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Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009) 67 pp.67-132 Esporte-lazer: Bem-estar social no aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, Brasil Cayo Marcus Lames Silva 1 Manoel José Gomes Tubino 2 Federação Internacional de Educação Física (FIEP) Recepción: agosto 2009 Aprobación: octubre 2009 Resumo: Foi realizada uma abordagem descritiva, analisada de forma qualitativa, com base etnográfica interpretativo. Quanto ao método de interpretação, o conteúdo obtido, a partir da entrevista semi-estruturada concebida (12 entrevistados), foi utilizado como suporte a Análise de Discurso linha francesa, Pêcheux de Orlandi (2003). Assim, através da Análise de Discurso, pode-se apontar que a pratica do esporte-lazer do entrevistado está intimamente ligado ao Prazer proporcionado e a busca por uma Convivência harmoniosa, numa ambiência. A vitória ocorre através do “ser permitido”1 realizá-la (autonomia) e na auto superação (técnica, física e convívio). O “estilo de vida” deve ser de modo a 1 Não depende da própria 1 Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos (1998). Pós Graduado em Ciência do Treinamento de Auto Nível (2002). Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2006). Delegado Adjunto da Federação Internacional de Educação Física (FIEP), professor do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Autor do livro: “Papai...Mamãe...o que é a ética?” Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Esporte e Identidade Cultural e Ética Profissional em Educação Física. [email protected]. 2 Especialização em Ensino Programado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969) , mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976) , doutorado em Educação Física pela Universite Libre de Bruxelles (1982) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988) .

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67

pp.67-132

Esporte-lazer: Bem-estar social no

aterro do Flamengo, Rio de Janeiro,

Brasil

Cayo Marcus Lames Silva1

Manoel José Gomes Tubino2

Federação Internacional de Educação Física (FIEP)

Recepción: agosto 2009

Aprobación: octubre 2009 Resumo: Foi realizada uma abordagem descritiva, analisada de forma

qualitativa, com base etnográfica interpretativo. Quanto ao método de

interpretação, o conteúdo obtido, a partir da entrevista semi-estruturada

concebida (12 entrevistados), foi utilizado como suporte a Análise de

Discurso – linha francesa, Pêcheux – de Orlandi (2003). Assim, através da

Análise de Discurso, pode-se apontar que a pratica do esporte-lazer do

entrevistado está intimamente ligado ao Prazer proporcionado e a busca por uma Convivência harmoniosa, numa ambiência. A vitória ocorre através do

“ser permitido”1 realizá-la (autonomia) e na auto superação (técnica, física e

convívio). O “estilo de vida” deve ser de modo a 1 Não depende da própria

1 Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos

(1998). Pós Graduado em Ciência do Treinamento de Auto Nível (2002). Mestre em Ciência da Motricidade Humana (2006). Delegado Adjunto da Federação Internacional de Educação Física (FIEP), professor do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Autor do livro: “Papai...Mamãe...o que é a ética?” Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Esporte e Identidade Cultural e Ética Profissional em Educação Física. [email protected].

2 Especialização em Ensino Programado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio

de Janeiro (1969) , mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976) , doutorado em Educação Física pela Universite Libre de Bruxelles (1982) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988) .

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vontade.proporcionar, mesmo que provisoriamente, uma “liberdade”, que por

sua vez deve estar ligada, por múltiplos sentidos, com o “prazer”, pois sem

ele não existirá continuidade, entretanto, talvez, o mais interessante é que não

foi esquecida a importância da “convivência” (a mais associada dentre as

palavras indutivas).

Palavras-chave: Esporte-Lazer; Bem-Estar Social; Esporte; Aterro do

Flamengo

Abstract: A descriptive approach was accomplished and analyzed in a qualitative way on an ethnographic interpretative basis. The content obtained

from a semi-structured interview was interpreted with the speech analysis aid

– French line, Pecheux - from Orlandi (2003).Therefore, through speech

analysis it can be pointed out that the interviewed one‟s sport leisure practice

is closely related to the pleasure provided and seek for harmonious living

together, ambience. The victory occurs through “being permitted”

(autonomy) and through self-overcoming (technique, physical and living).

The lifestyle must provide freedom at least temporarily and it must be related

through multiple senses to pleasure, because without it there won‟t be

continuity (flowing, accomplishing, practicing). However, the most

interesting is that the importance of living (the most associated among

inductive words) was not forgotten.

Keywords: Sport-leisure; Social well-being; Sport; Aterro do Flamengo.

1. Introdução

O Homem, intencionalmente ou não, está “sempre” procurando

atender suas necessidades. Essa afirmativa justifica-se desde a

Idade da Pedra, onde a vida deste Homem era em função da sua

obrevivência.

Avançando na história, reporta-se a necessidade de acumular

riquezas dos burgueses, que em sua época viveram a chamada

Revolução Industrial. Com o aproveitamento da velocidade das

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máquinas, surge a reivindicação de se utilizar um tempo

destinado à realização de algo de vontade própria; algo

prazeroso, em fim, o que viria a ser chamado de lazer, ou tempo

livre de lazer.

Sem contrariar a esses princípios do lazer, Tubino (2001)

percebe que dentre as dimensões sociais do esporte, ou seja, a

intencionalidade da utilização do esporte existe uma que respeita

e atende a esses princípios supracitados. Nomeando-a como

esporteparticipação ou esporte-lazer.

Acredita-se que este esporte-lazer realize uma contribuição ao

desenvolvimento social, atendendo as necessidades do contexto.

Assim, para compreender as necessidades dos praticantes do

esporte-lazer, deve-se considerar a atual civilização que se vive.

Após alguns processos civilizatórios (que nunca estarão

terminados), dentre eles a “sociedade do capitalismo ilimitado”

(Bourdieu, 1997), a “sociedade dos meios de comunicação de

massa” (Tubino, 2003. Informação Verbal) e a “sociedades dos

descartáveis” (Vargas, 2003. Informação Verbal), o lazer passa a

ser percebido como uma prática vital a existência humana. As

doenças silenciosas, como o stress, atacam cada vez mais os que

adotam um ritmo de vida frenético e sem a presença do prazer

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em suas vivencias, atendendo apenas realizações de

“subsistência financeira”3, ou ainda, de “ganância financeira”

4.

Com a prática do esporte-lazer são realizadas intervenções

positivas nas vivencias dos seus praticantes.

O profissional de Educação Física intervêm, a partir da sua

atuação, nas áreas da educação (conforme contempla a Lei de

Diretrizes e Base) e na área da saúde (conforme resolução nº 218

de 6 de março de 1997), ganhando status de Interventor Social.

Há que se observar a influencia dessas áreas na transformação

do Ser Humano. Cabe evidenciar que, para este estudo, este

interventor social deve ser visto como o especialista da atividade

física, o orientador, mas não o condutor. Ele é o condutor da

recreação (atividades recreativas). O lazer deve ser regido pelo

princípio da opcionalidade (fazer e deixar de fazer quando bem

entender, sem compromisso com a obrigatoriedade, bem como a

escolha da atividade e mudança desta).

3Refere-se à aceleração dos afazeres de trabalho diário em função de atender a

subsistência, ou seja, para sobreviver é preciso trabalhar horas a mais, seja no mesmo

trabalho, seja adquirindo trabalhos diferentes. 4 Refere-se a aceleração dos afazeres de trabalho diário em função de sempre almejar mais, de acumular.

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Pensando o bem-estar social, esse pode ser atingido quando se

sacia uma ou mais carências sociais, transformando o individuo

a um estado, momentâneo, de prazer.

É um direito de todos. É a forma de um indivíduo expressar,

satisfações sob todas as formas, demonstrando a relação do

seu convívio na sociedade, portanto ser sociável. Neste

sistema estão inclusas as exigências naturais e espirituais do

homem. Buscando atender as necessidades vitais do grupo,

pois é através dos anseios e frustrações desses indivíduos

que se compõem uma sociedade (Meireles, 1976).

Assim, considerando o profissional de Educação Física como

um agente subsidiador da prática do esporte-lazer, e que esta

prática esportiva intervem de forma positiva na vivencia de seus

praticantes, surge a curiosidade científica de saber qual o bem-

estar proporcionados pela prática do esporte-lazer.

Visto que já fora detectado, em pesquisa (Cf. Lames, 2006),

numa análise “observacional direta” que o espaço da praia do

Aterro do Flamengo parece ser o mais democrático entre as

demais praias da Cidade. Logo, consta um favorecimento a

diversas classes econômicas e culturais, atendendo desta forma a

intenção do estudo que não pretendia focar particularidades em

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termos de classe, até por entender que a prática do esporte-lazer

deve ser oportunizado a todos.

