Estilo Jardins

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POLÍTICA Administrador regional revela os segredos para gerenciar a região MINO CARTA Um dos maiores jornalistas do país declara seu amor pelo charme do bairro Arte e Sabor SÍLVIO LANCELLOTTI TRAÇA O ROTEIRO DA CULINÁRIA JAPONESA NO JARDINS AUTOMÓVEIS A avenida Europa e suas lendárias e possantes máquinas PASSADO A história do bairro, das ruas de terra ao glamour dos dias atuais STILO Jardins ANO I | NÚMERO 1 | NOVEMBRO DE 2009

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Projeto Gráfico desenvolvido para a revista Estilo Jardins revista mensal distribuida gratuitamente no bairro dos jardins

Transcript of Estilo Jardins

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PolíticaAdministrador regional

revela os segredos paragerenciar a região

Mino cartaUm dos maiores jornalistasdo país declara seu amor

pelo charme do bairro

Arte e SaborSílvio lancellotti traça o roteiroda culinária japoneSa no jardins

autoMóveisA avenida Europae suas lendárias epossantes máquinas

PassadoA história do bairro,das ruas de terra aoglamour dos dias atuais

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ano i | número 1 | novembro de 2009

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Na entrevista que realizamos para este número inaugural da revista Estilo Jardins

com o último administrador regional do bairro, Nevoral Bucheroni, os “vallets” fo-

ram apontados como um dos grandes problemas do Jardins. É notório que os ser-

viços de manobra de veículos – convenhamos, simplesmente indispensáveis – via

de regra usurpam os espaços públicos como se particulares fossem. Mas não são

verdadeiramente privilegiados os moradores de uma região em que o disciplina-

mento de tal tipo de atividade desponta como prioridade administrativa? Isso não

significa que estejam imunes a todas as demais mazelas que afligem a população

paulistana em geral, se bem que em menor grau, mas é, sem dúvida, emblemático

– até pitoresco – ter tal tipo de preocupação na pauta.

Morador dos Jardins há mais de 25 anos, e editando publicações dirigidas a outros

públicos pelo mesmo período, minha equipe e eu decidimos enveredar por esta

nova seara. Queremos desvendar esse espaço tão especial, despertando novas

curiosidades sobre a região e, sobretudo, apresentando o muito que o bairro ofe-

rece de diferenciado. Procuraremos fazê-lo não só sob a perspectiva da investiga-

ção jornalística, mas principalmente através do depoimento de personalidades que

residem ou trabalham na região, ou mesmo de anônimos que, como eu, vêem o

Jardins não apenas como o local em que moram, mas sim como um estilo e uma

opção de vida.

Queremos proporcionar uma leitura convidativa e visual igualmente atraente. Des-

pretensiosamente, desenvolveremos cada uma das edições da Estilo Jardins para

que tenham longevidade, e sejam sempre de interesse para todos os moradores

das 50.000 residências que as receberão todos os meses. Informando e prestando

serviço, sempre com a qualidade esperada por quem mora na região.

Nosso bairro tem muitas histórias. E é hora de começar a contá-las.

Boa leitura!

O Editor

Número Um

edito

rial

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Page 5: Estilo Jardins

6 memória

10 entrevista

14 você sabia?

16 vivendo no jardins

22 gastronomia

26 consumo

30 ensaio

32 perfil

36 história em placas

38 achados

42 lembrança

48 cultura

26

o corredor de concessionárias da avenida europa: um verdadeiro paraíso para os aficionados!

mino carta: o talentoso jornalista

é um dos mais ilustres moradores

do bairro.

À frente do rodeio, o maître francisco chagas recepciona

celebridades e acumula muitas histórias para contar.

16

32

expedienteeditor responsável Paulo José F. Ferreira Chefe de redação ricardo rigotti [email protected] redação ana Paula camPos [email protected] assistente de redação matheus Paggi [email protected] depto. ComerCial roberto gomes (diretor) [email protected] denise ozello (supervisora) [email protected] Coordenador web Fábio martinez [email protected] assistente administrativa crislene henriques da silva santos fotografia hurPia comunicação ltda planejamento manuela bianchini, léa Jo-aquim atendimento a assinantes [email protected] manuseio rionavas s/c ltda. Consultoria herbert douglas (informática) suporte de informátiCa dalla inFormática revisão maria o. Wellington Colaboradores Fábio FuJita, sílvio lancellottijornalista responsável ana Paula camPos mtb 17.305estilo jardins é uma publicação da video Page comunicação ltda, com sede a rua álvaro anes, 46, conjunto 52 – são Paulo – capital – ceP 05421-010 – tel.: (11) 2478-7071 – Fax (11) 3815-4849 – cnPJ 05.480.654/0001-83 projeto gráfiCo e diagramação hurPia comunicação ltda impressão xxxxxxxx. esta publicação tem distribuição gratuita – venda Proibida.

Page 6: Estilo Jardins

Por uma versão paulistana de “bairro-jardim”

Chegar a uma definição satisfatória sobre os limites, ainda que imagi-

nários, que definiriam o bairro que conhecemos como Jardins é uma

missão complexa. A região espelha o fenômeno que, afinal, caracteriza

toda a geografia da cidade, do “bairro-que-come-e-é-comido-pelo-ou-

tro”: Pinheiros, que alcança Vila Madalena, que é extensão de Perdizes,

que vira Sumaré, que cola na Consolação, que chega aos Jardins... Via

de regra, assume-se a região tendo por base central o bairro do Jardim

Paulista, e daí suas cercanias: o Jardim Paulistano, o Jardim América

e o Jardim Europa, além de boa parte das Clínicas e da Bela Vista.

Determinados pontos desse grande coração de mãe que é o bairro dos

Jardins podem carregar, também, terceiras denominações, como Cer-

queira César, Morro dos Ingleses ou Vila Primavera.

Dentro dessa perspectiva atual, os Jardins assim se assumiram na vira-

da do século 19 para o 20. Mas o esboço de suas origens data do século

16, quando a região servia como uma via de passagem das entradas e

Conceito trazido ao Brasil por uma dupla de urbanistas britânicos foi a pedra de toque para o progresso da região e impôs, desde o princípio,

qualidade de vida e excelente infra-estrutura para seus moradores

memó

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bandeiras (as expedições que desbravavam o território nacional) para o

Ibirapuera – como era conhecido o atual bairro de Santo Amaro. Com

o passar dos anos, a região passou a ser procurada e explorada por

grandes latifundiários, em busca de solos férteis para o desenvolvimen-

to agrícola. Até então, as melhores terras pertenciam a poucas e en-

dinheiradas famílias. Duas delas, a Pamplona e a Paim, lotearam uma

determinada extensão, batizando-a como Jardim Paulista, em fins do

século 19.

Em paralelo ao desenvolvimento dos Jardins, verificava-se também

uma interessante movimentação numa região vizinha, a partir da ini-

ciativa de dois alemães, Frederico Glette e Victor Nothmann. Em 1879,

a dupla havia adquirido outra generosa porção de terras, urbanizando-a

por meio de ruas espaçosas e alamedas arborizadas. Nasciam, ali, os

Campos Elíseos, bastante inspirados pelo par parisiense Champs-Ely-

sees. Foi um primeiro insight do desenho de bairro aristocrático, resi-

dencial e de alta renda, que seria estendido de forma natural na direção

dos Jardins, sobretudo com a idealização da Avenida Paulista, que se

tornaria a primeira via planejada da capital.

