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ESTADO DO CONHECIMENTO: “ESCOLA NORMAL” E “FORMAÇÃO DE
PROFESSORES” 1930-1971
HELLEN CAROLINE VALDEZ MONTEIRO*
MARGARITA VICTORIA RODRÍGUEZ**
INTRODUÇÃO
Este trabalho foca as produções acadêmicas de teses e dissertações sobre Escola
Normal, com vistas a analisar as perspectivas teórico- metodológicas anunciadas pelos
pesquisadores de forma expressa ou implícita nos estudos referentes a essa instituição escolar.
Como procedimentos metodológicos foram adotadas duas formas de coleta das
informações: a primeira mediante o site da CAPES/MEC “Portal de Periódicos” este banco de
dados reúne teses, dissertações, artigos e uma pequena quantidade de livros. Para a busca
avançada das publicações utilizamos os descritores “Escola Normal” e “Formação de
Professores” e como marco temporal foi definido o período de 1990 à 2015. Obtivemos 52
resultados, dos quais selecionamos apenas 29. Foram escolhidos apenas os trabalhos que
abrangeram em suas pesquisas período anterior à 1971, ano que marcou a criação da
Habilitação Específica para o Magistério com a consequente extinção da Escola Normal.
A segunda parte do levantamento constituiu em pesquisar nos Programa de Pós-
Graduação em Educação de Mato Grosso do Sul, a produção de teses e dissertações sobre
Escola Normal. Foram encontradas apenas dissertações: na Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul (UEMS) encontramos 3 trabalhos de Paranaíba; no Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo
Grande, 5 dissertações; e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB) apenas uma dissertação.
No tópico 1 do presente artigo elaboramos algumas considerações sobre as
perspectivas pós-modernas na pesquisa historiográfica e o marxismo, e no tópico 2 abordamos
* Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mestranda em Educação, Bolsista CNPq. ** Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Doutora em Educação.
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o levantamento bibliográfico. Buscamos aglutinar as pesquisas conforme seus referenciais
teóricos, mas ressaltamos que as leituras desses trabalhos iniciou-se das últimas produções, ou
seja, de 2015 até as mais antigas, pois considera-se que as produções novas abarcam
resultados anteriores. E no tópico 3 discutimos as principais considerações sobre a história da
Escola Normal no Sul de Mato Grosso, tal como aponta as produções regionais.
1. A Escola dos Annales e o Marxismo
A necessidade social, sempre imposta pelas bases materiais é resultado de lutas pela
hegemonia no poder de determinada sociedade e em determinado momento histórico, tem sua
base referencial teórica na dialética, de vocação crítica, que nos marca pela inquietude de
tornar os conhecimentos produzidos mecanismos instrumentalizadores das lutas sociais.
(SILVA, 2001, p. 126 apud DIÓGENES, 2014, p. 244). Diferente de qualquer perspectiva
analítica, descritiva, unicamente empírica e baseada apenas na observação e quantificação dos
fatos observáveis. Para nós importa a luta pela hegemonia numa sociedade excludente, muito
mais do que formas culturais que se “distinguem culturalmente”. Nosella e Buffa (2005, p.
358) fazem uma crítica à pesquisas de culturalistas que não se espantam com as lutas de
classes:
[...] tanto a fotografia de um aluno descalço de uma escola profissional quanto a de
uma aluna de grupo escolar, vestida de azul e branco numa escrivaninha, tendo a seu
lado o globo terrestre, suscitam a mesma emoção e o mesmo encantamento [aos
culturalistas]. Por isso, não se indignam diante da desigualdade social e escolar
expressas nessas imagens. (BUFFA, NOSELLA, 2005, p. 358).
Não é menos importante estudar práticas culturais, educacionais no interior de uma
instituição social, ou escolar, que é o nosso objeto, mas esses estudos, precisam estar
submetido a um objetivo maior que é a superação da sociedade de classes. Bittar, Ferreira
Junior (2009) e Nosella, Buffa (2005) apontam que nas duas últimas décadas do século XX,
houve a crise do marxismo, e surgiram novas tendências para estudar a história da educação e
a história das instituições escolares.
Marcados por esses novos paradigmas ganharam relevância e alcançaram posição
hegemônica no âmbito da história e, por extensão, na história da educação. Assim, no âmbito
da produção acadêmica em educação, assistiu- se a um processo de pulverização da pesquisa
em micro-objetos fragmentados e isolados dos fenômenos econômicos, sociais e políticos que
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animam as relações capitalistas de produção, desconectados da totalidade capitalista na qual
os mesmos objetos de pesquisa estão imersos. (BITTAR, FERREIRA JUNIOR, 2009, p. 489-
491).