Tendo em vista os reduzidos estudos realizados na dimensão do

esporte-lazer (regido por princípios bem definidos – Prazer;

Inclusão e Opcionalidade), que não é o mesmo que “esporte e o

lazer”, e consecutivamente o desconhecimento científico do

bem-estar que é proporcionado por essa pratica social-esportiva.

Essa redução e desconhecimento possibilitam o problema do

estudo.

Desta forma, esse estudo objetivou identificar o bem-estar social

proporcionado ao sujeito que realiza a prática do esporte-lazer

no espaço conhecido como Aterro do Flamengo.

2. Pensando o tema

O Ser humano está “inscrito numa pluralidade de relações

sociais e participando de uma pluralidade de identificações

coletivas” (Cunha, 1995, p.14), este ser é produto de uma

competição desde o primeiro ato anterior à vida – a fecundação

– entretanto a competição deve configurar principalmente a

“capacidade de transcender e transcendermo-nos a nós mesmo,

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não só do ponto de vista econômico ou político, mas também

cultural, ético e moral” (Ibid, p.14).

O saciar deste Homem será, em todo transcorrer da vida, o

objetivo maior de todo processo, pois este Ser encontra-se em

notável estado de carência, privação ou vacuidade.

A busca pela felicidade parece ser ininterrupta, todavia o que

sacia a carência, ou seja, faz atingir a felicidade, depende do

contexto que se está vivendo. Segundo Souza Santos (2003, p.9)

é extremamente diferente perguntar “pela utilidade ou pela

felicidade que o automóvel me pode proporcionar se a pergunta

é feita quando ninguém na vizinhança tem automóvel, quando

toda a gente tem exceto eu ou quando eu próprio tenho carro a

mais de vinte anos.”

Investigar essas e outras complexidades do Homem só será

possível e aceitável, quando for inteligível que o Homem é

produto e produtor do próprio Homem. Assim, “o homem

excede infinitamente o homem” (Pascal apud Cunha, 1995

p.28), isso nos dá uma idéia de quanto somos plural em nosso

processo de evolução, e ainda complementa, “o homem é de fato

um peregrino do Absoluto, porque viver é sentir a contingência

da nossa condição atual e [...] tentar supera-la!” (Ibid, p. 28).

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O valor da conduta motora (esporte na perspectiva de lazer) é

imputado à melhora da qualidade de vida, o suprimir de forma

positiva das carências e necessidades individuais de seus

praticantes, pois os mesmos são estimulados, a partir desta

prática, a interagir, a democratizar, a socializar, ao agir

eticamente, bem como o respeito dos atos morais. Este agir será

aproveitado, e respeitado, num agir intrapessoal, interpessoal, e

num agir em contato com a natureza.

A partir da pré-compreensão existente acerca do bem-estar

social, o estudo propõe elucida-lo quando este é originado da

prática do esporte-lazer, ou seja, uma compreensão subjetiva,

interpretando a cosmo visão destes.

Entende-se que o Bem-estar social não deve ser derivado de uma

comparação interpessoal, ele representa uma condição social

derivada de interpretações pessoais a circunstâncias contextuais

coletivas.

A abordagem de Bérgson-Samuelson “exige que o bem-estar

social de uma sociedade seja função do nível de proveito

desfrutado por cada indivíduo dentro dela” (Outhwaite &

Bottomore, 1996, p. 42).

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3. Dados metodológicos

O estudo foi delimitado ao espaço físico conhecido como Aterro

do Flamengo, situado na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro.

Segundo Lames (2005) este espaço encontra-se no setor POM

(Praticantes da Orla Marítima), pela divisão, concebida em

estudo, feita da prática do esporte-lazer na Cidade do Rio de

Janeiro.

Foram pesquisados os praticantes das seguintes modalidades

esportivas: Corrida, Remo, Futvoley, Futebol (quadra e areia),

Patins, Voley, Tênis, Pesca, Skateboard e Frescobol. Estes

esportes, salvo melhor juízo, são os mais praticados no Aterro

do Flamengo.

Os praticantes investigados estão na classificação “Jovem

Adulto” (Papalia & Olds, 2000), ou seja, possuem entre vinte e

quarenta anos, são de ambos os sexos, e não foram feitas

distinções nas suas participações quanto a religião, raças ou

classe social.

O estudo justifica-se, pois cada vez mais o lazer é procurado

pela sociedade contemporânea. Talvez, devido ao volume de

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informações e tarefas cada vez maior, bem como o ritmo

frenético que estas são, obrigatoriamente, realizadas.

É mister informar que o estudo central deste artigo, com fins a

sustentação de sua justificativa, foi precedido de outros dois

estudos, com fins a uma sistemática delimitação do espaço a ser

pesquisado: “O esporte-lazer realizado na Cidade do Rio de

Janeiro: Uma abordagem dimensória” (Lames, 2005), onde

foram definidos setores de prática do esporte-lazer na Cidade do

Rio de Janeiro – idealizando a Orla Marítima como espaço

democrático; e “Análise Histórica Descritiva da Prática do

Esporte-Lazer nas Praias do Rio de Janeiro” (Lames, 2006),

onde, após uma análise observacional direta, pode-se identificar

peculiaridades quanto à inclusão e a opcionalidade (não-

obrigatoriedade e variedade) no Parque Brigadeiro Eduardo

Gomes (Aterro do Flamengo).

Esses componentes foram abordados “aleatoriamente”5, e só

participaram realmente da entrevista quando preenchiam as

condições delimitativas do estudo, ou seja: estavam na faixa

5 Atendendo, visualmente, na pré-compreesão, o perfil da faixa etária que o estudo

propunha, a intencionalidade da prática da atividade, o término da atividade, o diversificar entre as modalidades, e o equilíbrio quantitativo entre o sexo masculino e feminino.

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etária entre vinte e quarenta anos; realizavam suas práticas

esportivas segundo os princípios da dimensionalidade do

esporte-lazer (prazer lúdico, opcionalidade e inclusão); e

praticavam suas modalidades pelo menos três vezes por semana;

e já praticavam a pelo menos 3 meses.

A entrevista semi-estruturada colheu informações de 12

praticantes, sendo 6 do sexo feminino e 6 do masculino.

O estudo do jovem adulto, para este artigo, é pertinente pois

contribui para o entendimento desta fase, do Ser, neste momento

da sua vida. Assim, compreender a percepção do bem-estar

social do praticante do esporte-lazer perpassa pela caracterização

deste ente, e que devem ser consideradas.

Este é o momento, na vivencia do Ser humano, que sua saúde

física atinge o ápice e começa a reduzir. As habilidades

cognitivas assumem maior complexidade. As decisões acerca

das profissões e do relacionamento íntimos são tomadas, ou seja,

as decisões que promoverão um novo caminhar. Contribuindo

com o aumento da responsabilidade, a maioria dos casais já têm

filhos ou aguardam sua chegada.

Segundo Papalia e Olds (2000, p. 370) Jovem Adulto é a fase

compreendida entre 20 e 40 anos, e nesta fase “elas tomam

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decisões que as ajudam a determinar sua saúde, sua carreira e o

tipo de pessoa que desejam ser”.

Quanto à esfera laboral, acredita-se que na sociedade

ontemporânea brasileira, o jovem adulto venha sendo exigido

(por sua necessidade – condição econômica, ou pela

obrigatoriedade imposta pelo empregador), progressivamente,

cada vez mais a longínquas jornadas de trabalho. “Também é

possível que os empregados mais jovens tendam a ter trabalho

mais desagradável e estressante ou que empregados mais velhos

tenham maior probabilidade de já ter abandonado um emprego

do qual não gostavam” (Forteza & Prieto, 1994, Rhodes, 1993,

Warr, 1994, apud Papalia & Olds, 2000, p.394).

“O trabalho afeta a vida cotidiana, não apenas no emprego mas

também em casa, e proporciona tanto satisfação quanto

estresse”. (Papalia & Olds, 2000, p.396). Faz-se evidente o

necessitar do tempo livre de lazer, que pode ser saciado pela

prática do esporte-lazer.

Considerando que as carências de um ente do Ser do Homem,

que realiza o esporte na intencionalidade do lazer, são sempre

em função de melhorar ou equilibrar os estados físicos ou

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biológicos, psíquicos, sociais, ético e moral, pode-se então

considerar que esta realização estará voltada a saúde.

4. Levantamento das prováveis categorias do bem-estar

social ao praticante do esporte-lazer na região do aterro do

Flamengo

Conforme já enunciado, o bem-estar social de uma sociedade

deve ser “função do nível de proveito desfrutado por cada

indivíduo dentro dela” (Outhwaite & Bottomore, 1996, p. 42).

Assim, quais seriam as categorias de bem-estar aproveitadas

pelo praticante do esporte-lazer? Para responder tal questão, foi

elaborada uma pesquisa.

