ESQUERDA · de força”, os serviços ... explica-nos que a nossa “compaixão é um instrumento...

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Nº 12 | 50 CÊNTIMOS | AGOSTO 2006 MENSAL | JORNAL DO BLOCO DE ESQUERDA ES Q UERDA MÉDIO ORIENTE GUERRA E BOMBARDEAMENTOS AT É QUANDO? EPA/WAEL HAMZEH

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Nº 12 | 50 CÊNTIMOS | AGOSTO 2006 MENSAL | JORNAL DO BLOCO DE ESQUERDA

ESQUERDA

MÉDIO ORIENTEGUERRA E BOMBARDEAMENTOS

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Quase um mês após a entrada dos tanques de Israel em Gaza e ao décimo dia de combates no Líbano,

contabilizam-se mortos e feri-dos. Respectivamente 300 e mil, do lado libanês; 100 e 400, em Gaza; e ainda 28 e uma centena, em Israel. Não há mortes boas. Mas as diferenças falam do preço que cada povo está a pagar e da diferença de meios militares de cada um. Aos mortos e feridos seguem-se os deslocados. Mas também aqui o drama ilude: meio milhão no Líbano e outro tanto em Israel. Mas nenhum em Gaza, porque de Gaza, a prisão, não se sai nem se entra.

As imagens televisivas fixam o resto, algo do que não se conta-biliza – a dor dos vivos, o medo, a raiva ou o desespero. Registam ainda a destruição – em Israel, algumas casas; no Líbano e na Palestina, a destruição de todos os serviços públicos e principais vias de comunicação. Ao déci-mo dia de combates, sabe-se que a resistência libanesa ain-da se bate. É ela o David que afronta, sem aviões, barcos ou artilharia digna desse nome, um dos mais poderosos exércitos do planeta – e seguramente dos mais eficazes. E ao décimo dia de combates, Gaza e a Cisjordâ-nia, onde tudo começou e onde tudo ainda continua, passaram

a notas de rodapé dos serviços noticiosos.

CACOFONIA OCIDENTALAo décimo dia de combates, a

confusão grassa na Comunidade Internacional, contrariando o una-nimismo dos primeiros dias, onde, a uma só voz, se responsabiliza-vam Hamas e Hezzbolah pela cri-se. Kofi Annan anuncia um plano de paz, mas este não se ouve entre bombas. Condolezza Rice refreou de imediato os ímpetos do secretá-rio geral das Nações Unidas: “um cessar fogo é uma falsa promessa se apenas for um regresso ao status quo”. Os EUA continuam, assim, a dar tempo para Israel cumprir os seus objectivos no terreno. Na

Esta análise foi escrita ao décimo dia de guerra, quando os tanques israelitas se concentravam junto à fronteira do Sul do Líbano e Condolezza Rice anunciava que o cessar fogo demoraria o tempo que fosse preciso... As cartas e os planos estão lançados. Mas eles dão por adquirida a derrota das resistências. TEXTO DE MIGUEL PORTAS

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Europa, é o habitual: a presidên-cia finlandesa condena o “excesso de força”, os serviços secretos ale-mães procuram uma solução para os sequestros e comissários voam de cidade em cidade, ajustando o seu tom ao destinatário de oca-sião. Neste particular, a excepção foi Javier Solana que, escapando às suas primeiras declarações, declarou em Telavive “não com-preender o que a morte de civis e a destruição de infrasestruturas tem a ver com o combate ao He-zzbolah”. Mas a excepção apenas confirma a regra. Durante dias e dias, o governo suíço – que não integra a UE – esteve isolado na sua crítica a Israel. Só ao oitavo dia, o governo espanhol decidiu distanciar-se do cinismo domi-nante, provocando mal disfar-çados embaraços em Bruxelas. Quanto a Durão Barroso explicou em entrevista “que nada se pode fazer do exterior, se as partes beli-gerantes não tiverem vontade”.

No início da crise, ainda em Junho, o Quarteto que segue o conflito israelo palestiniano (EUA, Rússia, ONU e União Europeia) seguia a marcação de

Washington: “Israel tem direito à auto-defesa” e ponto. Os palesti-nianos sufocaram em Gaza, sem qualquer sinal de pressão externa sobre Israel. A unanimidade só se começa a quebrar quando Telavi-ve decide “fazer recuar o Líbano 50 anos”, para usar as palavras do primeiro-ministro libanês, de res-to subtraídas a declarações guer-reiras do chefe do Estado Maior de Israel. Mas, apesar das mu-danças, Washington continuou a determinar os limites de cada palavra oficial. O máximo que a Rússia, anfitriã do G8, conseguiu desse conclave, foi a inclusão de um apelo à “auto-contenção” na condução da guerra. Na ONU, o veto norte-americano continuou a prevalecer. Washington só vai querer um cessar fogo quando o Tsahal for dono e senhor do Sul do Líbano.

DERRUBAR O HAMAS...Nesta guerra, só por gentileza

se pode falar de “uso despropor-cionado da força”. Do mesmo modo, não se pode dizer que a Comunidade Internacional seja “impotente” ou “ineficaz”. Isso iliba-a de responsabilidades que, não sendo de hoje, se agravaram extraordinariamente desde o mo-mento em que as eleições palesti-nianas deram a vitória ao Hamas. À uma, todos os observadores reconheceram que a consulta de janeiro deste ano foi a mais de-mocrática até hoje realizada no mundo árabe. Contudo, o “pré-mio” dos EUA para este exemplo, foi o bloqueio económico e po-lítico a Ramallah. Bruxelas deci-diu acompanhar Washington. E o Egipto e a Jordânia atrelaram à Europa. Em consequência, a situ-ação social na Palestina ocupada deteriorou-se a olhos vistos. De acordo com o Banco Mundial, 67 por cento dos palestinianos sobrevivem abaixo da linha de pobreza. E a OIT estima que 41 por cento da população activa es-teja no desemprego. Mas isto são dados anteriores ao bloqueio.

No plano político, a confli-tualidade entre Hamas e Fatah acentuou-se. Nesse braço de fer-ro valeu quase tudo, até greves e protestos salariais contra um governo que não tinha meios nem poder para pagar salários. O bloqueio, castigando o voto pa-lestiniano, colocou o país à beira da guerra civil. Este era um dos dois cenários esperados: queda do Hamas ou guerra civil. É este o contexto que leva ainda os EUA, com a cumplicidade de Israel, a apostar na criação de uma guarda palestiniana bem armada na in-teira dependência do presidente Abou Mazen.

Insuspeito de simpatias po-líticas com o Hamas, devo re-conhecer o seu sangue frio. O movimento islâmico manteve ininterruptamente, durante 16 meses, uma trégua armada sem quebras de disciplina. Nem um dos 600 morteiros Qassam que caíram em Israel desde a retirada unilateral, se lhe podem atribuir. Após as eleições, foi o Hamas quem insistiu num governo de

“unidade nacional”, que a Fatah rejeitou. E, logo a seguir, aguen-tou, sem pestanejar, o esvazia-mento sistemático de funções de quase todos os ministérios, sob o argumento destes não terem dinheiro. Nesta dura batalha de posições, foi ainda o movimento islâmico que controlou a sua base de apoio quando, por todo o Mé-dio Oriente, as opiniões públicas foram incendiadas pela chamada crise dos cartoons. O novo gover-no só não aceitou o monopólio da força armada pela Autoridade Palestiniana. Compreende-se. Esse monopólio dificilmente se-ria encontrado sem um sangrento ajuste de contas, com Israel a rir-se para lá do muro.

RECIPROCIDADE E UNILATERALISMO

A principal condição para o fim do bloqueio era o reconhecimen-to de Israel pelo Hamas. A alega-da “objecção de consciência” dos islamitas é uma das histórias mais mal contadas desta crise. É ver-dade que o Hamas, como muitos outros movimentos palestinia-nos, nunca “engoliu” a criação de Israel. Os ecos dessa posição encontram-se nos documentos fundadores do movimento e em múltiplas declarações dos seus dirigentes. Mas o que Israel, os EUA e a UE não dizem é que o ca-minho para esse reconhecimento foi cuidadosamente iniciado, há anos, pelo próprio chefe histó-rico do Hamas, o xeique Yasim. As principais declarações dos di-rigentes do Hamas começaram, desde então, a ir nesse sentido. Numa entrevista ao Washington Post, de 26 de Fevereiro deste ano, o primeiro ministro palesti-niano clarifica, sem ambiguidade, a política actual do movimento islâmico:

— que género de acordo está disposto a aceitar?— O que garanta a criação de um Estado Palestiniano tendo por ca-pital Jerusalém e no interior das fronteiras de 67.— Reconhece Israel?— Se Israel declarar que dará um Estado aos palestinianos e que lhes restituirá todos os seus di-reitos, então estaremos prontos a reconhecê-lo.

Neste breve diálogo, Ismail Ha-niyyeh aceita um Estado Palesti-niano nas fronteiras anteriores à guerra de 1967 – e dispõe-se a reconhecer Israel para lá dessa linha de fogo. Sucede que Israel nunca admitiu a fixação dessa fronteira. O que separa o Hamas dos partidos laicos não é direito à existência de Israel, mas uma exigência de reciprocidade no reconhecimento. Convenhamos que não escasseiam argumentos em favor desta posição. Desde os acordos de Oslo que os diri-gentes palestinianos são asso-lados por uma tragédia – fazem sempre mais e mais concessões em troca de nada. Sobra ainda o problema da boa fé negocial entre as partes. Em Maio deste ano, o primeiro-ministro Ehud Olmert

O PROTECTORADO QUE SE SEGUE...

NUNO RAMOS DE ALMEIDAEDITORIAL

MASSACRES QUE LAVAM MAIS BRANCOAFINAL, nenhum civil palestiniano foi morto pelos israelitas e a culpa do bombardeamento de Qana foi do Hezbollah!

O poupado director de um jornal português, que costuma viajar à custa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, revelou que o exército israelita costuma avisar por telefone os sítios que bombardeia. Está provado que a responsabilidade do sucedido recai sobre o Hezbollah que não pagou a conta do telefone e dizem fontes geralmente bem informadas que usa Skype. No Público ficamos a saber que a emoção nos tolda o entendimento. É óbvio, quem considera inadmissível o massacre de crianças é porque esconde um terrorista dentro. A incansável Esther Muznic explica-nos que a nossa “compaixão é um instrumento de ódio”. A guerra é desigual, embora Israel tenha um armamento muito sofisticado, nenhum país “civilizado” poderá vencer o Hezbollah por causa da sua arma secreta – “o desprezo pela vida humana”. Sábias palavras! Ficamos a perceber que as centenas de mortos civis em Gaza e os 800 mortos no Líbano, só neste último mês, significam o profundo respeito pela vida humana do Estado de Israel. Certamente que há dezenas de anos matam palestinianos por amor, e o Supremo Tribunal de Justiça aprova o direito das autoridades torturarem suspeitos por caridade. No mesmo diário, o director confirma a cronista, dizendo que Israel está em desvantagem nesta guerra, porque os terroristas querem provocar as emoções e manipular a opinião pública. E apesar de estarmos num país em que a quase totalidade dos jornais, os seus donos e os comentadores são favoráveis a Israel, os pobres portugueses continuam a revolver-se quando vêem uma criança morta. Tenhamos esperança que, com tanto editorial esclarecido, alguém conseguirá separar a razão da emoção, tenhamos coragem de perceber que há massacres bons!

Basta ler as notícias do Público. Segundo o seu director, soube-se, antes da destruição do posto da ONU, que um dos militares das Nações Unidas tinha denunciado que a base estava a ser usada como escudo pelo Hezbollah. Como tal, justificavam-se os vários mísseis com que os militares da ONU foram mortos. É preciso dizer que essa conveniente notícia tem como base uma coluna de opinião de um ex-militar do Canadá: o bravo general conseguiu suspender a emoção e ler num e-mail de um militar da ONU que, devido à situação de guerra, não saíam da base e estavam a ser bombardeados por Israel. O óbvio: a culpa é do Hezbollah! Tirando o Público, um jornal israelita e o jornal do general, infelizmente nenhum órgão de comunicação social de referência pegou no assunto. É sabido que a BBC, a CNN, o Le Monde, o El Pais, o New York Times, o Washignton Post e até o insuspeito israelita Haaretz estão a soldo do Hezbollah. Outros colaboradores do terrorismo, cegos à evidência, garantem que estes jornais costumam cometer o crime de confirmar primeiro os factos, tentam colocar o jornalismo acima da agenda política dos seus directores e nunca publicam na integra os e-mails da Mossad.

