Este é Um Blog Para Pessoas Interessadas Nos Engenhos de Pernambuco

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Este é um blog para pessoas interessadas nos engenhos de Pernambuco. Espero a cooperação de todos que o acessem, para que possamos resgatar a história dos engenhos pernambucanos desde a sua fundação, de seus proprietários e/ou moradores. 16/06/14 Engenho Aiama da Riba/Igarassu Nome histórico Aiamá (Anjama, Inhamã), Aiama da Riba (de Cima). O nome Inhamã é de origem tupi e segundo Alfredo Carvalho significa água em torno, círculo d’água. Nome atual Hoje não existe mais vestígio do engenho e suas terras estão na área urbana do bairro Cruz de Rebouças/Igarassu-PE. Natureza Engenho movido à água, com igreja dedicada aos Fiéis de Deus. Localização Capitania de Pernambuco. Jurisdição: Vila Antiga de Igarassu. Situado na margem esquerda do Rio Aiamã (Arroio Caité). Citado nos mapas - Præfecturæ Paranambucæ pars borealis, una cum Præfectura de Itâmaracâ - Mapa IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 Capitania de Itamarica - plotado como 'Ԑ. Anjama', na m.e. 'R. Anjama'. - Mapa IT (Orazi, 1698) Provincia di Itamaracá, plotado como 'E Aniama', na m.e. do 'R Aniana'. - Mapa PE (Orazi, 1698) Provincia di Pernambvco, plotado, sem nome, na m.e. do 'Guiarare', afluente m.e. rio 'Aiama'. Pensão Segundo Evaldo Cabral de Mello (O Bagaço de Cana, 2012) em 1560 a Coroa portuguesa concedeu aos colonos que levantassem engenho de açúcar a isenção do pagamento dos impostos da dízima e da sisa (20%) durante o prazo de 10 anos, findo os quais passariam a pagar a “meia liberdade” (10%), limitada ao decênio

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ENGENHO PERNAMBUCO

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Este é um blog para pessoas interessadas nos engenhos de Pernambuco. Espero a cooperação de todos que o acessem, para que possamos resgatar a história dos engenhos pernambucanos desde a sua fundação, de seus proprietários e/ou moradores.

16/06/14

Engenho Aiama da Riba/Igarassu

Nome histórico

Aiamá (Anjama, Inhamã), Aiama da Riba (de Cima).O nome Inhamã é de origem tupi e segundo Alfredo Carvalho significa água em torno, círculo d’água.

Nome atualHoje não existe mais vestígio do engenho e suas terras estão na área urbana do bairro Cruz de Rebouças/Igarassu-PE.

Natureza Engenho movido à água, com igreja dedicada aos Fiéis de Deus.

LocalizaçãoCapitania de Pernambuco. Jurisdição: Vila Antiga de Igarassu.Situado na margem esquerda do Rio Aiamã (Arroio Caité).

Citado nos mapas

- Præfecturæ Paranambucæ pars borealis, una cum Præfectura de Itâmaracâ- Mapa IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 Capitania de Itamarica - plotado como 'Ԑ. Anjama', na m.e. 'R. Anjama'.- Mapa IT (Orazi, 1698) Provincia di Itamaracá, plotado como 'E Aniama', na m.e. do 'R Aniana'.- Mapa PE (Orazi, 1698) Provincia di Pernambvco, plotado, sem nome, na m.e. do 'Guiarare', afluente m.e. rio 'Aiama'.

Pensão

Segundo Evaldo Cabral de Mello (O Bagaço de Cana, 2012) em 1560 a Coroa portuguesa concedeu aos colonos que levantassem engenho de açúcar a isenção do pagamento dos impostos da dízima e da sisa (20%) durante o prazo de 10 anos, findo os quais passariam a pagar a “meia liberdade” (10%), limitada ao decênio consecutivo.