Foram sugeridas nove (09) prováveis categorias do bem-estar

social adquiridas quando se realiza a prática do esporte-lazer.

Pediu-se que fossem numeradas em ordem crescente, a começar

pela mais importante – conforme a concepção de cada um dos

Doutores e Mestres pesquisados. Além das nove categorias

sugeridas, foram disponibilizados cinco (05) espaços como

opções a serem preenchidas caso o colaborador identificasse

uma outra categoria não listada.

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Após o somatório das pontuações, surgiram as quatro categorias

que, segundo a opinião dos colaboradores, são as que melhor

representam em termos de importância o bem-estar social ao

praticante do esporte-lazer. Representadas por: Convivência

Humana (85 pontos); Estilo de vida/Qualidade de vida (81

pontos); Prazer (78 pontos); e Liberdade (74 pontos).

As quatro prováveis categorias, depois de eleitas, serviram de

norte a elaboração do roteiro de entrevista com a finalidade de

serem identificadas, de que forma e porque, bem como sua

representatividade aos praticantes do esporte-lazer do Aterro do

Flamengo.

5. Pesquisa de campo

O instrumento utilizado no estudo foi um roteiro de entrevista

(entrevista semiestruturada – em anexo), onde a captação do

conteúdo a ser analisado foi registrado num gravador de fita K7.

O roteiro de entrevista foi composto por quatro etapas: 1-

Abordagem (uma pergunta/apresentação); 2- Identificação do

entrevistado (sete perguntas); 3- Filtro (quatro perguntas, sendo

uma de assinalar alternativas - anexo); e 4- Perguntas

Específicas (doze perguntas).

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O roteiro confeccionado foi validado por sete professores

especialistas no assunto.

Dentre eles evidenciam-se três pesquisadoras, que realizam suas

práticas sobre a forma de entrevista e utilizando, para o

tratamento dos dados, a Análise de Discurso da linha de Eni

Orlandi.

No intuito de não obter uma visão unilateral, tal roteiro foi

submetido a um professor pesquisador, que pode contribuir com

seus conhecimentos na área social, mais especificamente -

cultura social urbana.

Por se tratar de uma atividade de lazer, um momento de

realização própria e privacidade, acreditava-se que alguns

praticantes poderiam se sentir incomodados, invadidos, ou

mesmo agredidos, com a abordagem, desta forma, objetivando

garantir a continuidade da pesquisa, a explicação aos praticantes

foi no intuito de conquistar a atenção e a confiança, enfatizando

o cunho científico e sua importância.

O procedimento de uma “abordagem” semi-estruturada faz-se

importante por tratar de padronizar a mensagem que se pretende

passar. Antes de coletar um conteúdo para o tratamento de uma

Análise de Discurso (AD), é preciso perceber que,

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empiricamente, o produtor do discurso fará uma AD no seu

primeiro contato com ele (abordagem). Essa idéia pode ser

compreendida na chamada “relação de forças”. “Segundo essa

noção, podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito é

constitutivo do que ele diz. Assim, se o sujeito fala a partir do

lugar de professor, suas palavras significam de modo diferente

do que falasse do lugar de aluno” (Orlandi, 2003, p.39).

Num outro momento, já fora do ambiente de entrevista, a

gravação das entrevistas foi transcrita de forma mais fiel

possível procurando preservar as interlocuções.

Ainda como estratégica metodológica, foi empregada a técnica

da Análise de Discurso (AD) estudada por Eni Puccinelli

Orlandi (2003).

Atentou-se para os comportamentos dos entrevistados, conforme

sugeri esta técnica, levando-se em conta as verbalizações, o

silêncio, as hesitações, os risos, os lapsos e a má vontade,

registrados em função de sustentarem as análises.

Repensando o campo da linguagem, o que a Análise de Discurso

questiona é o que é deixado para fora, no campo da lingüística: o

sujeito e a situação. É preciso entender que existe uma

construção em conjunta do social com o lingüístico. “Melhor

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ainda, defini-se o discurso como um objeto social cuja

especificidade está em que a sua materialidade é lingüística”

(Ibid, p.27).

Acredita-se que exista relevância, no trato metodológico, ao

utilizar a Análise de Discurso, em pesquisas sociais, pois “é no

discurso que o homem produz a realidade com a qual ele está em

relação” (Ibid, p. 39).

Tal tratamento contempla, ainda, o conceito de contexto aos seus

resultados. Ela “confronta-se com a noção tradicional

(hermenêutica) da interpretação e produz um deslocamento no

que é ler o arquivo hoje” (Pêcheaux, 1982, apud Orlandi, 2004,

p. 41).

6. Esporte

Desde sua época mais primitiva, as atividades físicas, que mais

tarde viriam se tornar modalidades esportivas demonstrava sua

capacidade de promover uma intervenção social. Sua

representatividade a vida social se deu paralelamente à formação

das civilizações. O “Cong-Fou” e o Jiu-jitsu, através do caráter

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guerreiro e utilitário, serviram de defesa aos feudos, bem como a

educação corporal.

Estava primitivamente reservado aos samurais, casta de

guerreiros, como já vimos repousando cada vez mais sôbre

conhecimentos de mecânica humana, descobrindo os

segredos da anatomia do homem e desvendando os mistérios

da fisiologia, o jiú-jitsú torna os samurais invencíveis nas

lutas corpo a corpo (Accioly & Marinho, 1956, p.38).

Conforme Ramos (1982, p.56) relata alguns povos e suas

atividades, com modalidades esportivas conhecidas nos dias de

hoje: “Lacrosse, espécie de hóquei […] prática recreativa dos

índios norte-mericano”; os maias e astecas com o “jogo de

pelotas […] semelhante ao atual basquetebol”.

A arte egípcia, cheia de majestade e beleza, revela, por meio

de preciosos testemunhos, que a prática dos exercícios

físicos, muito antes dos milagres gregos, ocupou importante

lugar na brilhante civilização que floresceu na terra dos

faraós. A luta livre, o boxe, a esgrima com bastão,

disputando primazia com a natação e o remo, foram, talvez,

os desportos de maior aceitação. Os romanos, mais tarde,

aperfeiçoaram muitos golpes egípcios e estabeleceram regras

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de competição, criando assim a luta greco-romana (Ibid,

p.17).

Na Grécia antiga, o mais importante não era a vitória esportiva,

mas o preparo a cidadania. Deve ser lembrado que era

considerado cidadão aqueles que defendiam e lutavam pela sua

cidade. Em Lachés II, Aristóteles (apud Pereira, 1960, p.42)

mostra duas atividades, de caráter guerreiro, que devem ser

praticadas em função de resguardar a cidade: “A prática da luta,

do pugilato, e, sobretudo da esgrima, devem ser preconizadas,

não para obter uma vitória desportiva, mas para o treino do

indivíduo e para o maior de todos os concursos, - a defesa da

Pátria”.

Numa análise mais contemporânea, o livro “O que é esporte”, do

professor Manoel J. G. Tubino, explica que durante longo

período o esporte foi compreendido pela valorização do

rendimento. Desta forma, na tentativa de ampliar esta

compreensão, surgiram três movimentos: “o da intelectualidade

inconformada com os rumos perversos que o esporte vinha

tomando; o dos organismos internacionais ligados ao esporte,

que passam a publicar manifestos; e o Trimm [...] Esporte para

Todos” (Tubino, 1999, pp. 24-25). Em comum, os três

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movimentos, pareciam desejar atender as idéias de ampliação

em defesa do esporte como “Direito de Todos”.

Em 1978 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura) lança a “Carta Internacional da

Educação Física e do Esporte”, onde em seu primeiro artigo

estabelece que “A prática da Educação Física e do Esporte é um

direito fundamental de todos”, embasado nos seguintes itens:

(a) é indispensável à expansão das personalidades das

pessoas; (b) propicia meio para desenvolver nos praticantes

aptidões físicas e esportivas nos sistemas educativos e na

vida social; (c) possibilita adequações às tradições esportivas

dos países, aprimoramento das condições físicas das pessoas

e ainda pode levá-las a alcançar níveis de performances

correspondentes aos talentos pessoais; (d) deve ser

oferecido, através de condições particulares adaptadas às

necessidades específicas, aos jovens, até mesmo às crianças

de idade pré-escolar, às pessoas idosas e aos deficientes,

permitindo o desenvolvimento integral de suas

personalidades. (apud Fédération Internationale D‟Éducation

Physique, 2000, p. 8).

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Ainda seguindo o entendimento de Tubino, as formas de

exercícios deste “direito” constituem-se nas efetivas dimensões

do esporte: 1- Esporte Educação (hoje, dividido em escolar e

educacional); 2- Esporte Participação (Popular ou Lazer); e 3-

Esporte Performance ou Rendimento.

