Esposa Perdida - Harlequin Paix - Maggie Cox.pdf

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  • Era bom saber que eleainda conseguia reacendera paixo em sua ex-esposa!Ailsa sentiu o corao batendo forte. Almde despreparada para reencontrar JakeLarsen, olhar o rosto inesquecvel de seuex-marido seria difcil e impactante. Acicatriz que agora marcava a face deleparecia acentuar sua beleza. Por outrolado, tambm lembrava o motivo que osseparou. Jake achava que o dolorosoreencontro seria rpido, mas uma nevascaatrapalhou seus planos. A cada minuto aolado de Ailsa, Jake ficava mais decidido a

  • t-la de novo em seus braos e em suacama.

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  • Ele sentiu o msculo do queixolatejar, ao lado da cicatriz.

    Eu sou apenas humano e as minhasnecessidades no diferem das deningum.

    Ailsa levou algum tempo paraconseguir falar porque estava tentandosuperar a onda de mgoa causada pelaideia de que outra mulher pudesse estarsuprindo as necessidades sexuais deJake. Afinal, eles estavam divorciadosh quatro anos e aquela possibilidade jlhe ocorrera. Na maioria das vezes,tentara ignorar, mas conhecia bem asnecessidades do marido naquele

  • departamento. Jake sempre fora umamante incrvel. Aquela parte docasamento ultrapassara todos os seussonhos de amor e de paixo.

    E quanto s minhas necessidades? perguntou ela, tentando manter a vozfirme. Eu tenho a mesma liberdadeque voc tem, Jake? Ou voc acha queeu no tenho mais necessidades, j queo acidente me tornou incapaz deengravidar? Talvez voc pense que issome tornou menos mulher?

  • Querida leitora,

    Amargurados desde um trgicoacidente, Jake e Ailsa construram umaparede de frieza ao redor de seuscoraes. A dor que carregavam acabouafastando-os e destruindo o casamentoperfeito que tinham. Mas, durante umanevasca, o destino dar uma segundachance para esse amor. E caber aocasal derreter essa barreira de gelo parase entregar de corpo e alma.

    Boa leitura!Equipe Editorial Harlequin Books

  • Maggie Cox

    ESPOSA PERDIDA

    TraduoMaria Vianna

    2014

  • CAPTULO 1

    AO OUVIR o rudo abafado do carroque se aproximava, Ailsa correu at ajanela e viu o SUV do ex-marido parardiante do chal. O carro estava cobertopor diversas camadas de neve, e osflocos cristalinos no paravam de cairdo cu como se fossem espalhados poralguma peneira divina.

    O belo espetculo durara o diainteiro. Ailsa teria sucumbido sua

  • magia se no estivesse to preocupadacom a segurana da filha, que Jakedeveria mandar de volta para casa.Morar em uma zona rural idlica daInglaterra tinha suas vantagens, mas,quando o inverno castigava as estradas,elas se tornavam traioeiras.

    Ela abriu a porta e esperou que omotorista percorresse o caminhocoberto de neve que levava sua casa.

    Geralmente, era Alain, o motoristafrancs magrinho e uniformizado,quem trazia Saskia de volta de Londres,depois das visitas quinzenais que elafazia ao pai, ou do aeroporto, quandoela voltava de Copenhagen, onde Jakemorava. Mas, quando Ailsa viu os

  • brilhantes olhos azuis que a fitavamatravs dos flocos de neve, sentiu ocorao fraquejar.

    Ol disse ele.H muito tempo ela no via o ex-

    marido pessoalmente, e sentiu o mesmoimpacto que sempre sentia ao ver ostraos inesquecveis do seu rosto. Jakesempre tivera o tipo de aparncia queatraa as mulheres. A cruel cicatriz queagora lhe descia pelo queixo tornava-oainda mais memorvel. Ao ver a marca,o corao de Ailsa se contraiu e ela serecordou, com tristeza, de como foracausada, e se perdeu em lembranas atperceber que ele estava esperando queela o cumprimentasse.

  • Ol... H quanto tempo, Jake. Elapensou que ele deveria ter lhe avisadoque haveria uma mudana de planos. Onde est Saskia?

    Tentei lhe telefonar o dia inteiro,mas no havia sinal! No entendo porque voc resolveu morar no meio donada.

    Ignorando a irritao na voz dele,Ailsa jogou o cabelo para trs e cruzouos braos. S de ficar parada debaixo dotelhado em cima da porta, sentia-secongelar.

    Aconteceu alguma coisa? Por queSaskia no veio com voc? Ela olhoupor cima do ombro dele, esperando vero lindo rostinho da filha atrs do vidro

  • da janela do carro. Quando percebeuque o carro estava vazio, sentiu aspernas fraquejarem.

    Foi por isso que eu tentei lhetelefonar. Ela quis ficar mais tempo coma av, em Copenhagen. Implorou paraque eu a deixasse ficar l at a vsperade Natal. Eu deixei. Como ela achouque voc ficaria muito preocupada, euvim at aqui para lhe dar a notcia. Eusabia que o tempo no estaria bom, masno pensei que estivesse to terrvel.

    Ele passou a mo no cabelo louro esacudiu a neve, mas o gesto era intil,porque os flocos continuavam a cair.Ailsa no sabia o que dizer. Sentia-seextremamente desapontada ao pensar

  • nos preparativos para o dia de Natal,que ela e Saskia fariam juntas.

    Iriam at Londres para fazercompras, se hospedariam em um bomhotel, iriam ao teatro e sairiam parajantar fora. O pinheiro que elaencomendara chegara no dia anterior eestava na sala de estar, esperando paraser decorado e enfeitado com luzinhascoloridas que o transformariam nosmbolo da poca de celebrao. Me efilha iriam enfeit-lo juntas, ouvindocanes natalinas. Era inconcebvel quea sua querida filha ficasse longe de casaat a vspera de Natal.

    Para Ailsa, aqueles dias serviriamapenas para lembr-la do quanto se

  • sentia sozinha sem a famlia com queantes contara... Jake e Saskia... Passar asemana anterior sem Saskia j forainsuportvel!

    Como pde fazer isso comigo?Voc e sua me j tinham passado umasemana com ela! Eu esperava que voca trouxesse de volta hoje.

    Ele sacudiu os ombros largos cobertospelo elegante casaco preto, agorasalpicado de neve.

    Voc negaria nossa filha a chancede passar algum tempo com a av,depois da perda recente do meu pai?Saskia consegue anim-la comoningum mais.

    Conhecendo o temperamento

  • Conhecendo o temperamentocarinhoso da filha, Ailsa no duvidavadisso, mas tal fato no tornava aausncia de Saskia mais fcil de tolerar.Alm da prpria frustrao, Ailsa sentiao corao se apertar ao pensar na mortedo pai de Jake. Jacob Larsen era umafigura imponente e um tantointimidadora, mas sempre a tratara commuito respeito. Quando Saskia nascera,ele no contivera a sua admirao eproclamara que sua neta era o bebmais lindo do mundo. Jake deveriaestar sofrendo com a sua perda. Orelacionamento dos dois nem semprefora fcil, mas ela sabia que ele amava opai.

  • A neve que caa estava setransformando rapidamente em umatempestade e acentuava a tristeza e odesgosto de Ailsa.

    Sinto muito pela perda do seu pai...Ele era um bom homem. Mas eu jsuportei a ausncia de Saskia por muitotempo. Voc capaz de entender porque eu a queria aqui antes do Natal? Eutinha feito planos...

    Sinto muito, mas, quer gostemos ouno, os planos sempre esto sujeitos amudanas. O fato que nossa filha estem segurana com a minha me, emCopenhagen. No precisa se preocupar. Jake inspirou profundamente e soltouum suspiro. A caminho daqui havia

  • um bloqueio policial, alertando osmotoristas para no prosseguirem a noser que fosse absolutamente necessrio.S me deixaram passar porque eu dissea eles que voc ficaria louca se notivesse notcias de Saskia. Mal conseguichegar aqui. Eu seria maluco se tentassevoltar ao aeroporto nessas condies.

    Como se despertasse de um sonho,Ailsa reparou que ele parecia estarcongelando. Mais alguns minutos, eseus lbios sensuais estariamarroxeados. Por mais difcil que fossepensar em passar algum tempo com oex-marido, s lhe restava convid-lopara entrar, oferecer-lhe uma bebidaquente e uma cama para passar a noite.

  • Ento, melhor voc entrar. Obrigado por fazer com que eu me

    sinta to bem-vindo respondeu elecom ironia.

    O comentrio spero atingiu-aprofundamente. O divrcio no foraexatamente hostil e acontecera menosde um ano depois do terrvel acidentede carro que lhes roubara o todesejado segundo filho, mas tambmno fora amigvel. Os dois tinhamtrocado palavras amargas e corrosivas,ferindo-se mutuamente. Ainda agora,quando ela pensava naquele momentoterrvel e em como o casamento sedesmanchara, tudo lhe parecianebuloso, porque estivera paralisada de

  • dor e de tristeza... Isolada dentro daprpria concha.

    Ela passara quatro anos longos edifceis sem Jake. Quando sesepararam, Saskia tinha apenas 5 anos.Quase todas as noites, relembrava apergunta que a filha lhe fizera e queainda a perseguia em sonhos,impedindo-a de dormir:

    Por que o papai foi embora,mame?

    Eu no pretendia ser grosseira. Ailsa sorriu, desculpando-se. S estoudecepcionada. Entre, eu vou lhepreparar uma bebida.

    Ele passou por ela, espalhando o seuperfume. Ailsa se arrepiou, respirou

  • profundamente, controlou-se e fechoua porta.

    Jake nunca entrara no chal quedava a impresso de pertencer ao sculoXVI, mas o achou muito charmoso eacolhedor. As paredes do hall deentrada estavam cobertas de quadroscom temtica floral, de fotografias deSaskia quando beb e de algumas maisrecentes, aos 9 anos, j mostrandosinais da beleza que ela estavadesenvolvendo. Na parede ao lado daescada de carvalho, havia o relgio decarrilho cujo tiquetaquear do pndulopontuava o sossego. O sossego quesempre lhe escapava.

    O pequeno chal parecia ser muito

  • O pequeno chal parecia ser muitomais um lar que o luxuoso apartamentode cobertura em Westminster, onde eleperambulava sozinho, quando estavaem Londres, e que a elegante casa emque ele morava em Copenhagen. S acasa antiga pintada de branco de suame, nos arredores da cidade, perto deum bosque, se comparava casaacolhedora de Ailsa.

    Quando Ailsa comprara o chal, logodepois da separao, Jake ficaraseriamente aborrecido por ela no t-lodeixado comprar algo mais espaoso eelegante para ela e Saskia.

    Eu no quero nada suntuoso dissera ela, com os olhos cor de mbar

  • brilhando com impacincia. Queroalgo que seja um lar...

    A casa que haviam comprado ao secasar, em Primrose, no lhes pareciamais um lar, Jake se recordou,entristecido. No quando o amor quehaviam compartilhado fora destrudopor um acidente cruel e sem sentido...

    D-me o seu casaco.Ele fez o que ela pedia e lhe entregou

    o casaco molhado, sem conseguirdesviar o olhar dos lindos olhosbrilhantes de Ailsa. Sempre forafascinado por eles, e agora no eradiferente.

    Eu vou tirar os sapatos. Ele tirouos sapatos e deixou-os ao lado da porta.

  • J percebera que ela estava usandochinelinhos de veludo preto comlacinhos dourados.

    Vamos para a sala de estar, ondeh um aquecedor a lenha. Logo vocter se aquecido.

    Controlando suas emoes, Jake foiatrs dela. Seus dedos comichavam devontade de tocar as tranas que lhecaam pelas costas. Ele enfiou as mosnos bolsos para se conter.

    A sala de estar era um paraso decalor e de conforto, com um aquecedorde ferro no centro, a chaminatravessando o teto de carvalho, doissofs forrados de veludo vermelho commantas de l e almofadas. Um lindo

  • tapete de l vermelha cobria o piso depinho. Diante do fogo estava umapoltrona em estilo vitoriano. De cadalado do aquecedor havia estantesrepletas de livros e, em um canto,plantada em um vaso de metal, estavauma verdejante rvore de Natal,esperando ser enfeitada. Jake sentiu-seculpado.

