Estanqueidade Garantida TC 189 Dez-2012

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Estanqueidade garantida Conheça os sistemas de impermeabilização cimentícia e suas principais indicações de uso Gisele Cichinelli Impermeabilizantes rígidos podem ser especificados para áreas não sujeitas a fissuração, enterradas ou não Vedar a porosidade das estruturas de concreto com argamassa em locais com pouca movimentação estrutural, impedindo a passagem de água do solo e sua ação nociva é a principal função dos impermeabilizantes cimentícios, popularmente conhecidos como rígidos. Quando aplicados de acordo com as especificações e orientações de um bom projeto de impermeabilização, esses produtos formam uma barreira física que contém a propagação da umidade, evitando assim o surgimento de infiltrações e de suas consequências, como desplacamentos e descoloração de azulejos e pisos, surgimento de manchas de bolor, goteiras, bolhas e corrosão da armadura. No mercado, há uma infinidade de produtos disponíveis para atender às diversas necessidades da obra. Divididos em três grupos (veja quadro Impermeabilizantes rígidos), são vendidos basicamente como argamassas industrializadas, produtos bicomponentes, aditivos químicos para argamassa ou concreto ou, ainda, em forma de pinturas que formam um revestimento impermeável. Vale ressaltar, no entanto, que características como falta de flexibilidade e de recuperação elástica (capacidade de retornar à posição inicial sem romper após cessar o esforço a que esteve submetido) tornam seu uso proibido em estruturas sujeitas às movimentações. Com módulos de elasticidade compreendidos na faixa de 300 MPa a 500 MPa, essa linha de produtos é especialmente indicada para reservatórios e piscinas enterrados no solo, fundações, pisos de áreas internas, paredes de alvenaria e muros de arrimo. " Apesar de apresentarem elevada resistência à passagem de água (chegam a ultrapassar o valor de 60 m de coluna d'água em ensaios de estanqueidade), não são estanques à

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Estanqueidade garantida

Conheça os sistemas de impermeabilização cimentícia e suas principais indicações de uso

Gisele Cichinelli

Impermeabilizantes rígidos podem ser especificados para áreas não sujeitas a fissuração, enterradas ou não

Vedar a porosidade das estruturas de concreto com argamassa em locais com pouca movimentação

estrutural, impedindo a passagem de água do solo e sua ação nociva é a principal função dos

impermeabilizantes cimentícios, popularmente conhecidos como rígidos. Quando aplicados de acordo

com as especificações e orientações de um bom projeto de impermeabilização, esses produtos formam

uma barreira física que contém a propagação da umidade, evitando assim o surgimento de infiltrações e

de suas consequências, como desplacamentos e descoloração de azulejos e pisos, surgimento de

manchas de bolor, goteiras, bolhas e corrosão da armadura.

No mercado, há uma infinidade de produtos disponíveis para atender às diversas necessidades da obra.

Divididos em três grupos (veja quadro Impermeabilizantes rígidos), são vendidos basicamente como

argamassas industrializadas, produtos bicomponentes, aditivos químicos para argamassa ou concreto

ou, ainda, em forma de pinturas que formam um revestimento impermeável.

Vale ressaltar, no entanto, que características como falta de flexibilidade e de recuperação elástica

(capacidade de retornar à posição inicial sem romper após cessar o esforço a que esteve submetido)

tornam seu uso proibido em estruturas sujeitas às movimentações. Com módulos de elasticidade

compreendidos na faixa de 300 MPa a 500 MPa, essa linha de produtos é especialmente indicada para

reservatórios e piscinas enterrados no solo, fundações, pisos de áreas internas, paredes de alvenaria e

muros de arrimo. "Apesar de apresentarem elevada resistência à passagem de água (chegam a

ultrapassar o valor de 60 m de coluna d'água em ensaios de estanqueidade), não são estanques à

passagem de vapor. Quando necessária a impermeabilidade ao vapor d' água, devem ser conjugados com camadas de impermeabilizantes asfálticos", lembra ainda Maria Amélia Silveira, assessora técnica do Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI).

