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espiral ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N.º 48 - JULHO/SETEMBR .º 48 - JULHO/SETEMBR .º 48 - JULHO/SETEMBR .º 48 - JULHO/SETEMBR .º 48 - JULHO/SETEMBRO de 2012 O de 2012 O de 2012 O de 2012 O de 2012 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento T enho ouvido repetida a vários sócios a palavra «péssimismo», e sempre associada ao futuro da Fraternitas. Parece que se perdeu com o passar dos anos e com o declinar do tempo aquele entusiasmo dos pri- meiros tempos, dos anos em que o Padre Filipe Figueiredo andava entre nós, movia corações e congregava pessoas à volta do sonho de reunir os padres dispensados num movi- mento, com as suas mulheres e filhos. Todavia, também sabemos que a idade avançada é uma idade madura, caracterizada por determinantes específicos tais como interioridade, responsabilidade, sabedoria, e, particu- larmente, quando diminuem as forças, abre-se a possibilida- de de confiar mais nos outros, além de, claro, em Deus. Ou seja, à desesperança do pessimismo, haveremos de contrapor o optimismo da esperança, apoiada na confiança. Muitos sócios da Fraternitas já viveram a primeira metade da vida, outros estão a atravessar a fronteira e são poucos os mais novos. Os da meia-idade lutam por sobreviver no mundo em tempos de crise. Há muita agitação, por causa, sobretudo, das questões do emprego, das incertezas na economia, da preo- cupação com o futuro dos filhos e, também, com os sinais de fraqueza da saúde que começam a manifestar-se. Os de idade mais avançada chegaram ao tempo em que o “eu” é obrigado a olhar, não tanto para fora, mas para essa outra realidade, imensa e profunda, de sua vida interior. É a idade em que se sente não ter forças para nada, sente-se o cansaço, fazem-se balanços da vida. E é do eu, contemplativo, que nasce a vontade e disponibilidade para rezar, para dar conselho, para encorajar. Em todas as idades há perguntas ainda a precisar de res- postas, há sentimentos de insegurança pelos caminhos ainda não experimentados, há a incertezas e confuões, tantas vezes por causa de expetativas frustradas. A virtude de viver em sociedade, em pequenas comuni- dades - como a família, o grupo, a associação, o movimento - é que a partilha das experiências impede de perder tempos preciosos e montes de energia, quando, cada um, procura por si só, as respostas, as vitórias. Esper Esper Esper Esper Esperança, antído ança, antído ança, antído ança, antído ança, antídoto contr o contr o contr o contr o contra as cr a as cr a as cr a as cr a as crises ises ises ises ises A nossa irmã desolação. - falta de fé, esperança e amor, básicamente, também faz parte da nossa vida. A crise dos encontros com as realidades som- brias da vida é a coroa da mesma moeda que é a nossa reali- dade pessoal. Isto é, a vida tem sonhos, utopias, experiências belas e, também, medos, monstros e amarguras. E brotam pergun- tas, que podem ser santas ou insidiosas: “Será que valeu a pena ter entregue a Deus e aos outros o melhor da minha vida?... Não foi uma loucura e utopia o que até agora tentei viver?... Que ganhei?... Onde estão os frutos de tanto trabalho e esforço? Os outros perceberam, recolheram e vão dar uso e continuidade ao que eu fiz?...” Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anos faço o mesmo que fazia aos 18. Na altura, fazia o que podia; agora... também faço o que posso..» T odas estas palavras querem ser um convite a parti cipar no nosso 33.º Encontro Nacional da Fraternitas, que se realiza de 5 a 7 de outubro, des- ta vez no Norte, em Devesas, Vila Nova de Gaia (ver página 9 deste jornal). Iremos falar da Esperança, percorrendo a Bí- blia, para continuarmos a percorrer os caminhos da nossa vida e os trajetos do mundo onde nos movemos. Nas crises de desalento e desesperança, a vida parece per- dida. As forças, que antes se tinham e que lutavam em nosso favor, vão-se debilitando e acabando. Mas o que não acaba é a experiência do que realmente somos, temos e queremos. No meio deste tipo de crise, corre-se o perigo de nos distanciarmos de tudo e de todos, de nos isolarmos no nos- so pequeno mundo, de termos a impressão de que algo mui- to importante se perdeu. Perguntemo-nos: «Onde está e o que vale a intimidade com Deus, que nos conduziu até aqui?... Onde estão aqueles gestos generosos cheios de “santa loucura”? Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anos faço o mesmo que fazia aos 18. Na altura, fazia o que podia; agora... tam- bém faço o que posso..» Fernando Félix Fernando Félix Fernando Félix Fernando Félix Fernando Félix

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Tenho ouvido repetida a vários sócios a palavra«péssimismo», e sempre associada ao futuro daFraternitas. Parece que se perdeu com o passar dos

anos e com o declinar do tempo aquele entusiasmo dos pri-meiros tempos, dos anos em que o Padre Filipe Figueiredoandava entre nós, movia corações e congregava pessoas àvolta do sonho de reunir os padres dispensados num movi-mento, com as suas mulheres e filhos.

Todavia, também sabemos que a idade avançada é umaidade madura, caracterizada por determinantes específicos taiscomo interioridade, responsabilidade, sabedoria, e, particu-larmente, quando diminuem as forças, abre-se a possibilida-de de confiar mais nos outros, além de, claro, em Deus.

Ou seja, à desesperança do pessimismo, haveremos decontrapor o optimismo da esperança, apoiada na confiança.

Muitos sócios da Fraternitas já viveram a primeira metadeda vida, outros estão a atravessar a fronteira e são poucos osmais novos.

Os da meia-idade lutam por sobreviver no mundo emtempos de crise. Há muita agitação, por causa, sobretudo, dasquestões do emprego, das incertezas na economia, da preo-cupação com o futuro dos filhos e, também, com os sinaisde fraqueza da saúde que começam a manifestar-se.

Os de idade mais avançada chegaram ao tempo em que o“eu” é obrigado a olhar, não tanto para fora, mas para essaoutra realidade, imensa e profunda, de sua vida interior. É aidade em que se sente não ter forças para nada, sente-se ocansaço, fazem-se balanços da vida. E é do eu, contemplativo,que nasce a vontade e disponibilidade para rezar, para darconselho, para encorajar.

Em todas as idades há perguntas ainda a precisar de res-postas, há sentimentos de insegurança pelos caminhos aindanão experimentados, há a incertezas e confuões, tantas vezespor causa de expetativas frustradas.

A virtude de viver em sociedade, em pequenas comuni-dades - como a família, o grupo, a associação, o movimento- é que a partilha das experiências impede de perder tempospreciosos e montes de energia, quando, cada um, procurapor si só, as respostas, as vitórias.

EsperEsperEsperEsperEsperança, antídoança, antídoança, antídoança, antídoança, antídottttto contro contro contro contro contra as cra as cra as cra as cra as crisesisesisesisesises

A nossa irmã desolação. - falta de fé, esperança eamor, básicamente, também faz parte da nossavida. A crise dos encontros com as realidades som-

brias da vida é a coroa da mesma moeda que é a nossa reali-dade pessoal.

Isto é, a vida tem sonhos, utopias, experiências belas e,também, medos, monstros e amarguras. E brotam pergun-tas, que podem ser santas ou insidiosas: “Será que valeu apena ter entregue a Deus e aos outros o melhor da minhavida?... Não foi uma loucura e utopia o que até agora tenteiviver?... Que ganhei?... Onde estão os frutos de tanto trabalhoe esforço? Os outros perceberam, recolheram e vão dar usoe continuidade ao que eu fiz?...”

Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anosfaço o mesmo que fazia aos 18. Na altura,fazia o que podia; agora... também faço oque posso..»

Todas estas palavras querem ser um convite a participar no nosso 33.º Encontro Nacional daFraternitas, que se realiza de 5 a 7 de outubro, des-

ta vez no Norte, em Devesas, Vila Nova de Gaia (ver página9 deste jornal). Iremos falar da Esperança, percorrendo a Bí-blia, para continuarmos a percorrer os caminhos da nossavida e os trajetos do mundo onde nos movemos.

Nas crises de desalento e desesperança, a vida parece per-dida. As forças, que antes se tinham e que lutavam em nossofavor, vão-se debilitando e acabando. Mas o que não acaba éa experiência do que realmente somos, temos e queremos.

No meio deste tipo de crise, corre-se o perigo de nosdistanciarmos de tudo e de todos, de nos isolarmos no nos-so pequeno mundo, de termos a impressão de que algo mui-to importante se perdeu.