Mas o mundo vai mal, até a mulher do militar da ONU morto é cúmplice do Hezbollah. Recusou acreditar na notícia do Público e teve o desplante de dizer que Israel procedeu mal em ter assassinado o seu marido e os outros observadores da ONU.

Infelizmente, por muito que José Manuel Fernandes e Esther Muznik trabalhem para nos iluminar o espírito, para muitas pessoas o assassínio premeditado de civis, o ataque a ambulâncias, o bombardeamento de colunas humanitárias e a destruição de bases da ONU são crimes de guerra. Ora bolas, não podemos pedir aos israelitas que os libertem das emoções com uma salva de mísseis israelitas de fabrico norte-americano?

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abriu o seu coração aos congres-sistas norte-americanos: “sempre pensei, e ainda hoje disso estou convencido, que o nosso povo tem o direito eterno e histórico a possuir a totalidade deste país”. Olmert referia-se explicitamente às terras conquistadas na guerra de 67. Ou seja, às terras demarca-das pelo muro e aos 300 colonatos instalados na Cisjordânia. O que os media não relataram durante a operação de retirada de Gaza é que, enquanto ela decorria, Ariel Sharom dava luz verde a novos colonatos na Cisjordânia...

Entenda-se agora a difícil posi-ção de Abu Mazen. Por um lado, ele encontra-se emparedado entre a vitória do Hamas e o bloqueio externo. Por outro lado, dois fac-tores de ordem económica passa-ram a condicionar o dia a dia da palestina ocupada: os fundos in-ternacionais passaram a chegar a conta gotas, condicionados a usos precisos; e o dinheiro dos impos-tos colectados na Palestina por Is-rael – que, por acordo, lhe são de-vidos – deixaram de ser entregues. É este o contexto em que Abu Ma-zen exige do Hamas a subscrição do “documento dos prisioneiros”, sob pena de realização de um refe-rendo. O “documento dos prisio-neiros” reconhece implicitamente Israel e auto-limita a luta armada aos territórios ocupados. Esta ini-ciativa do mais popular dirigente da Fatah, Marwan Barghouti, foi

assinado pelos principais dirigen-tes prisionais do Hamas, da Jihad Islâmica, e ainda da FPLP e da FDLP. O texto tinha a autoridade dos heróis e amplo apoio popu-lar entre uma população esgotada pelo bloqueio e cansada do caos em que se estava a transformar a luta política palestiniana. O presi-dente, consciente deste facto, “es-ticou a corda”, esperando forçar o Hamas a abandonar a sua táctica de reciprocidade face a Israel e, em consequência, retirar à Euro-pa o seu argumento formal para o bloqueio. Em fins de Junho, a jo-gada surtiu efeito. O Hamas cede, obtendo em troca da Fatah a sua disponibilidade para a participa-ção no governo. É aqui – e não no rapto do soldado Gilad Shavit – que se encontra a verdadeira causa da reentrada em Gaza. Os resultados esperados do bloqueio não se concretizavam e o Quarteto ficava sem argumentos para man-ter a Palestina de quarentena.

O PRETEXTO GILAD SHAVITO rapto do soldado israelita

surge, assim, como uma dádiva dos céus para o novo governo de Telaviv, que não deixa escapar a oportunidade. Pouco importa que Gilad Shavit fosse um soldado e não um civil. Ou que dias antes uma vedeta israelita tivesse assas-sinado 8 membros de uma família, crianças incluídas, numa praia de Gaza, o que levou o Hamas a inter-

romper as tréguas. Porque cedeu o Hamas à provocação israelita? Pelas mesmas razões porque Ara-fat e Marwan Barghouti, uns anos antes, acabaram por ter duas polí-ticas face à militarização da segun-da intifada. Eles sabiam que atirar umas morteiradas artesanais para o outro lado não tinha qualquer efeito prático a não ser aumentar a coesão nacional de Israel em redor dos seus chefes militares. E que os homens bomba, além de exaspera-rem a população israelita, aumen-tavam o isolamento internacional da causa palestiniana. Mas, por outro lado, tinham de responder a um povo – o seu – cansado da ausência de resultados dos acor-dos com Israel.

Um analista do insuspeito Crisis Group, Monin Rabanni, sintetiza-va, em Janeiro deste ano, o dilema do Hamas na óptica da Comu-nidade Internacional e de Israel: “assim como seria naífe tomar as recentes declarações dos dirigen-tes do Hamas como dinheiro con-tado, do mesmo modo será uma loucura não os meter à prova”. Is-rael não quis seguir a recomenda-ção e por à prova as intenções de Ismail Haniyyeh. Tem razão o pri-meiro-ministro palestiniano quan-do em 11 de Julho, denunciava no Washington Post “cinco meses de guerra económica e diplomática” e explicava como “o soldado rap-tado foi apenas um pretexto para uma acção prevista há meses”.

O cortejo de destruição que se seguiu é história conhecida. Em 48 horas, a resposta ao sequestro foi o rapto de 64 dirigentes do Hamas, entre os quais 8 membros do governo e 21 deputados; uma tentativa de assassinato do pri-meiro-ministro; e a reentrada em Gaza, onde as mortes se elevam a uma centena e a população foi condenada a viver com duas a três horas de água por dia e seis a oito de electricidade. Não é a primeira vez. E Telavive sabe que não será a última porque o real objectivo não é “acabar com o terrorismo”, mas deixar a Palestina sem interlo-cutor. Israel dispensa interlocutor porque não quer negociar a terra que conquistou pelas armas, nem os colonatos e os pedaços de muro que aí colocou. Israel não abdica de marcar as fronteiras a seu gos-to – e é este o fundo do presente conflito.

... E DESARMAR O HEZZBOLAH

Estava Gaza em sufoco quan-do na fronteira israelo-libanesa o Hezzbolah sequestra dois outros soldados israelitas. Na opinião pública árabe, o gesto foi aplau-dido. Alguém tinha a coragem de aliviar a pressão sobre a Palestina e colocar noutro patamar a nego-ciação para a troca de prisioneiros. O método tinha resultado antes. 420 libaneses e palestinianos fo-ram, em 2004, trocados por três

corpos, um empresário e um co-ronel. Talvez esta operação per-mitisse libertar alguns dos dez mil palestinianos e libaneses ainda presos. A Amnistia Internacional tem denunciado a situação destes detidos: e alguns estão atrás das grades desde os anos 70 e 900 encontram-se sem julgamento, entre os quais quase 400 adoles-centes...

A imprensa internacional deu por adquirido que o rapto se fize-ra em Israel. É tão possível como a versão contrária, segundo a qual os confrontos ocorreram em Ait Al Chaab, do lado libanês da “linha azul”. Mas também não é relevan-te. Ao longo dos 160 Km da fron-teira, monitorizada por um Peace Corps de dois mil capacetes azuis, as violações são normais. Desde 2000 - o ano em que Israel, sem honra nem glória, se retirou do Sul do Líbano - cada lado lembra ao outro que existe. Convém per-ceber: Israel ocupou, na guerra de 67, uma língua de terra - as quin-tas de Chebaa -, que os libaneses reclamam sua e que as Nações Unidas atribuem à Síria. Em 68, bombardeou pela primeira vez o aeroporto internacional de Bei-rute. Dez anos mais tarde, entra pelo Sul do Líbano e, em 1982, ocupa metade do país. O seu re-cuo inicia-se em 1985, mas só em 2000 Israel sai do país, embora mantendo o controlo das quintas de Chebaa.

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Noutras circunstâncias, o epi-sódio do sequestro teria sido apenas mais um. Como passou despercebida a responsabilidade da Mossad no assassinato de dois jihadistas, no passado dia 26 de Maio, comprovada pelo respon-sável da rede terrorista em ques-tão, entretanto detido pelo exér-cito libanês. Mas desta vez, não. Israel decidiu aproveitar, uma vez mais, a oportunidade.

A retaliação fez-se com inaudi-ta brutalidade. Podem discutir-se as intenções do Hezzbolah com a sua acção de comandos. É pouco crível que Teerão e Damasco não tivessem sido previamente infor-madas de uma acção que, como reconheceu Nasralah, há longo tempo estava a ser preparada. Pode ser que a pressão externa e interna para o seu desarmamento induzisse a uma prova de força. E pode ser ainda que tenha existido um erro de cálculo, como admi-tia recentemente George Corm numa entrevista ao Público. Seja como for, é a resposta do Tsahal que coloca, essa sim, toda a po-pulação libanesa na condição de refém. A destruição sistemática das infraestruturas públicas e económicas do Líbano, em ple-na estação estival, encontra-se para lá de qualquer “retaliação” contra o Hezzbolah. Os alvos dos primeiros bombardeamentos não deixaram qualquer margem à mediação e forçaram o movimen-

to xiita – fosse ou não essa a sua intenção - à “guerra total”. Quan-do Nasrallah vai à televisão dizer que “a partir de agora as nossas casas não serão as únicas a serem destruídas e as nossas crianças as únicas a morrer”, já o lastro des-truição criara a inevitabilidade do que se seguiria.

A CATÁSTROFE ANUNCIADAA Comunidade Internacional

tem pesadas responsabilidades neste trágico desenvolvimento. Estados Unidos e França acorda-ram, ainda em 2004, na sequên-cia do assassinato do primeiro ministro do Líbano, Rafic Hariri, que era chegado o momento de por cobro ao protectorado sírio sobre o Líbano. Atribuindo a res-ponsabilidade do acto a Damasco, fazem votar no Conselho de Se-gurança a resolução 1559 onde, para lá da retirada síria, se exige o desarmamento do Hezzbolah. O país dos cedros entra em ebu-lição. Gigantescas manifestações anti e pró sirias realizam-se em Março de 2005, antes da inevitá-vel retirada. Mas, ao contrário do que desejariam Israel, os EUA e a França - que ambiciona substituir a Síria - a questão das armas do Hezzbolah manteve-se um assun-to interno aos libaneses.

O prestígio interno do Hezzbo-lah e do seu líder, ultrapassa lar-gamente a comunidade xiita. Esse prestígio não decorre da obediên-cia a Teerão, mas da autoridade conquistada na luta contra a ocu-pação e no modo como adminis-tra os territórios onde é maioria. Dizer que Nasrallah é um mero instrumento de Teerão é o mesmo que caricaturar Álvaro Cunhal como “agente soviético”. O Hezz-bollah encontra-se em plena mu-tação. Fundado sob inspiração da revolução iraniana de 1979, o movimento cresceu fazendo polí-tica. Afirmou-se como referência nacional num país onde todos os partidos relevantes apenas tratam de negócios e favores inter-comu-nitários à custa do erário público. Tive a oportunidade de visitar as cidades do Sul do Líbano e falar com pessoas de diferentes qua-drantes políticos e religiosos. O Hezzbolah mantém alianças não apenas com o movimento Amal (também xiita) mas também com maronitas e sunitas. As suas lis-tas incluem mulheres laicas e sem lenço em lugar elegível. A igreja mantém redes sociais e as suas escolas, maioritariamente para muçulmanos, têm turmas mis-tas. Nelas não se ensina religião, assunto que fica para as igrejas, as madrassas e as mesquitas... Nin-guém pode garantir que este seja o futuro modelo de sociedade do Hezzbollah. Mas tapar os olhos à realidade só se pode justificar por más razões.

Em 2005, o Hezzbollah deu mais um passo – entrou para o governo. Em 2006 assumiu um processo de “diálogo nacional” onde as suas armas constavam da agenda e selou um acordo com o maior partido cristão, o do ge-neral Aoun, para garantir que os assuntos libaneses ficassem entre

libaneses. Política, portanto.