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Aplicação sem erros

A aplicação dos impermeabilizantes rígidos exige atenção. Confira os principais cuidados que devem ser observados durante essa etapa:● Os sistemas rígidos jamais devem ser utilizados em locais onde estejam previstas movimentações estruturais, como lajes de cobertura, por exemplo● Nunca aplicar argamassa polimérica rígida sobre a flexível em situações que exigem sistemas conjugados de argamassas● O substrato deve ser preparado adequadamente, com tratamento correto de bicheiras, juntas de concretagem, fissuras etc. antes da impermeabilização● Evite aplicar as argamassas poliméricas sobre substrato seco. O substrato irá absorver a resina e depositar somente o pó sobre a estrutura, comprometendo o desempenho do produto● As argamassas poliméricas não devem ser aplicadas sobre substrato de argamassa com aditivo hidrófugo, sob pena de comprometer o resultado final (a molhagem do substrato será deficiente)● As argamassas poliméricas também não devem ser aplicadas sobre substrato impregnado com materiais asfálticos provenientes de antigas impermeabilizações, erro comum em serviços de reimpermeabilização de reservatórios. Caso esse cuidado não seja observado, as argamassas poliméricas não irão aderir ao asfalto e o sistema não apresentará um bom desempenho

Normas técnicas

● NBR 16.072:2012 - Argamassa Impermeável

● NBR 15.885:2010 - Membrana de Polímero Acrílico com ou sem Cimento para Impermeabilização

● NBR 9.575:2010 - Impermeabilização - Seleção e Projeto

● NBR 9.574:2008 - Execução de Impermeabilização

Condições de obra

A escolha por um determinado produto dependerá das características da obra e da forma com que a

água exerce pressão na estrutura. "Baldrames, pisos em contato com solo, paredes de encosta, muros

de arrimo, piscina e reservatório enterrado estão sujeitos à umidade do solo ou à pressão unilateral ou

bilateral. Em situações com água vertendo ou com forte pressão d'água, é necessária a composição de

vários produtos para bloquear a água. Daí a importância de um projeto de impermeabilização que

investigue previamente as condições da obra e determine os produtos mais adequados para promover a

estanqueidade da estrutura", lembra Eliene Ventura, do IBI.

Para evitar erros, é imprescindível que a especificação desses impermeabilizantes leve em conta as

premissas do cálculo da estrutura da edificação. Por não possuírem elasticidade suficiente para

acompanhar as movimentações previstas para lajes de cobertura, os sistemas rígidos, por exemplo,

jamais devem ser aplicados nesse tipo de estrutura. Em locais com forte pressão do lençol freático, é

necessário prever sempre a aplicação das argamassas poliméricas sobre o concreto. "Em piscina, por

exemplo, a impermeabilização tem de ser executada sobre o concreto, antes da execução do

requadramento das paredes e do piso com argamassa. Dessa forma, o impermeabilizante é aplicado

sobre substratos mais firmes, menos suscetíveis a trincas", observa Maria Amélia. Já em casos onde o

substrato apresentar filme de água, será necessário

proceder a um tamponamento com cristalizante e

posterior aplicação de um produto de "pega normal",

que poderá ser tanto a argamassa polimérica, quanto a

argamassa impermeável.

Patologias recorrentes

Entre as principais patologias (veja o quadro Aplicação

sem erros) ocasionadas pela incorreta aplicação da

impermeabilização, estão o surgimento de trincas

devido à movimentação da estrutura e, posteriormente,

o destacamento do revestimento. "Problemas de

destacamento também podem ser causados pela falta

de chapisco ou espessura em demasia e sem a

colocação da tela estruturante. Ou ainda em virtude do

Aplicação de argamassa impermeável não industrializada é opção para proteger vigas baldrames, contanto que não haja contato

com lençol freático

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uso de traços inadequados, tanto na proporção dos materiais, quanto na sua composição, usando pouco

cimento, areia com impurezas ou granulometria inadequada", ressalta Eliene.

Além de respeitar o consumo dos produtos e o tempo de cura especificados pelos fabricantes, outra

recomendação para evitar problemas nessa etapa é contar com projeto e planejamento da

impermeabilização - que deverá ser compatibilizado com os demais: hidráulica, elétrica, paisagismo e ar-

condicionado -, além de mão de obra qualificada para executar essa tarefa. "O bom desempenho do

sistema é garantido com o adequado controle dos serviços, verificando os materiais de acordo com

especificações, consumo e procedimento de aplicação adequados e observando a validade dos materiais

em aplicação. As recomendações de fábrica devem ser seguidas rigorosamente", completa Virginia

Pezzolo, diretora técnica da Proassp Assessoria e Projetos.

Impermeabilizantes rígidos

1 Argamassa impermeável com aditivo hidrófugoSistema não industrializado em que a argamassa virada em canteiro é misturada com aditivos hidrofugantes, comercializados na forma líquida. Ao serem adicionados às argamassas, esses aditivos reduzem sua permeabilidade, criando repelência à água na estrutura interna dos capilares, formando assim um revestimento com propriedades impermeabilizantes. Devem atender aos requisitos da NBR 16.072 - Argamassa Impermeável. O uso do produto não é indicado em situações em que haja contato com lençol freático, condição que impossibilita a aplicação no substrato.