    Sente-se. Eu vou fazer algo quentepara bebermos... Ou voc prefere umbrandy?

    Eu no bebo mais lcool. Pode serum caf... Obrigado. Ele a viu franzira testa, admirada.

    Ento, um caf. Ela saiu da sala.

    Jake sentou em um sof e, por fim,

  • Jake sentou em um sof e, por fim,respirou. Por algum tempo, ficouolhando a nevasca pela janela, masdepois comeou a imaginar a filhanaquele tapete vermelho, brincandocom suas bonecas, falando com elassem parar, deixando que a suaimaginao a levasse para um mundodiferente. Um mundo que, at que elativesse 5 anos, lhe garantira uma vidasegura e feliz e lhe proporcionaraconforto, mas que mudara radicalmentecom a separao de seus pais.

    Ele no viu que Ailsa retornara, atque ela parasse diante dele, segurandouma caneca fumegante de caf.

    Exatamente o que o mdico

  • Exatamente o que o mdicorecomendou. Ele tentou sorrir, massabia que no tinha conseguido.

    Como a sua me est enfrentandoa perda do seu pai?

    Ele observou sua linda ex-esposaatravessar a sala com um andar graciosoe fascinante, que fazia com que elaparecesse deslizar. Ailsa sempreparecera uma bailarina, e o jeans queestava usando realava suas coxas e suacintura fina, principalmente por causado cinto colocado por cima do suter.Jake ficou decepcionado ao ver que elasentava no outro sof e agarrava acaneca de ch com as duas mos, eficou abalado ao notar a falta da aliana

  • em seu dedo, mais uma prova de que ocasamento realmente terminara.

    Ele pigarreou e recorreu s defesasque construra durante aqueles quatroanos.

    Aparentemente, ela est encarandobem, mas, por dentro, diferente respondeu ele, sabendo que poderiaestar falando dele mesmo.

    Ento, talvez tenha sido melhorque Saskia ficasse com ela. Faz... o qu?Seis meses que o seu pai faleceu?

    Mais ou menos. Ele bebeu umgole de caf e queimou a lngua. SeAilsa resolvera no fazer uma cena porele ter deixado a filha com a av eestragado seus planos natalinos, no

  • seria ele quem iria discutir, mas nopodia deixar de se ressentir com o fatode que ela tocara a vida sem ele.

    E quanto a voc? perguntou elabaixinho, inclinando-se para frente comum olhar preocupado.

    Quanto a mim, o qu? Como voc est lidando com a

    morte do seu pai? Eu sou um homem ocupado, que

    administra uma empresainternacional... No tenho tempo parame preocupar com nada alm dotrabalho e de minha filha.

    Est me dizendo que no temtempo para viver o luto pelo seu pai?Isso no nada bom.

  • Algumas vezes precisamos serprticos. Jake se empertigou, colocoua caneca sobre uma mesa e apoiou asmos nos joelhos. Ailsa sempre queriachegar ao fundo das coisas e nomudara. Mas ele no pretendia maislhe expor seus sentimentos... J passarapor isso e tinha as feridas no coraopara provar.

    Eu me lembro de que vocs tinhamsuas diferenas. S pensei que a mortedele seria uma oportunidade para vocretomar as coisas boas dorelacionamento que tinham.

    Como eu disse... Tenho estadomuito ocupado. Ele se foi. triste, masuma das coisas que ele me ensinou foi a

  • no me deixar levar pelas emoes eseguir em frente. Isso me ajudou a lidarcom as agruras da vida, muito mais queficar me lamentado. Se voc noconcorda com essa estratgia, sintomuito, mas assim.

    A irritao de Jake aumentou.Intimamente, ele desprezava aquelaatitude. Deixando de lado a morte dopai e o arrependimento por no teremse comunicado mais saudavelmente, eleprecisava se lembrar de que no fora onico, no seu casamento, a descer at oinferno e voltar. Naqueles quatro anosdepois do divrcio, Ailsa claramenteemagrecera e algumas rugas tinham seformado em torno da sua boca. Talvez

  • ela no estivesse indo to bem. Eleansiava por saber como ela realmenteestava. Saskia lhe dissera que a metrabalhava demais na sua empresa deartesanato. s vezes, at durante os finsde semana. Ela no precisava trabalhar.O acordo de divrcio que ele fizera forasubstancial, como ele queria.

    Por que voc trabalha tanto? perguntou ele de repente. Saskia medisse que voc trabalha dia e noitenessas coisas de decorao.

    Coisas de decorao? Ela ficouofendida. Eu trabalho em um negciolocal prspero que adoro e que memantm ocupada quando no estoucuidando de Saskia ou levando-a

  • escola. O que voc esperava que eufizesse quando nos separamos? Queficasse sentada, chupando o dedo? Ouque eu gastasse o dinheiro que recebicom o divrcio comprando roupas, umcarro esporte, redecorando a casaconstantemente?

    Cansado, Jake coou o queixo e seempertigou. Quando conhecera e secasara com Ailsa, nunca a imaginaracomo uma futura mulher de negcios.

    bom saber que o seu negcio estindo bem. Quanto ao dinheiro dodivrcio, voc pode fazer o que quisercom ele, desde que cuide bem deSaskia... s isso que me importa. Eureparei que voc parece cansada e que

  • perdeu peso... Foi por isso queperguntei. No quero que voc seconsuma sem necessidade.

    Eu no estou me consumindo.Pareo cansada porque no costumodormir muito bem. Creio que umaconsequncia do acidente... Eu tentocompensar, descansando sempre quepossvel.

    Jake se sentiu como se tivessem lhedado um forte soco no peito e demoroualgum tempo para conseguir falar.

    H anos, eu lhe disse paraconsultar um mdico que a ajudasse adormir melhor. Por que voc noconsultou?

    Ela sacudiu a cabea e seu cabelo

  • Ela sacudiu a cabea e seu cabelocaiu ao lado do rosto.

    Eu j me cansei dos mdicos e nopretendo procurar mais nenhum. Almdisso... Eu no quero tomar remdiosque me deixem andando por a comoum zumbi. A no ser que a medicinatenha encontrado um meio infalvel deapagar as lembranas dolorosas que nome deixam dormir, eu preciso meacostumar. No isso que voc tambmfaz?

    Santo Deus! Jake levantou. Comopoderia suportar a dor que ouvia na vozdela? A dor pela qual ele se culpava?

    Sim, eles tinham sido atingidos porum motorista bbado, naquela noite

  • chuvosa em que o mundo dos doisacabara, mas ele deveria ter feitoalguma coisa para evitar o acidente.Algumas noites, durante um sonoagitado, ele ainda ouvia os gemidostorturantes de dor da esposa, dentro docarro, ao lado dele... Durante acerimnia de casamento, ele prometeraam-la e proteg-la, mas no o fizeranaquela terrvel noite de dezembro.Agradecera a Deus por Saskia ter ficadocom seus pais e no estar no carro. Nosuportava pensar que sua filha poderiater ficado to seriamente ferida quantoa me.

    Jake pensou que deveria sermasoquista. Por que fora pessoalmente

  • dizer a Ailsa que Saskia prolongaria avisita av? Poderia ter mandado omotorista. No fora isso que fizeradurante quatro anos, para no precisarencarar a mulher que amara muitoalm do imaginvel? Aquela no fora asoluo que ele encontrara para no serobrigado a discutir os profundosproblemas que os haviam separado atmais que o acidente?

    Jake passou a mo no cabelo esuspirou. Ficaria ali porque estava presopor causa da nevasca. Assim que asestradas voltassem a ser transitveis, eleiria at o aeroporto e voltaria paraCopenhagen. Depois de passar doispreciosos dias com sua filha e sua me,

  • voltaria aos imponentes escritrios daLarsen and Son ConstruesInternacionais e retomaria o trabalho.

    Eu tenho uma mala de mo nocarro. Trouxe-a como precauo. Voubusc-la. Quando ele chegou porta,voltou-se e deu uma olhada para amulher frgil e silenciosa sentada nosof. No se preocupe. No pretendoprolongar a minha estada. Assim que asestradas estiverem livres, eu vouembora.

    Por mais que mordesse o lbio, Ailsano conseguiu impedir que seus olhosse enchessem de lgrimas.

    Por qu? murmurou ela,desesperada. Por que vir aqui agora e

  • revolver tudo de novo? Eu estou indobem sem voc... Estou!

    Frustrada pela dor que recrudesciatoda vez que mencionavam Jake ou oacidente, e muito mais por ele estarperto, ela afastou as lembranas e subiupara arrumar a cama do quarto dehspedes. No caminho, Ailsa abriu aporta e deu uma olhada no quarto deSaskia. As paredes cor-de-rosa cheias decartazes de bonecas, de personagens deprogramas infantis e de fotos do maisrecente dolo adolescente do cinemafizeram com que ela sacudisse a cabea,mal acreditando que a filha estivessecrescendo to rapidamente. As coisas

  • seriam mais fceis se Saskia tivesse osdois pais cuidando dela?

    Ela se perguntou se estaria sendouma boa me ou se involuntariamenteestaria decepcionando Saskia. Teriacometido um erro ao insistir emtrabalhar? Ao querer se firmar sozinhae no ser dependente do ex-marido?Ao pensar em Jake, ela se perguntou seno teria sido profundamente egostaao afast-lo emocional e fisicamente,levando-o a pedir o divrcio. Deveriater conversado mais com ele naquelapoca, mas o relacionamento dos doisdeteriorara tanto que eles mal seolhavam, ela pensou com tristeza.

    Ela ouviu a porta de entrada se

  • Ela ouviu a porta de entrada sefechando e correu para o quarto dehspedes. A bela cama de casal com aantiga cabeceira de ferro estava cobertacom amostras de tric e outros artigosde artesanato. Sabendo que no teriatempo de levar seu material para oateli que mandara construir no jardim,ela juntou tudo e colocou em cima deuma escrivaninha.

    Enquanto desdobrava os lenis quepegara no armrio, Ailsa reparou quesuas mos tremiam. Fazia muito tempoque ela e o ex-marido no dormiam sobo mesmo teto. No passado, tinham sidoto unidos que nada parecia podersepar-los. Ela costumava dormir nos

  • braos de Jake, depois de fazeremamor, e acordar na mesma posio...Ailsa sentiu o corao arder de dor e desaudade pelo que tinham perdido. Aslembranas que a presena de Jakedespertara eram to intensas queameaavam afog-la.

    Tudo bem disse a si mesma. apenas por uma noite. Amanh, ele vaiembora.

    Mas, quando ela olhou pela janela eviu a cascata de flocos brancos caindopesadamente, ficou angustiada. Poderiaestar enganada...

    JAKE SUBIRA para tomar um banho e setrocar. Ailsa foi para a cozinha,

  • pensando no que iria fazer para ojantar. Planejara fazer umamacarronada para ela e Saskia, masimaginava que isso no seria suficientepara satisfazer o apetite de um homemforte como Jake. Ele apreciava as boascoisas da vida, gostava de comer bem etambm era um bom cozinheiro. S depensar em cozinhar para ele, ela ficavanervosa porque nunca fora um exemplode mulher domstica. Quando estavamcasados, Jake se submetera s suasexperincias culinrias com bomhumor, apesar de sempre acabarsugerindo que sassem para jantar emum de seus restaurantes preferidos.Muitas vezes, ele insistira para que

  • contratassem uma cozinheira, mas elaargumentara que gostava de cozinharpara a famlia porque, no fundo, se nofizesse isso, se acharia um fracasso.Como crescera em um orfanato, erainevitvel que ela sempre tivesseansiado por ter sua prpria famlia.