O local onde a avenida seria instalada era o Morro do Caaguaçu que,

geograficamente, representava o divisor de águas entre os rios Tietê

e Pinheiros. O aspecto aparentemente inóspito do lugar não enganou

Joaquim Eugênio de Lima, agrônomo uruguaio de grande talento em-

preendedor. Ele percebeu que o topo do morro, de quase 900 metros

de altitude, era o ponto mais alto da região, e as belas paisagens que

oferecia em função disso seria naturalmente um atrativo para futuros

investimentos residenciais e mesmo empresariais a serem executados

no lugar. Além disso, a cumeada do morro era larga e reta, o que esti-

mulou Joaquim Eugênio a vislumbrá-la como uma única via, com 2,5

mil metros de extensão, e 30 de largura. Ao lado de dois sócios, o

uruguaio arrebatou o terreno e definiu o projeto, que já previa um mo-

saico de ruas paralelas e transversais, a serem batizadas com nomes

de cidades interioranas: Ribeirão Preto, Rio Claro, Jundiaí, Santos, Itu,

Tietê, Lorena e outras. Inaugurada em 1891, a Avenida Paulista nasceu

sem casas, coberta de pedregulhos e com uma dupla linha de árvores

nas laterais, o que lhe conferia um aspecto idílico e arborizado. Uma

linha de bonde já a servia, o que não impedia a circulação de burros

e charretes, a ajudarem as pessoas na subida que dava acesso à nova

avenida. Uma área em sua parte central foi reservada para a abertura

de um parque ajardinado, que viria a ser o Siqueira Campos.

O nascimento da Avenida Paulista foi um marco, em vários sentidos.

Tanto que, apenas três anos após sua inauguração, Joaquim Eugênio

conseguiu aprovar algumas leis urbanísticas específicas para ela: cons-

truções tinham que obedecer a um afastamento de dez metros em

relação à rua, mais dois metros a serem decorados com jardins e ar-

voredos.

Foto: Abdo Abdala

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Gradativamente, os imigrantes mais abastados passaram a abrir

mão de seus bairros de comunidade, como o Brás e o Bexiga,

marcados pela pobreza e por eventuais epidemias de doenças,

em prol daquela nova e atrativa região. Definiu-se, assim, um pilar

na geografia social da cidade, na medida em que a rota formada

por Campos Elíseos, Higienópolis e Avenida Paulista criou a base

para a efetivação de uma eclética burguesia, integrada por re-

presentantes das elites agrária e industrial, e que se juntavam às

ricas famílias paulistanas, como Matarazzo, Siciliano e Jafet.

Tanto a Avenida Paulista atraiu sobre si a fama de aglutinar o

novo-elitismo da cidade que o jornal O Estado de S.Paulo, em

sua edição de 6 de maio de 1894, encampava em suas páginas a

“denúncia” de uma prática que destoava das propostas originais

de Joaquim Eugênio:

“A Avenida Paulista, um dos pontos mais belos de nossa capital e

que sem dúvida constitui hoje um dos passeios mais procurados,

principalmente aos domingos, não tem tido a devida atenção do

poder público. Há tempos choveram reclamações à Municipali-

dade pela imprensa contra o fato de ali passarem boiadas com

direção ao Matadouro, com grande prejuízo da arborização que lá

se faz, reclamações essas que determinaram uma lei [...] baixada

com o fim de proibir esse abuso.”

Em 1912, outro marco decisivo que ajudaria a forjar o desenho

sócio-urbanístico da região se deu com o nascimento da City of

São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited,

que ficaria mais conhecida como Companhia City. A empresa

participou ativamente do desenvolvimento urbanístico da cidade,

a partir da aquisição de uma ampla área nas antigas Freguesia da

Consolação e Chácara Bela Veneza, então pouco atrativas por fi-

carem na várzea do Rio Pinheiros, inundada em boa parte de sua

extensão. O primeiro trabalho da City foi dar cabo num projeto

de implantar em São Paulo o conceito de bairro-jardim, bastante

difundido na Europa, que buscava conciliar um ambiente ao mes-

mo tempo campestre e urbano, respeitando as peculiaridades de

cada lugar. Para isso, a City contratou uma famosa dupla de urba-

nistas britânicos, Barry Parker e Raymond Unwin, que já haviam

feito algo similar num subúrbio londrino. Começava a nascer o

Jardim América, a partir do loteamento da área entre a Avenida

Paulista e atual Rua Estados Unidos. O projeto consistia em dar

ao bairro iniciático uma “auto-suficiência residencial”, no sentido

de cercá-lo com os comércios, serviços e infra-estrutura necessá-

rios: escolas, igrejas, áreas para práticas esportivas e culturais. As

residências seriam separadas por grandes jardins, no lugar dos

muros – e esse foi o único detalhe que não vingou.

A melhor marca do êxito da Companhia City foi a percepção vi-

sionária quanto ao alcance da publicidade. Investiu fortemente

nisso, a partir de divulgações em mídias diversas, como cinemas

e teatros, além de distribuição de panfletos. Vendia-se a ideia de

que, no novo bairro, era possível ter uma qualidade de vida típica

do campo, com o conforto de uma cidade moderna. Os lotea-

mentos na região se popularizam rapidamente, e o reflexo disso

foi um efeito dominó pelo entorno, alcançando a Avenida Paulista.

Em meados da década de 30, a City já atuava por ali, estimulan-

do decisivamente o progresso da região com venda facilitada de

terrenos, por meio de financiamentos de longo prazo.

O bem-sucedido projeto do Jardim América fez florescer um

efervescente mercado de loteamentos. O inovador bairro-jardim

serviu como influência decisiva para o crescimento de outra vi-

zinhança, e que também seria incorporada pelos Jardins: o Jar-

dim Paulistano. Mais próximo do atual bairro de Pinheiros – na

altura de onde se localiza, hoje, o Shopping Iguatemi, na Avenida

Brigadeiro Faria Lima – o Jardim Paulistano acompanhou o mo-

vimento de elitização da região, muito em função de sua locali-

zação geográfica estratégica: cravado entre o Jardim América e

o Jardim Europa. Sua urbanização começou nos anos 20, ainda

sob o nome de “Jardim Lydia”, numa iniciativa do engenheiro Luís

Santos Dumont, quando as terras saíram das mãos das históri-

cas famílias Melão e Matarazzo. Mas seriam nas duas décadas

seguintes que o bairro daria forma ao seu estilo nobre, com as

mesmas largas alamedas e casarões rococós, em meio a uma

paisagem de colorida vegetação.

Pela mesma época, a rua Augusta passou a se configurar num

movimentado pólo comercial. Contribuiu nesse sentido a efe-

tivação de uma linha de bonde em que nela se desembocava,

permitindo e estimulando um maior fluxo de pessoas. Em 1914

também havia sido oficializado o prolongamento da Augusta no

sentido Jardins, até a rua Estados Unidos, onde se desenvolveria

ao longo das décadas seguintes um forte comércio de boutiques

e lojas refinadas, depois disseminado por outras ruas do entorno,

notadamente a Oscar Freire. A fama de ser um termômetro da

moda e de tendências comportamentais e culturais – aglutinava-

se, ali, o melhor da programação dos cinemas, por exemplo – fez

com que, nos anos 60, a região passasse a assumir uma vocação

voltada, também, para o entretenimento, com a abertura de mui-

tas casas noturnas, boates e discotecas.

