Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.

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Esta sociedade está fora da realidade, mas é real. A sociedade atual provoca desafios constantes. Talvez ela seja mesmo o próprio desafio que convida o ser humano a transcender-se e compromissar-se com aquilo que não pode cumprir, em que as exigências culturais, sociais e até mesmo estéticas parecem imperativos construídos ao longo dos séculos numa permanente transformação de um modo de estar na vida. Pagamos o preço desse salto quântico para o qual a maioria não parece preparada. Exige-se sempre o crescimento como se ele não tivesse limites, embora estejamos sempre no mesmo lugar, garantindo a sensação de um caminhar para além de nossos próprios limites, contrariando a ideia que o infinito é que nos incomoda. Se por um lado estamos rodeados de desejos impostos e adquiridos, por outro não sabemos como lidar com a frustração dos insucessos. Na realidade não estamos prontos para lidar com a estagnação, que bem vistas as coisas, trata-se de uma transformação lenta porque nada permanece igual, embora semelhante, mas para a qual não temos paciência, em que o trem rápido deve chegar à estação quanto antes, porque famintos e sedentos, desejamos dar a conhecer aos outros e a nós mesmos, que somos um ser humano de sucesso. O sucesso já não é viver dignamente sem atropelar o próximo. Porém, a vida é feita de pequenos detalhes, que só se nota na intimidade das realizações, cujas evidencias só de dão a conhecer através de um estado alterado, em que as diferenças possam ser acentuadas, embora não conduza a lugar nenhum. Construímos a sociedade atual, mas parece existir um despreparo psíquico para viver nela. A sociedade parece ser semelhante ao pintor que pinta seu quadro de olhos fechados, sem noção alguma porque o fez, e o que isso significa. Viver de olhos fechados será deixar-se levar pelos instintos e o inconsciente, que em consciência nenhum de nós parece saber como, e quem os produz, apenas damos conta de sua existência através da manifestação do corpo em seu piloto automático. Existem desafios que nos são propostos, que por medo, ou por não existir o saber bastante nos paralisa, em vez de criar o movimento. Quem desafia parece estar no anonimato, como ar que se respira, mas que na realidade existe e faz sentir-se através de uma energia compulsiva e publicitária, cuja incorporação tem seu começo na formação infantil, em que a transmissão de conhecimentos oriundos de gerações anteriores, e os adquiridos, passam a constar do cardápio psíquico como realidades. Apenas sentimos que somos desafiados a saber mais e mais, a mais querer, e desejar o céu e a lua como algo que não pode ser alcançado, mas cuja tentação é tão grande, que o trambolhão parece ser ainda maior. Esta sociedade está fora da realidade, mas é real. Falamos em janelas de oportunidades, sem perceber que elas andam de braço dado com a frustração e o fracasso, em que o desejo do sucesso cai por terra. O idealismo fabrica projetos, que logo de seguida muitos deles arrasam seus mentores, em que a falência da alma é bem pior que o fracasso do próprio projeto. Estamos perante o desafio do virtual e do real, do idealismo e do ideal, do sentido de morte e de vida, em que a realidade de cada um, ao contrário de que alguns possam pensar, é sempre composta dessas realidades, que possui no grau valorativo seu equilíbrio, ou seu distanciamento relativamente ao seu par. Longe dos olhos coração não sente, mas quando perto da frustração não há quem resista. O infinito acabará com uma explosão, que vai tornar de novo as coisas finitas, reduzindo a expansão á própria realidade fenomenológica da natureza, como o retorno a casa do filho pródigo que se atreveu a vaguear pela estrada da vida, mas que sempre regressa á simplicidade de seu lar. Com esperança foi, com alegria regressa.

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Se por um lado estamos rodeados de desejos impostos e adquiridos, por outro não sabemos como lidar com a frustração dos insucessos.

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Esta sociedade está fora da realidade, mas é real. A sociedade atual provoca desafios constantes. Talvez ela seja mesmo o próprio desafio que convida o ser humano a transcender-se e compromissar-se com aquilo que não pode cumprir, em que as exigências culturais, sociais e até mesmo estéticas parecem imperativos construídos ao longo dos séculos numa permanente transformação de um modo de estar na vida.

Pagamos o preço desse salto quântico para o qual a maioria não parece preparada.

Exige-se sempre o crescimento como se ele não tivesse limites, embora estejamos sempre no mesmo lugar, garantindo a sensação de um caminhar para além de nossos próprios limites, contrariando a ideia que o infinito é que nos incomoda.