    Um bloco de neve rolou do telhado ebateu no solo com um barulho surdo,despertando Ailsa do seu devaneio. Elapegou o telefone da cozinha, mas eleno dava sinal. Evidentemente, aslinhas estavam interrompidas. Estavaansiosa para ouvir a voz doce de Saskia.Sabendo como Tilda Larsen eracarinhosa, ela no tinha dvida de que

  • a filha estaria bem na casa da av, masdesejava ouvir isso pessoalmente.

    Mordendo o lbio, Ailsa vestiu oavental e ligou o forno. Lavou duasgrandes batatas, furou as cascas comum garfo e colocou-as para assar.Depois, tirou um pouco de carne modada geladeira, cebolas e alho, e pegouuma tbua. Juntaria o molho quepreparara queles ingredientes, em umafrigideira, acrescentaria uma lata defeijo e faria um chili. Pelo menos, erauma receita que conhecia bem e haveriamenos chance de resultar em desastre.

    Voc parece estar ocupada.Sobressaltada, Ailsa se virou e se

    sentiu envolvida pelo mar azul

  • cintilante do olhar de Jake. Eu... Eu s estou preparando o

    jantar. No se incomode por minha causa. No incmodo. Ns dois

    precisamos comer, no ?Jake deu uma olhada nos

    ingredientes sobre a bancada e deu deombros.

    Precisa de ajuda? No, obrigada. Ela voltou ao

    trabalho e pegou a faca para picar ascebolas, mas suas mos tremiamquando ela se lembrava da imagem deJake vestindo um suter cor de vinho euma cala preta, com os cabelos aindamidos. Eu sei que, quando ramos

  • casados, eu no cozinhava muito bem,mas com o tempo eu fui melhorando eposso at surpreend-lo.

    Ele soltou um suspiro, e ela ficounervosa.

    Por que voc achava que nocozinhava bem?

    Toda vez que eu ia cozinhar, vocsugeria que fssemos a um restaurante.Isso no era um sinal?

    Jake no disse nada. Aproximou-se,tirou gentilmente a faca da mo dela ecolocou-a sobre a tbua. Pegou no rostodela e fez com que ela o fitasse.

    Eu no me lembro de alguma vezter sugerido que fssemos jantar foradepois de voc ter passado horas na

  • cozinha. Eu sugeria que jantssemosfora para lhe dar um descanso. Quandoestvamos juntos, voc fez algumasreceitas muito saborosas, Ailsa. Deve terfeito, porque eu ainda estou aqui...Certo?

    Qual seria o ingrediente especial queele usava para fazer com que o seusorriso fosse to fascinante? Seriam oslmpidos e penetrantes olhos azuis?Ailsa sentiu o corao acelerar e perdeuo flego...

  • CAPTULO 2

    JAKE ESTAVA aborrecido por Ailsa teralimentado a crena de que ele achavaa sua comida intragvel. Sim, algumasvezes ele achara graa do seu esforopara fazer algo que dera errado. Masesperava tambm ter demonstrado oseu agrado. Se ele pudesse voltar aotempo em que estavam juntos, antesdos terrveis eventos que os haviam

  • separado, comeria coisas queimadas debom grado.

    Enquanto ele observava o olharpensativo de Ailsa, uma ondaeletrizante vibrou entre os dois.

    Sim, voc ainda est aqui disseela, com um sorriso reticente.

    Cheio de cicatrizes, mas ainda vivoe batalhando brincou ele.

    O sorriso de Ailsa se apagou, assimcomo o seu olhar.

    No brinque com isso falou elaasperamente, mas amenizou o tom. Acicatriz ainda o incomoda?

    Com o corao pesado, comoacontecia toda vez que a cicatriz eramencionada, Jake se fechou.

  • Voc est perguntando se eu mepreocupo que ela tenha estragado aminha boa aparncia? perguntou elecom ironia, afastando-se e colocando asmos nos bolsos. Mas logo voltou, antesque ela pudesse fazer algumcomentrio. Eu a tenho h mais decinco anos. J me acostumei com ela.Acho que ela me d um ar de pirata,voc no acha? Pelo menos, isso queas mulheres me dizem.

    Mulheres? Estamos divorciados h quatro

    anos, Ailsa. Voc pensou que eu metornaria celibatrio?

    No faa isso! Fazer o qu?

  • No seja cruel. Eu no mereo.Quando perguntei se a cicatriz oincomodava, eu queria saber se elaainda doa.

    A nica dor que ela me causa quando eu me lembro do que aprovocou... E do que ns perdemosnaquele dia.

    Ela ficou calada, mas Jake viu aangstia nos seus olhos.

    Bem... disse ela, depois de algumtempo. melhor eu continuar, ou nsno vamos jantar hoje. Claramenteabalada com a confisso que ele fizera,Ailsa recomeou a cortar as cebolas. Por que voc no vai para a sala erelaxa?

  • Talvez eu faa isso murmurouele, saindo da cozinha, feliz por ter achance de controlar seus sentimentos eno dizer mais nada que a magoasse.

    A SALA de jantar tinha paredes deterracota, vigas aparentes no teto e pisode carvalho. No centro da pesada mesahavia velas brancas e vermelhas devrios tamanhos, cujas chamas davamum ar acolhedor ao ambiente, uma vezque o dia escurecera. Atravs dos vidrosda janela se via a neve que continuava acair. No passado, quando aindaestavam casados e se amavam, Jaketeria considerado aquela atmosferamuito ntima. Mas, agora, algo lhe dizia

  • que sua ex-mulher no pretenderacausar aquela estranha impresso depropsito. Ailsa sempre acendera velasno jantar em qualquer estao porqueadorava o formato das chamas.

    Uma vez, ela lhe dissera que oorfanato onde crescera era totalmentedestitudo de beleza e que ansiava porver coisas belas. Jake afastourapidamente a lembrana dolorosa, masno antes de se censurar por no t-laencorajado a falar mais sobre a suainfncia.

    Ele puxou uma cadeira, sentou erelaxou, enquanto Ailsa ia pegar acomida. Quando ela voltou, eleobservou atentamente o prato que ela

  • colocava na sua frente e notou que elase esmerara para lhe dar um arapetitoso. No percebera que estavafaminto at sentir o aroma do chili, eprovou-o com gosto.

    Vamos, coma... No espere pormim. O que voc achou?

    Jake percebeu que ela estava ansiosa,ficou comovido e limpou a boca com oguardanapo para disfarar. Sentada dooutro lado da mesa, com os longoscabelos acobreados pela luz das velas,ela estava extremamente encantadora.Ele sentiu uma pontada de excitao.

    Est delicioso. Voc no tem ideiade como isso caiu bem depois de umlongo dia de viagem.

  • Ento, que bom. Voc preferebeber gua ou suco? Ela estava prontapara pegar uma das jarras colocadassobre um descanso de rfia.

    gua, por favor... Obrigado.Eles pareciam ter feito um acordo

    implcito de no se falarem durante arefeio, mas, assim que ele acabou decomer, Ailsa respirou fundo einterrompeu o silncio.

    Estava nevando em Copenhagen? Nos ltimos dias tivemos algumas

    nevascas, mas nada que se compare sdaqui.

    Ento, Saskia deve estar contente.Ela adora neve e estava rezando paranevar no Natal.

  • Jake se recostou na cadeira e lhelanou um olhar constrangido.

    Sinto muito por no t-la trazidopara casa.

    Ailsa garantiu que estava tudo bem,mas, no fundo do seu olhar cor dembar, ele via a decepo e, talvez, umpouco de raiva. Jake suspirou paraaliviar a tenso que comeava a seformar dentro dele.

    Eu sei que voc no quer saber,mas eu tinha feito vrios planos para oNatal. Eu pedi aos meus fregueses quefizessem seus pedidos comantecedncia, porque eu iria tirar umasemana de folga antes do Natal paraficar com a minha filha. Sinto muito se

  • a sua me perdeu o seu pai, Jake, masela no a nica que est lamentando amorte de algum. Ela estava seesforando para controlar as emoes,mas seus olhos estavam cheios delgrimas.

    Lamentando a morte de algum? repetiu ele, sem entender.

    Voc esqueceu que dia hoje? Com um olhar corajoso, ela crispou osdedos em torno do guardanapo brancoque jogara ao lado do prato. oaniversrio da morte do nosso beb...Do dia do acidente. Era por isso que euprecisava que Saskia estivesse em casa.Se ela estivesse aqui, eu lhe daria toda a

  • minha ateno e no pensaria tantonisso.

    Pela segunda vez depois de tantotempo sem ver Ailsa, Jake sentia faltade ar. E ento uma avalanche desentimentos o atingiu impiedosamente,fazendo com que ele sentisse vontadede sair da prpria pele. Comeou asentir claustrofobia, como se tivesse sidojogado em uma cela escura sem janelas.

    Eu nunca me dei conta desta data admitiu ele, sentindo a gargantaqueimar. Provavelmente, porque euno preciso de uma data para melembrar do que perdemos naquele dia! Ele se levantou, foi at a janela eolhou a neve que caa incessantemente.

  • Escutou vagamente o barulho dacadeira de Ailsa sendo arrastada.

    Ns no falamos sobre o queaconteceu h anos... No, desde odivrcio disse ela calmamente.

    E voc acha que agora hora? Elese virou, sentindo-se como uma panelade presso prestes a explodir. Ailsaestava diante dele, com os braoscruzados e uma expresso resoluta. Masele podia facilmente ver que seus lbiostremiam, revelando que ela tambmestava nervosa.

    Eu no estou dizendo que querofalar sobre o que aconteceu s porque aniversrio da morte de Thomas, mas...

    No o chame desse jeito... O nosso

  • No o chame desse jeito... O nossofilho morreu antes de nascer!

    A lembrana de que tinham dadoum nome ao beb quase fizera Jake cairde joelhos. Enquanto o beb no tivessenome, no poderia ser real, podia? Seriaapenas um feto sem identidade, dentrodo tero. Essa fora a nica maneira queele encontrara para lidar com aquelatragdia, durante todos aqueles anos.

    O delicado rosto oval de Ailsa exibiuuma expresso horrorizada.

    Mas ns lhe demos um nome,Jake... Um nome e uma lpide, voc selembra? Ontem, antes de a nevascapiorar, eu levei um ramo de lilases e de

  • anmonas brancas para colocar sobre otmulo. Fao isso todos os anos.

    O tmulo que abrigava os restosmortais de seu filho estava situado nocemitrio de uma pitoresca igrejanormanda escondida em uma ruaestreita, no muito longe dos escritriosda Larsen and Son, em Westminster,mas ele no o visitava desde o funeral,que fora em um dia cinzento deinverno. O vento glido atingira asferidas do seu rosto como se fossemlminas. Aquele fora um dia que eledesejava poder ter apagado damemria. Jake massageou as tmporasque latejavam e enfiou os dedos nocabelo, irritado.

  • E isso adianta muito, no ? Sim, na verdade, ajuda. Quando

    ele morreu, eu estava apenas com setemeses de gravidez, mas ele merece serlembrado, voc no acha? Por que ficouto zangado por eu ter tocado noassunto? Voc realmente esperava queeu no falasse dele?

    Sentindo-se exaurido eextremamente longe de encontraralgum remdio para o seu sofrimento,Jake atravessou a sala de jantar e foi ata porta.

    Desculpe, mas eu realmente achoque no adianta falar nisso. Aonde noslevaria? Voc precisa esquecer, Ailsa. Opassado acabou... Passou. Ns nos

  • divorciamos, lembra-se? Construmosvidas novas. Quem pensaria que amenina tmida com quem eu me caseiiria ter sua prpria empresa? Depois detudo que aconteceu, isso foi umafaanha. Nem tudo entre ns acabouem desastre. Ainda temos queagradecer por ter uma filhamaravilhosa. Vamos parar por aqui, estbem?

    Sim, ns temos Saskia... Agradeoisso todos os dias. E sim, eu tenhominha prpria empresa e me orgulhodela. Mas, voc acha que, se noconversarmos, a sombra daquela faseterrvel por que passamos vaidesaparecer miraculosamente? Se fosse

  • to fcil esquecer, voc acha que eu noteria esquecido? Eu pensei que, depoisda morte no nosso beb, o divrcioseria uma espcie de fechamento quenos ajudaria a superar. Mas parece queisso no aconteceu. Como eu poderiasuperar, se perdi metade da minhafamlia e no posso mais ter filhos? Oacidente me tirou essa possibilidade.Como no estamos juntos, talvez sejamais fcil fingir que nada aconteceu,Jake. Longe dos olhos, longe docorao, no o que dizem?

