquase dúzia de versões portuguesas quepossuo, à exceção de duas: a TEB - atradução ecuménica, publicada no Bra-sil pelas Paulinas em 1995, com reco-mendação do Presidente da Conferên-cia Nacional dos Bispos Brasileiros, e cujo

texto é: derramado em prol da multidão, e ABoa Nova Para Toda A Gente, da Soci-edade Bíblica, publicada em Lisboa em1978 (Novo Testamento), com a apro-vação de D. António, bispo do Porto,presidente da Comissão Episcopal daDoutrina da Fé, e cuja versão é: derra-

mado em favor da humanidade. Claro queisto não são versões mas interpretações.S. Jerónimo quando, no século IV, tra-duziu a Bíblia do hebraico e do gregopara o latim, foi filologicamente (e acen-tuo: filologicamente) fiel ao original, ver-tendo: qui pro multiseffundetur. E da VulgataLatina terá passado para o Missal Ro-mano. Mas, bem ou mal? Mal, porquenão se trata apenas de uma questãofilológica, mas também, e sobretudo,semântica. Ou, por outras palavras: o queé que aquele texto grego quer dizer: mui-tos ou todos?

Estou convencido de que quer dizertodos e pelas seguintes razões:

Primeira: A tradição cristã em vogano tempo tanto da redação dos Evan-gelhos segundo Marcos e Mateus, como

no tempo de S. Jerónimo, era a de queo Senhor Jesus de Nazaré era o Messias.Na Sua Paixão e Morte realizara o pre-dito pelo Segundo Isaías (século VI a.C.)sobre o Servo de Yahwéh: “Por isso ser-

lhe-á dada uma multidão como herança, há de

receber muita gente como despojos, porque ele

próprio entregou a sua vida à morte, e foi conta-

do entre os pecadores, tomando sobre si os peca-

dos de muitos (rabbim, no hebraico) e sofreupelos pecados (Is.53,12). Quem não lê estaparte da “profecia” repercutida na fór-mula consecratória do vinho em Mateus

(21,22)? Ademais, é e bom que se digaem abono da ciência bíblica, as narrati-vas da Ceia de Despedida nos Sinópticosnão correspondem por inteiro ao que,historicamente, então se terá verificado,não repugnando, por isso, que constitu-am criações da primitiva ComunidadeCristã face à prática cada vez mais gene-ralizada de se reunirem os fiéis discípu-los do Senhor Jesus em comunitárias efraternas refeições a que, pouco a pou-co, se foi dando carácter sagrado.

Em segundo lugar, o plural doadjetivo grego polús, pollê, polú (muito) éusado, tanto no grego clássico, como nogrego bíblico do Novo Testamento nosentido da totalidade, de todos. Assim,por exemplo, quando Paulo escreve aosRomanos:Se pela falta de um só homem (ei

gàrtôito?enòs (um) parapt?mati) todos morre-

ram (hoipolloiapéthanon), com muito mais ra-

zão a graça de Deus, aquela graça oferecida

por meio de um só homem (enósanthôpoy), Jesus

Cristo, foi a todos (eis toyspolloys) concedida em

abundância (Rm.5,15). Aqui, não há dúvi-da, o sentido do adjetivo grego é o de

totalidade (todos) e não apenasde pluralidade (muitos). E, maisabaixo, volta Paulo a usar polys,

pollê, poly no mesmo sentido detotalidade: De facto, tal como pela

desobediência de um só homem

(to?enòsanthôpoy), todos (hoipolloi) se

tornaram pecadores... (Rm.5,19).Finalmente, o argumento da

analogia da fé. Como é que queesta opção pelo muitos (sanguederramado por muitos), em vezde todos, se compagina com asafirmações bíblicas (e não é ago-

ra caso de tomar em mãos o tema, queisso nos levaria longe) da universalidadeda salvação messiânica? Por desfastio,leia-se, entre outras, qualquer das seguin-tes citações: Lc.3,6; Jo.3,17;4,42;12,47;Act.4,12;28,28; Rm.11,11; 1Tm.2,4;4,10;Tt.2,11; 1Jo.4,14.

ConclusãoFilologicamente, é possível a tradu-

ção: derramado por muitos. Semântica eexegeticamente, não. Por isso, está certoe bem traduzir-se: derramado por todos, nafórmula consecratória do vinho.

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DO ARMANDO:«Acabei o segundo romance Quem

matou a Laurissílvia?, que está com umpossível editor para ver... Mas aquele si-lêncio não é de ouro, é de ferro...» Nodia 12: «Faleceu hoje, nos EUA, a irmãmais nova da Pamela. Abraços de Res-surreição.»

DO VINCENTFoi submetido a uma intervenção

cirúrgica para extração de um cálculonum ureter, no dia 24. No dia 26: «Cor-reu tudo bem... em relação ao do rimdireito, terá ainda seguimento hospita-lar, Cidália.»

RESPOSTA DE D. ANTÓNIOTAIPA ao convite para Assistente Es-piritual, no dia 29: «Infelizmente não po-derei aceitar o convite, mas ficarei dis-ponível para uma outra situação em queas coisas se conjuguem melhor.»

UASPNo passado dia 27 de abril, o bispo

de Leiria-Fátima, D. António Marto, as-sinou o decreto de reconhecimentoCanónico da UASP - União das Associ-ações dos Antigos Alunos dos Seminá-rios Portugueses, dando assim existên-cia legal, à luz do direito canónico e, pelaConcordata, do direito civil, a esta es-trutura nacional, que queremos ao ser-viço dos ideais humanistas da Igreja eda sociedade.

A UASP congrega Associações deantigos alunos dos seminários portugue-ses, Diocesanos e Religiosos. Vem darcorpo a um sonho que surge da ideia decongregar e fazer interagir forças emer-gentes de um fenómeno global e deimportância nacional marcantes: o espí-rito e a cultura introduzidos na socieda-de do último século, a partir dos Semi-nários Portugueses, no que respeita aosvalores, à ciência e cultura em geral.

Breves notícias do Secretariado

DO ÂMBITO DA SAÚDE,são muitos e cada vez mais os asso-ciados que vão padecendo das suasmaleitas, dores das suas doenças, queem família, são duplicadas, quandonão triplicadas. Anotaram-se, aqui,apenas algumas ocorrências pontu-ais.

ABRILDO MANUEL P. BARROSO

JORGENo dia do seu aniversário, dia 12: Foi

atropelado na passadeira há quatro me-ses. Fraturou o perónio, andou engessadoficando imobilizado cerca de três me-ses... Andou também em cadeira de ro-das.

INAUGURAÇÃODAS INSTALAÇÕESda Fundação Cónego Filipede Figueiredo(Estarreja)/Sessão solene, dia 19: A

sessão foi presidida por um represen-tante de S. Exa. o ministro da Solidarie-dade e da Segurança Social e a missa debênção presidida por D. António Fran-cisco dos Santos, bispo de Aveiro. Esti-ve presente, mas à mente ocorreram-me palavras ditas, escritas e sonhos dostantos sonhos daquele santo de Padre,que (a manuscrito) assim terminava assuas cartas para os casais: “Tenho-vossempre presentes no Altar e no coração,a vós e aos filhos, com a maior estima.O muito Amigo, Pe. Filipe.”

Recebemos já o nº 3 de “Entre Ge-rações”, Jornal da Fundação, que desen-volve toda a página 13 para aFRATERNITAS MOVIMENTO.Consultar www.fcff.pt.

MATRIMÓNIOde Fernando Félix e Maria José

Bijóias, no Santuário do Senhor Jesus doCarvalhal, dia 26. «Este é o dia de ale-gria, que o Senhor preparou para nós»,repetia-se no Cântico de Entrada.