História e Biografia dos Proprietários

Eng. Monjope/Igarassu

            Segundo vários autores, em 23/10/1600, as terras onde foi fundado o engenho Inhamã (água em torno, circulo d'água) pertenciam a Antônio Jorge e Maria Farinha(nada foi encontrado sobre o casal), que desmembram parte dela (800 braças em quadra), e as doam aos jesuítas do Colégio de Olinda, que constroem o engenho Monjope/Igarassu, no restante das terras foram fundados os engenhos: Aiama de Riba, sob a invocação dos Fies de Deus, e o Aiama de Baixo, sob a invocação de Nossa

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Senhora do Rosário. NOTA: O nome Aiama é de origem tupi e segundo Alfredo Carvalho significa água em torno, círculo d'água.

O primeiro proprietário e fundador do engenho Aiama de Riba/Igarassu foi Vasco Fernandes de Lucena, que, em 1540, recebeu as terras do primeiro Donatário Duarte Coelho Pereira.

Brasão da família Lucena

Vasco Fernandes de Lucena (de Azevedo) – Cristão-velho. Nascido em Portugal e falecido no séc. XVI/Pernambuco. Filho de Sebastião de Lucena e de D. D. Maria de Vilhena. Neto materno e Diogo de Azevedo (senhor donatário da vila de São Joâo de Rei/Braga, chamados vulgarmente fidalgos da Tapada). Primeiro Alcaide-mor de Pernambuco. Cavaleiro da Ordem de Cristo. Feitor e Almoxarife de Fazenda Real em Pernambuco.Pereira da Costa descreve Vasco de Lucena como de origem fidalgo e um dos mais conceituados colonos pernambucanos, que chegara com o 1º Donatário Duarte Coelho Pereira (09/03/1535), com o despacho de Feitor e Almoxarife da Fazenda Real em Pernambuco, trazendo sua mulher D. Brites Dias Correia.Como Alcaide-mor de Olinda o Donatário escreveu uma carta dirigida ao Rei, em 22/03/1548, dizendo que Vasco de Lucena era "um funcionário cumpridor dos seus deveres, homem de bem e de boa consciência, tendo sempre dado boa conta de si".Segundo Vicente do Salvador, Vasco Fernandes de Lucena se afeiçoara a filha de um principal dos índios, com quem tivera filhos. Vasco Fernandes era tão bem temido e estimado entre os gentios, que o principal se tinha se sentia honrado em tê-lo por genro, porque o tinham por grande feiticeiro. Era ele muito versado na língua brasílica.Ainda sobre Vasco Fernandes de Lucena encontramos honrosa menção nas cartas de brasão de armas conferidas a dois de seus descendentes, a primeira a 06/05/1790, a Teodoro Correia de Azevedo Coutinho, e a segunda em 20/09/1800 em favor de Manuel Correia de Faria, ambos do Estado do Maranhão. Na primeira das referidas cartas se lê o seguinte: "Vasco Fernandes de Azevedo Lucena, fidalgo da casa real, foi um dos primeiros descobridores e povoadores de Pernambuco, que pelos grandes serviços que fêz naquele Estado para estender a sua povoação, que tôda se deveu ao seu valor e atividade, como faz memória o Padre Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo IX pag. 306, se lhe fêz mercê da alcaidaria-mor de Pernambuco”.CURIOSIDADES: Em torno dele foi criado um mito: no momento da disputa pela preferência, quando os índios cercaram os colonos, Lucena teria discursado para a tribo, pedindo a adesão a Portugal e ameaçando os que preferiam os franceses com a morte, caso ousassem atravessar um risco que traçou no chão com a espada. Cinco teriam tentado e morrido fulminados por um raio. Por causa do milagre, o risco que traçou teria

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sido usado como base para a construção da principal igreja de Olinda. No lugar em que Vasco de Lucena fez o dito risco foi erguida depois a Igreja Matriz de Olinda, hoje a Igreja da Sé.

 

Senhor do engenho Aiamã de Riba/Igarassu e do Jaguaribe/Olinda. 