A Nova História e a História Cultural foi apontada pelos autores como referencial na
maioria das teses e dissertações do presente levantamento bibliográfico sobre Escola Normal
e Formação de Professores, são os paradigmas chamados de pós-modernos. Bittar e Ferreira
Junior (2009) afirmam que essas tendências de origem francesa chegaram ao Brasil e foram
postas em prática de forma equivocada. Os autores citam Luis Felipe de Alencastro e Ciro
Flamarion Cardoso. O último afirma que o paradigma pós-moderno avançou no Brasil,
diferente de como foi na França, aponta que neste país, quando os pesquisadores começaram a
utilizar o referido referencial já haviam realizado um mapeamento muito detalhado a respeito
das especificidades macro e micro econômicas região por região em termos da História
Econômica, também, tinham usado os arquivos a fundo, portanto dispunham de uma ideia
bastante boa de como era a História Econômica e Social da França.
Ou seja, a crítica recai sobre aquilo que destoa na formação histórica, econômica e
social dos franceses e dos brasileiros, enquanto os primeiros, ao emergir da Escola dos
Annales já dispunham de um amplo conhecimento econômico, os segundos se apropriaram de
uma vertente analítica histórica sem as mesmas bases epistemológicas e historiográficas do
local de sua origem.
Salienta-se com base nessas críticas que o conhecimento desde a crise do marxismo,
vem se tornando fragmentário, com supervalorização de alguns aspectos de análise em
detrimento de outros. Nas palavras de Nosella e Buffa (2005, p. 355) as pesquisas sobre
instituições escolares vem sendo resvalada em reducionismos teóricos, “tais como
particularismo, culturalismo ornamental, saudosismo, personalismo, descrição laudatória ou
apologética.”
Netto (200-) ilustra muito bem a análise que deve ser feita por um pesquisador
comprometido com a verdade e o real movimento dos fatos:
[...] numa carta de 5 de agosto de 1890, Engels protestava contra procedimentos
deste gênero, insistindo em que a nossa [de Marx e dele] concepção da história é,
antes de tudo, um guia para o estudo [...]. É necessário estudar novamente toda a
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história – e estudar, em suas minúcias, as condições de vida das diversas formações
sociais – antes de fazer derivar delas as idéias políticas, estéticas, religiosas [...] etc.
que lhes correspondem (MARX, ENGELS, 1963, p. 283 apud NETTO, 200-, p. 02).
Em conformidade com o referido autor, agora citando Lukács: “é o ponto de vista da
totalidade e não a predominância das causas econômicas na explicação da história que
distingue de forma decisiva o marxismo da ciência burguesa” (LUKÁCS, 1974, p. 41 apud
NETTO, 200-, p. 03). Especificando tais postulados para a área da pesquisa em instituição
escolar, as transformações que ocorrem no seu interior, também não são unicamente
determinadas por condições econômicas:
Quaisquer transformações no interior de uma instituição escolar, por exemplo, não
podem ser tomadas exclusivamente por causas geradas no âmbito das relações
sociais de produção, pois as próprias instituições superestruturais, movidas por um
conjunto complexo e contraditório de causas (políticas, ideológicas, religiosas,
culturais, pedagógicas etc.), acabam por estabelecer entre si múltiplas interações que
têm consequências nem sempre condicionadas economicamente. (BITTAR,
FERREIRA JR, 2009, p. 504).
Consideramos importante fazer essas ponderações paradigmáticas porque na leitura
das teses e dissertações, encontramos inúmeras críticas ao marxismo, então vimos a
necessidade de interpor nosso posicionamento diante algumas discussões que manifestam
uma fragilidade teórica. O marxismo não é reducionismo econômico, e seu objeto de estudo
não foram as práticas culturais, práticas escolares, mas sim a sociedade capitalista. E quando
precisou analisar o micro para entender o macro, ele o fez.
2. Levantamento Bibliográfico
Encontramos 9 trabalhos que se baseiam nos princípios da História Cultural:
Gonçalves (2013), Monteiro (2012), Perez (2012), Santos (2012), Pestana (2011), Ozelin
(2010), Costa (2008), Almeida (2007) e Furtado (2007). Nessas produções se evidencia a
utilização do conceito de apropriação de Roger Chartier, trajetória de ex-normalista, e cultura
escolar predominantemente.
