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    SOBRE O AUTOR E A OBRA

    A obra foi publicada em 1976 e uma obra quaseautobiogrfica.

    Trata-se de um relato emocionante do impacto da "cidadegrande" sobre o retirante, o imigrante nordestino.

    O prprio autor - nascido na pequena cidade de Junco,interior da Bahia - percorreu os mesmos caminhos dosseus personagens, deixando o Nordeste para procurar asorte nas metrpoles do Sudeste.

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    O romance vincula-se a tradio da prosa regionalista

    brasileira, que teve seu momento decisivo no perodo doRomantismo.

    J no Pr Modernismo a misria da regio eraatribuda as condies mesolgicas ou a formao tnica

    da sua populao. Na fico regionalista de 30 os autores optaram por

    uma viso critica das relaes sociais. Combinando o social e o psicolgico, pretendiam no s

    caracterizar as estruturas, mas caminhar na direo auma transformao.

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    Desde o incio da narrativa de Essa Terra,pode-se verificar como o processo deduplicao da identidade influencia tanto oautor, que tambm viveu a experinciadiasprica (mudana trnsito) - como jcitado, como os personagens criados por ele.

    Nesse sentido, o sujeito (autor/personagem)se expe para o outro em busca de afirmaoe de reconhecimento identitrio. A maneiracomo o autor descreve a condio em quesurge as primeiras linhas do romance nos

    fornece as pistas para verificar o quanto anarrativa acaba sendo orientada atravs dapoltica do reconhecimento.

    As temticas do romance soconsideradas em regionais e universais.

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    A HISTRIA

    CAPITULO 1ESSA TERRA ME CHAMA(Chegada de Nelo)

    CAPITULO 2ESSA TERRA ME ENXOTA(Chegada do pai)

    CAPITULO 3ESSA TERRA MEENLOUQUECE (Chegada da me)

    CAPITULO 4ESSA TERRA ME AMA (Partidade Tontonhim)

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    O Junco: um pssaro vermelho chamado Sofr,que aprendeu a cantar o Hino Nacional.Uma galinha pintada chamada Sofraco, que

    aprendeu a esconder os seus ninhos. Um boi decanga, o Sofrido. De canga: entra inverno, sai vero.A barra do dia mais bonita do mundo e o pr-do-solmais longo do mundo. O cheiro do alecrim e apalavra aucena. E eu, que nunca vi uma aucena.

    Sons de martelo amolando as enxadas, aboio nasestradas, homens cavando o leite da terra.O cuspe do fumo mascado da minha me,a queixa muda do meu pai, as rosasvermelhas e brancas da minha av.

    As rosas do bem-querer:- Hei de te amar at morrer.Essa a terra que me pariu.-Lampio passou por aqui.-No, no passou. Mandou recado [...] Ora, ele l ia ter tempo depassar neste fim de mundo? (p. 16)

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    Fim do mundo, as moas sonham com osbancrios de Alagoinhas e os homens daPetrobrs... Muitos maridos vo e voltam,sozinhos, com uma mo na frente e outra atrs,

    sina de roceiro roa. Mas j viveu tempos piores, em 1932, o lugar teve

    sua pior seca, sendo comparado ao inferno, de toquente. Ano depois, a chuva foi to intensa que

    creram ser o dilvio, desta vez o povo caa emorria de frio. (p. 17)

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    O Junco entrou no mapa (fala de Dr. Dantas Jr.)Agora uma cidade leal e hospitaleira. Agora podemos

    mandar no nosso prprio destino, sem ter que darsatisfaes ao municpio de Inhambupe. (p. 13-14)

    L vem os tabarus do Junco dizem os de

    Inhambupe. [...] Rezemos pela alma do finado AntnioConselheiro. [...] Quando esteve em Inhambupe, ele foiapedrejado sem d, nem piedade.[...] - Essa terra vaicrescer que nem rabo de besta... Para baixo. (p. 18),falou ele, e no que acontece?

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    Quem no mudou em nada mesmo foi um

    lugarejo de sopapo, caibro, telha e cal, mas aquesto agora saber seu meu irmo (Nelo)ainda se lembra de cada parente... [ele que] umdia pegou um caminho e sumiu no mundo parase transformar... num homem belo e rico, comseus dentes de ouro, seu terno folgado... seus ray-

    bans, seu rdio de pilha... (p. 14)

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    CAPITULO 1ESSA TERRA ME CHAMA(CHEGADADENELO)

    Permanecer ou sair? Saia menino, vai querer ficar que nemeu e seus irmos? (diz a me). No! Fique, pede o pai.

    Nelo descobriu que queria ir embora no dia em que viu oshomens do jipe. Estava com 17 anos... Trs anos sonhando

    todas as noites com a fala e as roupas daqueles bancrios.(p. 19)

    Fazia vinte anos que o irmo saira de casa; pegara umcaminho e sumira pelo mundo, fora para So Paulo, embusca de melhores condies de vida.

    Vamos ouvir a voz do progresso. Chegou o banco, de jipe,numa missa, promessa de plantio, o que no aconteceu,padre e governo tambm erram, o povo do Junco percebeu...

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    A me, vivia em suas constantes reclamaes: - Tenhodoze filhos e me sinto to sozinha. Se no fosse por Nelo.No vou passar sua roupa. No sou sua empregada. Os

    incomodados que se retirem.

    A condio da famlia era de extrema pobreza,principalmente quando se mudaram para Feira de

    Santana, em busca de estudos para os filhos. O paisempre foi contra, mesmo depois de vinte anos; por ele,ficariam na roa, pois esse negcio de colgio erabesteira.

    A princpio, Nelo mandava dinheiro para a me (s paraa me), mas, com o tempo, parece ter esquecido doassunto. Por morar em So Paulo, toda a famlia

    acreditava que Nelo estava rico. Mero engano.

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    E o Nelo voltou?

    E papai, no ajuda? O dinheiro que mando d?

    Mas cad o Nelo? Ele inteligente. H quantosanos voc manda dinheiro pra sua me, heinNelo? Tu t rico, hein? Rapaz de sorte. Voc o

    que mora nas terras to looooonge? Venha maispra peeeerto. Voc um capitalista, verdadeirahomem das capitais...

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    O encontro dos dois irmos relatado: Totonhim vaipeg-lo numa hospedaria e o irmo lhe diz um secomuito prazer. Muito prazer seria o resumo de tudo?

    Apenas duas palavras para matar vinte anos desaudade? Nelo vai, enfim, para a humilde casa doirmo e quer saber como vai o pai.

    E como vai a famlia? Pergunta Nelo - Vendeu a roa, a casa da roa e a casa da rua, pagou

    as dvidas, torrou o troco na cachaa, depois se mudoupara Feira de Santana. A me foi antes, para nos botarno ginsio. O velho ficou aqui, zanzando, desgostoso, se

    maldizendo de tudo. Um dia no aguentou mais esumiu na estrada, em cima de um caminho, aboiando.Dos irmos, trs esto em Feira. Os pequenos. Osoutros esto espalhados. Voc vai ter que viajar muito,se quiser catar um a um.

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    Tenho dois filhos e uma mulher, voc me ajuda aach-los Totonhim? (diz Nelo, bbado, carregado peloirmo) Mas esto em So Paulo, Nelo, diz Totonhim.Nelo contou-lhe sua trgica histria.

    Um dia, j abandonado pela mulher e filhos, pensouver sua ex-esposa num ponto de nibus. Correudesesperadamente para v-la e aos filhos; nessemomento, a polcia o confundiu com um ladro epassou a correr atrs dele. Sem perceber o incidente,

    Nelo corria cada vez mais. Porm, quando chegouperto, o nibus passara e a mulher se fora. Ao parar,virou presa fcil para a polcia.

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    Imediatamente identificou Z do Pistom, o primoque havia roubado sua mulher. O policial o acusou

    de tentativa de sequestro de seus prprios filhos emandou que o espancassem. Os policiais bateramtanto que o rapaz chegou a ficar inconsciente; apancadaria era seguidas de constante urina sobre ocorpo.

    Aqui vivi e morri um pouco todos os dias./ No meioda fumaa, no meio do dinheiro./ No sei se fico ouse volto./No sei se estou em So Paulo ou no Junco(p. 63)

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    (Custa a crer que um homem destes pudesse...)

    Deixa disso Nelo, pelo amor de Deus tornei a

    dizer, batendo na outra face, e ele se virou denovo e caiu para o outro lado. p. 16

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    A preocupao de Totonhim, agora, era com seus pais.O que diria a eles? Como explicar que Nelo no lhesfora visitar, se o nibus de So Paulo parava primeiro

    em Feira de Santana?Seu Z da Botica o enchia de chs calmantes. Elepensava no caixo. Ser que o pai, carpinteiro que era,faria o caixo para o filho? O ltimo que ele fez foi para

    outro enforcado, um parente nosso que encontramospendurado num galho de barana.