7. Lazer

Quando os horários de trabalho foram vistos como abusivos, foi

catarseada a revolução do tempo livre, que de imediato muitos

identificaram como tempo do preguiçoso.

O “tempo livre” é sobre tudo um tempo de expressão, tempo de

democracia. Uma liberação pessoal mais profunda de sensações,

de sentimentos, desejos e sonhos reprimidos. Quanto mais nos

afastamos do tempo livre de lazer, mais nos aproximamos da

escravidão (imposições do sistema).

As pessoas parecem tender, em toda sua vivencia, a pouca

existência autônoma.

Elas devem estar integradas a sociedade, caso contrário serão

tratadas como marginais.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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A utilização do termo “tempo livre”, parece inclinar a uma total

autonomia de qualquer exigência social, o que se crê como

utópico, pois nenhuma liberdade será plena tal qual não seja

atingida pelas pressões sociais. Já a expressão “tempo

disponível”, poderia ser interpretada como o momento em que é

permitida a utilização do tempo.

Assim, poderia ser proposto o termo “tempo da opcionalidade”,

pois este seria utilizado conforme a necessidade. O sujeito

deveria ser capaz de optar pelo que é adequado cumprir. Ou seja,

ninguém deve continuar um trabalho se for observado, pelo

próprio agente, que, naquele momento, é preciso uma pausa

(para alimentação ou descanso). O tempo da opcionalidade deve

ser favorável a autonomia.

Compreender a autonomia é estar ciente das leis, é dar

importância a deontologia e a diceologia, assim, utilizando a

Constituição da Republica Federativa do Brasil (1988), observa-

se que no artigo 6º, o lazer é considerado como um direito

social, bem como a educação, a saúde, o trabalho, a segurança,

entre outros.

Contemplado no artigo 227º, o lazer, bem como o direito à vida,

à alimentação, à dignidade e ao respeito, é posto como “dever da

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade” (Brasil, 1988, p.101).

Cabe salientar, que apesar do direito ao lazer estar previsto no

artigo 7º, inciso IV, através do salário mínimo digno ao

trabalhador, dando a este lazer o status de “necessidade vital

básica”; as políticas públicas parecem não contemplar esses

integrantes da sociedade. As políticas elaboram e realizam

programas que atendem aos anseios das crianças, adolescentes e

idosos, porém, sem lembrar dos que sofrem com a maximização

do estresse pelas longínquas e aceleradas jornadas de trabalho –

o jovem adulto.

É forte a idéia de que o stress no trabalho e na vida diária

tem aumentado significativamente, particularmente nos

últimos anos com o aumento da competição entre as

empresas, do aumento da insegurança profissional e das

pressões em direção ao aumento de produtividade. É

possível afirmar que praticamente todos os trabalhadores

estão ou estarão submetidos a estas pressões e stress em

maior ou menor grau, absorvendo ou somatizando estes

conflitos […] “A maior fonte de stress para os adultos é o

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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stress profissional”, descrito pela OMS como uma

“epidemia global” (Lipp, 1996).

A idéia de lazer poderia ser confundida com a do ócio, e

assumiria um caráter negativo. Considerando que trabalhar é

fazer algo em benefício próprio e/ou coletivo, o ócio seria o não

fazer nada. De Masi emprega o termo, que parece ser mais

adequado - ócio criativo. Para este autor, “futuramente o lazer

será confundido com o rabalho e o estudo”6, pois o ócio que

deve existir é um ócio de utilização do tempo a seu favor, de

maneira criativa e favorável aos seus desejos.

Neste olhar ao ócio, De Masi (2000, p.325-326) escreve ainda

que:

O ócio requer uma escolha atenta dos lugares justos: para se

repousar, para se distrair e para se divertir. Portanto é preciso

ensinar aos jovens não só como se virar nos meandros do

trabalho, mas também pelos meandros dos vários possíveis

lazeres. Significa educar para a solidão e para a companhia,

para a solidariedade e para o voluntariado […]. Significa

ensinar como se evita a alienação que pode ser provocada

6 Informação fornecida em entrevista realizada no programa “Roda Viva” da TV Cultura de São Paulo, em 1998.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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pelo tempo vago, tão perigosa quanto a alienação derivada

do trabalho.

Corroborando a reflexão da utilização deste tempo, De Masi

(1999) diz em sua oratória que:

O século 21 será dominado pelos países que souberem

gerenciar o tempo livre.[…]. É preciso educar as pessoas

para o tempo livre. Se no século 20 vivemos principalmente

de trabalho, no próximo viveremos sobretudo de tempo livre.

E a maioria dos países não está preparada para isso, pois está

tão imersa no frenesi do trabalho que já não sabe o que fazer

do tempo livre. Vivemos em uma sociedade em pleno

desenvolvimento tecnológico que vem permitindo ao ser

humano uma 'reserva' de tempo até então inexistente. Num

mundo que sobrevaloriza o trabalho, as obrigações de todas

as naturezas, o relógio, a eficiência, a produtividade,

vivenciar esses momentos de descanso, divertimento e pleno

desenvolvimento, tanto pessoal como social, de forma

desinteressada', poderá trazer o equilíbrio tão necessário para

que uma pessoa possa viver, nesta virada de século, uma

verdadeira qualidade de vida.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

92

O trabalho não pode apresentar-se como a primeira necessidade

humana, mesmo trazendo satisfações no plano das tarefas

técnicas, e no plano das relações sociais; pois a qualidade de

vida depende da relação do tempo de trabalho e do tempo de

livre escolha.

8. Esporte-lazer

O Esporte-Lazer é a “dimensão social do esporte referenciado

com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o

bem-estar social dos seus praticantes” (Tubino, 2001, p.38). Sua

realização se dá através de uma livre “escolha” – onde encontra-

se embutida a ação voluntária e a ação opcional – denotada pela

liberdade de realização.

Esta manifestação, que ocorre em espaços não

comprometidos com o tempo e fora das obrigações da vida

diária, de um modo geral, tem como propósito a

descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as

relações entre as pessoas. Também oferece oportunidades de

liberdade a cada praticante, a qual se inicia na própria

participação voluntária (Ibid., pp. 38-39).

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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A prática do esporte-lazer pode ser entendida através do “espaço

imaginário”, ou seja, de criação ou materialização dos desejos.

Trata-se do momento em que lhe é permitido, através de uma

prática de convivência esportiva, alguns instantes distante das

teias sociais de nossa identidade. Acredita-se que quando se tem

liberdade de ação, toda vitalidade do praticante explode,

contribuindo com o bem-estar e, consecutivamente, com a

qualidade de vida.

O espetáculo esportivo, já é algo tão grandioso que poderia

sobreviver facilmente através das magníficas disputas; como era

no período do Ideário Olímpico, em que prevalecia o ideal de

esporte (a disputa sem cobrança de ganhar a qualquer custo, ou a

necessidade de se apresentar como o melhor).

No esporte participação, ou esporte-lazer, o espetáculo fica por

conta da socialização, da inclusão, do prazer lúdico, da

comunicação fluida, do direito a desistir caso não sinta mais

desejo.

Segundo Tubino (1999, p.27-28) o esporte-lazer proporciona “o

desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração

social, fortalecendo parcerias e relações pessoais” propiciadas

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pelos ares democráticos, onde não deve ser privilegiado o

talentoso.

O ganhar a qualquer custo ou “chauvinismo de vitória” (Tubino

1999, p.21), assim como no esporte de alto

rendimento/performance, pui a fronteira da conduta ética com a

falta desta. O praticante do esporte-lazer deve estar em sintonia

com a ética esportiva, mais do que isso, por se tratar de uma

atividade opcional, deve estar em plenitude com o “espírito

esportivo”10, pois desta forma estará sempre em paz com a sua

consciência moral.

O que se sabe é que a nova ética esportiva deriva da ética

geral e que o equilíbrio entre a atitude ética e a atitude

esportiva deve resultar a formação de um renovado espírito

esportivo […] no esporte-participação, a referência ética será

o bem-estar social e a qualidade de vida (Ibid, 1999, pp. 57-

58).

Analisa-se que a Ética ocorre pelo cumprimento do

associacionismo, em sua codificação, e pode ser exemplificada

na carta do fair play; entretanto, no “jogo do lazer” as normas

podem ser convencionadas de forma a incentivar o espírito

esportivo, onde o incontestável é a permanente presença da

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realização ao “bem” (Platão), e ao respeito à coletividade

(moral).

Assim, o concordar ou discordar das condutas esportivas poderá

ser ajustado por uma capacidade de convivência; caso ela não

exista, seus protagonistas deverão entrar num acordo

(convenção) em prol da continuidade do momento de prazer, e

do bem-estar social.