Casamento 01: D. Brites Dias Correa, nascida em Portugal, filha de João Correa, o Português, e de D. Leonarda Ignez. Neto materno de João Correa (senhor da Torre do Ladrâo Gaiâo/Leiria). Tanto a sua família materna e paterna eram Fidalgos da Casa Real.Filhos: 01- Sebastião Lucena de Azevedo, nascido em Portugal, Comendador de Santa Maria de Matta de Lobos e Guarda-mor de Lisboa, no tempo da peste. C.c. D. Jerônima de Mesquita, filha de Thomé Borges de Mesquita e de Catharina Pinhel. C.g; 02- Francisco Fernandes de Lucena – sucessor de seu pai no eng. Aiamã; 03- Clara Fernandes de Lucena, nascida em Portugal, c.c. Cristóvão Queixada, Cavaleiro castelhano, do casal procede os “Queixadas” da Paraíba, que em 1748 se achavam em decadência, mas neste ramo houve vários sacerdotes do Hábito de São Pedro. C.g;CURIOSIDADES: No ano de 1540 foi realizada uma demarcação judicial das terras de Jaguaribe, conferidas a Vasco Fernandes de Lucena, por carta do donatário Duarte Coelho, lavrada em 24/07/1540, e procedida em virtude de despacho do Desembargador Antônio Salema, Ouvidor Geral do Brasil, então em Pernambuco no desempenho do seu cargo, a requerimento dos herdeiros das ditas terras, D. Beatriz Dias, viúva de Vasco Fernandes, de seus filhos Sebastião eFrancisco Fernandes de Lucena, e D. Clara Fernandes, representada por seu marido, Cristóvão Queixada. Nessas terras existia então um engenho, sem dúvida levantado por Vasco Fernandes, uma vez que isto pretendendo, solicitou um auxílio régio, que é assim recomendado pelo donatário Duarte Coelho, em carta dirigida a d. João III, em 22/03/1548: - "por êle querer fazer um engenho em uma ribeira, e em um pedaço de terra que lhe dei, pede a V. Alteza por ajuda de o fazer, lhe faça mercê de lhe dar licença para poder mandar algum brasil de cá para isso, o que irá fazer à costa onde não faça dano nem prejuízo, certo, Senhor, que êle disso e de tôda outra mercê e merecedor e a mim, Senhor, a fará fazendo a êle, pois a mercê, e êle escreve a V.Alteza sôbre isso por um seu filho".  As referidas terras, bem como outras também situadas em Jaguaribe, passaram depois ao patrimônio do mosteiro de S. Bento, de Olinda, por doação ou venda, como sejam: - 400 braças de terra em quadro, doadas a Vicente Fernandes pelo donatário Duarte Coelho de Albuquerque, por carta de 20/08/1566, e posteriormente vendidas ao mosteiro.Relacionamento: (?), índia tabajara. C.g.

 

Fontes consultadas:Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 1902. Anais 1902 Vol 24 (1). Anais 1903 Vol 25 (1).Archivo heraldico-genealogico contendo noticias historicoheraldicas.  Por Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Sanches de Baena (Visconde de) Typographia universal de T. Q. Antunes, 1872Borges da Fonseca, Antônio Victorino. Nobiliarquia Pernambucana. Rio de Janeiro, 1935. Anais 1925 Vol 47 (2). Anais 1926 Vol 48 (2).Guerra, Lucia Pereira de Lucena. Da cidade de Lucena, Espanha ao Brasil. Disponível em: http://www.brasa.org/Documents/BRASA_IX/Lucia-Guerra.pdfhttp://www.historiadobrasil.com.br/viagem/bios01.htmhttp://www.igarassu.pe.gov.br/procuradoria/conteudo/141/index.phpLisboa, Balthazar da Silva. Annaes do Rio de Janeiro: contendo a descoberta e conquista deste ..., Vol. V. Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher, 1835MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.PAES BARRETO, Carlos Xavier. Primitivos Colonizadores Nordestinos. Usina de Letras. 2ª edição revista. Rio de Janeiro, 2010.Pergunte a Pereira da Costa. Vol: 1. Ano: 1493 Pág: 404. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br

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Pergunte a Pereira da Costa. Vol: 3. Ano: 1637. Pág: 212, 213. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br

O engenho Aiama (Inhamã) foi parcialmente destruído durante os levantes dos índios Caetés*, em 1548 e em 1553 a 1555. Em 1550, o Donatário Duarte Coelho escreveu uma carta ao Rei informando em o engenho estava em pleno funcionamento. Esta informação é confirmada em documentos sobre pagamento feitos por Vasco Fernandes (1552), pelos serviços prestados por um carpinteiro em sua “Ribeira”, entre 1550 e 1551; e pela compra de material de construção, em 1552, para obras de Sua Alteza.*Os índios Caetés ocupavam as Capitanias de Itamaracá e de Pernambuco, eram compostos por 62 mil índios em 1562, quando foram escravizados e aldeados em Missões.