UM PAÍS SEM EXÉRCITO. MAS RESISTENTE

Estranha-se o facto de um país fortemente armado – Israel - ata-car um país sem exército que se veja. O segundo facto tem expli-cação: o país nunca teve exército digno desse nome e 14 anos de guerra civil, onde todos foram contra todos, liquidou o que dele ainda pudesse existir. Quando a Paz é restabelecida, no fim dos anos oitenta, e os Estados Unidos e a França entregam o Líbano à Síria em troca do seu alinhamen-to contra Saddam Hussein na guerra do Koweit, a ninguém in-teressa um exército libanês. Não interessa ao Protectorado, que preferia as suas próprias tropas no país; não interessa a Israel, porque sempre desejou um Lí-bano fraco; e não interessava aos EUA e à França e a nenhum dos outros países árabes, dado peso dos xiitas na sociedade libane-sa. A convergência externa tinha equivalente interno: os clãs que haviam feito a Paz preferiam os negócios à soberania nacional. O que restava de exército nacional era dirigido pelo general Aoun, homem conservador, mas com uma ideia de Nação. Ele pagou com o exílio a sua resistência a esta extraordinária confluência de interesses.

A inexistência de forças arma-das abriu caminho à “resistência nacional”. A solução agradava a Damasco, que podia usar o Hezz-bollah para guerras de atrito com Israel, sem se comprometer. Mas é evidente que, neste contexto, o desarmamento do movimento xiita é um processo longo e com-plexo. Boa parte dos seus com-batentes são civis armados, não são integráveis no exército. São combatentes por circunstância, não militares por vocação. E as comunidades sunita e cristã nun-ca aceitariam um exército de base xiita. Um pouco de inteligência e boa vontade ajudaria a resolver este problema: se Israel retirasse das Quintas de Shebaa, cairia o principal argumento que legiti-ma a resistência. Mas, já se per-cebeu, a boa vontade não grassa por aquelas bandas.

Israel preferiu atacar o país vizinho porque se sente cober-ta por uma resolução imbecil e criminosa das Nações Unidas. O desarmamento do Hezzbollah é o seu objectivo proclamado. Mal adquira uma posição de força no terreno, parará para dar lugar à diplomacia norte-americana. Esta exigirá das Nações Unidas o envio de uma força “multinacio-nal musculada” com o objectivo de concluir o trabalho iniciado pelo Tsahal. A França estará de acordo –receberá numa bande-ja o seu antigo Protectorado. Tudo se combina – até a sua embaixada em Beirute se situa no Palácio onde, em 1920, foi proclamada a independência vi-giada do Líbano... Os planos são simples. Bem mais difícil será enraizá-los num terreno repleto de resistentes.

POIS É | Miguel Portas

De pequenos nadas...

Regresso pela estrada de montanha por onde entrei, vindo de Damasco. A fron-teira ainda está aberta. Por poucos dias, aliás. O cenário é distinto do da chegada.

Descendo para o vale de Beckaa, novos camiões de alimentos jazem, calcinados, nas bermas. A caixa aberta de um, tem ainda os legumes à vista. Um pouco mais abaixo, uma jornalista da Al Jazzira faz o seu directo com uma vila por cenário. Também aí caíram os castigos do céu. Israel atacara pela manhã as encostas do vale.Em Beirute, não visitei o Sul da cidade. Não ve-ria por lá nada que as televisões não mostrem. Ao 15o dia de guerra, Hassam Hajj, deputado do He-zzbollah, estimava em duas centenas os edifícios destruídos nessa zona. Cinco mil famílias sem casa. Ou seja, 40 mil desalojados, uma gota mais de tragédia nos 750 mil que fugiram da guerra e se encontram espalhados pela Beirute poupada, e pelo centro e Norte do país. A maioria são crian-ças. Acotovelam-se em escolas, em casas desocu-padas, ou recebidos por famílias. Sabe-se hoje que isto é pouco comparado com o tormento dos que não conseguiram sair ou, pelos mais variados mo-tivos, não quiseram abandonar as suas terras. O massacre de Qana foi apenas o mais brutal. Não foi único, nem excepção. Não fui para Sul, mas falei com pessoas que aí conhecera, homens e mulheres que iniciaram as suas fugas ao quinto e sexto dias de guerra. Esti-ve também com os grupos de jovens que na Zico house se desdobravam em equipas de apoio hu-manitário. Entre todos e todas, recordo Fawaz Hanadi. Conhecia-a em Tiro, onde era vereado-ra, eleita como independente nas listas do He-zzbollah. Esta mulher, xiita e laica, que não usa lenço e veste à ocidental, dirigia um projecto de diálogo inter-comunitário. A sua história não per-tence aos catálogos e epítetos da “guerra contra o terrorismo”. Apenas a desmente. Como tantas outras. Agora em Beirute, depois de ter colocado avó e mãe em segurança, ela continua, apoiando clínicas móveis. Arranjou tempo para me agrade-cer. Não precisava. Neste reencontro, em que me perguntava que mal teria feito ao mundo por ser xiita, percebi o valor de uma visita, de uma pe-quena solidariedade. Para quem resiste e se sente abandonada por um mundo incapaz de travar a besta assassina, ajuda. Ajuda mesmo.

6 | ESQUERDA AGOSTO’06 | TIMOR-LESTE: HISTÓRIA DE UM GOLPE > > > > > > > > > > > > > > >

A Austrália, que conhe-ceu antes e reconhe-ceu depois a ocupa-ção de Timor pela Indonésia, procurou

beneficiar com a libertação dos timorenses. País “amigo” garan-tia a integração de Timor-leste na sua área de influência e lucrava com os seus recursos naturais.

Alkatiri era um obstáculo. Na-cionalista convicto, defendia du-ramente a independência do seu país e obrigou a Austrália a recuar no seu apetite de controlar to-talmente o petróleo e pagar uma pequena factura. Ainda mais com-plicado, Alkatiri era o líder indis-cutível da Fretilin, a força política mais reconhecida, mais implanta-da no terreno e que tem a esmaga-dora maioria dos deputados.

Não era fácil derrubar Alkatiri e a Fretilin. Já em Abril de 2005 as manifestações da Igreja cató-lica contra a decisão do governo de tornar facultativo o ensino da religião tinham-se transformado quase num motim, com feridos graves, destruições e ocupação das ruas durante vários dias, e a grande exigência era a demissão de Alkatiri. Então como agora o embaixador americano deu uma

ajudinha, em 2005 passeando-se pelas manifestações, agora reunin-do frequentemente com diversas figuras e indo até Ailéu para ter

um encontro muito especial com Reinado.

Aproveitaram bem as dificul-dades de um povo que a 48 anos

de fascismo juntou 25 de bárbara ocupação indonésia, um país mui-to atrasado e destruído e natural-mente os erros e os podres de um

governo bastante desigual e com muito limitada participação cívi-ca e democrática. Os desertores foram o pretexto, a propaganda e a arma de terror. O esquema do conflito étnico, que não é novo, foi explorado profundamente. Ra-mos Horta o homem que se espe-rava, sempre amigo dos “aussies” e com uma ambição que só pára na Secretaria-geral da ONU. O que faltava ver foi Xanana que assinou o golpe de Estado, da forma ridí-cula, absurda e cínica do envio de um vídeo australiano.

Alkatiri é agora acusado num processo que se encaminha para um imenso nojo. A direcção da Fretilin enfrenta em simultâneo e em perda três desafios: o processo jurídico, a concorrência dos ou-tros partidos e sobretudo aquilo em que australianos, Xanana e Horta parecem apostar, a divisão interna. No governo já está o anti-go embaixador nos EUA que per-deu o Congresso de Maio.

O povo timorense perdeu neste golpe, perdeu democracia, a luta pela independência e autonomia vai continuar. Em Portugal acabou o unanimismo, a análise de Timor pauta-se agora por critérios clássi-cos, a esquerda e a direita.

Bush “nomeou” John Howard “vice-xerife” para o Pacífico Sul e este tem levado a tarefa a peito. O primeiro-ministro da Austrália é um neoconservador, fiel discípulo de Bush, que procura consolidar a sua área de influência no sul da Ásia e no Pacífico Sul. Timor-leste está nessa área e é um país rico em recursos naturais, no petróleo do Mar de Timor e também na madeira. TEXTO DE CARLOS SANTOS

TIMOR-LESTE E A ÁREA DE DOMÍNIO DA AUSTRÁLIA

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O BLOCO foi o único partido a expressar dúvidas na ida da GNR para Timor em Maio passado, considerando que o cumprimento do acordo era difícil perante a crise institu-cional que se vivia em Timor Leste. Perante a evolução o Bloco considerou em 18 de Julho que a situação se alterou e não faz sentido a continua-ção da GNR em Timor. Não lhe compete envolver-se nas lutas políticas internas do país. Nem caucionar, com a sua presen-ça, o nascimento de um novo protectorado.O Bloco considerou ainda que a Austrália foi um factor decisi-vo da crise timorense. Atacou o governo da Fretilin porque este, independentemente de erros e das dificuldades que tenha sofrido, teve a coragem de resistir aos contratos petro-líferos leoninos que logo depois da independência beneficia-ram a Austrália. A não con-cessão de novos contratos de exploração às empresas aus-tralianas precedeu em poucos

dias o desencadear da crise e o desembarque das forças militares australianas que, de imediato, reclamaram o con-trolo indisputado do território. A Austrália empenhou-se na substituição do governo Alka-tiri e conseguiu-o com o apoio do seu principal aliado, Ramos Horta. Para o Bloco também a missão está esgotada com a inexis-tência de violência contra as populações neste momento. Podendo a segurança aos co-operantes portugueses ser as-segurada pelos GOE que estão ao serviço da embaixada.O governo português deve sim aumentar o apoio ao desenvol-vimento, à criação das condi-ções económicas e sociais para a autonomia, independência e soberania de Timor. Deve tam-bém desenvolver a cooperação em áreas chave para a melho-ria das condições de vida das populações e para a sua forma-ção. Deve ainda garantir toda a colaboração que seja útil para a realização das futuras eleições.

O primeiro ministro australiano foi a Dili saudar o primeiro-ministro saído do golpe, Ramos Horta

BLOCO CONSIDERA ESGOTADAS AS RAZÕES PARA A PRESENÇA DA GNR

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GLOBALJORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU

Walter Bayer, da Áustria, abriu a sessão relembran-do aos presentes que a construção

de uma nova esquerda na Europa depende de iniciativas deste tipo, que possam criar um pensamento crítico novo e actuante que sirva para construir uma outra Europa. Bayer elogiou as condições desta primeira experiência e agradeceu ao Bloco de Esquerda o empenho na organização deste evento.

Miguel Portas, deputado euro-

peu do BE, agradeceu o elogio e sublinhou que é preciso mais es-querda para a Europa, não só para lidar com os problemas sociais e económicos, como para construir uma política de paz a nível global. Portas alertou para a escalada cega que a situação no Médio Oriente conduz o planeta.

As duas conferências do primei-ro dia foram dedicadas à reinven-ção do Estado Social e à defesa dos serviços públicos europeus, direi-tos sociais e questões ambientais.

Yves Salesse, que liderou o

“Apelo dos 200” pelo “Não” da es-querda à Constituição Europeia, afirmou que mais do que rein-ventar o “Estado Social” é preciso reinventar a “transformação so-cial”. Qualquer defesa do Estado Social deve passar pela melhoria das condições de vida das pesso-as, pelo combate ao desemprego e pela afirmação da democracia. Sa-lesse relembrou que nos últimos 20 anos, só em França, a reparti-ção de rendimentos entre capital e trabalho significou um ganho de 10% por parte do capital. Esta

percentagem, disse, significa uma quantidade de dinheiro suficiente para investir nos necessários gas-tos públicos. No entanto, Salesse alertou: “embora a recuperação destes 10% não queira dizer uma revolução - o capital, em França, vivia feliz há 20 anos -, os capi-talistas não colaborarão nesta cor-recção. É preciso um verdadeiro empenhamento democrático e popular para se conseguir esta al-teração”.