Lima (2014) indica como principal metodologia a História Oral, assim como Inácio
(2011), Delgado (2009) e Moraes (2008). Na perspectiva Bourdieusiana citamos os trabalhos
de Silva (2009) e Ortiz (2014), sendo esta última identificada na produção regional. Malheiros
(2012) utiliza como metodologia de análise a escola dos Annales e a perspectiva de Mikhail
Backtin. O trabalho de Castro (2011) tem como tema principal a Escola Nova no Acre, na
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gestão de Maria Angélica de Castro à frente do Departamento de Educação e Cultura nos anos
de 1946-1951, toma o conceito de “apropriação” de Michel de Certeau e Roger Chartier.
Nogaro (2001) também,cita principalmente Michel de Certeau no tópico referente ao
referencial teórico e as questões metodológicas. No mesmo viés de análise Lhullier (1999)
estuda as ideias psicológicas e o ensino de Psicologia nos Cursos Normais da cidade de Porto
Alegre-RS de 1920 à 1950.
A dissertação de Fonseca (2010) se refere à trajetória da formação e atuação docente
de uma ex-normalista, Alda Lodi (1898-2000) no período entre 1912-1932. A autora analisa o
período, apoiada nas ideias de Marc Bloch.
Scheneider (2007) busca compreender a reforma da instrução pública realizada, em
1882, no Espírito Santo pelo presidente da Província Inglês de Sousa. O autor utiliza Roger
Chartier, Michel de Certeau e Marta Maria Chagas de Carvalho uma das representantes mais
importantes da História Cultural no Brasil.
Nascimento (2011) procede ao acompanhamento das trajetórias de quatorze
professoras que atuaram em diferentes momentos do século XIX na cidade de Sabará- MG.
Utiliza Pierre Bourdieu, Giovanni Levi e Norbert Elias e faz uma crítica ao marxismo que une
os grupos sociais apenas pelo viés econômico. O que não é verdade, pois o que Marx
preconiza é a consciência de classe para a superação da sociedade capitalista, não significa
que os grupos sociais só se unem quando partilham do mesmo poder econômico.
A dissertação de Ferreira (2010) retratou o processo de instalação, funcionamento e
organização da Escola Normal da Capital entre os anos de 1906 a 1916, na cidade de Belo
Horizonte. Recorreu a autores que versam sobre a história das instituições educativas, entre
eles: Décio Gatti Júnior e Justino Magalhães. Também acudiu ao pesquisador português
Antônio Nóvoa para entender o sentido da criação das escolas normais, e as teorizações de
Roger Chartier para compreender a representação constituída sobre os professores primários a
partir da reforma de 1906. Por fim, utiliza Norbert Elias para explicar a Escola Normal da
Capital como uma figuração de sujeitos.
Pisaneschi (2008) nos pressupostos teóricos a autora cita Antonio Nóvoa para discutir
a profissionalização docente e Pierre Bourdieu com o conceito de campo. A autora aponta
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elemento importante a se considerar na história das instituições de formações de professores:
uma política de descontinuidade que têm marcado a condução das ações governamentais
voltadas à formação inicial de professores no Brasil, desde seus primórdios.
Azevedo (2005) procura analisar a história da Escola Normal Carlos Gomes de
Campinas-SP, pela via das memórias de formação de professores para as séries iniciais da
rede pública de ensino, entrecruzando vozes de dois depoentes: uma ex-aluna e um ex-
professor com as vozes dos republicanos e educadores do período. Como aporte teórico utiliza
Eric Hobsbawn sobre rituais e tradições encontrados na pesquisa, Carlo Ginzburg sobre
releitura de narrativas do presente e do passado, Le Goff sobre o conceito de memória, Marc
Bloch sobre documentação histórica, Chartier sobre representação social.
O texto de Antunes (2012) trata de aprofundar o conhecimento sobre quatro
experiências específicas de formação de professores da etnia Kaingang que já foram
desenvolvidas no Rio Grande do Sul, dentre elas o Projeto Escola Normal Indígena Clara
Camarão (1970 à 1980) que sediou o curso de formação de monitores bilíngues Kaingang e
Guarani.
Na perspectiva explicitamente Marxista totalizaram apenas 4 trabalhos: Nascimento
(2004), Carvalho (2014), Simões (2014), Bezerra (2015), sendo os três últimos produtos de
pesquisadores de Campo Grande-MS que no tópico três traremos com mais detalhes..
Nascimento (2004) orientada por Claudinei Lombardi investiga o processo histórico de
constituição e instituição da primeira escola de professores na região dos Campos Gerais do
Estado do Paraná.