Vila de Igarassu, século XVII pintura de Jan Van Brosterhuisen

No ano de 1540, o engenho pertencia a Francisco Fernandes de Lucena, que tinha herdado de seu pai Vasco Fernandes de Lucena.

Francisco Fernandes – Filho de Vasco Fernandes de Lucena e de D. Beatriz Dias. (nada mais foi encontrado).Sucessor de seu pai no engenho Aimã de Riba/Olinda

 

Fontes consultadas:MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.

            Em 1609 o engenho pertencia a Estevão Gomes.

Estevão Gomes – Escrivão da Fazenda Real em Pernambuco. (nada mais foi encontrado)Senhor do engenho Aiamã de Riba/Olinda

 

Fontes consultadas:MELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.

            No ano de 1623 o engenho moeu cerca de  2.847 arrobas de açúcar e pertencia a Pero da Rocha Leitão.           

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Igreja de São Cosme e Damião, pintura de Frans Post - Igarassu século XVII

Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão – Comandante de uma Companhia em Igarassu. No dia 27/03/1635, André Marin (ou Marinho), o Comandante do Arraial do Forte do Porto de Nazareth, no Cabo de Santo Agostinho, mandou enforcar Pedro da Rocha Leitão e Augustinho de Holanda por terem trocado cartas com o exército holandês.

 

Fontes consultadas:http://www.igarassu.pe.gov.br/procuradoria/conteudo/141/index.phphttp://www.novomilenio.inf.br/baixada/bslivros05a13.htmPEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.Revista do Instituto Archeológico e Geográphico Pernambucano, Edições 20-27. Recife, 1871

Canavial - Brasil colônia

Em 27/03/1635, o engenho passou a pertencer aos seus herdeiros de Pero (ou Pedro) da Rocha Leitão, o que é confirmado em dois documentos holandeses: Breve Discurso sobre o Estado das quatro Capitanias Conquistadas (1638) e o Relatório sobre o Estado das Capitanias Conquistadas (1639).

O engenho não tinha partido de fazenda e contava com 09 lavradores, num total de 56 tarefas (2.800 arrobas): Antônio Saraiva, com 07 tarefas; Estevão do Prado Leão, com 07 tarefas; Francisco Bernardes da Rocha, com 10 tarefas; Francisco Coelho, com 06 tarefas; Geraldo do Prado Leão, com 15 tarefas; Luís da Mota, com 02 tarefas; Paula d'Almeida, com 03 tarefas; Simão Dias Rodrigues, com 02 tarefas; e Simão Furtado, com 04 tarefas.

Em 1636, os campanhistas, comandados pelo Capitão Estevão de Távora, invadiram os engenhos de Pedro da Rocha Leitão, de Pedro Lopes de Vera, de Domingos da Costa Brandão, de Gonçalo Novo e o de Cosmo Dias da Fonseca (eng. Santa Luzia que havia abandonado); destruindo todo o engenho, queimando os canaviais e os açucares que estava feitos.

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Herdeiros de Pero da Rocha Leitão – Proprietários do engenho a partir de 27/03/1635. No ano de 1645, deviam 1.750 florins à Companhia das Índias Ocidentais holandesa e em 1663 a dívida estava em torno de 4.900 florins

 

Fontes consultadas:PEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.http://www.igarassu.pe.gov.br/procuradoria/conteudo/141/index.php

Em 1646, o engenho foi evacuado, quando da retirada da população residente em Olinda e no Rio Grande do Norte, pelo Comando do Exército luso-brasileiro.

No ano de 1655, após a Restauração Pernambucana, João Fernandes Vieira adquire o engenho em leilão público (1655).

