Espiritualidade racional e sem preconceitos

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Espiritualidade racional sem superstições e preconceitos INTRODUÇÃO O conhecimento da espiritualidade, de forma racional, sem superstições e sem preconceitos de qualquer espécie, é, para mim, o bem mais importante da vida. O objectivo deste texto é, em primeiro lugar, a expressão da minha gratidão a Deus e a todos aqueles que contribuíram para que esse conhecimento fundamental me chegasse, e, em segundo lugar, é a minha obrigação. Seria egoísmo possuir algo tão precioso e não o partilhar com quem o procura, como eu tenho procurado ao longo da minha vida. Este conhecimento não é nenhum segredo, bem pelo contrário. Basta ter Internet para o encontrar. E não é preciso gastar dinheiro, nem submeter-se a outras pessoas, incluindo lideres espirituais, sacerdotes, gurus, etc., nem é preciso realizar rituais, sejam eles de que espécie forem. É, antes de mais, um processo de auto-conhecimento e auto- aperfeiçoamento e não superstição nem irracionalidade. Em “bibliografia” pode ver as fontes consultadas e estudadas e alguns sites mais próximos daquilo em que acredito, que me serviram de base. A minha intenção é fornecer informação e pistas para que o leitor que ainda não se dedicou ao estudo, possa encontrar uma nova perspectiva para a espiritualidade. O julgamento sobre a utilidade e a viabilidade dessa perspectiva cabe ao leitor. Para que o conhecimento espiritual seja útil não basta memorizar a informação. É necessário que o individuo a aceite para si e a interiorize. A aceitação deve ser simultaneamente da razão (entender) e do coração (sentir). Primeiro é preciso estudar o assunto, sem preconceitos, e, depois, então, temos bases para aceitar ou para rejeitar a visão da vida que nos é proposta. O facto de as pessoas aceitarem ou rejeitarem a espiritualidade ou não terem uma visão da vida parecida com a minha, não me preocupa, pois isso não está nas minhas mãos e não é da minha responsabilidade. Aqui cabe-me apenas passar a informação que julgo válida. Se ela servir para chamar a atenção de uma única pessoa que seja, para que essa pessoa inicie a sua própria busca espiritual, já ficarei muito satisfeito. Felizmente, cada pessoa é livre de pensar, aceitar ou rejeitar o que bem entender. Se ninguém quiser saber das minhas palavras para nada, é porque o texto foi mal escrito ou simplesmente porque as crenças e o sentir das pessoas é demasiado diferente da minha forma de ver o mundo. Dai não vem mal nenhum. Terá sido apenas um esforço inglório. Pagina 1

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É explicado que a espiritualidade pode ser vista de uma perspectiva racional, sem preconceitos de qualquer espécie. Mostra que não há contradição entre ciência e espiritualidade. É gratuito. Se gostar passe a informação quem entender que a pode aproveitar. Senão concorda ajude-me a mim a entender, se fizer o favor VS - Portugal

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Espiritualidade racional sem superstições e preconceitos

INTRODUÇÃO

O conhecimento da espiritualidade, de forma racional, sem superstições e sem preconceitos de qualquer espécie, é, para mim, o bem mais importante da vida. O objectivo deste texto é, em primeiro lugar, a expressão da minha gratidão a Deus e a todos aqueles que contribuíram para que esse conhecimento fundamental me chegasse, e, em segundo lugar, é a minha obrigação. Seria egoísmo possuir algo tão precioso e não o partilhar com quem o procura, como eu tenho procurado ao longo da minha vida.

Este conhecimento não é nenhum segredo, bem pelo contrário. Basta ter Internet para o encontrar. E não é preciso gastar dinheiro, nem submeter-se a outras pessoas, incluindo lideres espirituais, sacerdotes, gurus, etc., nem é preciso realizar rituais, sejam eles de que espécie forem. É, antes de mais, um processo de auto-conhecimento e auto-aperfeiçoamento e não superstição nem irracionalidade.

Em “bibliografia” pode ver as fontes consultadas e estudadas e alguns sites mais próximos daquilo em que acredito, que me serviram de base. A minha intenção é fornecer informação e pistas para que o leitor que ainda não se dedicou ao estudo, possa encontrar uma nova perspectiva para a espiritualidade. O julgamento sobre a utilidade e a viabilidade dessa perspectiva cabe ao leitor.

Para que o conhecimento espiritual seja útil não basta memorizar a informação. É necessário que o individuo a aceite para si e a interiorize. A aceitação deve ser simultaneamente da razão (entender) e do coração (sentir). Primeiro é preciso estudar o assunto, sem preconceitos, e, depois, então, temos bases para aceitar ou para rejeitar a visão da vida que nos é proposta.

O facto de as pessoas aceitarem ou rejeitarem a espiritualidade ou não terem uma visão da vida parecida com a minha, não me preocupa, pois isso não está nas minhas mãos e não é da minha responsabilidade. Aqui cabe-me apenas passar a informação que julgo válida. Se ela servir para chamar a atenção de uma única pessoa que seja, para que essa pessoa inicie a sua própria busca espiritual, já ficarei muito satisfeito.

Felizmente, cada pessoa é livre de pensar, aceitar ou rejeitar o que bem entender. Se ninguém quiser saber das minhas palavras para nada, é porque o texto foi mal escrito ou simplesmente porque as crenças e o sentir das pessoas é demasiado diferente da minha forma de ver o mundo. Dai não vem mal nenhum. Terá sido apenas um esforço inglório.

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PORQUÊ ESPIRITUALIDADE?

Conhecimento espiritual não é uma fórmula para ter sucesso material aqui na terra. É a resposta às velhas questões essenciais: quem sou? O que faço aqui? De onde venho?

Para onde vou?, etc. A sobrevivência material é imprescindível, no nosso estado actual, mas esse problema resolve-se através do trabalho. Eu não vendo promessas, e ninguém faz milagres. Tudo está sujeito às leis da natureza. Mesmo aquilo que a ciência ainda não consegue explicar, são,

simplesmente, fenómenos naturais desconhecidos.

O preconceito é uma forte limitação ao progresso, como nos mostra a história da humanidade terrestre. Os preconceitos tanto podem vir do lado das instituições religiosas, como do lado dos que se dizem ateus. Os primeiros querem convencer-nos de que a sua intercepção é imprescindível para evoluirmos espiritualmente, os segundos estão convencidos e/ou querem convencer-nos que, acima do homem, nada mais pode existir.

A força de vontade é fundamental para encetar o processo interior de mudança, mas, em meu entender, o caminho é um ciclo continuo:

sentir querer entender interiorizar mudar→ → → →

A ideia que nos pode bloquear é a ideia de que a natureza espiritual do homem não se pode mudar. Pelo contrário, a mudança para melhor é uma lei da natureza incontornável, no que diz respeito às leis espirituais, como veremos adiante.

A felicidade, a meu ver, está muito ligada ao facto de agirmos tal como somos, independentemente de juízos morais.

Aquele que age como um bruto, se é realmente um bruto, sente-se feliz assim, porque é essa a sua natureza. Se ele não é assim, enquanto assim agir, não se pode sentir feliz.