Perguntemo-nos: «Onde está e o que vale a intimidadecom Deus, que nos conduziu até aqui?... Onde estão aquelesgestos generosos cheios de “santa loucura”?

Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anos faço o mesmoque fazia aos 18. Na altura, fazia o que podia; agora... tam-bém faço o que posso..»

Fernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando Félix

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Livros de associados da Fraternitas

editados em 2012 e em 2003-2005

“ALADI - 25 ANOS A DIMI-NUIR A DIFERENÇA”,Boaventura Santos Silveira (2012), im-pressão da gráfica Imprensa Portuguesa– Porto, 320 páginas].

Obrigado aBoaventura Silveira,que já nos preparouo que se apresenta.

Do autor: «Nafreguesia de Lavra(concelho deMatosinhos), emabril de 1987, foracriada uma institui-

ção para deficientes mentais, com a se-guinte denominação: AssociaçãoLavrense de Apoio ao Diminuído Inte-lectual (ALADI).

No início deste ano de 2012, a pedidoinsistente da atual direção, escrevi a histó-ria da ALADI, para comemorar os seus25 anos de vida. Foi atribuído a esta obrao título “ALADI - 25 anos a diminuir adiferença”. É um livro em e. Esta casaacolhe 60 utentes (em regime de interna-to), a que acrescem mais 50 no Centro deAtividades Ocupacionais (CAO). No pró-ximo mês de setembro um novo móduloserá solenemente inaugurado, em que noLar respetivo serão admitidos mais 24 ele-mentos, enquanto que no CAO poderãoser aceites mais 20 utentes.

Dividi a citada obra em três fases, asaber: - 1ª Fase (1980/1987), em que sefala da génese embrionária da ALADI,focando-se figuras que muito fizerampor esta Instituição, sensibilizando e di-namizando toda a comunidade lavrensee parte da população matosinhense;

- 2ª Fase (1987/1994), período doarranque decisivo e ganhador, com açõesmúltiplas e marcantes, a começar pelaelaboração, aprovação e publicação emDiário da República dos respetivos es-tatutos;

- 3ª Fase (1994/até...2012), períodoque começou pela inauguração do LarResidencial e com a assinatura de pro-tocolos para o funcionamento deste edo CAO pela Segurança Social.

CONVITE/DESAFIO A UMCOMPROMISSO (páginas 9 e 10): Asobras, na maioria dos casos, ilustram ospensamentos, as emoções e, sobretudo,os sonhos, os quais, ao passarem pelocoração, normalmente motivam as pes-soas e as levam a concretizá-los no seudia a dia. Foi precisamente o que se pas-sou com o nascimento da “AssociaçãoLavrense de Apoio ao Diminuído Inte-lectual” (ALADI), que, em abril de 2012,completa 25 anos de existência ao ser-viço dos mais frágeis da comunidadelavrense, assim como das freguesias econcelhos limítrofes.

Há tempos, a atual Direção daALADI, na pessoa do seu presidente,dr. Joaquim José Fernandes Branco, mecomunicou que era intenção dos respon-sáveis desta nobre Instituição espoletaruma comemoração condigna, por oca-sião das BODAS DE PRATA destaObra, verdadeiramente humanitária ecom um inquestionável pendor e carizde solidariedade social, a qual ocupa umlugar cimeiro no íntimo de todos aque-les que a conhecem mais de perto.

E, a seguir, em jeito de pedido, lan-çou-me um convite…desafiador: “Gos-

Vamos anunciando as obras lite-Vamos anunciando as obras lite-Vamos anunciando as obras lite-Vamos anunciando as obras lite-Vamos anunciando as obras lite-

rárias com base nos dados dispo-rárias com base nos dados dispo-rárias com base nos dados dispo-rárias com base nos dados dispo-rárias com base nos dados dispo-

níveis no secretariado. O critérioníveis no secretariado. O critérioníveis no secretariado. O critérioníveis no secretariado. O critérioníveis no secretariado. O critério

tem sido, então, os que vão sendotem sido, então, os que vão sendotem sido, então, os que vão sendotem sido, então, os que vão sendotem sido, então, os que vão sendo

publicados recentemente e opublicados recentemente e opublicados recentemente e opublicados recentemente e opublicados recentemente e o

biénio ou o triénio, consoante abiénio ou o triénio, consoante abiénio ou o triénio, consoante abiénio ou o triénio, consoante abiénio ou o triénio, consoante a

abundância da produção literária,abundância da produção literária,abundância da produção literária,abundância da produção literária,abundância da produção literária,

“recuando” no tempo. No último“recuando” no tempo. No último“recuando” no tempo. No último“recuando” no tempo. No último“recuando” no tempo. No último

número, devido à homenagem anúmero, devido à homenagem anúmero, devido à homenagem anúmero, devido à homenagem anúmero, devido à homenagem a

Henrique Maria dos Santos,Henrique Maria dos Santos,Henrique Maria dos Santos,Henrique Maria dos Santos,Henrique Maria dos Santos,

dedicámo-nos “apenas” à suadedicámo-nos “apenas” à suadedicámo-nos “apenas” à suadedicámo-nos “apenas” à suadedicámo-nos “apenas” à sua

obra – “ Aventura Feliz”.obra – “ Aventura Feliz”.obra – “ Aventura Feliz”.obra – “ Aventura Feliz”.obra – “ Aventura Feliz”.

taríamos que tal evento ficasse perpetu-ado através de um livro, com a históriadesta Instituição, com uma certa profun-didade e rigor, em que sejam relatadastodas as ocorrências havidas desde a suaconceção até ao presente.”

Após madura reflexão, aceitei “embar-car” em tão ambiciosa aposta, devido aoobjetivo em vista: falar sobre algo que, deuma maneira incontornável, foca e colocaLavra como possuidora de uma Associa-ção deveras singular – a ALADI –, plas-mada num genuíno humanismo cristão,condimentado por uma saudável partilhade alto quilate e de bairrismo sadio.

Escrevera Fernando Pessoa, insignepoeta português do séc. XX, que, a res-peito de qualquer obra digna eenaltecedora do ser humano, existe ocontributo sistemático e decisivo de duascoordenadas – a vontade de Deus e oacarinhar dum sonho pela pessoa –,condensado no seguinte verso inseridona sua famosa “Mensagem” (II Parte,no poema intitulado “O Infante”, cons-tituído por três quadras), considerada ajoia dos seus escritos poéticos:

“Deus quer, o homem sonha e a obranasce” (1º verso da 1ª quadra). Acabariao dr. Joaquim José Fernandes Branco porsolicitar os meus préstimos para estaação. Aceitei, embora reconhecendo emmim próprio uma certa ousadia/atrevi-mento. Porém, estava em causa uma es-pecífica entidade, reconhecida ereferenciada pela sua forte e exclusiva de-dicação aos mais necessitados de tecidosocial, cuja existência depende da conju-gação de uma real e contínua interaçãoentre os que podem e os que precisam.

Imbuído dum sincero espírito de ser-viço, aceitei o repto, presumindo, de ante-mão, que não me faltaria uma prestimosacolaboração das muitas pessoas a quemirei recorrer, para a obtenção de dadosindispensáveis, que pretendo registar, paraos transmitir aos vindouros.»

UrUrUrUrUrtélia Siltélia Siltélia Siltélia Siltélia Silvvvvvaaaaa

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PREFÁCIO escrito por D. ManuelClemente, Bispo do Porto: «Nos 25 anosda ALADI (Associação Lavrense deApoio ao Diminuído Intelectual) pedem-me breves palavras de introdução a estetrabalho do Dr. Boaventura SantosSilveira, tão evocativo e meritório comooutros da sua escrita. Particularmentemeritório, aliás, por descrever um quar-to de século da ALADI, Obra que par-ticularmente avulta, em Lavra e não só.Não poderia deixar de as dar, como aquivão, em simplicidade convicta.

Mérito também para a atual Direção,encabeçada pelo Dr. Joaquim JoséFernandes Branco, que não quis esque-cer os que sonharam e guiaram aALADI, desde o saudoso P.e Dr. Ma-nuel Domingos da Silva Lopes e o Prof.Júlio da Silva Oliveira. Destes e outrosnomes, tão justamente lembrados, dá oautor vasta referência ao longo das pá-ginas que se seguem. Junte-se a minhadevotada homenagem também.