Por seu lado, Robin Blackburn, académico e editor da revista New

Left, chamou a atenção para a ne-cessidade de se conseguirem im-portantes verbas para financiar as políticas sociais e desafios que se avizinham. Blackburn sublinhou o problema que o aquecimento global coloca à sobrevivência da humanidade e a necessidade de alterar profundamente o nosso modo de vida. No mesmo sentido, a deputada do Bloco de Esquerda Alda Macedo falou no imperativo de encontrarmos uma nova gera-ção de políticas económicas que defendam o ambiente e garantam

UNIVERSIDADE DA ESQUERDA EUROPEIA

NOVAS POLÍTICAS ALTERNATIVAS NA EUROPA

A Universidade de Verão do Partido da Esquerda Europeia (PEE), que se realizou em Tavira de 13 a 16 de Julho, reuniu cerca de 180 activistas de vários países da Europa. No primeiro congresso do PEE, em Atenas, considerou-se que juntamente com as campanhas comuns, a Universidade de Verão seria um instrumento fundamental para a construção de um novo espaço político europeu. o eurodeputado do GUE Miguel Portas organizou durante o evento uma sessão pública contra a guerra, com a presença de centenas de pessoas TEXTO DE NUNO RAMOS DE ALMEIDA. FOTOS DE PAULETE MATOS

CONTINUA NA PÁG IVZ

II | GLOBAL AGOSTO’06 | UNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA > > > > > > >

FRANCESCO SAMOREREFUNDAÇÃO COMUNISTA (ITÁLIA)

“A parte política desta Universidade é muito positiva e refl ectiu de uma forma

importante a necessidade de uma esquerda europeia com uma verdadeira in-

serção social nas lutas sociais, na capacidade de dizer que é possível haver

uma Europa diferente do neoliberalismo e do capital, uma Europa que afi rme

a prioridade do social. A construção de uma nova agenda exige que pensemos

nos vários percursos dos componentes desta nova esquerda no continente, mas

também que consigamos responder positivamente com um conjunto de políti-

cos que afi rmem uma Europa de paz e que estabeleça um novo pacto social e

de cidadania com toda a gente que vive e trabalha na Europa”.

JÚLIA BONKPDS (ALEMANHA)“Iniciámos um conjunto de debates. É preciso aprofundar as discussões, mais

do que fazer trocas de opiniões e relatórios de países é preciso construir um

pensamento comum e estratégias europeias comuns de luta. Na minha área de

trabalho (a Educação) é um bom exemplo: é não só necessário pensar juntos,

mas também agir em comum. É preciso discutir uma agenda e uma política

alternativa que defenda o ensino de qualidade como um direito social e um

serviço público relevante. Há questões urgentes a responder para construir essa

agenda comum, por exemplo, somos favoráveis ao pleno emprego? Achamos

possível manter na Europa esta reivindicação ou é necessário pensar em estra-tégias económicas alternativas que garantam os direitos sociais mas que não

exijam o pleno emprego?”

LOBAL AGOSTO’06 | UNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIAII | GGLOBAL AGOSTO 06 | UNIVERSIDADE DE VER

KATALIN GENNBURGPDS (ALEMANHA)“Estamos a discutir as tarefas de um partido que actua a um nível diferente que

o Estado-nação. Estamos a construir uma acção política para participar nas

questões europeias e globais. Acho extraordinariamente importante as discus-sões sobre a necessidade de um real processo democrático e constitutivo de

uma Europa social e a discussão que tivemos sobre as agendas concretas da

Organização Mundial do Comércio (OMC) e as consequências a nível dos ser-viços públicos e da democracia da globalização capitalista. Apesar de vivermos

num mundo global com tecnologias de comunicação muito avançadas, como a

internet, continua a ser muito importante que possamos conversar cara a cara

e elaborar, não só pensamento, uma agenda comum”

FABIO AMATOREFUNDAÇÃO COMUNISTA (ITÁLIA)“É com este tipo de iniciativas que a esquerda europeia faz nascer as suas “pernas”.

Já havia encontros de direcções, já se realizaram congressos da esquerda europeia,

mas é visível que para construir este novo sujeito politico é necessário uma nova

dimensão internacionalista da militância. E esta Universidade é um passo neste

sentido. As redes que aqui se formaram devem contribuir para a construção capilar

deste partido. Foi devido ao movimento dos movimentos dos fóruns sociais europeus

que foi criada a esquerda europeia, está é uma experiência nova. Nós, em Itália,

estamos a tentar que esta realidade ultrapasse a própria Refundação Comunista,

podendo aderir ao PEE associações e activistas independentes que não pertencem à

Refundação. Penso que depois de iniciativas como esta, pode ser o tempo de discutir,

no próximo congresso, novas formas de adesão a este novo sujeito politico”.

YANNIS BOURNOUSJUVENTUDE DO SYNASPIMOS (GRÉCIA)

“Esta Universidade é uma boa ideia. Não basta haver congressos para cons-

truir uma esquerda europeia. É preciso afi rmar uma agenda comum de acção,

mas também construir espaços de discussão. Só assim se pode elaborar um

projecto permanente, primeira experiência. Estou convencido que é possível

torná-la uma iniciativa regular, que se realize todos os anos, tornando-se maior

e com capacidade para uma discussão política com uma maior profundidade

e complexidade”

UMA NOVA ESQUERDA EM MOVIMENTO

ÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA > > > > > > >ÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA

ELISABETH GAUTHIERPCF (FRANÇA)

“É uma boa experiência que necessita de ser desenvolvida e aprofundada. É

preciso refl ectir em conjunto sobre as questões da Europa, sobre a estratégia

dos movimentos e sobre o quadro político e económico de uma alternativa po-

lítica à escala europeia. Esta iniciativa permite-nos apurar as formas de o fazer.

Numa próxima realização talvez possamos melhorar ainda mais, envolvendo

mais estruturas, como o Transform (rede europeia de revistas e centros de

estudos marxistas), para que seja possível aprofundar esta iniciativa”.

> > > > > > > UNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA | GLOBAL AGOSTO’06 | III

JÚLIA BONKPDS (ALEMANHA)“Iniciámos um conjunto de debates. É preciso aprofundar as discussões, mais

do que fazer trocas de opiniões e relatórios de países é preciso construir um

pensamento comum e estratégias europeias comuns de luta. Na minha área de

trabalho (a Educação) é um bom exemplo: é não só necessário pensar juntos,

mas também agir em comum. É preciso discutir uma agenda e uma política

alternativa que defenda o ensino de qualidade como um direito social e um

serviço público relevante. Há questões urgentes a responder para construir essa

agenda comum, por exemplo, somos favoráveis ao pleno emprego? Achamos

possível manter na Europa esta reivindicação ou é necessário pensar em estra-tégias económicas alternativas que garantam os direitos sociais mas que não

exijam o pleno emprego?”

FABIO AMATOREFUNDAÇÃO COMUNISTA (ITÁLIA)“É com este tipo de iniciativas que a esquerda europeia faz nascer as suas “pernas”.

Já havia encontros de direcções, já se realizaram congressos da esquerda europeia,

mas é visível que para construir este novo sujeito politico é necessário uma nova

dimensão internacionalista da militância. E esta Universidade é um passo neste

sentido. As redes que aqui se formaram devem contribuir para a construção capilar

deste partido. Foi devido ao movimento dos movimentos dos fóruns sociais europeus

que foi criada a esquerda europeia, está é uma experiência nova. Nós, em Itália,

estamos a tentar que esta realidade ultrapasse a própria Refundação Comunista,

podendo aderir ao PEE associações e activistas independentes que não pertencem à

Refundação. Penso que depois de iniciativas como esta, pode ser o tempo de discutir,

no próximo congresso, novas formas de adesão a este novo sujeito politico”.

OLIVER MULLERPDS (ALEMANHA)

“Penso que estamos a começar a desenhar uma nova esquerda. À sua maneira,

o Partido da Esquerda alemão, o Bloco de Esquerda e esta Universidade são

sinais desta nova realidade. É uma construção diferente porque se afi rma num

espaço que ultrapassa as fronteiras nacionais, pretendendo disputar politica-

mente o terreno da decisão a uma escala europeia, e é também uma nova

forma de política devido ao relacionamento que tem com os novos movimentos

sociais. É óbvio que ainda há muito para fazer, mas já estamos a dar os primeiros

passos”.

ÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA> > > > > > > UNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIAUNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA

YANNIS BOURNOUSJUVENTUDE DO SYNASPIMOS (GRÉCIA)

“Esta Universidade é uma boa ideia. Não basta haver congressos para cons-

truir uma esquerda europeia. É preciso afi rmar uma agenda comum de acção,

mas também construir espaços de discussão. Só assim se pode elaborar um

projecto permanente, primeira experiência. Estou convencido que é possível

torná-la uma iniciativa regular, que se realize todos os anos, tornando-se maior

e com capacidade para uma discussão política com uma maior profundidade

e complexidade”

ÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA | GLOBAL AGOSTO’’06 | IIIÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA

PERISTERA BAZIANASYNASPIMOS (GRÉCIA)“A melhor coisa desta Universidade é a possibilidade de nos encontrarmos. Para

construir uma força política nova é preciso que as pessoas se possam juntar. Há

aqui muita coisa em discussão: desde a segurança social à situação no Médio

Oriente. Esta Universidade vai-nos permitir dar passos, não só aprofundando

o que sabemos, mas permitindo que possamos agir em comum de uma forma

mais poderosa”.

UMA NOVA ESQUERDA EM MOVIMENTO

ELISABETH GAUTHIERPCF (FRANÇA)

“É uma boa experiência que necessita de ser desenvolvida e aprofundada. É

preciso refl ectir em conjunto sobre as questões da Europa, sobre a estratégia

dos movimentos e sobre o quadro político e económico de uma alternativa po-

lítica à escala europeia. Esta iniciativa permite-nos apurar as formas de o fazer.

Numa próxima realização talvez possamos melhorar ainda mais, envolvendo

mais estruturas, como o Transform (rede europeia de revistas e centros de

estudos marxistas), para que seja possível aprofundar esta iniciativa”.

A primeira Universidade da Esquerda Europeia foi feita por militantes e activistas de muitos partidos. Tão importante como o conteúdo das principais conferências foram os contributos de todas e de todos. Aqui damos a palavra a alguns dos participantes de vários países.

ESQUERDA/GLOBAL | JORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU | WWW.MIGUELPORTAS.NETEDIÇÃO: MIGUEL PORTAS DIRECTOR: NUNO RAMOS DE ALMEIDA EDITOR GRÁFICO: LUÍS BRANCO EDITORA FOTOGRÁFICA: PAULETE MATOS REDACÇÃO: ANDRÉ BEJA, CARLOS SANTOS,

CARMEN HILÁRIO, LUÍS LEIRIA E RENATO SOEIRO IMPRESSÃO: RAINHO & NEVES, LDA / STA. Mª DA FEIRA DEP. LEGAL: 219778/04 DISTRIBUIÇÃO: GRATUITA TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES

IV | GLOBAL AGOSTO’06 | UNIVERSIDADE DE VERÃO DO PARTIDO DA ESQUERDA EUROPEIA > > > > > > >

condições sociais justas para as pessoas.

CIENTISTAS E MILITANTESO segundo dia da Universidade

de Verão do Partido da Esquerda Europeia discutiu as questões da globalização e o papel da Orga-nização Mundial do Comércio (OMC) na perda de direitos demo-cráticos e sociais no planeta. Ra-oul Marc Jennar, cientista político e autor do livro sobre o processo europeu “A Traição das Elites”, fez uma aprofundada intervenção sobre o processo de globalização capitalista e as suas consequências do ponto de vista da degradação dos direitos das populações.

A intervenção de Raoul Jennar centrou-se no papel da Organi-zação Mundial do Comércio, que considerou ser “a mais poderosa organização internacional”, visto concentrar, em si, vastos poderes que ultrapassam fronteiras e não são fiscalizados democraticamen-te. “As regras da OMC não são como as regras das outras orga-nizações internacionais. A OMC faz as regras, actua como o poder legislativo; a OMC implementa as suas próprias regras, actua como poder judicial; a OMC pune os Estados que não cumprem as suas regras, actua como poder judicial. Toda a gente sabe que a ausência de divisão de poderes gera um po-der sem controlo”, alertou Jennar. Para o investigador, a política da OMC segue a cartilha ideológica

do neoliberalismo, pretende co-locar nas mãos do mercado todas as esferas da vida humana e não se preocupa com “a liberdade do comércio” quando ela é ameaçada pelas corporações e monopólios. O conferencista relembrou a signi-ficativa afirmação do antigo presi-dente desta organização Supachai Panitchpakdi: “nós não nos preo-cupamos com o sector privado”. Para Jennar, “a OMC é o instru-mento que serve os monopólios internacionais para desmantelar os direitos fundamentais e a sobe-rania dos povos”. Seguidamente, o interveniente abordou algumas áreas que são duramente afectadas pelas políticas neoliberais desta organização: os direitos humanos, o conhecimento e o progresso, a questão da água e o emprego.