«Acompanhemo-los com o nossoafeto e amizade e com a nossa oração»,surgiu na Saudação, e que assim seja.«Deus viu tudo o que tinha feito: era tudomuito bom», ouvimos na 1.ª Leitura (Gn1, 26-28, 31a). Ao casal muitos parabéns,bênçãos e graças divinas.

MAIO

JUNHOMENSAGEMDO P

.E RUI SANTIAGO

Dia 25: «Já pensei na temática para oEncontro da Fraternitas de 5 a 8 de ou-tubro. Podemos chamar-lhe assim: An-demos de Esperanças! A Esperançacomo fio condutor da Narrativa Bíbli-ca.»

CARTA DE JOSÉ S. PINTO«Fiquei muito contente com o

policromado cartão (...) bem estrelaDocom os nomes e rubricas dos e das nos-sas companheiras de viagem (cartãotimbrado da Fraternitas, assinado pelosparticipantes do Encontro Nacional emFátima). Já sabem que enquanto o Se-nhor me quiser dar a magnífica – e, paramim, humanamente, alegria – de medeixar ver (...) rosto da nossa compa-nheira Mariazinha – eu não podereicomparecer em corpo e alma, nos nos-sos (também meus) Encontros. Estou,aí, em Fátima, em espírito, memória,pena e oração. (...) Já não me conhececomo marido ou familiar, há cerca dedois anos e não fala há cerca de 1,5 ano.Reconhece-me, pela voz, que já ouve há37 anos. (...) Eu sinto-me o mais feliz,aquele a «Quem a quem o Senhor distri-bui a melhor parte» (...)»

PORPORPORPORPOR uR uR uR uR uRTÉLIA sILTÉLIA sILTÉLIA sILTÉLIA sILTÉLIA sILVVVVVAAAAA

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Em 13 de abril último, partiu paraEm 13 de abril último, partiu paraEm 13 de abril último, partiu paraEm 13 de abril último, partiu paraEm 13 de abril último, partiu paraa Eternidade este sócio–fundadora Eternidade este sócio–fundadora Eternidade este sócio–fundadora Eternidade este sócio–fundadora Eternidade este sócio–fundador

nº 37, casado com Marianº 37, casado com Marianº 37, casado com Marianº 37, casado com Marianº 37, casado com MariaHumberta Nunes de Freitas San-Humberta Nunes de Freitas San-Humberta Nunes de Freitas San-Humberta Nunes de Freitas San-Humberta Nunes de Freitas San-

tos, havendo um filho,tos, havendo um filho,tos, havendo um filho,tos, havendo um filho,tos, havendo um filho,residente(s) em Évora. Foi orde-residente(s) em Évora. Foi orde-residente(s) em Évora. Foi orde-residente(s) em Évora. Foi orde-residente(s) em Évora. Foi orde-nado presbítero em 5 de agostonado presbítero em 5 de agostonado presbítero em 5 de agostonado presbítero em 5 de agostonado presbítero em 5 de agosto

de 1943 em Vila Real.de 1943 em Vila Real.de 1943 em Vila Real.de 1943 em Vila Real.de 1943 em Vila Real.Segue uma singela homenagemSegue uma singela homenagemSegue uma singela homenagemSegue uma singela homenagemSegue uma singela homenagematravés de excertos do livro deatravés de excertos do livro deatravés de excertos do livro deatravés de excertos do livro deatravés de excertos do livro de

sua autoria Aventura Feliz, Évorasua autoria Aventura Feliz, Évorasua autoria Aventura Feliz, Évorasua autoria Aventura Feliz, Évorasua autoria Aventura Feliz, Évora1999, edição aut1999, edição aut1999, edição aut1999, edição aut1999, edição autororororor, 3, 3, 3, 3, 3111111 pp.1 pp.1 pp.1 pp.1 pp.

pORpORpORpORpOR Ur Ur Ur Ur Urtélia Siltélia Siltélia Siltélia Siltélia Silvvvvvaaaaa

Na dedicatória, a manuscritono livro oferecido àFraternitas: «Não tenhais

medo..» Sou o Henrique M. dos Santosnesta “AVENTURA FELIZ” da vida.Viver é conviver. Viver é amar. No ban-quete da vida a Amizade é o pão e oAmor é o vinho. A vida é divina porqueé bela. (Laus Deo VirginiqueMatri! Sanfinsdo Douro 1920-2000” – Pag. 3;

À minha Mulher e meu Filho – Dealguns milhares de páginas que tenho es-crito, numa vida já bastante longa, pas-sada a estudar e a escrever, são estas, semdúvida, as que eu queria que fossemmenos desvaliosas (pag. 5).

Cap. I – RECORDAÇÕES DA IN-FÂNCIA - (...) Saber quem somos é anossa primeira obrigação. Mas saber arazão porque aparecemos nesta vida éalgo que fica no domínio do misterioso.É pois, mistério desta vida: Nascer!...

Sob o fulgor desse belo céu azul doAlto Douro, nasci em 11 de Novem-bro de 1920, na linda e pitoresca aldeia,hoje, Vila, de Sanfins do Douro, conce-lho de Alijó e distrito de Vila Real. Foinaquela terra bendita que tudo come-çou para mim. Foi, ali, que tomei os pri-meiros contactos com o deslumbranteespectáculo da vida, que recebi as pri-meiras impressões, que conheci os pri-meiros júbilos, que chorei as primeiraslágrimas. (...) Nos tempos da minha in-fância o Distrito de Vila Real foi agita-

do por acontecimentos políticos e reli-giosos de certo vulto. (...) No campo re-ligioso, o Distrito e a minha aldeia vivi-am, e comentavam, o grande escândaloocorrido: a fuga do 1º Bispo da Dioce-se de Vila Real, então Arcebispo-Bispo– D. João de Lima Vidal que havia ne-gado funeral religioso àquele que fora o1º Governador Civil da República, noDistrito, o professor primário AvelinoSamardã. Receoso de enfrentar o pro-testo dos republicanos D. João de LimaVidal fugira, pela calada da noite, paraAveiro, sua terra natal.

Eu, reflectindo o espírito que anima-va estes acontecimentos, comecei logoa sintonizar a corrente de opinião emque mais tarde havia de assentar arraiais.(...) em 7 de Outubro de 1933 apareciaeu no Seminário de Vila Real, após omeu exame de admissão, causando, as-sim, grande espanto em todos quantosme conheciam, principalmente ao meuprofessor Matos e a todos os colegasde escola que nunca tinham observadoem mim feitio eclesiástico. – Pag. 13-21.

Cap. II – RECORDAÇÕES DAADOLESCÊNCIA – Foi, pois, nacompanhia de minha querida e saudosamãe que entrei para aquele casão enor-me que acabava de levantar as suas pri-meiras paredes.(...) Minha mãe não po-dia ir além da portaria. Escusado serádizer que na vida do Seminário nuncaentrava sob o mínimo pretexto que fossequalquer ente feminino. A mulher eraconsiderada um objecto perigoso quese impunha manobrar com muita pru-dência. E a verdade é que a razão talveznão faltasse por aquilo de que me fuiapercebendo… Como é possível a vidadeixar-se encaixar, assim, com tanto ri-gor, ético-religioso, dentro da redomaformada por conceitos tão rígidos epouco elásticos?! Que se deve entenderpor más companhias, más leituras, im-pureza? Tudo em concreto tão discutí-vel! (Pag. 23).

Ao reflectir sobre essas vivências noSeminário, e pense-se o que se pensarda teoria “einsteiniana” sobre a “relati-vidade” do espaço e tempo, e diga-se oque se disser, acerca do segundo, comoapenas uma Quarta dimensão, o que nin-guém por certo duvidará é da relativi-dade do “tempo psicológico”, a dura-ção, dado da consciência e do tempo eespaços sociais. São estes últimos espa-ços e tempos os que mais interessam aomemorialista. Aqui tudo é relativo: ohomem na temporalidade e o mundosocial como sua criação, dimensões dasua existência. Se observarmos bemquando reflectirmos nisto e recordar-mos o nosso passado e tento mais quan-to mais velhos somos nunca devemosperder de vista esta importante verda-de: o que eu pensei na infância e na ado-lescência, até mesmo na mocidade, aquiloque eu fui, então, o que eu vi e senti, nãoé exactamente o mesmo que que sou ecomo vejo e sinto hoje. (...) Não digamque a Verdade, com maiúscula, é só uma,absoluta e imutável. Eu respondo: seráassim talvez filosoficamente e sobretu-do metafisicamente. Mas o que está lon-ge de ser uma é a maneira de exprimiressa Verdade hipotesiada quando elaexista, e, de reagirmos sobre ela, assimcomo, por exemplo, é sempre diferentea forma que reveste a água consoante orecipiente com que a colhermos.

Vem todo este discurso, moderada-mente relativista, a propósito de eu que-rer dizer que à medida em que eu fuicrescendo física e espiritualmente até estemomento em que me encontro, de res-peitável ancião de provecta idade quetenho, via tudo sob uma cor assaz dife-rente daquela com que vejo hoje apóssessenta e quatro anos. «A idade dá-nosperspectivas novas, mais amplas, dasrealidades que formam o horizonte danossa consciência».

Dura-se, vive-se, como chama devela que a si mesmo se consome; a

Homenagem a Henrique Maria dos Santos

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temporalidade na vida está no tempoobjectivo, absoluto; é pura dimensão daexistência. Assim ocorreu comigo. Cres-ci, tomei a mais funda consciência atra-vés da minha existência, do meu pró-prio eu, e, surgiu em mim, quase de re-pente, um acirrado espírito crítico pe-rante um ambiente em fui preparadopara a vida.Tudo isso que destilei e ad-quiri no Seminário e na vida, em suma,sem quebra, aliás, de certa estima, res-peito e gratidão, e, em alguns casos, defranca admiração por alguns dos meuseducadores, o devo àqueles com quememparceirei na vida. Os meus «espaço etempo» foram-se tornando, então, ou-tros. Os pontos de vida, os centros deque partiam em mim a observação e asrelacionações do vivido deslocaram-se;em breve mudariam. Como não haviaeu de mudar, também?

Mas, como deixo já antever, estamudança nascida como que de um im-pulso súbito só depois, através de umaevolução lenta, veio a atingir o seu pon-to alto no momento em que me encon-tro. (Pag. 30).

(...) Assim, quando terminei o Cur-so, pela confiança que mereci e conquis-tei, fui chamado a ocupar um dos luga-res de maior responsabilidade, sendoinvestido na função mor da Abadia daSé, e autorizado a publicar um semaná-rio que por sugestão do ilustre Preladoficou a denominar-se: “A VOZ DETRÁS OS MONTES”. O pacto foicumprido religiosamente.

Enquanto o ilustre antístite viveu tudorealizei sem medida ou reserva para cor-responder não só ao pacto estabeleci-do mas, também, movido pelo muitocarinho e apreço que o ilustre Preladomerecia.

Porém, a diferença de carácter e tim-bre do sucessor deste Bispo, o profun-do desgosto que senti pela morte doPapa João XXIII, golpe que me levouà cama com riscos de vida, pois, tãoprofundamente senti o desaparecimentodo insigne Pontífice que veio ofuscartoda a esperança que eu depositavanuma Igreja renovada; a minha consci-ência de Padre adulto, tudo isto, me le-

vou decididamente a solicitar ao Vatica-no a minha redução ao estado laical.

Nesse estado afirmo-me, hoje, ser,sem escrúpulos ou sem remorsos, comverdade de homem feliz e realizado queprocurei sempre ser aquilo que devia ser.Não rejeito nada do que fui, nem negonada daquilo que fiz. No ambiente queaí fica descrito fui Padre com bastantescontrariedades mas com alegria e me re-alizei no exercício deste ofício o melhorque pude; sou agora, esposo feliz e pai,orgulhoso da mulher que tenho e de umfilho que tenho que prezo. A minha saí-da de Padre depois de trinta anos, maisde um terço do caminho normal no iti-nerário de uma vida, o meu dar o salto,foi apenas a escolha de uma nova for-ma de caminhar na esperança de cum-prir a existência em novas metas que erapreciso alcançar e vencer.

É necessário ter coragem para desa-fiar ou mesmo aceitar todos os comba-tes e contrariedades do futuro. Recuseiconscientemente uma ordem estabele-cida que era um caos, pus de parte umlugar, um título, uma situação cómoda.Pensei e repensei na coragem necessáriapara desafiar todas as contrariedades quepudessem aparecer. Fruto de um longoamadurecimento podem-se reduzir aquatro palavras a razão que me levou,para além de outras, ao meu gesto: So-lidão, Revolta, Solidariedade e Pressão.

A Igreja não respeitava, nem respei-ta, os direitos totais da pessoa humana.Saí, pois, por questões de Fé que nunca

vi esclarecidas e pelo modo cruel eimpiedoso como a Igreja governava egoverna.

Não concordava com Governo Di-tatorial da Igreja… Não suportava a vi-olação dos direitos humanos a que as-sistia no interior da Igreja, o sentimentodo poder sagrado e eclesiástico. Agora,nesta aventura da vida sou um homemfeliz. A Liberdade, como fenómeno psi-cológico e valor fundamental à volta doqual giram as grandes transformaçõesculturais do nosso tempo foi a respon-sável pelos ex-padres, que como eu, enesta ocasião, acabaram no seu casamen-to, a maioria provenientes de camadassociológicas rurais determinados portabus e pressões psicológicas.

Assim, só no ano em que abdiquei,tomaram o mesmo gesto, em todo oPaís, 548 (quinhentos e quarenta e oito)sacerdotes, deste modo registados econfirmados nas diversas Dioceses:

Em Vila Real, diocese a que eu per-tencia, 43; Aveiro, 70; Braga, 110; Beja,12; Algarve, 2; Lisboa, 70; Porto, 115;Coimbra, 34; Guarda, 24; Lamego, 15;Portalegre, 17; Viseu, 5; Bragança, 47;Évora, 12.

Sem receios de trambolhões, depoisde ter dado o salto, tenho procuradosempre fazer de cada derrota um de-grau, de cada obstáculo uma escada paraatingir e permanecer no caminho daverdadeira vida. É na luta, no combateque se obtém mais forte o nosso Querer.Não vencer é ser derrotado. Aceitar ocondicionalismo que a vida impõe écobardia. O esforço e a perseverança sãoas verdadeiras regras que devem ser aca-tadas para atingir o êxito. Como Wattnão me deixei embarrilar pelas dificul-dades que me impunham. Saltei o murodas convenções. Escolhi o caminho emfrente e avante!...

Mudei de campo, de combate e decaminho a seguir. Fiz mal? Só os mor-tos e os tolos é que não mudam. Pode-mos sempre viver de pouco quando te-mos muito porque viver. Este muito éo Ideal, o Ideal de beleza, de grandeza,darmo-nos ao nosso semelhante e a lutapela fraternidade universal.

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Não podemos esquecer que o Idealé complemento indispensável do verda-deiro homem. Nós não sabemos dosomos capazes quando o Ideal nos ani-ma. O melhor que existe em nós é me-lhor do que podemos compreender e,esse melhor ainda se transforma, setransfigura, quando se trata de fazer umacoisa nobre. Mas para isso é necessárioser consciente e viver o problema daVerdade e da Liberdade. A vontade cer-ceada, peada, mutilada, é insuficienteàquele anunciar, discutir, e acordar quefaz mister, á acção esclarecida e à ciên-cia. Escolhi a Liberdade, a livre vontadedo respeito à verdade, Não tenho medonem receio do meu procedimento. Par-ti de um determinado ponto, fiz a tra-vessia da vida e cheguei onde me en-contro, serenamente, conscientemente. Avida na sua expressão integral foi sem-pre para mim exacta, rectilínea. Destejeito, o que fica registado, nestas pági-nas, de uma AVENTURA FELIZ, nãoé um desculpável devaneio, mas sim, umvibrar forte, intenso, perante o avistar daestrela boieira e me arrebatou do me-lhor da minha vida, da minha personali-dade, e me levitou, guindou, da terra al-çando-me aos longes dos longes, aoIdeal.(Pag.38, Capítulo II, pag.s 23 a 38).

EPÍLOGO – (...) Perante a repug-nância que se tem e se sente ao nada epela convergência que todos temos aoinfinito, ao nosso finar há-de correspon-der, realmente, a imortalidade que ficaregistada nas nossas obras.

Entre o berço e o túmulo, entre oarrebol e o crepúsculo da vida, distende-se, alinha-se, engrena-se, uma longa sé-rie de pontos, uns negros, outros lumi-nosos, que como tantas voragens nosvão dia a dia absorvendo a seiva e exau-rindo as forças. (…) Ao chegarmos aoúltimo palpitar do coração figuramosuma flor emurchecida, uma árvoredesfolhada. Somos sombra de nós mes-mos ao penetrar a região das sombras.Só além morte a treva será luz, a lutadescanso, o mérito recompensa, o mar-tírio gozo, - sabedoria sem dúvida, -ven-tura sem fel, - justiça e a pereneflorescência da glória e a visão do Eter-

no. O sol mergulha no Ocidente paraemergir no levante; o homem anoiteceno sepulcro para amanhecer na Eterni-dade. A sepultura, a cova é, também,berço: para cada corpo que recebe nes-te mundo agérrimo entrega um recém-nascido a outro mundo melhor. O áto-mo não pode aniquilar-se. Por isso, daspulverizações do cadáver surgem as ra-diações que nós chamamos espírito,alma. Quando a morte encontra a vida,algo desta fica a cintilar nas trevas damorte. Esta realidade com a qual todosnós deparamos deve-nos levar a con-cluir que a ideia e a palavra, falada ouescrita, substitui a força e a tirania; as hi-erarquias e as classes se devem aproxi-mar e distar menos umas das outras. (...)Todos nos devemos esforçar para ser aSociedade em que estamos enxertados,uma família.

A Sociedade em que vivemos deviaser uma translúcida confederação detodos os espíritos na dulcíssima unida-de do mesmo afecto. Como LutherKing que sonhava em voz alta eu afir-mo: “os homens foram feitos para vi-verem uns com os outros como irmãos.(...) A fraternidade seja mais que uma sim-ples palavra no final de uma oração.Com esta fé, poderemos trabalhar jun-tos, orar juntos, lutar juntos, ir para aprisão juntos, conservar a liberdade jun-tos. Sentarmo-nos juntos à mesa da fra-ternidade”.

A Humanidade é composta por ho-mens e mulheres. O homem personificao espírito que é sublime e a mulher sim-boliza o sentimento do belo. Estes doisseres devem-se completar mutuamentecom as suas qualidades diferentes, os-tentando reunidos o fundo imortal danatureza humana. É este o sentimentoque tenho vivido e destilado com mi-nha mulher, por um mundo melhor emque conflui, se concerta, converge e iden-tifica, o nosso filho. (...) expansão de duasvidas, (...) que connosco faz parte dagrande família que é a Pátria que nos viunascer e a Humanidade, o todo, a quepertencemos e sintonizamos.

Laus Deo Virginique Matri!”- Pag.s306 a 308..

F aleceu em Évora, com 91anos, o Dr. Henrique Mariados Santos, nosso grande

amigo, que foi Sócio Fundador da As-sociação FRATERNITAS MOVI-MENTO, na qual marcou presençaconstante e ativa, enquanto a saúde lhopermitiu. Ainda me lembro do encon-tro de homenagem que fizemos emÉvora ao nosso Fundador Cónego Fili-pe de Figueiredo, onde ele esteve comtodo o seu entusiasmo e muitoparticipativo na organização, e no finaldo segundo dia o fui levar a casa por-que era novembro e estava frio no Se-minário onde o encontro se processou.

Nasceu em Sanfins do Douro em 11de novembro de 1920. Foi Pároco daSé de Vila Real durante 30 anos, e serpároco da Sé implica ter confiança doseu bispo e de todos os sacerdotes deVila Real. Acumulou essas funções comas de professor de Religião e Moral doLiceu, onde deixou nome como homemdistinto e de ideias arejadas. Sempremuito pontual. Quase nunca faltava e osalunos que o conheceram tinham por eleuma extraordinária admiração, porquenão tinha medo de dizer as verdades emquaisquer circunstâncias. Habituei-me aadmirá-lo depois dos meus 12 anos. Eraminha tia Maria a zeladora da capela deNossa Senhora da Almodena. Ele faziasempre uma novena preparatória commuita objectividade e muito amor e ca-rinho pela Mãe de Deus. Não lia peloslivros. Falava sempre olhos nos olhos.Eu ficava embevecido a ouvi-lo. Todasas pessoas sentiam respeito e admiraçãopor este homem. Chegou a ser profes-sor no Seminário de Vila Real, impon-do-se pelo aprumo e galhardia.

Depois decidiu-se pelo casamentocom Maria Humberta dos Santos, queera natural dos Açores, onde residiramalgum tempo, sendo até professor naEscola Industrial da Horta (no Faial).Passaram depois para Évora, onde fi-xaram residência e chegou a leccionar

Henrique, grande amigo e sócio fundador

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Carta aberta à Maria Humberta ea todos os meus irmãos e irmãs

da Fraternitas...Trazemos em nós, desde o instante

primeiro, duas dinâmicas que se acom-panham como irmãs gémeas – A Vidae a Morte… Esquecemos isso demasia-das vezes e, mesmo quando dizemos quea Morte faz parte da vida, estamos apensar que “é só lá para o fim da vidaque a morte é uma parte dela”.

Mas…A Biologia diz-nos que pare-ce que não é bem assim.

E a Fé faz-nos acreditar que, fazen-do da nossa Vida um Dom, quando elaacabar, também acabou a morte – nãohaverá mais nada em nós para morrer ea Morte ficará de mãos vazias …

Todos, mais cedo ou mais tarde so-mos confrontados com a despedida dosque amamos…Porque “toca a todos”.

E todos morremos, sim, mas não damesma maneira. Porque a maneira demorrer tem tudo a ver com a maneiracomo vivemos.

A despedida daqueles cujas vidas cru-zam a nossa vida deixando nela umamarca de Beleza, Alegria e Paz nãopode acontecer como ausência – “mor-rer é só não ser visto”, diz Sophia e ospoetas sabem o que dizem…

Àqueles que se apaixonam, acontecea MELHOR, a MAIS PRECIOSA detodas as riquezas – apaixonarmo-nos deverdade, amar de verdade, faz-nos in-capazes de viver sozinhos, de noscentramos em nós, de fechar os nossosolhos por dentro, de fechar os ouvidosà Humanidade…

Na Fé, acredito que o milagre maiordas nossas vidas é sermos passados dosbraços de quem mais amamos para osbraços de quem mais nos ama – um PaiTodo Poderoso em Amor.

Porque a nossa Esperança e a nossaFé estão em Jesus ressuscitado. Nele estáa nossa Salvação! Nele vivemos e nosmovemos!

É esse Jesus que nos acolhe e nos lavaos pés à entrada do GRANDE Ban-

quete onde TODOS temos o lugarmarcado com uma “pedrinha branca”.Nela está escrito o nosso verdadeironome, o nome que só nesse DIA sabe-remos. E esse é o DIA sementardecer…o DIA da nossa Páscoa. OPRIMEIRO DIA!

Na outra margem da Vida, não maisnos magoaremos uns aos outros, nãohaverá mais morte, nem sofrimento, nemluto, nem lágrimas… Toda a dor e todaa angústia foram vencidas pela Vida semconfins.

Porque Deus SÓ é BOM!E…”porque a Vida está cheia de mi-

lagres; e a morte é o maior e mais estra-nho deles todos”(Rui Santiago)

Por isso, sempre que Celebramos aVida, a Graça, o Perdão e a Alegria,Celebramos COM todos os que amá-mos e tendo desaparecido dos nossosolhos estão VIVOS e vivem entre nóscom Cristo ressuscitado!

Porque vos amo muito.

Na Páscoa do Henrique…

PORPORPORPORPOR Glória Glória Glória Glória Glória

em praticamente todo o Alentejo, ten-do sido Presidente do Conselho Dire-tivo da Escola Secundária do Redondo,passando mais tarde para Reguengos deMonsaraz, onde se reformou.

No seu currículo constam diversasiniciativas de carácter social, destacando-se nessa linha a criação de uma cantinana Sé, onde chegou a acolher cerca de200 crianças e muitos idosos com ne-cessidades. Para satisfazer ao essencial detanta gente fundou “A Voz de Trá-os-Montes”, propriedade da mesma canti-na, que depois da sua transferência paraAçores e Évora foi (sem o seu consenti-mento) passada para a posse da Dioce-se, sendo nomeado seu Diretor o padreAntónio Maria Cardoso, que pelo me-nos de nome continua a sê-lo. Falei comele particularmente sobre isso e disse-me com alguma tristeza que nunca tive-

ram com ele qualquer conversa sobre oassunto, sentindo-se magoado por isso.

Foi um homem de causas. Enfren-tou com dignidade a ditadura de Sala-zar. Lutou incansavelmente pela igualda-de social de todas as pessoas, procuran-do que todos tivessem o necessário paraviverem com dignidade. Era tolerante ecompreensivo para com todos e acimade tudo nos terrenos que pisou levava amensagem de Cristo Salvador. Percor-reu quase todo o Alentejo fazendo con-ferências de todos os níveis e procuran-do amar todos os que com ele se cruza-vam na vida. Um Homem com Letragrande. Deixou-nos um livrinho, ondeconta a sua vida, que se chama AventuraFeliz. Ofereceu-mo na primeira vez queestivemos juntos em Fátima. Lê-se deum fôlego, tal é a atração como diz ascoisas.Ali descreve em pormenor todo

o percurso da sua vida, que foi muitocheia de tudo o que possamos imaginar.Vida linda até à exaustão.

Num dos últimos telefonemas quefiz para a família, disseram-me que esta-va a escrever um livro sobre “a Fé”, paradeixar de recordação ao filho. Como foipara o hospital fazer uma pequena ope-ração à anca e se previa que dois diasdepois estivesse em casa, apanhou umapneumonia e dela acabou por falecer,sem que alguém o pudesse prever. Nãoacabou o livro, mas a esposa e o filho,que é advogado, estão com vontade deo finalizar. Parabéns pela ideia, formabrilhante e digna de o homenagearem.

Saibamos honrar este homem deDeus. Talvez o tenha dado a conhecermais depois de deixar o exercício dasordens. A vida tem destes segredos.

Henrique, grande amigo e sócio fundador

PORPORPORPORPOR Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa Serafim de Sousa

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S empre jovial no seu modohumaníssimo de lidar e privarfosse com quem fosse - pois

nunca discriminou ninguém - desde osbancos da escola até ao seminário, e atéatingir a cúpula máxima do sacerdócio,como até Deus lhe fechar os olhos edar ordem de descanso ao seu coração,foi D. Albino o padrão da mais trans-parente e fraternal cordialidade.

Homem da sua família, Cidadão dasua terra, Lusitano da sua serra.

Nunca o deslumbraram nem títulosnem capelos académicos, que os tinha,e com mérito; nem cargos eclesiásticosque, aliás, lhe foram confiados, e exer-ceu sempre com o mais generoso de-sempenho; nem incensos depastoralidade eclesial e de teor mera-mente canónico.

Era, o que se pode dizer, um Bispono seu melhor, e sempre em dia com oseu dia-a-dia; o que lhe mereceu ser oque se diz “um homem em dia”.

Foi a sua morte uma surpresa. Comoum eclipse de alma, o cintilar de umaestrela, ou o deslizar de um meteoro.

Vejo-o retratado por si próprio, empalavras que ele mesmo escreveu a meupedido para alguém, mas que as aplicoa ele agora com um mérito muito seu:“Aquilo que hoje sou deita raízes muitofundas dentro de mim: o respeito porDeus e pelo Sagrado, o amor à Igreja,as convicções da Fé, a alegria no servi-ço da Comunidade, o encanto com asfestas cristãs, tudo isso germinou emmim desde pequeno, e à medida que osolhos o iam contemplando.”

Ele fez da sua vida um reflexo sua-ve, e do mais grato sabor, daquilo quenele sempre dominou: a alegria de ser ea generosidade de servir. Nunca a mitrae o solidéu lhe atrofiaram os mais gene-

rosos pensamentos. Nem o báculo lhedeu ares de potestade canónica. Nemos mais altos cargos e missões o afasta-ram da clara e humaníssima amizadecom os amigos. Era um muito pessoaltestemunho de proximidade. Alguémque, pelo seu testemunho, a todos nosensinava como saber estar, fosse comquem quer que fosse.

Não sabia escrever nem viver comreticências. A sua vida foi sempre de umatransparência cativante. Nunca ninguémlhe surpreendeu qualquer sombra dealma. O seu sorriso era o sol da sua vida,e que a muitos iluminou. Tudo nele eraum testemunho de verdade, transparên-cia e cordialidade. E sabia como pou-cos ser e fazer-se mais próximo do seupróximo. E sem qualquer discriminação.

No momento do Congresso Naci-onal das Misericórdias em Coimbra, emabril de 2011, as Santas Casas prestaram-lhe gratíssima homenagem, pelo muitopessoal e peculiar zelo pastoral que sem-pre dedicou às Santas Casas, que foimanifestamente sublinhado nas palavrasde aplauso, louvor e congratulação detoda a comunidade misericordiana.

Particularmente a Misericórdia deCoimbra, e com todas as Misericórdias

da diocese, foi testemunho institucionaleloquente de homenagem, reconheci-mento e devoção pastoral.

Foi ainda com a Sé repleta de diri-gentes das Santas Casas de todo o dis-trito de Coimbra que, no jubilosopassamento dos seus 75 anos, todas asMisericórdias da diocese homenagearamcom particular, jubilosa e festiva ceri-mónia o seu prestimoso e muito esti-mado Bispo.

Com bispos do teor pastoral deD. Albino, as Misericórdias sabem oque é, e como estarem com a Igrejasem serem da Igreja; não como tribunade poder e decretos, mas como exem-plo e estímulo pastoral a tudo o que sejaum bem fazer em irmandade, e sem dis-criminações de qualquer ordem, e como melhor espírito de confraria huma-nista e cristã. Não olham a quem ser-vem, nem discriminam quem nelas ecom elas queira servir. São Santas Casasde portas abertas. O mérito do seu hu-manismo ecuménico pertence-lhes dedireito e por vocação.

Na hora em que Deus o mobilizoupara outras e mais altas missões, comoa de interventor no Céu por todas asnobres Causas que serviu na terra, o seunome é lembrado como quem lhe reza,sabendo, como publicamente é sabido,quanto as Misericórdias – a começarpela de Manteigas, sua terra natal – lheestavam no mais quente do coração.

Apostando numa “Nova Evangeli-zação e Novos Caminhos para a Igre-ja”, ainda recentemente – abril de 2003– sublinhava à FRATERNITAS: “Omundo da Igreja tradicional acabou. Atéo mundo da nossa infância já não exis-te”. Então a primeira coisa que há a fa-zer agora é escutar a realidade social emque a gente vive.

“PARA VÓS, SOU O VOSSO BISPO,As palaAs palaAs palaAs palaAs palavrvrvrvrvras são de Santas são de Santas são de Santas são de Santas são de Santo Ao Ao Ao Ao Agosgosgosgosgostinho, já no século Vtinho, já no século Vtinho, já no século Vtinho, já no século Vtinho, já no século V, aos cris, aos cris, aos cris, aos cris, aos cristãos de Hipona, quando ftãos de Hipona, quando ftãos de Hipona, quando ftãos de Hipona, quando ftãos de Hipona, quando foi nomeado bispo.oi nomeado bispo.oi nomeado bispo.oi nomeado bispo.oi nomeado bispo.

Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,Mas calham bem, aplicadas ao nosso querido e saudoso D. Albino Cleto,que todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismoque todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismoque todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismoque todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismoque todos conhecemos, estimámos e acompanhámos no seu roteiro-itinerário do melhor humanismo

e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.e da mais cativante cordialidade, bem como de uma bem meritória e louvada missão.

PORPORPORPORPOR Manuel Ferreira d Manuel Ferreira d Manuel Ferreira d Manuel Ferreira d Manuel Ferreira da Sila Sila Sila Sila Silvvvvva (Primo)a (Primo)a (Primo)a (Primo)a (Primo)

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E, quando se trata de perceber qualo sentido da caminhada a cumprir, é queé preciso ter sempre presente que o Se-nhor Jesus é o pioneiro de todos nós.Ele é a vanguarda. Importa, por isso,procurar saber o que Jesus fez e ensi-nou, a maneira como actuou, com quemse entendia, como os discípulos foramapreendendo a sua mensagem atravésdo que Ele fazia e dizia, e pelo modocomo abordava as pessoas e as reco-lhia; e como, após a ressurreição, essamensagem era transmitida. Cada coisanova deve encarar-se com o espírito deacolhimento; mas também com a cons-ciência de que isso é o que se pode ar-ranjar.

Para além de tudo o mais, até peloseu modo muito pessoal de conviver,o generoso ganhador de amigos, foiD. Albino um dos Homens da Igrejado melhor espír ito de missãoecumenicista; e que, tendo sabido sercom a sua muito pessoal pastoralidadede humaníssima convivência, o Bispo domelhor espírito ecuménico, admitiu queem obras e instituições pastorais da Igrejapossam participar cidadãos menos fa-vorecidos, como os divorciados; estan-do, aliás, na mais ortodoxa linha pasto-ral do Concílio Ecuménico, que já dáfundamento para não serem excluídosde participar na Pastoral socio-caritativada Igreja, conforme o jornal diocesanoda Cáritas de Coimbra fazia publicar elembrar o que nos documentos concili-ares já estava consignado:

“O grupo socio-caritativo –nestecaso as Misericórdias – é um espaço pri-vilegiado na Igreja para integrar pessoas“afastadas” de outras acções pastorais,por razões “jurídicas”, como por exem-plo, muitas pessoas divorciadas” (CaritasDiocesana, Maio 2003).

Pastoral da benevolência, da compre-ensão, do justo critério, de umahumaníssima alma de acolhimento, quedá corpo real à palavra de Cristo “vindetodos a Mim…”

Agora que o Céu o chamou, e a

morte em nada lhe mudou o semblanteda alma, aprendi com a sua abalada destemundo que morrer não é acabar. É di-latar a vida para além do tempo, à di-mensão da Fé em que D. Albino acredi-tou e ensinou a acreditar – e daí, o cha-mar-se-lhe “vida eterna”.

Morrer foi apenas deixar a condiçãode peregrino, e entrar no Santo dos San-tos, no santuário eterno, onde o tempojá não se conta.

Quando em Manteigas puder pere-grinar até junto do seu túmulo, conver-sarei com ele, e vou contar-lhe, comoquem lhe reza as contas da saudade, oque dele disseram, que partiu tão rápidoe com surpresa para todos.

E foi assim o que recolhi a seu res-peito de entre os muitos e sensibilizantestestemunhos:

- Homem de serviço generoso, comhorizontes abertos e sem reticências naalma.

- Respirava Fé e transpirava sereni-dade e confiança, bem como bondadee presença sempre jovial, e sempre mui-to próximo dos mais pobres.

- Foi um pastor de atenção e aten-ções para com todos, e sem discriminarquem quer que fosse.

- Soube promover estruturas, e semdelas se tornar escravo nem senhor, sem-pre capaz de compreender e acompa-nhar a evolução dos tempos e dos acon-tecimentos

- Lembrá-lo é mais do que alimen-tar apenas uma saudade; é prolongar-lhe a memória no exemplo da sua vida,que foi sempre para todos.

- No seu modo de ser pastor, foi omais cativante testemunho de uma pas-toral de proximidade e convívio; e quefoi sempre, e também, uma pastoral debenevolência, de compreensão, de jus-to critério, e de uma humaníssima almade acolhimento, sem quaisquer reticên-cias nem discriminações.

- Cumpriu-se o que ele sempre de-sejou: vontade de voltar à serenidade eao silêncio. Mas não se lembrou de que,como a S. Francisco Xavier, se lhe apli-ca com mérito a legenda: “O defuntoainda fala”.

- Foi a pé ao encontro da morte.- Foi um homem à frente do seu tempo.- Intérprete da sociedade e dos mais

necessitados, deixou por onde passouuma marca sua muito própria de hu-manismo e cativante bondade.

- Um homem simples muito próxi-mo dos mais pobres, destacando-se o seuhumanismo, a ponderação, a simplicida-de, a sua presença constante junto de quemmais precisava da sua bondade.

Um bispo do povo, e de quem sem-pre quis sentir-se próximo.

Nunca lhe tremeram as pernas, se-não só no dia em que o Cardeal D. An-tónio Ribeiro o informou de que iriaser nomeado bispo.

Todos estes dados foram colhidosem fontes de informação e comunica-ção social: Diário de Notícias, Diáriode Coimbra, Diário de Aveiro, Voz daVerdade, Voz das Misericórdias, Notí-cias de Manteigas, Voz Portucalense, ODever, A Guarda, A Defesa, Espiral,Notícias da Covilhã.

Na hora em que o Céu no-lo arre-batou, não lhe dizemos “adeus!”; por-que continuaremos a senti-lo connosco.A saudade sublinhará sempre uma pre-sença de quem já partiu. Mas dizemos-lhe só, e na mais agradecida amizade-saudade: “até um dia!”

Se alguém lhe deve saudade-amiza-de, tenho um especial orgulho nessa dí-vida, porque me fica como uma marcana alma.

CONVOSCO, SOU UM DE VÓS”

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FAMÍLIA E IGREJAnos caminhos da Nova Evangelização

Segue-se uma seleção dos arSegue-se uma seleção dos arSegue-se uma seleção dos arSegue-se uma seleção dos arSegue-se uma seleção dos artigos do associado Joaquim Bortigos do associado Joaquim Bortigos do associado Joaquim Bortigos do associado Joaquim Bortigos do associado Joaquim Borges Macedo Tges Macedo Tges Macedo Tges Macedo Tges Macedo Teles, residenteles, residenteles, residenteles, residenteles, residente em Meridãose em Meridãose em Meridãose em Meridãose em Meridãos(T(T(T(T(Tendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmentendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmentendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmentendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmentendais), concelho de Cinfães, que têm vindo a ser publicados com regularidade, quinzenalmente, no jornale, no jornale, no jornale, no jornale, no jornal

diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.diocesano “Voz de Lamego”, com a assinatura BORGES MACEDO (BM). A seleção é de Urtélia Silva.

NOTA PRÉVIAForam publicadas as conclusões a

nível nacional sobre os caminhos da novaevangelização na Igreja, na sequência dostrabalhos que se vão desenrolando nalinha de se «Repensar a Pastoral em Por-tugal». Consta no ponto 19 dessas mes-mas conclusões: «Criar dinâmicas decompromisso nas comunidades locais ena Igreja diocesana, nos vários sectoresda pastoral (...).» Compreende o ponto3 do Programa Pastoral da diocese deLamego: «Opções pastorais para a nos-sa diocese para o ano pastoral 2011-2012: Família e Igreja nos caminhos danova evangelização.»

FAMÍLIA E EDUCAÇÃOÉ habitual ouvir-se dizer que as fa-

mílias abdicaram da educação dos fi-lhos. Os pais acham que não são capa-zes de educar porque, como não que-rem dar aos filhos a educação que re-ceberam, classificando-a de antiquadae desajustada aos tempos “modernos”,preferem deixá-los entregues à sua sor-te ou à sociedade em que vivem. Ouseja, fazem o mesmo que o agricultor àárvore que semeou ou plantou: deixa-aentregue à terra onde a colocou, não seimportando de que ela tenha adubo ouestrume, água suficiente; não coloca umaestaca para que ela cresça direita e comsegurança; não corta os rebentos que apodem minar ou desencaminhar; não apoda para que ela não cresçadesordenadamente, não chegando a darfrutos. (...). Enfim: Para quando a for-mação humana e cristã dos pais? Paraquando a formação das verdadeirasfamílias? Para quando a preocupaçãode que os jovens só serão verdadeira-mente seguros na fé, se tiverem umafamília que os apoie? (B.M., 1.11.11)

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO ANTE MATRIMÓNIONão foi por acaso que um grande investigador sobre EDUCAÇÃO chegou à

conclusão de que a verdadeira educação «começa 20 anos antes do ser humanonascer». (...) Quem se debruçar sobre o documento do Conselho Pontifício para aFamília, verificará que da preparação para o Matrimónio Cristão e Católico fazparte a preparação remota (...), próxima (...) e imediata (...). Chegamos à conclusãode que da Família é que parte toda a formação. (...) e se as nossas famílias vivemlonge de Deus, como podem dar aos seus membros o Amor que esse mesmoDeus tanto lhes dedica? (B.M., 15.11.11)

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO NA FÉOnde estão os cristãos seguidores do Mestre dos mestres, do Senhor dos se-

nhores para levar os responsáveis pela Educação (...) a imitar a família de Nazarénas pessoas de JOSÉ, MARIA E JESUS? (...) Como é feliz a família que se deixaconduzir pela Palavra do Senhor Jesus!... «Família que reza unida permanece uni-da.» (...) Como é belo e dá felicidade tentar fazer com que a Palavra de Deusoriente o rumo de vida de cada família (...), quando o Deus da Palavra está nanossa ação. Mas para que isso aconteça é necessário ter uma intervenção e açãocontínuas e permanentes. (...) Vamos empenhar-nos em evangelizar, usando todasas forças e energias que o Senhor nos concede. (B.M., 27.12.11)

EDUCAÇÃO EM FAMÍLIA, DESDE A INFÂNCIADe facto estamos convencidos que mais ninguém, mas absolutamente, pode

substituir uma família, na verdadeira acepção da palavra, quando se trata de pro-porcionar uma boa educação.

(...) Nós, IGREJA DO SENHOR JESUS CRISTO, precisamos de formar osfuturos pais e os que de momento enfrentam um ambiente difícil, para que estesreconheçam que sem Deus no centro da Família é impossível educar os seus filhos,desde o seu primeiro momento de vida já no seio materno. (B.M., 30.11.11)

FAMÍLIA E PRESENÇA DE DEUSA Sociedade em que vivemos tende a esquecer Deus, colocando-O fora do seu

percurso. Isto verifica-se de uma maneira especial na vida da Família. (...), confor-me recordou S. Paulo a Timóteo: «diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-dejulgar os vivos e os mortos, peço-te, encarecidamente, pela sua vinda e pelo seureino: proclama a Palavra, insistem em tempo propício e fora dele, convence, re-preende, exorta com toda a compreensão e competência» (2 Tm. 4, 1-2). Acreditoque se Paulo vivesse nestes tempos, preocupar-se-ia com a realidade do sentimentode «intimismo» que se verifica nos membros da sua Igreja, ostracizando tudo aquiloque deveriam dizer e fazer sem medo e com a força interior de quem prega aquiloque deve ou devia viver. (...) Vamos criar grupos de famílias, por mais pequenosque sejam, em cada comunidade paroquial que tentem levar por diante um progra-ma de formação a fim de que sejam fermento para o mundo que tenta destruí-las.(...) Deus, que nos ama e nunca nos abandona, que quer construir uma sociedade deAMOR, se torne o centro da vida familiar. (B.M., 17.01.12.)

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FAMÍLIA E IGREJANOS CAMINHOSDA NOVA EVANGELIZAÇÃOCada vez dou mais realce àquela fra-

se de Pascal (...): «Cristo morreu de bra-ços abertos para que nós não vivêsse-mos de braços cruzados.» Decorreu, du-rante três dias, com início em 29 demovembro de 2011 a vigésima Assem-bleia Plenária do Conselho Pontifíciopara a Família, que teve como tema «Os30 anos da exortação Familiaris Consortio

do Papa João Paulo II», em que o car-deal E. Antonelli, presidente do Conse-lho, revelou, na apresentação do evento,que, apesar das atividades desenvolvidaspelo dicastério da Cúria Romana, as fa-mílias, após 30 anos, se encontram ain-da em situação de «grande dificuldade».(…)

Nas nossas reflexões sobre o Evan-gelho, há necessidade de uma«CRISTIFICAÇÃO» MUITO PRO-FUNDA da vida do ser humano, paraque a Nova Evangelização seja uma re-alidade. (B.M., 24.01.12)

O AMBIENTE SOCIAL E A FAMÍLIAComo cristãos não nos podemos deixar levar por pessimismos exagerados ao

verificar que o ambiente social é adverso à existência de uma família sólida e cristãem profundidade. Mas, muito menos devemos embarcar no optimismo exagera-do de quem perante um mundo de facilitismo desenfreado, deixa correr, entra nocaminho do já não há nada a fazer, ou tudo está bem porque isto ainda não estámau como dizem (...). O Senhor Jesus quando chamou os primeiros discípulosdisse-lhes a determinada altura «vinde e vede» e ainda «vigiai e orai». Encaremos arealidade. O que quereria Jesus significar com as expressões que acabo de citar? (...)Ganhemos consciência de que muito há a fazer (...). Vamos pegar na PALAVRADE DEUS, nos documentos da Igreja e façamo-los chegar às famílias que sedizem cristãs.

Desfaçamos todos os «tabus» de que as famílias (pais de hoje) se deixaramenfermar, a fim de que, com a força do Senhor Jesus, consigamos trazê-las para oPAI. (...) Só o poderemos conseguir quando juntarmos «muitos bocados de fer-mento» para levedar a «massa» - criando pequenos grupos de famílias que leiam ereflitam em conjunto e com verdade a Palavra de Deus e as orientações da Igreja.(B.M., 30.01.12)

FAMÍLIA “SANTUÁRIO DE VIDAO Concílio Vaticano II chamou à família «Igreja doméstica» (LG, 11) onde

Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido. Por sua vez o mesmoConcílio ensinou que: «A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intima-mente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar» (GS, 47). «Des-ta maneira a família, na qual convivem várias gerações, que se ajudam mutuamen-te em adquirir maior sabedoria e em harmonizar os direitos pessoais com outrasexigências sociais, constitui o fundamento da sociedade» (GS, 52).

Na exortação apostólica de Sua Santidade João Paulo II à Igreja em geralFamiliaris Consortio, a família é apelidada de «Santuário de Vida», isto é, «lugar sa-grado», pois é aí que a vida humana surge como de uma nascente sagrada e écultivada e formada. É missão sagrada da família guardar, revelar e comunicar aomundo o Amor e a Vida. (B.M., 14.02.12)

FAMÍLIA e “CURSOS PARA CASAIS”Apoiando-me no poema que o nosso bispo D. António Couto citou (...) no

seminário de Resende, na festa da sua padroeira, N.ª S.ª de Lourdes, «podem tirartudo ao homem neste mundo (dinheiro, bens materiais e culturais) não ficará maispobre, podem metê-lo na prisão, não tirarão a liberdade, mas se lhe tirarem ascanções que aprendeu em criança no seio da família, esse mesmo homem perderáo seu rumo», vou transcrever (...) o que escreveu Monsenhor Amílcar Amaral, em1970, como prefácio ao livro «Curso para Casais»: (...) O Concílio Vaticano IIdetermina: os pais devem ser reconhecidos como os primeiros e principais educa-dores. Esta função é de tanta importância que, onde não existir, dificilmente pode-rá ser suprida» (G.E.3). (...) De facto, esta obra é difícil e gigantesca; não há, porvezes, pessoas preparadas para se lançarem a ela ou para a concretizarem; faltaminstrumentos de trabalho para a sua realização; a mentalidade da sociedade actualnão está convencida da sua imperiosa necessidade. No entanto, ela é urgente eextremamente necessária. Pois, como dizia o Dr. Grasset: «Cada geração tem aresponsabilidade da geração seguinte.» (B.M., março.12)

espiral16 Jubileu Conciliaravivar a torcida que fumega

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PORPORPORPORPOR Manuel António Ribeir Manuel António Ribeir Manuel António Ribeir Manuel António Ribeir Manuel António Ribeirooooo

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Os valores do cristianismo estão por vezes refénsde linguagens dessoradas por um moralismodesencarnado, incapaz de perscrutar os anseios

mais profundos do homem do nosso tempo. Foi para reagira esta frieza glaciar que, há cinquenta anos, João XXIII sur-preendeu a Igreja e o mundo, ao convocar um concílio ecu-ménico. Nessa assembleia magna da Igreja católica reuniram-se os bispos do mundo inteiro para, sem o controlo docentralismo da Cúria Romana, delinearem caminhos sintoni-zados com as «alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias»do homem contemporâneo. Retomava-se, assim, uma tradi-ção da Igreja, quando em momentos cruciais da sua históriasentiu necessidade de definir caminhos que assegurassem umamaior fidelidade à sua missão. João XXIII, bom conhecedorda história da Igreja, sabia que esses concílios tinham sidoconvocados para resolverem crises desagregadoras, desde asheresias cristológicas, como o Arianismo (Niceia, em 325) ouo Nestorianismo (Éfeso, em 431), até aos abusos do clero(concílios medievais de Latrão). O Papa viu no Vaticano II a«flor de uma primavera inesperada», quando fez a sua con-vocação, em junho de 1960, rompendo com a inérciaatrofiadora dos que temiam a abertura da Igreja. Após oencerramento do Vaticano II, em 1962, gerou-se em toda aIgreja uma espantosa onda de renovação, graças à qual ascomunidades absorviam dos textos conciliares uma energiapropulsionadora de criatividade e de entusiasmo. Mas essedinamismo renovador tem vindo a debilitar-se nos últimostempos, a ponto de ter hoje uma irrelevante visibilidade. Istodeveria ser motivo de reflexão. A necessidade de regressar àsfontes do rejuvenescimento da Igreja terá hoje uma maiorpertinência do que há meio século, já que as dimensões daviragem cultural e da presente crise se tornaram ainda maisdesafiadoras. Neste tempo em que o exílio de Deus deixouum vazio que a racionalidade pura se mostra incapaz de pre-encher, cabe aos cristãos testemunhar que Deus não abando-na o homem, mesmo quando tudo parece abandoná-lo.

A energia de todos os começos é a confiança, sem aqual se vão atrofiando os ânimos e se vai debilitando

a capacidade de imaginação. A esperança é sempre uma apostaarriscada, mas é ela que alimenta a paixão inventiva e quetorna possível a revelação iminente de novos horizontes. As-sim acontecerá, por mais forte razão, com a esperança cristã,à luz da qual toda a realidade humana é vista como umaponte para a nova criação. Os cristãos não deverão fazer outracoisa senão prolongar o eco das primeiras testemunhas daressurreição, quando viram no sepulcro vazio uma ausênciaindicadora da irrupção da eternidade no tempo. Assim como

a natureza não resiste à pujança da primavera, também a hu-manidade não ficará indiferente à emergência do «amor émais forte do que a morte» exaltado no Cântico dos Cânticos.Seja quais forem as obscuridades com que hoje a humanida-de se confronta, é no seu seio que o Espírito de Deus conti-nua a pairar.

A história bíblica da revelação mostra bem que os caminhos de Deus muitas vezes se cruzaram com as

vias tortuosas dos humanos. Só pode compreender esta apa-rente contradição quem aceitar que a fé desafia os limites e asfronteiras da razão. Escapa, por isso, à evidência racional umaexperiência íntima que nos cabe anunciar a um mundo per-turbado por um futuro cheio de incertezas: Deus só quer aplenitude da realização do Homem. O amor, tal como Deus,não se aprisiona numa definição, porque está para além da-quilo que as palavras dizem por si. Mas essa inefabilidade, aoser acolhida por nós, vivifica-nos e deslumbra-nos com umaamplitude infinita. Todos nós já teremos feito a experiênciade instantes de amor que desenharam a nossa vida comoeterna. A luminosidade que irradia dos olhos de uma criançaou o esplendor que por vezes invade o começo de uma rela-ção amorosa são experiências que dançam no inefável. À se-melhança do que acontece nestes pequenos momentos deTabor, o mundo de hoje tem o direito a esta boa notícia:sabemos que vamos morrer, mas esse mistério da nossafinitude não nos separa da eternidade. Essa é a experiênciafundamental a celebrar e a testemunhar neste tempo pascal.O primeiro dia da criação, que viu Deus separar a luz dastrevas (Gn. 1,4), desabrochou neste acontecimento inaudito:Os tempos novos anunciados pelos profetas inauguraram-sena madrugada em que Cristo, luz sem ocaso, se ergueu vito-riosamente da escuridão do túmulo da morte. Cabe aos cris-tãos não só guardar esta alegria no seu coração mas tambémdizê-la e gritá-la.

A esperança é sempre a abertura para um mundo novo.Ela implica uma visão positiva da vida, decorrente

não só da fé que a sustenta mas também de uma definiçãodo homem que, pela sua própria natureza, tem um enormepotencial de mudança. O ser humano sempre foi autor dasua própria construção e sempre se revelou sujeito e ator deevolução. É verdade que a história é manchada por horrorese massacres horríveis, mas também é povoada de grandezase de avanços que conduziram o homem para patamares deum maior reconhecimento da sua grandeza. Temos, pois, deacreditar que ele saberá enfrentar novas situações históricas,de forma construtiva, dando novo vigor às intuições do bompapa João, que no discurso de abertura do Concílio convida-va a Igreja a olhar o futuro sem receio. Esta ousadia só apoderá ter quem acreditar que, tal como aconteceu na manhãde Páscoa, também hoje Deus manifesta-se ao mundo comoo Amor «mais forte que a morte».