A palavra que especialmente aquideixo é sobre o cariz “profético” que aALADI sobremaneira tem. E explico-o: “Profecia” é palavra de Deus, dita nomundo para bem dos homens. Há quema oiça e a transmita fielmente, sendo as-sim profeta, como o foi Jesus Cristo,por máxima razão. Há, muito felizmen-te, quem participe do Espírito de JesusCristo e se torne assim em profecia eevangelho, tempo após tempo e espaço

após espaço. Assim a ALADI, em La-vra e onde chegue.

Como no Antigo Testamento, tam-bém agora no Novo em que estamos eno que à profecia respeita. No tempodos vários Isaías, as atenções estavammais viradas para os palácios dos reis eas suas obras, grandes ou pequenas,combinações e tratados, glórias e reve-zes das políticas… Menos para o que osprofetas divinamente diziam, sobre aretidão face a Deus e aos outros, o bem-orar e o bem-fazer.

Nas duas décadas e meia que aALADI já viveu, também grandes fac-tos e enormes promessas encheram no-ticiários e distraíram vidas, muitas vidas.Promessas em catadupa, de paraísos àmão e geralmente a crédito; figuras me-diáticas de diversos setores, por diver-sas razões, melhores ou piores… Tudose previu e parecia possível, com umacondição prévia: a de se ser apto e ca-paz para produzir e consumir, comcânones apertados de esteticismo àHollywood. O produzir redundavamesmo em “produzir-se” a si mesmo,segundo tais cânones e expectativas al-tas. Sacrifícios, a manterem-se, eram nes-ta linha e apenas nela. Chamavam-lhe,por vezes, “qualidade de vida”, comose a vida em si mesma – toda e qualquervida humana – não tivesse qualidadebastante e só por si.

Em 2012 sabemos que não é assim,

que não pode ser assim, nem deveria ser,mesmo que fosse materialmente viável.Com os autênticos profetas, concentra-mos o olhar e o coração no que real-mente vale e verdadeiramente acontece,em cada ser humano, um por um, novoou velho, saudável ou enfermo, mais oumenos capacitado. E percebemos quenada vale tanto como isso mesmo, nadacompensa tanto como a entreajuda, ocarinho oferecido, o serviço humilde dapequenez de todos, a persistência no ser-viço, que comprova o amor.

Em 2012 sabemos, não tendo des-culpa nem álibi para não o saber, entreos escombros de tanta ilusão. Há 2000anos, o futuro do mundo não se jogavaem Roma, nem sequer em Atenas, ouem qualquer outro pólo da atração ge-ral. Jogava-se e ganhava-se nos discre-tos gestos em que Jesus resumia o Céu ea Terra na caridade autêntica do serviçoa todos, honrando a humanidade ondeela mais doía: nos pobres de todas aspobrezas, nos pequenos mais esqueci-dos, marginalizados e sós.

O que louvo, agradeço e sublinho,nos 25 anos da ALADI, é isto mesmo:a profecia do futuro, proferida e escritana vida de todos os seus sucessivos res-ponsáveis, colaboradores e benfeitores,como na vida de quantos serviu e serve.

Obrigado, ALADI, por nos mostra-res também “os novos céus e a novaterra!”»

“AUTOTRANSCENDÊNCIA –terceiro passo existencial”, Manuel Joa-quim Cristo Martins (julho, 2012), Pau-linas Editora, 263 páginas.

Na CONTRACAPA, o autor: “Esteé o terceiro livro da nossa trilogia. EmAutoconhecimento, o primeiro passoexistencial, propusemo-nos descobrir onosso Ser. Em Autoconsciência, o se-gundo passo existencial, propusemo-noscentrarmo-nos no Ser. Em Autotrans-cendência, o terceiro passo existencial,propomos construirmo-nos no Ser. OSer dos humanos é a sua «estrutura espi-ritual», é a «rocha» do Evangelho, sobrea qual toda a construção resiste à chuva

e aos ventos. Na perplexidade desta se-gunda década do século XXI, em quetodas as estruturas da sociedade pare-cem desmoronar-se, esta trilogia traz amensagem de que a Humanidade nãoestá num beco sem saída. Ao fundo dotúnel já vislumbramos os pardosverdejantes do reinado do Homem In-tegral que nos oferece a vivência plena,em progresso e em paz, porque ilumi-nada pelo projeto «HOMEM» do nos-so Deus.”

Ainda na CONTRACAPA, VascoVentura: “Cristo Martins faz do huma-nismo o seu sacerdócio, quer através dosseus livros quer no contacto direto com

as pessoas, numa partilha total do que oestudo lhe revela, a reflexão aprofundae a experiência consagra. Na sua peda-gogia peculiar, surpreende-nos com asíntese dos seus diagramas, com a pro-fundidade dassuas explicações ecom a simplicida-de da sua lingua-gem. O seu cam-po de ação temsido largo e diver-sificado: empre-sas, escolas, insti-tuições, associa-ções…”

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O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publica-O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publica-O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publica-O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publica-O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publica-

dos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristodos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristodos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristodos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristodos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristo

Martins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e noMartins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e noMartins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e noMartins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e noMartins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e no

coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Leve-coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Leve-coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Leve-coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Leve-coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Leve-

mos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conce-mos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conce-mos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conce-mos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conce-mos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conce-

deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au-deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au-deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au-deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au-deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au-

tores e seus colaboradores.tores e seus colaboradores.tores e seus colaboradores.tores e seus colaboradores.tores e seus colaboradores.

A nossa profunda gratidão.A nossa profunda gratidão.A nossa profunda gratidão.A nossa profunda gratidão.A nossa profunda gratidão.

Os exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendoOs exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendoOs exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendoOs exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendoOs exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendo

ser solicitados pelos sócios.ser solicitados pelos sócios.ser solicitados pelos sócios.ser solicitados pelos sócios.ser solicitados pelos sócios.

“ A MARGEM DA TRANSCENDÊNCIA – UMESTUDO DA POESIA DE RUY BELO”, ManuelAntónio Silva Ribeiro (2004), com o patrocínio da Fun-dação Calouste Gulbenkian e da Fundação para a Ciên-cia e do Ensino Superior.

No Espiral nº 15, abril/junho de 2004, na página 6,consta a notícia da sua publicação e alguns dados adici-onais, transcrevendo-se: «Leiam-se a Voz Portucalensede 19.5.2004 e a Brotéria de Julho.2004.»

“O CÉU: ONDE DEUS NOSESPERA PARA SEMPRE”, Fran-cisco Sousa Monteiro (2004), Editori-al A.O.- Braga, 216 páginas.www.jesuitas.pt/AO.

Também no Espiral nº 15, abril-ju-nho de 2004, página 6, consta a notíciada sua publicação e alguns dados adici-onais. Acrescenta-se a partir do livro:

DEDI-CATÓRIAdo autor - “A todos osque me pre-cederam nafé, na glóriae estão uni-dos ao infi-nito Amorde Deus.

A todosos que co-migo crêem

em Jesus Cristo e O amam.A todos os que até ao fim dos tem-

pos gozarão a glória na unidade do in-finito Amor de Deus Trino.

Ao P. Filipe de Figueiredo, instru-mento de Deus no meu caminho paraEle e que agora, no céu, há-de ler estelivro, no Coração de Deus, para sem-pre. (…) “

Na CONTRACAPA, um trecho doPrefácio, pelo P. Peter Stillwell – “Tra-ta-se de uma meditação tranquila quepor vezes se transforma em oração deacção de graças ou de louvor. O ritmoé o do próprio espírito, soprando ondequer. As várias partes da obra não obe-decem, portanto, à sequência de umaargumentação lógica nem a uma siste-matização escolar. Mais parecem um rio,espraiando os braços em delta, antes demergulhar no mar. Com efeito, o lugarpara onde a reflexão caminha, nunca estáem dúvida. O autor enuncia-o claramen-te nas primeiras páginas da introdução.É «o nosso êxtase de amor por Deus… ‘face a face’… finalmente, sem véus,sem hesitações nem negações, para todoo sempre…»”

“MARCOS- O EVANGELISTADO ANO B / algumas notasintodutórias”, Artur da Cunha Olivei-ra (2003), edição do autor, União Grá-fica Angrense, Açores, 75 páginas].

Na INTRODUÇÃO, o autor: «(…)E aquilo que é preciso dizer antes demais é que a leitura litúrgica, uma vezque fragmentada, jamais nos poderá darum retrato perfeito do autor nem aexacta ideia do que é a sua obra. O queestá pois em causa, neste momento, éaproveitar a ocasião para dar a conhe-cer um pouco quem é Marcos e algu-mas características e temas do segundodos quatro evangelistas da nossa Bíblia(…)”.