Finalmente, o cientista político abordou os desafios que se colo-cam à esquerda europeia no qua-dro do processo de globalização capitalista. Para Jennar, é cada vez mais verdadeiro o pensamento de Pierre Bourdieu que defendia que, nos tempos de hoje, “os investi-gadores sociais devem tornar-se militantes e os militantes tornar-se investigadores”. Raoul Jennar concluiu: “é preciso sermos capa-zes de construir uma esquerda ge-nuína e popular que consiga criar um caminho que se oponha a este processo de globalização capitalis-ta e esta Universidade da Esquerda Europeia é um bom começo”.

LUTA CONTRA A GUERRASeiscentas pessoas participa-

ram, no dia 15 de Julho à noite, numa jornada de solidariedade com a Palestina, promovida pelo Bloco de Esquerda, no âmbito da Universidade de Verão do Partido da Esquerda Europeia. Meia hora antes, portugueses e estrangeiros encheram o anfiteatro ao ar livre situado no centro de Tavira. Inter-vieram Adel Athie, representante da Palestina na União Europeia, Daphna Sharfman, presidente do partido israelita de esquerda Me-retz, e Miguel Portas, do Bloco.

A sessão começou com a música dos Kumpania Algazarra que deu o mote para o orador da Palesti-na, Adel Athie. “A vossa música é bonita, infelizmente na nossa terra só temos direito a uma nota - o barulho das bombas e dos bombardeamentos”, disse. O re-presentante da Palestina na UE realçou a importância da mobili-zação das opiniões públicas para impedir a continuação da escalada da guerra e permitir o regresso ao processo de paz. “A vossa presen-ça nesta noite é muito importante para nós. Espero regressar para o próximo ano a Tavira como cida-dão de um Estado palestiniano independente”, concluiu Adel. A presidente do partido israelita de esquerda Meretz, Daphna Sharf-man, sublinhou a luta de muitos israelitas ao longo dos anos con-tra a guerra e contra os governos militaristas do Estado hebraico.

Lembrou que na sua cidade, Hai-fa, bombardeada pelos mísseis do Hezbollah, durante muitos anos israelitas e palestinianos viveram em paz. Para Daphna, a paz é o único caminho possível para a região. Miguel Portas finalizou a sessão acusando Israel de usar os soldados raptados para destruir a Palestina. O objectivo do go-verno israelita seria a eliminação sistemática de todos os possíveis interlocutores de um processo de paz, impedindo o estabelecimento de um qualquer processo político para a resolução do conflito.

Já durante a tarde, discursando na Universidade, o dirigente do Bloco Francisco Louçã respon-sabilizou a administração norte-americana pela instabilidade na região: “Esta barbárie que está agora a ocorrer nas fronteiras de Israel com a Palestina e o Líbano é autorizada, promovida e impulsio-nada por George W. Bush, porque acha que no fim da estrada está mais uma guerra contra o Irão”.

Para Louçã, “a Europa politica-mente não existe enquanto for di-rigida por Tony Blair ou por Angela Merkel, que são os aliados de Ge-orge Bush para fazerem a guerra”. “A Europa só existe se fizer a paz, se promover os direitos humanos e se tiver a grandeza de promover a paz contra a barbárie”, defendeu.

“E quando o chefe dos saltea-dores, George W. Bush, conduz esta guerra, eu creio que pensar na esquerda como uma alternati-va de responsabilidade, seriedade e democracia é decisivo para en-frentarmos a barbárie”, disse o dirigente do Bloco.

Com uma intervenção centrada na guerra no Médio Oriente e na resposta política que a esquerda, à escala europeia, tem de dar à agres-sividade neoliberal que tomou de assalto a agenda da maioria dos governos europeus, o presidente do Partido da Esquerda Europeia, Fausto Bertinotti, encerrou os tra-balhos da Universidade de Verão.

Fausto Bertinotti relembrou que o Partido da Esquerda Europeia nasceu a partir da dinâmica do “movimentos dos movimentos” e das grandes mobilizações con-tra a guerra. Sobre a escalada de violência que se assiste no Médio Oriente, Bertinotti defendeu que o retomar do processo e paz é o único caminho possível, e que hoje, como ontem, se verifica que “não é o movimento pacifista que é impotente, mas a guerra que é incontinente” para gerar qual-quer situação de estabilidade na região. Para o líder do Partido da Esquerda Europeia, a Europa só será Europa, e não um apêndice do sistema de poder dos Estados Unidos, se escolher um outro ca-minho diferente do neoliberalis-mo e a guerra. “Chamem a estes termos da equação outros nomes, mas a escolha na Europa continua a ser, como escreveu Rosa Luxem-burgo, entre socialismo e a barbá-rie”, disse.

ZCONTINUAÇÃO DA PÁG I

A sessão pública de solidariedade com a Palestina juntou seiscentas pessoas em Tavira

> > > > > > > > > > > > > > > > > DESLOCALIZAÇÕES NA INDÚSTRIA | ESQUERDA AGOSTO’06 | 7

OPEL AZAMBUJATRABALHADORES REJEITAM FECHO

Há muito que a pos-sibilidade de des-localização se colo-cara. A ameaça foi ganhando dimen-

são perante a crise atravessada pela GM, a nível mundial. Em Maio passado surgiu o alerta concreto: a GM Europa amea-çava mesmo encerrar a fábri-ca da Azambuja e deslocalizar a produção para Saragoça, no Estado espanhol. A 10 de Ju-lho o vice-presidente da GM Europa para a área industrial anunciava o fecho da fábrica da Azambuja para o final do ano e a transferência da produção para Saragoça.

Os 1220 trabalhadores da Opel da Azambuja rejeitaram por una-nimidade a decisão da direcção da empresa de encerrar a fábrica e

deslocalizar para Saragoça. Paulo Vicente, da Comissão de Trabalha-dores, disse à comunicação social que a GM assumiu o compromisso de não desenvolver qualquer me-dida relativamente à transferência para Saragoça até o Fórum dos Trabalhadores analisar o estudo que afirma que a produção do au-tomóvel Combo custa mais 500 euros na Azambuja. O governo português, por seu lado, anunciou que irá pedir uma indemnização pelos incentivos fiscais concedidos à empresa, mas recusou-se a reve-lar o valor. A luta vai continuar.

A GM, com a atitude tomada, rompeu os compromissos que ti-nha assumido com o Estado por-tuguês e com os trabalhadores, pelos quais se obrigava a produzir até 2008. O responsável da admi-nistração da GM justificou a trans-

ferência com os custos, nomeada-mente logísticos, da produção na fábrica da Azambuja. Mas a verda-de é que a Opel – Azambuja é a se-gunda unidade mais produtiva da empresa, o que leva a concluir que os mais elevados custos, se forem reais devem-se a erros de gestão e a problemas de logística. O anún-cio de encerramento feito pela GM pode significar também uma recu-sa a encarar alternativas, pois os trabalhadores tinham apresentado propostas para diminuir os custos, nomeadamente a proposta de uma empresa alemã construir uma uni-dade de prensas na Azambuja e a proposta da AIP (Associação In-dustrial Portuguesa), para formar também na Azambuja, um cluster com um conjunto de fornecedores de componentes.

O vice-presidente da GM Eu-

ropa considerou também que os requisitos do contrato de inves-timento com o Estado português estavam cumpridos, acrescen-tando no entanto que a GM “está disposta a tratar da questão com o Estado português”. O governo anunciou depois que o Estado português deve ser indemnizado pela rotura do contrato pela GM. É o mínimo que se impõe, a GM recebeu 43 milhões de euros de incentivos, além de outros benefí-

cios, e estava obrigada a produzir até 2008. Se o encerramento vier a concretizar-se a empresa deverá ser obrigada à devolução de todos os subsídios.

Aos trabalhadores a dívida tam-bém é grande porque a empresa fez um acordo pelo qual se com-prometia a garantir a produção até 2008. Mas o mais importan-te é que os trabalhadores estão a recusar o fecho e vão continuar a lutar pelos seus direitos.

Antes dos anos 90 do século passado já existiam fenómenos semelhantes. Em Por-tugal no início dos

anos 70 e sobretudo depois do 25 de Abril, inúmeras empresas encerraram as suas fábricas e foram produzir noutros países. Na indústria electrónica e auto-móvel são diversos os exemplos, Signetics, Applied Magnetics, Standard ITT, Ima, Barreiros, e tantas mais.

Porém as deslocalizações, em toda a sua amplitude e extensão, são um fenómeno recente possi-bilitado e desenvolvido pela glo-balização capitalista.

Uma empresa por exemplo fecha uma fábrica em Portugal e passa a produzir em Marrocos ou na Europa de Leste, ou transfere para a Índia ou a China um sector da sua produção.

As empresas deslocalizam em primeiro lugar para passarem a produzir em países onde o preço da força de trabalho é mais baixo. Transferir a produção para a Euro-pa de Leste pode significar reduzir salários na proporção de dez para

um, proporção que pode ainda ser multiplicada se a transferência for para a Ásia.

A globalização capitalista cons-titui assim uma pressão objectiva para a baixa dos salários.

Mas não são só custos com o trabalho que contam, também os impostos ou as despesas com a se-gurança social alteram os cálculos. Esta globalização é assim também uma pressão contra o Estado social e a justiça fiscal. Quanto menos as empresas pagarem em impostos ou em despesas com a segurança social, maiores as possibilidades de maximização de lucros.

Existem muitos outros factores. O mercado local pode ser muito importante: a produção na China é hoje um desafio apelativo para qualquer transnacional não só pelos baixos custos sociais, mas também pelo mercado de 1 300 milhões de pessoas.

Há ainda outros custos que en-tram na ponderação das decisões de qualquer transnacional, nome-adamente os custos logísticos.

O espaço de intervenção políti-ca é hoje diferente e qualquer go-verno deveria ter esta situação em

conta, tal como a União Europeia também deveria ter uma política para a Europa. No entanto predo-mina a ideologia de que o Estado apenas tem a dar benefícios para

atrair os investimentos, o libera-lismo que só conta para um lado: levantar barreiras e desregula-mentar, mas subsidiar os investi-mentos, a formação ou até outros

custos. É a ideologia que serve aos grupos económicos. Muito há a intervir para alterar esta política negativa para os empregos e o Es-tado social.

Desde o início dos anos 90 um fenómeno recente começou a reproduzir-se com rapidez: as deslocalizações. Desde então o fenómeno não tem parado de se multiplicar. Em cada ano, empresas em catadupa encerram fábricas num local, num país e transferem a sua produção para outro país, para outro continente, para o outro lado do globo até. TEXTO DE CARLOS SANTOS

DESLOCALIZAÇÕES GLOBAIS

De repente o céu cai-lhes em cima, é o sentimento mais comum das ví-timas das deslocalizações. Mais frá-geis e limitados no momento em que sentem o maior ataque às suas vi-das: a expulsão do trabalho. E tantas vezes quase impotentes tal a força do outro lado, de quem decide.Desta vez os trabalhadores da GM da Azambuja sentiram que não estavam sós, tiveram do seu lado os trabalha-

dores das outras empresas do grupo na Europa fazendo greve. A luta foi mais comum, a solidariedade bem concreta.E depois das greves levadas a cabo pelos trabalhadores das várias fá-bricas da General Motors Europa, incluindo a de Saragoça, em solida-riedade com os seus colegas portu-gueses, a administração do grupo mostrou-se disponível para negociar

o futuro dos trabalhadores da Opel da Azambuja. Na sequência deste anúncio, os membros do Fórum dos Trabalha-dores Europeus (FTE) do grupo suspenderam as paralisações. Mais tarde a empresa voltou atrás, quer de novo encerrar a fábrica da Azam-buja. A solidariedade manifestou-se de novo, os trabalhadores portugue-ses recusaram a decisão até que o

Fórum dos Trabalhadores analise o estudo que afirma que a produção do automóvel Combo custa mais 500 euros na Azambuja.A luta dos trabalhadores da GM Eu-ropa contra o encerramento de uma das fábricas não é só exemplo de solidariedade, é também sinal do fu-turo, dos caminhos que se abrem e são necessários à defesa do trabalho e dos direitos.