Todos nós passamos pela fase da brutidade, na infância espiritual. Mas se já não estamos na infância espiritual, sentimo-nos forçosamente culpados e inquietos, ainda que, por vezes possamos não o admitir a nós mesmos.

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Aquele que nos parece ter um comportamento moralmente irrepreensível, pode ser de boa natureza, ou ter apenas um verniz de bondade, que estala com facilidade quando os seus interesses forem colocados à prova.

Quem simula um comportamento moral exemplar, sem o sentir no coração, não só não é feliz, como, submetido a condições que o ponham à prova, rapidamente deixa estalar o verniz e mostra quem realmente é.

É preciso também desmistificar que a boa prática moral não deve ser concretizada por medo de julgamentos divinos. Se a intenção se resumir a isso, assim que as pessoas são confrontadas com algo que afronta os seus interesses mais fortes e profundos, dificilmente manterão a sua coerência e acabarão por violar as regras da boa moral e da boa ética, pelo menos em ocasiões mais criticas.

Os julgamentos a que estamos submetidos, de um ponto de vista espiritual, são sempre auto-julgamentos e não julgamentos divinos. Depois de compreendermos que os nossos defeitos, que temos dificuldade de confessar até a nós próprios, são os verdadeiros motivos das nossas subjugações e o impedimento de progredirmos mais rapidamente, ou seja, que são os nossos maiores algozes e que castram a nossa liberdade de agir mais de acordo com o que está escrito no nosso coração, digamos assim.

MAS O QUE É ISSO DE ESPIRITUALIDADE? A ESPIRITUALIDADE PODE SER RACIONAL?

Para dar sentido às minhas palavras, necessito de explicar qual é o meu modelo teórico em relação à espiritualidade. Vamos a isso (sem preconceitos, de preferência)!

O universo é composto pelos seguintes elementos:

– Deus, ou seja a Inteligência Suprema, Causa Primeira primeira de todas as coisas;

– A matéria, que todos sabemos mais ou menos o que é;– Os espíritos, que são de uma natureza distinta da matéria;– Um elemento intermédio entre o espírito e a matéria, através do qual os

espíritos agem sobre a mesma;

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O homem não é uma máquina biológica. Dizer isso, a meu ver, é confundir o corpo de carne, que é um acessório, com o ser essencial.

O homem é um espírito individual, independente, não material, associado provisoriamente a um corpo de carne. O que é acessório e provisório é o corpo e não o espírito. A inteligência é do espírito e não do corpo. Para além deste corpo físico, já fomos associados, no passado, a muitos outros corpos, que entretanto foram falindo, tal como acontecerá com este, a que nos encontramos associados actualmente. E, com grande probabilidade, voltaremos a encarnar muitas vezes, enquanto for necessário. Senão na Terra, noutros mundos, pois a terra não é o único planeta habitado. E podem existir mais universos, não vejo porque não, mas não tenho dados sobre isso. A nossa vida é só uma, a vida do espírito, as circunstâncias em que estamos é que diverge.

Sendo Deus a Inteligência Suprema, sendo Ele poderoso ao ponto de criar o universo, imaginar que o Criador sequer se ofende, não me parece fazer sentido algum. Isso corresponde a levar à letra ensinamentos antigos, olhados de uma perspectiva limitada. Ao pensar assim, o homem caracteriza Deus à imagem do homem. Se até entre grande parte dos homens seria impensável julgar e

condenar de forma definitiva ou demasiado dura a criança que fez um pequenos disparate porque não compreende mais, Porque iria Deus ofender-se connosco, pobres espíritos da terra? Se Ele não quisesse que pudéssemos ter aqui a liberdade de fazer o bem ou o mal, quem teria poder para fugir às suas ordens?

Tudo o que acontece, resulta das leis que Deus estipulou, ao criar o universo. O que consideramos mal, não é uma obra de entidades que escapam ao controle de Deus, ao contrário do que dizem as religiões tradicionais, que inventaram a personagem do Diabo.

Para compreender isso, temos de ter uma visão que extravase os estreitos limites a que estamos submetidos nesta encarnação. Temos de olhar para a nossa vida de espírito imortal e compreender que as razões que nos levam a estar aqui na terra, planeta precário, que nos submete a sofrimentos (mas não só a sofrimentos!), estão muito para além dos horizontes da matéria.

Depois de desencarnar, os espíritos ganham a capacidade de olhar a vida passada em retrospectiva. E compreendem aquilo que fizeram contra o seu próprio interesse, que nada tem a haver

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com os interesses materiais da terra. Agora já não mais necessita de alimentar e proteger o corpo de carne e estão mais livres para a usar a inteligência para outros fins, alcançando mais longe e compreendo melhor a futilidade que deixaram na terra. Que importa o tempo de uma reencarnação? Não é mais do que um pequeno instante na eternidade. É a felicidade eterna que interessa conquistar. E isso depende do nosso esforço pessoal e não de favores divinos. A vida eterna está garantida à partida.

Até aqui na terra compreendemos que vale a pena fazer sacrifícios para obter um bem maior no futuro. Aquele que não sabe aproveitar a vida, no sentido do seu próprio interesse, de um ponto de vista espiritual, é como o homem imprudente, que só vê o momento presente, e que não pode esperar o bem futuro, se não trabalhou e se disciplinou para isso.

ESPIRITUALIDADE E CIÊNCIA, SÃO INCOMPATIVEIS?

Em meu entender a ciência é um conhecimento válido, embora não definitivo. Como nos demonstra a história da humanidade, as teorias cientificas evoluem e, mesmo em ciência, não há certezas absolutas. Os mesmos factos podem vir a ser interpretados, no futuro, de outras formas, com base em novas tecnologias e novas perspectivas de abordagem da realidade. Assim acontece também com o conhecimento espiritual, vai evoluindo com a humanidade.

Parece-me evidente que a ciência nem confirma nem desmente aquilo em que acredito. Independentemente daquilo que cada cientista, a titulo individual,

acredita ou sabe sobre o assunto, enquanto representante sério e honesto da ciência, tanto para confirmar como para desmentir, precisa de provas. Para ter provas é preciso estudar o assunto a fundo. Por enquanto há muito poucos investidores, públicos ou privados, interessados nisso. Mesmo assim há investigações sérias realizadas nessa área, por investigadores de ciência, universidades e empresas, que vão avançando

timidamente (ver bibliografia). Todavia ainda não foi o suficiente para convencer a comunidade cientifica mundial e os investidores a apostar a fundo nesta área, canalizando para o efeito todos os meios humanos e materiais necessários.

A ciência não diz que Deus existe, mas as teorias em vigor, na actualidade, defendem que o universo foi criado, ou seja, que não existe desde sempre. Até calculam que a idade do universo esteja entre 10 000 e 20 000 milhões de anos. Mais milhar de milhão, menos milhar de milhão, pouco interessa, mas a ideia de que o universo foi criado é muito actual e aceite pela maioria dos investigadores, das

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universidades e centros de investigação a nível mundial. A razão pela qual o universo existe a ciência não conhece.

As ideias que adoptei, no âmbito da espiritualidade, tal como a ciência, incluem também a crença de que o universo foi criado. Analisando racionalmente a questão, não me parece lógico crer que, de nada, possa sair alguma coisa, muito menos algo tão complexo como a parte deste universo que nos é dado conhecer.

Pensar que, de nada, se criou este universo, é mais conversa de ilusionista do que de cientista. Por outro lado, pensar que o universo existe de sempre, e não foi criado, é legitimo, mas não é uma posição coincidente com a da ciência actual.

Parece-me mais plausível pensar que existe uma Causa Primeira para a criação, a que chamo Deus, que me transcende completamente e que estou longe de compreender ou conhecer, mas a quem tudo devo. Sem Ele nem sequer estaria aqui a escrever isto, porque eu nem sequer não existiria. O orgulho de muitos homens leva-os a pensar que acima deles nada pode existir.

Uma vez criado o universo, ficaram determinadas pelo Criador as leis que regem o mesmo, muitas das quais a ciência convencional vai descobrindo progressivamente, no que diz respeito à matéria.

Como não admitem a existência de Deus, muitos imaginam que o universo é o resultado de combinações fortuitas da matéria. Ou seja, em meu entender, tomam a consequência pela causa (só estão a ver uma parte do filme...). Mas reconhecem a inteligência humana em obras completamente insignificantes, se comparadas com a complexidade do universo material que a ciência lhes mostra...

Tal como a teoria cientifica da geração espontânea da vida sofreu um golpe fatal, quando, ainda no séc. XIX, Pasteur demonstrou experimentalmente que a vida não foi nem é gerada espontaneamente, estou convicto de que as teorias de geração espontânea do universo também têm os dias contados. O futuro o dirá.

Um cientista tem mais noção da complexidade do universo e do pouco que sabemos sobre o mesmo. Deixo a seguir um pequeno discurso de Albert Einstein, que nos demonstra isso:

“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingénuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo - uma espécie de sentimento

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exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também

estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos.”

E será que a ciência é incompatível com a ideia de que somos espíritos imortais?

A investigação levada a cabo pelos neurocientistas, entre os quais o famoso investigador português, residente nos EUA, António Damásio, leva-nos a pensar que a nossa consciência de nós mesmos, a nossa inteligência, etc., são explicadas apenas por impulsos nervosos e que a razão de ser do ser humano se resume à adaptação à vida terrena da máquina biológica que é o nosso corpo.

Eu acredito plenamente que as investigações dos neurocientistas são válidas e que a sobrevivência do corpo ocupa grande parte da inteligência humana, pois a terra é um planeta hostil, que obriga a um grande e permanente esforço, consciente e/ou inconsciente. Assim, é normal que os investigadores identifiquem a necessidade de sobrevivência física como uma das mais fortes razões dos processos cerebrais. Mas as conclusões de Damásio e de outros têm um pressuposto: o homem é uma máquina biológica. Este preconceito leva-os a interpretar os resultados das suas experiências, dentro de limites estreitos, deixando por explorar muitas possibilidades alternativas de explicação.

Se em vez de dizerem que o homem é uma máquina biológica, disserem que o nosso corpo de carne, é uma máquina biológica, concordo plenamente.

Para descrever os conhecimentos, que para mim adoptei, a este respeito, ocorre-me contar uma pequena história de ficção cientifica, que talvez permita ilustrar adequadamente o meu pensamento:

Dois homens do séc. XIX, adeptos convictos do positivismo de Auguste Comte, foram trazidos à terra, numa máquina do tempo, por acidente e no ano de 2100. Nessa época as fábricas que funcionavam de forma autónoma, sem nenhuma presença humana, controladas à distância. Como não necessitavam de operadores humanos as fábricas eram construídas em zonas desérticas, não habitadas. Foi junto de uma dessas fábricas que o

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nosso homem do séc. XIX, foi largado, sem que os operadores da máquina do tempo dessem por isso.

Ao entrar na fábrica, que, por coincidência tinha os detectores de presença humana desligados, os nossos homens do séc. XIX ficaram deslumbrados e intrigados, como é natural. Descobriram um frigorífico com muitos alimentos, que se destinava aos trabalhadores da manutenção, que, de vez em quando tinham de ficar na fábrica vários dias. Com a barriga cheia, começaram então a investigar a fábrica.

Os comandos das máquinas estavam situados numa sala onde existia uma enorme consola cheia de leds de várias cores (para quem não sabe, um led – iniciais de light emissor diode - é uma lâmpada pequenina, como aquelas que vemos nos electrodomésticos, no interior dos automóveis, etc.).

Um dos homens encontrou um bloco de notas e um lápis. Fez então o seguinte relatório, 3 meses volvidos após a chegada:

“O local onde nos encontramos, é um animal que mais parece uma máquina viva que funciona de forma autónoma”. E já descobrimos onde é o cérebro da mesma. Não sabemos explicar como tudo isto funciona, mas já descobrimos que é esse cérebro que comanda tudo. Efectivamente, as inúmeras luzinhas que existem no mesmo, acendem, por zonas, de acordo com o funcionamento de tudo o resto. A máquina viva parece alimentar-se da luz do sol, tal como as plantas e as árvores. Os dejectos são de uma espécie de cartão, que fica armazenado numa determinada zona. De vez em quando chega outra máquina, voadora, no interior da qual são colocados os dejectos. Serão o equivalente às carochas que transportam os dejectos dos animais nas nossas florestas? O cérebro da máquina parece falar, mas não entendemos o que diz, nem como produz os sons. Contudo, parece querer interagir connosco, reagindo às nossas palavras.”

Entretanto os detectores de presença humana foram reparados. Os operadores da máquina do tempo recambiaram os homens para o séc. XIX, onde pertenciam. Mas o bloco de notas ficou na fábrica.

Quando o pessoal da manutenção da fábrica lá foi, encontrou o bloco de notas, e o levou para ser analisado, pois não percebiam bem a linguagem, pois entretanto o inglês evoluiu.

O bloco de notas foi analisado por um especialista em tradução de textos antigos. Depois da obra traduzida, todos se riram, ao ver a forma como os homens do séc. XIX interpretaram os factos.

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Podemos fazer um paralelo entre esta história e a investigação levada a cabo pelos neurocientistas de hoje. Tal como os homens do séc. XIX observaram os leds, os investigadores têm observado as áreas do cérebro, que são activadas em determinadas circunstâncias. Daí não se pode concluir que a nossa consciência, que nos leva a nos concebermos como um “eu”, se explica por essa análise tão limitada.

Não há dúvida que o cérebro controla a máquina biológica de que faz parte. Até já é possível fazer comandos electrónicos que ligam ou interligam os nervos humanos, comandando assim funções motoras. Também acredito que a maior parte da nossa atenção e do funcionamento do cérebro está ligado à sobrevivência física.

Contudo, a interpretação dos factos observados, por parte do António Damásio, por exemplo, tal como a investigação dos homens do séc. XIX da história, pode estar limitada. Se fosse demonstrada a esses homens que existia uma relação causa-efeito entre as instruções de comando, por parte dos funcionários que tinham a seu cargo a configuração de comando remoto da fábrica, eles poderiam ficar confusos com a tecnologia, mas a investigação conduziria a um resultado completamente diferente, tornando até as conclusões anteriores quase ridículas.