    Ailsa estava to perto da verdade queJake ficou paralisado. Ele no queria odivrcio, mas acabara por pedi-loquando a agonia e a acusao que ele

  • imaginava ver nos olhos da esposatinham se tornado insuportveis.

    Como posso fingir que noaconteceu? S preciso olhar no espelhoe ver essa maldita cicatriz para melembrar! De qualquer maneira... Elerespirou profundamente e o seucorao se acalmou, dando-lhe achance de pensar no que deveria fazer:tentar bloquear a lembrana torturantede Ailsa to seriamente ferida quedesmaiara antes do cirurgio fazer acesariana para tentar salv-la e ao beb.Mais tarde, o mdico lhe dissera que odano que ela tivera no tero fora muitograve e que o filho dos dois nosobrevivera. No era provvel que ela

  • pudesse engravidar novamente. Eutrouxe alguns documentos que precisoler antes de voltar. Com a morte domeu pai, eu me tornei presidente daempresa e tenho vrios problemas aresolver. Obrigado pelo jantar e pelahospedagem. A comida estava tima.Vejo voc amanh.

    Apesar da desculpa ser razovel, Jakese sentiu um covarde.

    Se voc precisar de um cobertorextra, h uma pilha deles dentro do baao p da cama. Ailsa parecia estardeterminada a superar sua decepodiante da relutncia que ele mostravaem falar sobre o passado. Jake admiroua fora que ela adquirira e ficou

  • comovido ao perceber a compaixo nasua voz. Compaixo que eleprovavelmente no merecia. Durmabem acrescentou ela, esboando umsorriso. No trabalhe at muito tarde.Voc teve um longo dia de viagem edeve estar cansado.

    Ela comeou a tirar a mesa. Sabendoque o seu aparecimento inesperado aperturbara e aborrecera, Jake pensouque nunca deveria ter ido at ali. Sentiua garganta se contrair de culpa earrependimento e saiu abruptamenteda sala.

    Ao entrar no quarto, olhoudistraidamente para a pasta de trabalho

  • que deixara sobre a cama e bateu nopeito, soltando um gemido.

    SENTADA AO lado da lareira, tricotandocomo sempre fazia antes de deitar, Ailsase acalmava ao ouvir o clique dasagulhas e o crepitar da lenha. Depois dabriga que tivera com Jake, sentia-se emcarne viva, como se a tivessem raspadopor dentro com uma lmina. J seresignara a passar mais uma noiteinsone. Algumas vezes, s abandonavaa poltrona ao amanhecer. De queadiantava deitar cedo, quando sabiaque passaria horas se revirando nacama? Para ela, o sono era um visitantearredio, e ela s costumava dormir s

  • 5h da manh, quando j estava exausta,e acordava duas horas mais tarde,sentindo-se atordoada. Ela seperguntava como sobrevivia falta desono e conseguia cuidar de Saskia etrabalhar. A capacidade de adaptaodo ser humano a admirava.

    Naquela noite, ela estava ainda maisinquieta pelo fato de Jake estarocupando o quarto de hspedes. V-lode novo fora maravilhoso e assustador,mas ela sempre reagira daquele jeitoquando o via. A profunda cicatriz emum dos lados do seu rosto nodiminura a sua beleza e o seu carisma.Ela se entristecia por ele achar que sim.E, realmente, a marca lhe dera um ar

  • de pirata, apesar de ela no quererpensar que outra mulher achara omesmo.

    Ailsa sentia vontade de morrer porele aparentemente ter esquecido ointenso amor que havia entre os dois eter seguindo em frente. Ela norecuperara um padro de vidanormal. Como conseguiria olhar paraoutro homem e pensar em ter umrelacionamento, depois de ter algumcomo Jake?

    Quando o conhecera, Ailsa estavafazendo estgio como recepcionista noescritrio da Larsen. Com apenas 19anos, estava determinada a melhorarsua vida depois de uma infncia difcil,

  • e agradecida pela chance de ter umtrabalho to glamouroso, apesar deno ter nenhuma qualificao. Mas elaestudava muito para remediar essafalha. Um dia, quando Jake entrarapela porta giratria, usando um casacode cashmere por cima do terno, com apele levemente bronzeada e o cabelolouro fazendo com que ele parecesseum daqueles heris mitolgicos queenfrentavam todos os desafios e quesuperava todas as dificuldades juntocom a bela herona, ela perdera oflego.

    Enquanto ele caminhava na direoda recepo, a colega, muito maisconfiante que ela, murmurara:

  • o filho do patro... Jake Larsen.Ele veio de Copenhagen.

    Antes mesmo de saber quem ele era,Ailsa sentira o corao se agitar com abeleza daquele viking e com o seucarisma. Nunca ficara fascinada por umhomem, principalmente por um queestivesse to longe do seu alcance, queirradiasse poder e autoridade. Mas elese apresentara a ela gentilmente, comose ela fosse to importante quanto umdos diretores da empresa. E, quando elelhe oferecera um sorriso quaseincandescente, ela ficara totalmentefascinada por ele.

    Droga! Ela perdera um ponto.Desmanchou pacientemente a carreira

  • do tric e recuperou-o. A lenha dalareira estalou. Ela olhou para o belopinheiro que estava no canto da salacomo se fosse uma garota tmida espera que algum a tirasse paradanar... Antigamente, Jake teria seoferecido para ajud-la a enfeitar arvore, enquanto cantarolavaalegremente, acompanhando a canode Natal que estaria soando ao fundo, ecantaria mais alto quando elareclamasse por ele ser desafinado.

    Era doloroso que ele no quisesseconversar com ela a respeito da mortedo filho. Ailsa esperava que issoajudasse a deix-los mais vontadequando estivessem juntos e que lhes

  • permitisse seguir em frente. Eles notinham conversado depois do acidentee durante o perodo que os levara aodivrcio porque estavam arrasados,feridos, zangados, e se culpavammutuamente. Ela esperava que umaconversa franca lhe devolvesse um sonomais sossegado.

    Ah, tudo bem... Ailsa suspirou. Amanh, quando ele for embora, euvou continuar como sempre. No toruim... Eu tenho Saskia. E os negciosesto indo bem... Melhor do quenunca...

    Ela mordeu o lbio, tentando nochorar, e olhou novamente para opinheiro. A filha podia no estar ali

  • para compartilhar o prazer de decorar arvore, mas isso no a impediria defazer algo em que era excelente.Administrava um negcio de sucesso efazia belas coisas, desde objetos dedecorao a suteres de tric e colchasde retalhos. Alm disso, ela e Saskiatinham passado o ano guardandoenfeites para o Natal.

    Sentindo-se mais animada, Ailsacolocou o tric de lado e, em vez dedormir na cadeira como costumavafazer, foi para a cama.

    JAKE ESTENDEU a mo para pegar orelgio e, ao ver a hora, gemeu.Percebeu que dormira profundamente

  • e tentou descobrir o motivo. ComoAilsa, depois do acidente ele se tornarainsone. Ele apoiou os travesseiros nacabeceira da cama e sentou. Ouviu orudo do timer do aquecedor, querecomeava a funcionar, e no seespantou ao ver o vapor produzido pelaprpria respirao ao atingir o ar frio.

    A casa sempre seria gelada daquelejeito de manh? Jake ficou aborrecidoao pensar que Ailsa poderia terescolhido morar em um lugar maissofisticado, mais confortvel e comaquecimento ambiente. Mas ela forateimosa e preferira aquele chal isolado,que podia ser charmoso, mas que no

  • era a casa onde ele gostaria que suafilha crescesse.

    Ele esfregou as mos para aquec-lase imaginou quando poderia voar devolta para Copenhagen. Ergueu ascobertas, levantou-se e foi at a janela.Levantou a ponta da cortina e sentiuum misto de frustrao e deperplexidade. At onde a vistaalcanava, tudo estava coberto por umabrilhante camada de branco. Fortesrajadas de vento faziam com que osflocos de neve girassem loucamente noar. A no ser que ele criasse asas, nosairia dali naquele dia. Com aqueleclima siberiano, todos os voos deveriamter sido cancelados.

  • Droga! Ele ficou parado, vestindoapenas a cala preta do pijama de seda,com o peito nu, tentando encontraruma sada. Pensou em telefonar para opiloto do seu helicptero emCopenhagen, mas se lembrou de que oscelulares e os telefones nofuncionavam. Enquanto tentavacontrolar a frustrao, ouviu umabatida na porta.

    Jake, voc j acordou e levantou?Eu estava pensando se voc gostaria debeber uma xcara de caf...?

    Ele abriu a porta. Com o cabeloescuro caindo desordenadamente sobreos ombros, como se tivesse passado anoite agitada, Ailsa estava parada

  • diante dele com um olhar ingnuo,vestindo um roupo vermelho em feitiode quimono. Parecia uma adolescente.Desconcertado, Jake sentiu o seuinstinto de proteo despertar.

    No se incomode comigo. Vocest com a aparncia de quem precisabeber algo quente para se aquecer resmungou ele. Por que o aquecedorno liga mais cedo? J viu o tempo lfora? Aqui dentro est gelado.

    O aquecedor acionado pelo timer.Sim, j vi o tempo. Acho que no paroude nevar a noite inteira. Mas noadmira que voc esteja com frio: estvestindo apenas um pedao de pano!

    Jake no conseguiu deixar de rir.

  • Voc sabe que eu no uso muitacoisa para dormir. Ou ser que seesqueceu?

    Voc no disse se quer caf ou ch insistiu ela teimosamente, fechandomais o roupo e deixando o cabelo cairsobre o rosto para escond-lo.

    Mas Jake percebeu que ela corara esentiu-se satisfeito. Apesar de toda agua suja que passara por baixo daponte que ligava os dois, era bom saberque ainda provocava alguma reao emAilsa.

    Eu no iria recusar uma bebidaquente, mas deixe-me tomar um banhoe me vestir, antes de ir encontr-la nacozinha.

  • Ela concordou e deu de ombros.Quando ele j estava fechando a porta,ela se voltou.

    Devo lhe preparar um caf damanh?

    Jake hesitou: vira as olheiras escurassob os seus olhos, confirmando que elano dormira.

    Eu no quero lhe dar trabalho.Um sorriso se formou nos lindos

    lbios que ele adorara beijar. E queainda sonhava beijar quando setorturava pensando no quanto tinhamse amado.

    No trabalho.Ela se afastou pelo corredor, e o

    suave bamboleio de seus quadris

  • provocou um aperto no corao deJake.

  • CAPTULO 3

    AO SAIR da sala de estar, depois dealimentar o fogo com algumas achas delenha, Ailsa limpou as mos no jeans eolhou para a escada no exato momentoem que Jake a descia. No importavaquantas vezes o tivesse visto, que tivessemorado com ele e o amado, a simplespresena de Jake fazia com que o seucorao acelerasse. Naquela manh, elevestia uma cala de brim azul, uma

  • camiseta branca e um suter preto del. Parecia ter penteado os cabelosdourados com os dedos, e no comuma escova. E, quando ele sorriu paraela, os seus lmpidos olhos azuis aatraram como um m, e Ailsa nemreparou na sua cicatriz.

    Eu vou recolocar a chaleira no fogoe preparar um ch. Sinto muito teratrasado o caf, mas precisei colocarlenha na lareira. Voc dormiu bem?

    Como um beb. Aquela cama muito confortvel declarou ele.

    Quando se pensa que as pessoaspassam metade da vida na cama, fundamental que ela seja confortvel,no acha? Droga, ela estava

  • tagarelando porque ele a deixavanervosa. E, por mais inocente que fosseo assunto, a ltima coisa que lheinteressava era falar sobre camas com oex-marido.