Em CONCLUSÃO, o autor: “(…)O estilo de Marcos é um estilo vivo, re-alista, quase testemunhal, em que os as-pectos humanos de Jesus merecem-lheum interesse e atenção que não se en-contram nos outros evangelistas, sobre-tudo nos sinópticos Mateus e Lucas.

Sinal de quê? Se se não trata apenasde modismos literários, Marcos e Pe-dro interessaram-se, na sua obra de evan-gelização aos Romanos, em acentuar ahumanidade de Jesus. Romanos aliás

habituados à deificação de imperadorese de heróis. No caso, tratava-se, comojá vimos, de que não era um homemque se fizera Deus, mas um Deus queassumira verdadeiramente a naturezahumana. É mesmo este um dos aspec-tos que mais falta faz na evangelização ena espiritualidade da Igreja Católica: acentralidade da pessoa de Jesus de Na-zaré, em que se fez homem o Verbo deDeus. «E o Verbo fez-Se homem e veiohabitar connosco» (Jo 1, 14a).

Enfim, a Humanidade foi assumida,pessoalmente, pela Divindade, passan-do então a realizar-se, como se se tra-tasse de um sacramento – sinal eficaz,aquilo que nos revela Gn 1, 27: «Deuscriou o ser humano à sua imagem».”

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JESUS (em hebraico Yešu`a) énome teofórico de pessoa. Querdizer: na sua composição entra

um elemento proveniente do nome deDeus (neste caso, Yahweh, que foi comoo Senhor do Universo Se nomeou a Moi-sés naquela célebre teofania do MonteHoreb (Ex 3, 14) e um elemento dosubstantivo “ajuda” ou “salvação” que,em hebraico, é išu`ah. Foi, com efeito,este o significado de Jesus supostamen-te manifestado em sonhos a José: Ela(Maria) dará à luz um filho ao qual da-rás o nome de Jesus, porque Ele salvaráo povo dos seus pecados” (Mt 1, 21).Jesus quer, pois dizer: “O Senhor(Yahweh) salva”, ou, “o Senhor ajuda”.É, portanto, nome de pessoa.

Foram quase uma dúzia as pessoasque na Bíblia se chamaram Jesus, desdeum levita (2 Cor 31, 15), no reinado deEzequias (716-687 a. C.), e um repatria-do da Babilónia (Esd 2, 5), no tempode Ciro (531-529 a. C.), rei persa, atéum descendente de David (Lc 3, 29) eum colaborador do apóstolo Paulo (Cl4, 11). Nome exclusivamente de pes-soa, o que não acontece com Cristo que,no Antigo Testamento, nunca aparececomo tal. E, no Novo Testamento, va-mos já ver como e por que se usa Cris-to como, supostamente, o nome pes-soal do Senhor Jesus.

CRISTO deriva do adjectivo grego Christós/ê/ónque, por sua vez, vem do

verbo chriô cujo significado é “ungir”.Cristo, em grego, é pois, aquele que foiungido, que recebeu a unção própria dosreis e dos sacerdotes. Na Bíblia usa-secristo para traduzir o hebraico mašiahou o aramaico mešiha, donde nos veioo termo “messias”. Com este termo de“messias” se designa no Antigo Testa-mento todo o homem que foi consa-grado a Deus por meio de uma unção(reis e sumos sacerdotes) ou também,que foi especialmente escolhido por

Deus para levar a cabo um desígnio di-vino. É o caso do rei persa, Ciro, en-quanto escolhido por Yahweh para li-bertar os Judeus do cativeiro dababilónia: Eis o que diz o Senhor a Ciro,seu ungido (messias/cristo), a quem to-mou pelas mãos… (Is 45, 1), como odos patriarcas. Nunca, porém, se usa naBíblia do Antigo Testamento o termo“messias” (em grego, “cristo”), comonome de pessoa. Por outro lado, a ex-pressão “ungido de Yahweh”, que seaplicava ao soberano reinante, só no úl-timo século pré-cristão é que principioua ser usada com referência ao prometi-do redentor de Israel, que se concebiacomo rei. Daí passou à linguagem dosrabinos e aos escritos do Novo Testa-mento: o aguardado redentor de Israelé designado por o Messias, ou o Cristo,em grego. Veja-se esta significativa pas-sagem do IV Evangelho: dois dos dis-cípulos de João Baptista, ouvindo o seumestre tratar Jesus por Cordeiro de

Deus… seguiam Jesus. Jesus voltou-see, notando que eles o seguiam, pergun-tou-lhes: “Que pretendeis?” Eles disse-ram-lhe: “Rabi – que quer dizer Mestre– onde moras?”. Ele respondeu-lhes:“Vinde e vereis”. Foram, pois, e viramonde morava e ficaram com Ele nessedia. Era ao cair da tarde. André, o ir-mão de Simão Pedro, era um dos doisque ouviram João e seguiram Jesus. En-controu primeiro o seu irmão Simão, edisse-lhe: “Encontrámos o Messias!” –que quer dizer Cristo (Jo 1, 36-41). Omesmo (Messias/Cristo) se lê no episó-dio da Samaritana (Jo 4, 25).

A verdade é que se estava, então, naexpectativa do Messias, o libertador, o reidescendente de David que restituiria a an-tiga soberania ao Povo de Israel, o qual,de há mais de meio milénio, andava sujei-to ao domínio de povos estrangeiros(Assíria, Babilónia, Síria, Roma). Haviamesmo quem se preparava para a revoltacontra Roma. Inclusivamente, no númerodos Doze Apóstolos poderá ter havidoum desses: Simão, o Zelota (Mt 10, 4; Lc6, 15) ou Cananeu (Mc 3, 18).

Estranhamente ou não, já depoisda morte do Senhor Jesus e da reve-lação de que Ele continuava existin-do, a morte não O vencera (Ressur-reição), naquela criação literária lucanado desaparecimento definitivo doSenhor Jesus (Ascensão) os discípu-los ainda perguntavam: “Senhor éagora que vais restaurar o Reino deIsrael?” (Act 1, 6). E foram os cris-tãos helenistas, nomeadamente quan-do a primitiva Comunidade dos dis-

e/ouJesus CrCrCrCrCrisisisisistttttoooooArArArArArtur Oliveiratur Oliveiratur Oliveiratur Oliveiratur Oliveira

Designação Jesus Cristo Senhor Jesus Senhor Jesus Nosso Senhor Jesus de Jesus Cristo Cristo Jesus Cristo NazaréAutorMarcos 71 6 1 4 - - 3Mateus 159 12 - 1 - - 4Lucas Evangelho 92 12 1 - - - 3 Actos 30 8 12 16 4 2 6João 242 17 - 3 - - 3Paulo 20 226 9 222 2 5 -

Designações bíblicas do Senhor Jesus

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VII Encontro Mundialdas Famílias

Reflexão de Mons. Bruno ForteReflexão de Mons. Bruno ForteReflexão de Mons. Bruno ForteReflexão de Mons. Bruno ForteReflexão de Mons. Bruno Forte

que participou do encontro dasque participou do encontro dasque participou do encontro dasque participou do encontro dasque participou do encontro das

famílias, em Milão, com uma nu-famílias, em Milão, com uma nu-famílias, em Milão, com uma nu-famílias, em Milão, com uma nu-famílias, em Milão, com uma nu-

merosa delegação.merosa delegação.merosa delegação.merosa delegação.merosa delegação.

Bento XVI concluiu, em Milão, o VII Encontro Mundialdas Famílias com o tema “A

família, o trabalho, a festa, que decorreude 30 maio a 3 junho de 2012.

Trata-se de um evento com umamensagem forte e atual. Para entendê-lo, parto de algumas frases da carta queo Santo Padre enviou para aconvocatória: “Nos nossos dias, a or-ganização do trabalho, pensada e atuadaem função da concorrência de merca-do e do máximo lucro, e a concepçãoda festa como ocasião de evasão e deconsumo, contribuem para desagregara família e a comunidade e para difun-dir um estilo de vida individualista. Porisso, é necessário promover uma refle-xão e um compromisso que visem con-ciliar as exigências e os tempos de tra-balho com aqueles da família e recupe-rar o sentido verdadeiro da festa, espe-cialmente do domingo, dia do Senhor edia do homem, dia da família, da co-munidade e da solidariedade.”