João Fernandes Vieira – Nasceu em 29/06/1596-Funchal/Ilha da Madeira/PT, filho do fidalgo Francisco de Ornelas Muniz e da mulata Antônia Mendes. Em 1606, com 10 anos de idade, imigrou para a Capitania de Pernambuco, pois não era o filho primogênito - herdeiro de todo o legado dos pais, enquanto que os demais irmãos não tinham como se sustentar. Fernandes Vieira se viu obrigado a emigrar para o “Além Mar”, para adquirir fortuna, como muitos jovens portugueses.

João Fernandes Vieira

Assim que chegou a Pernambuco trocou o seu nome de Francisco de Ornelas Moniz Júnior, para João Fernandes Vieira, um disfarce muito usado pela corrente emigratória para o Brasil, que queriam esconder sua origem nobre, pois trabalhariam em serviços braçais. Trabalhou como ajudante de mascate, em troca de comida e morada. Foi Auxiliar do Mercador Afonso Rodrigues Serrão, que ao falecer o deixou como único herdeiro do seu negócio e de casas em Olinda. Durante a ocupação holandesa (1630), se alistou como voluntário de guerra. Em 1634, participou da resistência luso-brasileira no Forte de São Jorge.Era Fernandes Vieira um homem de aspecto melancólico, testa batida, feições pontudas, olhos grandes, mas amortecidos, e de poucas falas, exceto quando se ocupava de si, pois desconhecia a virtude da modéstia. Ativo, ambicioso e inteligente, durante a trégua estabelecida entre Portugal e a Holanda, estabeleceu ligações estreitas com os holandeses, o que lhe proporcionou ascensão econômica e social. Associou-se ao judeu e Conselheiro Político da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Stachouwer, de quem fora feitor-mor, proprietário dos engenhos: Ilhetas (Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe)/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos GuararapesNota: Em seu testamento Fernandes Vieira declarou sobre sua aproximação com Stachouwer: “Declaro que no tempo dos holandeses por remir minha vexação e viver

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mais seguro entre eles, tive apertada amizade com Jacob Estacour, homem principal da nação flamenga, com diferença nos costumes, e com ele fiz negócios de conformidade e por conta de ambos (...)Com a partida de Stachouwer e de seu sócio de Nicolaes de Rideer, Vieira, que era procurador bastante dos dois sócios, passou a lucrar com a administração dos engenhos e dos fundos do seu amigo e benfeitor Stachouwer. Logo se apoderou dos engenhos: Guerra/Cabo de Santo Agostinho, Ilhetas, ou Nossa Senhora de França, ou Nossa Senhora de Guadalupe/Serinhaém, Meio/Recife, Santana/Jaboatão dos Guararapes e Velho ou da Madre de Deus/Cabo de Santo Agostinho, assumindo os débitos contraídos pelos dois sócios na compra das propriedades à Companhia das Índias Ocidentais (débito que nunca foi pago). Se tornando depois um dos homens mais ricos da Capitania, proprietário de 16 engenhos e de mais de 1.000 escravos.Em 1639, Fernandes Vieira é indicado como Escabino (membro da Câmara Municipal) de Olinda. Escabino de Maurícia (Recife) de 07/1641 a 06/1642, sendo conduzido ao cargo de 1642/43. Vieira também foi Contratador de dízimos de açúcar da Capitania de Pernambuco e de Itamaracá, e representantes dos senhores portugueses da Várzea do Capibaribe na Assembleia convocada pelo Conde Maurício de Nassau para assuntos do governo (1640).Embora fosse um dos mais importantes senhores de engenho da Capitania, para ser incorporado à nobreza rural de Pernambuco, em razão de sua suposta cor parda, de seu “defeito mecânico” (trabalhos manuais) e de sua “falta de qualidade de origem”, teve que contrair matrimônio para poder ascender na sociedade luso-brasileira.