SOLIDARIEDADE

GREVEEUROPEIA

TIA

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PET

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8 | ESQUERDA AGOSTO’06 | ALTERAÇÃO À LEI DE IMIGRAÇÃO > > > > > > > > > > > > > > > > > >

UM PAPEL QUE MUDA UMA VIDACerca de cem mil imigrantes vivem e trabalham em Portugal sem documentos. Para eles, ter ou não ter um simples visto é a diferença entre ter ou não um sem número de direitos. A nova proposta de lei de imigração do governo despertou boatos esperançosos. Infelizmente, eram falsos. TEXTO DE LUÍS LEIRIA. FOTO DE PAULETE MATOS

Maria Odete é uma imigrante brasi-leira de 35 anos. Trabalha a cuidar de uma portugue-

sa idosa, e em limpezas numa multinacional de vestuário. Vive numa das muitas “repúblicas” de imigrantes, casas onde se juntam para dividir os custos do aluguer, da água e luz.

Quando chegou, já tinha ex-pirado o prazo (Julho de 2003) para poder legalizar-se ao abrigo do chamado Acordo Lula, e por isso teve de submeter-se à condi-ção de viver sem papéis.

Apesar disso, obteve o número de contribuinte e inscreveu-se na Segurança Social. O Estado por-tuguês é assim: não dá nenhum direito ao imigrante indocumen-tado, mas aceita se este quer pa-gar o IRS ou a Segurança Social. Mesmo quando o imigrante não retira qualquer benefício disso. Maria Odete (nome fi ctício) des-cobriu que de pouco lhe valia ter número de Segurança Social quando deslocou um braço e re-correu à emergência de um hos-pital. Como não tinha BI nem vis-to válido, teve de pagar 60 euros pelo tratamento que recebeu.

Quando quis recorrer ao Cen-

tro de Saúde, a mesma difi culda-de. Sem BI nem visto, não pode receber cartão de utente. Mas tem direito aos serviços do centro, se apresentar uma certidão de re-sidência da Junta de Freguesia. Pelo menos, é isto que reza um despacho do tempo do governo Guterres. Só que o centro ignora o despacho, e só depois de muita insistência consegue um atendi-mento de má-vontade.

Maria Odete trabalhava atrás do balcão de uma loja no Bra-sil. Ganhava pouco mais que o salário mínimo (350 reais, ou 127 euros), o que mal dava para sustentar o fi lho. Empurrada pela necessidade, decidiu aventurar-se a ganhar a vida, em melhores condições, em Portugal. Refez, ao contrário, o trajecto de tantos milhares de portugueses nos úl-timos séculos. O fi lho fi cou com a mãe, e hoje, com 17 anos, quer vir também para Portugal. Cá, ela ganha cerca de 700 euros, o su-fi ciente para ter uma vida super-austera e ainda enviar dinheiro para casa.

NOVA LEI DESENCADEIA BOATOS

Há um mês, Maria Odete ou-viu dizer que ia sair uma nova lei

do governo português que lega-lizaria todos os imigrantes que tivessem contrato e pagassem a Segurança Social. Ligou para um conhecido da Casa do Brasil para confi rmar a boa notícia. Quase não acreditou quando ouviu o que não queria: que não, que o boato era falso. Que havia uma nova proposta de lei do governo, sim, mas que não previa qualquer regularização dos mais de cem mil indocumentados que traba-lham em Portugal. Ficou decep-cionada, claro. O boato parecia tão lógico, tão credível...

Tal como ela, centenas de brasi-leiros começaram a acorrer à Casa do Brasil, a principal associação de brasileiros de Lisboa, queren-do confi rmar o boato. De manhã, as escadas do primeiro andar da R de S. Pedro de Alcântara já estavam cheios de brasileiros à espera de atendimento. Todos saíam decepcionados. A mesma realidade viveram muitas outras associações de imigrantes.

CHUVA DE CRÍTICASA proposta de lei do governo

Sócrates foi apresentada com muita pompa e circunstância no início de Junho. O gover-no quis passar a mensagem de

que a lei era muito equilibrada e benéfi ca para os imigrantes. Mas teve pouco sucesso. Ao fi m de um mês de discussão públi-ca, poucas ou nenhumas vozes elogiosas se levantaram entre os imigrantes. Em contrapartida, as críticas choveram. As associações de imigrantes apontaram para o que consideraram ser o principal problema: a ausência de uma política que resolva o problema dos imigrantes que vivem e tra-balham em Portugal sem docu-mentos. Para estes, a única saída é voltar ao país de origem, e, a partir daí, iniciar os trâmites para tentar entrar em Portugal já com um visto de residência. Mas a via-gem é cara, às vezes impensável pelos dias de trabalho perdidos, e há sempre o risco de não po-der voltar, por na fronteira serem identifi cados como tendo estado em situação ilegal.

Por outro lado, as associações criticaram a manutenção da po-lítica de quotas, disfarçada de “contingente global de oportu-nidades de emprego”. Trata-se da mesma restrição à imigração legal que havia nas quotas, com o mesmo resultado de sempre: a manutenção de uma lógica de fa-bricação de imigrantes ilegais.

Outras críticas apontaram para a restrição ao reagrupamento fa-miliar, nomeadamente no que diz respeito aos fi lhos maiores, e pediram o encurtamento do prazo máximo de decisão. As as-sociações criticaram ainda o facto de não se garantir a possibilida-de de recurso judicial suspensivo às decisões do SEF, e mostraram que, com a nova lei, há o risco de se criar, apesar da simplifi cação, vários títulos de residência com o mesmo nome (autorização de residência), mas valor e impor-tância diferentes.

Não se sabe ainda quando a nova proposta será votada na As-sembleia da República. À votação irão outros dois projectos de lei, o do Bloco de Esquerda e o do PCP. Mas apesar da maioria absoluta que o governo tem na Assembleia, as associações não querem baixar os braços. “É necessário darmos visibilidade às nossas reivindica-ções, com acções de rua – pode ser concentração, manifestação ou outro tipo de iniciativa - que consiga congregar na acção vá-rias associações, organizações da sociedade civil e até sindicatos, por que não?”, disse à Esquerda.Rádio Timóteo Macedo, da Soli-dariedade Imigrante.

> >> > > > > > > > > > > > > > > ALTERAÇÃO À LEI DA IMIGRAÇÃO | ESQUERDA AGOSTO’06 | 9

Permite a regularização de todos os que possuam relação de trabalho e dela façam prova através de contrato, declaração de sindicato ou associação de imigrantes; ou ainda que apresentem termo de responsabilidade assinado por cidadão nacional ou estrangeiro regula-rizado.

Não há quotas. Estabelece-se a imigração legal, por inscrição nos consulados e embaixadas portuguesas, através de pedido de visto de residência para actividade profissional.

Visto de residência (renovável anualmente). Uma só Autorização de Residência (obtida ao fim de três anos), sem prazo e com título renovável a cada 5 anos. Acabam APs, vistos de trabalho e de estudo.

Basta estarem inscritos no pré-registo ou no acordo Lula para obterem Autorização de Residência, bastando para isso demonstrar condições económicas mínimas: contrato, termo de responsabilidade, recibo de vencimento de cônjuge ou de pessoa com quem viva.

Estende o reagrupamento às uniões de facto, aos filhos a cargo mesmo maiores e aos parentes a cargo ou em coabitação: não exige meios de subsis-tência nem de alojamento.

É extinto

LEI ACTUAL PROPOSTA GOVERNO PROPOSTA PCP PROPOSTA BLOCO

QUOTAS

REGULARIZAÇÃO DE IMIGRANTES QUE JÁ ESTÃO EM PORTUGAL

REAGRUPAMENTO FAMILIAR

VISTOS

SITUAÇÃO DOS CANDIDATOS À REGULARIZAÇÃO AO ABRIGO DO PRÉ-REGISTO DOS CTT E DO ACORDO LULA

SEF

BOLETIM DE ALOJAMENTO

Reduz os poderes do SEF; todo o trâmite de renovação de autorizações e vistos é feito pelas conservatórias de registos civil, análogas aos cidadãos nacionais; direito de recurso suspensivo diante de todas as decisões. Direito a apoio judicial e médico gratuito nas zonas internacionais dos aeroportos.

Decreto Regulamentar desencadeou o chamado “processo dos CTTs”, que concedia vistos de trabalho mediante a apresentação de contrato de trabalho e outras exigências; antes, houve o “Acordo Lula”, em moldes semelhantes.

Sim: a cada dois anos, o governo elabora um relatório em que constem as oportunidades de trabalho por sector de actividade, fixando um “limite máximo anual imperativo de entradas de cidadãos estrangeiros oriundos de Estados terceiros” para o exercício de uma actividade profissional.

Emaranhado de vistos e Autorizações: Vistos de trabalho, de estudo, Autorizações de Permanência (APs), Autorizações de Residência temporária e permanente.

No fim da jornada burocrática, se tiverem sorte, recebem visto de trabalho (renovável anualmente).

Muito restrito: só com cônjuge, filhos menores ou ascendentes em 1º grau, tem de demonstrar alojamento e meios de subsistência. Quem tenha autorização de residência, só pode pedir reagrupamento depois de um ano.

Poder discricionário absoluto

Obrigatório

Nada. O governo não propõe nada para regularizar os imi-

grantes ilegais que estão em Portugal.

Sim: o Conselho de Ministros fixa anualmente um “contingente

global de oportunidades de emprego presumivelmente não preenchidas”, ... “podendo excluir sectores ou activida-des onde não se verifiquem necessida-des de mão-de-obra, se as circunstân-cias do mercado o justificarem.”

Visto de Residência (duração três meses). Autorização de

Residência Temporária (com duração de um ano e renovável 2 vezes com du-ração de 2 anos) e Permanente (sem prazo, com título renovável a cada 5 anos). Acabam APs, vistos de trabalho e de estudo.

No fim da jornada burocrática, se tiverem sorte, recebem Autorização de Residência temporária.

Só acrescenta união de facto devidamente registada

e comprovada; quem tenha AR pode pedir reagrupamento logo.

Mantém.

Obrigatório

O preâmbulo da propos-ta afirma que é indispen-

sável permitir que os trabalhadores estrangeiros em Portugal tenham a possibilidade de legalizar a sua situa-ção... e defende um enquadramento legal permanente que possibilite a regularização. No entanto, nenhum artigo concretiza esta declaração

Sim: O IEFP, em articulação com a DG dos Ass. Consulares e Comun. Portu-guesas, do MNE, e com o SEF, desen-volverá os mecanismos necessários ao preenchimento das ofertas de empre-go não satisfeitas a nível nacional e comunitário, desde que o empregador manifeste interesse no recrutamento de trabalhadores oriundos de países terceiros. (artº 41) . E ainda é necessá-rio um parecer favorável da IGT

Visto de residência (renovável bianu-almente). Autorização de Residência Permanente ao fim de cinco anos).Acabam APs, vistos de trabalho e de estudo.

_________________________

Estende o reagrupamento às uniões de facto.

Mantém (artigo 97º)

O estrangeiro pode requerer a suspensão do reembarque, decidido pelo SEF, ao juiz do tribunal competente, que decidirá no prazo de 48 horas. A decisão de recusa de entrada pode ser judicialmente impugnada perante os tribunais administrativos, nos termos da lei.