Com esse perfil ao mesmo tempo residencial, comercial e, a par-

tir das décadas recentes, corporativo, com a construção desen-

freada de imponentes arranha-céus, desencadeou-se na região o

problema dos engarrafamentos no trânsito. Ele seria relativamen-

te minimizado com a inauguração da Linha 2 (verde) do metrô,

no início da década de 90. A princípio contemplando apenas três

quilômetros de extensão, em quatro estações, a Linha 2, também

chamada de Linha Paulista, alcançaria no final de 2006 dez qui-

lômetros, quando o então governador Claudio Lembo finalizou a

décima e última estação, Chácara Klabin. Três delas – Consola-

ção, Trianon-Masp e Brigadeiro – servindo para contemplar toda

a extensão da Avenida Paulista, a melhor referência não apenas

dos Jardins, mas de toda a cidade.

Fontes consultadas:(vários autores). história da cidade de são paulo – vol.3. são paulo: paz e terra, 2004.rolniK, raquel. são paulo. são paulo: publifolha, 2001.toledo, roberto pompeu de. a capital da solidão. rio de janeiro: objetiva, 2003.ponciano, levino. são paulo 450 bairros. são paulo: senac são paulo, 2004.Website: pt.wikipedia.org

memó

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Qual a autonomia que uma subprefeitura possui sobre a região que administra?

A subprefeitura atua como se fosse uma prefeitura da região. Temos que cuidar da

limpeza, coibir o comércio ilegal de ambulantes, tapar os buracos das ruas. Nós fa-

zemos uma zeladoria do bairro e procuramos atender aos anseios da comunidade.

Então, a subprefeitura é a responsável por manter a região de acordo com o que a

população daquela área quer.

E como vocês tomam conhecimento dos anseios dos moradores?

Nós adotamos uma prática que se chama “Converse com a Subprefeitura”. Tra-

zemos as pessoas que moram nas regiões dos nossos quatro distritos, que são

Pinheiros, Alto de Pinheiros, Jardins e Itaim para conversar. Fazemos isso para sa-

ber o que a comunidade precisa, o que ela acha que é deficitário no nosso serviço

e também para receber críticas, que encaramos como críticas construtivas. Nós,

sozinhos, não temos condições de acompanhar o dia a dia de um bairro, e saber

tudo o que está acontecendo. Então, esta prática de convidar a comunidade e as

associações de bairros para virem até aqui, é justamente para planejarmos onde

vamos gastar nossas energias e saber o que está sendo mais problemático em

cada região.

o homem que cuidou do Jardins em 2009

Coronel da Reserva da Polícia Militar, Nevo-ral Bucheroni ocupou o cargo de subprefeito de Pinheiros , comandando o Jardins, um dos bairros mais tradicionais da cidade, durante boa parte de 2009. Em entrevista exclusiva,

Bucheroni fala sobre o prazer e os problemas de administrar a região, que ele considera um

verdadeiro oásis dentro da cidade.

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Fábi

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urpi

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Qual a frequência desses encontros?

Uma vez por mês. Chamamos, sempre às quartas-feiras, os

moradores de um dos distritos para vir aqui, à noite, e nos

reunimos em nosso auditório para um bate-papo. E, mesmo

que a pessoa tenha um problema pontual, que seja especí-

fico dela, como um buraco na porta de casa, acho interes-

sante que ela fale. Não precisa vir aqui somente para falar

sobre assuntos de interesse geral. E tudo o que é solicitado,

procuramos atender. Mesmo que seja um problema da CET,

nós fazemos o contato com eles. É um problema de ilumina-

ção? Nós apoiamos e fazemos o contato com a Ilume, que

é outro departamento da prefeitura, e assim por diante. É

interessante conversar com a comunidade, e isso fez com

que eu, nos quatro meses que estou aqui, conseguisse ter

uma visão muito ampla de toda a área da subprefeitura. Fi-

camos sabendo de tudo, onde tem mais problema de lixo,

ambulantes, iluminação, assim por diante. Conversando com

a comunidade você tem rapidamente uma noção de tudo o

que acontece na região.

Na posição de administrador público, como você enxerga o

bairro do Jardins?

Acho que o Jardins, como o próprio nome diz, é um jardim

[risos]. É uma área que enaltece muito a cidade, é um cartão

de visita de São Paulo. A região traz pessoas de todos os

lugares, não apenas da cidade como de fora dela, até mesmo

de outros estados. Acho que é um lugar que enobrece São

Paulo e tem que ser muito bem preservado. É um oásis den-

tro da cidade. Porque é uma área muito bonita, possui um

comércio muito vasto. Acredito que seja uma das melhores

regiões de São Paulo.

Quais as principais dificuldades para administrar o bairro?

Entre toda a região que administramos, o Jardins não tem

grandes problemas. Ele tem situações normais, como limpe-

za, que temos tentado melhorar bastante. Mas mesmo neste

aspecto, o Jardins não tem problemas comuns a outros lo-

cais, como caçambas com entulho nas praças, por exemplo.

Temos um problema com a limpeza das ruas, com a coleta,

porque há um número muito grande de estabelecimentos

comerciais. E temos recebido muitas reclamações sobre a

atuação dos vallets na região. Eles deixam os carros para-

dos em fila dupla, estacionam os veículos em local público,

mesmo cobrando da pessoa. Às vezes andam na contramão

ou em alta velocidade, ou deixam os carros estacionados

em guia rebaixada, e se a pessoa precisa sair de casa às

duas da manhã, o que acontece normalmente por um motivo

urgente, ela não pode, porque o vallet acha que depois da

meia-noite ninguém sai de casa. Então, temos conversado

com os restaurantes, feito algumas reuniões e pedido para,

dentro do possível, que se regularize cada vez mais a atu-

ação deles. Temos focado muito, também, o problema de

acessibilidade, não apenas dos estabelecimentos, mas das

calçadas. Temos o projeto de refazer as calçadas de algumas

ruas da região, aliás, não não apenas do Jardins, mas de

toda a cidade, como foi feito na Oscar Freire, por exemplo.

Este projeto já está acontecendo. Agora está sendo licitada

a Alameda Santos, uma parte da Pamplona e o término da

Teodoro Sampaio. E vamos também refazer as calçadas de

toda a frente do Hospital das Clínicas. Isso é algo que estou

falando em primeira mão para vocês.

E a presença de ambulantes na região?

Percebemos, nos últimos meses, um acúmulo de ambulantes

na região do Jardins, mas temos fiscalizado bastante. Como

muita gente circula pelo bairro, isso incentiva o comércio

ambulante. Estamos atentos a isso e tomando providencias

para intensificar nossas ações.

A saída para isso seria aumentar a fiscalização ou trabalhar

a conscientização dos moradores?

Tentamos sempre as duas coisas. Conversamos com as pes-

soas que vêm aqui, para tentar estimular a idéia de não com-

prarem o produto ilegal. Porque o ambulante, sem ter para

quem vender, muda de região. Parar de vender ele não vai,

mas mudará de região. A subprefeitura intensifica a fiscaliza-

ção, e os moradores precisam se conscientizar de que não

devem incentivar esse comércio. Mas o problema é que mui-

tas pessoas, trabalhadores, transitam pela região. Estamos

terminando o recadastramento de todos os ambulantes da

cidade. Aqueles que são legais serão mantidos, mas vamos

trabalhar de forma cada vez mais intensa em cima dos ile-

gais, para não deixar isso proliferar. Porque o ambulante não

tem apenas o problema de venda ilegal, mas traz algumas

coisas no seu bojo que podem complicar, inclusive no aspec-

to de segurança. Tem ambulante que vende bebida alcoólica,

e alguns nós sabemos que são traficantes. Isso acaba apro-

ximando o crime da região. Não que os ambulantes sejam

criminosos, mas sempre tem a maçã podre. Vamos fiscalizar

o máximo que pudermos.