Analisando a prática do frescobol arrisca-se nomeá-lo como

esporte símbolo do esporte-lazer, pois este tem sua continuidade

ou ininterrupção quando o jogador mais hábil realiza suas

jogadas em função de estimular a permanência das jogadas do

seu adversário. A intenção é que haja um equilíbrio entre as

jogadas, em função de que haja jogo (continuidade).

Desta forma, o esporte-lazer deve ser compreendido por alguns

princípios: 1- Princípio do prazer lúdico; seu praticante, no

intuito de jogar, deve sentir que esta na presença de algo

prazeroso (lembrando o hedonismo (Doutrina filosófica que faz

do prazer o fim da vida (Bueno, 1960, p.610); 2- Princípio da

Inclusão; deve ser oportunizado independente do talento do

praticante, tendo como lema o “direito de todos”, sem que haja

qualquer tipo de descriminação; 3- Princípio da opcionalidade;

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cada um tem o direito por optar a modalidade que deseja

realizar, e uma vez realizando-a, optar por sua continuidade, ou

não, a qualquer momento.

Caminhando em sentido contrário a qualquer imposição feita ao

Homem, ocorrências desde a idade da pedra, onde a necessidade

de sobreviver não era uma mera opção, o lazer aparece em prol

de suavizar e qualificar a vida. Expressão utilizada aludindo ao

esportista que não se permite obter vantagem em desrespeito a

regra – questões morais no que tange as normas codificadas do

esporte. Segundo Gonçalves (1989, apud Tubino, 2001, p.62) “o

espírito esportivo é de difícil definição, mas de fácil percepção,

e deve ser entendido como um código de atitudes, um respeito às

normas derivadas de um código de ética, e ainda como um

comportamento moral para o meio esportivo.”

9. Esporte-lazer realizado na cidade do Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, o esporte surgiu, no início do

século XIX, colaborando com a vida social, através do lazer

realizado pelos imigrantes. As práticas mais evidenciadas eram

as individuais (turfe, remo, natação, atletismo, ginástica de

aparelhos, patinação sobre rodas, bilhar, bocha e ciclismo). Suas

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práticas atendiam a intenção de ter prestígio social, bem como o

modismo.

O lazer da época é compreendido, neste estudo, por

entretenimento esportivo7. Logo o assistir daria desejo ao

“também praticar”, numa progressão social lógica, o “também

praticar” precisa receber um nivelamento (rankeado), e assim o

competir traria a rivalidade. Outro fator que veio caracterizar a

época, fora a presença de clubes.

Segundo Garrido (2005, p.527) “nas últimas décadas do século

XX, o Rio de Janeiro já tinha o esporte como uma de suas

principais identidades culturais, marcando e simbolizando seu

estilo de vida, quer no sentido de espetáculo ou na sua prática.”

Este autor ainda escreve que esta cidade captou, na mesma

época, a influencia internacional, do que viria se consolidar

como “esportes-radicais”. O Rio de Janeiro serviu como uma

“porta de entrada” destas atividades ao Brasil.

Timidamente, surgiram os banhos de mar “e se consolidou a

percepção da utilização de logradouros públicos, como praças e

7 A interferência e interação de quem pratica o entretenimento ocorre sem contato com a pratica vislumbrada

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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parques, para a prática esportiva com fins de recreio e higiene

[…] Desde 1857, discutia-se a importância de espaços públicos

para essa finalidade” (Id., p.529). Entra para a história o início

da relação entre esporte e poder público, no Rio de Janeiro, em

benefício da população, mesmo que os locais públicos fossem

visados como fonte de negócio.

Nas décadas de 1900 a 1920 ocorre a popularização do futebol

carioca:

o futebol no Rio de Janeiro passou a ser jogado livremente

nas ruas, várzeas, praias e escolas, independente de classe

social e com qualquer tipo de bola. Sob a forma de “pelada”,

era uma atividade livre, uma forma de lazer. […] Outra

conseqüência da popularização do futebol foi a aceitação do

esporte como prática social em logradouros públicos, o que

nas décadas seguintes – anos de 1970 em diante – viria a

facilitar a adoção das atividades físicas em geral da

população carioca. […] os banhos de mar praticados pelas

elites inicialmente começaram a se popularizar com a

chegada dos bondes elétricos na zona sul do Rio de Janeiro

via túnel Alaor Prata, aberto na década de 1910 (Garrido,

2005, p. 529 passim).

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

99

As classes sociais eram organizadas e, consecutivamente,

controladas pelo Estado, que por sua vez permitia a classe dos

trabalhadores à conquista de salário mínimo, contrato coletivo,

jornadas de no máximo oito horas de trabalho, e criação de

sindicatos. Tais fatos proporcionavam um tempo que poderia ser

destinado a assistir e praticar esporte (favorecimento ao lazer).

Nos estudos de Garrido (Ibid., p.530, grifos nossos), o autor

atesta que existem (2005) testemunhos orais de que “o futebol se

instalou nas areias das praias do Rio de Janeiro assumindo um

cunho típico destes locais.

Mais uma vez, o RJ fez-se constar como locais de

experimentações de esportes ajustados ao meio social e físico

local.”

Nas décadas de 1950 e 1960 o crescimento urbano industrial

estimula o aumento da densidade populacional, o que, para a

época, alavanca o desenvolvimento econômico.

Na educação, bem como a eletrificação, as rodovias, a cultura

(música, poesia, teatro e cinema), o desenvolvimento continua

crescente. Em particular a Educação Física, com intercambio de

seus profissionais e a elaboração de cursos técnico-pedagógicos,

que renovava o emprego da pedagogia.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

100

Neste sentido, o Método Desportiva Generalizada – MDG

abriria perspectivas para um maior desenvolvimento do

esporte na escola, principalmente dos coletivos (esportes de

massa). Tal contexto favorável levou a instituição da

Campanha Nacional de Educação Física pela Divisão de

Educação Física-MEC, cujo Diretor era o professor Alfredo

Colombo.

Essa Campanha realizada nas praças, ruas e praias, proporcionou

uma iniciação esportiva à população, segundo comunicação

pessoal do professor José Ferreira da Silva (1997). Reconhecido

como „Ruas de Recreio‟, „Praias de Recreio‟ e „Ruas de Lazer‟

[…] (Id., p.530).

Conforme a cidade crescia, em termos viários e habitacionais,

aumentava também o número de espaços destinados à prática

esportiva pública, como por exemplo o Parque Brigadeiro

Eduardo Gomes (Aterro do Flamengo).

Com uma urbanização capaz de atender os desejos de uma

prática esportiva no intuito de lazer, ou mesmo satisfazer o

imaginário como jogador profissional, entre as décadas de 1970

e 1980, o que restava ser desenvolvido eram as elaborações (ou

cópia) das atividades a serem realizadas. “O primeiro

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experimento bem sucedido foi o chamado Método Cooper,

trazido ao país por Néri Nascimento, Manoel Tubino e Cláudio

Coutinho” (Ibid., p.530).

Outra manifestação de nível internacional, na época, foi o EPT

(Esporte para todos). Neste, não eram privilegiados os talentos, e

sim o experimentar por parte das pessoas que em muitas das

vezes eram apenas expectadoras. O movimento, que primeiro foi

chamado de Trimm, na Noruega, recebeu diversos nomes pelo

mundo:

“Participation no Canadá, Éducation Physique pour Tous na

França, Trimm na Alemanha, Deporte com Todos na

Argentina” (Tubino, 1999, p. 25).

A adesão do Esporte Para Todos ampliou a oferta da prática

esportiva à sociedade.

Como conseqüência deste movimento, no Rio de Janeiro,

acentua-se a necessidade de fechamento do transito em ruas

espaçosas e atrativas ao lazer. Vale relatar que a Campanha

“„MEXA-SE‟, promovida nacionalmente pela TV Globo e que

antecedeu o Movimento EPT, foi promovida no RJ, também

deixando como herança à própria denominação que se fixou na

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língua falada no Brasil como sinônimo de atividade física de

lazer” (Garrido, op. cit., p. 530).

Era o prenuncio de que o esporte seria reconhecido como direito

de todos pela Constituição da República Federativa do Brasil, e

assim foi através do artigo 217. No parágrafo 3º do inciso IV, “o

Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção

social” (Brasil, 1988, p. 97).

Não é por acaso que se tem tanta oportunidade a realização do

esporte, ele promove a maior união entre os membros sociais, e

isso se dá justamente por ser um direito de todos, e por existir

em nossa sociedade um Homo Sportivus (fato).

No final do século XX, das práticas esportivas regulares e

esporádicas, surgiram os Homo sportivus, que são aquelas

pessoas que de alguma forma incorporaram a atividade física

ao seu cotidiano. Podem ser pessoas de qualquer faixa etária,

sexo, raça, nível social, e engajada em qualquer uma das três

dimensões do esporte […] (Tubino, 1999, p.47).

A figura do Homo Sportivus parece fazer parte naturalmente da

sociedade carioca8. O desejo de competir está presente, e é posto

8 Casa Branca; natural da cidade do Rio de Janeiro.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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em prática sem o afastamento da solidariedade, do

companheirismo e do espírito esportivo.

Mesmo, geograficamente, localizando-se a privilegiar a Zona

Sul da cidade, “talvez seja a praia o lugar mais central do Rio de

Janeiro, para todas as camadas sociais, sendo um lugar de

representação e de reprodução ritual ideal miniaturizada da

sociedade carioca” (Goldenberg, 2002, p.7)

Praticar o esporte-lazer numa das praias (orla) da cidade do Rio

de Janeiro deve ser compreendido como uma prática num espaço

de cobranças estéticas. O que poderia fazer deste espaço

democrático, um espaço de privações. Segundo Goldenberg

(Ibid, p.7) “uma simples caminhada nas areias das praias da

cidade do Rio de Janeiro, em um domingo de sol, pode se

transformar em uma rica etnografia do corpo carioca […] No

Rio de Janeiro, o nu também é moda”.

O Esporte-lazer não é complementar ou compensatório ao

trabalho, é realizado em suas íntimas necessidades em função de

gozar de momentos prazerosos. O carioca, naturalmente,

desfruta das belas paisagens por onde passa; seja indo para o

trabalho, seja voltando cansado das compras, o que

provavelmente configura um estimulo natural ao desejo de ter

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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contato. “As praias acabam servindo de praças públicas,

extensão do próprio lar de cada habitante” (Ibid., p.51).

É intensa a utilização de espaços “não convencionais9” a prática

esportiva, no intuito do lazer. Facilita por demais a realização

desta prática, o fato da cidade ter uma estrutura física

convidativa. Os moradores e os turistas sentem-se interessados

em ter um contato mais próximo com a natureza disponibilizada,

com a cordialidade e a prestatividade de seus integrantes.

Trata-se de uma cidade cuja apreciação e valorização,

mundialmente, encontram-se nas estampas de seus cartões

postais, onde são apresentados os significantes, duplo produto:

paisagens naturais e práticas esportivas.

É mister perceber que a cidade do Rio de Janeiro favorece uma

ambiência a pratica do esporte-lazer. Na tentativa de conceituar

a prática do esporte-lazer realizado na cidade do Rio de Janeiro,

Lames (2005), observa que:

Trata-se da higiene física e mental realizada através de uma

modalidade esportiva, a fim de atingir, de forma consciente

ou não, uma melhora na qualidade de vida, na certeza de

9 Espaços que são aproveitados para a prática esportiva do lazer, sem terem sido criados exclusivamente com essa finalidade.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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estar praticando algo prazeroso, e capaz de ser seguido como

“estilo de vida ativa”.

Cabe evidenciar que a expressão Esporte-Lazer Realizado na

Cidade do Rio de Janeiro é pertinente ao estudo, não pela

intenção de que a amostra pretenda representar um quantitativo

estatístico da cidade do Rio de Janeiro, mas por estar tratando de

uma prática esportiva realizada por características próprias da

vivencia do carioca.

10. Políticas públicas

As políticas públicas do esporte e lazer parecem desejar cumprir

um nobre papel a sociedade, entretanto esquecem que para uma

proveitosa realização desta prática é preciso se educar para o

lazer.

Ao educar para o lazer, possibilita-se, uma futura educação

através do lazer, ou seja, pelo lazer.

Entretanto, na atual conjuntura do cenário político mundial as

coisas, mesmo em diferentes dimensões, são transformadas em

mercadoria. Identificar o lazer como mercadoria significa aceita-

lo como mais uma mercadoria. Vender o lazer é possível,

contudo não se deve, através desta venda, criar uma exclusão

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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social, ou seja, o lazer, por sua importância e benefício ao Ser

humano, deve ser oportunizado e subsidiado.

O esporte-lazer é capaz de favorecer algo que transcende o

“entretenimento” e a “educação” – a qualidade de vida. Esta

afirmativa é feita ao se considerar conclusões advindas da

Declaração de Alma-Ata (1978)10

, onde foi entendido que o

Homem pode viver sem educação, “mas não sem saúde”. E

ainda, que é “direito e dever dos povos participar

individualmente e coletivamente no planejamento e na execução

de seus cuidados de saúde”. Tal execução parece ser viável,

também, a partir da autonomia prática do esporte-lazer.

A melhora da qualidade de vida poderá ser proporcionada

através da elaboração de uma política pública que reorganize os

espaços esportivos na cidade; redistribua o tempo destinado ao

trabalho; desenvolva um programa de lazer direcionado à

criança, ao trabalhador (20 a 40 anos – jovem adulto) e ao

aposentado, resguardando suas necessidades; e o planejamento

de férias que possam ser desfrutadas, ou seja, que a remuneração

possa ser proporcional às necessidades deste momento

particular.

10 (http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf)

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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É notório que o “jovem adulto” não pode ser excluído deste

benefício – é essa faixa etária que parece sofrer mais com os

ritmos frenéticos de trabalho urbano.

Consoante ao termo espaço, vale lembrar que tal noção

“delineou-se a partir do momento em que o homem teve

necessidade de deslocar-se e de retornar aos locais de origem”

(Cunha, 1997, p.40). Tal continuidade, até por novas exigências,

ampliou a gestão de recursos necessários à vida de um sujeito,

uma comunidade ou uma nação, “localizados dentro de uma

determinada extensão territorial” (Ibid, p.40, grifos nossos).

Os espaços de civilização definem-se a partir do conjunto de

atividades pertencentes ao modo de vida de um povo, que

expressam uma certa maneira de viver no mundo, com

concepções próprias sobre ele, traduzidas pelas suas

instituições-normas que as perpetuam e as projetam no seu

futuro e que são visíveis em espaços construídos e

organizados que são as cidades. Os povos que não

construíram cidades, não originaram civilizações (Ibid, p.

42).

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

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O espaço de interação humana, ou espaço social, é um espaço de

convívio, afirmação entre as pessoas e auto-afirmação, e

definidos a partir de organizações sociais.

A estrutura de uma cidade, bem como seus habitantes,

organizam seu desenvolvimento a procura da utilização do

tempo livre, “tendente a realização de atividades mais nobres,

como sejam aquelas que estão mais ligadas aos lazeres e a

cultura” (Ibid, p.52).

Pela sua localização, nas zonas nobres ou periféricas das

cidades, pela sua envolvência e pela sua arquitetura, as

instalações desportivas espelham o modo como um povo

valoriza o seu corpo, o desporto e de como organiza no

espaço e no tempo essa valorização. (Ibid, p.52, grifos

nossos).

Arrisca-se apontar que o praticante do esporte-lazer, da orla

marítima, por se valer de um espaço onde a liberdade de

expressão é convidativa, conduz seu corpo a gozar do prazer da

liberdade, da sensação de estar ao ar livre, do natural, do realizar

sem obrigatoriedade, mas em quanto houver prazer; todos, itens

que configuram o esporte lazer.

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

109

Assim pensa-se que a idéia de “estar na praia” é uma idéia

compatível a de “estar praticando o esporte-lazer”.

Contribuindo na justificativa da utilização da orla marítima

como espaço destinado ao esporte, Luiz Cunha, passim, escreve

uma delimitação a ser analisada:

Os espaços naturais ou ao ar livre, também podem ser incluídos

dentro deste conceito de instalações desportivas. Contudo, eles

só são considerados, na medida em que a sua utilização

continuada pelas populações se verifique através da

identificação de pequenas estruturas de apoio às actividades

desportivas, que localizam a atividade, dão significado

desportivo ao espaço natural em presença e oferecem mais um

espaço de prática desportiva (Ibid, p.52).

O espaço esportivo contribui como palco da convivência

humana. Ele não pode ser entendido como um mero espaço

destinado à competição e a análise de uma ordenação

hierárquica. Ele é “também o grande espaço descodificado onde,

em contacto com a natureza, o praticante procura novas

possibilidades” (Ibid, p. 51).

Para Cunha (Ibid p. 48) “o desporto é claramente um produto da

civilização urbana e industrial e todos os seus sub-produtos

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110

revelam essas características”. O esporte-lazer parece advir de

uma necessidade de realizar a determinada modalidade esportiva

para sentir um fantasiar que lhe permite uma inclusão e/ou

sensação de também ser capaz.

Entretanto, não se pode negar a necessidade urbana de ser capaz

de transformar um determinado espaço num espaço democrático

onde as normas são um pouco mais liberada, na verdade

convencionadas.

9. Bem-estar social

Segundo Da Costa (2002, p.56), repensando questões referentes

ao conceito de bem-estar:

em termos de civilização ocidental, são correntes vários

nexos de „bem estar pessoal‟ mas todos revelando

fundamentações determinadas historicamente. Nestes

termos, a trajetória histórica constitui, em tese, uma

metodologia hábil para se pesquisar, debater e dar maior

compreensão à categoria „bem estar‟ quer pessoal ou social

[…].

Revista IRUNDÚ. Revista Científica de Educación y Desarrollo Social ISSN 1990-6889 Año 5 nº2 (2009)

111

A palavra poiesis configura uma expressão grega “com

significado de produção e ao mesmo tempo de realização

humana” (Ibid, p. 57).

E, nestas circunstâncias, concluiu-se que o fio condutor da

qualidade determinado historicamente era a exibição pública

de informações sobre o produto que almejava ser de

excelência para consumo ou serviço. Tal disponibilidade pro

bono publico seria em última análise uma expressão teatral e

ritualista de desejáveis atitudes éticas e estéticas por parte

daqueles que buscavam a excelência nas relações sociais e/

ou comerciais.

Na perspectiva de Juran (1995 apud Da Costa, 2002, italicos

nossos), “dispôs-se como uma qualidade externa aos indivíduos,

mas vinculada a eles por uma manifestação interna de realização

pessoal. Este seria também o caso de se obter a excelência em

atos de guerra ou de competição esportiva.” Os gregos

utilizavam a denominação arete “para definir uma virtude a ser

desenvolvida e voltada para o alcance do bem, belo e bom. E as

disputas que desenvolveriam o aretê seriam meios de exposição

e verificação tal como a observação da qualidade de sentidos

interno e externo” vinculados aos indivíduos.

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Em síntese, o „bem estar‟ dos dias presentes é

essencialmente uma manifestação de obtenção contínua de

qualidade no fazer e viver, ora revelada por trocas

profissionais e sociais, ora por confrontação comparativa nas

relações pessoais (Ibid, p. 57).

O tentar conceituar ou redefinir, este termo, vem crescendo nas

últimas décadas, embora tais não se afastem das tradições

filosóficas e pedagógicas dos gregos e romanos, voltada para a

saúde mental e física como forma ideal de vida.

Recapitulando, houve entre os pensadores da Grécia Antiga uma

busca de sentido da vida e do agir coletivo, a qual os romanos

herdaram e denominaram de “bem supremo” (summum bonum).

Aconteceu, nestes termos, uma passagem do bem comum ao

estilo do modo de viver grego para um bem de aperfeiçoamento

individual tipicamente romano […].

Esta fusão do “bem comum” com o “supremo bem” chegou ao

século 17 assumindo uma interpretação de prolongamento da

vida (Ibid, p. 58).

Segundo Lovisolo (1996, apud Da Costa, 2002) “esta

fundamentação encontra-se na „Didática Magna‟ de Comenius,

uma obra que vinculava educação com a saúde e esta com o

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modo de conduzir hábitos sadios, isto é, com o sentido e o uso

da vida.”

Acredita-se que quando se vive em meio ao bem-estar,

prolonga-se a vida.

Contudo, a definição da expressão bem-estar, segundo o

Dicionário do Pensamento Social do Século XX está ligada a

teoria economia: ela “é a análise dos juízos de valore no

contexto de tomada de decisão econômicas” (Outhwaite &

Bottomore, 1996, p.42).

11. Analise de dados

Entende-se que a diversidade das modalidades esportivas

pesquisadas é representativa da diversidade de modalidades

esportivas que atualmente ocorrem no local pesquisado.

Acredita-se que pesquisar o esporte-lazer pretenso neste estudo

seja pesquisar suas diversas atividades que configuram o grupo

entendido como “praticantes do esporte-lazer no Aterro do

Flamengo”.

Foram entrevistados praticantes das seguintes modalidades:

Caminhada, Ciclismo, corrida, frescobol, futebol, futevôlei,

patins, pesca, remo, skateboard, tênis e vôlei. Cabe informar que

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essas modalidades foram as que se apresentaram como mais

praticadas, salvo melhor juízo, nos dias da entrevista.

A Análise de Discurso (AD) pode ser aplicada na linha

americana ou na linha francesa de estudos. Perante o que tange a

francesa, foi escolhido trabalhar nos ideais de Michel Pêcheux,

aqui fundamentados por Eni Orlandi (2003).

Deve-se evidenciar a importância entre os sentidos e suas vias

percorridas, a influencia histórica, seja na esfera da linguagem,

seja na esfera da imagem (que podem ser transformadas em

texto), assim segundo Costa (1999, p.41), introduzindo a Analise

de Discurso, informa que o discurso:

Como o efeito de sentidos entre interlocutores cuja relação é

regulada historicamente entre as muitas formações

discursivas. A AD investiga seus processos de produção de

sentidos, ou seja, que caminhos, que vias os sentidos

percorrem para sua formação. Orlandi (1996) desenvolve

uma noção de discurso (fala, pintura, imagem, escrita) na

qual este é uma das instâncias materiais (concretas) da

relação que o homem estabelece entre o pensamento, a

linguagem e o mundo. Para ela, interpretar o discurso é dar

sentido a essa linguagem. O texto se apresenta como o lugar

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mais adequado para se observar a linguagem, uma vez que

contém inúmeras relações de sentidos.

A Análise de Discurso “se interessa pela linguagem tomada

como prática: mediação, trabalho simbólico, e não instrumento

de comunicação” (Orlandi, 2004, p. 28).

Orlandi (Ibid, p. 24) explica que a “AD se forma no lugar em

que a linguagem tem de ser referida necessariamente à sua

exterioridade, para que se apreenda seu funcionamento,

enquanto processo significativo”.

12. O Cenário do lazer esportivo: aterro do Flamengo

Acredita-se que o cenário adequado à prática do esporte-lazer

deva apresentar, em sua imagem, uma límpida sensação de

liberdade. A beleza estrutural também deve estar presente,

auxiliando a sensação de prazer contínuo. Entretanto o

movimento (ação) dos seus personagens, também na imagem,

deve transmitir um harmonioso convívio social, dotado de

respeito interpessoal e ambiental11

.

11 Acredita-se que o respeito por si mesmo, nesta prática, já existe naturalmente, uma vez realizada pelo princípio da opcionalidade, ou seja, não existe nenhuma obrigação por realizar (somente com o prazer).

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O Aterro do Flamengo (Parque Brigadeiro Eduardo Gomes)

apresenta imagens que parece atender os critérios listados. Além

disso, seus gramados altos, que separam as pistas de trânsito da

área destinada ao lazer, proporcionam um isolamento acústico e

consecutivamente um ambiente que contempla o respeito

sonoro, de tranqüilidade e paz, onde quase se escuta o balançar

das ondas de uma praia onde elas praticamente não se formam.

Normalmente para se chegar a este recanto, em plena zona sul

da Cidade do Rio de Janeiro, devem-se atravessar as vias de

trânsito por passarelas ou por passagens subterrâneas (sob as

pistas de transito).

Apelidada de Cidade Maravilhosa, vê-se que o Aterro do

Flamengo situa-se numa parte que realiza uma considerável

contribuição ao apelido. Consegue-se observar, além do projeto

paisagístico do parque, o Pão de Açúcar, a enseada por onde

passam os remos e os barcos à vela, e ao longe a ponte “Rio-

Niteroi”.

O espaço, como um todo, não apresenta um ar bucólico, apenas

apresenta-se mais reservado em determinados trechos. Aos

finais de semana fica bastante movimentado, com pessoas

passando por todos os locais, entretanto existe uma certa

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exigência por manter uma certa privacidade. Isso é

compreensível, pois a prática esportiva e o lazer são atividades

em que seus praticantes parecem buscar uma desvinculação da

obrigatoriedade e um “poder realizar”12

sem serem tolhidos

(atrapalhados).

13. Interpretando a associação de idéias realizadas pelos

entrevistados

A interpretação da Associação de Idéias foi feita através da

técnica projetiva, que é utilizada pela psicanálise com a

finalidade de estudar as associações mentais, ajudando a

penetrar na subjetividade do sujeito em questão. Este recurso foi

acrescentado ao estudo, vislumbrando, junto a Análise de

Discurso, um decifrar no mundo lingüístico dos praticantes do

esporte-lazer do Aterro do Flamengo.

Segundo Sousa (2004, p.158) este método ajuda “o pesquisador

a penetrar na subjetividade do individuo, ela é oriunda do

discurso dos pesquisados e está relacionada com a intensidade

das escolhas”. Assim, “estes procedimentos favorecem a

12 Discurso que apareceu na fala de um dos entrevistados.

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manifestação dos laços emotivos latentes, que servem para a

interpretação dos sentidos, dos símbolos evocados” (Costa,

2004, p. 85).