LEI DA IMIGRAÇÃO - QUADRO COMPARATIVO ENTRE AS PROPOSTAS DO BLOCO, DO PCP E DO GOVERNO

Cerca de 30 associações de imigrantes divulgaram um do-cumento com propostas de al-teração à nova lei de imigração, posta à discussão pública pelo governo. A principal proposta avançada é a introdução de um artigo que permita a obtenção de Autorização de Residência sem a prévia necessidade de obtenção de visto (fora de Portugal) a todos

os estrangeiros que provem que estão a viver e a trabalhar em Por-tugal. A prova de relação laboral poderia ser feita por contrato ou promessa, mas também através de declarações de sindicatos ou associações com assento no Con-selho Consultivo para os Assun-tos de Imigração (COCAI).Outras propostas são que a reno-vação do título de residência seja

feita no âmbito do Ministério da Justiça e não do SEF, a facilita-ção e a redução de prazos para o reagrupamento familiar. Propõe-se ainda a garantia de recurso judicial, com efeito sus-pensivo, de todas as decisões do SEF, e a garantia de que a todos os titulares de Autorizações de Residência devem ser reconhe-cidos os mesmos direitos e deve-

res, sem diferenciação no âmbito do exercício da sua actividade, subordinada ou não. Entre as associações estão a Casa do Brasil, a Solidariedade Imigran-te, a Associação Unidos de Cabo Verde, a Associação EDINSTVO, a Associação Moinho da Juventu-de, a Associação Guiné Conakry, o Centro Português de Estudos Árabes e Cultura Islâmica.

ASSOCIAÇÕES CRITICAM LEI DO GOVERNO

PAU

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10 | ESQUERDA AGOSTO’06 | MARCHA PELO EMPREGO > > > > > > > > > > > > > > > > > > >

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QUERES FAZER SUGESTÕES, CRÍTICAS OU PUBLICAR A TUA OPINIÃO NO “ESQUERDA”? ESCREVE PARA BLOCO DE ESQUERDA - “ESQUERDA”, AV. ALMIRANTE REIS, 131, 2º, 1150-015 LISBOA OU [email protected]. NO CASO DE QUERERES VER A TUA CARTA PUBLICADA NO JORNAL, O TEXTO NÃO PODERÁ TER MAIS DE 1000 CARACTERES E A DECISÃO SOBRE A SUA PUBLICAÇÃO ESTÁ SUJEITA AOS CRITÉRIOS EDITORIAIS DA DIRECÇÃO DO JORNAL.

CAMINHADA * PROPOSTAS * DENÚNCIAS * ALTERNATIVAS TEATRO * MÚSICA * FESTA * COMÍCIOS * CONVÍVIOA MARCHA pelo Emprego é um percurso político, um caminho de propostas mobilizadoras para o mundo do trabalho. Cada temática tem um momento forte, num dos dias de caminho. A Marcha é tam-bém um diagnóstico da situação so-cial, particularmente do emprego, e uma chamada à responsabilidade. As vítimas do desemprego têm rosto – e muitas tomarão a palavra ao lon-go da Marcha – mas os responsáveis também. A elite que acumula rique-za e aprofunda o fosso da desigual-dade apoia e benefi cia do modelo económico atrasado e injusto que temos. Os seus nomes serão ditos, as suas políticas serão explicadas.

A Marcha pelo Emprego tam-bém será festa e alegria, o pra-zer da construção comum de um elenco de alternativas para o país. A Marcha mobilizará a ima-ginação e, em cada dia, mostrará gestos, palavras, sons e imagens trazidas por muita gente das ar-tes, profi ssional ou amadora. Será lugar de participação de actores, de novos grupos musicais, de es-treias cinematográfi cas. Em cada acto público do fi nal do dia, além de curtas�metragens sobre os te-mas da Marcha, será exibido o cine�diário da Marcha, onde os temas e os testemunhos do dia são repostos na tela por jovens cineas-tas amadores.

Participo na Marcha porque acho que é uma iniciativa inédita em Portugal e para ajudar a provar a este Governo

que se pode inverter este drama social que é o desemprego e que afl ige dezenas de mi-lhares de portugueses.Depois, porque o seu programa é muito in-teressante e enriquecedor, dado que vamos poder participar em debates, visitas, semi-nários e conhecer melhor a realidade de várias zonas do País.E também porque durante a Marcha o Blo-co vai propor medidas concretas, apontando caminhos e desafi ando o Governo a fazer da resolução deste problema a sua primeira prioridade, exigindo nomeadamente a revi-são do Código do Trabalho, uma promessa eleitoral que José Sócrates não cumpriu.Finalmente acho que esta iniciativa pode-rá contribuir para a criação de um gran-de movimento social que reforce esta luta, e que deve passar pela solidarieda-de de todos, em particular pelos que não foram atingidos por este fl agelo social. LUÍS BARROSO, CASTELO BRANCO

Porque nunca estive de acordo com as politicas deste go-verno que perpetua o código de trabalho aprovado pela maioria de direita, criando maior precariedade laboral;

porque não concordo com as politicas de protecção social im-plementadas por este governo, sem justiça social, reduzindo a protecção social, pensões e subsídio de desemprego; por-que estou desempregado e a ser a vitima das políticas deste governo; porque não posso de deixar de concordar com as medidas alternativas contra o desemprego e a precariedade e para garantir a continuidade do sistema público de segurança social apresentadas pelo Bloco de Esquerda, como limitar os contratos a um ano, acabar com as empresas de trabalho temporário, criar um patamar mínimo para a segurança social, reforma como única condição 40 anos, entre outras.Porque preciso de dizer a este governo basta e a marcha é essa oportunidade. DAVID JOÃO BORGES DA COSTA, PORTO

Sou vítima das políticas do governo

A participação num evento como a marcha do emprego, contra precariedade existente no país, é vital para a mobilização e consequentemente para o despertar da

consciência desta geração de jovens. A realidade é que hoje, em comparação com o ano passado, os licenciados desem-pregados cresceram 14%. Com as novas medidas em relação ao subsídio de desemprego tomadas por este governo, os jo-vens do século 21 serão as suas maiores vitimas. Creio que uma mobilização em massa por parte dos jovens irá abrir os olhos e pressionar este governo a tomar medidas mais extraordinárias. Se nós não lhes fi zermos frente, quem fará?Hasta La Victoria Siempre! RICARDO SÁ FERREIRA, ESTUDANTE, PORTO

Despertar a consciência dos jovens

Um grande movimento social que reforce esta luta

POR QUE PARTICIPO NA MARCHA

MARCHAMARCHAMARCHApelo

EMPREGOEMPREGOEMPREGO

A MARCHA ESTÁ A PASSAR POR AQUI!

Braga, 1 Setembro, 21:30hA Marcha assinala o seu início no centro de Braga, com um comí-cio-festa na avenida central ao som dos Trovas ao Vento.

Guimarães, 2 SetembroO primeiro percurso a pé ligará Guimarães à localidade de Tai-pas. Aí haverá um almoço-con-vívio com a população, antes da caminhada até Campelos. Este percurso é uma visita à re-alidade do têxtil, o mundo das deslocalizações e das falências fraudulentas, pontuado com intervenções teatrais de rua. À noite, em Guimarães, haverá uma sessão de apresentação das propostas do dia, no Centro Cultural Vila Flor.

Famalicão, 3 SetembroCom partida de Pevidém, con-celho de Guimarães, a Marcha percorre o Vale do Ave, apre-sentando alternativas para a re-qualifi cação de trabalhadores e a criação de emprego em zonas desfavorecidas. O almoço será um encontro com a população de Oliveira de Santa Maria, antes da chegada a Joane. Inspirada na Cow Parade, a Marcha será acompanhada de uma ‘parada das vacas magras’; a descobrir... À noite, a sessão pública será em Vila Nova de Famalicão.

Valongo-Maia, 4 SetembroPrimeiro dia de semana em que a Marcha está na estrada. Parti-da de Valongo, com trabalhado-res da Lear, a multinacional que ameaça abandonar o concelho. À chegada à Maia, o centro da cidade recebe um jogo de fute-bol muito especial: a equipa das empresas de trabalho temporário enfrenta a dos jovens precários. O resultado não pode ser bom... À noite, o anfi teatro do Fórum da Maia é o local do comício.

Matosinhos, 5 SetembroA Marcha ligará Perafi ta a Mato-sinhos, com passagem pelo Nor-te Shopping, uma concentração de trabalho precário e sem direi-tos. Em Matosinhos, a jornada culmina num comício de rua no Jardim Basílio Teles.

Gaia-Porto, 6 SetembroA Marcha percorre os concelhos de Gaia e do Porto para abordar dois temas: junto à Soares da Costa, os números trágicos e as explicações para os recordes na-cionais de acidentes de trabalho; junto ao Corte Inglés, as novas tendências do mercado de tra-balho ocupam a passerelle. A Marcha segue até à Praça dos Poveiros, junto à Manpower, a mais antiga empresa de trabalho temporário (ETT) em Portugal, para apresentar alternativas de combate à precariedade e aos abusos, terminando em Santa Catarina. À noite, o comício no cinema Batalha terá teatro, mú-sica e poesia com Ana Deus, en-tre outros.

Ovar - S. João da Madeira, 7 SetembroPartindo de Esmoriz, a Marcha vai conhecer um exemplo positi-vo de emprego de pessoas com defi ciência, que desenvolvem as suas capacidades numa empre-sa da freguesia de Maceda. Se-gue-se uma paragem na Yazaki Saltano, onde centenas de traba-lhadores vivem sob a ameaça da deslocalização e despedimento. Ainda pela tarde, a Marcha visita o centro de Ovar, com encontro marcado no Jardim dos Caster. À noite, nos Paços da Cultura de S.João da Madeira, o sociólogo Elísio Estanque evocará as lutas operárias do calçado contra o fascismo, numa sessão política.

Feira-Furadouro, 8 SetembroA Marcha percorre o centro de Santa Maria da Feira, com in-tervenção no Largo da Câma-ra, antes de chegar à Rohde, a maior multinacional do calçado em Portugal. Aqui, a Marcha contactará com as operárias da empresa, que é um mau exem-plo em matéria de discrimina-ção salarial das mulheres e de doenças profi ssionais evitáveis. Da Rohde, partida para Rio Meão, onde a Cifi al, de Ludgero Marques, confi gura um caso de abuso ambiental que prejudica toda a comunidade. Da Cifi al, caminhada até Lamas e visita à Cincork e o seu centro de for-mação e investigação no sector corticeiro. A noite será de festa, na praia do Furadouro.

Espinho, 9 SetembroA Marcha percorre o litoral do distrito de Aveiro. Da Avenida da Barrinha à calçada de Espinho, a Marcha convidará a população a participar numa intervenção sobre precariedade laboral. À noite, em Espinho, a noite será de cinema ao ar livre, com a es-treia nacional do fi lme italiano “O Evangelho Segundo Precário”, de Stefano Obino, uma produ-ção independente (legendado em português).

Viseu - Coimbra, 10 SetembroA Marcha apanha o autocarro! E assim junta interior e litoral num só dia. Em Viseu, no almo-ço-convívio junto à feira de São Mateus, as questões da interio-ridade são o tema das propostas da Marcha. Em Coimbra, já pela tarde, a Marcha percorre o Fó-rum, a ponte pedonal, o parque verde com muita músicas e ani-mação. À noite, no Pátio da In-quisição, haverá teatro e concer-to, acompanhados da projecção de fotos sobre a desertifi cação

industrial do distrito. Nas inter-venções políticas, os problemas da precariedade dos bolseiros e do desrespeito pelos direitos dos estudantes-trabalhadores.

Leiria - Marinha Grande, 11 SetembroA Marcha parte do centro de Lei-ria, junto ao Tribunal de Trabalho, onde abordará o défi ce democrá-tico nas empresas e os abusos patronais na região. No percur-so, abordará as difi culdades do sector vidreiro. À noite, o comício (no Sport Operário Marinhense) lembra o levantamento operário anti-fascista de 18 de Janeiro de 1934 e assinala o centenário do nascimento de Emídio Santana, dirigente anarco-sindicalista. In-tervirá Fernando Rosas.

Torres Novas - Entroncamento, 12 SetembroO troço ribatejano da Marcha pelo Emprego arranca em Tor-res Novas, sob o tema das alter-nativas de política fi scal para o emprego. A Marcha encontra-se com a CT da Rodoviária e visita o mercado que se realiza à ter-ça-feira. A chegada ao Entronca-mento dá lugar a um encontro de rua com trabalhadores da EMEF (manutenção de equipamento ferroviário) junto à estação da CP. À noite, em Santarém, a Marcha promove um comício no Teatro Sá da Bandeira, com música de Célia Barroca.