Um dia poderemos chegar à conclusão que a explicação de Damásio, para os factos que observou, era apenas relativa a uma parte circunscrita do fenómeno. O preconceito dele, a meu ver, é não admitir outras possibilidades que não explicar o homem como sendo uma mera máquina de carne.

Contudo, se um dia isso ficar devidamente provado e fundamentado, de forma que eu considere credível, abdicarei de imediato das minha ideias. Eu não quero ter razão, mas estar o mais próximo da verdade que as minhas limitações permitem. Eu não tenho a pretensão nem a necessidade de demonstrar nada a ninguém.

Os factos que ocorrem que me levam a chegar a essa conclusão, são de várias naturezas distintas:

• O que me diz o coração e que a razão não rejeita;• Os fenómenos de natureza espiritual, como a capacidade de servir de intermediário

para comunicações sérias e inteligentes, dos espíritos, que se verifica em certas pessoas, ou seja a mediunidade, trouxe-nos relatos dos espíritos, que nos explicaram a forma como percepcionam o mudo, do lado lá, digamos assim. Alguns dos relatos foram confirmados por muitos médiuns, de diferentes locais e países. O fenómeno apresentou-se e explicou-se a si mesmo.

• Os fenómenos que eu mesmo já presenciei, apesar de não ser médium, que foram úteis para mim, mas que não tenho forma de provar a outras pessoas, nem foram provocados voluntariamente por mim;

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• A interpretação das palavras de Jesus de Nazaré, como base no modelo do universo proposto pelos próprios espíritos, torna-se muito mais clara e lógica;

UMA BASE IMPORTANTE DA MINHA ESPIRITUALIDADE

Ao descobrir a obra de Allan Kardec, académico do séc. XIX, a quem foi dado investigar estes fenómenos e legar à humanidade uma obra, fez-se luz para mim, embora, com os anos (já lá vão dez anos, pelo menos), tenha amadurecido muito as minhas ideias a este respeito.

Para mim não há santos nem milagres. Allan Kardec era um homem, bem como Jesus. Contudo tanto um como outro encarnaram como a missão de esclarecer a humanidade, salvas as devidas distâncias.

Jesus foi o espírito mais avançado que alguma encarnou na terra, segundo nos dizem os espíritos, mas não foi o único espírito avançado que a pisou, como me parece óbvio. Tendo em conta que o filho de um carpinteiro mudou a face da terra, mesmo sem ser bem compreendido, há mais de 2000 anos, e que a leitura dos evangelhos, que relatam uma parte da sua vida e reproduzem as suas palavras, demonstram a inegável elevação moral e intelectual do autor, eu acredito nisso.

Os ditos milagres, a terem existido, não passam, decerto, de fenómenos desconhecidos, pelo menos para os homens daquela época. Decerto que a natureza tem mais segredos que o homem ainda não conhece, do que aqueles que ele já desvendou.

O espírito que encarnou e que adoptou, na sua última encarnação conhecida, o pseudónimo “Allan Kardec”, de nome Hippolyte Rival, era um académico (matemático e pedagogo).

A certa altura tornaram-se moda, tanto na Europa, como nos EUA e noutros países da chamada civilização ocidental, as reuniões para comunicar com os espíritos. A maior parte dessas reuniões era uma galhofa, em que as pessoas perguntavam tudo aos espíritos, desde as coisas mais fúteis até ao que ocorria, na altura, aos participantes.

Allan kardec (trato-o pelo pseudónimo e não pelo verdadeiro nome porque o primeiro é muito mais conhecido), não era do tipo de pessoa que se prestava a esse tipo de reuniões.

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Contudo, um dia, uma pessoa que para ele era credível, assegurou-lhe que, naquelas reuniões havia manifestações inteligentes de entidades distintas dos encarnados presentes na sala. Mais tarde Kardec resolveu ir desmascarar aquilo, achando, talvez, que estava na hora de desmistificar aquelas reuniões, que estavam a levar pessoas sérias e credíveis a pensar tais disparates.

Depois de muitas observações sérias e rigorosas, em ambientes menos frívolos, Kardec acabou por se curvar ao fenómeno, ao contrário do que ele previa inicialmente.

Havia mesmo manifestações de entidades inteligentes, que comunicavam, por intermédio de um médium. Não havia possibilidade de classificar esses fenómenos como eventos materiais fortuitos ou ocasionais. A explicação dos próprios espíritos revelou-se como a única explicação lógica e racional. Já por volta dos cinquenta anos, Kardec publicou os seus estudos, que incluem a reprodução de respostas a muitas questões que lhes foram colocadas.

Muitos elementos da comunidade académica de então, adoptaram para si mesmos, por toda a Europa, nos EUA, no Brasil, e em muitos outros países de cultura ocidental. Assim foi também em Portugal. A certa altura o Estado novo, de Salazar, decretou o encerramento das instalações utilizadas pelas associações espíritas portuguesas e contribuiu para atenuar o crescimento do número de adeptos da mesma, mas não as calou. Na clandestinidade, o movimento manteve-se vivo.

Kardec chamou à nova doutrina, espiritismo, doutrina dos espíritos ou doutrina espirita. E aos adeptos da mesma, espíritas. Essas palavras, infelizmente, têm sido utilizadas por gente ignorante acerca do significado que Kardec deu às mesmas. Daí nasceram preconceitos, que me tocaram a mim mesmo. Quando ouvia falar de espíritas e espiritismo, vinham-me logo à memória que se tratava de charlatães (e há por aí muitos, infelizmente...), que se aproveitam do desespero e da ingenuidade das pessoas, para lhes extorquir dinheiro

Foi um livrinho de um padre católico, a declarar a prática espirita como moralmente reprovável que levou o meu filho mais velho a procurar livros de Allan Kardec. E foi a leitura desses livros que me mostrou o que quer dizer espiritismo.

Ser médium não significa ser espirita, nem ser espirita significa ser médium. Há médiuns espíritas como os há ateus e de todas as religiões e crenças. Ser espirita é simplesmente ser adepto das ideias essenciais da obra de Kardec, ou seja as relacionadas com a espiritualidade. No que diz respeito à visão cientifica do mundo material, a obra de Kardec seria, talvez, um pouco diferente, se ele vivesse actualmente, pois a tecnologia evoluiu muito. Já o nível moral da humanidade cresce mais lentamente, quando comparado com o desenvolvimento cientifico da mesma, segundo me parece.

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Logo à partida a doutrina espirita distingue-se das religiões tradicionais e dos cultos das instituições religiosas, pois ela ensina que a evolução espiritual não depende das instituições religiosas, de lideres espirituais, de sacerdotes, gurus, etc. Muito menos depende de rituais.

As associações espíritas são associações livres, da responsabilidade exclusiva dos seus sócios, que se unem por serem adeptos da mesma doutrina. Em regra, pelo menos no caso das que já frequentei, os serviços públicos prestados (divulgação – palestras e cursos, essencialmente) são gratuitos.

A tentação de alguns espíritas para se tornarem vendilhões do tempo, também existe. Dizer-se espirita não é, só por si, nenhuma bandeira de credibilidade. Dar um exemplo de vida que incorpore a doutrina espirita, isso já é outra conversa...

Para mim, a não existência de lucros pessoais, de qualquer espécie, nem de remunerações, pelo tempo gasto, são condições necessárias para garantir uma divulgação credível do espiritismo. Sendo condições necessárias, podem, contudo, não ser suficientes. Eu identifico-me com a doutrina espirita de Kardec, mas não me identifico com todos os livros que são publicados à pala do espiritismo, com visões muito diferentes da vida em relação à doutrina de Kardec. Não abdico da minha liberdade de pensamento e expressão do mesmo, nem me sinto preso a organizações ou a pessoas por se dizerem espíritas.

Com isso não quero dizer que os sócios das associações espíritas têm de pagar, do seu bolso, os custos de livros, de aluguer de auditórios, etc., para que os outros deles possam usufruir. Não devem, em meu entender, é obter proveitos materiais pessoais, de qualquer espécie.

Contudo, conheço várias pessoas que, nas suas horas livres, prestam serviços em associações espíritas e que ainda suportam as quotas de sócios, das suas associações. Acabam por pagar para prestar serviços. Isso é muito bom, mas já é mais do que se poderia pedir, em minha opinião. É uma demonstração da gratidão dessas pessoas pelo bem que lhe fez o conhecimento da doutrina e por quem lha apresentou. Aproveito também para agradecer aqui, a essas pessoas fantásticas e incansáveis que tenho conhecido. São eles, com o seu exemplo, os elementos chave da divulgação espirita. São as formiguinhas e não as cigarras de boa voz e bom discurso que fazem realmente a diferença, no terreno e não apenas em palanques.

Na Internet pode fazer-se o download das obras de Kardec de forma gratuita. Para conhecer a doutrina espirita não é necessário gastar dinheiro nenhum.

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E mesmo a quem não se identifica com a doutrina espirita, e até aos ateus, aconselho a guardar na memória, para o futuro, a lembrança destas coisas, para o caso de estarem enganados. Saber não ocupa lugar. Mais vale prevenir do que remediar. Sabemos que muitos espíritos têm dificuldade de se reconhecer como tal, na confusão da perturbação que provoca a separação do corpo. Isso pode causar algum sofrimento psicológico evitável.

No dia da morte do corpo, ou desencarne, mencionado por Jesus, de forma simbólica, como o último dia, ou dia do juízo final, essa informação poderá ser-nos muito útil.

A minha interpretação em relação às palavras “juízo final”, não se refere a um julgamento de Deus, mas ao juízo do próprio espírito, em relação a si mesmo, ao ver a vida passada em retrospectiva, sem as limitações impostas pelo corpo de carne. Cai a ilusão e o homem é obrigado a enfrentar a verdade da sua situação.

É uma grande decepção constatar que perdemos o tempo em que estivemos encarnados num planeta tão precário e tão material, em que tudo é efémero, em vez de usar esse tempo de forma que era a melhor para nós mesmos. Teremos de voltar a encarnar em planetas da mesma natureza, para realizar o trabalho que já podíamos ter realizado, em vez de prosseguir para encarnações menos precárias e muito mais felizes.

A vida é como um campo de cultivo. Os frutos que se colhem dependem da força de vontade e dos conhecimentos técnicos do agricultor. Aquele que herda o campo de cultivo e se deita à sombra de uma árvore, em vez de trabalhar, não verá frutos nenhuns. E quando lhe acabar o dinheiro e as provisões arrepender-se-à da sua própria irresponsabilidade. Não se trata propriamente de um castigo, mas de uma consequência da própria preguiça e/ou ignorância.

Enquanto, aqui na terra, o agricultor preguiçoso acabaria por perder a terra, para os credores ou a teria de vender, para angariar fundos, as leis de Deus determinam que, mesmo o espírito preguiçoso, recebe um novo campo cultivo (novo corpo de carne), onde terá nova oportunidade.

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Espiritualidade racional sem superstições e preconceitos

PORQUE ESTAMOS AQUI? SOMOS TODOS IGUAIS?

As razões pelas quais estamos aqui não são iguais para todos. Dependem da maturidade do espírito que encarna.

Existem aqui espíritos na infância espiritual, digamos assim, que ainda são muito ignorantes. São aqueles que se sentem bem a cometer atrocidades contra os outros. Aquelas pessoas a quem a consciência não acusa. Agem de acordo com a sua própria natureza. Podem nem estar aqui por vontade própria.

As leis de Deus podem obrigar os espíritos a encarnar. Isso acontece, imagino eu, porque, de outra forma, o espírito seria ignorante, e, por consequência, infeliz, para a eternidade. Isso sim, seria o tal inferno inventado pelas religiões tradicionais. Não se trata de uma concessão de Deus aquele espírito, em particular, mas de uma lei geral e universal, a que ninguém escapa.

Existem aqui espíritos na adolescência espiritual, que já se arrependeram de não ter aproveitado a encarnação anterior e que decidiram, depois, encarnar voluntariamente, conscientes que as lutas da vida material lhes ajudarão a desenvolver a inteligência e a proporcionar conhecimentos para se tornarem espíritos mais felizes. Não tendo ainda a maturidade suficiente, são como adolescentes, e erram muito. Contudo já não se sentem muito bem quando fazem algo que reprovariam em outrem. Têm a intuição de que esse não é o melhor caminho, mas, muitas vezes, na sua fraqueza, optam por calar a voz da consciência.

Existem por aqui espíritos já espiritualmente jovens, digamos assim, que são as pessoas que desejam ser úteis e que sentem o desejo de fazer o bem (aquilo que não reprovam em outrem e que gostavam que lhes fosse feito). Não quer dizer que não tenham falhas, mas é a fazer o bem que se sentem realmente mais felizes. Quando assim não procedem sentem-se muito mal e são infelizes. São pessoas sensíveis ao sofrimento alheio. Quando fazem o bem retiram prazer disso.

Os espíritos que são adultos espirituais, nesta classificação simbólica que utilizo para me fazer compreender, mas que não deve ser interpretada de forma absoluta e/ou à letra, são pessoas cujo exemplo máximo será, talvez, o que Teresa de Calcutá foi aqui na terra. Estão aqui em missão, para nos ensinar e dar o exemplo.

Não significa que essas pessoas tenham de ser conhecidas. Nem são, normalmente, pessoas preocupadas como a promoção da sua imagem pessoal, a não ser que isso seja relevante para levar a cabo a sua missão. Reconhecem-se na aceitação da sua

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condição terrestre, aceitação essa simultânea da razão e do coração. Não dão grande importância à obtenção de bens materiais, para si mesmos, para além do estritamente necessário (não confundir isso com baixa auto-estima). Fazem o bem e não o mal, com determinação.

É importante fazer aqui uma distinção entre aceitar e conformar-se sem lutar e procurar melhorar. É nossa obrigação lutar sempre por melhorar e conservar as nossas condições de saúde. Para isso são necessários bens materiais e disciplina. Não podemos ignorar as necessidades do corpo, senão ele morre antes do tempo, obviamente. Mas o ideal é não viver apenas em função das necessidades do corpo. Caso contrário temos uma perspectiva demasiado estreita da vida, em meu entender.

No topo desta escala simbólica, que é limitada aos que encarnam aqui na terra, está Jesus. Espírito cuja encarnação era um estado que, aparentemente lhe limitava pouco a percepção espiritual. Daí as curas que ele fazia, usando capacidades só possíveis em estados de maior liberdade, em relação ao corpo. A elevação destes espíritos confere-lhes uma autoridade muito grande sobre os outros, autoridade essa que só utilizam para bons fins.

A libertação do corpo, no fim da missão cumprida, é um alivio muito grande, quase para todos os espíritos, mas especialmente para aqueles que são mais maduros e/ou para aqueles que sofriam na carne. O estado de imaturidade espiritual nada tem de grave. A resolução do problema é apenas uma questão de tempo, mais fácil de suportar para o espírito dócil e menos para o espírito revoltado. A revolta contra aquilo que não podemos mudar é uma atitude insensata, Não acha?

As variedades dos espíritos que vivem encarnados na terra são inúmeras. As minhas limitações não me permitem saber o que cada espírito é ou foi, nem quero insinuar ou transmitir tal ideia. O que eu vejo não é o espírito das pessoas, mas um corpo de carne que constrange imenso a manifestação do espírito. Um espírito muito inteligente pode encarnar num corpo que o impede de manifestar a sua inteligência. Um espírito menos inteligente, poderá parecer mais inteligente do que outro muito mais inteligente, se tem um corpo que o facilita nisso. O meio, a família no seio da qual nasceram, e outras condicionantes exteriores das pessoas terão, decerto, uma grande influência. Para conseguir identificar a natureza espiritual das pessoas que vou conhecendo era necessário ter muita elevação em relação às mesmas, o que não acontece, de maneira nenhuma. Tomara eu conhecer-me melhor a mim próprio, quanto mais aos outros...

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A tipificação encontrada apenas serve para transmitir a ideia de que a maturidade espiritual de cada pessoa varia muito, aqui na terra. As razões que presidem às decisões dos espíritos menos maduros, são muito diferentes das razões das decisões dos espíritos mais elevados. Uns escolhem encarnar voluntariamente aqui, outros são forçados a isso. Uns encarnam como alunos nesta escola terrestre, outros como professores (entre os quais Jesus é o exemplo máximo).

RESUMO DOS PILARES DA DOUTRINA ESPIRITA

Por fim deixo um resumo dos pilares do conhecimento espirita e da coerência dos mesmos com alguns ensinamentos de Jesus, entendidos na minha perspectiva, que em regra, foi adoptada da interpretação de Kardec. A quem estou eternamente grato.

Resumo dos princípios espíritas:• Existência de Deus (Inteligência Suprema, Causa Primeira de todas as

coisas);• O homem é um espírito eterno provisoriamente associado a um corpo de

carne (um espírito encarnado);• Os espíritos desencarnados, que não são mais do que os espíritos dos

homens, podem, reunidas determinadas condições (a presença de um médium é uma delas), comunicar-se connosco; os nossos pensamentos podem ser induzidos por outros espíritos. Em regra não temos consciência disso, nem teria grande utilidade tê-la. O homem é sempre livre de aceitar ou rejeitar os próprios pensamentos e os induzidos por outros espíritos;

• A reencarnação, ou seja, a ideia de que o homem é um só espírito, com uma só vida, eterna, e que as encarnações são estados provisórios.

• Os espíritos são criados simples e ignorantes. Numa primeira fase da vida espiritual, encarnam (são associados a corpos físicos) numerosas vezes, com o objectivo de desenvolver a inteligência. A partir de determinado grau de inteligência e conhecimento, o espírito desenvolve também a sensibilidade moral; Numa segunda fase a reencarnação deixa de ser necessária; Num estado muito avançado, os espíritos informaram-nos que é possível compreender e interagir directamente com Deus, mas isso está demasiado distante no tempo, para mim, para eu perder tempo a pensar muito nisso.

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Em relação ao facto de a natureza humana ser essencialmente espiritual, e não carnal, na minha opinião está expresso nas palavras de Jesus. Deixo aqui uma passagem do Evangelho segundo João, como pista para o leitor:

“1 E Havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. 2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

Há quem imagine que Jesus quer dizer baptismo, ao dizer “nascer da água”. Cada um adopta o que bem entende, mas essa interpretação das palavras de Jesus não me parece lógica, com base na leitura integral dos Evangelhos. Também temos de compreender que Jesus falava para homens que viveram na terra há mais de 2000 anos. Ainda hoje há muitas pessoas com pouca capacidade de abstracção, de forma a aceitar a realidade, que é mais fantástica e intrigante do que qualquer obra humana de ficção.

ESPIRITUALIDADE RACIONAL NÃO É SUPERSTIÇÃO

É preciso demarcar bem a diferença entre superstição e espiritualidade.

O fomento da superstição baseia-se na crença em milagres e no estabelecimento de uma lei causa-efeito, entre rituais e mezinhas e a sorte das pessoas.

Muitas pessoas jogam com as fragilidades alheias, como o medo, a ganância, ódio e/ou a ingenuidade, ou a ignorância. O objectivo é a exploração comercial destas fragilidades humanas. Mas há sempre pessoas impressionáveis que acreditam ou querem acreditar nessas coisas

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A atitude da espiritualidade racional, baseada em Kardec, não crê em milagres, mas que tudo tem uma explicação nas leis que Deus determinou para este universo. Os ditos milagres ou são factos mal interpretados, que se podem explicar com base na ciência que estuda as leis que regem a matéria (a biologia, a física, a química, etc.), ou são fenómenos naturais, mas que a ciência ainda não explica. Deus, na nossa limitada imaginação, é a Inteligência Suprema do universo, e não está sujeito às nossas limitações actuais. As leis que Ele criou não terão necessidade de ser alteradas, como acontece sistematicamente com as leis humanas, muito menos ao sabor de cada um ou de cada grupo ou instituição. Mas bem longe de mim está conhecer os desígnios de Deus, disso não tenho dúvidas.

Aqui na terra, em regra, cada trabalhador é (ou deve ser) seleccionado de acordo com as capacidades. Assim, o cientista tem de ser alguém com uma enorme formação cientifica. Não faria sentido colocar um analfabeto a trabalhar em ciência, num centro de investigação. O analfabeto pode ser um espírito extremamente inteligente. Pode ser até bastante mais inteligente do que um académico de elevado grau de formação cientifica. Mas não tem meios para prestar um serviço dessa natureza.

Desde o elemento mais baixo na hierarquia de uma grande empresa bem gerida, no sentido de garantir os interesses da mesma e obter bons lucros, as tarefas e as remunerações são atribuídas em função das capacidades das pessoas.