Mas o fato da população do Jardins ter um bom nível eco-

nômico e cultural deve facilitar muito...

Sim, a população, não apenas do Jardins, mas dos nossos

quatro distritos, é de um nível elevado, tanto cultural como no

poder aquisitivo. É uma região elitizada, de um nível médio

para alto. Isso facilita tudo, as pessoas são mais conscientes.

Por outro lado, é uma população que exige muito. Mas ela

dá o seu quinhão e ajuda. É receptiva, ajuda a preservar e

comunica quando tem coisas erradas. É uma comunidade

que participa e é justamente isso que queremos: a atuação

da população.

entr

evis

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Page 13: Estilo Jardins

Qual a importância do Jardins para a economia da cidade?

Eu não consigo dizer isso exatamente em números, mas sabemos

que ele gera muitos dividendos para a cidade, em todos os tipos de

segmentos da economia.

E culturalmente?

O Jardins tem uma cultura muito elevada, com teatros e cinemas, até

mesmo porque ele abrange a região da Paulista, que é muito forte

nesse aspecto. Há também bibliotecas, livrarias. E, em qualquer lugar

desses que você vá, está sempre lotado. É uma cultura que influencia

muito, e positivamente, a cidade de São Paulo.

Fazendo uma espécie de paralelo, então, podemos dizer que se cada

bairro de São Paulo fosse uma pessoa, o Jardins seria um formador

de opinião?

Com certeza. Concordo plenamente.

Há alguma peculiaridade no bairro que chama sua atenção?

O que eu poderia dizer é que o Jardins, apesar de ser extremamente

central dentro da cidade de São Paulo, é uma área que tem sempre

muitas pessoas caminhando, passeando, despreocupadas com vio-

lência. Isso é muito interessante, porque não necessariamente é gente

que está trabalhando no local, mas sim apenas andando pelo bairro.

São pessoas aposentadas ou que estão passeando no fim de semana.

Este comportamento das pessoas é algo que se destaca na região.

Porque você acha que isso acontece?

Porque é um lugar muito agradável, tem muita coisa para ser vista.

Quem não pode viajar no final de semana, não pode sair da cidade,

sabe que é muito gostoso passear no Jardins. E tudo o que você

quiser, você encontra lá. Quer comprar uma roupa, um sapato, co-

mer uma pizza? Lá tem. É uma região propícia para caminhar. É um

ambiente agradável, que transmite uma sensação de segurança, pois,

além de contar com a atuação da Polícia Militar e da Polícia Civil,

ainda tem a segurança particular dos estabelecimentos comerciais.

O local transmite uma sensação de segurança, é o que ouvimos das

pessoas que circulam na região. E isso é muito importante para a

qualidade de vida.

Administrar o Jardins foi um prazer ou um problema? Por quê?

Um grande prazer. Porque a comunidade, seja de residentes ou dos

proprietários de comércios na região, tenta sempre preservar o

local. É uma população ativa e participativa. Neste período em que

estive aqui, fiquei muito feliz com isso: não apenas no Jardins, mas

nos outros distritos, tem muita gente que participa. E o Jardins é

marcante por isso. As pessoas ligam, conversam pessoalmente,

mandam e-mails. Isto é fundamental. Se o poder público quiser fa-

zer sozinho, terá dificuldades; se a população quiser fazer sozinha,

terá dificuldades. Então, numa situação em que os dois conversam,

e pensando nas condições e nas obrigações do poder público, tudo

fica mais fácil.

Fabio Hurpia

Page 14: Estilo Jardins

. O Hospital das Clíni-

cas (HC), localizado na

avenida Doutor Enéas de

Carvalho Aguiar, é o maior

complexo hospitalar da

América Latina. Abriu em

1944, com o início das

operações de seu Instituto

Central (ICHC). Ocupa,

hoje, uma área total de

352 mil metros quadrados,

com cerca de 2,2 mil leitos

distribuídos por seis insti-

tutos especializados, dois

hospitais auxiliares, uma

divisão de reabilitação e

um hospital associado.

. Antes de ser batizada de Campinas,

a alameda paralela à rua Pamplona

tinha o nome outra cidade do interior

paulista: Amparo.

. A famosa Parada Gay, que inicia no vão livre

do Masp e desemboca na Praça Roosevelt, já é

um dos maiores eventos da cidade. Ao término

da edição 2008, por exemplo, a subprefeitura

de Pinheiros (que cobre a região do Jardins) re-

colheu 3,5 toneladas de lixo das ruas – o mes-

mo volume em fogos de artifício utilizados na

cerimônia de abertura dos Jogos Pan-america-

nos de 2007, no Rio de Janeiro.

Informações e curiosidades sobre o passado, o presente (e por que não, o futuro?) do bairro mais charmoso de São Paulo

. Em 1903, foi funda-da na Avenida Paulista o Instituto Pasteur, voltado para o desenvolvimento de pesquisas sobre a rai-va. Até hoje, a instituição é referência no assunto.

Você sabia?. Em 1906, foi inaugurado aquele que é

tido como o primeiro hospital particular

da cidade: o Sanatório Santa Catarina,

na Avenida Paulista.

você

sabi

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Page 15: Estilo Jardins

. Desde 30 de maio de 2008, a Linha

Verde do metrô – que cruza boa parte

do bairro – é a única do sistema me-

troviário provida de sinal que permite o

uso de telefones celulares em algumas

estações e mesmo dentro dos trens.

. A famosa cadeia de cafeterias Starbucks

– muito mencionada na lite-ratura do escritor britânico Nicky

Hornby – teve a sua primeira loja no Brasil instalada no Jardins, mais precisamente

no Shopping Center 3 (esquina da Ave-nida Paulista com a Rua Augusta),

em outubro de 2007.

. O atual número de habitantes do Jardim Paulista, cerca de 90 mil, seria, em 1893, pouco

abaixo ao de toda a população de São Paulo, que girava em torno de 130 mil. Destes, apenas

60 mil eram brasileiros e 70 mil imigrantes (dos quais 45 mil italianos).

. No final do século 19, a cidade de São Paulo era dividida em apenas quatro regiões, conhecidas como “freguesias”. A

mais populosa era a de Santa Ifigênia, ocupada por cerca de 40 mil habitantes. Em seguida, vinha a freguesia do Brás,

com 32 mil moradores. A Sé aparecia em terceiro lugar, com 28 mil. Por fim, vinha a freguesia da Consolação – corres-

pondente a boa parte do que hoje é o Jardins – com 20,5 mil habitantes.

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De Gênova à Bela Cintra

Bem antes do final da década de 70, quando optou por mudar-se para o bairro de onde não mais sairia, o Jardins, Mino Carta, idealizador da revista CartaCapital, já guardava uma profunda relação afetiva com a região. Ao longo da vida, ele residiu em várias partes da cidade, como no bairro do Morumbi, mas foi logo na infância que sua história com os Jardins começou. A família Carta, italianíssima, residiu naquele que foi o primeiro prédio residencial da Rua Padre João Manuel, de 13 an-dares, cujo perfil dos moradores ainda estava sendo forjado. “Tenho uma tese de que a burguesia não existe: o que há são ricos e pobres”, explica Mino, colocando em perspectiva a difundida ideia de que aque-la área do bairro tenha sido o berço do que chamamos de “burguesia paulistana”. Ele lembra que as duas classes sociais circulavam por ali, ainda que com ligeira predominância de famílias mais abastadas. Italiano de Gênova, gosta de dizer que é mais brasileiro do que os que aqui nasceram, já que estes não tiveram escolha – enquanto ele adotou o Brasil por opção. Ninguém tem certeza quanto à sua idade, mas as correntes mais verossímeis afirmam ser 76 anos.

Ao fazer um exercício de memória do bairro, Mino Carta parece su-cumbir ao inevitável romantismo dos tempos idos. Isso pouco tem a ver com um suposto saudosismo nostálgico, configurando-se muito mais numa metáfora das próprias transformações nas relações huma-

Mino Carta, lendário jornalista-fundador da revista CartaCapital, orgulha o Jardins como um de seus

moradores mais ilustres, batizando até sabor de pizza

Fábio Fujita

vive

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no Ja

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“...Todos nós usávamos fraque, paletó, gravata. Não só para os bailes, mas até para assistir a uma sessão de cinema ...

nas e sociais vistas no decorrer dos anos. Pois em sua fase de calças curtas, Mino Carta saía de casa com a bola de capotão debaixo do braço para jogar pelada na rua, nos amplos espaços de terra desa-bitados, pelas cercanias da Padre João Manuel – hoje naturalmente ocupados por arranha-céus e outros empreendimentos próprios da rea lidade cosmopolita contemporânea. Andava de bonde para ir ao colégio, onde conviveu com muitos coleguinhas judeus, predominan-tes ali. Na adolescência, foi um habitué das matinês e dos antigos bailes – atualmente, até a sonoridade da palavra já soa anacrônica. Gostava de levar as moças para dançar valsa no Clube Homs, da Ave-nida Paulista, uma prática que em nada lembra o conceito de “bala-da” da juventude atual. Ainda mais pela indumentária que se exigia. “Todos nós usávamos fraque, paletó, gravata. Não só para os bailes, mas até para assistir a uma sessão de cinema”, recorda. “Até mesmo chapéu a gente usava. É uma prática que se perdeu por completo. Infelizmente”, lamenta Mino, que se remói em urticárias quando, em um restaurante, se depara com algum conviva traindo os bons valores da elegância com o uso de bermudas.

Em definitivo, Mino Carta se instalou no Jardins em 1978. Construiu uma espécie de “casamento moderno” para a época, quando vivia num apartamento com os filhos do primeiro matrimônio, enquanto a esposa residia em outro, igualmente na companhia dos filhos de um casamento anterior. Ele e a mulher esperaram a prole crescer e, quan-do os rebentos “criaram asas”, os dois finalmente puderam juntar os travesseiros, indo morar no atual apartamento localizado na Rua Bela Cintra. Em agosto de 1994, Mino – hoje viúvo – fundou a revista políti-ca CartaCapital, cuja redação montou num prédio da Alameda Santos, bem próxima à sua residência, o que só aprofundou sua relação com o Jardins. Ele só não gosta muito de caminhar pelo bairro. E também não dirige: quem o faz é o motorista particular Polibio Alves Vieira, fiel escudeiro de Mino há cerca de 40 anos, por quem o jornalista nutre um especial carinho.

Fabi

o H

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Já em fase de desaceleração da atividade jornalística – anunciou o fim do blog que mantinha no site da revista, embora ainda seja bastante presente e atuante na redação – Mino Carta tenta otimizar como pode o seu tempo. Eventualmente, frequenta alguns pontos gastronô-micos clássicos do Jardins. É o caso da Margherita Pizzeria, da Alameda Tietê. “Não exata-mente pela pizza, que é uma iguaria que não me diz muita coisa. Mas pela grande amizade que tenho com o proprietário”, diz, referindo-se a Antonio Carlos Toledo. Eles se conhecem há mais de três décadas, de quando Mino começou a frequentar outro restaurante de Tole-do, o Óscar, na Oscar Freire, aberto em 1978 e vendido na década seguinte. No Óscar, Mino fez muitas reuniões para tratar da preparação do Jornal da República, periódico lançado em 1979 e que, apesar de vida curta (circulou por poucos meses), não deixou de ser um labo-ratório para o que, anos depois, viria a ser a CartaCapital. Toledo gosta tanto do jornalista que, no cardápio do Margherita, é possível ver entre as opções uma inusitada “Pizzamino”, cuja receita apresenta rodelas de tomate sem pele e manjericão basílico (em referência à origem genovesa de Mino). É a única pizza do menu que faz referência a uma pessoa espe-cífica, e a única de massa fina – uma preferência do homenageado. Mino também é cliente do Bistrô Charlô, na Barão de Capanema, e já foi bastante assíduo da churrascaria Rodeio, da Haddock Lobo. Mas, hoje em dia, tem evitado o consumo de carne vermelha, até em vista da saúde.

Sua aparência e carisma de vovô bonachão, no entanto, estão longe de significar ociosidade ou falta de atividades físicas. Um de seus hábitos mais regulares é a prática de tênis, que faz quase diariamente, em quadras diversas de clubes da capital. Gosta de jogar pela ma-nhã, antes de chegar à redação de CartaCapital. Para encarnar a versão Roger Federer da terceira idade, Mino sempre gostou de adquirir as roupas apropriadas num endereço da grife francesa Lacoste, próximo de sua casa. Por isso, ficou desolado quando descobriu, há pouco tempo, que a loja encerrou as atividades. O fechamento se deu por conta de uma estratégia de reposicionamento da marca no país. “Não gosto de demorar na hora de comprar e, lá, eu entrava e tinha tudo de que precisava”, recorda. A abertura de uma flagship-store (“loja-conceito”) da marca na Rua Oscar Freire não resolveu a lacuna, pelo contrário. “Entrei e saí sem levar nada”, frustrou-se, diante das tantas “bermudas esquisitas” que o balconista lhe apresentou. A bem da verdade, Mino não é exatamente um entusiasta do suposto glamour que dá fama à rua em questão.

Autor dos livros O Castelo de Âmbar e A Sombra do Silêncio, ambos protagonizados por seu personagem alterego, Mercúcio Parla, e com passagens pelos principais veículos de co-municação do país (como Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e Quatro Rodas), Mino, filho e pai de jornalistas, nunca pensou em trocar os Jardins por qualquer outro lugar. Espera continuar no bairro por todo o restante da vida, familiarizado que está com todas as suas alamedas, comércios e serviços. Ele só se incomoda mesmo com o caos do layout arquitetônico da área. “São muitos prédios desalinhados, casas desarmônicas, construções e empreendi-mentos que não seguem nenhum tipo de coerência visual”, lamenta. “Falta uma política de leis urbanísticas que dê conta disso”, postula. Esse tipo de contestação diz muito sobre o jor-nalismo que corre em suas veias: entre seus lemas favoritos, está aquele no qual se cobra um “exercício desabrido e constante do espírito crítico”. Mino é assim. Que bom que seja. O Jardins se orgulha de um seus mais ilustres rebentos – e um rebento por opção.

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Fabio Hurpia

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Pela sua delicadeza, pela sua sensibilidade, pela sua ternura,

cada vez mais os restaurantes de sushis e de sashimis encan-

tam os habitantes da cidade. Aliás, paulatinamente absorvem

um novo público, uma garantia do seu futuro. Os adolescentes,

os jovens dos dezesseis aos vinte e tantos anos de idade, atual-

mente marcam os seus encontros, digamos, sociais e alimen-

tares, em endereços do estilo. Obviamente, bem melhor do

que as baladas madrugatícias com os excessos absurdos do

álcool impunemente fornecido aos menores.