2 Argamassas e cimentos poliméricosTambém chamado de sistema semiflexível, são produtos industrializados comercializados na versão bicomponente - uma parte em pó, composta por cimento, areia e agregados minerais, e outra líquida, com polímeros que conferem flexibilidade ao conjunto. Podem ter uma grande variedade de aplicações e de propriedades em função do teor de resinas utilizadas em sua fabricação. Normalmente, os produtos mais rígidos resistem melhor a pressões negativas (água atuando do lado contrário ao da impermeabilização), enquanto os mais flexíveis são mais recomendados para impermeabilizações contra pressão de água positiva (água atuando no sentido de pressionar a impermeabilização). Em algumas especificações, são conjugados os dois tipos de argamassas poliméricas, sendo que nas primeiras camadas se aplicam as argamassas poliméricas para pressão negativa e depois as mais flexíveis, indicadas para pressões positivas. Os produtos devem atender aos requisitos das normas NBR 11.905:1992 - Sistema de Impermeabilização Composto por Cimento Impermeabilizante e Polímeros e NBR 15.885:2010 - Membrana de Polímero Acrílico com e sem Cimento, para Impermeabilização. O uso do produto não é indicado em situações em que haja contato com lençol freático, condição que impossibilita sua aplicação.

3 CristalizantesSão compostos químicos que, ao entrarem em contato com a água de infiltração, cristalizam-se para constituir uma barreira impermeável resistente a pressões negativas. Indicado para impermeabilizações temporárias. Utilizados, sobretudo, para conter infiltrações localizadas e prover impermeabilidade a grandes estruturas em concreto. Nessa linha de produtos, existem os cimentos de pega ultrarrápida e alguns produtos líquidos que, misturados ao cimento Portland, têm início de pega em menos de dez segundos. São usados como auxiliares de impermeabilização para tamponamentos em jorros d'água, mas necessitam receber uma posterior impermeabilização com argamassas poliméricas. Também há produtos cristalizantes compostos de cimento, sílica e compostos químicos ativos, que reagem com a umidade do concreto fresco, formando cristais insolúveis que obstruem os poros e capilares da estrutura de concreto. Ainda não há norma especifica para o sistema. Há produtos monocomponentes, líquidos ou em pó, que podem ser misturados à água, ao cimento ou aplicados diretamente sobre a infiltração ou demais áreas a serem impermeabilizadas. Também existem produtos bicomponentes.

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Fontes: Sérgio Cardoso Pousa, diretor da Proiso Projetos e Consultoria, e Maria Amélia Silveira, assessora técnica do Instituto Brasileiro de Impermeabilização.

Poliméricas ou impermeáveis?

A argamassa polimérica possui como vantagem a facilidade de

aplicação, já que na maioria dos casos é aplicada na forma de

pintura. Porém, como a espessura resultante é pequena, o

sistema estará sujeito a danos causados pela queda de materiais

pontiagudos na obra. Outro ponto que requer atenção é o

consumo do material, que nem sempre é respeitado na obra, o

que impede a formação da camada necessária para o perfeito

recobrimento da superfície a ser impermeabilizada. Já a

argamassa impermeável atinge maiores espessuras (1,5 cm a 2

cm), mas, por outro lado, requer chapisco prévio de argamassa com cimento, areia, adesivo e água.

O melhor controle da qualidade obtido no processo de produção também é lembrado por especialistas

como a maior vantagem das argamassas poliméricas industrializadas quando comparadas aos produtos

não industrializados. "Os impermeabilizantes industrializados têm ainda a vantagem de serem

previamente dosados e contar com componentes selecionados, de tal forma que o desempenho final

segue parâmetros mínimos de norma técnica", explica Eliene. Por outro lado, ressalta Maria Amélia, o

uso das argamassas poliméricas "viradas" em obra pode ser a única opção em obras distantes dos

grandes centros produtores de impermeabilizantes industrializados. "Nesses casos, a solução é mandar a

resina para a obra, onde será misturada ao cimento local", conta. Nessas situações, no entanto, é preciso

contar com um controle rígido das características do cimento usado e certificar- se da sua

compatibilidade e do seu desempenho junto à resina fornecida. (colaborou Sérgio Cardoso Pousa)

Com pega rápida, cristalizantes são indicados para o tamponamento

temporário de infiltrações