Estas palavras subentendem uma altavisão do valor e do papel da família: osesposos unidos no sacramento do ma-trimónio são imagem da Trindade divi-na, do Deus que é amor e, por issomesmo, relação e unidade do Pai, queeternamente ama, do Filho, que é eter-namente amado, e do Espírito, vínculodo amor eterno. Nesta unidadeprofundíssima cada um é si mesmo, en-quanto acolhe totalmente o outro. À luzdeste modelo, a vocação matrimonial évista como unidade plena e fiel dos dois,comunhão responsável e fecunda depessoas livres, abertas à graça e ao domda vida aos outros.

Seio do futuro, a família é escola devida e de fé, na qual crianças, adolescen-

tes e jovens podem aprender a amar aDeus e ao próximo, e os idosos, raízespreciosas, podem à sua vez sentir-seamados. A família é, assim, sujeito ativono caminho da comunidade cristã e dasociedade civil, não somente destinatá-ria de iniciativas, mas protagonista dobem comum em cada um dos seus com-ponentes.

Para que isso aconteça, o pacto con-jugal, que é a base da família, deve servivido de acordo com algumas regrasfundamentais: o respeito da pessoa dooutro; o esforço para entender melhoras suas razões; o saber tomar a iniciativade pedir e oferecer perdão; a transpa-rência recíproca; o respeito pelos filhoscomo pessoas livres e a capacidade deoferecer a eles razões de vida e de espe-rança; o deixar-se questionar pelas suasesperanças, sabendo escutá-los e dialo-gando com eles; a oração, com a qualpedir a Deus a cada dia um amor mai-or, buscando ser um para o outro, e jun-tos, para os filhos, dom e testemunhoDele.

Um estilo de vida semelhante não é

cípulos do Senhor Jesus se separou do Ju-daísmo, e porque menos ligados à tradi-ção judaica, que passaram a usar Cristocomo segundo nome próprio de Jesus.Foi em Antioquia que, pela primeira vez,os discípulos começaram a ser tratadospelo nome de “cristãos” (Act 11, 26). Tal-vez pudessem ter vindo a ser denomina-dos “jesuânicos”. Mas não. Os eventuais“jesuânicos” passam a ser “cristãos”, e oeventual “Jesuanismo” deu-nos o Cristia-nismo, para o que contribuiu não poucoo apostolado paulino (Veja-se, por exem-plo: Rm 6, 4.8-9; 8, 17; 1 Cor 1.12-13.17.22-24). Pelo Quadro seguinte po-demos ficar sabendo como o Senhor Je-sus foi nomeado nos Evangelhos, nosActos e em Paulo. Nos primeiros, predo-mina o nome Jesus: 594 vezes, contra ape-nas 20 em Paulo. Cristo: só 55 vezes nosEvangelhos e Actos e 226 em Paulo.

Concluindo: Jesus e Cristo são amesma pessoa. Mas quem? Homens deIsrael, escutai estas palavras: Jesus deNazaré, Homem acreditado por Deusjunto de vós, com milagres, prodígios esinais que Deus realizou no meio de vóspor seu intermédio… Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da mortepois não era possível que ficasse sob odomínio da morte (Act.2,22-24), pro-clamou Pedro no dia do Pentecostes.Era esta a fé e a cristologia da primitivaComunidade Cristã. Assim, podemosafeiçoar-nos pelo nome Jesus como pelotermo Cristo. Só que os resultados nãoserão os mesmos. Enquanto que, afei-çoando-nos pelo nome Jesus, constituí-mos uma como que relação pessoal euma vivência mais íntima com Ele, as-sim como um mais eficaz compromis-so com a Sua Mensagem; preferindo adenominação Cristo já não é bem a re-lação com a pessoa mas com a entida-de, e é mais fácil deixarmo-nos levarpelo formalismo e contentarmo-noscom a aceitação de dogmas, de cânones,de rituais e de tradições. Há muito poraí quem encha a boca com “Cristo, Cris-to, Cristo”, mas não seja capaz de, porsi, dar de graça – digamos – um copode água a quem tem sede, comoindubitavelmente faria o Senhor Jesus.

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nem fácil, nem óbvio, e muitas vezes ascondições concretas da existência ten-dem a enfraquecê-lo: pensemos na pos-sível fragilidade psicológica e afetiva nasrelações entre os dois e em família; noempobrecimento na qualidade dos re-lacionamentos que pode conviver comtriângulos amorosos aparentemente es-táveis e normais; no normal stress origi-nado pelos hábitos e pelos ritmos im-postos pela organização social, pelostempos de trabalho, pelas exigências demobilidade; pela cultura de massa vei-culada pelos meios de comunicação queinfluenciam e corroem as relações fami-liares, invadindo a vida da família commensagens que banalizam a relação con-jugal. Sem uma contínua, recíproca aco-lhida dos dois, abrindo-se um ao outro,não poderá haver fidelidade duradouranem alegria plena: “A flor do primeiroamor murcha, se não supera a prova dafidelidade” (Soren Kierkegaard). Torna-se então mais do que nunca vital conju-gar o compromisso cotidiano em famí-lia com as condições que o sustentemno âmbito do trabalho e na experiênciada festa.

Cada trabalho – manual, profissio-nal e doméstico – tem plena dignidade:por isso é justo e correto respeitar cadauma dessas formas, também nas esco-lhas de vida que os esposos são chama-dos a fazer pelo bem da família e espe-cialmente dos filhos. Contribui para obem da família tanto quem trabalha emcasa, quanto quem trabalha fora! Claro,o trabalho apresenta muitas vezes aspec-tos de cansaço, que – segundo a fé cristã– o Filho de Deus quis fazer própriopara redimí-los e sustentá-los de dentro,como lembra uma página belíssima doConcílio Vaticano II: ele “trabalhou commãos de homem, pensou com mentede homem, agiu com vontade de ho-mem, amou com coração de homem”(Gaudium et Spes, 22).

Inspirando-se no Evangelho, é pos-sível, então, formar-se como homens emulheres capazes de fazer do própriotrabalho um caminho de crescimentopara si e para os outros, apesar de to-dos os desafios contrários. Isso requer

viver o trabalho, por um lado cheio deresponsabilidade pela construção da casacomum (trabalhar bem, com consciên-cia e dedicação, qualquer que seja a tare-fa que se tenha); por outro lado, em es-pírito de solidariedade para os mais fra-cos, tutelar e promover a dignidade decada um. Nesta luz, compreende-se ple-namente como a falta de trabalho sejauma ferida grave na pessoa, na família eno bem comum, e porque a segurançae a qualidade das relações humanas notrabalho sejam exigência moral que deveser respeitada e promovida pelo indiví-duo, começando pelas instituições e pe-las empresas.

A propósito da festa, por fim, deve-se evidenciar o quanto ela ajude ao cres-cimento da comunhão familiar: nascen-do do reconhecimento dos dons rece-bidos, que abraçam os bens da vidaterrena, as maravilhas do amor recípro-co, a festa educa o coração à gratidão eà gratuidade. Onde não há festa, não hágratidão, e onde não há gratidão, o domse perde! É necessário aprender, então,a respeitar e celebrar a festa, principal-mente como tempo de perdão recebi-do e doado, pela vida renovada pelamaravilha agradecida, até se tornar ca-pazes de viver os dias feriais com o co-ração de festa.

Isso é possível, se começa-se da aten-ção às festas que marcam o “léxico fa-

miliar" (aniversários, onomásticos...), atécelebrar fielmente como família o en-contro com Deus no domingo, dia doSenhor, encontro de graça capaz de pro-duzir frutos profundos e surpreenden-tes. Quem vive a festa, é estimulado aexercitar a gratuidade, experimentandocomo seja verdadeiro que existe maisalegria em dar do que receber! A festanos ensina como amar seja viver o domde si tanto nas escolhas de fundo da exis-tência, quanto nos gestos humildes davida quotidiana, aprendendo a dizer pa-lavras de amor e a ter gestos correspon-dentes, que jorrem de um coração gra-to e alegre.

A negação da festa, especialmente dodomingo, é por isso um atentado aobem precioso da harmonia e da fideli-dade conjugal e familiar: e é significati-vo que esta mensagem ressoe por Mi-lão, capital vital e laboral da economia eda produção do País. Apostar na famí-lia fundada sobre o matrimónio e aber-ta ao dom dos filhos e esforçar-se parapromover as condições de trabalho ede respeito para a festa, que ajudem nasua serenidade e crescimento, é contri-buir para o bem de todos, livrando-sede lógicas muitas vezes redutivas e con-fusas com relação ao seu valor de céluladecisiva da sociedade e do seu amanhã.É a mensagem que de Milão parte hojepara a Itália e para o mundo inteiro!