Se por um lado estamos rodeados de desejos impostos e adquiridos, por outro não sabemos como lidar com a frustração dos insucessos.

Na realidade não estamos prontos para lidar com a estagnação, que bem vistas as coisas, trata-se de uma transformação lenta porque nada permanece igual, embora semelhante, mas para a qual não temos paciência, em que o trem rápido deve chegar à estação quanto antes, porque famintos e sedentos, desejamos dar a conhecer aos outros e a nós mesmos, que somos um ser humano de sucesso.

O sucesso já não é viver dignamente sem atropelar o próximo.

Porém, a vida é feita de pequenos detalhes, que só se nota na intimidade das realizações, cujas evidencias só de dão a conhecer através de um estado alterado, em que as diferenças possam ser acentuadas, embora não conduza a lugar nenhum.

Construímos a sociedade atual, mas parece existir um despreparo psíquico para viver nela.

A sociedade parece ser semelhante ao pintor que pinta seu quadro de olhos fechados, sem noção alguma porque o fez, e o que isso significa. Viver de olhos fechados será deixar-se levar pelos instintos e o inconsciente, que em consciência nenhum de nós parece saber como, e quem os produz, apenas damos conta de sua existência através da manifestação do corpo em seu piloto automático.

Existem desafios que nos são propostos, que por medo, ou por não existir o saber bastante nos paralisa, em vez de criar o movimento.

Quem desafia parece estar no anonimato, como ar que se respira, mas que na realidade existe e faz sentir-se através de uma energia compulsiva e publicitária, cuja incorporação tem seu começo na formação infantil, em que a transmissão de conhecimentos oriundos de gerações anteriores, e os adquiridos, passam a constar do cardápio psíquico como realidades. Apenas sentimos que somos desafiados a saber mais e mais, a mais querer, e desejar o céu e a lua como algo que não pode ser alcançado, mas cuja tentação é tão grande, que o trambolhão parece ser ainda maior.

Esta sociedade está fora da realidade, mas é real.

Falamos em janelas de oportunidades, sem perceber que elas andam de braço dado com a frustração e o fracasso, em que o desejo do sucesso cai por terra. O idealismo fabrica projetos, que logo de seguida muitos deles arrasam seus mentores, em que a falência da alma é bem pior que o fracasso do próprio projeto. Estamos perante o desafio do virtual e do real, do idealismo e do ideal, do sentido de morte e de vida, em que a realidade de cada um, ao contrário de que alguns possam pensar, é sempre composta dessas realidades, que possui no grau valorativo seu equilíbrio, ou seu distanciamento relativamente ao seu par.

Longe dos olhos coração não sente, mas quando perto da frustração não há quem resista.

O infinito acabará com uma explosão, que vai tornar de novo as coisas finitas, reduzindo a expansão á própria realidade fenomenológica da natureza, como o retorno a casa do filho pródigo que se atreveu a vaguear pela estrada da vida, mas que sempre regressa á simplicidade de seu lar.

Com esperança foi, com alegria regressa.

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Não será o fim, mas antes o recomeço a partir de um ser vivo, cujos conhecimentos adquiridos durante a viagem lhe possibilitam fazer de novo, embora não igual, mas semelhante, num processo de vida tão lento, cuja sensação transmitida ilusória será a estagnação.

Onde existe energia o movimento se dá, mesmo sem nosso consentimento.

A inevitabilidade da diversidade, das sucessivas associações, devido ao abandono da simplicidade, nos empurra para o caminho da complexidade, em que tudo parece ter relação com tudo, e não parece que algo, ou alguma coisa esteja dissociado.

Afinal, a designação ¨ Universo ¨ quer dizer isso mesmo, diversidade.

Na atualidade não existe um saber, mas sim a diversidade de saberes, que pretende eleger-se como saber único, pelo menos recomendável, em virtude do simples, só por si, não poder ser analisado e avaliado, mediante a complexidade de conexões existentes. A sociedade não é um produto homogêneo, dado a existência de várias tendências e sua própria evolução, muito embora agarrados a regras, sempre nos garante a sensação, que alguns são despertados para essa realidade, outros adormecidos, para além daqueles que não a consideram como modelo a seguir. Distantes estaremos uns dos outros dada a existência dessas diferenças, desamparados por uns, amparados por outros nos encontramos para o confronto tentando destruir a diversidade, para que a humanidade possa encontrar um sentido único. Pura ilusão. João António Fernandes Psicanalista Freudiano Analizzare – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise