Esporte, Poder e Relações In · PDF file Capa: Sylvio Pinto - Futebol 61 x 76 cm...
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Esporte, Poder e Relações Internacionais
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MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
Ministro de Estado Embaixador Celso Amorim Secretário-Geral Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO
Presidente Embaixador Jeronimo Moscardo
Instituto Rio Branco (IRBr)
Diretor Embaixador Fernando Guimarães Reis
A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira.
Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo, Sala 1 70170-900 Brasília, DF Telefones: (61) 3411-6033/6034/6847 Fax: (61) 3411-9125 Site: www.funag.gov.br
Brasília, 2008
Douglas Wanderley de Vasconcellos
Esporte, Poder e Relações Internacionais
Direitos de publicação reservados à
Fundação Alexandre de Gusmão Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo 70170-900 Brasília – DF Telefones: (61) 3411 6033/6034/6847/6028 Fax: (61) 3411 9125 Site: www.funag.gov.br E-mail: [email protected]
Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei n° 10.994, de 14/12/2004.
Equipe Técnica
Coordenação: Maria Marta Cezar Lopes e Lílian Silva Rodrigues
Programação Visual e Diagramação: Cláudia Capella e Paulo Pedersolli
Originalmente apresentado como tese do autor no XLVIII CAE, Instituto Rio Branco, 2005.
Capa: Sylvio Pinto - Futebol 61 x 76 cm - OST - Ass. CIE
Impresso no Brasil 2008
Vasconcellos, Douglas Wanderley de. Esporte, poder e relações internacionais / Douglas Wanderley de Vasconcellos.
– Brasília : Fundação Alexandre de Gusmão, 2008.
332p.
ISBN: 978-85-7631-119-5
Tese apresentada originalmente no XLVIII CAE (Centro de Altos Estudos) do Instituto Rio Branco, do Itamaraty, em 2005.
1. Esporte. 2. Relações internacionais. I. Título. CDU: 327:796
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
CAPÍTULO 1 RELEVÂNCIA CONCEITUAL E USO DO ESPORTE COMO FATOR CULTURAL, FUNÇÃO SOCIAL, (IN) GERÊNCIA ESTATAL E PROMOÇÃO INTERNACIONAL ................................................... 31
CAPÍTULO 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JOGOS OLÍMPICOS MODERNOS ................................................. 67
CAPÍTULO 3 EVENTOS E MANIFESTAÇÕES ESPORTIVAS, PROPAGANDA ESTATAL E INSTRUMENTALIZAÇÃO POLÍTICA DO ESPORTE ......................................................................................... 89
CAPÍTULO 4 ESPORTE E POLÍTICA INTERNACIONAL. CASOS CLÁSSICOS DE NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS EM ASSUNTOS ESPORTIVOS ................................................................................. 119
CAPÍTULO 5 POLÍTICA E PAPEL POLÍTICO DOS ORGANISMOS (ESPORTIVOS) INTERNACIONAIS. UTILIDADE PARA O BRASIL ................................................................................... 155
CAPÍTULO 6 VARIANTES DE NEGÓCIOS E VALORES DA INDÚSTRIA TRANSNACIONAL DO ESPORTE .................. 199
CAPÍTULO 7 O BRASIL, O ESPORTE E SUA (SUB) UTILIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO E POLÍTICA EXTERNA ......................................................................................... 225
CAPÍTULO 8 CONCLUSÕES ................................................................................................. 257
SUMÁRIO
ANEXOS ANEXO I – INSTRUMENTOS LEGAIS E DE POLÍTICAS EM APOIO AO ESPORTE NO ÂMBITO DO SISTEMA DAS NAÇÕES UNIDAS ......................................................................... 295
ANEXO II – RESOLUÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE “ESPORTE PARA A PAZ E O DESENVOLVIMENTO”, O “ANO INTERNACIONAL DO ESPORTE E DA EDUCAÇÃO FÍSICA” E “CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR E MAIS PACÍFICO ATRAVÉS DO ESPORTE E DO IDEAL OLÍMPICO” .............................. 301
NOTAS ...................................................................................................... 305
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 321
INTRODUÇÃO
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O universo de tópicos de política internacional abrange os assuntos mais tradicionais e típicos das disputas territoriais, lutas independentistas, afirmação de nacionalidades e movimentos insurretos, rivalidades ideológicas, guerra e paz, tratados, convenções e, notoriamente, a prática das representações e negociações diplomáticas. A constelação, ademais, envolve várias outras questões que motivam e mobilizam os atores internacionais, tais como os chamados novos temas, por exemplo, do meio-ambiente e bio-diversidade, desenvolvimento sustentável e transferência de tecnologias sensíveis, propriedade intelectual, corporações transnacionais, lemas e legitimidade das organizações não-governamentais. O macrocosmo da agenda internacional relaciona também, desde época prévia ao aparecimento desses novos temas, a questão momentosa do esporte, que serviu de móvel, mote e meio de propagandas nacionalistas, de teatro de peças políticas, de palanque de discursos populistas e de plataforma de pretendido domínio ideológico. No lado genuíno e positivo, o esporteserve de instrumento e cenário de sã divulgação institucional dos países, de percuciente formação de imagem externa, de pacificação e congraçamento mundial.
Grandes eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos, tanto podem significar a superação de limites atléticos e técnicos, recordes esportivos e a comunhão da humanidade, como representar a afirmação do poder do Estado, a competição entre nações, raças e ideologias. A confluência e o conflito de interesses no terreno dos jogos incluem
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também a mercantilização do esporte, seu aspecto condicionante mais recente e talvez mais intrusivo.
A intrincada teia de desígnios políticos e interesses esportivos pode ser dimensionada por correntes acontecimentos mundiais. As Olimpíadas de 1992 na Espanha, por exemplo,recepcionaram quase 10 mil atletas, representando 170 países e competindo em 30 esportes. O montante de US$ 10 bilhões investido em instalações esportivas e obras de infra-estrutura urbana e viária aquilatava a magnitude dos Jogos Olímpicos de Barcelona e sua importância para o poder público espanhol. A inauguração daquelas Olimpíadas pelomonarca Juan Carlos, no Estádio Montjuic, na Catalunha, pôde ocorrer depois de superado um problema de representação internacional. Permanecera pendente até a véspera a fórmula de conciliar a apresentação das novas nações surgidas no Leste Europeu no ano anterior. A questão protocolar era saber como desfilar as bandeiras e executar o hinário da Rússia, da Estônia, da Letônia e da Lituânia, àquela altura desmembradas da União Soviética. A solução foi emprestar o pavilhão e o hino do Comitê Olímpico Internacional para cada Delegação desgarrada, expediente também válido para croatas, eslovenos e macedônios da antiga Iugoslávia. A nova CEI–Comunidade dos Estados Independentes, que abrangia a Rússia e outros 12 Estados, como Armênia, Geórgia, Cazaquistão e Ucrânia, competiria com a denominação de Equipe Unificada e as Alemanhas, derrubado o muro de separação física e ideológica, voltaram a participar como um único país. Os impasses políticos, então confinados à arena olímpica, puderam ser vertidos na competição e na consagração, encenadas no terreno esportivo.
Casos de paralelismos e entrelaçamentos político-esportivos são reportados em profusão. A mesma Catalunha, por seu ufanismo étnico e relativo status de autonomia regional, consegue obter do Estado espanhol autorização para realizar uma única apresentação por ano de seu time de futebol, como nos jogos amistosos realizados em 2002 e 2004 com a Seleção brasileira, como medida de centralismo político para arrefecer potenciais manifestações públicas de afirmação
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separatista. Na Turquia, o governo estimulava o acesso à Primeira Divisão de Futebol de equipes representantes de regiões ocupadas majoritariamente por populações de origem curda, em esforçada tentativa de demonstrar assimilação étnica e integração nacional. A FIFA–Federação Internacional de Futebol Associado, que reunia 204 membros com a admissão de Butão no ano 2000, já superando portanto a filiação de 191 países membros da ONU – Organização das Nações Unidas, acomoda, com tato diplomático, Israel nos grupos europeus e acolhe em chave asiática representação autônoma da Palestina, de jogadores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, nas Eliminatórias da Copa do Mundo. O Comitê Olímpico Internacional baniu o Afeganistão dos Jogos Olímpicos de Sydney no ano 2000, em represália ao regime talibã, que, entre outras transgressões aos princípios do olimpismo, proibia a participação social das mulheres, inclusive no plano educacional e esportivo.