Generalizando este principio à espiritualidade, as tarefas de Deus serão as adequadas à Inteligência Suprema do Universo. Rejeito por isso a ideia de Deus que corresponde a um homem de barbas, preocupado com questões materiais e mesquinhas da nossa vida. Acredito que existem espíritos mais avançados do que nós, com a missão de nos ajudar a avançar espiritualmente. Mas não têm nenhuma varinha mágica. Ajudam, na medida em que nos induzem pensamentos encorajadores, para minimizar o nosso desânimo, quando as circunstâncias da vida são, ou nos parecem ser, muito duras. Eles não fazem o nosso trabalho e estão preocupados com o que tem consequências para a vida do espírito, e não para a vida do corpo.

Como existem bons espíritos que nos influenciam, através da indução de bons pensamentos, existem outros que estão num baixo grau de maturidade e que nos induzem maus conselhos. Em regra não conseguimos distinguir os nossos pensamentos dos induzidos pelos espíritos. Mas há ocasiões, em que, se estivermos atentos, damos connosco a ter pensamentos que não são coerentes com a nossa natureza, a nossa maneira de pensar e os nossos hábitos.

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SUICIDIO

O suicídio, de um ponto de vista do espirita, é um disparate enorme.

Como o homem é um espírito imortal e a experiência no corpo é parte das lições que nos ajudam a elevar a alma, é um grande sofrimento, para quem tem intenções suicidas, em perfeito juízo, ver que, na realidade, não morreu. E que dificultou a sua própria vida, no sentido da vida do espírito.

É frequente que os suicidas bem sucedidos, tenham dificuldade de abandonar o corpo. Eles sentem-se ainda vivos. Na grande confusão em que se encontram, por vezes falam no seu próprio corpo físico como se não fosse deles, mas continuam junto a ele. Já não têm sofrimentos físicos, porque deixaram de sofrer as dores da carne, mas a imaginação, muito mais viva do que a do ser encarnado, recorre às sensações memorizadas da vida carnal que já deixou, e pode dar ao espírito a ilusão psicológica, digamos assim, de estar a sofrer as dores da degradação do corpo, se ele permanece junto do corpo.

DIZER-SE QUE SE É NÃO SIGNIFICA SER

O que nós dizemos aos outros sobre as nossas crenças, nada ou pouco significa, como é fácil de entender. O problema é se acreditamos firmemente que nada mais existe do que a matéria. Todos aqueles que assim pensam têm dificuldade de se reconhecer do lado de lá da vida, ao partir.

Mesmo os que são crentes sinceros podem sofrer problemas dessa natureza. Cremos que a natureza e duração da perturbação depende do grau de maturidade do espírito e das circunstâncias da morte e não do que ele diz acreditar. Quanto mais maduro o espírito, mais fácil e maior é a satisfação de acordar no além. Sendo um espírito mais maduro, é mais provável que os objectivos que delineou antes de encarnar sejam alcançados. Não tendo feito mal a ninguém, não deixou ressentimentos durante a sua vida carnal. De qualquer forma, entre dois espíritos hipoteticamente de igual maturidade, aquele que aceita como possibilidade a crença na vida para além do corpo de carne, ainda que não se sinta seguro a esse respeito, vai ter, decerto, mais facilidade em se reconhecer após o desencarne. Aquele que rejeita sinceramente esta possibilidade, terá sempre dificuldade.

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QUEM SEMEIA VENTOS, COLHE TEMPESTADES

Os espíritos menos maduros que nos conhecem e que, eventualmente nos possam odiar, pelo que lhes fizemos, ou que pensam que lhes fizemos, em regra, não têm ainda a capacidade de perdoar e podem tentar vingar-se (tal como demonstram aqui na terra, enquanto cá estão). Quanto apanham do lado de lá o espírito que odeiam, ainda desorientado, podem fazê-lo sofrer muito.

Para além do mal que nos pode poupar a nós mesmos, em termos de saúde física e prolongamento evitável de um sofrimento já passado, o perdão tem vantagens inegáveis no que diz respeito à perspectiva espiritual da vida.

Quando encarnamos, se deixámos semeado o ódio, em encarnações anteriores, sinal de que ainda não somos espíritos muito maduros, podemos ser submetidos à vingança daqueles que nos odeiam, do lado de lá da vida, que são espíritos pouco maduros, necessariamente. Cansam-nos com a indução de pensamentos que nos podem perturbar e causar baixa auto-estima, tal como fazem aqui na terra aqueles que nos querem subjugar. Podem dificultar-nos muito a vida, se lhes damos ouvidos. Podem também influenciar aqueles que nos rodeiam.

Quando tentam exorcismos e rituais contra eles, eles divertem-se imenso e não ligam nada a isso.

Em algumas associações espíritas há grupos de médiuns que têm por missão receber as comunicações de espíritos perturbados que ali são levados por bons espíritos, ou que os evocam, para tentar ajudar pessoas que julgam estar sob obsessão espiritual e os próprios espíritos obsessores. São as chamadas reuniões de desobsessão, que não são públicas.

Com paciência tentam convencer os espíritos da sua situação real e das vantagens de se dedicarem a obras mais nobres do que atormentar e vingar-se das pessoas. O doutrinador (pessoa que dirige os trabalhos e comunica com o espírito, através de um médium) é parecido com o trabalho que um psicólogo que tenta mostrar ao paciente a melhor forma de encarar a vida, para contornar ou resolver as suas dificuldades. O espírito tem, contudo, que confiar e aceitar voluntariamente aquilo que lhe dizem, como o paciente tem de aceitar voluntariamente os argumentos do psicólogo, que no fundo é um facilitador do auto-conhecimento e aceitação da situação presente. Isso nem sempre é fácil.

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Grande parte dos fenómenos que as pessoas atribuem aos espíritos nada têm a haver com isso. Sobretudo aqueles em que não se vislumbra nenhuma acção que possamos considerar característica de um ser inteligente.

ESPIRITA POR TEMOR DA MORTE?

O espirita não tem mais razões para temer a morte do que o descrente.

Sobretudo quando sofremos muito, a perspectiva de que o sofrimento podia acabar definitivamente com o mal que nos atinge, poderia até ser uma consolação, ou uma fuga. Mas, para o espirita convicto, e em pleno uso da capacidade de discernir, essa “consolação” não existe, pois seria o aumento dos sofrimentos, embora de outra natureza. O espiritismo desencoraja o suicídio, enquanto a descrença pode potenciá-lo, em casos de grande sofrimento.

A posição espirita em relação à vida, que não é mais do que o que ensinou Jesus de Nazaré, bem interpretado, conduz à solidariedade, à preservação do corpo físico, evitando aquilo que o possa danificar e acelerar a sua inevitável degradação, à compreensão de que o amor, a tolerância, o perdão, a paz são objectivos indispensáveis ao progresso da humanidade.

Podemos dizer que esses valores morais são antigos. É verdade. Eles foram ensinados de forma mais clara há mais de 2000 anos de idade, na terra. Mas há uma grande diferença entre conhecer esses valores, interiorizá-los e aplicá-los em concreto à nossa vida. A diferença na doutrina espirita é mostrar as vantagens da mudança para a adopção progressiva desses valores, e que é esse o nosso interesse e alvo principal, que devemos ter como objectivo mais do que esta estadia efémera na terra.