Os entrevistados, jovens adultos praticantes do esporte-lazer no

Aterro do Flamengo, foram convidados a expressar verbalmente

(Questão 11 do roteiro de entrevista) a associação que lhe vinha

ao pensamento quando apresentada uma determinada palavra

(ou expressão), pelo entrevistador, a sua prática esportiva. Caso

não ocorresse nenhuma associação o entrevistado deveria

levantar a mão, indicando que o entrevistador deveria passar

para a próxima palavra.

Cada uma das palavras (expressão) foi apresentada

isoladamente, sem a indução de vincular a algo que não o

pretenso pela formulação da questão, entretanto deve-se

evidenciar que a seleção de tais palavras se deu por estas

configurarem a representação das “categorias do bem-estar

social do praticante do esporte-lazer”. São elas, na ordem que

foram apresentadas: Liberdade; Prazer; Estilo de Vida; e

Convivência (Palavras Indutoras).

Intenção deste estudo, a identificação, através do que é

percebido subjetivamente pelo praticante do esporte-lazer, da

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promoção de um bem-estar social foi incentivada também a

partir desta associação de idéias, inclusive originando a

representação do “Mapa de Associação de Idéias” (Figura 1).

Foi observado que a condução deste tipo de questão (pela

liberdade de expressão) ajuda na identificação do “não-dito”,

outrora não permitida por perguntas um pouco mais objetivas.

Foram consideradas as cognições prontamente lembradas,

adotando-se os critérios de natureza coletiva (freqüência de

indicação) e o de natureza individual.

A reação dos entrevistados foi, normalmente, de alegria por

poder expressar a determinada associação. Não houve nenhum

estímulo a fala do entrevistado. Nenhum levantou a mão para

indicar que não sabia associar a palavra a sua prática esportiva

de lazer.

A relação detectada entre as respostas e as palavras indutoras é

de significação, e não de causa, “o que permite ter acesso ao

cimento que as mantém aglutinadas” (Ulson, 1988), auxiliando

no dêsvendar do tom ideológico-afetivo que as configura.

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14. Conclusão

Após o tratamento das informações geradas pelos entrevistados,

cabe concluir que, dentre estes, praticantes do esporte-lazer no

Aterro do Flamengo, fica evidenciado:

Essas três divisões permitem um melhor desenvolvimento dos

fatos percebidos.

Pode-se inferir que dentre os desejos dos entrevistados, ficam

evidenciados “o afastar-se da obrigação cotidiana”; “o realizar

novas amizades”, um desvincular da obrigação rotineira. Mas

também um “contemplar da paisagem natural, ampla e pública”

que deriva na sensação de liberdade e prazer (bem-estar social).

Em contato com a natureza, este praticante, respira aliviado por

não estar na clausura que restringe, de forma impositiva, o seu

viver.

Quanto aos proveitos derivado desta prática esportiva, percebido

e discursado pelos entrevistados, identificou-se a “realização de

novas amizades”, um “afastar-se do que é nocivo à vida

saudável” (contrário ao bem-estar social), o “priorizar o prazer”

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sobre a condição de realização, sendo este prazer resultante de

um bem-estar individual que se alonga ao coletivo.

A convivência pretensa a partir da prática, pode até servir para

melhorar o autocontrole de suas ações (você com você),

entretanto é contrária a este benefício caso precise realizar um

isolamento para atingi-lo. Existe uma valorização do “estar

junto”.

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Figura 1- Os desejos deste esportista; Os proveitos derivados desta prática esportiva; e A convivência pretensa.

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Conviver é, para os entrevistados, sinônimo de perceber as

diferenças e aprender a como lidar com elas, seja através das

regras do jogo, seja através das convenções que se pode realizar

no ambiente de prática, ou ainda, seja nas situações inusitadas

que o jogo espelha a vida. Ficou evidenciado que essa

convivência é realizada com oponentes momentâneos e não com

adversários ou inimigos, onde pode até existir a infração ao

espírito esportivo, mas esta ocorre em função do “gozar” com a

falta de atenção do oponente. Ganhar do amigo parece ser mais

prazeroso, pois não torna mais acirrada a rivalidade, aumento da

tenção – não existe a obrigação.

Assim, a prática do esporte-lazer no Aterro do Flamengo, pelo

jovem adulto, fica configurada pelo prazer de realizar, numa

sensação de liberdade e ambiência, uma atividade sem vínculos

com a obrigação e a rotina.

Dentre os fatores, percebidos, que influenciam e estimulam a

realização do esporte-lazer dos entrevistados, pode-se

evidenciar, num primeiro plano, o desejo por sair da

obrigatoriedade e todo estresse produzido por ela. Percebe-se

também a consciência do praticante, em estar ciente, mesmo que

empiricamente, do bem-estar que a prática proporciona antes

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(saciar o desejo de praticar), durante (pelo desligamento

proporcionado) e após (por estar recarregado e pronto para

encarar a rotina) o esporte.

Na prática do esporte-lazer a verdadeira vitória está relacionada

com o ser permitido realizar e a auto-superação. As autonomias

de seus atos atingem o que se pretende do Bem-estar Social.

A formação escolar percorre caminhos visando criar um suporte

que atenda ao trabalhador, o futuro profissional, o que é análogo

ao mundo das obrigações. Só se prepara para as obrigações, não

se prepara para a descontração, para o não performático.

As idéias de lazer de Domenico Demasi (2000) receberam

contemplações, mas não aplicabilidade. Parece que o mundo do

capitalismo selvagem realmente deu lugar ao capitalismo

ilimitado, conforme apontou Bourdieu (1997), obrigando a

população estar sempre num “correr atrás”, e desta forma

ficando para trás. Não se ensina o “correr ao lado”, ou se prepara

para a ultrapassagem. Para se realizar novas descobertas,

devesse agir com criatividade, uma criatividade com liberdade

de ação, e isso só parece possível nos momentos da não-

obrigatoriedade.

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Quanto ao bem-estar social percebido pelo praticante, denotado

em seu discurso, observa-se a reverencia ao prazer e a liberdade,

entretanto foi apontado com relevância o exercício a

convivência, seja pelo prazer de conhecer novas pessoas, seja

por tolerar as individualidades pessoais, ou ainda, por criar um

ciclo de amizade que buscam transferir os momentos prazerosos

da prática esportiva para diversos outros lugares onde marcam

para estarem juntos.

Assim, a convivência fica referendada como o bem-estar mais

explícito na percepção dos praticantes entrevistados.

Com base no estudo realizado e concluído, é possível inferir que

a dimensão social do esporte, compreendida como esporte-lazer,

configura um representante importante ao propiciar um bem-

estar social que liberta, desprende, ou ainda, desperta um

conviver agradável (que poderia fazer parte de todas as horas do

dia), à vida que hodiernamente na sociedade exige tanto das

condições físicas e mentais.

Cada vez mais os hábitos da sociedade contemporânea

apresentam-se através de realizações frenéticas. Uma correria

desenfreada atinge o cotidiano, dando a vida uma volumosa

quantidade de informações simultâneas e imediatas. E nesta

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simultaneidade questiona-se o que é obrigatoriedade e o que é

opcionalidade. Assim, acredita-se, que uma das maneiras para

equilibrar essas tendências seria a utilização do esporte-lazer

como supressor das carências que lacunam a felicidade no

decorrer da vivencia do Ser humano.

Dois fatores parecem ter contribuído com o advento do bem-

estar social através do esporte-lazer em espaços públicos ao ar

livre: Os esclarecimentos a cerca dos benefícios desta prática

(via profissionais da área da saúde – qualidade de vida) e a

aplicação em grande escala da iluminação pública (Orla

Marítima principalmente).

Por tudo que foi observado no decorrer das etapas da pesquisa

de campo – as fisionomias em estado de serenidade (pós-

atividade), as poucas contrações da musculatura facial (durante a

atividade), que quando ocorriam era em função de um sorriso; as

admirações e o desejo de “aproveitar mais um pouco” aquele

momento – permitem dizer que a realização do esporte-lazer é

sempre uma realização de ambiência propiciando um bem-estar

social.

Repensar o bem-estar social é retornar a história das primeiras

civilizações e perceber a trajetória favorecida pelo social. Em

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todas as centenas de séculos que se passaram, desde a idade da

pedra, estudada pelos paleontólogos, o Homem não mudou em

grande parte a sua anatomia e sua fisiologia, a enorme diferença

que existe é obra da civilização, isto é, da cultura gradualmente

acumulada e transmitida pela tradição social, onde se percebe

que o esporte-lazer realiza suas contribuições.

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