    Jake sorriu como se tivesseadivinhado o seu constrangimento.Ailsa se voltou e foi para a cozinha. Elefoi atrs dela. Enquanto ela lavava asmos, acendia o fogo e pegava ascanecas, ele puxou uma cadeira esentou. Ela sabia que ele acompanhavatodos os seus movimentos, e ficava cadavez mais constrangida. Suspirou eresolveu abordar o assunto que aatormentara desde que acordara e vira

  • o resultado da nevasca que caradurante a noite.

    Eu no vejo muita chance de vocir at o aeroporto.

    Nem eu concordou ele, franzindoas sobrancelhas. Voc j checou se otelefone est funcionando?

    J. Ele ainda no d sinal. Droga!A expresso spera no melhorou a

    confiana de Ailsa. Ele gostaria topouco dela a ponto de odiar a ideia depassarem mais algum tempo juntos?

    Eu tambm estou frustrada por nopoder falar com Saskia murmurou ela.Percebendo que a gua fervera, elaengoliu a tristeza, fez o ch e levou-o

  • at a mesa. Sirva-se de acar. Voufazer o seu caf da manh.

    Voc vai comer comigo? Eu no como muita coisa de

    manh. Vou fazer apenas uma torradapara mim.

    Uma torrada? isso que voc comeno caf da manh?

    Geralmente, sim. No admira que voc tenha

    emagrecido. Algo mais que voc tenha notado?

    Ela ficou aborrecida. A ideia de queele pudesse ach-la magra e sematrativos a atingia. Sempre fora esguia,mas, antes do acidente, tambm possuabelas curvas que ele dizia adorar. E,

  • quando engravidara de Saskia e dofilho, ele apreciara ainda mais a suasilhueta feminina. Teria ele passadoaquele tempo apreciando curvas deoutras mulheres?

    Sim. Voc est mais bonita quenunca.

    No, no estou. Ela cruzou osbraos defensivamente. Inevitavelmente, os acontecimentos memoldaram. Eu sei que estou magrademais e pareo cansada. Tenho 28anos, mas, s vezes, eu me sinto comose tivesse cem.

    Isso bobagem. Eu realmente no me importo.

    Ela deu de ombros. Enquanto eu tiver

  • foras para trabalhar e cuidar de Saskia,isso tudo que importa.

    Ailsa s percebeu que ele levantaraquando ele parou diante dela esegurou-a pelo queixo. Os olhos azuisde Jake brilhavam tanto que ela quasese desmanchava.

    Voc pode estar cansada, mas noest muito magra e certamente noparece mais velha. Quando eu a viontem, pensei em como parecia jovem.Talvez voc fosse muito moa quandonos casamos...

    Ele afastou um cacho de cabelo dorosto dela. A palma da sua mo eralevemente spera e, ao mesmo tempo,macia. Isso, adicionado ao som grave da

  • sua voz, quase a levou a acreditar que oque havia de errado entre os doispoderia ser consertado.

    De onde viera essa ideia? Era toautodestrutiva quanto procurar abrigoem uma casa pegando fogo... Como sesasse de um transe, Ailsa recuou.

    Voc est dizendo que searrepende do nosso casamento?

    Jake ergueu a sobrancelha. Eu no estou dizendo isso. Por que

    voc sempre se coloca na defensiva epensa o pior?

    Ela o fitou com firmeza. Porque, s vezes, difcil acreditar

    que exista algo bom confessou Ailsa.

    Fico entristecido por voc pensar

  • Fico entristecido por voc pensarassim. Quando estvamos juntos,tivemos timos momentos, voc no selembra?

    Tivemos... Mas cometemos otremendo erro de acreditar queteramos um futuro maravilhoso...Voc, nossos filhos e eu. Veja o queaconteceu com a nossa fantasia.

    Por que ela fazia isso e atacavasempre na jugular? O desespero da vozdela fazia com que ele voltasse a sentiro corao dilacerado... Assim comoacontecera com suas mos durante oacidente, quando ele tentara proteg-lados cacos de vidro e do metal retorcidoa que o motorista embriagado reduzira

  • seu carro, matando o adorado filho dosdois. Ele j suportara o insuportvel...Quanto mais o destino o faria sofrer?

    Atormentado pela agonia e pelafrustrao, Jake fechou os olhos.Quando voltou a abri-los, Ailsa voltarapara o fogo. Fitando a cascata decabelos negros que lhe caa pelas costas,ele sentiu vontade de abra-la por trse nunca mais solt-la. Em vez disso,olhou pela janela e percebeu que acortina de neve que caa se tornara maispesada.

    Esse tempo horrvel no vai mudarhoje?

    Ele no escondera a sua raiva e o seudesnimo. Ailsa se voltou.

  • Eu sei que voc est ansioso paravoltar para Copenhagen... Mas s vai sesentir mal se no aceitar o fato de queestar preso aqui por algum tempo.Assim como eu preciso aceitar queSaskia no estar comigo por mais umasemana.

    Voc quer fazer com que eu mesinta pior do que j estou? No achaque me arrependo de ter aparecido aquisem ela? A minha me e ela insistiramtanto que queriam ficar juntas mais umpouco que eu pensei: por que no?Qual seria o dano? Pensei que, pelomenos por uma vez, voc iria entender.Em vez disso, voc est agindo como seeu tivesse cometido um crime!

  • Jake, eu...Ouviu-se uma batida forte na porta.

    Os dois se calaram. Quem poderia ser?Com aquele tempo, s poderia ser

    uma pessoa, Ailsa pensou, sabendo quea visita no iria colaborar para aliviar oclima entre ela e Jake. Ela secou asmos no avental e correu para abrir aporta.

    Batendo os ps no cho e tentandosacudir o gelo e a neve das botas e docasaco forrado de pele, estava o belo esimptico filho do fazendeiro vizinho.

    Bom dia, Ailsa. Linus, o que est fazendo aqui?

    Eu trouxe alguns ovos, leite e po

  • Eu trouxe alguns ovos, leite e popara abastec-la, at que voc possavoltar a fazer compras. Nada consegueatravessar a neve, a no ser o trator.Vocs esto bem? Eu estava preocupadopor voc e Saskia estarem aqui sozinhas.

    Eu estou muito bem... Saskia aindaest com a av em Copenhagen. Foimuita gentileza voc vir at aqui parasaber como estvamos.

    Para que servem os vizinhos? Elesorriu amavelmente, revelando dentesmuito brancos. Eu vou pegar as coisasno trator.

    Enquanto esperava que ele fosse ato trator vermelho, que estava cobertopor vrias camadas de neve, Ailsa batia

  • as mos, uma na outra, para aquec-las.O ar estava glido.

    Posso deixar isso na cozinha? sugeriu Linus ao voltar carregando umacaixa de papelo.

    Sim, por favor. Ailsa sentiu umapontada de apreenso ao pensar que eleiria dar de cara com seu ex-marido. Elae Linus eram apenas amigos, mas,apesar de estarem separados h muitotempo, Jake imediatamente tirariaconcluses erradas, pois sempre foraciumento. Apesar de ele termencionado a possibilidade de teremnovos relacionamentos quando disseraque as mulheres achavam que elelembrava um pirata, Ailsa no pensara

  • nisso. Como poderia no receber bemum amigo e vizinho que fora tosolidrio? Era uma questo de boasmaneiras. O mnimo que poderia fazerseria oferecer a Linus uma xcara de chpara aquec-lo, antes que ele voltassepara casa.

    Mas, assim que eles entraram nacozinha, a expresso distante edesconfiada de Jake demonstrava o seuaborrecimento com a presena deLinus.

    Jake, este o meu vizinho, Linus.Ele teve a gentileza de me trazerprovises da sua fazenda. Linus, este Jake Larsen... O pai de Saskia. Ele veiome avisar que ela iria ficar mais tempo

  • com a av e ficou preso aqui. Elapercebeu que estava fornecendoinformaes demais e que Jake poderiano gostar disso.

    J ouvi falarem muito sobre voc disse Linus, colocando a caixa sobre amesa. Ele olhou para Ailsa de relance,antes de se recobrar da surpresa eestender a mo para Jake. Querodizer, Saskia fala o tempo todo sobrevoc.

    mesmo? Apesar de Jake estarsendo educado, estava claramenteirritado.

    Ailsa tocou o brao de Linus e sorriu,como se tudo estivesse perfeitamentebem e seu ex-marido no estivesse com

  • uma cara que espantaria qualquervisitante.

    mesmo respondeu Linus, comum sorriso sem graa.

    Por que voc no se senta e eu lhefao uma xcara de ch, Linus?

    Linus estremeceu, claramenteconstrangido.

    muita gentileza sua, mas melhor eu ir embora... Ainda h muitacoisa a fazer na fazenda antes do fim dodia, mas obrigado por ter oferecido.Talvez eu volte para ver como voc est,daqui a um ou dois dias.

    Ailsa olhou para Jake e mordeu olbio.

    Muito obrigada por ter me trazido

  • Muito obrigada por ter me trazidoprovises. Foi muita gentileza. Fico lhedevendo.

    No seja tola. Foi um prazer. Paradizer a verdade, foi bom ter umadesculpa para vir v-la. Algumas vezes otrabalho to incessante que eu notenho tempo para v-las como gostaria. Linus perdera o constrangimento eabrira um grande sorriso. Ailsa ficouperturbada, principalmente por estaremdiante de Jake, mas tambm se sentiasatisfeita por receber tamanha ateno.Linus se voltou para Jake. Foi umprazer conhec-lo.

    Eu digo o mesmo respondeu Jakesem entonao. Ailsa pensou que era

  • bom que Linus no se demorasse mais,porque pressentia que seu ex-maridono gostaria da ideia.

    Para o caso de no nosencontrarmos mais, desejo que faauma boa viagem.

    Desta vez, Jake no disse nada.Olhou para Linus como se desejasseque ele desaparecesse.

    Linus sorriu levemente para Ailsa,que foi lev-lo at a porta. Quando elavoltou cozinha, estava furiosa. Jakeno demonstrava um pingo devergonha pela frieza com que tratara ovisitante.

    Voc tinha que ser to antiptico?Linus um bom homem. Ele s veio

  • ver se eu e Saskia estvamos bem etrouxe suprimentos porque sabe que euno posso fazer compras.

    Voc est me dizendo que precisade outro homem para cuidar de voc eda minha filha?

    Ailsa ficou chocada com o que eleinsinuava.

    Ele no outro homem da maneiraque voc insinuou. Para suainformao, Jake, eu no preciso deoutro homem para nada! Posso mecuidar sozinha. Linus s um vizinhoamigo.

    Jake esfregou a testa e fitou o cho.Quando voltou a olhar para ela, seusolhos brilhavam perigosamente.

  • Est dizendo que no percebeu queele quer ser muito mais que um simplesamigo?

    O qu? Talvez as coisas j tenham ido alm

    da vizinhana e da amizade... De vez em quando, ns tomamos

    ch e conversamos: isso tudo. Eununca encorajei nada mais pessoalentre ns. E, se tivesse, com quem eupasso meu tempo no da sua conta...No mais. Esqueceu que somosdivorciados?

    No. Por um instante, aexpresso dele beirou o sofrimento. No esqueci.

    A indignao e o aborrecimento de

  • A indignao e o aborrecimento deAilsa murcharam como um balofurado. Ela passou a sentir compaixo.Os dois tinham sido feridos no acidenteque matara o to desejado filho e, comose isso no bastasse, haviam enfrentadoo terrvel fim do casamento. Almdisso, Jake recentemente perdera o paie deveria estar sofrendo por isso.

    A raiva que ele demonstrara aopensar que ela arranjara outra pessoateria servido para encobrir sua dor?Mais que nunca, Ailsa percebia queprecisavam conversar. Durante a estadaforada de Jake no chal, precisavamcomear a procurar um jeito de lidar

  • com a agonia que tinhamcompartilhado.

    Ela olhou para a panela que estavasobre o fogo.

    Eu vou fazer o seu caf da manh.Quer outra xcara de ch? O seuprovavelmente j est frio.

    Jake sentou-se mesa, pegou a xcarae tomou um gole.