Cada um a seu tempo compreenderá estas coisas, porque é essa a lei que Deus imprimiu no universo que Criou. A paz de espírito, amar e ser amado fraternalmente, eis a face da verdadeira felicidade. Aquela felicidade que condiz com o que está imprimido na nossa consciência, que liberta e nos aproxima de Deus.

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RELATO DO ALÉM

Vejam a seguir os conselhos de um espírito que deu esta comunicação em Paris, na associação que Kardec fundou (retirado do livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec), que poderá ser parecido com um relato nosso, no futuro, após o desencarne:

JOSEPH BRÊ

(Falecido em 1840 e evocado em Bordéus, por sua neta, em 1862)

O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens

P. Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?

R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.

- Como? Pois não vivestes sempre honestamente?

R. Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro! Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for activo na vida; activo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; activo nas boas acções, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; activo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.

Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germes de orgulho, de inveja, de ambição;

Deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo da alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume "no amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo".

Eis aí, querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus. Pois bem: tê-lo-ia eu sido? Não. Confesso sem corar que faltei a muitos desses deveres; que não tive a actividade necessária; que o esquecimento de Deus impeliu-me a outras faltas, as quais, por não serem passíveis às leis humanas, nem

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por isso deixam de ser atentatórias à lei de Deus. Compreendendo-o, muito sofri, e assim é que hoje espero mais consolado a misericórdia desse Deus de bondade, que perscruta o meu arrependimento. Transmite, cara filha, repete tudo o que aí fica a quantos tiverem a consciência onerada, para que reparem suas faltas à força de boas obras, a fim de que a misericórdia de Deus se estenda por sobre eles. Seus olhos paternais lhes calcularão as provações. Sua mão potente lhes apagará as faltas.

“A lei de Deus”, no sentido empregado nesta comunicação e em meu entender, pode encontrar-se nos ensinamentos morais de Jesus de Nazaré. Na realidade as leis morais, são ensinamentos que servem para nos facilitar o progresso espiritual, tendo em vista as incontornáveis leis da natureza, que Deus estipulou para o universo que criou. Ninguém escapa a estas últimas, e ninguém é preveligiado ou prejudicado, em relação a outrem. Todos cumprem as leis da natureza, mas as leis morais são opcionais, como é fácil de compreender.

Amar Deus é facilitar a própria progressão espiritual, nos actos da nossa vida material, compreender a infinita bondade e justiça das leis de Dele. Na verdade as encarnações são oportunidades de progresso, no sentido da felicidade e no âmbito da eterna vida do espírito.

PRUDÊNCIA NUNCA É DEMAIS

Ao ler Kardec, devemos ter atenção a esta importante informação, que ele escreveu e que foi retirada do livro “O evangelho segundo o espiritismo”:

Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração;

que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos e sofômanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam por verdades as suas ideias; enfim, que só os Espíritos da categoria mais elevada, os que já estão completamente desmaterializados, se encontram despidos das ideias e preconceitos terrenos;

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mas, também é sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam em tomar nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas utopias. Daí resulta que, com relação a tudo o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um possa receber terão carácter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.

O primeiro exame comprovativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se submeta, sem excepção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura.

Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de luzes de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias opiniões como juízes únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer aqueles que não depositam confiança absoluta em si mesmos? Buscar o parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta. De tal modo é que se deve proceder em face do que digam os Espíritos, que são os primeiros a nos fornecer os meios de consegui-lo.A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no entanto, que ela se dê em determinadas condições. A mais fraca de todas ocorre quando um médium, a sós, interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que, se ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade que apresente o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo centro, porque podem estar todos sob a mesma influência.

Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: - a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.

Nós não somos pedaços de Deus, somos seres individuais, independentes do Criador a quem tudo agradecemos, quanto compreendemos a perfeição e grandiosidade da pequena parte da obra divina que nos é dado alcançar e a felicidade a que estamos destinados, cada vez maior, ao longo da nossa vida eterna de espíritos.

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Aos bons espíritos agradeço que ajudem os seus protegidos a compreender estas coisas através deste texto, se assim acharem por conveniente, que, quem sabe, possa ter sido inspirado por eles, não obstante as minhas limitações como espírito e como ser humano.

Aos leitores agradeço a atenção, e a paciência por terem chegado ao fim da leitura.

Portugal, 17 de Maio de 2010,

Um companheiro de jornada, simpatizante da doutrina dos espíritos de Kardec

Que os raios da luz divina nos envolvam e confortem a todos!

Obrigado Senhor, Pai de infinita bondade, por tudo, sem qualquer excepção!

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BIBLIOGRAFIA E SITES PROPOSTOS PARA INVESTIGAÇÃO

1) “O livro dos espíritos”, de Allan Kardec (primeiro a ler dos livros de Kardec, na minha opinião);

2) “O evangelho segundo o espiritismo”, de Allan Kardec (interpreta os evangelhos de Jesus, numa perspectiva espirita);

3) “O céu e o inferno”, de Allan Kardec (contém a transcrição de comunicações de espíritos, de vários graus de maturidade, sobre a experiência do desencarne e sobre a forma como percepcionam o mundo espiritual);

4) “O livro dos médiuns”, de Allan Kardec (para quem pretende conhecer melhor o fenómeno da mediunidade, as suas causas e consequências);

5) “A génese”, de Allan Kardec (é um livro em que Kardec disserta e em que transcreve dissertações de espíritos, uma parte das quais, são, na minha opinião, opiniões pessoais que carecem de maior comprovação);

6) www.adeportugal.pt – Associação divulgação espiritismo em Portugal (pode encontrar várias entrevista de membros da ADEP, nos meios de comunicação social, em Portugal)

7) http://www.healthsystem.virginia.edu/internet/personalitystudies/ : site da Universi-dade da Virgínia, em que estão mencionados estudos de vários casos sugestivos de reencarnação (crianças que dizem lembrar-se de uma vida anterior); O Dr Ian. Stevenson, desencarnado ainda há pouco tempo, fez milhares de estudos sobre o assunto ao longo da vida. Mas o site não se resume a este tipo de estudos

A Internet é hoje um dos meios mais usados para a divulgação da espiritualidade, não sendo muito difícil encontrar material relacionado. É preciso ter cuidado com os vendilhões do templo da actualidade, que são numerosos.

Como em tudo, é sensato ter um juízo critico e, sobretudo, tentar avaliar se poderão existir interesses materiais, ocultos ou não, que possam prejudicar a credibilidade do conteúdo de sites ou livros. Há grandes charlatões que se apresentam como espíritas, e até os há que se apresentam como cientistas. A necessidade de sobrevivência é uma força muito grande, para já não falar na ganância e na tentação do lucro fácil.

Um espirita, que se comporte como tal, não divulga a doutrina para obter lucros ou remunerações de qualquer espécie, pelo tempo gasto nessa actividade. Nem dá sinais de querer forçar a opinião alheia. Os espíritas não são profissionais do espiritismo, são pessoas como quaisquer outras, que trabalham nas suas profissões. Alguns pertencem a associações espíritas, a que se dedicam apenas nas horas livres.

Ser espirita não é pertencer a nenhuma organização, mas ser adepto dos conhecimentos que tentei explicar, embora de forma sumária.

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