Abrantes, 13 SetembroÀ saída de Abrantes é apresenta-do um projecto de lei de regula-mentação do trabalho por turnos, numa iniciativa de rua na Praça Barão da Batalha. À chegada à Fundição Rossio de Abrantes, a Marcha regressa ao tema da for-mação profi ssional, contactando com a experiência e as difi culda-des de professores do concelho empenhados no combate à exclu-

são escolar. Depois, no Tramagal, contacto com trabalhadores à saída da fábrica da Mitsubishi. À noite, no jardim do Tramagal, de-corre uma sessão pública de rua, animada pelo cantor Francisco Fanhais.

Vila Franca de Xira, 14 SetembroLigando Vila Franca à Póvoa de Santa Iria, a Marcha levanta as questões das acessibilidades das pessoas com defi ciência a serviços públicos essenciais, mostrando na prática como estes cidadãos são excluídos. À noite, comício na Póvoa de Santa Iria.

Loures, 15 SetembroCom uma intervenção de rua em Santa Iria da Azóia, a Marcha entra nas zonas densas dos ar-redores de Lisboa. Em Sacavém, visitará o museu da Cerâmica, contactando com as tradições operárias da zona. Na Portela serão abordadas as questões da exclusão social e da pobreza. Em Moscavide, ao fi m da tarde, ha-verá contacto com a população no jardim de Moscavide. À noite, o comício conta com a animação da Kumpania Algazarra.

Sintra – Oeiras, 16 SetembroA Marcha liga Mem Martins a Queluz e realiza à noite, em Oei-ras, uma sessão pública.

Queluz - Lisboa, 17 SetembroO último dia da Marcha é o dia em que convergem os seus tra-jectos do Sul e do Norte, além da participação da marcha dos Imigrantes, que se juntam ao percurso na Amadora e cujos di-reitos serão o tema principal da caminhada. Às 13:30h, a Mar-cha do Sul e do Norte chegam ao jardim das Amoreiras para terminarem a Marcha pelo Em-prego na Estufa Fria, no almoço de encerramento da iniciativa.

O DIA-A-DIAEm cada dia, a Marcha realiza 12 a 15 km. Os marchantes fazem as refeições juntos (5 euros cada) e pernoitam em Pousadas da Juventude (gratuitas para marchantes deslocados). A seguir, um curto resumo (ainda muito incompleto) das actividades de cada dia.

De Palmela parte, no dia 15, a Marcha que ligará o distrito de Setúbal a Lisboa. À chegada a Setúbal, terá lugar um jantar comício. No sábado, dia 16, o percurso ligará o Barreiro à Moita, passando pela Baixa da Banheira. Uma arruada pelas

festas da Moita fechará o dia. No Domingo, último dia da Marcha, a marcha parte de Corroios, per-correndo a Cova da Piedade e Almada, para rumar de Cacilhas ao Cais do Sodré e daí chegar às Amoreiras, onde se juntará aos restantes participantes.

Cine-diário. No encontro que encerra cada jornada, é apre-sentado um pequeno fi lme de resumo das actividades da Marcha nesse dia.Fixar a Marcha. Os participan-tes são convidados a participar no concurso de fotografi a da

Marcha pelo Emprego. Devem escolher as suas dez melhores, que serão exibidas no encerra-mento da Marcha, em Lisboa. As melhores serão publicadas no jornal Esquerda.Net. A Marcha pelo Emprego pode ser seguida através da

internet. Os temas, iniciativas, episódios e encontros dos mar-chantes de cada dia. Som, ima-gens e textos com toda a cor e energia de duas semanas de propostas no terreno.

A MARCHA DO SUL OUTRAS INICIATIVAS

INSCRIÇÕES: AV. ALMIRANTE REIS, 131, 2º, 1150-015 LISBOA TELEFONES: 213510510 * 966299247 * 918712444

uma sessão de apresentação das propostas do dia, no Centro Cultural Vila Flor.

Famalicão, 3 SetembroCom partida de Pevidém, con-celho de Guimarães, a Marcha percorre o Vale do Ave, apre-sentando alternativas para a re-qualifi cação de trabalhadores e a criação de emprego em zonas desfavorecidas. O almoço será um encontro com a população de Oliveira de Santa Maria, antes da chegada a Joane. Inspirada na Cow Parade, a Marcha será acompanhada de uma ‘parada

Marcha segue até à Praça dos Poveiros, junto à Manpower, a mais antiga empresa de trabalho temporário (ETT) em Portugal, para apresentar alternativas de combate à precariedade e aos abusos, terminando em Santa Catarina. À noite, o comício no

sica e poesia com Ana Deus, en-tre outros.

Ovar - S. João da Madeira, 7 SetembroPartindo de Esmoriz, a Marcha

combate à precariedade e aos abusos, terminando em Santa Catarina. À noite, o comício no cinema Batalha terá teatro, mú-sica e poesia com Ana Deus, en-tre outros.

Ovar - S. João da Madeira, 7 SetembroPartindo de Esmoriz, a Marcha vai conhecer um exemplo positi-vo de emprego de pessoas com defi ciência, que desenvolvem as suas capacidades numa empre-sa da freguesia de Maceda. Se-gue-se uma paragem na Yazaki Saltano, onde centenas de traba-lhadores vivem sob a ameaça da

sobre precariedade laboral. À noite, em Espinho, a noite será de cinema ao ar livre, com a es-de cinema ao ar livre, com a es-treia nacional do fi lme italiano “O Evangelho Segundo Precário”, Evangelho Segundo Precário”, de Stefano Obino, uma produ-de Stefano Obino, uma produ-ção independente (legendado ção independente (legendado em português).em português).

Viseu - Coimbra, Viseu - Coimbra, 10 Setembro10 Setembro

Catarina. À noite, o comício no cinema Batalha terá teatro, mú-sica e poesia com Ana Deus, en-tre outros.

Ovar - S. João da Madeira, 7 Setembro

industrial do distrito. Nas inter-venções políticas, os problemas da precariedade dos bolseiros e do desrespeito pelos direitos dos estudantes-trabalhadores.

Leiria - Marinha Grande, 11 SetembroA Marcha parte do centro de Lei-ria, junto ao Tribunal de Trabalho, onde abordará o défi ce democrá-tico nas empresas e os abusos patronais na região. No percur-so, abordará as difi culdades do sector vidreiro. À noite, o comício

animada pelo cantor Francisco Fanhais.

Vila Franca de Xira, 14 SetembroLigando Vila Franca à Póvoa de Santa Iria, a Marcha levanta as questões das acessibilidades

muito incompleto) das actividades de cada dia.

ça-feira. A chegada ao Entronca-mento dá lugar a um encontro de rua com trabalhadores da EMEF (manutenção de equipamento ferroviário) junto à estação da CP. À noite, em Santarém, a Marcha promove um comício no Teatro Sá da Bandeira, com música de

verá contacto com a população no jardim de Moscavide. À noite, o comício conta com a animação da Kumpania Algazarra.

Sintra – Oeiras, 16 SetembroA Marcha liga Mem Martins a Queluz e realiza à noite, em Oei-ras, uma sessão pública.

Queluz - Lisboa, 17 SetembroO último dia da Marcha é o dia em que convergem os seus tra-jectos do Sul e do Norte, além da participação da marcha dos Imigrantes, que se juntam ao percurso na Amadora e cujos di-reitos serão o tema principal da

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Este ano, os jovens bloquistas montam tenda em Melgaço,na Serra do Gerês, de 9 a 13 de Agosto. Banhos de rio, debates e muita festa é o que se espera desta iniciativa que pretende ganhar forças para o ano de luta que temos pela frente.TEXTO DE CATARINA TOTA E MANUEL RAMOS*

Esta iniciativa, organizada por jovens e para jovens, contará com diversas actividades durante os cinco dias. De manhã,

teremos vários workshops e cada campista poderá optar em qual participar; à tarde, debates em simultâneo com diversos temas actuais. Serão abordadas diferentes temáticas, desde o ensino secundá-rio e superior, às movimentações em França, ou o movimento LGBT (lésbico, gay, bissexual e transexual) e feminista, entre muitos outros. Os debates serão os espaços de discus-são política onde tod@as podem intervir e dar a sua opinião sobre o assunto em cima da mesa.

Qual a estratégia para enfrentar Bolonha? Será que há uma verdadei-ra democracia nas escolas? “Depois do Iraque, para onde Irão?” Qual a contribuição d@s jovens do Bloco nas autarquias? Que futuro para a América Latina? – São algumas das questões que serão colocadas nos diferentes espaços de discussão.

Não só de debates políticos vive este acampamento: há também es-paços livres, para tomar um banho na lagoa, continuar as discussões, dormir a sesta... Após o jantar, te-remos projecção de fi lmes, segui-dos de uma pequena discussão, ou apresentadas peças de Teatro do Oprimido e haverá sempre uma festa para acabar bem a noi-te, com convívio, divertimento e muita animação.

Visto esta ser uma iniciativa a nível nacional que pretende unir tod@s os jovens do país que parti-lham a mesma vontade de mudar o mundo, o convívio e a partilha de ideias e experiências entre tod@s também é bastante impor-tante. Portanto, haverá uma série de espaços onde isso será possível, o que certamente contribuirá para a criação e o reforço de laços de amizade.

Esse tal outro mundo que que-remos e vamos construir nestes dias em Melgaço, será totalmente diferente deste que nos rodeia.

Não existirá discriminação sexual ou racial, não haverá opressão nem autoridade, seremos tod@s iguais, tal como defendemos. Teremos tod@s os mesmos direitos, os mes-mos deveres. Seremos tod@s res-ponsáveis pelo funcionamento do acampamento, através de tarefas igualmente repartidos por todas as pessoas, turnos de segurança, de limpeza, entre outros que farão parte da auto-gestão desta inicia-tiva.

O preço do acampamento será 50 euros, estando já incluído as viagens de ida e volta, a alimen-tação durante os cinco dias, a es-tadia e a participação em todas as actividades.

É necessário e urgente mudar e transformar. Melgaço será o local onde essa mudança estará presen-te e onde a discussão sobre o que nos rodeia e quais as alternativas possíveis a tal serão partilhadas. Onde a liberdade e a igualdade serão as palavras máximas e as únicas autoridades.

*MEMBROS DA COORDENADORA NACIONAL DE JOVENS DO BLOCO

PROGRAMAQUA 9NOITE:- SESSÃO DE ABERTURA

QUI 10TARDE:- ENSINO SECUNDÁRIO- MULHER JOVEM PRECÁRIA- DIREITO À HABITAÇÃO- ANTI-PRAXE E ANTI-TRADIÇÕES ACADÉMICAS

NOITE:- FILME SOBRE O CPE

SEX 11TARDE:- PROCESSO DE BOLONHA- LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS LEVES- LGBTQ- RECONSTRUÇÃO DA ESQUERDA EUROPEIA

NOITE:- FILME SOBRE IMIGRAÇÃO - “LISBOETAS “ DE SÉRGIO TRÉFFAUT

SÁB 12TARDE:- DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO- ENERGIAS ALTERNATIVAS AO NUCLEAR- ALTERGLOBALIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL- AUTARQUIAS E PROCESSOS DE PARTICIPAÇÃO LOCAL

NOITE:- SESSÃO SOBRE A MARCHA PELO EMPREGO

DOM 13TARDE:- MÉDIO ORIENTE, GUERRA E INTERNACIONALISMO- ESQUERDAS NA AMÉRICA LATINA- REINVENÇÃO DO GÉNERO- ACTIVISMO AMBIENTAL

NOITE:- SESSÃO DE TEATRO DO OPRIMIDO- SESSÃO DE ENCERRAMENTO

AS INSCRIÇÕES PARA O ACAMPAMENTO ESTÃO ABERTAS, BASTANDO PARA ISSO CONTACTAR: 914858990 (PORTO), 936174922 (COIMBRA), 964494339 (LISBOA E RESTANTE PAÍS); OU LIGAR PARA AS SEDES DISTRITAIS, 222002851 (PORTO) E 213510510 (LISBOA).

12 | ESQUERDA AGOSTO’06 | ACAMPAMENTO DE JOVENS > > > > > > > > > > > > > > > > > > > >