    Enquanto isso, o sargento demorava a liberar o corpo do

    irmo. Totonhim j estava nervoso e falava com odefunto: - Voc veio aqui s para fazer isso comigo? Voctinha o Brasil inteiro para fazer isso e veio escolher logoesta sala? Acorda. Comeou a chorar.

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    O pai mostra-se uma pessoa amargurada. Sente faltada mulher (embora no admita), dos filhos; sente-sesozinho e abandonado. Acorda, olha para aquele colchoonde Deus lhe dera os doze filhos. Chama por todos: -Nelo, Nomia, Gesito, Tonho, Adelaide.mas no hningum. Sente-se relaxado, a barba por fazer; vaitomar banho no rio. Lembra-se dos filhos, de como

    ensinara Nelo a nadar; da filha que fugiu com um negro(eta filha desnaturada). Segundo a viso dele, brancocom preto no assentava. E dizia ainda bem que osnetos tinham cabelos bons. Lembrou-se da mulher,

    das surras que ela dava nos filhosera uma mulhersem piedade: batia nos filhos at esfolar o couro. Noaprovava violncia de espcie alguma.

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    Caminhando pelo lugar, o pai se lembra, ainda,do irmo, o irmo que ficou com as terras de seupai e com a sua prpria terra. Foi no dia em quechegou a Feira de Santana com a notcia: os

    homens do banco estavam apertando, iam tomar-lhe tudo. Entre o banco e o irmo, preferiu vendera propriedade ao irmo. Assim, pagaria a dvidado banco e ainda ficaria com um dinheirinho para

    abrir um pequeno negcio em Feira de Santana.Mas, o irmo o logrou: deu-lhe uma quantiairrisria pelas terras. Agora, estava sem nadanem ningum.

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    ESSATERRAMEENLOUQUECE

    Ao mesmo tempo, parece conversar com a me, refletindo que

    ela havia voltado, no por vontade prpria, mas pornecessidade, por causa da morte do filho. Enquanto estavamna sala, o pai fazia, na cozinha, o caixo para Nelo. O filhonarrador, em suas reflexes, sente vontade de abraar a me.S no fez porque no pode. Ela estava apertando seu pescoo

    com toda a fora que ainda restava em suas calejadas esperas mos. Ele queria falar, mas no conseguia. Era comose fosse a hora da sua morte. E naquela hora Totonhim nemlembrou que tinha apenas vinte anos e ainda podia vivermuito. Nunca se amaram, eis tudo.

    Enquanto a me tentava estrangular o filho, Nelo continuavaali no cho, bem ao seu lado. Depois de solt-lo, ele teve delevar a me para o hospital, que no era perto (provavelmente,

    um hospcio).

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    O narrador comea a lembrar do av, que morava comele, depois, pensa no pai: - No ande com a cabea notempo. Bote o chapu. Quem anda com a cabea notempo perde o juzo.

    A narrativa sofre outro corte, e o foco a me, seusofrimento, sua dor, suas brigas com o pai (brigas que

    acabavam sempre em pancadaria) e a sua esperanadepositada em Nelo, para ela, o nico filho que poderiaajud-la. Veja Nelo meu filho se vida que seapresente uma mulher viver apanhando do marido

    venha me buscar. A mulher cada vez mais dava sinaisde loucura: escrevera para o filho e dissera que o paitomara veneno ( na realidade, quem tomara venenofora o irmo do pai, mas ela acreditava que fora omarido).

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    Qualquer resposta ser uma mentira. Promete que vai dormira viagem inteira, promete? Assim chegaremos logo. Se quiser,reze um pouco, para chamar o sono. Ela vomita sobre aspernas de Totonhim.

    O narrador lembra que a me viciada em jogo de bicho. Todoo dinheiro que Nelo lhe mandava, ela apostava. Enquanto isso,

    os cobradores batiam em sua porta e os filhos passavam fome.Papai se queixa da sorte. Diz que a mudana para Feira deSantana foi a pior desgraa da sua vida. Minha terra no tempalmeiras. Tem suco de mata-pasto. Veneno da melhorqualidade.

    Enquanto levava a me para o hospital, observava-a: elaestava ficando cega, j no mais conseguia pr a linha naagulha. Reclamava de suas filhas, que nunca a ajudaram.

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    Foi ento que eu (narrador Totonhim) comecei a mesentir perdido, desamparado, sozinho. Tudo o queme restava era um imenso absurdo. Mameabsurdo. Papai Absurdo. Eu Absurdo. A revolta,

    outra vez e como sempre, mas agora maior, maisperigosa. No morrers de susto, bala ou vcio.Morrers atolado em problemas, a doce herana quete relegaram. O enterro foi pago com dinheiro

    emprestado a juros. Uma misria, de uma misriade outra misria. Teu pai no sabe se vai terdinheiro para comer, daqui pra frente, quanto maisse vai pagar os juros do enterro de um filho. (p. 137)

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    Por fim, o filho narrador conta ao pai que vai embora.Para onde? Para So Paulo. Com o dinheiro que

    receberia pela Prefeitura, compraria uma passagem evenderia a vaca que o av deixara.