Tenho filhas no intervalo dos dezesseis ao vinte e tantos. E

quem me lê pode imaginar de quantas festas, digamos, de

quinze anos, ambas participaram nos últimos meses. Ao

menos, uma celebração a cada semana. Pai cuidadoso que

sou, faço questão de buscá-las. E, jornalista obrigatoriamen-

te curioso que sou, faço questão de examinar o ambiente em

que estiveram. Impressionante: em 99% das ocasiões em que

investiguei os espaços de aluguel, ou mesmo residências de fa-

mília, os sushis e os sashimis representaram os protagonistas

principais dos menus encomendados. No momento da recolha

dos rebentos, em casas ou em salões de festas, mãe e pai

deparam com as camionetas dos perpetradores de sushis e

de sashimis, inúmeros funcionários a desmontarem o palco

das suas ações.

É, virou moda, na turma de minhas filhas, o prazer dos temakis,

em particular aqueles opulentos, envoltos em cones de algas.

Se, nas décadas de 50 e de 60, o meu babbo italiano comprava

fartas redondas, para viagem, nas pizzarias do bairro, hoje eu

sou instado a adquirir os temakis.

Uma pesquisa com um punhado de alunos e de alunas de colé-

gios da região do Jardins, do Dante Alighieri à Escola Morumbi,

apontou os diletos da turma no quadrilátero que esta revista

cobre – e revelou, também, mais alguns lugares de suas re-

dondezas, devidamente especificados à parte. A lista engloba

os clássicos, também os meus diletos, que respeitam toda a

tradição das iguarias que o Japão conhece, desde os séculos

XVI e XVII. Mas, como nada na gastronomia é fixo ou definitivo,

pois ela é uma arte viva e em constante mutação, também

abriga os chamados modernos, os inventivos e os audaciosos,

os pregadores da fusion que, a partir das décadas de 80 e de

90, sob as influências dos norte-americanos, dos franceses,

dos indianos e dos tailandeses, incorporaram em suas fórmu-

las produtos como o cream cheese, a maionese, o curry e a

manga. Confesso, de público, que a ousadia não chega a me

incomodar. Magos dos sushis e dos sashimis sabem como pro-

vocar até o paladar de quem reverencia o molho de tomate, a

mozzarella e as alici.

Sílvio Lancellotti traça um roteiro com os melhores restaurantes que levam a arte e o sabor da culinária nipônica ao Jardins

os melhores sushis, sashimis e correlatos etcetera

do Jardins

Por Sílvio Lancellotti

gast

rono

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Page 23: Estilo Jardins

AIZOMÊ

Al. Fernão Cardim, 39. Tel 3251-5157

Depois de se destacar no A1, o mestre Shinya Koike,

ou simplesmente Shin, proveniente de Tóquio, assumiu

este espaço compacto, mas elegante, com menos de

cinquenta lugares, em cujo balcão fascina os visitantes

que lhe encomendam relíquias com os siris empana-

dinhos e com as gemas de ovo. A Veja São Paulo o

agraciou com o prêmio de melhor da cidade em 2009.

IRORI

Al. Jaú, 487. Tel. 3285-1286

O sistema de rodízio ou de pedidos à la carte prevalece

neste recanto de já uma década de tradição, com diver-

sos ambientes nos quais é indispensável que se tirem

os sapatos. Destaque para as robatas, ou os espetinhos

na grelha, de legumes, de pescados e de carnes, feitos

bem à frente do cliente, num dos seus cinco salões.

Variedade, diversidade, fascinação, por preço honesto.

ORIGINAL SHUNDI

R. Dr. Mário Ferraz, 490. Tel. 3079-0736

Três décadas de brilho já transformaram Shundi Ko-

bayashi em um dos ícones da gastronomia oriental da

Paulicéia. Os seus menus de degustação, às vezes,

fulguram na escolha dos ingredientes, como as ovas

de arenque e os mariscos do Alasca – e, às vezes,

extrapolam no preço da oferta, que pode tangenciar

os quinhentos reais. Vale a visita de quem tem um

bolso cheio.

Fabi

o H

urpi

a

Erick Hurpia

Page 24: Estilo Jardins

RANGETSU OF TOKYO

Av. Rebouças, 1.394. Tel. 3085-6915

Um clássico, originado na Flórida, EUA, pratica-

mente uma década de história e a possibilidade

de se desfrutar, em São Paulo, o celebrado, e

caríssimo, filé de boi de Kobe, que é cevado em

confinamento e massageado até o seu abatimen-

to. Do salão principal se pode ver um aprazível

jardim.

SHINTORI

Al. Campinas, 600. Tel. 3283-2455

O antigo Suntory, numa mansão edificada em 1975, absoluta-

mente em estrutura de toras de madeira, sem pregos e sem

parafusos, só com cavilhas de pau, como exige a história do

Japão. Nancy Saeky e Daniel Ueki assumiram o ponto em

2006 e preservaram a deslumbrante ambientação e o nobre

ritual do kaeseki ryoori, dos cinco sabores a se encomenda-

rem com antecedência.

gast

rono

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Erick Hurpia

SUSHI GUEN

Av. Brig. Luís Antônio, 2.367, ljs. 13 e 14. Tel 3289-5566

Inesgotável, aparentemente eterno, Mitsuaki Shimizu já diplomou uma infinidade de herdeiros no seu espaço discreto. Os nomes dos seus afilhados se espalham pela cidade. Ninguém, porém, compete com esse bravo resistente que, desde 1974, oferece um imbatível tirashi zushi de alga crocantezinha.

Page 25: Estilo Jardins

YABANY

R. Prof. Attilio Inoccenti,

53. Tel. 3078-7773

Por mais absurdo que pareça, é um capixa-ba, Agenilson Dantas Teles, o Gereka, o bravo responsável pela qualidade dos rolinhos empanados, ao estilo tempura, que alegram a clientela deste espaço majes-toso, oito metros de pé-direito. “Yabany” é uma expressão árabe, que significa, acredite, “japonês”.

JUN SAKAMOTOR. Lisboa, 55.

Tel. 3088-6019.

Numa palavra, genial. O me-

lhor oriental de todo o país.

KINOSHITAR. Jacques Felix, 405.

Tel. 3849-6940.

Tsuyoshi Murakami só per-

de, no departamento, para

Jun Sakamoto.

KOSUSHIR. Viradouro, 139.

Tel. 3167-7272.

Oferece um extraordinário

carpaccio de anchova fres-

quinha.

MORI SUSHIR. da Consolação, 3.610.

Tel. 3898-2977.

Tem um rodízio gostoso, com

celebridades no seu balcão.

NAGAR. Bandeira Paulista, 385.

Tel. 3167-6049.

Filhote do excelente Na-

gayama, leia o textículo logo

abaixo.

NAGAYAMAR. da Consolação, 3.397.

Tel. 3064-0110.

Dos seus diversos endere-

ços, este é o basilar, datado

de 1988.

NAKASA SUSHIR. da Consolação 3.147.

Tel. 3064-0970.

Sistema de rodízio, através de

uma esteira à frente dos visitantes.

TEMPURA TENAv. Brig. Luís Antônio, 2.050.

Tel. 9622-3582.

Numa pequena galeria, toda a arte

do velho mestre Masaomi Imai.

SUSHI HAMATYOR. Pedroso de Morais,

393.Tel. 3813-1586

De um casal jovial, simpaticíssimo,

Kiyoko (atendimento) e Ryiochi Yoshi-

da (na sua preparação), os sushis e

sashimis de resultados estupendos.

REDONDEZAS, A METROS DE DISTÂNCIA DO JARDINS

Page 26: Estilo Jardins

A se tomar a rua Augusta em seu nascedouro, entre a Con-

solação e a Nove de Julho, no centro, qualquer turista estran-

geiro, ou mesmo um paulistano desavisado, certamente não

fará boa impressão dela. Parte integrante da paisagem me-

tropolitana conhecida como “Centro Velho”, aquele trecho da

Augusta padece da tão propalada “revitalização”, sucumbida

que está em ancestrais problemas de criminalidade, caos

visual e engarrafamentos de trânsito.

No entanto, quem alcançar sua extremidade oposta, já na

região sul, poderá ser surpreendido por ares dignos de Pri-

meiro Mundo. Não exatamente por cafés de estilo parisiense

ou pela moda inspirada nas passarelas de Nova York. É que,

naquela altura em que, não por acaso, a Rua Augusta é reba-

tizada de Avenida Europa, concentra-se o que há de melhor

em automóveis de alto padrão, com diversas concessioná-

rias, boutiques e lojas das mais suntuosas grifes automoti-

vas. “Não se encontra em nenhum outro lugar na América

Latina uma avenida que concentra todas as grandes marcas

como aqui”, diz Maurício Bueno, gerente da loja da Jaguar.

Avenida Europa traz a nata das grifes automotivas, que inclui Ferrari, Jaguar e Maserati, num corredor de dois mil metros, 30 concessionárias e muito glamour

o corredor das

suPermáquinas

cons

umo26

Page 27: Estilo Jardins

suPermáquinasDe fato, trata-se de um “corredor” com cerca dois mil me-

tros de extensão que, para os loucos por carros, é um

verdadeiro colírio para os olhos. “Para os olhos” porque os

objetos de desejo em questão são definitivamente inaces-

síveis para a grande maioria dos mortais. Máquinas como

as italianas Ferrari e Maserati podem ter modelos que che-

gam a R$ 1 milhão. Zonda R, o carro esportivo mais caro

do país, é orçado na bagatela dos R$ 5 milhões.

Por isso, o intenso entra-e-sai das lojas não significa, ne-

cessariamente, altas vendas. E mesmo a presença recor-

rente de meros curiosos, invariavelmente com câmeras

em punho para registrar sua proximidade dos possantes,

não costuma ser mal-vista pelos funcionários. O fascínio

generalizado potencializa o fetiche – e isso é bem-vindo

para a marca. Bueno lembra que sábado é um dia que

muita gente tira para passear pela avenida, com o propó-

sito específico de se esbaldar nos showrooms. “Já em dia

de semana, os clientes que vêm geralmente estão mesmo

interessados numa aquisição”, explica. Outras marcas pre-

sentes na avenida são BMW, Land Rover, Mercedes-Benz,

Mitsubishi, Subaru, Audi e outras.

Para Bueno, a proximidade de tantas fabricantes é mais

benéfica, por atrair potenciais consumidores para um

mesmo lugar, do que maléfica, por, supostamente, acirrar

a concorrência. Via de regra, os clientes são fiéis às suas

marcas prediletas. A própria loja da Jaguar conta com a

vizinhança frontal da portentosa Porsche. E isso não é um

problema. “Cada uma tem seu estilo. Eu vendo sedan, eles

Fotos: Erick Hurpia e Divulgação

Page 28: Estilo Jardins

vendem esportivos. Então essa concorrência não atrapa-

lha”, garante Bueno, lembrando que sua loja vende, em

média, 20 carros por mês.

Engana-se quem pensa que um veículo desses é só “um

por vida”: há clientes que adquirem os carros com a fa-

cilidade de quem consome ternos. “Tem aquele que pre-

cisa comprar um carro para ele e para a esposa, e calha

de gostar do Jaguar. Então ele compra dois”. Ainda na

questão da fidelidade, há ainda os clientes que Bueno

classifica como “cativos”: que já estão em sua quarta ou

quinta troca de modelo. “São pessoas muito antenadas

com os lançamentos, que às vezes sabem até mais (so-

bre os carros) do que a gente”.

Na verdade, não são apenas os compradores que sabem

tudo das supermáquinas. Os próprios “paparazzi das vitri-

nes” muitas vezes surpreendem os funcionários das con-

cessionárias com conhecimentos técnicos bastante apro-

fundados, não se restringindo à mera contemplação dos

automóveis que sonham, um dia, ter na garagem de casa.

Tanto que, em junho, a Platinuss, que representa as grifes

Pagani, Spyker e Lotus, rendeu-se ao jovem Renato Viani,

dando-lhe um emprego. Frequentador habitué da Avenida

Europa, Viani foi aprofundando amizade com os vendedores

e gerentes, sempre conversando, discutindo e trocando in-

formações sobre os veículos. “Depois de um ano mantendo

essa rede de contatos, surgiu a oportunidade de trabalhar

para a Platinuss”, revela, explicando que, apesar de sempre

ter tido a ambição de trabalhar na área, não imaginava que

pudesse acontecer de forma tão prematura. Com apenas

19 anos, Viani, que sonha em ter uma Ferrari, estuda pu-

blicidade na faculdade Anhembi Morumbi e, na Platinuss,

passou a integrar o departamento de marketing. Para a em-

presa, não se trata de algo inédito: um colega de trabalho

de Viani, Leone Andreta, fora empregado nas mesmas cir-

cunstâncias.

Os saudosos da geração anos 60, que “viajaram” com Den-

nis Hooper e Peter Fonda sobre duas rodas rumo à New

Orleans no road movie de 1969, Sem Destino, também es-

tão representados na Avenida Europa. Naturalmente, por

meio da marca-fetiche dos motoqueiros, a secular Harley-

Davidson. Sua influência em todo o planeta não é fortuita:

durante a Segunda Guerra Mundial, o exército americano

chegou a encomendar à empresa a produção de um modelo

com motor de 750 cavalos, de modo a suportar a circulação

de soldados em terrenos acidentados, e com capacidade

para atingir 105 km/hora.

Mais importante do que disponibilizar modelos da marca

para os aventureiros paulistanos, a loja da Avenida Europa,

ali presente desde 1994, contribui não só para ratificar a

Harley-Davidson como fabricante de motos, mas para cul-

tuar um verdadeiro estilo de vida. Não é à toa que a loja

oferece toda a parafernália necessária para o figurino de

seus adeptos, no caso: jaquetas, capacetes, luvas, calças,

camisetas, relógios, cintos e fivelas. Além disso, a loja é um

conhecido pólo de eventos para confrarias de seguidores,

que incluem cafés-da-manhã, happy-hours e trilhas pela

cidade.

É verdade que os tempos de bonança já não são mais os

mesmos. Os últimos anos verificaram quedas gradativas

nos índices de vendagem das companhias, em muito ex-

plicadas pelo “fim da novidade” a partir da massificação de

marcas e modelos entre os importados. Se em 1998 a Fer-

rari, por exemplo, conseguiu negociar 44 de seus veículos,

cinco anos depois os números já evidenciavam o achata-

mento do nicho, com “apenas” 18 carros vendidos.

A recessão mundial contemporânea também não sinaliza para

uma mudança significativa do quadro, a médio ou longo prazo.

