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Universidade de Brasília IRACYARA MARIA ASSUNÇÃO DE SOUSA ESPORTE ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA NA PRÁTICA DE VOLEIBOL DE AREIA NATAL 2007

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Universidade de Brasília

IRACYARA MARIA ASSUNÇÃO DE SOUSA

ESPORTE ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA NA PRÁTICA

DE VOLEIBOL DE AREIA

NATAL

2007

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Iracyara Maria Assunção de Sousa

ESPORTE ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA NA PRÁTICA

DE VOLEIBOL DE AREIA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília, em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador (a): Profª Drª. Elizabeth Jatobá B. Tinoco

NATAL

2007

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Iracyara Maria Assunção de Sousa

ESPORTE ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA INCLUSIVA NA PRÁTICA DE VOLEIBOL DE AREIA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília, em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte, para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Natal, 01 de Agosto de 2007.

_____________________________________________

Profª. Dra. Elizabeth Jatobá Bezerra Tinoco

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________

Profº. Dr. Jônatas da França Barros

Universidade de Brasília

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Dedico este trabalho a todos os alunos

de escola pública que, se envolvidos em

processos educativos edificantes,

saberão iluminar a razão e o coração

vivendo valores nobres, alimentando

ideais elevados que poderão ser levados

para vida toda.

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AGRADECIMENTOS

O sentimento de gratidão elucida nossa consciência de integração com outros seres

humanos e, com certeza, neste percurso de minha vida acadêmica sempre pude contar com

pessoas sensíveis, solidárias, que de certa forma contribuíram para a concretização deste

trabalho, com as quais eu divido a alegria do êxito conquistado.

A Deus, que sempre tem um plano divino; nele constam todos os cuidados e

inspirações devidas para que conquistemos o sucesso na vida.

A minha mãe, pelos mimos e cuidados em todos os aspectos de minha vida,

permitindo que eu disponha de tempo para as atividades de estudo.

Aos meus avós Safira Bezerra e Manoel Assunção (in memorian), por tão preciosa

educação que me deram, a qual me fortalece nos momentos de desânimo e me impulsiona a

agir sempre na direção da conquista dos ideais, sem desprezar o cuidado amoroso com todos

aqueles que eu tiver a oportunidade de encontrar, desencontrar e reencontrar na vida.

A minha sobrinha Ingrid Morais, pelo bem-estar de me sentir amada com tanta

autenticidade por alguém.

Às minhas famílias Assunção, Bezerra e Sousa, pela torcida para que os meus

objetivos sejam de fato alcançados.

À Profª. Dra. Elizabeth Jatobá, ao demonstrar total interesse de orientar-me, mantendo

a tranqüilidade e o bom ânimo nos momentos cruciais de conclusão deste trabalho, que é

apenas mais um dos muitos que virão.

Ao Ministério do Esporte, por me oportunizar o curso de especialização à distância em

Esporte Escolar.

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“O importante não é o que se aprende,

mas a forma de aprendê-lo”.

Fernando Savater

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RESUMO Este trabalho se propõe a relatar uma experiência pedagógica do esporte escolar, vivida no projeto de esporte do Ministério do Esporte em ação conjunta com o Ministério da Educação e Secretarias dos estados do Brasil, intitulado Programa Segundo Tempo, o qual se propõe a democratizar o acesso à prática esportiva nas escolas públicas. Objetivou materializar uma prática esportiva com a alternativa pedagógica da aprendizagem cooperativa no ensino do esporte, em particular, no voleibol de areia, identificando que princípios devem nortear este ensino e avaliando que valores éticos e morais permeiam a prática de esporte escolar. Como base científica para o estudo, respaldamo-nos no material teórico elaborado por uma Comissão de Especialistas em Educação Física: Bezerra (2000), Brotto (1999), Batista Freire (2003), Medeiros (2004), Sadi (2005),Paulo Freire (1996) e outros. Como opção metodológica, escolhemos a aprendizagem cooperativa no ensino do esporte, acompanhada da narrativa de formação e da observação participante em quatro aulas-laboratório. O grupo participante do estudo foi composto por uma professora de Educação Física, coordenadora do projeto na Escola Municipal Profª. Adelina Fernandes, sendo incluídas duas turmas de voleibol de areia, formadas por alunos do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Como síntese, podemos constatar que o saber fazer, nesta experiência pedagógica construída com a alternativa pedagógica da aprendizagem cooperativa, atende às novas exigências de criação de uma prática esportiva na dimensão educacional do esporte, pois ela opera aprendizagens significativas do conhecimento do esporte e de valores humanos, como solidariedade, cooperação e empatia, e abre espaço para o diálogo, para a problematização como possibilidade de resolução dos conflitos que vão surgindo no cotidiano das práticas educativas. A professora é mediadora dos conflitos surgidos, empregando o diálogo no processo reflexivo, e prima por uma educação de corpo inteiro, pois interessa o aluno que aprende esporte como um todo, isto é, o conhecimento do esporte, mas também a sua dimensão valorativa. A partir desse conjunto de experiências advindas do PST, acreditamos ter realizado um plantio de sementes no campo da prática pedagógica do esporte, que precisam ser cultivadas pelos professores de Educação Física para que a prática esportiva inclusiva seja mais expressiva na escola. Palavras-Chave: Esporte Escolar. Inclusão. Aprendizagem Cooperativa.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 8

2 LEITURA DA REALIDADE......................................................................................... 11

3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA............................................................... 14

3.1 A Escola: Estrutura, Organização e Funcionamento dos Trabalhos................... 14

3.2 Aspectos Didáticos-Pedagógicos da Prática Esportiva Concreta do PST na

Escola........................................................................................................................ 19

4 ASPECTOS POSITIVO E ASPECTOS NEGATIVOS OBSERVADOS NO PST.. 28

5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES...................................................................... 31

5.1 Um Olhar Reflexivo Sobre o Sentido do Ensino do Esporte na Perspectiva

Educacional do Programa 2º Tempo...................................................................... 31

6 CONCLUSÃO................................................................................................................. 42

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 44

APÊNDICES....................................................................................................................... 45

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1 INTRODUÇÃO

Os professores de Educação Física, cada vez mais, vêm percebendo a necessidade

de superar práticas pedagógicas altamente tradicionais estruturadas no ensinamento de

habilidades técnicas, com ênfase na performance, a partir de conhecimentos e estudos de

novos referenciais teóricos que fundamentam a educação atual, na perspectiva de superação

dessa forma de ensino, marcada pelo individualismo, pela competitividade e exclusão. Com

isso pretende-se atender adequadamente às exigências de formação humana da sociedade do

novo tempo.

O quadro histórico delineado pela Educação Física e Esporte no Brasil configura a

imagem de uma prática pedagógica que privilegia uma elite esportiva em detrimento das

camadas populares e dos menos habilidosos que participam dessa prática. Neste sentido,

explica-se a existência de uma prática pela prática, refletida pela perspectiva de reprodução se

isenta da preocupação com processos de ensino resultante de aprendizagem que leve em conta

as diferenças e a totalidade do ser.

Apesar de os profissionais de Educação Física estarem, aos poucos, se

conscientizando da importância de materializar práticas pedagógicas contempladoras valores

educativos do ensino da cultura corporal, ainda não se ultrapassou no interior das escolas os

limites das habilidades motoras, garantindo que os educandos construam seus movimentos, a

partir de interpretações subjetivas, que produzam condutas motoras diversificadas e,

conseqüentemente, um rico acervo de possibilidades de respostas nas situações de ensino que

contribuam significativas ao seu desenvolvimento como ser integrado.

É fato que alguns estudos produzidos na área de Educação Física, que mostram

perspectiva mais transformadora na sua prática, estão longe de ser alcançados. João Batista

Freire (2003), citado por Souza (2004, p. 34-35), tornou relevante os processos de ensino do

Esporte, elegendo princípios educativos, mediadores do princípio da inclusão, que diz

respeito à necessidade de ensinar a todos, não descriminando os que têm menos habilidade;

ensinar bem esporte a todos, entende-se pela criação de um ambiente pedagógico que

possibilite ao educando manter-se constantemente desafiado, com condutas pedagógicas que

facilitam a aprendizagem; ensinar mais que o esporte a todos é aproveitar situações

específicas e particulares desencadeadas ao longo das aulas, como momentos oportunos para

discussão e reflexão crítica; ensinar a gostar de esporte é adotar essa prática para o resto de

suas vidas, tomando consciência das ações à medida que desenvolve autonomia na vida e no

esporte.

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Apresentando um retrato sucinto da problemática da prática da Educação Física

que também abrange o esporte no contexto educacional, evidenciamos a necessidade de

investigar alternativas pedagógicas que modifiquem a realidade de sua prática discriminatória

e excludente no interior das escolas.

Nesta perspectiva, aceitamos o desafio de consolidar uma prática esportiva no

Programa Segundo Tempo – PST, com a preocupação de oportunizar o acesso à prática

esportiva, onde os alunos possam aprender esporte com prazer e responsabilidade,

desenvolvendo competências, habilidades e aptidões serão úteis à vida. Para melhor

entendimento do Programa Segundo Tempo, faz-se necessário considerar como ele se

apresenta:

Um programa do Ministério do Esporte e Ministério da Educação promovido pela Secretaria de Esporte Educacional, destinado a possibilitar o acesso à prática esportiva aos alunos matriculados no ensino fundamental e médio dos estabelecimentos públicos de educação do Brasil, principalmente em área de vulnerabilidade social. (Comissão de Especialista De Educação Física/Esporte – MEC, 2003)

A Secretaria Municipal de Educação da cidade de Natal-RN, em parceria com o

Ministério do Esporte e Ministério da Educação introduziu o Programa Segundo Tempo, que

é uma proposta de esporte para intensificar a cultura esportiva nas escolas da rede pública.

Nas escolas selecionadas, os diretores convidaram um professor de Educação Física

comprometido com a escola para fazer parte da coordenação do PST, o qual assumiria a

função de orientar os estagiários e organizar as práticas esportivas oferecidas pelo programas

no interior da mesma. O PST também contaria com a parceria de Universidades que

destinariam discentes do curso de Educação Física para atuarem como estagiários nas

modalidades esportivas.

Acreditando no valor educativo e integrativo do fenômeno esportivo, apostamos

na proposta do Programa Segundo Tempo, por ter um caráter de prática esportiva inclusiva,

apontando valores éticos do esporte como: desenvolvimento harmonioso da personalidade,

auto-superação, solidariedade, espírito de equipe, desprendimento, lealdade, generosidade,

respeito às regras estabelecidas e ao adversário, controle da agressividade e da violência, já

mencionados na Carta Internacional do Esporte, publicada pela UNESCO, 1979.

Impulsionados pelo desafio de pesquisar e vivenciar prática inclusiva no Esporte

Escolar, objetivando apresentar através de experiências vividas no PST, uma prática inclusiva

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com alternativas pedagógicas para a aprendizagem cooperativa no ensino do esporte. Daí

então, nossa busca seguiu a estruturação de um referencial teórico/metodológico a partir de

elementos já existentes nas perspectivas transformadoras para fundamentar uma prática

pedagógica do Esporte Escolar que no momento julgamos ser urgente: a consolidação de

atividades corporais inclusivas, baseada na abordagem da aprendizagem cooperativa, em

contraposição ao princípio da exclusão, pautada pelo individualismo e a hipercompetitividade,

destinada aos mais habilidosos.

O reconhecimento da busca de novos horizontes para o Esporte Escolar, mais

próximo da realidade contemporânea e das exigências da sociedade do conhecimento,

depende de uma reflexão crítica sobre sua práxis, no sentido de resgatar o espaço educativo

como direito de todos, pelos princípios da cooperação, da criatividade, da reflexão, da

ludicidade e do diálogo, realçando sua função social comprometida com a formação do

cidadão reflexivo, crítico, autônomo, participativo, solidário e feliz.

Estamos conscientes da necessidade e importância de criar na escola, em

particular, no Esporte Escolar, experiências corporais inclusivas, visando traçar estratégias de

aprendizagem cooperativa mais eficazes para a apreensão do conhecimento do esporte,

refletindo sobre alguns valores éticos e morais norteadores de uma prática de esporte escolar

que contribua para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática.

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2 LEITURA DA REALIDADE

A cidade do Natal capital do Rio Grande do Norte, limita-se: ao sul com

Parnamirim e Extremoz, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o município de São

Gonçalo do Amarante. A intensificação do processo de urbanização nas últimas décadas vem

exigindo um reordenamento do espaço geográfico, fato este que foi consolidado em 1997,

com a constituição da região norte.

Natal encontra-se dividida em regiões administrativas, em número de quatro com

um total de 35 bairros nos quais pertencem a Zona Norte, pela ordem decrescente: Lagoa

Azul, Nossa Senhora da Apresentação, Potengi, Pajuçara, Redinha, Salinas e Igapó. Natal

cresceu 8,1% entre 91 e 96, enquanto que a Zona Norte aumentou 509% em 16 anos.

A estimativa de crescimento de Natal é de 2,85, algo em torno de 770.000

habitantes. A Zona Norte em 1980, possuía 40.479 habitantes, em 1991 esta população

triplicou passando para 146.935 hab, e em 1996 outro aumento populacional passou para

206.115 habitantes, representando assim neste ano 32,9% da população total de Natal (IBGE-

RN-1980/96).