    Est timo.No mesmo instante, Ailsa tirou a

    xcara da mo dele e percebeu que och estava frio.

    Est quase gelado. Farei outro paravoc. No h problema.

    Por que est sendo gentil comigo,considerando que eu a aborreci tanto

  • por ter tratado o seu amigo com frieza? Ser desagradvel iria nos ajudar? Acho que no falou ele, sorrindo.Ailsa abriu a caixa que Linus

    trouxera e pegou uma embalagem comovos.

    Os ovos da fazenda so frescos emuito melhores do que os dosupermercado.

    Que sorte voc ter Linus para traz-los.

    O comentrio foi feito em tomsarcstico. Ela sentiu que o terreno quetinham conquistado se tornavaescorregadio.

    Ele apenas um amigo. Eu nomentiria para voc com relao a isso.

  • Preciso pensar na felicidade de Saskia ena minha. Enquanto ela for pequena,eu no quero me relacionar comningum. Ela franziu as sobrancelhas,sem deixar de olhar para ele. Equanto a voc? Existe algumrelacionamento importante na sua vidasobre o qual eu deva saber? Antes deacabar de falar, Ailsa sabia que ficariadoente se ele dissesse que sim, mas Jakesacudiu a cabea.

    Como voc, eu no pretendo meenvolver seriamente com ningum, atSaskia crescer o suficiente. Mas tambmno me limitei a ter uma vidamonstica. Ele sentiu o msculo doqueixo latejar, ao lado da cicatriz. Eu

  • sou apenas humano e as minhasnecessidades no diferem das deningum.

    Ailsa levou algum tempo paraconseguir falar porque estava tentandosuperar a onda de mgoa causada pelaideia de que outra mulher pudesse estarsuprindo as necessidades sexuais deJake. Afinal, eles estavam divorciadosh quatro anos e aquela possibilidade jlhe ocorrera. Na maioria das vezes, elatentara ignorar, mas conhecia bem asnecessidades do marido naqueledepartamento. Jake sempre fora umamante incrvel. Aquela parte docasamento ultrapassara todos os seussonhos de amor e de paixo.

  • E quanto s minhas necessidades? perguntou ela, tentando manter a vozfirme. Eu tenho a mesma liberdadeque voc tem, Jake? Ou voc acha queeu no tenho mais necessidades, j queo acidente me tornou incapaz deengravidar? Talvez voc pense que issome tornou menos mulher?

    No diga isso! O choque e odesespero que havia nos seus olhosassustaram Ailsa. No pense e muitomenos diga isso! Voc mais mulherdo que qualquer outra que eu conheo.Mesmo que no estejamos mais juntos,nada mudar isso. Ele arrastou acadeira e levantou. Sua respirao setornara pesada. Sem dizer uma palavra,

  • ele tirou a caixa de ovos da mo dela,colocou-a sobre a mesa e segurou-apelo queixo. Saskia sempre diz quetem a me mais bonita do mundo, e elatem razo.

    Claro que diz. Ela minha filha. Voc no me ouviu? Ele segurou

    o queixo dela com mais fora. Eudisse que ela tem razo.

    Ailsa queria que ele falasse mais, spara ouvir mais de perto aquela vozcapaz de confort-la e seduzi-la. Etambm queria saber como seria serbeijada por ele novamente. Mas sabiaque no era sensato querer essas coisas.Levara muito tempo para se recuperar

  • da dor e da rejeio. Perdera o filho e,depois, perdera Jake.

    Ele podia ter pedido o divrcio emum momento de desespero para fugirdo poo de desalento em que tinham seafundado, mas ela tambm contriburapara isso. A situao entre os dois setornara intolervel e ambos precisavamde espao para respirar. Ao mesmotempo em que ela concordara com odivrcio, ficara de corao partido. Noqueria desej-lo tanto outra vez edissera a si mesma que Jake estaria livrepara amar outra pessoa e ter um filhocom ela. Por que ele no fizera isso?

    beira das lgrimas, ela afastou amo dele do seu rosto e se voltou para

  • pegar os ovos sobre a mesa. Voc quer um ou dois ovos com

    bacon? Quer saber? Acho que perdi o

    apetite. A sombra nos olhos deleatingiu-a como uma facada.

    Eu no estou afastando voc, Jake.S estou... Ela tentou controlar suasemoes. Eu s no quero sermagoada de novo e no quero magoarvoc. No momento, no temos escolhaa no ser ficarmos juntos. No vamosestragar tudo, concorda? Eu estoudisposta a conversar. Quando voc forembora, talvez tenhamos resolvidoalguns problemas que nos perturbam e

  • possamos ficar em paz com as escolhasque fizemos. O que acha?

    Voc tem uma p? A entradaprecisa ser limpa. Eu vou fazer issoagora... Para abrir o apetite e podercomer o caf da manh que voc estme prometendo.

    O seu tom bem-humorado deuesperanas a Ailsa de que elespudessem, mais tarde, falar do passadosem se culpar mutuamente.

    Voc acha que vale a pena fazerisso agora? Se continuar nevando, otrabalho ser intil. Voc ter de limpartudo outra vez.

    Se voc sasse por algum motivo esofresse uma queda, eu no iria querer

  • ter isso na minha conscincia. Ondeest a p?

    Ela engoliu um Deus me livre quevoc me tenha na sua conscincia e selembrou de que realmente queriadeixar de culp-lo.

    Tudo bem. Saia pela porta dosfundos e v at o jardim. A p est nogalpo de ferramentas.

    timo. Posso fazer meu pedidopara o caf? Quero dois ovos combacon. O trabalho vai me dar fome disse ele com ironia, saindo da cozinha.

  • CAPTULO 4

    JAKE FICOU feliz com o esforo fsico queprecisou fazer para tirar a neve daentrada. O vento frio lhe fustigava orosto e fazia seus olhos lacrimejarem,distraindo-o da conversa que tivera comAilsa.

    Ele levara um choque ao ver Linus.Se j vira um homem com um olharesperanoso em relao a uma mulher,o do fazendeiro era o melhor exemplo.

  • Jake no estava chocado por ele quererAilsa. Que homem no iria quer-la? Oque mais o chocara era o fato de ela noter percebido e, portanto, estarvulnervel. s vezes, Ailsa era ingnuademais para o seu prprio bem.

    Era curioso que Saskia nunca tivessemencionado Linus, principalmenteporque Jake sempre lhe perguntava se ame fizera novas amizades. Comcerteza, a filha no considerava ofazendeiro um amigo que merecesse sercitado. Ainda assim, o homem notinha o direito de aparecer, tentandoamolecer Ailsa com presentes.

    Jake parou de tirar a neve por algunsminutos e observou a casa. Era um

  • chal charmoso, atraente,principalmente agora, que estavacoberto de neve. Estava muito longe deser luxuoso como os apartamentos ecasas que a sua empresa vendia pararicos e famosos espalhados pelo mundo.Mas, se Ailsa estava feliz ali, o que elepodia fazer? Durante aqueles anos, elalhe mostrara que no queria a suaajuda. Ele no gostava disso, mas nopodia culp-la.

    Quando aquele carro sem controlebatera no deles, ele deveria terprotegido o que tinha de mais preciosoa qualquer custo, ainda que isso tivessesignificado sacrificar sua prpria vida.

    Uma pontada de desespero saiu do

  • Uma pontada de desespero saiu dofundo do seu corao e o atingiu toprofundamente que ele quase sedobrou de dor. Por que Ailsa lhecontara que visitava o tmulo do filho?Ele no precisava que lhe recordassemque o menino no sobrevivera. Elaconseguira chorar a sua dorabertamente, bradar aos cus, protestare se contorcer. Enquanto ele precisarachorar a sua perda em silncio, mostrarque estava agindo como um homem.Quando se tratava de ser um grandeempresrio, um bom provedor e ummarido fiel, seu pai Jacob fora umsucesso, mas quando se tratava deexpressar carinho e emoes, ele se

  • fechara e nunca deixara que o filho seaproximasse demais. O resultado foique Jake nunca se sentira realmenteamado pelo pai.

    Algumas vezes, Jake amaldioava omodelo que inconscientemente copiarade Jacob. Manter suas emoestrancadas... Nunca demonstrar suamgoa e fingir que tudo estava bem.Ailsa e ele haviam perdido muito. Elaachava que eles deveriam conversar.Pensaria realmente que poderiamsuperar as tragdias pelas quais tinhampassado apenas conversando? Acapacidade de esconder seussentimentos estava to entranhada nele

  • que Jake achava que era tarde paratentar super-la.

    Ele sentiu um gosto de sal e percebeuque estava chorando. Enxugouimediatamente as lgrimas, rebelando-se contra a manifestao emocional queningum testemunhara. E recomeou atirar a neve com zelo redobrado.

    QUER MAIS um pedao de bacon? Est brincando? Se eu comer mais

    um pedao, no farei mais nada. Porque voc no senta um pouco?

    O convite de Jake era tentador. Ailsaficou na dvida, mas suas defesas foramdestrudas quando ele olhou para ela.

    S por um minuto. Ela levou o

  • S por um minuto. Ela levou och e a torrada para a mesa e sentoudiante dele. L fora a neve caapesadamente, mas a casa estava quentee acolhedora.

    Eu me sinto honrado zombou elegentilmente.

    Obrigada por voc ter limpado aentrada, mas receio que logo sejapreciso fazer isso de novo. No que euesteja lhe pedindo acrescentou eladepressa.

    Fazer exerccio muito melhor queficar trabalhando em uma mesa oudiante do computador.

    Resolvendo afastar as imagens que avoz dele provocava em sua cabea, Ailsa

  • deu um sorriso constrangido e mordeua torrada.

    Voc ainda gosta de fazerartesanato? Jake pegou a xcara decaf e deu o sorriso levemente torto echarmoso que ela tanto achavaatraente. Que pergunta idiota... Voctransformou isso num negcio.

    Eu gosto muito. apenas umapequena empresa, mas est crescendogradualmente. Os elogios dos clientes seespalharam e me ajudaram. Apropaganda online tambm despertouinteresse. Recentemente, fui convidadapara dar uma entrevista em uma dasmaiores revistas de decorao.

    Que bom. Isso deve significar

  • Que bom. Isso deve significarmuito para voc.

    Significa. Quando eu penso nolugar de onde vim, me parece ummilagre. Nunca pensei que conseguiriafazer algo que valesse a pena... Pelomenos, no em termos produtivos.

    Por que no? Pelas condies da minha infncia.

    Saber que fui abandonada quando bebno me ajudou. Nunca consegui melivrar da sensao de que no eradesejada, ou seja, de que eu no eraboa o suficiente.

    Voc nunca me disse isso.Sentindo-se pouco vontade por ter

    involuntariamente provocado o

  • assunto, Ailsa se forou a encarar oolhar subitamente intenso de Jake.

    Voc nunca me perguntou. Percebique a minha infncia o constrangia,quer dizer, o fato de eu ter vindo de ummundo to diferente do seu. Foi porisso que eu nunca falei no assunto.

    Jake sacudiu a cabea, perplexo. Desculpe... Sinto muito por no

    termos conversado sobre algo toimportante e por eu t-la levado aacreditar que o seu passado meconstrangia. Acima de tudo, ficoaborrecido com o fato de voc pensarque no era boa o suficiente. Eu sempresoube que voc era competente, Ailsa...

  • Que era muito habilidosa... Deveria terlhe dito isso.

    Ela se animou por dentro. Noapenas pelo que ele dissera, mas porqueestavam finalmente conversando, secomunicando.

    Eu estou fazendo o possvel paradeixar de me sentir desse jeito.Comear um negcio realmente meajudou. Saber que eu posso ter umarenda razovel com o meu prpriotrabalho me impulsionou.

    Ele demonstrou no ter gostado daresposta.

    Voc no precisa de dinheiro e dedepender somente do que possa ganharsozinha.

  • Ailsa ficou triste por ele no entendere perdeu a vontade de comer a torrada.