Outro estudo que busca as “múltiplas determinações” é o de Nogueira (2012), que em
sua dissertação busca recuperar a identidade institucional e os documentos e percursos da
Escola Normal Regional Júlia de Souza Wanderlei, primeira escola de formação de
professoras primárias da cidade Cornélio Procópio, no Norte do Paraná, no período em que a
mesma funcionou: de 1953 à 1967.
Um estudo que não deixou claro seu referencial teórico foi o de Freitas (1995) o
trabalho mais antigo da nossa coleta, e portanto o último a ser analisado. A autora analisou as
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representações das ex-normalistas do Instituto de Educação Rui Barbosa- Escola Normal
acerca da formação profissional e do ingresso na carreira do magistério.
3. Produções regionais acerca da Escola Normal
À respeito das produções regionais sobre Escola Normal no sul de Mato Grosso,
identificamos 9 dissertações: Garcia (2015), Costa (2015), Bezerra (2015), Carvalho (2014),
Ortiz (2014), Simões (2014), Oliveira (2014), Gonçalves (2009) e Araujo (1997).
Carvalho (2014) analisou a EN Jango de Castro em Aquidauana (1949-1975), Simões
(2014) a EN Joaquim Murtinho em Campo Grande (1930 à 1973) e Bezerra (2015) a EN de
Ponta Porã (1959-1974). Esses três trabalhos são do Programa de Pós Graduação em
Educação da UFMS, e trabalharam com a abordagem teórica marxista para a análise de seus
objetos e visaram desvendar as múltiplas determinações configuradas no movimento do real
na sociedade capitalista no contexto da totalidade, ou seja, apontaram para determinantes
sociais, econômicos e políticos. As referidas pesquisas utilizam o aporte legal sobre a
instituição no sul de Mato Grosso, e em nível nacional, documentos da época que retratavam a
Escola Normal, tais como relatórios de dirigentes, e documentação referente à própria
instituição escolar: livro de matrícula, de ponto, atas de reuniões, portarias, entre outros,
também realizaram entrevistas com ex-alunos, ex-professores, e ex-funcionários.
Carvalho (2014) conclui que o processo de implantação da instituição no munício de
Aquidauana se vinculou a um contexto mais amplo, ou seja, às diversas transformações de
caráter econômico, político e social encetadas, influenciaram a instalação da escola Normal,
portanto evidencia a relação entre o singular e universal no estudo. Os resultados obtidos pela
referida autora, indicaram que dada a realidade histórico-social, com a qual estabeleceu
múltiplas mediações, a institucionalização da Escola Normal no município acompanhou o
desenvolvimento das relações sociais da sociedade capitalista. Enfim, configurou-se em
moldes permeados de características próprias com relação ao corpo docente, o perfil dos
discentes e sua condição de classe. Afirma que a trajetória da Escola Normal Jango de Castro
foi marcada pela precariedade do espaço físico, escassez de professores com formação na
área, uma vez que tal modalidade de ensino, em sua oferta, contou com a participação de
professores leigos, os quais se desdobravam no exercício de dois ou mais ofícios, assim foram
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localizados no arquivo escolar traços de ordem e de controle, cuja finalidade precípua residia
em amenizar as consequências dessa realidade um tanto precária, afirma a autora.
Simões (2014) aponta como resultado de sua pesquisa que a historicidade da
instituição de formação de professores de nível médio mostrou-se relacionada à história da
Escola Normal no Brasil, mediadas pelas singularidades políticas e econômicas do estado e
das condições de materialização da própria prática escolar. As entrevistas e documentos
escolares analisados pela pesquisadora revelaram as influências políticas na instituição que
determinaram a constituição do corpo docente mediante o afastamento de professores aliados
aos partidos da oposição e a incorporação daqueles ligados à situação. Outras questões
analisadas tais como a prova de admissão e o pagamento de taxas escolares em alguns
períodos da instituição, revelaram um pouco da autonomia do diretor sobre a Escola Normal,
pois, nem sempre se seguia rigorosamente as orientações dos regulamentos legais vigentes.
Bezerra (2015) buscou evidenciar as políticas nacionais relativas ao ensino normal e as
políticas estaduais voltadas para esse nível de ensino, por meio da análise das legislações
elaboradas no final do Estado Novo. O estudo destacou a relação entre o ensino primário e o
ensino normal e situou a Escola Normal de Ponta Porã naquele momento histórico,
procedimento tomado por pesquisadores marxistas para não incorrer em erros anacrônicos. O
autor destaca que a instalação da Escola Normal se realizou em um período de transição de
controle da base material, tendo assim, a educação um papel mais importante nessa nova fase.