A escola Municipal Profª Adelina Fernandes, um dos núcleos de desenvolvimento

do Programa Segundo Tempo, localiza-se na região norte de Natal, no bairro Potengi,

especificamente nas proximidades do rio Potengi, onde havia maior desenvolvimento das

atividades econômicas como viveiros de camarão, salinas e indústria. Hoje, conhecida como

região (zona) norte, é constituída de 07 (sete) bairros. A história dessa região surge em 1916

com a construção da Ponte de Igapó, mas só foi adensada com a implantação do Distrito

Industrial de Natal em 1980, acompanhada com a construção de muitos conjuntos

habitacionais à margem esquerda do rio Potengi.

No entanto, percebemos que a região é ainda muito carente. Outro fato é que a

Zona Norte abriga o que se defini na organização social como ‘bolsões de miséria’, devido a

existência de 16 favelas e uma ocupação, segundo informações da SMURP/PMRN-2000.

No final da década de 90, foi notável o acréscimo populacional e a existência de

uma nova demanda de políticas públicas com investimentos para o turismo, com o intuito de

expandir a prática da vivência turística no município.

A escola de realização do estudo do PST está situada na Zona Norte da cidade de

Natal-RN, no bairro Potengi, especificamente no conjunto habitacional Soledade- II. Na

localidade, observa-se a existência de escolas da rede pública (estadual/municipal), crescente

construção de escolas privadas, um hospital e posto de saúde, um ginásio de esportes, grandes

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investimentos na rede de supermercados e proposta de construção de um shopping Zona

Norte.

A comunidade, em sua maioria tem uma base econômica sustentada pelas

políticas públicas oferecidas pelo governo federal, dentre as quais: bolsa-escola e salário-

família. Também identifica-se uma parcela da comunidade que conquistou um espaço no

mercado de trabalho nas seguintes áreas: o comércio ambulante (vendas de utensílios

domésticos nos bairros) supermercados; construções civis (pedreiros e serventes), serviços de

lavadeiras; faxineiras; porteiros/vigias; em escolas (profissionais da educação), empresas de

transportes (motoristas e cobradores); no turismo (vendedores ambulantes, bugueiros); e nas

indústrias, etc.

No caso das particularidades de aspectos da cultura local, pode-se destacar a

participação de famílias em atividades da igreja em diferentes credos, e um número

significativo de jovens integrados a “grupos de jovens”, bem como em projetos voltados para

o protagonismo juvenil oferecidos pelo governo e por ONGs. Observa-se também grande

investimento de líderes políticos no que se refere a instalação de associações e fundações que

oferecem serviços de saúde e preparação profissional para a comunidade. Outras atividades

significativas são oferecidas à comunidade no interior da escola como parte do projeto Escola

Aberta; e ainda os campeonatos esportivos da Zona Norte que atrai a participação das escolas

privadas e públicas da localidade.

Considerando o Programa Segundo Tempo – PST como uma proposta de

atividade esportiva educativa, idealizada pelo Ministério do Esporte em parceria com as

Secretarias de Educação dos estados do Brasil, pode-se apresentar um mapa delineado pelos

núcleos atendidos pelo PST no estado do Rio Grande do Norte, que compreende um número

de 34 escolas, dentre elas 15 estaduais e 19 municipais. A Secretaria de Educação do Estado

saiu na frente implantando do PST nas escolas, na formação de estagiários e, no caso dos

coordenadores, o cadastramento dos mesmos no curso de especialização - Esporte Escolar.

A proposta do Programa Segundo Tempo na rede municipal foi implantada no

mês de agosto de 2004. O coordenador-geral do PST solicitou à direção dos núcleos a

definição de um coordenador para o programa (professor de Educação Física do quadro

efetivo da escola). A secretaria Nacional de Esporte Educacional solicitou a Secretaria de

Educação do Município, junto ao coordenador-geral, o cadastramento geral do PST, o qual

tinha por objetivo otimizar o processo de acompanhamento, controle e gerenciamento do

programa, e como isso, ser possível a implementação de sua gestão. O cadastramento

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constava de dados referentes aos coordenadores de núcleo, bolsistas, agentes comunitários,

alunos participantes e coordenador-geral, e deveria ser concluído em setembro de 2004.

A finalidade vital do Programa Segundo Tempo é a de criar uma nova cultura

esportiva na escola, visando uma transformação das práticas pedagógicas do esporte, tendo o

jogo como fundamento, e assim, atender ao anseio de uma proposta das escolas públicas que é

envolver os alunos em atividades educativas, ampliando a sua jornada na escola. Essa

intenção educativa do PST vinha expressa no slogan “O Esporte e a Escola no Mesmo Time”,

de forma que a gestão escolar contribua na adequação do ambiente para o desenvolvimento da

prática pedagógica do esporte atrelada ao seu projeto político pedagógico, promovendo o

ensino do conhecimento do esporte, a aprendizagem de valores humanos edificantes e o

florescer de relações interpessoais harmoniosas.

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3 LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA

3.1 A Escola: Estrutura, Organização e Funcionamento dos Trabalhos.

A Escola Municipal Profª Adelina Fernandes situa-se no conjunto Solidade II, no

bairro Potengi, na rua Angra dos Reis, sem número, na tradicionalmente chamada de Zona

Norte de Natal, que reúne-se os bairros situados do outro lado do Rio Potengi. Foi fundada

através do decreto nº 2664 de 12 de maio de 1982; teve autorização através da portaria nº 078

de 17 de fevereiro de 1996. Inicialmente funcionou voltada para as quatro primeiras séries do

ensino fundamental, com apenas 08 (oito) salas de aula.

Seu nome foi uma homenagem à professora Adelina Fernandes, pelos relevantes

serviços prestados à educação do Rio Grande do Norte, apesar de a mesma ser cearense de

Ijaú, nascida em agosto de 1883. Sua primeira experiência no magistério ocorreu em 1902,

com apenas dezenove anos quando foi nomeada para uma escola da prefeitura de Belém do

Pará.

A escola, após a última reforma, teve seu espaço físico ampliado para 16 salas de

aula, secretaria, sala de professores, cozinha, direção, pequena biblioteca, banheiros e quadra

de esportiva coberta. Espaços esses essenciais ao funcionamento mínimo de uma unidade

escolar, embora se comparado a outras escolas públicas, a sua administração afirme ter um

espaço físico privilegiado. Ainda existem pátios, um parque infantil, uma horta, espaços

livres que os alunos usam para praticar esportes e brincadeiras nos horários livres e no recreio.

A administração aponta a necessidade da ampliação da estrutura de apoio para um

melhor exercício das propostas pedagógicas, como por exemplo, uma biblioteca, que

comporte pelo menos uma turma bem acomodada, e uma sala de vídeo. A proposta de

ampliação, solicitando almoxarifado, refeitório e bloco administrativo já foi encaminhada no

ano 2005 à Secretaria Municipal de Educação.

Os cargos que compõem a sua administração são: direção, vice-direção,

supervisão, mecanógrafo, bibliotecária, pessoal de apoio (limpeza, cozinha, vigilante,

porteiro) perfazendo um total suficiente de pessoas para garantir o funcionamento eficiente da

instituição. Destacamos que a atual administração (diretor e vice-diretor) foi escolhida por

eleição, significando um avanço na democracia escolar, substituindo as antigas práticas

políticas de indicação de cargo de confiança.

A estrutura pedagógica da Escola envolve o ensino fundamental, funcionando em

dois turnos: o matutino com 1º anos iniciais (02 turmas) e 06 turmas do 1º ciclo e 08 turmas

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do 2º ciclo do ensino; o vespertino, com 04 turmas seriadas da 6º ao 9º ano do ensino

fundamental. Ao todo são 16 turmas no matutino com 521 alunos e 16 no vespertino com 545

alunos, perfazendo o total de 1066 alunos matriculados.

Em relação a estrutura curricular, o sistema de ciclos vem sendo implantado no

ensino fundamental do Município sem, no entanto, ter uma orientação pedagógica mais

aprofundada para esse fim, forçando a Escola a experimentar essa nova organização com o

mínimo de conhecimento dado pela Secretaria.

Seu projeto Político Pedagógico encontra-se em fase de execução e, desde 2006,

vem se efetivando as devidas alterações para ser apresentado, analisado e aprovado por todos

os segmentos da escola, segundo a administração escolar. Apesar de ser um documento

essencial, que orienta as dimensões filosófica, sociológica e pedagógica, existe uma

dificuldade na sua elaboração, devido à falta de apoio da Secretaria da Educação,

especialmente agravada pelo não comprometimento dos profissionais dos diferentes

segmentos da escola.

Outros projetos que a escola participa, dinamizando o seu cotidiano e envolvendo

os diferentes segmentos são os projetos Paz na Escola, Escola Limpa e Horta na Escola. O

primeiro projeto faz parte da Secretaria Municipal de Educação que, desde o início de cada

ano letivo, define, na semana pedagógica geral, uma temática comum para ser trabalhada na

escola, o ano inteiro, tendo em 2005 o tema “A Cultura de Paz na Escola”. Essa temática

objetivava combater a agressividade e a violência no cotidiano escolar. O projeto “A Escola

Limpa” visa à conservação e valorização da Escola e envolve todos os segmentos da mesma:

alunos, funcionários e professores. “Horta nas Escolas” é um projeto da Secretaria Municipal

de Educação que envolve funcionários, pais e alunos com apoio da EMATER/RN (Instituto

de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN), e tem a finalidade de complementar as

refeições usadas como lanche na escola, além de propiciar a aprendizagem de conhecimentos

básicos para o plantio e colheita. Normalmente o excesso de produção é doado aos pais que

participam desse projeto, além de professores e funcionários.

Os problemas que mais afligem e dificultam a administração da escola são: a falta

de compromisso de alguns professores, a manutenção do prédio, a incompreensão de alguns

profissionais e a fragmentação do trabalho educativo que é coletivo. Fica clara a

predominância das relações interpessoais como elementos dificultadores da ação

administrativa na escola, especialmente em trabalhos coletivos prejudicado pela falta de

compromisso de alguns profissionais.

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No tocante aos elementos que efetivamente contribuem para administrar a escola,

são destacadas a ação da Secretaria Municipal de Educação e as verbas federais que chegam

em dia. Entre essas opções, a administração identifica as parcerias com várias entidades, o

apoio aos projetos desenvolvidos na escola, a formação continuada do corpo docente e o

cuidado em substituir, de imediato, os profissionais de licença. A descentralização

administrativa da Secretaria de Educação deu uma maior autonomia para a direção da escola,

contribuindo para decisões mais rápidas nas soluções de problemas.

A relação da família com a escola Adelina Fernandes é considerada satisfatória,

especialmente pela credibilidade quanto aos serviços prestados. Isso a faz ser bastante

procurada pelos familiares ou responsáveis pelos alunos. Estes são, em sua maioria,

preocupados com o acompanhamento dos filhos. Como qualquer outra escola, sofremos

alguns entraves com a indisciplina do aluno, detectando que estas crianças são aquelas que

possuem menos apoio da família.

Neste estudo, nosso foco foi o desenvolvimento do Projeto Segundo Tempo, que

foi introduzido na escola em agosto de 2004. A Secretaria Municipal de Educação,

precisamente com o setor de Esporte, Cultura e Lazer, apresentou em reunião as Diretrizes

Nacionais norteadoras da proposta de educação esportiva ao professores-coordenadores e

estagiários participantes do projeto.

Neste encontro foi apresentada a essência da proposta, explicitando as intenções

educacionais do PST, cuja ênfase era a dimensão educacional do esporte com a finalidade de

criar uma nova cultura de prática esportiva nos estabelecimentos públicos de ensino ou em

espaços esportivos disponibilizados por parcerias, como um fator de contribuição para o

desenvolvimento do ideal da escola em tempo integral.

Ainda neste encontro foi apresentada à estrutura organizacional do programa no

que se refere aos investimentos do governo federal. No projeto foram incluídas ações como:

uniformes para os alunos, Kit esportivo para a modalidade esportiva e merenda. Esta última,

responsabilidade da própria escola administrar com o apoio da Secretaria de Municipal de

Educação. Assim conhecendo as intenções educacionais do projeto acompanhada da

apresentação de experiências positivas que já estavam acontecendo em outros estados, em

particular Brasília-DF, também apostamos na proposta, pois defendemos que crianças de área

consideradas pobres também têm o direito de vivenciar com qualidade a prática esportiva.

Na escola, foi priorizada em pauta de reunião com os pais, a apresentação do

funcionamento do programa no interior da mesma. Na apreciação dos pais, eles se colocaram

com total apoio, pois acreditavam que a prática esportiva na escola seria positiva para a

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formação de seus filhos, pois preencheria o tempo ocioso que tinham com uma atividade

educativa.

O próximo encaminhamento foi a divulgação do PST, junto aos alunos e demais

professores. Em seguida, como coordenadora, iniciamos a elaboração de um cronograma com

as ações para o desenvolvimento da prática esportiva na Escola. Nas duas primeiras semanas

de agosto/2004, foram realizadas as inscrições dos alunos nos turnos matutino e vespertino

juntamente com os estagiários-monitores.