    Eu sei que voc me deixoueconomicamente bem, Jake, e euaprecio isso. Mas importante que eusaiba que posso me sustentar. Eu uso odinheiro que voc me deu com Saskia,mas gosto de poder contar com a minhaprpria renda. to difcil para vocentender que eu quero serindependente?

    Voc foi casada comigo e temdireito quantia que lhe foi destinadano divrcio. O que a maioria daspessoas consideraria uma fortuna no adeixa independente?

    Eu... Ailsa se sentiu sufocar. Jake

  • Eu... Ailsa se sentiu sufocar. Jakeno percebia que o importante no erao dinheiro ou a quantia. Era o que elerepresentava para ela... A morte do seuprecioso beb e o fim do casamento. Odinheiro que ela ganhava sozinha vinhasem aquele peso, sem aquelesofrimento.

    O seu amigo fazendeiro sabe quevoc uma mulher rica?

    Ailsa arregalou os olhos. O que voc est insinuando? Voc

    acha que ele me procura porque eutenho dinheiro? Obrigada, Jake. Vocrealmente sabe como fazer com queuma mulher se sinta especial!

    Ela pegou o prato, empurrou a

  • Ela pegou o prato, empurrou acadeira e se afastou. Apoiou-se nabancada de granito e tentou se acalmar.Jake soltou a xcara e foi atrs dela.

    Eu no queria sugerir que ele gostade voc por causa do dinheiro. Squeria alert-la para tomar maiscuidado. No quero que ningum seaproveite de voc, Ailsa. Algumas vezesvoc confiante demais para o seuprprio bem.

    O que lhe importa? E precisa perguntar? porque sou me da sua filha?

    Esse o nico motivo que voc pode terpara se importar comigo.

    Jake se encolheu como se ela o

  • Jake se encolheu como se ela otivesse atacado fisicamente. Por que,naquele exato momento, a cicatriz noseu rosto a comovia maisprofundamente do que nunca? Antesque percebesse, Ailsa ergueu a mo epassou os dedos sobre a marca spera.

    No faa isso!Ela ignorou o protesto e encostou a

    mo no seu rosto. Os pelos da barbaque despontava no seu queixolembravam veludo.

    Sinto muito se disse algo que omagoou falou ela docemente. Jakesegurou-a pelo pulso e afastou sua mo.

    E eu sinto muito que voc penseque eu no me importo com voc. No

  • verdade...Enquanto o corao de Ailsa batia

    pelos cruis eventos que tinham lhescausado tanto sofrimento e os separado,o seu corpo parecia ser atrado pelodele, e ela se deixava levar pelo seucalor e pelas lembranas, pela dor e pelodesejo.

    O desejo prevalecia. Incendiava o seusangue e corria impiedosamente porsuas veias, enquanto Jake, semnenhuma sutileza, se apossavaavidamente de seus lbios. O maischocante que ela no tentava afast-lo. Sentir o gosto dele era suficientepara que ela se lembrasse do queperdera... Do que tanto desejara

  • quando ele fora embora. Apesar desaber que aquele vcio era um caminhoque s a levaria a um maior desespero,Jake era como uma droga da qual elasentisse falta. Enquanto ele alimentavaa paixo que j a consumia, ele passavaas mos por seu cabelo, descia-as porsuas costas e puxava-a pelos quadris.Ailsa sentiu a evidncia do desejo deJake pressionada contra a sua barriga.Apesar de se sentir derreter e de seusmamilos despontarem sob o suter, elaficou chocada. Sabia exatamente o queestava provocando... A loucura e aautodestruio daquele ato. Achariarealmente que aquele comportamento

  • irracional consertaria tudo? Se achasse,estava delirando.

    Ela interrompeu o beijo e passou osdedos sobre os lbios trmulos.

    Esta no uma boa ideia, Jake. Para mim, parece tima. O

    sorriso que ele deu deixou-a de pernasbambas.

    Mas no . Voc realmente achaque uma transa quente na cozinha vaiajudar a resolver nossos problemas?

    Ele ficou chocado e, depois, zangado. Isso soa incrivelmente frio. Pode

    ser que voc no precise de calorhumano de vez em quando, mas eupreciso. E no tenho vergonha disso. Euno pensei que o que estava

  • acontecendo fosse nos ajudar. S medeixei levar pelo momento.Antigamente, voc apreciava a minhaespontaneidade... Eu vou subir paratrabalhar. Eu lhe diria para me chamarse precisar, mas, como duvido que vocprecise de alguma coisa, esquea. Elefoi at a porta e se voltou com um olhardebochado. Pensando bem, talvezvoc prefira chamar o seu amigofazendeiro. Voc parece no seincomodar por ele lhe oferecer ajuda epresentes!

    ABALADA COM o comentrio sarcsticode Jake, Ailsa foi para a sala e paroudiante do pinheiro, imaginando de

  • onde tiraria nimo para enfeitar arvore de Natal. Sentia-se arrasada porJake acreditar que ela no precisava decontato humano. Se ele soubesse oquanto ela gostara de se sentirabraada... Se soubesse que serabraada e beijada por ele lhe dera asensao de voltar para casa...

    Ela conteve as lgrimas e foi reavivaro fogo da lareira com algumas achas demacieira, pensando que o Natal erauma festa centrada na famlia e quesentia falta de Saskia. O que sua filhadiria se a visse to hesitante paradecorar o pinheiro com as bolas eenfeites que haviam preparado juntas?

    Vamos, me diria Saskia.

  • Vamos, me diria Saskia. quase Natal! No fique triste...

    No querendo desapontar a filha,Ailsa esqueceu a hesitao. QuandoSaskia voltasse, encontraria uma rvorede Natal maravilhosa. Ela foi at a portados fundos e se preparou para enfrentara neve: calou as botas, vestiu o casaco ecolocou um chapu. Saiu e abriucaminho atravs da neve, at chegar aoateli, no jardim. Pegou uma grandecaixa de enfeites e dois longos fios comlmpadas brancas. Voltou para casa,tirou as botas, o casaco e o chapu, elevou a caixa para a sala. Assim queentrou, sentiu imediatamente o calordo fogo e o cheiro de ma. Aquilo

  • fazia com que a atmosfera se tornassenatalina.

    Ela colocou a caixa ao lado da rvore,foi at o outro lado da sala e ligou o CDplayer. Um arranjo orquestral de SilentNight, acompanhado de um coral, soouno ambiente. Ela soltou um suspiro desatisfao e comeou a decorar opinheiro.

    SENTADO NA cama, abraando osjoelhos, Jake no conseguia seconcentrar em trabalhar. O e-mail quea secretria lhe entregara antes de elesair de Copenhagen teria que esperar,fossem quais fossem as consequncias.

    Ele ouviu as notas da sua cano

  • Ele ouviu as notas da sua canopreferida de Natal. Apoiou-se nostravesseiros e colocou as mos sob acabea. A msica parecia querermergulh-lo em um estado de puracontemplao, mas seria difcil. Ficarato furioso com Ailsa por ela quase t-loempurrado e rejeitado que deixara quea sua mgoa o consumisse. Realmenteseria uma transa quente! Ele nopretendia beij-la, mas o que estiverasentindo desde que a vira novamentefora se acumulando e se tornara difcilde conter. Como uma represa prestes aexplodir.

    O beijo que ele lhe roubara forainevitvel e espontneo... E

  • maravilhoso. Ele ainda sentia o corpolatejar de desejo por ela. Durante muitotempo, depois que tinham se separado,suas roupas ainda tinham o perfume deAilsa. Fora uma tortura sentir o seucheiro e no poder toc-la. Passava osdias em agonia por ela no estar ao seulado. Nenhuma outra mulher fazia comque ele sentisse o que sentia por ela...Adeus, contemplao...

    Jake resmungou, deitou de lado eficou olhando a neve cair do lado defora da janela. Por fim, esgotado fsica eemocionalmente, caiu no sono.

    O TERCEIRO CD com canes de Natalestava quase no fim quando Ailsa se

  • afastou e apreciou o seu trabalho. Osenfeites feitos a mo, que ela e Saskiatinham criado durante o ano, estavamlindos. As bolas coloridas, os sinos e opiscar das lmpadas brancasacrescentavam uma aura de magia decorao. Assim que o dia comeasse aescurecer, o efeito se tornaria aindamais encantador. Satisfeita com o seutrabalho, ela cantarolou a msica quetocava. Era In the Bleak Winter. Noera uma cano muito alegre, mas elaadorava. A dirigente do orfanato ondeela crescera costumava dizer que elaherdara a tendncia irlandesa para astragdias.

    A nica coisa que Ailsa sabia sobre

  • A nica coisa que Ailsa sabia sobresua me era que ela era irlandesa e quea tivera aos 16 anos. Anos mais tarde,procurara localiz-la, mas no obtiverasucesso. Quando estava casada comJake, ele sugerira que eles contratassemum detetive para procur-la, mas elarecusara. Depois de tanto tentarlocalizar sua me, resolvera que novalia a pena. Era suficiente saber quefora abandonada e, portanto,indesejada. Se sua me quisesseencontr-la, teria tentado procur-la hanos. Na verdade, ela tivera medo deno suportar uma nova rejeio.

    Ailsa afastou as lembranas ecomeou a recolher os enfeites que no

  • usara. Pessoalmente, eu prefiro The Holly

    and the Ivy ou Silent Night. Esta, comodiz o ttulo, sombria.

    De costas para ele, carregando acaixa, Ailsa levou um susto e se virou. Aprimeira coisa que notou foi que eleestava despenteado. A segunda, que elefalara em um tom amigvel, como sequisesse se desculpar por ter ficadoirritado.

    Eu j toquei Silent Night. Eu ouvi. Ela me fez dormir. Voc deveria estar precisando de

    descanso. Gostou da rvore?Ele observou a rvore e deu um

    sorriso caloroso.

  • Est magnfica. Gostaria que Saskiaestivesse aqui para ver. Assim que eleacabou de falar, pareceu se arrepender.Ailsa se perguntou se seria por eletemer uma resposta e, em vez de sedeixar levar pelas emoes, ela lheofereceu um sorriso.

    Ela vai ver quando voltar para casana vspera do Natal. Alm disso, tenhocerteza de que a sua me montou umarvore igual ou mais bela.

    Tem razo... Nem que seja porquea neta est com ela.

    Vai ser difcil para ela... O primeiroNatal sem o seu pai.

    Claro disse ele, com um olhardistante. O fato de Saskia ficar com

  • ela at o dia anterior far toda adiferena.

    O ressentimento que Ailsa sentia porJake no ter trazido a filha de volta sedissipou. Ela no suportava a ideia dacarinhosa e delicada Tilda Larsen passaro Natal sozinha, sem o homem queamara desde a infncia. De repente, elase sentiu feliz por Saskia ter ficado coma av.

    Voc vai passar o dia de Natal coma sua me?

    Esse era o plano... Se a era glacialpermitir.

    Ailsa sentiu a caixa pesar e colocou-ano cho. Quando ia levantar, viu umbrilho dourado entre os enfeites.

  • Acabara de encontrar o anjo para oqual Saskia fizera uma linda bata. Ela secomoveu e o mostrou a Jake.

    O querubim que fica no topo darvore. Na Dinamarca, vocs costumamcolocar uma estrela, mas aqui semprecolocamos um anjo. Saskia passou horasescolhendo o tecido da sua roupa. umpouco extravagante, eu sei... Mas Natal.

    Voc acha que a nossa menina extravagante? perguntou Jake comironia. Ela sorriu e deu de ombros.

    Ela muito feminina... Adora searrumar e gosta de coisas bonitas. Nose parece comigo quando criana. Euera um verdadeiro moleque. S ficava

  • feliz vestindo jeans e camiseta, cobertade lama do jardim, onde geralmente euestava estudando a populao deminhocas.

    E depois de estud-las, o que vocfazia?

    Eu as levava para casa, para mostrara todos, claro!

    Voc devia dar muito trabalho aquem cuidava de voc.