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Já está próxima a celebração doSínodo dos Bispos que irá refletir sobre o tema da evangeliza-

ção de modo a poder dar indicações àIgreja universal, indicações que depoisdeverão ser concretizadas, traduzidas erealizadas de modo diferenciados e es-pecífico nas diversas áreas culturais domundo. No entanto, continua sendo ver-dade que esse tema, quando é anuncia-do como "nova evangelização", diz res-peito sobretudo ao Ocidente europeu enorte-americano, as terras de mais oumenos antiga cristianização, terras em quese viveu uma sólida pertença às Igrejascristãs, mas que hoje – depois do fenó-meno da secularização e do desencantoreligioso – estão contaminadas pelo in-diferentismo.

Nas últimas décadas, caíram as ide-ologias portadoras de uma esperançamessiânica intra-humana, fracassou atransmissão da fé cristã pela geração queestá desaparecendo às novas geraçõesque se assomam ao horizonte, tornou-se muito fraco o anúncio do evangelhocomo boa notícia aqui e hoje.

Eis, portanto, a urgência de repensaras palavras de Jesus, que enviava os seusdiscípulos em missão no mundo inteiro(cf. Mc 16, 15), até as extremidades daterra (cf. Atos 1, 8), entre todos os po-vos e até o fim dos tempos (cf. Mt 28,19-20). Isso na convicção de que o nos-so tempo, a contemporaneidade – oúnico tempo que conhecemos ao viverimersos neles – é sempre um "momen-to favorável" para o anúncio da boa no-tícia de Jesus Cristo, o único Filho deDeus e o autêntico homem.

No tempo oportuno ou não opor-tuno (eúkairos – Ákairos, cf. 2 Tm 4, 2),

se há em nós uma humanização queocorre na sinergia entre a graça do Se-nhor – isto é, o Espírito Santo – e onosso espírito, então nós devemostestemunhá-lo, anunciá-lo a quem nospede conta do nosso modo de viver,dessa esperança que nos habita (cf. 1Pd3, 15), dessa prática do amor que Jesusnos pede para viver quotidianamente.

Então, é inútil procurar estratégias outáticas de nova evangelização, é pernici-oso ter medo da nossa fraqueza devidaa uma diminuição numérica, mas não designificado, é mundano esperar em umretorno da cristandade tranquilizante dostempos passados.

Mas então o que devemos procurar,como devemos nos mover nesse êxo-do de uma terra que deixamos para tráspara nos dirigir rumo a uma margemque não conhecemos, mas que sabemosque é um horizonte habitado pela po-tência de Jesus ressuscitado e vivo, à es-pera do nosso desembarque para iniciarum outro êxodo, para passar de êxodoem êxodo até o reino?

Acredito que, acima de tudo, deve-mos mudar a nossa atitude para com ahumanidade em que estamos imersos e

da qual fazemos parte: uma humanida-de já não cristã, mas que devemos ou-vir nas suas manifestações mais impres-sionantes e nos seus gemidos. ComoIgreja, devemos nos exercer a uma lei-tura sábia da História, sem ceder à ten-tação de assumir posições defensivas,de encastelar-nos em cidadelas que for-çosamente contam com o número ecom os recintos: é fácil ceder a essa faltade fé no Senhor da História, o Senhoramante dos seres humanos, o Senhor,que "quer que todos os seres humanossejam salvos" (1Tm 2, 4), e se tornarprofetas da desgraça, como advertiaJoão XXIII há 50 anos atrás, no iníciodo Concílio.

Devemos ouvir para aprender, naconsciência da autonomia da História ena liberdade da humanidade que, noentanto, continua sendo querida porDeus, composta por pessoas cada uma“criada à imagem de Deus” (cf. Gn 1,26): esse selo impresso por Deus emcada ser humano, justo ou pecador, nun-ca poderá falhar. Trata-se também denão alimentar ingenuidade, de não serdesprovido de humanidade, mas capazde discernir a presença do mal reconhe-cendo, porém, o caminho de humani-zação e de autocorreção do qual o serhumano é capaz, como nos recordaChristoph Theobald.

É nesse espaço em que a Igreja en-contra o mundo na escuta e no diálogorecíproco que os cristãos munidos deuma fé madura, exercitada, pensada, di-zem e vivem o evangelho, acima de tudocomo escola de humanidade, caminhode humanização: cristãos que sabemdespertar confiança naqueles que encon-tram, naqueles dos quais se fazem pró-ximos; cristãos que sabem discernir nosoutros a fé humana que os habita e aosquais podem doar palavras, atitudes eações que narram Jesus de Nazaré.

A crise de fé hoje, antes de ser crise

A nova evangelizaçãoA nova evangelizaçãoA nova evangelizaçãoA nova evangelizaçãoA nova evangelizaçãoe os novos profetas da desgraçae os novos profetas da desgraçae os novos profetas da desgraçae os novos profetas da desgraçae os novos profetas da desgraça

A reflexão é de Enzo Bianchi,A reflexão é de Enzo Bianchi,A reflexão é de Enzo Bianchi,A reflexão é de Enzo Bianchi,A reflexão é de Enzo Bianchi,

monge e teólogo italiano, prior emonge e teólogo italiano, prior emonge e teólogo italiano, prior emonge e teólogo italiano, prior emonge e teólogo italiano, prior e

fundador da Comunidade de Bose,fundador da Comunidade de Bose,fundador da Comunidade de Bose,fundador da Comunidade de Bose,fundador da Comunidade de Bose,

num artigo publicado na revistanum artigo publicado na revistanum artigo publicado na revistanum artigo publicado na revistanum artigo publicado na revista

Jesus, de agosto de 2012.Jesus, de agosto de 2012.Jesus, de agosto de 2012.Jesus, de agosto de 2012.Jesus, de agosto de 2012.

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de fé em Deus, é uma crise de confian-ça humana, é a falta de confiança nosoutros, na vida, no futuro e, acima detudo, é fraqueza em acreditar no amor(cf. 1Jo 4, 16). Apenas em um terrenotão humanizado e predisposto, Deuspode então realizar o que só Ele é ca-paz de operar: doar a fé, isto é, iniciaruma relação com quem ouve a sua pa-lavra, que quem encontra Jesus Cristo,porque “a fé nasce da escuta” (Rm 10,17).

Então, a Igreja encontrará em seu li-miar aqueles que desejam e pedem paraser introduzidos em Jesus Cristo, quepedem para se tornar o seu corpo atra-vés do Batismo e da Eucaristia... Assimocorre a geração em Cristo e na Igreja,assim a evangelização se torna eventode encontro, de relação viva entre Deuse o ser humano: no tecido de relaçõeshumanas quotidianas entre cristão teste-munha evangelizador e o ser humanode hoje. A evangelização, de fato, sem-pre depende do testemunho pessoal dequem evangeliza: o evangelho, a boanotícia só acontece no encontro, na re-lação com uma pessoa.

Os homens e as mulheres de hojecontinuam a perguntar: Como viver?Nós não lhes respondemos procuran-do novos métodos mais refinados, nãorespondemos com a expectativa de umpercurso fácil: tentamos apenas viver afé e, portanto, despertar confiança, semter medo, porque o Senhor está con-nosco, e quanto mais nos sentimos fra-cos, mais opera em nós a sua força (2Cor 12).

PROGRAMADia 5 (sexta-feira)20h00 – Jantar, antecedido de

acolhimento.21h15 – Apresentação do

orientador e lançamento do tema.

Dia 6 (sábado)8h30 – Pequeno – Almoço.9h00 – Laudes.9h45 – Plenário/Grupos.11h00 – Intervalo.11h30 - Plenário/Grupos.13h00 – Almoço.15h00 – Plenário/ Grupos.16h45 – Intervalo.17h30 - Plenário/Grupos.19h00 – Vésperas. Eucaristia.20h00 – Jantar.21h15 – Serão: partilha de vida.

Tertúlia.

Dia 7 (domingo)8h30 – Pequeno-almoço.9h00 – Laudes.9h45 – Plenário.12h00 – Eucaristia, com ensaio

prévio.13h00 – Almoço

1. Ninguém é indiferente às neces-sidades dos outros.

2. Só é possível continuar a acorrera casos de verdadeira necessidade separtilharmos também. Por isso, não es-perem que lhes batam expressamenteà porta. Decidam-se: partilhem com osoutros através da Fraternitas.