As modalidades esportivas definidas no início foram basquete e judô. A escolha

do basquete se deu devido já ser uma prática esportiva na escola, sendo responsabilidade do

monitor-estagiário que realizava um trabalho voluntário e como o seu perfil atendia às

exigências para fazer parte do projeto, a direção o solicitou para permanecer na escola, agora

integrado ao PST. Quanto ao judô, foi proposta do setor de Esporte, Cultura e Lazer, visto que

seria uma proposta inovadora nas escolas pública.

As definições das modalidades esportivas sugeriram uma adequação do ambiente

para a prática esportiva na escola. E, embora a escola tenha parte de sua estrutura física como

espaço para a vivência do esporte, foi preciso enfrentar as interferências da escassez dos

recursos materiais e as estruturas esportivas específicas para a prática do basquete e do judô.

Traçar uma linha entre proposta a ser desenvolvida e recursos necessários a sua

concretização não é tarefa fácil. E na realização do PST na escola, a realidade não desmentiu

este fato. No basquete, a quadra não tinha suas linhas demarcatórias definidas (pintadas), os

aros precisavam de ajustes, pois estavam frouxos nas tabelas e as bolas eram oferecidas pelo

monitor-estagiário trazidas de outra escola somando-se a da própria escola, que não era em

quantidade suficiente. Já na organização da prática do judô, a realidade ilustrou bem a

dificuldade de oferecer práticas que exigem uma estrutura específica com aparatos que são de

difícil acesso por envolver altos rendimentos financeiros.

Neste ponto da prática do judô especificamente, passamos de uma postura de

visionários para estrategistas. Começamos a repensar a prática do judô dentro das condições

possíveis da escola, acreditando que esta prática poderia realmente ser concretizada no seu

interior. E indo mais além, pudemos buscar condições dentro da realidade escolar que

determinaram sua prática inspirada pela manifestação educacional, a qual levaria a um efeito

desejado: oportunizar as crianças e jovens da escola a prática do judô.

Em qualquer contexto, justificar uma prática nova passa por um interpretar

político na dinâmica de como a prática funciona, visto que, a maioria das escolas públicas é

mantida pelo dinheiro do poder público. Foi então que como coordenadora do projeto,

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juntamente com a monitora-estagiária, enfrentamos uma escolha inevitável: sugerir a prática

de uma nova modalidade esportiva ou permanecer com a prática de judô que vinha frustrando

a todos nós por não está enfocando a sua vivência devida. Isto porque, não se dispunha de

uma sala, pois a escola funciona nos dois turnos. Na quadra desenvolvem-se as aulas de

Educação Física, a qual tem uma proposta sistematizada e acontece dentro do horário normal

de funcionamento da escola junto com as demais disciplinas, restando como espaço para o

desenvolvimento das aulas a área livre de areia.

Como assinalamos, os obstáculos encontrados não puderam ser imediatamente

evitados. Foi então que a monitora-estagiária sugeriu a prática do handebol, e mais uma vez,

começamos a refletir sobre a nova proposta de esporte, baseando-se nas experiências vividas

com a prática do judô sem cair no pessimismo. Ao analisar o contexto da escola, sentimos

que não íamos progredir muito, por várias razões: não teria espaço físico adequado, pois teria

que ser na área livre de areia e lá não teria as delimitações da quadra, as traves eram os cones

e material como bolas eram as de “dente de leite” que tinha na escola.

Cada planejamento para concretizar a proposta do PST na escola representava,

para nós, uma oportunidade de aprender muito sobre como solucionar problemas para mudar

esse quadro da prática esportiva indesejado. Ao mesmo tempo, como era de minha

responsabilidade organizá-la, passei a refletir sobre uma melhor maneira de vivenciar uma

prática esportiva naquele espaço específico (área de areia), aproveitando-a como oportunidade

disponível para os alunos não interromperem a prática ou a deixarem de lado.

Como estávamos vivamente interessados em concretizar a proposta do PST na

escola, buscamos introduzir a prática do esporte voleibol de areia, pois atingia um número

significativo de alunos, sua prática adequava-se à área livre de areia, e os materiais

específicos como rede, bolas e armação eram mais fáceis de serem adquiridos de improviso.

Garantia, assim, o início dessa vivência dentro da seguinte imagem: a rede era uma corda de

elástico amarrada de uma coluna da galeria das salas de aula para uma coluna da quadra; a

marcação era desenhada com pedaços de madeira e as bolas tinham sido doadas pela escola

privada que trabalho, somando-se com as do kit esportivo do PST, as quais não tinham

qualidade e logo se descusturaram e/ou furaram. Assim o improviso teve que ser

experimentado como coisa nova, naquele momento.

Todavia, não podemos deixar de destacar que o setor de Esporte, Cultura e Lazer

da Secretaria do Município adquiriu o kit esportivo das modalidades e destinou para as

escolas. No entanto, não foi suficiente para atender à organização de uma prática no prisma

idealizado pelo PST. É lícito lembrar que a concretização do PST na escola também dependia

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da parceria ativa da direção da escola, da chefia do setor ligado diretamente ao projeto e do

Ministério do Esporte mesmo que numa dimensão macro. Isto porque, cabia a eles a

adequação do espaço escolar, manutenção dos materiais esportivos e o apoio devido aos

professores para aprimorar a prática pedagógica do esporte na escola.

Apesar dos esforços da coordenação e de monitores-estagiários, os impasses não

corroeram a vivência da proposta do PST, mesmo acontecendo em condições mínimas de

qualidade. Para nossa surpresa, foi por determinação de suas entidades mantenedoras que o

PST foi suspenso em agosto/2005. Não entraremos, aqui nos por menores da sua suspensão

pela complexidade que a envolve e por não ter sido prestado esclarecimentos devidos ao

grupo de professores e estágios do programa. Como particularmente sempre estivemos

comprometidos com esta proposta, que traz em suas diretrizes educacionais princípios e

valores norteadores à construção de uma prática esportiva inclusiva, democrática, que respeita

as diferenças, com foco na aprendizagem do conhecimento do esporte, assumimos as turmas

de voleibol de areia e investimos parte de minha própria renda financeira (salário) na compra

dos postes (linhas de madeira) que sustentam a rede e a marcação oficial para a adequação do

espaço físico.

Ao assumirmos as turmas de voleibol de areia, respeitamos o direito dos alunos

que já vinham participando dessa prática, e movidos por concretizar uma nova prática

esportiva na escola, buscamos fazer uma prática diferente, adequando-a as condições de

espaço e material disponível, numa perspectiva lúdica, cooperativa e de lazer.

3.2 Aspectos Didático-Pedagógicos da Prática Esportiva Concreta do PST na Escola.

Sabemos que um projeto educativo parte de um desejo, de uma necessidade dos

atores sociais da escola. Embora desejássemos e tivéssemos a boa vontade de construí-lo na

escola, nossa prática não era tão expressiva devido às diversas interferências que se

mostravam difíceis de serem superadas pelo trabalho solitário que se realizava na prática

esportiva. No caso do Programa Segundo Tempo, ele surgiu como proposta do Ministério do

Esporte em parceria com o Ministério da Educação, a fim de construir uma nova cultura de

esporte na escola pública, sendo sustentada também pelas Secretarias de Educação Municipal

e Estadual dos estados onde o projeto seria desenvolvido. A partir de então, seguiria uma

etapa de sensibilização, de motivação, de mobilização de diretores de escolas e, em especial,

professores-coordenadores e monitores-estagiários, como encaminhamento primeiro para se

planejar ações concretas do projeto na escola.

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A escola vem se descobrindo como palco de conflitos e contradições sociais.

Desde então, a elaboração e a explicitação de seu projeto de educação torna-se cada vez mais

importante. Uma vez decidido a realização do PST na Escola Municipal Adelina Fernandes,

momento em que se abraçou efetivamente uma prática de esporte que tivesse significado para

todos os atores sociais da escola (professores, funcionários, direção, alunos, pais, comunidade

local, entidades mantenedoras), foi preciso nos encorajar para construir uma nova cultura

esportiva numa realidade complexa, enfrentando os desafios do cotidiano de uma escola

pública, de forma refletida e sistematizada.

Observando a forma de implantação do PST na escola, podemos identificar uma

preocupação no sentido de se cumprir imediatamente o programa. Assim, enquanto

coordenadora e professora da modalidade iniciamos um processo de planejamento da prática

esportiva na perspectiva educacional, propondo uma metodologia de ensino que possibilitasse

a sua re-significação, a partir de ações educativas no processo de ensino e aprendizagem, que

contribuíssem para consolidar uma prática esportiva própria da escola, isto é, o esporte da

escola.

A minha experiência acadêmica me ajudou a mergulhar em estudos que me deram

uma base teórico-metodológica, a qual me tornou uma professora de Educação Física com

competências para viabilizar práticas do esporte com crianças e adolescentes, compreendendo

que é preciso atender às suas reais necessidades, isto é, através do ensino e por meio do jogo,

possibilitar ao educando o desenvolvimento em diversas formas de mover-se, garantindo a

vivência do esporte como cultura que deve ser vivida na escola com ênfase no princípio de

“formação humana”.

Ao estruturar o plano de ensino anual do esporte, busquei dinamizar o ensino

primando por uma prática pedagógica que expressasse coerência com o conhecimento

adquirido na minha formação e na minha educação continuada, assumindo o compromisso de

formar um cidadão reflexivo, crítico, participativo, solidário, feliz e não apenas um atleta.

O processo de formação do cidadão do novo tempo exige de nós, educadores,

atenção constante ao desenvolvimento integral do ser. Neste sentido, na prática esportiva da

escola primamos para que fossem respeitadas as fases de desenvolvimento e amadurecimento

da criança, possibilitando a livre expressão ao aprender o esporte e, com isso, ampliar a

criatividade nas diversas experiências de movimentos sem se preocupar apenas com a

especificidade do esporte, oferecendo um variado e amplo repertório de movimentos e

habilidades. Estes foram viabilizados por meio de jogos, garantindo a aprendizagem do

conhecimento do esporte e de valores ao longo de sua vida.

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Nas situações de ensino e aprendizagem do esporte, consideramos como aspectos

didático-pedagógicos o conhecimento prévio do aluno (sua bagagem anterior) e o

conhecimento da professora sobre a turma, seus interesses, disposições, nível de controle

corporal e de aquisição de habilidades motoras apresentados pelos alunos.

O foco da nossa proposta foi iniciar uma prática de voleibol de areia, re-

significando sua vivência na formação do educando integrado, considerando aspectos da

aprendizagem da especificidade técnica e normativa desta modalidade, perpassando por

valores humanos, tais como: respeito, honestidade, liberdade e cooperação. As ações

pedagógicas foram voltadas para a melhoria da qualidade dos níveis de aquisição das

habilidades básicas de rebater, saltar, correr e outras, ampliando seu repertório motor, como

condição favorável à participação com sucesso de todos os alunos.

Ao lado do reconhecimento do voleibol de areia como cultura corporal, isto é,

como saber que a escola não deveria desprezar, destacamos que é nesse espaço que se tem a

possibilidade de democratizar a prática do esporte, materializando um ensino sistematizado

desse esporte enquanto cultura corporal da humanidade.

Na proposta do PST, orientamos nossa ação docente para a construção de uma

prática de esporte alicerçada na pedagogia da autonomia ( FREIRE,1996 ), onde os alunos no

ensino do esporte escolar, teriam a experiência de um espaço aberto ao diálogo e vivenciariam

situações de ensino e aprendizagem problematizadores.

Ao ensinar esporte com base em nova abordagem, como a pedagogia da

autonomia, sentimos que hoje, no universo da escola, ela provoca uma revolução, pois requer

que mudemos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino que mantêm distantes

professores e alunos na hierarquia das formas tradicionais de ensinar e de aprender.

Não foi tarefa fácil assumir uma postura com amadurecimento profissional e

pessoal, livre e autônomo numa dinâmica escolar em que são notórias as estruturas arcaicas e

autoritárias do ensino na escola como um todo; em particular, destacamos a nossa escola

pública.

Construir práticas pedagógicas fundamentadas na pedagogia da autonomia, ainda

é considerado como uma experiência nova de ensino para o esporte, mas que nos ajuda a

rever, a ampliar e a modificar muitas formas atuais de ensinar e aprender esporte na escola.

Nesta perspectiva, situamos nossa prática pedagógica desenvolvida no PST na

pedagogia da autonomia, pois o processo de ensino e aprendizagem do esporte foi planejado

para se tornar uma experiência dialógica, autônoma e transformadora. O aluno assumia parte

da responsabilidade da aprendizagem que era cooperativa (individual e coletiva), e construía o

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próprio saber, juntamente com a professora que se assume como mediadora e encorajadora

deste processo. Nesta perspectiva, durante as aulas, o aluno tem oportunidade de organizar

seu próprio trabalho, escolher e recriar suas atividades, ser ouvido no processo de decisão do

que deve ser ensinado, exprimir suas idéias, sentimentos e emoções perante os colegas,

escolher o seu grupo e participar ativamente de todas as atividades de jogo.