    O pai no se conformava: - Voc igual aos outros. Nogosta daquifalou zangado. Ningum gosta daqui.Ningum tem amor a esta terra.

    Ele tinha, eu sabia, todos sabiam.

    Passado o sermo, papai amansou a voz. Parecia maisconformado do que aborrecido:

    - Voc faz bemdisse.Siga o exemploAbaixou as

    vistas, sem completar o que ia dizer. (p. 138)

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    ALGUMAS CARACTERSTICAS

    O impacto da cidade grande sobre o retirante, oimigrante nordestino;

    No apenas a histria do Junco e sua sina. tambm e muito mais a tragdia pessoal daspersonagens que desfilam pelo livro, marcantes eexemplares. Histria dramtica e subjetiva de umapequena cidade nordestina, a saga de uma famlia,

    a triste histria de ns todos emigrados, um belotecido de vidas cruzadas que no se ligam.

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    UNEB 2010

    Levanta-se e percorre os quartos vazios, sem camas, sem nada. Entra na cozinha e

    acende o fogo. Pensa em fazer um caf. Desiste. Joga gua nos ties, apaga o

    fogo. Jque ia embora, para que caf, para que fogo aceso? Sai ato avarandado.A barra do dia est nascendo, da cor do ouro. Carregaria estas manhs para

    sempre, levaria nos olhos e na alma o raiar destes dias, as promessas da vida nova,

    deixando sempre um velho dia para trs. Desce ato riacho.

    Tira a roupa. O corpo nu se reflete na gua limpa, esverdeada, sombra do capim-angolinha, capim de beira de rio.

    TORRES, Antnio. Essa Terra. 21 ed. So Paulo: Record, 2005. p. 71.

    A personagem em foco

    01) mostra-se, ainda que na memria, ligado terra.

    02) revela-se desprendido dos bens materiais.

    03) opta pelo isolamento social como uma soluo para osseus conflitos existenciais.

    04) rompe com o seu passado, a fim de se deixar conduzirpor novos objetivos de vida.

    05) entra em choque com a realidade circundante que jnoatende aos seus anseios.

    UNEB 2011

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    UNEB 2011

    Nelo, querido, no vou chorar a tua morte. Fosteem boa hora. Agora eu te entendo,

    bem capaz que eujesteja comeando a te compreender.

    Saiba de uma coisa, papai. Eu vou embora.

    Para onde?

    O dinheiro que eu receber da Prefeitura, no fimdo ms, para comprar uma

    passagem. [...]

    Mas para onde voc vai?

    Para So Paulo.

    Se huma coisa que no compreendo isso: porque o velho nunca aceitava umaideia nossa. Tnhamosque apresentar o fato consumado, para que o admitisse.

    Mas contrariado.

    Voc igual aos outros. No gosta daqui falou zangado, como se tivesse dado

    um pulo no tempoe de repente tivesse voltado a ser o pai de outros tempos.

    Ningum gosta daqui. Ningum tem amor a estaterra.

    Ele tinha, eu sabia, todos sabiam.

    Passado o sermo, papai amansou a voz. Pareciamais conformado do que

    aborrecido:

    Voc faz bem disse. Siga o exemplo

    Abaixou as vistas, sem completar o que ia dizer.

    TORRES, Antnio. Essa Terra. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005,p. 168-169.

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    O dilogo de Totonhim com o pai, destacado do captulo finalde Essa Terra,

    revelador de um dos problemas enfocadosno romance de Antnio Torres:

    01) A solidez da estrutura de poder patriarcal na sociedadenordestina.

    02) A fbula do filho prdigo desenraizado que decideingressar na poltica.

    03) A migrao norte-sul do homem como consequncia deatritos polticos e

    familiares.

    04) A natureza cclica da migrao do sujeito nordestino e a

    redefinio de suaidentidade.

    05) A desumanizao do imigrante nordestino comoconsequncia da violncia no

    campo.

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    REFERNCIAS

    COSTA, Fabiana Ferreira; SILVEIRA, ManoelaFalcon. Essa terra. Disponvel em:.

    TORRES, Antonio. Essa terra. Rio de Janeiro:BestBolso: 2008.