 

Casamento 01(1643): D. Maria César, filha do madeirense e senhor de engenho Francisco Berenguer de Andrade (eng. Giquiá/Recife), pessoa de boa estirpe perante o clã dos Albuquerque, e de Joana de Albuquerque. S.g

 

Com o casamento Fernandes Vieira que já era colaborador e conselheiro em assuntos brasileiros do governo holandês se torna um dos homens mais importantes da Capitania, com apoio da comunidade luso-brasileira através do seu prestígio econômico e social, das suas doações para igrejas, confrarias e pessoas necessitadas.Fernandes Vieira era um dos maiores devedores da Companhia das Índias Ocidentais, com uma dívida estimada em 219.854 florins, que nunca foi paga, pois alegou no seu Testamento que os chefes holandeses "são devedores de mais de 100 mil cruzados [...] de peitas e dádivas a todos os governadores [...] grandiosos banquetes que ordinariamente lhes dava pelos trazer contentes". Após a partida do Conde Maurício de Nassau (1644) Vieira viu a intensificação da insatisfação do povo pernambucano, e percebendo as vantagens econômica e social, a serem alcançada com a expulsão dos holandeses e da Companhia das Índias Ocidentais passou para o lado dos Insurrectos pernambucanos.Reúne-se com várias lideranças rurais nas matas do engenho Santana, onde traçam os planos para expulsar os holandeses do Brasil. Como contragolpe, lança a campanha de Restauração de Pernambuco, servindo-se da mesma táctica manhosa dos inimigos e passa a circular nos dois lados: holandeses e luso-brasileiros.Logo os holandeses o chamam para ser agente de negócios da Companhia e membro do seu Conselho Supremo, ficando Vieira, conhecedor de todas as tramas e recursos.Escreve a D. João IV pedindo-lhe licença para resgatar as Capitanias invadidas da mão dos usurpadores, ao que o Monarca se opõe. Descobrindo os holandeses os seus

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intentos, atraíram-no ao Recife, mas Vieira iludiu-os e pôs-se em campo, levantando o pendão da Liberdade em Pernambuco – de fazenda em fazenda, de engenho em engenho incentivando a Revolução e declarando traidores os que não seguissem a sua causa. O Conselho holandês põe a cabeça de Vieira em prêmio e em resposta Fernandes Vieira põe preço a cabeça dos membros do Conselho e se torna um dos líderes da chamada Insurreição Pernambucana e um dos heróis da Restauração de Pernambuco.Segundo José Antônio Gonçalves de Melo: A insurreição de 1645 foi preparada por senhores-de-engenho, na sua maior parte, devedores a flamengos ou judeus da cidade. Foi nitidamente um levante de elementos rurais, no qual tomaram parte, negros escravos, lavradores, pequenos proprietários de roças, contratadores de corte de pau-brasil, e outros.Fernandes Vieira participa da guerra contra os holandeses e, vence junto com sua tropa, a Batalha das Tabocas em Vitória de Santo Antão/PE, em 03/08/1645, e a Batalha de Casa Forte/Recife, junto aos heróis: André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, em 17/08/1645. Após a tomada do engenho Casa Forte, Vieira voltou com seus homens ao seu engenho São João/Recife-Várzea do Capibaribe, e de lá iniciou um sistema de estâncias militares, espécie de fortificações onde pudessem estar seguros e guardar pólvora e munições de guerra.Com a Batalha dos Guararapes, sob o comando do General Barreto de Meneses, em 19/04/1648 e 19/02/1649, os holandeses são finalmente vencidos e expulsos de Pernambuco e, como recompensa pelos serviços prestados na guerra João Fernandes Vieira é recompensado pelo Rei D. João IV com os cargos: de Governador da Paraíba (1655/57), Capitão General do Reino de Angola (1658/61) e Superintendente das Fortificações de Pernambuco e das Capitanias vizinhas, até o Ceará, (1661/81).Depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda (1661), Fernandes Vieira figurava em 2º lugar na lista de devedores dos brasileiros à Companhia das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756 florins, cuja dívida nunca foi paga.Já idoso Fernandes Vieira encomenda ao Frei Rafael de Jesus um livro sobre a sua vida, exaltando seus feitos, a exemplo do que Gaspar Barléu havia escrito sobre o conde Maurício de Nassau, surgindo assim o Castrioto lusitano, no qual o autor o compara ao príncipe guerreiro albanês Jorge Scanderberg Castrioto, que lutou intensamente contra os turcos e a Sérvia pela recuperação da Albânia, que havia sido anexada à Turquia. Vieira falece, com 85 anos de idade, em 10.01.1681/Olinda, mas só em 1886 seus restos mortais foram descobertos na capela-mor da igreja do Convento de Olinda. Em 1942, seus ossos foram trasladados para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, sendo depositados na parede da capela-mor, com uma inscrição comemorativa.

 

Senhor dos engenhos: em Pernambuco: Abiaí, do Meio, Cumaúpa, Ilhetas, Jacaré, Molinote, Santana, Santo André; Santo Antônio; São João (antes Nossa Senhora do Rosário), Tibiri de Baixo, Tibiri de Cima;  na Paraíba: Inhaman, Inhobim ou dos Santos Cosme e Damião, Gargaú e São Gabriel.

 

Fontes consultadas:BORGES DA FONSECA, Antônio José Victoriano. Nobiliarquia Pernambucana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Anais 1885-1886 Vol. 13; 1902 Vol. 24; 1925 Vol. 47; 1926 Vol. 48CALADO, Frei Manoel. O Valeroso Lucideno e triunpho da liberdade, Edições Cultura, São Paulo, 1943, tomo I, p. 318 e tomo II, p. 12, 14Diário de Pernambuco. Os Holandeses em Pernambuco – Uma História de 24 anos. João Fernandes Vieira. Publicado em 22.09.2003.Fontes para História do Brasil Holandês – 1636, Willem Schott. A Economia Açucareira. Inventário feito pelo Conselheiro Schott Cia. CEPE, MEC/SPHAN/Fundação Pró-Memória Local: Recife, 1981Francisco Adolpho de Varnhagen, E. e H. Laemmert, 1857. Historia geral do Brazil, Volume 2.

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GASPAR, Lúcia. João Fernandes Vieira. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.brMELLO, José Antônio Gonsalves de. Restauradores de Pernambuco: biografias de figuras do século XVII que defenderam e consolidaram a unidade brasileira: João Fernandes Vieira. Recife: Imprensa Universitária, 1967. 2SANTIAGO, Diogo Lopes, História da Guerra de Pernambuco, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Recife, 1984, p. 258.

Após adquirir o engenho (1655) João Fernandes Vieira e o revendeu a Pedro Monteiro de Queiroz (nada foi encontrado)

Batalha dos Guararapes/PE. (1758)

 

Fontes consultadas:http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=2963.http://www.arquivojudaicope.org.br/2012/pt/compilacoes/ribemboim2.htmlhttps://docs.google.com/document/d/1cfOTkxMD5T8hBj2XvGYA1pFiFsrypaeIzzOAEZ0-WMY/edit?hl=en_USMELLO, Evaldo Cabral de. O Bagaço de Cana: os engenhos de açúcar do Brasil holandês. Edt. Penguim & Companhia das Letras.1ª edição. São Paulo, 2012.Memorias diarias da guerra do Brasil por espaço de nove annos:  começando em 1630 deduzidas das que escreveu o marquez de Basto, conde e senhor de Pernambuco.  Por Alexandre José Mello Moraes,Basto (marquez de.),Ignacio Accioli de Serqueira e Silva. Typ. de M. Barreto, 1855 - 164 pág.

PEREIRA, Levy. "Engenho de roda d'água". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/biblioatlas/Engenho_de_roda_d%27%C3%A1gua. Data de acesso: 15 de junho de 2014.Postado por Lou Neves Baptista Rodrigues às 17:28   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

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ARRUANDO OS ENGENHOS

A importância do patrimônio cultural para a construção social pode ser afirmada com a apreciação da história dos engenhos de açúcar em Pernambuco, dada a importância de serem fundadores de uma sociedade de valorização dos costumes.Ao navegar neste blog estaremos "arruando", que segundo Mário Sete, seria: sentir a cidade(no caso os engenhos): evocando seu passado, partilhando o seu presente, sonhando com o seu futuro. Conhecendo e recordando. Pisando e querendo adivinhar os que pisaram. Ser ao mesmo tempo a geração de agora e as gerações de outrora. Regalo dos olhos e entendimento dos espíritos.

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RODRIGUES, Maria de Lourdes Neves Baptista. Disponível em:http://engenhosdepernambuco.blogspot.com.br/ Data de acesso: dia/mês/ano

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