3. Vão à caixa do multibanco maispróxima e façam uma transferênciainterbancária para a conta n.º 0033 00004521 8426 660 05. O montante depen-de apenas da vossa consciência. A Di-recção da Fraternitas fará com que che-

gue a quem precisa! Mandem ocomprovativo e dêem conhecimento dafinalidade.

4. Também podem depositar namesma conta bancária o valor da quotaanual de sócio: 30 euros - casal; 20 euros- pessoa singular; ou contribuir para oboletim «Espiral».

5. Contactem o tesoureiroFernando NevesAv. Nova, n.º 223770-355 PALHAÇA.Telefones 234 752 139; 968 946 913E-Mail: [email protected].

NOTA DE TESOURARIA: QUOTAS E SOLIDARIEDADE

ALOJAMENTODiária por pessoa:- 37 • (quarto individual);- 30• (quarto duplo ou triplo).Dormida e pequeno-almoço:- 26• (quarto individual);- 21• (duplo ou triplo).- Refeição:– Almoço ou jantar: 10 •.

COMO CHEGARO Seminário situa-se na rua Vis-

conde das Devesas, n.º 684, em VilaNova de Gaia.

É possivel obter a rota naInternet, na página maps.google.pt.Ali, clica-se em «Obter direcções»,escreve-se o endereço de origem e odo destino, e o programa traça omelhor percurso.

INSCRIÇÕESSecretariado: Urtélia SilvaRua Prof. Carlos Alberto Pinto de

Abreu, 33, 2ºEsq.3040-245 CoimbraTelefones 239 001 605; 914754706

(até às 21h15m)[email protected]

Convocatória33.º ENCONTRO NACIONAL

Local: Seminário Redentorista Cristo-Rei,em Devesas (Vila Nova de Gaia)

Tema: “A ESPERANÇA como fio condutor na narrativa Bíblica”Orientador: Pe. Rui Santiago, c.s.s.r.

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Kirche In: Sabe-se que existematualmente tensões entre a Igreja or-todoxa e a Igreja católica romana.Em seu entender, qual é a causa des-sas tensões?

Lorgus: Sei que há de facto tensões etambém leio o que sobre elas se escrevenos meios de comunicação. Mas na mi-nha atividade, quer pastoral quer comoconferencista, não me sinto minima-mente afetado por elas.

KI: Na Rússia houve sempre umaligação muito forte entre a Igreja eo Estado. Pode-se dizer que a Igre-ja ortodoxa é a Igreja do Estado?

L: De forma alguma. O Estado estámais orientado para uma colaboraçãocom a Europa e com as outras Igrejas,ao passo que, dentro da Igreja ortodo-xa, há um ambiente que rejeita essas ten-dências. Tanto a Igreja ortodoxa comoo povo mantêm uma atitude deceticismo face à Europa. Subsistem ain-da no povo tendências nacionalistascontrárias a uma abertura ao exterior.Há naturalmente um motivo psicológi-co para isso, que assenta no facto de aRússia ser de tal modo grande que oresto do mundo quase desaparece daconsciência das pessoas.

KI: Numa conferência em Viena,mencionou a existência duma criseantropológica na sociedade russa.Em que consiste essa crise?

L: O maior problema é o regresso

do homem aos seus próprios valores, àsua consciência de ser humano, pois aherança do passado é diametralmenteoposta ao retomar desta consciência.Não são os valores económicos quedevem estar no primeiro plano, mas simvalores como amor, vida, saúde, fé, sa-ber.

KI: Estes valores foram atropela-dos durante os setenta anos de regi-me soviético? Houve células ondeeles tivessem podido sobreviver?

L: O regime conduziu à destruiçãototal destes valores todos. Mas, realmen-te, também existiram essas células, for-madas por personalidades e famílias in-dividuais.

KI: Como foi que chegou à suafé e à sua vocação?

L: Os meus pais não eram crentes,mas alguns dos meus antepassados vi-nham de famílias sacerdotais. Porém,durante muito tempo não soube nadadisso. Os meus pais ocultaram esses fac-tos, já que era muito perigoso contar isso

às crianças. Foi só durante os meustempos de Universidade que me tor-nei crente.

KI: Como foi que lá chegou?L: Foi um impulso interior, mas,

naturalmente, essa aproximação nãoaconteceu de repente, cresceu lenta-mente. Provavelmente foi o amor àminha esposa, aos meus filhos.

KI: Era possível, na clandesti-nidade, ter acesso a literatura reli-giosa?

L: A minha geração cresceu comtextos copiados. Quando descobría-mos obras literárias, copiávamos oslivros e emprestávamo-los uns aosoutros. Foi assim que, põe exemplo, lium romance de Soljenitzyn numa noi-te, porque tinha de restituir as folhas

no dia seguinte.

KI: Para viver no regime soviéti-co como homem crente era necessá-ria uma grande dose de coragem.Qual era o perigo que se corria sen-do crente?

L: Os meus amigos e eu dissemosabertamente que tínhamos sido

Igreja Ortodoxa na Rússia

“O maior problema é o regresso dohomem aos seus próprios valores”

Versando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram oVersando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram oVersando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram oVersando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram oVersando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram o

padre orpadre orpadre orpadre orpadre ortttttodoodoodoodoodoxxxxxo russo ANDREJ Lo russo ANDREJ Lo russo ANDREJ Lo russo ANDREJ Lo russo ANDREJ LORORORORORGUS, que esGUS, que esGUS, que esGUS, que esGUS, que estudou Ttudou Ttudou Ttudou Ttudou Teologia e Psicologia. Feologia e Psicologia. Feologia e Psicologia. Feologia e Psicologia. Feologia e Psicologia. Fundou uma Fundou uma Fundou uma Fundou uma Fundou uma Faculdade de Psico-aculdade de Psico-aculdade de Psico-aculdade de Psico-aculdade de Psico-

logia na Univlogia na Univlogia na Univlogia na Univlogia na Univererererersidade Orsidade Orsidade Orsidade Orsidade Ortttttodoodoodoodoodoxxxxxa Ra Ra Ra Ra Russa de S. João o Tussa de S. João o Tussa de S. João o Tussa de S. João o Tussa de S. João o Teólogo, em Moscoeólogo, em Moscoeólogo, em Moscoeólogo, em Moscoeólogo, em Moscovvvvvo. Paro. Paro. Paro. Paro. Para além de Psicologia, ensinaa além de Psicologia, ensinaa além de Psicologia, ensinaa além de Psicologia, ensinaa além de Psicologia, ensina

Antropologia CrisAntropologia CrisAntropologia CrisAntropologia CrisAntropologia Cristã e Linguístã e Linguístã e Linguístã e Linguístã e Linguística Ortica Ortica Ortica Ortica Ortttttodoodoodoodoodoxxxxxa. Ta. Ta. Ta. Ta. Também assegurambém assegurambém assegurambém assegurambém assegura a assisa a assisa a assisa a assisa a assistência pastência pastência pastência pastência pastttttorororororal a um Lar paral a um Lar paral a um Lar paral a um Lar paral a um Lar para pessoasa pessoasa pessoasa pessoasa pessoas

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casado e tem dois filhos adultos.casado e tem dois filhos adultos.casado e tem dois filhos adultos.casado e tem dois filhos adultos.casado e tem dois filhos adultos.

Publicado em KirPublicado em KirPublicado em KirPublicado em KirPublicado em Kirche Inche Inche Inche Inche In, 12/2002, p, 12/2002, p, 12/2002, p, 12/2002, p, 12/2002, p. 26,27.. 26,27.. 26,27.. 26,27.. 26,27.Tradução de João SimãoTradução de João SimãoTradução de João SimãoTradução de João SimãoTradução de João Simão

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batizados. A consequência foi a nossaexpulsão da Juventude Comunista. Alémdisso, foi-nos instaurado um processo,que, aliás, não chegou a ser concluído.

KI: Há hoje na Rússia sinais decrescimento religioso na sociedade?

L: A renovação religiosa é um pro-cesso muito trabalhoso e difícil. No en-tanto, não se podem ignorar os sinais decrescimento. Qualquer visitante pode verque, na Rússia, por toda a parte igrejas econventos estão a ser recuperados e istoapesar de o povo viver com extremasdificuldades. As pessoas partilham daseguinte opinião: mesmo que passemosmal, queremos que, ao menos na Igreja,as coisas estejam bem.

KI: Qual é a relação dos jovenscom a Igreja?

L: Eu não posso julgar a atitude dosjovens em geral face à Igreja, mas estãomuito bem representada na Igreja.

KI: A Igreja russa tem muitos con-fessores e mártires. Qual é a atitudeda Igreja a respeito deles e das ten-sões que surgiram entre os confes-sores e aquelas pessoas que pensa-ram que seria melhor entrar em com-promissos com o regime?

L: Tais tensões não são particular-mente percetíveis, elas existem mais nosubconsciente. Foram cononizados mi-lhares destes mártires e praticamente to-das as Igrejas têm os seus próprios már-tires, muito venerados sobretudo local-mente. Há uma comissão específica queainda hoje acrescenta vários nomes à lis-ta dos mártires.

KI: O que é que se passa com oensino religioso na Rússia?

L: Nas escolas estatais ainda não háensino religioso, mas esperamos chegarlá. Há, no entanto, iniciativas de direçõesde algumas escolas a disponibilizarem oensino da religião como disciplina deopção livre. Aliás há uma matéria paratodos os alunos onde são ensinados osfundamentos da cultura russa. Mas esta

disciplina não é nem de religião nem deética. A Igreja tem vindo a reclamarconstantemente um ensino religioso pro-priamente dito, mas esbarra com a opo-sição dos funcionários educativos e tam-bém duma grande parte dos intelectuaisrussos. Quando o Patriarca uma vez semanifestou publicamente sobre o temado ensino da religião, levantou-se na im-prensa uma verdadeira campanha deoposição, na qual cientistas e intelectuaisassumiram um tom muito ofensivo paracom a religião.

KI: Pode-se dizer que também naRússia há uma intelectualidade for-te entre os fiéis da Igreja ortodoxa?

L: Há uma forte intelectualidade or-todoxa. Na era soviética os intelectuaiseram seguramente mais cristãos do queo restante povo.

KI: Como é o envolvimento soci-al da Igreja russa?

L: Há princípios orientadores de umenvolvimento desta natureza, mas aindafaltam forças em toda a parte para levaras coisas por diante. Atualmente a açãosocial da Igreja ortodoxa cinge-se so-bretudo às prisões e aos lares de crian-ças e de idosos.

KI: E como é com a falta de pa-dres na Rússia?

L: Verifica-se hoje em dia uma gran-

de afluência aos estabelecimentos deensino eclesiástico, mas a escassez de pa-dres é, apesar disso, muito grande. Talsituação pode explicar-se tendo em aten-ção que a pastoral ainda está em fase deestruturação. Temos hoje cerca de 20.000paróquias, mas precisaríamos de 200 mil.

KI: A Igreja ortodoxa russa foisempre fortemente clerical. Existealguma coisa como um despertar dosleigos?

L: Uma exigência do género da“Nós Somos Igreja” ninguém a faria naRússia. Mas os leigos são bastante ativose conscientes. Ao envolverem-se nasquestões eclesiais e religiosas, o seu prin-cipal desejo não é alcançar protagonis-mo, mas antes sublinhar que pertencemà Igreja.

KI: E como é a tensão entre po-bres e ricos?

L: Nos últimos dez anos a Igreja temvindo a fazer boas experiências no tra-balho com os pobres. Mas é muito difí-cil chamar os ricos à razão, quando odinheiro lhes subiu à cabeça. No entan-to, também há pessoas ricas que desco-briram o caminho da Igreja e se mos-tram dispostos a reaprender a humilda-de. Eu concordaria com a frase do bis-po latino-americano Dom Helder Câ-mara: “Queremos libertar os pobres dapobreza e os ricos do egoísmo.”

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«Amigos, só vi a notícia na TVI.Conheço o Sr. D. Januário e sei que não é homem com

interesses políticos. É um homem da Igreja, um homem bom,honesto, com sensibilidade humana aos problemas dos ho-mens. Vive com preocupações com este estado de coisas. Vêmais do que eu. E sente-se angustiado com o rumo que ascoisas tomam. E os responsáveis calam-se, fecham os olhos,não tem respostas... Mas nem ao menos se inquietam e nãoinquietam as consciências deste país, se é que os políticos atêm.

Vós estais muito mais dentro destes problemas que eu.Não se calem, não calem o movimento. Deixem que o Espí-rito fale, apoiem o Espírito que fala através dos profetas,que são incómodos...E é de lamentar se os bispos já se vie-ram demarcar de D. Januário. Lamento. Os bispos usam osolidéu, mas aquilo é só ornamento, adereço, de resto vivemamedrontados(…).

Por favor, ponham o movimento a andar, esclareçam ossócios, animem-nos, estimulem-nos. Eu apoio-vos se é paraanimar o Sr. D. Januário.»

Um abraço.,J.S.

«Estou com a proposta do Joaquim Soares e dou a mi-nha adesão ao D. Januário Torgal, congratulando-me por terlevantado a sua voz exprimindo a angústia que sofre o nossoPovo com as políticas que estão a ser implementadas e de-nunciar os aproveitamentos pessoais que ocorrem neste "pân-tano" de desolação, penúria e miséria.»

Parabéns D. Januário, estamos consigo»E.J.

SOLIDSOLIDSOLIDSOLIDSOLIDARIEDARIEDARIEDARIEDARIEDADEADEADEADEADECOM DCOM DCOM DCOM DCOM D. JANUÁRIO T. JANUÁRIO T. JANUÁRIO T. JANUÁRIO T. JANUÁRIO TORGAL FERREIRAORGAL FERREIRAORGAL FERREIRAORGAL FERREIRAORGAL FERREIRA

«Estou inteiramente de acordo com as palavras do nossoirmão J. S. sobre o significado da incómoda intervenção doSr. D. Januário. A este eu desejo manifestar a minha solidari-edade pela coragem, oportunidade e simplicidade com quenos faz chegar a linguagem de Jesus de Nazaré.

Esquecemos facilmente (bispos incluídos) que Jesus nãohesitou chamar "sepulcros caiados de branco" aos hipócritase poderosos do seu tempo.

Nunca os verdadeiros profetas foram peritos em medirpalavras»

A.C.«Estou plenamente de acordo com o A.C.. Só se ame-

drontam aqueles que não têm consciência das preocupaçõesda Igreja pelos mais castigados da sociedade. E talvez tam-bém aqueles a quem não falta o pão, mesmo arrancado dasmãos de quem o fabricou com muito suor e amor.»

M. P.

«Respondo a esta missiva. Ouvi com muita atenção a de-núncia profética do senhor D. Januário no famigerado pro-grama da TVI. Estou com ele, porque ele foi a voz do Espí-rito, a voz de alguém que profeticamente exerce a sua mis-são de homem da Igreja que vive os problemas e as angús-tias de tantos irmãos pobres, desprezados e humilhados poruma desgovernação vergonhosa, marcada pela insensibilida-de e pela astúcia de alguns políticos que se "governam", masnão governam. O aparecimento do senhor Ministro da De-fesa a meter-se no assunto e a tentar virar a opinião públicacontra o Bispo Profeta que, à semelhança de Amós, denun-cia os erros dos governantes, fez-me recuar a meados doséculo passado e reviver o que, então, foi feito ao saudosoBispo do Porto senhor D. António Ferreira Gomes a quemo poder político, então vigente em Portugal, desterrou paraRoma por ter tido a coragem de dizer ao governante Salazarque era preciso mudar de políticas. E, então como hoje, aConferência Episcopal reverentemente calou, consentiu, nãolevantou a voz e os senhores Bispos continuaram a ter mor-domias e honrarias. Será que agora se está a preparar algo desemelhante? O senhor D. Januário tem razão nas denúnciasque faz. Não ofendeu ninguém, a não ser aqueles a quem aconsciência acusa de maldade, porque a verdade incomoda.Ao senhor D. Januário é devido todo o apoio nesta sua mis-são de denúncia das injustiças, venham elas de onde vierem.»

J.M.

A Associação FRAA Associação FRAA Associação FRAA Associação FRAA Associação FRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITAS MOAS MOAS MOAS MOAS MOVIMENTO,VIMENTO,VIMENTO,VIMENTO,VIMENTO,

atratratratratraaaaavés de associados seus, manifvés de associados seus, manifvés de associados seus, manifvés de associados seus, manifvés de associados seus, manifesesesesesta solidariedade parta solidariedade parta solidariedade parta solidariedade parta solidariedade para com D. Januário Ta com D. Januário Ta com D. Januário Ta com D. Januário Ta com D. Januário T. F. F. F. F. Ferreirerreirerreirerreirerreira,a,a,a,a,

a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa,a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa,a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa,a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa,a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa,

em julho de 2012.em julho de 2012.em julho de 2012.em julho de 2012.em julho de 2012.