    Aos dirigentes do orfanato, vocquer dizer? Eu no devo ter sido fcilpara eles. Nunca fui do tipo de ficarsentada no canto. Estava sempreaprontando alguma coisa que nodevia... Uma verdadeira rebelde. Umavez, me escolheram para adoo, mas

  • eu sempre fugia. As pessoas que meadotaram eram boas e carinhosas, maseu j estava to acostumada com oorfanato que continuava tentando fugirde casa. No fim, eles decidiram que nosabiam como lidar com uma garota querejeitava todo o amor que tinham paralhe dar.

    Jake ficou calado e colocou a mo nopeito. Ailsa enrolou o dedo em umcacho de cabelos e o encarou. Era comomergulhar em um profundo lago azul.

    Com isso, foi difcil encontrar maisalgum que quisesse me adotar. Eu eraindomvel, no a garota doce emalevel que todos queriam que eufosse.

  • Voc parece ter muita raivacontida... De acordo com ascircunstncias, compreensvel.

    Quem sabe? Isso passado, no ? Sim. passado. Voc quer que eu

    coloque o querubim no topo da rvore? perguntou ele.

    Sim, por favor.Ele era alto o bastante para no

    precisar de uma cadeira em que subir.Quando se esticou, o suter e acamiseta se colaram ao seu tronco. Ailsaengoliu em seco. Jake sempre secuidara, mas estava mais firme e forteque nunca. Ela sufocou um gemido.Ainda sentia o seu gosto nos lbios, naboca... A lembrana do beijo a

  • perseguia. De repente, todo o seu corpoficara em alerta. Quando Jake se voltou,ela disfarou.

    Est timo. Perfeito. Saskia vaiadorar.

    H algo mais em que eu possaajud-la?

    No. Acho que no. Que tal pendurar algumas luzes na

    frente da casa? Ns sempre fazamosisso. Lembra?

    A lembrana foi to doce que osolhos dela se encheram de lgrimas.Para disfarar, Ailsa pegou a caixa deenfeites e se dirigiu porta, mas,percebendo que se afastava delenovamente, ela se voltou.

  • Eu me lembro. Mas l fora estgelado. Voc realmente est querendofazer isso?

    Acho que seria uma bela surpresapara Saskia, voc no acha?

    Isso foi o bastante para Ailsa aprovara ideia. Jake sempre fizera questo deenfeitar a casa pessoalmente.

    Eu vou at o atelier para pegar maislmpadas.

    No, fique aqui. Diga-me onde elasesto, e eu vou peg-las.

    Ailsa ainda estava segurando a caixade papelo. Quando Jake parou diantedela e sorriu, ela ficou to perturbadaque soltou a caixa e o seu contedo se

  • espalhou pelo cho, formando umcaleidoscpio de cores.

    Como sou desajeitada! exclamou,abaixando-se para recolher os enfeites.

    No diga isso. Ele a ajudou alevantar. As mos de Jake pareciamqueimar seus braos, mas Ailsa estavato fascinada com a sua proximidade ecom o que via em seus brilhantes olhosazuis que no conseguiu se soltar...

  • CAPTULO 5

    VOC linda e graciosa.Como os dois estavam em guerra h

    tanto tempo, foi difcil para ela aceitar oelogio.

    No me diga palavras amveis. Por que no? Ele ficou

    perturbado ao ver que ela estava com osolhos midos.

    Porque, se voc for amvel comigo,eu no posso ficar zangada sussurrou

  • ela, desesperada.Quase sem perceber, ela se

    aproximara de Jake. E jamais iria saberquem fez o primeiro movimentoporque, assim que seus lbios seencontraram, Ailsa se sentiu perdida...Envolvida em um turbilho do qual notinha vontade de sair. No tinha dvidasobre se deixar levar pelo desejo.Beijou-o com o mesmo ardor com queele a beijava. Abraou-o pela cintura eficou intimamente deliciada ao sentirsua poderosa ereo, o seu calor. Talvezfosse disso que ela mais sentira falta.

    Jake recuperou a sanidade antesdela.

    Se no pararmos agora, voc sabe

  • Se no pararmos agora, voc sabecomo isso vai terminar, no sabe? Estpronta para isso, Ailsa? isso que vocquer?

    Ela no queria que ele tivesse lheperguntado. Se tivesse continuado abeij-la, ela estaria muito fraca dedesejo para dizer alguma coisa e sedeixaria ser seduzida por ele. Mas Jakelhe dera uma escolha e, agora, teria queagir de acordo com a razo.

    Sinto muito murmurou elaenvergonhada, afastando-se dos braosdele. Foi um momento de fraqueza.

    O que existe entre ns nunca foifraco ou desapaixonado. Sempre foiuma tempestade eltrica. Pelo visto, as

  • coisas no mudaram tanto comopensvamos.

    No posso negar. Ela estava tristepor Jake ter parado de beij-la e peloacidente que destrura as esperanasdos dois e os separara. Queria encontrarum jeito de se livrar da tristeza, masno conseguia. Mas eu sei que, secedermos, vamos satisfazer um impulsomomentneo que no ir consertar asituao. Ns construmos vidasseparadas que podem no ser perfeitas,mas que impedem que nos acusemosmutuamente pelo que aconteceu e queestejamos sempre ressentidos. No final,ns ramos to cruis um com o outroque era triste. Aumentamos o nosso

  • sofrimento fazendo com que ambos nossentssemos culpados. Pelo menos,agora, ns e Saskia temos paz.

    Paz? assim que voc chama? perguntou ele com desdm. Alembrana do acidente me persegue diae noite como um bando de lobosraivosos. O que quer que eu faa, aondequer que eu v, nunca me livro daagonia. Fico feliz por voc algumasvezes se sentir em paz, Ailsa, mas eununca me sinto... Eu ia colocar asluzes... Vou pegar as lmpadas.

    Ele saiu antes que ela pudesse dizeralgo.

    AILSA COLOCOU mais uma acha de

  • AILSA COLOCOU mais uma acha demacieira no aquecedor a lenha epercebeu que fazia muito tempo queJake estava l fora. Mais cedo,lembrando-se de que ele no bebiamais lcool, ela lhe levara uma canecade vinho quente sem lcool. Ainda emcima da escada, ele pegara a caneca,agradecera, bebera e recomeara atrabalhar. O abismo de tenso e demgoa entre eles era como uma lasca degelo encravada em seu corao.Quando o tempo permitisse que elevoltasse para casa, esse abismo estariamais aprofundado? Preocupada com osefeitos que isso poderia causar na filha,ela concluiu que eles precisavam dar

  • um jeito de fazer as pazes e foi para acozinha. Quando chegou, Jake estavaentrando pela porta dos fundos.

    Terminei. Voc gostaria de daruma olhada?

    O brilho nos olhos dele deixou-a semfala. Era muito fcil entrar em transe aoolhar para ele.

    Espere um minuto. Vou pegar omeu casaco.

    Na frente da casa, as luzes brancasformavam arcos concntricos como umcolar de diamantes. Ainda que ela fosseboa em artesanato e tivesse olho para aarte, nunca teria feito algo to bonito.Estava comovida por Jake ter se dadotanto trabalho em um tempo frio como

  • aquele, mas reparou como o ventodeixara o seu rosto vermelho e ficoupreocupada.

    Voc fez um excelente trabalho.Saskia vai ficar encantada.

    Vai ficar ainda mais bonito quandoestiver aceso.

    Sim, mas agora voc precisa entrare se aquecer. Parece estar congelado.Est com fome? Eu vou fazersanduches e caf.

    Isso me parece timo.Jake tirou as botas e o casaco e

    esfregou as mos geladas para reativar acirculao. No se lembrava de j tersentido tanto frio, mas o trabalho valeraa pena, quando percebera o entusiasmo

  • na voz de Ailsa ao imaginar a alegria dafilha.

    Ele sentia falta da sua garotinha...Tudo que queria era v-la abrir ospresentes de Natal e abra-la.Infelizmente, isso seria impossvelporque ela estaria na Inglaterra, e ele,em Copenhagen. Durante os ltimosquatro anos, passara o Natal sozinho,recusando at os convites da me paraque passasse as festas com ela e seu pai.A relao entre pai e filho se tornaracada vez mais tensa desde que Jakequisera introduzir inovaes naempresa. Em vez de ficar satisfeito comas ideias do filho, seu pai as encararacomo uma tentativa de usurp-lo. No

  • importava o que fizesse, Jake nuncaconseguia a sua aprovao.

    Jake suspirou. Saskia passar o Natalcom Ailsa j virara tradio, e ele noreclamava disso por causa da culpa quesentia dos seus erros do passado. Se nopodia estar com a filha, preferia ficarsozinho.

    Ele entrou na cozinha e encontrouAilsa cantarolando uma cano deNatal, enquanto cortava o po. Derepente, percebeu que no era s com afilha que gostaria de passar o dia deNatal. Sabendo que a ideia aumentariaa dor de cabea que sempre sentia, Jakepreferiu esquec-la.

    Eu fao o caf, tudo bem?

  • Voc faz?Ela deu um sorriso que quase o

    derrubou. Apesar de ter passado horasno frio, o corpo de Jake sentiu um calorque seria capaz de incendiar umafloresta... Abra-la e fazer amor comela uma ltima vez...

    Jake? Voc est bem? Pergunta capciosa... Ele riu e foi

    acender o fogo da chaleira. Ondevoc guarda o caf?

    Eu comprei caf colombiano.Gostaria de experimentar? Est norecipiente de porcelana que a sua meme deu no nosso primeiro Natal juntos.

    Ele abriu o recipiente e apreciou ocheiro do caf.

  • Voc me acompanha ou preferetomar o costumeiro ch?

    Vou tomar uma xcara de caf comvoc. Use o bule maior se quiser.

    Vai romper sua rotina?Ela parou de passar a manteiga no

    po. Gosto de tomar caf, de vez em

    quando. Voc faz com que eu pareaser totalmente previsvel.

    Jake sorriu. Eu jamais poderia acus-la de ser

    previsvel. Na verdade, a suaimprevisibilidade me manteve semprealerta durante o nosso casamento.

    Isso faz com que eu no parea serconfivel. Por que eu o deixava alerta?

  • perguntou ela, irritada. No que voc no fosse confivel,

    mas dizia que iria fazer uma coisa e,logo em seguida, mudava de ideia.Precisamos entrar em detalhes? Elemediu cuidadosamente duas colheresde caf. No suficiente que eu tenhaficado fascinado com a suapersonalidade aventureira? Eu noestava reclamando.

    Ento, tudo bem. Ela voltou aossanduches.

    Jake no sabia por que, mas ficaraanimado por Ailsa se importar com oque ele achava dela. Poderia estar seagarrando a fiapos, mas no importava.

    Enquanto ele preparava o caf, ela

  • Enquanto ele preparava o caf, elaacabou de fazer os sanduches e sentou-se mesa.

    Venha comer.Quando ele por fim se sentou diante

    dela, apoiou os cotovelos na mesa ecruzou as mos, sem tocar no caf ouna comida. Preferia contemplar aslindas feies de Ailsa. E, toda vez queela olhava para ele, Jake sentia ocorao dar um salto dentro do peito.

    Voc est a quilmetros dedistncia. Em que est pensando? perguntou ela.

    Jake se lembrou de que ela semprelhe fazia aquela pergunta. Geralmente,ele estava pensando nela. Em como ela

  • era adorvel e ele tinha sorte por t-laconhecido e casado com ela. Era umapena que nunca tivesse dito isso em vozalta. Principalmente porque agora elesabia que Ailsa nunca se sentira boa obastante.

    Eu estava pensando no quantoSaskia se parece com voc Jake ele.No era totalmente mentira, porque eles vezes ficava comovido ao ver a filhasorrir, lembrando-o de Ailsa...

    Ela tem os seus incrveis olhos comentou ela, estremecendo.

    A temperatura de Jake subiurapidamente.

    De onde eu venho, olhos azuis somuito comuns.

  • Mas existem vrios tons de azul...O azul dos seus particularmenteincomum. O tom igual ao do cu aoanoitecer.

    Os olhares dos dois se cruzaram e seprenderam com uma nsia quemiraculosamente no fora enterradasob as cinzas do passado. Jake tinhamedo de resp