Foram ainda analisados dois trabalhos referentes ao município de Campo Grande-MS,
mas não deixam explícito seu referencial, embora abordam as análises dos documentos com
base em autores identificados com a corrente historiográfica marxista são os de Gonçalves
(2009) e Araújo (1997).
O trabalho de Gonçalves (2009) analisa a organização dos grupos escolares, como
parte das políticas públicas educacionais no período compreendido entre as décadas de 1910 a
1950, no sul do estado de Mato Grosso, em especial no município de Campo Grande,
particularmente, o Grupo Escolar Joaquim Murtinho, primeiro grupo escolar implantado no
sul do estado, no referido município. Ressalta-se que esse estudo foi selecionado para análise
porque segundo Araujo (1997) a partir de 1938 a denominação “Escola Normal e Modelo
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Annexa” aparece em concomitância com o nome “Grupo Escolar Joaquim Murtinho”, ou seja,
se trata da mesma instituição que também abrigou o modelo escolar de Escola Normal.
Araujo (1997) utiliza José Luis Sanfelice para suas análises sobre instituição escolar,
que segundo Bittar e Ferreira Junior (2009) este autor aplica o procedimento metodológico
que estabelece a relação entre o singular e o universal no processo de investigação das
instituições escolares. A autora apresenta a reconstrução da história do ensino da didática no
Sul de Mato Grosso na década de trinta, partiu do princípio de que a Didática mantinha a
marca evidenciada em suas raízes: a ordem e o controle. Sobre a história das disciplinas
escolares a autora utiliza André Chervel e sobre aspectos singulares do ponto de vista da
totalidade, utiliza Gilberto Luis Alves.
Dois autores indicaram o aporte teórico da Nova História Cultural, Costa (2015) e
Oliveira (2014) ambos da UEMS, os dois partem da trajetória de vida de ex-normalistas.
Costa (2015) analisa a formação e identidade de uma professora negra ex-aluna da Escola
Normal Dom Aquino Corrêa de Três Lagoas, Wilma Rodrigues de Souza, e Oliveira (2014)
analisa a trajetória da ex-normalista Maria Constança Barros Machado.
Garcia (2015) em sua dissertação estudou sobre o Curso Normal Estadual em
Paranaíba no período de 1967 à 1975. A pesquisa da autora fundamentou-se na abordagem
histórica, na vertente da Nova História.
Ortiz (2014) perscrutou as práticas escolares, culturais e sociais empreendidas pela
Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, no período de 1946 a 1961 e utilizou como aporte
teórico a perspectiva Bourdieusiana.
A literatura da área aponta que as Escolas Normais estiveram de acordo com um
movimento nacional, de grande ruptura no ensino normal, e que essa escolarização era de
prestígio para famílias mais abastadas, assim como seu modelo seguia determinações sociais e
econômicas à determinados períodos de desenvolvimento brasileiro.
Considerações Finais
As Escolas Normais do período imperial sempre apontam para um ideário liberal e
positivista como discurso de ascensão à modernidade brasileira, já as Escolas Normais do
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período republicano apontam para o ideário escolanovista com foco no aluno e detrimento da
tutela religiosa. Mas num período posterior à primeira república, encontrou-se trabalhos que
estudam a Escola Normal e evidenciam o ideário escolanovista dentro da formação de
professores na esfera confessional católica.
Inúmeros trabalhos para sua materialização, os pesquisadores contaram com uma série
de documentos reunidos num local definido: ou museu, ou arquivo público voltado para a
história, memória da educação, ou a reunião de materiais doados de arquivos pessoais de
importantes nomes da história da educação, mais especificamente ex- normalistas e, com
exceção de Malheiros (2012) – que não adotou procedimento de entrevista –, todos os
trabalhos utilizaram fontes orais e pesquisa documental.
Um aspecto que também chama atenção é a importância dada ao aspecto cultural nas
narrativas dos trabalhos analisados, e também na maioria das vezes os pesquisadores
descrevem o ambiente político e pedagógico que estava em efervescência ao tempo
cronológico pesquisado.
Destacamos também que autores como Roger Chartier, Michel de Certeau, Marta
Maria Chagas de Carvalho, Dermeval Saviani e Antonio Nóvoa, apareceram com bastante
frequência nas pesquisas. E que apenas sete trabalhos dos 39 analisados, não estão na vertente
da Escola dos Annales. E os principais temas foram: 1. trajetória de vida de ex- normalistas, 2.
história da instituição escolar, 3. representação ou apropriação da profissão docente, 4. análise
de discurso sobre a professora ou a Escola Normal e 5. cultura escolar.
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