Na prática esportiva alicerçada na pedagogia da autonomia, procuramos ajudar a

contextualizar, a ampliar as aprendizagens alcançadas pelos alunos, a problematizar e

descobrir novos significados no conjunto de conhecimentos que deveriam ser apreendido. Ao

mesmo tempo, professor e aluno perguntam, complementam, participam, colaboram e com

isso, a prática pedagógica ganha um novo formato, com o conhecimento elaborado a partir da

própria experiência proposta pelo professor e reconstruída por professor/aluno. E o mais

interessante é que as aulas se tornam criativas, cheias de novidades e avanços, tornando-se

uma proposta viável no universo da escola.

Convém ressaltar que, nas aulas, seguimos um processo seqüenciado com vistas

ao ganho gradativo de competências motoras, sem desprezar a harmonia na socialização entre

os alunos e, por isso, a opção pelo intenso trabalho cooperativo. Outro aspecto importante foi

a formação da personalidade já que o que se aprende na escola influencia, e muito, nossas

vidas; e a preparação para atitudes e procedimentos voltados para o como se pensar e como se

formular soluções diante de situações conflituosas surgidas no trabalho coletivo do esporte.

Assim evidenciamos a importância do planejamento para o desenvolvimento de

aulas bem estruturadas, tratamento de conteúdos perpassando por algo mais profundo que são

os valores morais e éticos, que autentica uma educação integral humanizadora, e também

introduzimos, como procedimento metodológico, a aprendizagem cooperativa que favorece

aprendizagens significativas. As estratégias de avaliação priorizadas foram: a construção de

texto sobre as aprendizagens, vivência em situações técnicas e táticas de jogo e a auto-

avaliação, as quais funcionaram como uma lente que permitia focalizar o aluno, seus avanços

e suas necessidades no processo de ensino e aprendizagem do esporte.

Algumas propostas de aulas que montamos para viabilizar esse pensar e esse fazer

pedagógico do ensino do esporte do voleibol de areia foram categorizadas em aulas

laboratórios e serão apresentadas em seguida. O que queremos enfatizar é que tivemos que

tomar inúmeras decisões em relação a nossa prática, nos fundamentando teoricamente para

que tais decisões fossem acertadas sobretudo porque iria interferir na formação do educando

como cidadão do mundo. Esse tratamento pedagógico foi conveniente, visto que o nosso

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desejo era dimensionar o ensino do esporte voleibol como uma prática educativa e não

meramente técnica.

A aula laboratório 1 demonstra uma vivência da aprendizagem do voleibol de

areia, impulsionada pelo entendimento de que no ensino do esporte é preciso ir mais além,

transpondo os fundamentos meramente técnicos e socializando os educandos, e contar

ativamente com eles para criar uma atmosfera de prazer e de alegria durante as aulas.

A partir daí, iniciamos a construção de um Pacto de Convivência Pela Paz na

Educação Física e no Esporte, já que também atuamos na Educação Física Infantil na escola.

O Pacto se constituiu de um acordo comum para uma boa convivência na escola, o qual seria

construído por professoras e educandos. Nosso objetivo foi refletir sobre normas de

convivência que harmonizam as relações humanas e melhoram o aproveitamento do ensino e

da aprendizagem na escola, por meio de atividades lúdicas vividas nas aulas de voleibol de

areia.

A aula seguiu uma seqüência metodológica com alongamento orientado pela

professora e acompanhado com o recurso da música. A música definida foi “Feliz” da trilha

sonora da novela Belíssima e, a escolha se deu pelo conteúdo pertinente à temática do Pacto

de Convivência.

O Pacto de Convivência Pela Paz foi apresentado por projeção de imagens em

transparência e, cada combinado: 1- É Permitido Ser Feliz; 2- É Ótimo que o Amor Brote do

seu Coração Contagiando a Todos (Fique sempre perto de quem você gosta); 3- É Importante

que sua Luz Interior Brilhe em Todos os Momentos de Ensino e Aprendizagem (Dê um bom

exemplo que essa moda pega); 4- É Legal que Tenhas um Comportamento Exemplar, não

Machucando os Outros, nem Passeando pela Escola no Horário de Aula; 5- Aceitamos

Críticas Construtivas, mas deixe para dizê-las em momento oportuno. Toda a discussão foi

acompanhada com questionamentos e vivências de atividades lúdicas pensadas para

enriquecer a reflexão sobre a importância dos combinados na convivência escolar. Os

combinados que fizeram parte do Pacto de Convivência, visaram a aprendizagem do voleibol

de areia e de valores morais e éticos, uma vez que tão necessário se faz educar para os valores

humanos que enobrecem, que libertam, que conscientizam os educandos.

No ensino do voleibol de areia, todo o trabalho pedagógico foi delineado para

preparar os educandos para aprender esporte abrindo espaço para a ampliação de

conhecimentos, de competências e de habilidades, fazendo uso diversas linguagens, tais como

a linguagem oral, escrita e corporal (gestual).

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Foi então, que na aula laboratório 2, introduzimos a leitura de textos. Na aula, o

texto selecionado foi o “garotinho chamado amor”. A dinâmica da leitura envolvia a

expressão corporal, pois a intenção era construir vivências para que o educando assumisse

constantemente uma atitude crítica e construtiva nos momentos em que era preciso opinar e

compartilhar ações, sabendo observar e viver os valores, socializando-se com facilidade e

transferindo novos saberes para as diversas situações da vida.

Na vivência desta dinâmica, o texto foi lindo pela professora e os educandos

procuram interpretar, opinar e compartilhar gestos conforme solicitava a atividade. A turma se

organizou em duplas, convidando um colega para a vivência, e o objetivo foi oportunizar

momentos de proximidade entre os educandos com ênfase na realização de gestos cordiais,

tais como aperto de mão, um abraço, um lindo sorriso e o aplauso, que significam a

demonstração concreta de sentimentos entre as pessoas.

Alternando as atividades na aula, a fim de torná-la criativa, e favorecendo um

clima estimulante para manter vivo o interesse e a vontade de todos participarem, sugerimos o

ensino do voleibol de areia pela aprendizagem cooperativa, trazendo os educandos a serem

participantes ativos de seu próprio processo educativo, fazendo-os viver, sentir e compreender

cada situação de ensino e aprendizagem dos fundamentos do voleibol de areia: toque por

cima, manchete, saque por baixo e cortada. Com este procedimento, os educandos

desenvolverão gradativamente, adquirindo eficiência na realização dos fundamentos no

momento do jogo.

Chegando ao momento da vivência do jogo, os educandos puderam jogar voleibol

de areia 2X2 (dupla) ou 4X4 (quarteto). O jogo era realizado mantendo o formato da estrutura

do voleibol, as regras (distância da linha de saque, número de toques de bola por equipe,

contagem do placar) podiam ser recriadas pelos participantes, mantendo apenas a regra de

iniciar o jogo sempre com o saque.

Diante da experiência na prática de voleibol de areia apresentada, podemos

destacar que os educandos foram exercitando a escolha de caminhos facilitadores da vivência

do jogo pensando em todos os colegas, isto é, respeitando o nível de aprendizagem dos

mesmos, sem que fossem deixados de fora do jogo por não demonstrar ainda tanta habilidade

na concretude do jogo. É oportuno lembrar que inovar, na ação pedagógica também se

apresenta como momentos pesados, densos na vida profissional, mas é preciso apostar e

consolidar na prática do esporte a riqueza da ação educativa.

A cada aula, tomamos o cuidado para que nosso trabalho se desenvolvesse com

clima de afeto, amizade, alegria e bom ânimo, visto que os momentos de ensino do voleibol,

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poderiam ser preciosos para estimular a permanência dos alunos na prática esportiva escolar e

para, desta forma, alcançarmos um dos objetivos do PST: a intensificação da cultura esportiva

na escola.

Sugerimos como temática da aula laboratório 3 - “Saber aprender Voleibol

Cooperativamente”, pois seria bom para os educandos, uma vez que eles aprenderiam

construindo as próprias atividades em grupos. Assim, todas as atividades realizadas nesta aula

laboratório tinham por objetivo vivenciar situações que oportunizassem o diálogo

corporalizado aos alunos, a partir da criação de atividades que evidenciavam o ouvir, o criar

com o outro, o se expressar e o se movimentar, visando melhorar a capacidade de comunicar-

se e realizar os fundamentos de voleibol.

Propomos que a turma se organizasse em 04 grupos de aproximadamente 7 ou 8

pessoas. Cada grupo criava uma atividade lúdica que envolvia os fundamentos do voleibol. O

grupo explorava novas possibilidades de brincar de voleibol criando suas regras a partir da

sugestão coletiva dos colegas. A professora participava intervindo para ajudar os alunos a

superarem os possíveis conflitos e obstáculos surgidos na tarefa. Após o processo criativo, os

grupos apresentavam a atividade lúdica criada para os demais grupos e, em seguida, todos os

grupos circulavam para brincar com as diversas brincadeiras.

Nesta vivência, todos os educandos participavam ativamente da construção das

atividades, auxiliavam os demais colegas e iam adquirindo uma visão geral das atividades

realizadas, além de enriquecerem seu acervo motor pelas experiências motoras vividas nas

mesmas. A auto-avaliação acompanhava a reflexão da aula, sendo introduzidos

questionamentos que iam ampliando a sua percepção e sua capacidade de compreensão das

questões levantadas.

A própria estrutura da aula laboratório 4 nos abre imenso campo para a vivência

da educação integral na prática pedagógica. Em nossas atividades, levamos em consideração o

ensino do voleibol de areia, juntamente com a associação de músicas que auxiliam no

afloramento da sensibilidade. Por isso, estruturamos atividades que levassem os educandos à

vivência interativa com a prática do voleibol de areia, que pudessem possibilitar

progressivamente a melhora do desempenho corporal na realização dos fundamentos no

momento do jogo.

A aula foi iniciada com alongamento, embalado pela música “Brincar de Viver”

(Maria Bethânia). Posteriormente foi feita uma reflexão sobre a letra da música a partir dos

questionamentos sobre: o que fala a música? Que relação tem com nossa vida?

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Para o aquecimento, os alunos foram organizados em dupla e começaram a

exploração do material sugerido (bolinhas de massagem coloridas). O trabalho em dupla

facilita o processo de socialização na formação de um grupo maior, sendo respeitado de início

a afinidade e, por isso, cada educando convidava um amigo para realizar junto a atividade.

Considerando o saber do educando, podemos problematizar o ensino e atingir a

curiosidade, elemento fundamental para a aprendizagem significativa no ensino do esporte

escolar. A professora se mostrava como mediadora de questões que alimentavam o diálogo, e

problematizadora do ensino e aprendizagem, possibilitando uma autonomia intelectual e

corporal nas atividades.

O jogo sugerido é conhecido como base de lançamento do saque por baixo. O

jogo iniciou com dois grupos em cada metade da quadra. Cada participante esteve de posse de

uma bola de voleibol e realizava em determinada área da quadra, de acordo com o seu

desempenho de sucesso, a execução do saque por baixo em direção a quadra contrária. E a

execução do saque era constante. Toda bola sacada da quadra contrária deveria ser

recepcionada inicialmente “agarrando” e, em seguida com manchete (passe), e na seqüência

desenvolvida com outro lançamento de saque.

No jogo vivenciado, foi apresentada condições da dinâmica de jogo e introduzido

intervenções necessárias para envolver os educandos na criação de vivência do jogo com

responsabilidade e sensibilidade, trazendo as questões surgidas no seu desenvolvimento para

discussão. E assim, eles iam assumido atitude reflexiva e ética, à medida que exercitavam a

força transformadora da participação ativa no processo de ensino e aprendizagem.

É oportuno frisar que, enquanto aguardávamos a reabertura do PST, foi possível

criar o cenário de prática esportiva aqui relatada, isto é, foi possível optar por um novo

formato de prática de caráter educativo que envolveu o desenvolvimento de um projeto

juntamente com o Grupo de Dança da escola e a Educação física.

Com o olhar pedagógico cuidadoso para não desperdiçar tempo e nem prejudicar

o aprendizado fomos selecionando situações de ensino e aprendizagem utilizando leitura e

reflexão de textos e músicas, dinâmicas de grupo, o trabalho coletivo fortalecido pela

aprendizagem cooperativa, a vivência do jogo recriado pelos alunos e professora e a

participação no projeto educativo da escola intitulado “O Esporte: exercício para uma boa

convivência”, tendo como tema comum “Esporte: é tempo de fazer amigos”. No

desenvolvimento deste projeto, as situações de ensino e aprendizagem exigiram que o aluno

ultrapassasse o papel de passivo para se tornar criativo, crítico e participativo na construção

do conhecimento do esporte e, em particular, na elaboração dos Jogos Interclasses que ganhou

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a titulação de “I- Jogos da Amizade”. O mesmo contou com a participação ativa do aluno no

que diz respeito a questões de estruturação do jogo, isto é, regras modificadas segundo as

necessidades dos mesmos, e na organização da abertura no que se refere à construção de uma

seqüência coreográfica de movimentos que foi apresentada na mesma.

Como conseqüência do trabalho coletivo aliado com à disciplina de Educação

Física, ficou evidenciado que o ensinar e o aprender, na proposta do PST concretizada na

escola, deu-se na condição de parceria, na qual professora e alunos buscaram desenvolver um

processo de auto-organização e cooperação, apropriando-se das competências do jogar,

compreensão do jogo no ponto de vista tático, bem como iniciativa e responsabilidade na

elaboração de diferentes regras de comportamento tático nos jogos.

Os alunos de voleibol de areia também participaram de dois eventos promovidos

pela Secretaria Municipal de Educação. Um de caráter cultural que foi a VIII MOSTRA –

Mostra de Arte, Cultura e Conhecimento; evento que constitui espaço aberto às escolas

públicas do município de Natal para a socialização de trabalhos educativos significativos

desenvolvidos nas escolas durante o ano letivo. O outro evento de caráter esportivo, os Jogos

Escolares das Escolas do Município, contou com a participação do grupo de Dança “Dance e

Recrie a Vida” na cerimônia de abertura do mesmo. Lembrando que, no grupo de dança, os

alunos do voleibol de areia tiveram participação. Das três equipes formadas, a dupla mirim

feminina ficou em 3º lugar, conquistando a medalha de bronze. Mesmo sendo um evento que

expressa a dimensão do esporte de rendimento, a formação esportiva favoreceu uma visão

crítica desta dimensão, sem impedir a participação dos mesmos em campeonatos.

É fato que a realidade escolar apresenta-se claramente como uma valiosa

mediadora de conhecimento que vai enriquecendo as vivências nas aulas, bem como

ampliando e regulando a ação docente. Assim sendo, no cotidiano das aulas de voleibol de

areia, estruturei o ensino na perspectiva da aprendizagem cooperativa, visto que ela possibilita

aos alunos aprenderem por si próprios, assumirem responsabilidade e intensificarem o

comprometimento com o próprio processo de aprendizagem, a partir das situações de ensino

planejadas.

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4 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PST NA

LOCALIDADE.

Compreende-se com muita freqüência que, no campo das barreiras enfrentadas

durante o percurso da concretização do Programa 2º Tempo na escola, não nos deixamos

influenciar pelo predomínio desta ou daquela dificuldade. Demos ênfase a consolidação da

proposta do PST, acreditando que essas barreiras poderiam ser também, em alguns momentos

superadas, apesar de tudo, sem comprometer o sucesso da nossa prática esportiva na escola.

Em relação à efetivação das linhas estratégicas para estruturação e funcionamento

do Programa 2º Tempo, pudemos atribuir valor primordial ao seu caráter educativo na

articulação de uma prática esportiva inclusiva, que exigiu que nós inventássemos e

reinventássemos o ensino do esporte da escola, considerando o que os alunos, nas vivências,

deveriam saber mais sobre o esporte praticado.

Na medida em que as condições são oferecidas, há oportunidade para consolidar

uma prática esportiva, sem abrir mão de se efetivar uma reflexão crítica envolvendo as idéias

expressas no projeto, confrontado-as com a realidade que se mostra contraditória no aspectos

da possibilidade e impossibilidade do trabalho pedagógico do PST.

Em realidade, vamos dar primeiro algumas indicações sobre o funcionamento do

PST, expondo aspectos negativos advindo do seu funcionamento na escola. Dentre eles

podemos destacar:

• A falta de comprometimento dos atores sociais da escola como um todo,

expressada no reconhecimento do significado da prática esportiva como ação

pedagógica da escola;

• O projeto de esporte do Programa 2º Tempo não ter sido vinculado ao projeto

político pedagógico da escola;

• O trabalho solitário da professora de Educação física para concretizar as diretrizes

do PST, ou seja, consolidar uma prática esportiva, tendo o esporte como

ferramenta de inclusão social no contexto da escola;

• O não cumprimento de atribuições das entidades mantenedoras dos projetos tais

como: Ministério do Esporte – distribuição de material esportivo (kit uniforme

para os alunos); implantação de projetos de adequação de infra-estrutura para o

oferecimento de diversas modalidades; Secretaria do Município –

disponibilização do reforço alimentar, isto é, oferecimento de merenda para os

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alunos do PST; ausência de acompanhamento, no sentido de manter

adequadamente as estruturas físico-esportiva para o sucesso da atuação no

programa.

Ao nos aproximarmos e escutarmos com atenção as experiências pedagógicas do

esporte criadas no espaço da escola, vimos que elas estão próximas das experiências

inovadoras do Programa 2º Tempo, esperando que os professores participantes do mesmo

inventassem sua prática pedagógica na escola, fundamentada na formação continuada

oferecida pelo programas aos participantes. Tais experiências são possíveis de serem

visualizadas somente quando nós, profissionais responsáveis por elas, nos tornamos

conscientes de princípios estruturantes que abrem possibilidades para novas convicções e,

com elas, novas práticas. É tentando romper com modelos de práticas esportivas excludentes e

inflexíveis que o PST traz em sua proposta aspectos positivos que merecem destaque:

• A iniciativa conjunta do Ministério do Esporte e Ministério da Educação para

democratizar o acesso à prática esportiva nos estabelecimentos públicos de

educação do Brasil, efetivando o preceito constitucional que define o esporte como

direito de cada um.

• A qualidade pedagógica do material teórico propiciado aos professores-

coordenadores de Educação Física, que possibilitou a incorporação de novos

saberes em sua bagagem de conhecimento científico e a partir deles a

materialização de retoques inovadores no processo de sistematização do ensino do

esporte.

• A qualificação dos professores-coordenadores de Educação Física que com o saber

apreendido, puderam ir incorporando e entendendo melhor as diretrizes do PST

numa proposta inclusiva de esporte e, com o aprendizado desses saberes e

competências, se tornaram ainda mais capacitados a consolidar a mesma no espaço

da escola pública.

• A oportunidade de acesso aos alunos da escola pública vivenciarem a

aprendizagem de uma modalidade esportiva enquanto conhecimento da cultura

corporal.

Diante de uma reflexão tão significativa referente aos pontos positivos e

negativos, aqui apresentados, faz-se urgente uma avaliação séria das responsabilidades de

cada entidade mantenedora do PST, visto que tais ações foram pensadas para serem

realizadas, o que resultaria no melhor funcionamento do programa. É oportuno lembrar, que o

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PST demonstra em sua estrutura de projeto nacional, objetividade, mas sentimos que os

órgãos competentes muitas vezes se paralisam diante dos problemas, e se mostram incapazes

ou sem vontade de identificar as próprias falhas e de promover as mudanças necessárias para

consolidar práticas esportivas de qualidade nas escolas.

Esses pontos de reflexão contêm elementos capazes de nos levar a compreender

que as ações do Poder Público envolvidos com o PST precisam ser efetivadas melhor. Isso

implica em buscar diversas ações que levem em conta a realidade das escolas, suas

necessidades e demandas uma vez que podem e devem funcionar como facilitadores do

processo de recuperação de qualidade das políticas públicas educativas no contexto escolar.

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5 ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES

5.1 Um Olhar Reflexivo Sobre o Sentido do Ensino do Esporte na Perspectiva

Educacional do Programa 2º Tempo.

Neste tópico, tentamos mostrar aspectos que retratam em que condições foi

desenvolvida a prática pedagógica do esporte na escola na proposta do Programa 2º Tempo,

considerando a sua intencionalidade educativa, orientações para a construção do

conhecimento do esporte e sua sistematização de ensino, incorporadas na prática esportiva

como objetos de ação e reflexão que contribuíram para ressignificá-la, aproximando-a mais da

perspectiva educacional com ênfase no caráter lúdico que permeiam tal proposta.

Ao começar com o projeto de esporte na escola, embora a mudança fosse

desejada, e estivéssemos cheios de boa vontade, foi preciso considerar interferências previstas

e imprevistas comuns do contexto da escola pública. Foi então, que todos os esforços foram

direcionados no sentido de construir uma prática pedagógica do esporte escolar, tendo em

vista as dificuldades que deveriam ser enfrentadas e superadas para se atingir as mudanças

necessárias para a consolidação da mesma.

Entre essas necessidades, podemos incluir ainda o entendimento que as escolas,

na medida em que tem seus próprios projetos ou recebem das secretarias ou dos ministérios,

são em parte responsáveis pelo sucesso ou fracasso de suas práticas. É certo que muitos são os

riscos enfrentados pelos professores ao se proporem ações concretas na escola, tais como:

falta de apoio da equipe pedagógica; desenvolvimento de práticas solitárias; estrutura física

inadequada para as práticas desejadas; dificuldade de solicitações burocráticas em tempo hábil

para liberações devidas; etc. Ainda assim, referente aos riscos e dificuldades próprios para se

consolidar uma nova prática pedagógica na escola, é preciso saber se posicionar diante do que

é importante.

Assim, direcionamos a organização da prática pedagógica do esporte numa visão

otimista de busca de soluções dos problemas que, de imediato, surgiram e que de fato

afetavam as condições de desenvolvimento da prática esportiva desejada, sem que tais

problemas fossem camuflados ou desprezados nos momentos de análise e discussão sobre o

funcionamento da proposta. Tal postura justifica-se na decisão de não cair no erro de ficar

esperando a condição ideal para que a prática acontecesse, embora, aproveitasse nos

encontros com o coordenador e outros professores envolvidos no projeto para reivindicar o

apoio devido para o funcionamento do projeto.

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Arroyo (2000, p.225) reforça o aspecto positivo da postura assumida, ao discutir

que na implementação de uma proposta pedagógica percebem-se interesses diversos dos

profissionais da educação, daí entender-se como uma categoria fragmentada. Enquadro a

proposta do Programa 2º Tempo em sua discussão visto que sua gestão deveria ser focalizada

numa perspectiva de se administrar para a inovação, superando o velho estilo de gestão. E

reforça o autor que ela deve se dá “não através de uma autonomia irresponsável, mas através

de mecanismos de respeito aos coletivos de professores que têm coragem de ir além, que

sabem fazer a hora e não esperam acontecer.”

Existem, evidentemente, muitas formas de se planejar uma prática pedagógica. No

presente estudo, optamos por estruturar aulas de voleibol de areia numa perspectiva de

alcançar os objetivos do Programa 2º Tempo: propiciar uma formação esportiva na

perspectiva educacional; oferecer e estruturar uma prática esportiva inclusiva; aumentar o

índice de participação dos alunos na prática esportiva; consolidar o ensino do esporte com

caráter lúdico, sem se prender a sofisticação metodológica. Nesta perspectiva, optamos pelo

caminho da aprendizagem cooperativa na qual a proposta foi sendo concretizada

paulatinamente, gerando o aperfeiçoamento do aprendizado do esporte progressivamente, à

medida que professora e alunos iam elaborando, realizando e reelaborando a prática do

voleibol de areia vivida na escola.

A construção da prática esportiva se deu sobre a superação do modelo de esporte

de rendimento, que gera angústia aos participantes pela certeza de que conquistarão o espaço

na prática apenas os mais habilidosos. Assumindo uma postura crítica a esse modelo de

esporte, priorizei estruturar uma prática esportiva na escola que respondesse adequadamente

às solicitações pedagógicas do PST, de fomentar o esporte em uma dimensão educacional

considerando que:

O ensino do esporte na escola deve dar continuidade ao processo de educação formal do aluno, vinculado ao projeto pedagógico da unidade escolar, oportunizando através de metodologia de ensino do projeto, que um maior número de crianças tenha acesso ao aprendizado do esporte e tenham a oportunidade de permanecer na sua prática, processo esse que deve levar à autonomia e ao conhecimento crítico da cultura esportiva nas dimensões educacionais, de lazer e rendimento. (cf. Comissão de Especialistas de Educação Física/Esporte – MEC, 2003).

Assumir ensinar esporte com a intenção educativa apresentada exige

compromisso da escola como um todo e não exclusivamente do professor de Educação Física,

que no caso da nossa realidade acarretou um trabalho docente solitário. Fato comprovado nos

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depoimentos da equipe pedagógica que, ao apresentar os projetos educativos da escola, não

considera o PST, a menos que nós exigíssemos sua inclusão junto aos demais projetos.

Os referencias teóricos, que compõem a fundamentação teórica da proposta do

PST, mostram as idéias firmadas sobre o ensino do esporte na escola acontecer vinculado ao

projeto pedagógico da unidade escolar, isto é, como compromisso da escola em sua

totalidade. Neles apresentam-se intenções educacionais e diversos objetivos, mas aqui

destacamos os objetivos que, para serem atingidos, estavam de certa forma também

relacionados a nossa ação pedagógica. São eles: a democratização do acesso à prática

esportiva, possibilitar o desenvolvimento integral dos participantes e promover o

conhecimento sobre o esporte. Mas ainda saliento, sobretudo, a importância de junto aos

objetivos acrescentar questões como a participação responsável do professor, a criação de

espaços coletivos para ações colaborativas na escola, a fim de que o autêntico diálogo seja

claro e fecundo e, com isso, as propostas educativas construídas na mesma chegue ao

conhecimento de seus atores sociais.

As escolas, na medida em que têm seus próprios projetos, ou recebem das

Secretarias, dos Ministérios, etc., são responsáveis pelo sucesso ou fracasso de suas práticas.

É certo que muitos são os riscos enfrentados para se propor ações pedagógicas concretas,

principalmente nas escolas públicas. Assim, referente aos riscos e dificuldades próprios para

consolidar uma prática pedagógica com sucesso na escola, é preciso se posicionar sobre o que

é importante.

Ao decidirmos por oferecer uma prática esportiva de qualidade, criando espaço de

cooperação nas aulas, onde o diálogo possibilitasse o exercício do saber falar e saber escutar

na certeza de que todos seriam ouvidos, priorizei questões realmente importantes para a

formação humana dos meus educandos no que diz respeito a conceitos, procedimentos e

atitudes, partindo dos questionamentos: o que, como e para que ensinar esporte.

Na coordenação do PST na escola, direcionamos esforços na organização da

prática pedagógica do esporte, para a busca de soluções dos problemas que de imediato

surgiram na concretização da prática, sem que eles fossem camuflados ou desprezados nos

momentos de análise e discussão do desenvolvimento da proposta. Tal postura justifica-se na

decisão de não cair no erro de ficar esperando a condição ideal para que a prática acontecesse,

pois embora fizesse parte das ações do PST à distribuição de material esportivo às escolas,

garantia de merenda escolar no contra-turno, e a implantação de infra-estrutura física para a

prática esportiva nas escolas pública, elas não aconteceram efetivamente. Acreditamos que se

tais ações tivessem sido concretizadas efetivamente, parte dos problemas enfrentados na

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escola teria sido evitada e se teria avançado ainda mais em novas oportunidades de mudanças

na prática esportiva da escola.

Há muitas formas de se planejar uma prática pedagógica. No presente trabalho,

optamos por estruturar aulas de voleibol de areia numa perspectiva inclusiva oferecendo uma

prática esportiva atrativa que aumentasse o nível de participação dos alunos. Neste sentido,

preferimos o caminho metodológico da aprendizagem cooperativa, a qual foi sendo

experimentada paulatinamente nas aulas, gerando o aperfeiçoamento do aprendizado do

esporte progressivamente, à medida que professora e alunos iam construindo, elaborando,

avaliando e reelaborando a prática vivida na escola.

Em relação a aprendizagem cooperativa utilizada na sistematização do ensino de

voleibol de areia, Moneereo e Gisbert (2002, p. 9) definem aprendizagem cooperativa como

sendo:

Uma metodologia que transforma a heterogeneidade, isto é, as diferenças entre os alunos – que, logicamente, encontramos em qualquer grupo – em um elemento positivo que facilita o aprendizado. Na verdade, os métodos de aprendizagem cooperativa não tiram partido apenas das diferenças entre os alunos, mas muitas vezes precisam delas. A diversidade, inclusive a de níveis de conhecimento – que tanto incomoda o ensino tradicional e homogeneizador – é vista como algo positivo que favorece o trabalho docente. (...), sabe-se que a aprendizagem cooperativa potencializa habilidades psicossociais e de interação (com relação aos outros, aceitação de pontos de vista, comunicação, negociação, auto-estima etc.), baseadas em valores como colaboração, ajuda mútua e solidariedade.

Embora este estudo seja fruto de um trabalho solitário dentro da escola, apresento

situações de ensino e aprendizagem que ilustram a aplicação da metodologia cooperativa

entre professora e educandos. No âmbito do PST, encontrei terreno fértil para aplicar a

aprendizagem cooperativa nas aulas de voleibol de areia.

Na construção e implementação da proposta do PST na escola, foi interessante

constatar a importância da postura que assumimos como professora, isto é, um modo

particular de ensinar e aprender o conhecimento da cultura corporal nas formas concretas de

organizar o cotidiano de nossa prática. Nesta perspectiva, Behreus (2000, p. 71) discute que

muitos são os desafios para oferecer uma formação compatível com as necessidades deste

momento histórico e desafia o professor a buscar novas metodologias para atender às

exigências da sociedade. E é enfática ao considerar que:

Em fase da nova realidade, o professor deverá ultrapassar seu papel autoritário, de dono da verdade, para se tornar um investigador do

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conhecimento crítico e reflexivo. O docente inovador precisa ser criativo, articulador e, principalmente, parceiro de seus alunos no processo de aprendizagem. Nesta nova visão o professor deve mudar de foco do ensino para reproduzir conhecimento e passar a preocupar-se com o aprender, em especial ‘aprender a aprender’, abrindo caminhos coletivos de busca e investigação para a produção do seu conhecimento e do seu aluno.

Na verdade, o professor precisa refletir constantemente sobre sua ação docente e

buscar redimensionar sua prática pedagógica com intencionalidades pedagógico-educacionais

mais abrangentes, no sentido de criar possibilidades de instigar a aprendizagem do aluno.

Assim, como nos processos educativos, tem-se exigido passar da ênfase do ensino para a

ênfase da aprendizagem em todas as disciplinas da proposta curricular da escola. Tal

perspectiva, também abrange o ensino do esporte, merecendo destacar que ao deslocar a

ênfase do ensino para aprendizagem, o professor não se insenta da sua condição de professor

que ensina, embora também aprenda.

Professores de Educação Física têm questionado sobre para onde estamos

caminhando no ensino. Todos estão experimentando que a sociedade, a educação e a escola

estão mudando nas suas formas de organizar-se, de ensinar e aprender. E por isso, passa-se a

exigir deles formas avançadas de compreensão e integração de

planejamento/ensino/aprendizagem em sua prática pedagógica, para que as mudanças não

demorem tanto a acontecer e sirvam como referência para facilitar a organização de processos

de ensino inclusivo. Neste contexto, Moran (2000, p. 16) alerta os professores que:

As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectualmente e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque desse contado saímos enriquecidos.

As mudanças na prática pedagógica dependem de um conjunto de elementos

interligados que permeia sua estruturação, mas também depende do professor. Assim

acreditamos ser possível desenvolver uma base teórico-metodológica para uma prática

pedagógica do esporte, a partir do resgate do espaço para os jogos cooperativos e para a

ludicidade, tendo como estratégia metodológica a aprendizagem cooperativa. Insistimos na

necessidade de se pensar as práticas pedagógicas cooperativas na escola, como uma

construção coletiva de ensino e aprendizagem, que aproxima os professores e os educandos

pelo comprometimento com objetivos comuns, progredindo no exercício constante de pensar

juntos os problemas do fazer da escola. Neste sentido, é necessário aceitar nesse repensar, a

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crítica mútua, aceitando-a como prática essencial ao processo de produção e construção do

conhecimento, na perspectiva de mudança dessa prática.

Nesse caso, do Esporte Escolar, nossas intervenções didáticas aconteceram na

perspectiva de intercambiar experiências lúdicas, com ênfase nos jogos cooperativos que se

pautam na participação de todos e nas atividades de respeito às diferenças. Para Orlick (1987,

p. 137), “quanto maior for a parte da vida de uma criança que gira em torno da cooperação,

mais aceitável será a cooperação e mais as pessoas estarão dispostas a cooperar nos jogos da

vida”.

Bezerra (2000, p. 89), em seu estudo sobre construir um caminho solidário para a

educação no esporte, faz referência aos estudos feitos por Brotto (1999, p. 54) com os jogos

cooperativos, que apresenta nossa compreensão sobre a importância de ampliar a vivência

lúdica, com a utilização dos mesmos nas aulas de esporte, tornando-a uma prática inclusiva. E

nos faz refletir sobre:

O jogo como uma oportunidade de encontro com as nossas próprias vontades, com os outros e com o ambiente que nos rodeia, sem exclusões, valorizando o amigo e os seus objetivos, tornando-se assim uma grande equipe em busca de um mesmo alvo. Há uma interdependência, uma comunhão, estimulando a vontade de continuar.

A coerência esperada na prática esportiva inclusiva por nós desejada tem espaço

para os jogos cooperativos, visto que eles não estão relacionados à exclusão das crianças das

atividades propostas. Elas vão incorporando o conceito de trabalho coletivo por um objetivo

ou resultado comum, que oportuniza a participação de todos no jogo, nos quais os elementos

estruturantes, materiais e regras podem ser ajustados possibilitando maior sucesso e melhores

comportamentos, evitando situações embaraçosas para aqueles menos habilidosos,

eliminando-se sentimentos de rejeição. (BEZERRA, 2000).

Em nossa prática pedagógica, entendemos que uma das condições do

ensino/aprendizagem na escola, é que eles se dão na riqueza da interação entre

educador/educando e educando/educando. Como professora, com toda a segurança de minha

ação docente, que se expressa na firmeza com que atuo, priorizei, na produção e construção

do conhecimento do esporte, cultivar relações humanas autênticas, alicerçadas na

aprendizagem e vivência de valores humanos, tendo o jogo cooperativo como atividade que

satisfaz às necessidades lúdicas dos educandos.

Priorizar o ensino no Esporte Escolar valendo-se da experiência lúdica e do jogo

cooperativo e com isso minimizar os traços excludentes que acompanham sua prática,

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conduziu-nos a um repensar desse ensinar. Paulo Freire (1996, p. 25) ressalta que “ensinar

não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua

construção”. Assim sendo, na nossa prática pedagógica, assumimos o ensino problematizador

em detrimento do puro treinamento, aliado a um clima de respeito mútuo entre quem ensina e

quem aprende. O mesmo autor ainda discute sobre o caráter formativo do espaço pedagógico,

afirmando que “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas,

em que autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o

caráter formador do espaço pedagógico”(Ibid, p.103).

A pertinência da sistematização do ensino do voleibol de areia e contextualizando-

a em relação à realidade da escola sem diluir a intenção educativa do Programa 2° Tempo,

concedeu certa autonomia para que as instituições definissem o projeto de funcionamento e de

organização interna com o apoio da entidade mantenedora e, com isso, obter maiores

possibilidades de a escola responder às necessidades de formação esportiva dos alunos.

O fato de que é possível inovar a prática esportiva da escola, ampliam-se as

possibilidades de fixar futuros projetos de reforma nas práticas esportivas. Para que essa

inovação nas práticas esportivas se efetive, a entidade mantenedora deverá dá o apoio devido,

desde a estrutura física adequada às práticas possíveis na escola até projetos de formação

continuada do professor, como foi oferecida a especialização em esporte escolar pelo

Ministério do Esporte. O acervo teórico e experiências vividas na tentativa de aproximar ao

máximo teoria e prática, no contexto da escola em que o Programa 2º Tempo foi

desenvolvido, serviu para que eu pudesse mobilizar a escola na aventura de uma inovação da

organização do ensino do esporte, que superou as práticas pedagógicas permeadas pelos

princípios da hipercompetividade e do individualismo, que fundamentam vivências sem

diálogo, sem respeito ao jeito inacabado de ser do outro e sem possibilidade de construção de

regras e reconstrução do próprio jogo que bloqueia a capacidade criativa do aluno.

É importante frisar que a opção por desenvolver uma prática pedagógica no

Programa 2º Tempo alicerçada na pedagogia da autonomia se dá na intenção de tornar a

prática esportiva uma experiência dialógica, autônoma e transformadora. O aluno assumia

parte da responsabilidade da aprendizagem que era cooperativa (individual e coletiva),

construía o próprio saber juntamente com a professora e colegas, sendo a professora

mediadora e encorajadora deste processo e os colegas, incentivadores.

Nesta perspectiva, durante as aulas de voleibol de areia os alunos tiveram a

oportunidade de organizar seu próprio trabalho. Escolhiam e recriavam suas atividades, pois

era permitido decidir se o jogo era 2X2 ou 4X4; a área de saque de acordo com a condição de

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sucesso de cada um na realização do fundamento no momento do jogo; a quantidade de

toques dados na bola e ainda se a primeira bola seria segura e na seqüência o uso devido dos

fundamentos manchete e/ou toque por cima e/ou cortada. Nas aulas também se tinha espaço

para professora e alunos serem ouvidos no processo de decisão do que deveria ser

ensinado/aprendido. Podiam exprimir suas idéias, sentimentos e emoções perante todos.

Escolhiam o seu grupo e participavam ativamente de todas as atividades do processo de

ensino e aprendizagem do voleibol de areia.

O desafio colocado no PST para a escola pública residia na mudança de

paradigma tradicional do fenômeno esportivo, cristalizado pela existência de práticas

baseadas na transmissão do saber pelo professor, considerando a participação do aluno em

processos de repetição dos fundamentos esportivos numa perspectiva competitiva e

individualista, destinada aos mais habilidosos.

Neste sentido, foi preciso refletir sobre os aspectos didáticos pedagógicos

considerados na proposta do PST para que, inspirados pelos objetivos da prática esportiva

pretendidos no contexto da escola, fossem ampliadas e modificadas muitas formas de ensinar

e aprender esporte, visando alcançar os objetivos do PST, tais como: democratizar o acesso à

prática esportiva, possibilitar o desenvolvimento integral da criança e do adolescente,

promover o conhecimento sobre o esporte, todos esses previstos nas diretrizes nacionais do

projeto.

A efetivação da prática esportiva do PST, desenvolvida no interior da escola

considerou as Diretrizes Nacionais do Projeto que, na democratização da prática esportiva nos

estabelecimentos públicos, implicou na ampliação de oportunidades a todos de praticar

esporte e novas possibilidades de vivência do esporte. Tal proposta se efetivou considerando:

O preceito constitucional que define o esporte como direito de cada um através de atividades esportivas no contra-turno escolar, com a finalidade de colaborar para a inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e do desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes, principalmente as que se encontram em situações de vulnerabilidades social. (c.f. Comissão De Especialistas De Educação Física/Esporte– MEC, 2003)

Para estabelecer o alcance pedagógico-educacional do ensino do esporte na

prática estruturada na escola, buscamos aproximar mais ainda dessa prática, inclusive nos

inserindo totalmente como professora nela, e agora apresentamos exemplos práticos vividos

concretamente a partir das aulas de voleibol de areia na escola.

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Na tentativa de efetivar o ensino do esporte de qualidade, foi lícito lembrar as

idéias de Greco (2005, p. 26) referente à possibilidade de aprender jogando e brincando

dentro de um processo de formação esportiva que deve seguir um ciclo evolutivo da iniciação

ao treino. Para o autor:

A iniciação esportiva pode atuar como um vetor de socialização, de desenvolvimento da personalidade, de facilitador da interpretação e ordenamento de informações, de mediador da inter-relação das funções intelectuais, do conhecimento das reais possibilidades motoras, da formação de conceitos possíveis de oferecer soluções às situações do jogo/esporte, como mediador para oportunizar a soma de experiências e vivências de movimento.

Face ao exposto, podemos relacionar os aspectos abordados pelo autor presentes

na metodologia utilizada no ensino do esporte de areia, quando a prática oportunizou que um

maior número de educandos tivesse acesso ao aprendizado do esporte, permanecendo em sua

prática, pela vivência de um processo educativo que primou por orientá-los rumo à autonomia

apreendendo o conhecimento crítico da cultura esportiva nas dimensões educacionais, de lazer

e de rendimento.

O reconhecimento da importância de dinamizar nossa prática pedagógica

trilhando os caminhos da aprendizagem cooperativa no ensino do esporte rompe barreiras

para construir processos metodológicos mais significativos para aprender, de forma que a

prática do esporte perpasse por uma reflexão crítica de sua função social na escola e contribua

para apreensão de aprendizagens significativas na formação do cidadão. Ainda no que se

refere à aprendizagem cooperativa como estratégia de ensino, se acontecer, como no caso de

nosso estudo, de forma sistemática com um trabalho cooperativo, ela se torna de fato “um

motor para a aprendizagem significativa. Isso a situa como um recurso metodológico básico

para um ensino de qualidade.” (MONEREO; GISBERT, 2002, p. 10).

Nossa experiência vem embasada na pedagogia da autonomia de Freire (1996), a

qual ofereceu ao educando a vivência do voleibol de areia ampliando o horizonte pedagógico

do esporte pelo ensino problematizado acompanhado do diálogo e, possibilitou abrir caminho

para uma nova concepção em ensino do esporte: a aprendizagem cooperativa.

Todas as atividades educativas planejadas nas aulas tinham um caráter

construtivo, ou seja, atividades em que os educandos tivessem participação efetiva, e desafios

que os levassem a mobilizar sentimento, pensamento e movimento. No trabalho em grupo, a

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nossa ação docente foi conduzindo o educando a uma autonomia, sustentada por valores

morais e éticos como o respeito mútuo, a liberdade, a solidariedade, a cooperação.

Brotto (1997, p. 61) citando Torkam Saraydarian, faz-nos refletir sobre a direção

pedagógica que podemos dar ao processo de ensino e aprendizagem para o trabalho em grupo

e a cooperação. E trazendo tal entendimento para o esporte, podemos ampliar a aprendizagem

para além do ensino de fundamentos técnicos, desde que se consiga fazer com que o educador

e o educando entendam que:

Aprendendo o verdadeiro significado da consciência de grupo, paramos de olhar para nós mesmos como um ser separado de todos os outros e começamos a ver nosso elo, como toda humanidade, a natureza e o cosmo. Nessa realização, aprendemos a ciência e a arte da cooperação.

Como já vimos a sala de aula, no nosso caso, a área de voleibol de areia, é espaço

de interação, na qual o senso de responsabilidade e a vivência da cooperação precisa

contribuir para o desenvolvimento integral do educando, incorporando a percepção de ligação

com a humanidade, a natureza e todo o cosmo. Enfim, o indivíduo aprende na vivência,

sentindo, agindo e participando de experiências educativas em um ambiente estimulador de

qualidades humanas essenciais ao cidadão do mundo.

Arroyo (2000, p. 125), dialogando sobre o aprendizado do ofício de mestre,

explica que convivemos por anos com nosso ofício e nos personalizamos, conforme o vivido.

Pensando na interação professor-aluno, entendemos que, no processo de socialização

desencadeado no processo de ensino e aprendizagem, vamos internalizando o que nos

identificará como pessoa. Em outros termos, o autor reafirma: “Os traços de personalidade, de

ser humano se aprendem vendo, convivendo”.

Assim, em outra instância da vida, nas experiências vividas na escola, como na

prática do esporte, o educando vai aprendendo a ser, por isso no fazer educativo, aprendemos

significados ao encarar as questões e escolhas em nossa prática a partir de critérios

pedagógicos e éticos. Acreditamos que nos arriscamos ao realizar um trabalho pedagógico

que delineasse nossa prática como inovadora, pois buscamos dar um novo contorno à ação

educativa do esporte incorporando valores mais humanos, isto é, fortalecendo os vínculos

entre ação educativa e valores morais e éticos.

Neste sentido, sentimo-nos confortados como pessoa e como profissional por ter

desenvolvido uma prática esportiva no interior de uma escola pública compatível com a

autenticidade de nossas convicções de educação. A prática foi fundamentada seguindo as

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orientações didático-pedagógicas do PST, somadas à nossa experiência profissional, bagagem

intelectual adquirida ao longo de nossa trajetória acadêmica e formação continuada.

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6 CONCLUSÃO

Apresentamos a seguir algumas conclusões a partir do desenvolvimento do

Programa 2º Tempo na escola, tornando mais clara a suas diretrizes educacionais que

subsidiaram a construção de uma experiência esportiva inclusiva. Sabemos que enquanto

professores, nossa tarefa não é apenas afirmar nossa prática pedagógica de esporte com os

novos referenciais, metodologias e usá-los adequadamente. Precisamos ver como estruturar o

ensino do esporte numa perspectiva inclusiva, organizando um processo de ensino e

aprendizagem que possibilite o acesso aos alunos com condições viáveis para eles

desenvolverem com qualidade uma cultura esportiva na escola e, em particular, na escola

oficial pública.

O conjunto de experiências vividas no desenvolvimento do PST, juntamente com

os estudos reflexivos promovidos pela formação continuada, permitiram construir e

compreender significados necessários para nossa prática, respaldando-se em uma base

científica, bem como condutas pedagógicas mais coerentes com valores éticos e morais, uma

vez que, ao se conhecer, é possível sua aplicabilidade em situações concretas.

Alguns princípios fundamentais devem compor o ensino do esporte, em nosso

caso particular, o voleibol de areia, visto entendermos que todo ensino deve ser perpassado

por algo mais profundo, isto é, por valores éticos e princípios, tais como diálogo,

criatividade, cooperação e ludicidade, para que as ações docentes impulsionem

significativamente as transformações das práticas esportivas inspiradas no modelo de esporte

de rendimento que reforça o traço de exclusão social no espaço da escola.

A realidade vivenciada no constante exercício reflexivo exigiu um olhar mais

profundo para si e para a prática esportiva construída, o que produziu uma visão crítica e nos

trouxe a capacidade de discernir, tomar posições conscientes, para não paralisarmos diante

dos problemas surgidos, e buscar alternativas para a dinâmica da escola com práticas

pedagógicas de esporte fundamentadas por um agir criativo e comprometido com a mudança.

A utilização da alternativa pedagógica da aprendizagem cooperativa no ensino do

voleibol de areia exigiu a mobilização de conhecimento e ações docentes na direção de

reestruturar constantemente nossa prática pedagógica esportiva, com o intuito de operar

aprendizagens significativas de conhecimentos, procedimentos e atitudes por meio da

apreensão do saber do esporte, mediado por professora e alunos em cooperação. Dessa forma,

foram organizadas situações de ensino e aprendizagem enfatizando a reflexão e vivência de

valores éticos e morais que elegemos como essenciais para permear a prática esportiva do

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voleibol de areia, tais como solidariedade, liberdade, sociabilidade, respeito mútuo e

consciência.

Nesse fazer pedagógico, o ensino do esporte precisa de novas criações, nas quais

o caráter lúdico alegre o processo de ensino e aprendizagem; a auto-reflexão alimente o

discernimento para que o ensino seja assimilado pela vivência de procedimentos pertinentes e

atitudes éticas. A exemplo de nossa prática foram utilizados como alternativas pedagógicas o

trabalho em equipe, o diálogo, a liberdade de escolha, a livre expressão da corporeidade, o

jogo e aprendizagem cooperativa, as quais respeitaram a diversidade humana e foram

facilitadoras das possibilidades de desempenho, aprendizagem e desenvolvimento dos

educandos.

Como vimos, são múltiplos os caminhos da aprendizagem no esporte. Por isso,

cabe ao professor olhar cuidadosamente para o aluno que aprende para conhecê-lo melhor e

poder ajudá-lo a superar as dificuldades e avançar na aprendizagem. E sendo assim, o

professor se torna ainda mais responsável em ajudar os seus educandos a se descobrirem

cidadãos do mundo. Para isso, deve planejar suas intervenções a fim de desenvolver

potenciais, formar competências, favorecer oportunidades, refletindo sobre os resultados da

aprendizagem construída, questionando se as mesmas possibilitaram o alcance dos objetivos

estabelecidos no ensino.

Enfim, com a aprendizagem extraída da experiência, sugerimos que o professor de

Educação Física, particularmente no ensino do esporte, perceba-se como agente de

transformação, capaz de mudar algo em si, que desperte para a possibilidade de ser escultor de

sua própria ação pedagógica. É importante também cultivar todo o conhecimento adquirido na

graduação e na formação continuada. Isso constitui o primeiro passo para a modificação de

conceito e abertura para o novo no âmbito das práticas pedagógicas, apoiado no entendimento

de que, seja qual for a alternativa pedagógica no ensino, tenha sempre a intencionalidade da

aprendizagem significativa, do desabrochar do humano, do abrir espaços para a atuação do ser

inteiro no processo de ensino e aprendizagem do esporte escolar.

Mesmo considerando as limitações que acompanharam a efetivação do PST em

nosso estado, somos favoráveis à continuação do mesmo pela beleza e grandeza da proposta

que permeia o seu fazer. Agora, estudos e relatos de experiências de todo o país,

naturalmente, irão subsidiar a retomada do PST com mais respaldo em relação ao vivido.

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REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BEHREUS, Maria Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, José Manuel. et. al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000. BEZERRA, Elizabete Jatobá T. Corporeidade e Educação Física Escolar: construindo um caminho solidário para a educação – Natal: 2000. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.. BROTTO, Fábio O. Os jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar! São Paulo: Novada, 1999. COMISSÃO DE ESPECIALISTAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA/ESPORTE [Ministério do Esporte]. Disponível em: <http://www.cead.unb.br/esporte_escolar/segundo_tempo.php.> Acesso em: 10 abr 2007. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo, Cortez, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996. MONERO, Carles; GISBERT David D. Tramas: procedimentos para a aprendizagem cooperativa. Tradução Claúdia Shilling. Porto Alegre: Artmed, 2005. MORAN, José Manuel. et al. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. Campinas, SP: Papirus, 2000. ORLICK. Vencendo a competição: como usar a cooperação. São Paulo: Círculo do Livro, 1987. SOUZA, Adriano de. Unidade 1 – Pedagogia do Esporte. In: Dimensões Pedagógicas do Esporte – Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2004 (p.p. 6 – 53). (Esporte Escolar, V.2)

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APÊNDICES

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Apêndices A - Aula Laboratório 1

Escola Municipal Profª Adelina Fernandes

Modalidade: Voleibol de Areia Turma: Iniciante N-I

Professora: Iracyara Maria Assunção de Sousa.

TEMA: Construção do Pacto de Convivência pela Paz na Educação Física e no Esporte

Objetivo: construir o Pacto de convivência pela paz na prática de esporte, refletindo sobre

normas de convivência que harmonizam as relações humanas e melhoram o aproveitamento

do ensino e da aprendizagem na escola, por meio de atividades lúdicas.

Recursos materiais: transparência do Pacto pela Paz, retroprojetor, revistas usadas, som

portátil e cds.

Procedimento Metodológico.

1ª Parte: Alongamento – Na sala de aula os alunos iniciarão o alongamento sentados

na própria cadeira e em seguida se posiciona de pé ao lado das mesmas, sendo

orientados pela professora. A atividade será acompanhada com o som da música Feliz

(CD- Belíssima)

2ª Parte: Apresentação e Reconstrução dos Combinados e Atividades Lúdicas.

Os combinados serão apresentados por projeção de transparência. Cada combinado

será apresentado com questionamentos e acompanhado de uma atividade lúdica que

enriquecerá a reflexão sobre a importância dos mesmos na convivência escolar.

1º combinado: É permitido ser feliz!

Questionamentos: Como é permitido ser feliz na vida? (na família?, na escola?, na

rua?). O que faz vocês felizes?

1ª Atividade Lúdica: A folha amassada.

Cada aluno receberá uma folha de revista. Todos balançarão a folha (percepção do

nível de barulho provocado pela ação) e, tentarão falar algo para sentir se é ouvido.

Continuando os alunos amassarão a folha e tentarão desamassá-la, voltarão a balançá-

la (percepção de que a movimentação já não produz tanto barulho como

anteriormente). Neste momento aproveita-se para fazer uma reflexão sobre a

importância de equilibrar barulho/silêncio, para se compreender melhor o que está

sendo comunicado pela professora, enfatizando o “saber escutar” e “saber falar” no

momento oportuno. Em seguida os alunos convidarão um colega para formarem

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duplas e transformarão a folha em uma bolinha e a explorarão com diversas

possibilidades de movimento do voleibol e outros, considerando o ambiente da sala de

aula. Cada participante da dupla terá um tempo de 2 minutos para realizar a atividade e

depois o outro. O tempo será controlado ao som da música Banho de Chuva (CD-

Belíssima). Abertura de espaço para discussão de algumas situações ocorridas.

2º Combinado: É ótimo que o amor brote do seu coração contagiando a todos. Fique

sempre perto de quem você gosta!

Questionamentos: Como podemos expressar o sentimento do amor às pessoas?

(familiares? Professores? Colegas?).

2ª Atividade Lúdica: O encontro.

Ao som da música Bate-bate Coração de Elba Ramalho, os alunos se deslocarão pelo

meio da sala, e quando a música parar eles deverão estar diante de um colega para realizar

gestos de cumprimento com diferentes partes do corpo. Por exemplo: pé com pé; mão com

mão; etc. Os alunos também sugerirão outras partes do corpo. Abertura de espaço para

discussão de algumas situações ocorridas.

3º Combinado: É importante que sua luz interior brilhe em todos os momentos de

ensino e aprendizagem. Dê um bom exemplo que essa moda pega!

Questionamentos: Como nossa luz interior brilha? O que é um bom exemplo? Quem

tem um exemplo de “bom exemplo”?

3ª Atividade Lúdica: O Espelho

As duplas deverão decidir entre si quem começará sendo o espelho, e em

seguida será o outro colega. A brincadeira exige que o colega que é o espelho realize

tudo o que ele está fazendo. A música que animará a brincadeira será Todo Mundo

Gosta de Mim (CD- Belíssima). Abertura de espaço para discussão de algumas

situações ocorridas.

3ª Parte: Avaliação Reflexiva

Questionamentos: - Qual a importância da vivência do Pacto de convivência pela paz

nas nossas aulas e na escola como um todo.

- É fácil realizar as ações do Pacto pela Paz que foram discutidas?

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Apêndice B - Aula Laboratório 2

ESCOLA MUNICIPAL PROFª ADELINA FERNANDES

Modalidade: Voleibol de Areia Turma: Iniciante N-I

Professora: Iracyara Maria Assunção de Sousa.

TEMA: Conhecendo o Voleibol de Areia.

Objetivo: - favorecer a socialização harmoniosa entre os educandos, oportunizando

momentos de proximidade entre os mesmos com ênfase na vivência de gestos cordiais, tais

como: aperto de mão; um abraço; um lindo sorriso e o aplauso, os quais significam a

demonstração concreta de sentimento entre as pessoas.

- possibilitar que os educandos demonstrem o que já sabem sobre os fundamentos do

voleibol de areia, identificando limites e possibilidades de movimentos na realização de

exercícios e jogos do mesmo.

Recursos materiais: texto “garotinho chamado amor”, bolas dente de leite, arcos, rede,

marcação e bolas de voleibol,

Procedimento Metodológico

1ª Parte: Alongamento – Alongamento em dupla e ao som da música Te ofereço paz. Todos

realizam uma seqüência de movimentos para alongamento e, a

professora irá orientando e introduzindo novos movimentos

ressaltando os benefícios dos mesmos para o corpo.

2ª Parte: Dinâmica – O garotinho chamado amor.

A professora explicará que será realizada uma dinâmica de grupo, onde os alunos

formarão duplas e ficarão atentos a leitura do texto, pois eles deverão realizar gestos

cordiais com os colegas sugeridos no mesmo. Ao final da dinâmica será feita a

reflexão sobre a vivência desses gestos no convívio diário com as pessoas.

3ª Parte: A Aprendizagem Cooperativa do Voleibol de Areia.

Todos os alunos de posse de uma bola dente de leite receberão as orientações sobre os

exercícios dos fundamentos do voleibol: toque por cima, manchete, saque por baixo e

cortada. Na área da quadra de areia estarão distribuídos arcos no chão. Cada aluno se

posiciona dentro de um arco e tenta realizar os fundamentos solicitados pela

professora. Eles devem está atentos ao seu se-movimentar na realização desses

fundamentos, para sentir suas possibilidades e limitações na execução dos mesmos. A

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cada momento de realização de determinado fundamento, a professora ajudará aos

alunos a perceberem de forma consciente o seu movimentar-se. Na seqüência terá

formação de duplas e um colega ajudará o a ir adequando o gesto técnico para a

realização da qualidade do movimento.

4ª Parte: O Jogo - Para organização do jogo a professora questionará se a turma quer

realizá-lo em 2X2 (dupla) ou 4X4(quarteto). O jogo deverá manter as características

do jogo de voleibol. As regras (distância da linha de saque, nº de toques de bola pela

equipe, contagem de placar, etc.) poderão ser re-criadas pelos alunos, mantendo

apenas a regra de que se inicia o jogo sempre com o saque por baixo.

5ªParte - Avaliação Reflexiva

Questionamentos : - Os gestos cordiais do texto o garotinho chamado amor faz parte

de nossas atitudes em relação às pessoas que nos rodeiam?

- O que a gente aprendeu sobre voleibol nessa aula que ainda não

sabia?

- O jogo aconteceu como a gente gostaria?

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Apêndice C - Aula Laboratório 3

ESCOLA MUNICIPAL PROFª ADELINA FERNANDES

Modalidade: Voleibol de Areia Turma: Iniciante N-I

Professora: Iracyara Maria Assunção de Sousa.

TEMA: Saber Aprender Voleibol Cooperativamente

Objetivo: vivenciar situações que oportunizem o diálogo corporalizado aos alunos, a partir da

criação de atividades lúdicas que evidenciem o ouvir, o criar com o outro, o se expressar e o

se movimentar, visando melhorar a capacidade de comunicar-se e realizar os fundamentos do

voleibol.

Recursos materiais: bolas dente de leite, de voleibol e de tênis, arcos, cones, cordas e

pedaços de tecidos.

Procedimento Metodológico

1ª Parte: Alongamento – Ao som da música sorrir de Djavan, os alunos se organizarão em 04

grupos, e cada participante do grupo realizará um movimento que deverá ser

prontamente seguidos pelos demais companheiros do grupo. A professora vai

enriquecendo o alongamento com os alunos.

2ª Parte: A Aprendizagem do Voleibol Construída Cooperativamente

A turma dividida em 04 grupos de aproximadamente 7 ou 8 pessoas. Cada grupo

deverá criar um a atividade lúdica que envolva os fundamentos do voleibol utilizando

o material recebido pelo grupo, explorando novas possibilidades de brincar de voleibol

criando suas regras a partir da sugestão coletiva dos colegas. A professora deverá fazer

intervenções no sentido de ajudar os alunos a superarem os possíveis conflitos e

obstáculos surgidos na tarefa. Após o processo criativo apresentar a atividade lúdica

criada para os demais grupos, e em seguida os grupos circulam para brincar com as

diversas atividades.

3ª Parte: Avaliação Reflexiva

Questionamentos: - É fácil criar em grupo?

- O que é preciso para o trabalho em grupo acontecer com sucesso?

- Será que cada participante do grupo contribuiu da melhor forma possível para

conclusão da atividade?

- As atividades lúdicas criadas ajudam a vocês a aprender voleibol?

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Apêndice D - Aula laboratório 4

ESCOLA MUNICIPAL PROFª ADELINA FERNANDES

Modalidade: Voleibol de Areia Turma: Iniciante N-I

Professora: Iracyara Maria Assunção de sousa.

Objetivo: desenvolver a eficácia do gesto técnico do saque por baixo e manchete,

experimentando situações de jogo que ajudem ao educando a solucionar problemas de saque e

recepção no desenrolar do jogo.

Recursos Materiais: bolinhas de massagens coloridas, bolas de voleibol, letra da música

brincar de viver, cones, arcos, bastões, som portátil e cd.

Procedimento Metodológico

1ª Parte – Alongamento acompanhamento da música: “Brincar de viver” – Maria Bethânia.

Reflexão sobre a letra da música: do que ela fala? Que relação tem com nossa vida?

Ela aborda alguma idéia específica que nos faz pensar sobre melhorar o clima de

amizade entre os alunos da turma?

Aquecimento – Os alunos se organizam em duplas. Cada dupla receberá uma

“bolinha de massagem colorida”. Nesta organização eles irão explorar a bola lançando

a mesma em diferentes alturas, diferentes distâncias, em diferentes posturas corporais:

deitados, sentados, de joelhos, cuidado para interceptá-la evitando que caía no chão.

Iniciar em dupla, para facilitar o processo de socialização na formação de um grupo

maior. Respeitar afinidades. Pede-se para os alunos convidar um amigo para realizar

junto a atividade.

A professora e o aluno irão investigando (por meio de perguntas e respostas e

pensamento crítico) sobre como os alunos se sentiram, o que acharam fácil; o que

sentiram dificuldade para realizar? Que outras formas diferentes do já trabalhado, eles

gostariam de experimentar?

Aumenta-se o número de participantes do grupo até formar um número de oito

(questionar sobre os conflitos surgidos com o crescimento do grupo. Dá para trabalhar

cooperativamente? Esse grupo formado participa ativamente das atividades

construídas? Quais os problemas surgidos? Como resolvê-los?).

2ª Parte – O ensino-aprendizagem-treinamento/o jogo – “base de lançamento do saque por

baixo”.

A professora apresenta o jogo “base de lançamento do saque por

baixo”, descrevendo as regras básicas e os objetivos dos mesmos.

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A turma nesta atividade, já estará organizada em quatro grupos de oito

participantes. Será utilizada para a realização do jogo toda a dimensão

da quadra de voleibol de areia.

O jogo inicia com dois grupos em cada metade da quadra. Cada

participante estará de posse de uma “bola de voleibol” e em uma

determinada área da quadra de acordo com o seu desempeno de sucesso

na execução do saque por baixo em direção a quadra contrária. E os

saques são constantes, toda bola sacada da quadra contrária deverá ser

recepcionada inicialmente segurando e em seguida com manchete, e na

seqüência devolvida com outro lançamento de saque.

- Fases da dinâmica do jogo:

a) Como pode ser enviada a bola só lançando-a para a quadra adversária

(tempo 3 minutos). Esta fase tem o tempo controlado por uma música.

b) Será acrescentado o desafio de lançar em direção a trave, para fazer o gol.

(tempo 3 minutos). Também tem a música controlando o tempo.

c) Realização do jogo em equipe. Ganha a equipe que conseguir atingir o alvo

um maior número de vezes.

Intervenções necessárias:

Serão oportunizadas aos alunos as tomadas de decisão dentro das

situações de jogo, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades

necessárias para execução e recepção do saque por baixo dentro do

jogo.

Professora e alunos irão através da experiência dialógica expor suas

percepções referentes à como realizar melhor a execução e recepção do

saque por baixo, e transferi-las para realizá-lo com sucesso em

situações específicas do jogo.

Será promovido o confronto dos alunos com as situações-problema

encontradas no jogo, e as possíveis soluções para o sucesso do

desempenho da execução e recepção do saque por baixo dentro do jogo.

Favorecer a reflexão sobre a importância do trabalho em equipe, o

sentido e significado de jogar “com” e “não contra”, e quais valores

humanos são necessários à harmonia do trabalho em equipe.

O jogo modificado – “Base de lançamento do saque por baixo”.

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A professora apresenta o jogo reconstruindo junto com os alunos, isto é,

regras modificadas, quantidade de bolas alterada, introdução de novos

materiais como cones, bastões, colchonetes e arcos (sugestões).

Lembrar que o jogo modificado deverá atender ao objetivo da aula,

promovendo o exercício do conteúdo que está sendo

ensinado/aprendido (treinado), isto é, execução e recepção do saque por

baixo. Para o professor e o aluno continua o exercício e a análise para

avaliar o jogo e o desempenho dentro do mesmo. No final, recorre-se ao

alongamento final.

3ª Parte: Avaliação - Será avaliado através do diálogo o desempenho dos alunos referente à

eficácia da execução e recepção do saque por baixo nas situações de jogo, e o esforço de

todos para manter a harmonia da equipe, isto é, disposição dos mesmos para resolver da

melhor forma possível os conflitos surgidos. Após o levantamento dos pontos relevantes para

serem considerados nas aulas seguintes, os alunos serão encorajados a exprimir suas idéias,

sentimentos e emoções. O professor reforçará a participação ativa de cada aluno de forma

positiva como aspecto fundamental para que a aprendizagem e o desenvolvimento na prática

do voleibol de areia aconteçam.