Ainda assim, o trabalho de captação de novos consumidores

não esmorece. No mundo mágico dos veículos dos sonhos,

muitas campanhas de divulgação se fazem necessárias para

gerar mídia e burburinho em torno de novos modelos e cole-

ções. A Jaguar realiza festas fechadas para apresentar suas

novidades – a última, para promover o modelo XS, avaliado

em R$ 367 mil, aconteceu no Clube São Paulo, em agosto do

ano passado. “Normalmente, a gente chama uma personalida-

de, que pode ou não ser do meio automobilístico, para atuar

como orador”, explica Maurício Bueno.

Os novos carros ficam estrategicamente cobertos durante

a maior parte do evento, para serem revelados, no final,

em meio a uma badalação de luzes, modelos curvilíneas e

champanhe. Os convidados, invariavelmente, são clientes

antigos, sobre quem as empresas depositam a condição de

“formadores de opinião”. “A gente incentiva esses clientes

que já são da marca a levar algum amigo ao evento. Porque

existe o glamour do lançamento, e isso acaba entusiasman-

do”, teoriza Bueno.

Assim, o leitor de Estilo Jardins já sabe: quando aqueles

seus amigos cheios de carrões na garagem te chamarem

para uma festa, não recuse. Quem sabe não será sua inicia-

ção para se tornar “um deles”?

cons

umo

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Page 29: Estilo Jardins

R. Oscar Freire, 2126 - Pinheiros | Tel: (11) 3062.9070

Diferente de tudo o que há em São Paulo, a loja Prendas da Marquesa reúne mais de 2 mil itens, exclusivamente produzidos por artesãos brasileiros a partir de processos ambientais, culturais e sociais total-mente sustentáveis, movimento que cada vez mais ganha força no Brasil e no Mundo.

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Page 30: Estilo Jardins

GrandiosidadeintimistaDo alto de arranhas-céus majestosos à uma antiga porta de rua, o Jardins possui uma arquitetura vibrante e um visual próprio, que o diferencia do resto da metrópole

Fotos por Abdo Abdala

ensa

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Page 31: Estilo Jardins

Fotos tiradas no heliponto do Edifício DaconAgradecimento ao Sr. Nilton Jorge Khedy

Entrada de residência localizada à Rua Padre João Manuel

Page 32: Estilo Jardins

Francisco Chagas

Erick Hurpia

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Page 33: Estilo Jardins

Francisco Chagas gosta de dizer que não é difícil entender como funciona seu

lema de vida. “Se você não sabe fazer, você não sabe mandar”, teoriza. Pois a

máxima resume à perfeição a trajetória desse simpaticíssimo cearense de São

Benedito, maître do Rodeio, a churrascaria mais tradicional do Jardins que, desde

1958, sacia os paladares carnívoros da cidade. Aos 51 anos de idade, Chagas é

o chefe dos maîtres ou, como prefere, “gerente operacional” da casa. Comanda

uma equipe de 110 pessoas, entre auxiliares de serviços gerais, copeiros, cozi-

nheiros, garçons e outros maîtres. “Sou responsável por todo o andamento do

serviço junto com a equipe: coordeno o salão, o setor de churrasco, o bar... Tudo”,

simplifica.

Ter chegado a um cargo de tamanha confiança no restaurante foi uma consequ-

ência natural para quem, como Chagas, aprendeu o ofício de etapa em etapa,

com a obstinação própria dos que encaram o trabalho como sinônimo de satisfa-

ção pessoal. Chegou a São Paulo ainda na juventude, e seu primeiro emprego foi

numa lanchonete. Gostou tanto de trabalhar na área de comida que teve a convic-

ção de que se daria bem com isso. Em 1985, procurou os recursos humanos do

Rodeio, ainda sob a batuta de Nestor Macedo – pai do atual proprietário, Roberto

– e saiu de lá com o emprego. “Comecei nos bastidores. Passei por couvert, bar,

cozinha... todos os setores”, recorda. É por isso que, hoje em dia, quando ordena

a um dos cozinheiros marinar melhor uma carne, ninguém chia. “Como é que

você vai orientar um garçom se você não foi um? Como é que você vai reclamar

de uma faxina mal-feita se você nunca fez? Ou reclamar de uma batata se você

nunca fritou?”, explica Chagas, que só deixou o Rodeio no período entre 1987 e

1991, para atuar no Don Curro, restaurante especializado em frutos do mar. “Que-

ria aprender outra coisa”, justifica. Aprendeu e voltou.

O mais antigo maître da famosa

churrascaria do Jardins começou como

copeiro, recepcionou Mike Tyson e põe

carisma cearense no cosmopolitismo

da casa

no comando do rodeio

Page 34: Estilo Jardins

Hoje, quem o vê recebendo gorjetas que às vezes chegam a R$ 100 pode até

acreditar que aquele homem simples está no emprego dos sonhos. Chagas,

no entanto, não se deslumbra com a atual condição de chefia, pelo contrário.

Vaidade alguma é abalada quando sua figura de maître é confundida com a de

um garçom, por exemplo. “Só me sinto ofendido se não tiver cliente. Aí sim!”,

atesta. Num ofício em que lidar diariamente com tipos ecléticos de pessoas re-

quer paciência e tato social, Chagas é escaldado quanto a clientes supostamen-

te broncos ou pouco amistosos. Para ele, não existe grosseria, mas exigência.

“Dentro do restaurante estamos preparados para entender o cliente do jeito que

ele é, qualquer que seja esse jeito”, garante. “Você não está vendendo produto

religioso, você trabalha num restaurante”.

Essa apurada sensibilidade para lidar com o público é apenas um dos talentos

que fazem de Chagas um profissional de tanta longevidade na casa. Sempre que

necessário, procura fazer cursos de aperfeiçoamento – é, inclusive, diplomado

como sommelier (especialista em vinhos). Chagas também se vira na língua

inglesa. Ele diz que o fato de o cardápio ser apresentado no idioma de Barack

Obama facilita bastante a comunicação. “Não vou discutir a economia ameri-

cana em inglês, mas o que tiver que explicar, a gente sabe”. Tanto se vira que,

no final de 2005, foi ele quem deu as boas-vindas a ninguém menos que Mike

Tyson, quando o ex-campeão dos pesos pesados aportou ali para jantar. Tyson

chegou furioso, perseguido que vinha sendo pelos paparazzi paulistanos, e foi o

próprio Chagas quem barrou a entrada da imprensa no recinto. O maître lembra

que Tyson, vestindo uma camisa da seleção argentina de futebol, esbaldou-se

com picanha fatiada, arroz biro-biro e palmito assado. E só bebeu refrigerante. O

ex-lutador gostou tanto da comida que, depois de saciado, fez questão de posar

para uma foto ao lado de Chagas. Sorrindo.

Celebridades, aliás, são recorrentes nas mesas do Rodeio. Pelé, Ronaldo e até

o governador José Serra são clientes tradicionais. A alta cúpula da Fiesp (Fede-

ração das Indústrias do Estado de São Paulo) janta ali pelo menos uma vez por

mês. Certa vez, o presidente da entidade, Paulo Skaf, descontraiu a respeito do

maître: “Chagas é o presidente do G8”, definiu. O funcionário mais antigo da

casa faz questão de frisar, no entanto, que não há diferenciação entre um

e outro cliente por causa da fama. “Na hora que senta à mesa, qual-

quer um é importante”.

Casado e pai de um casal de filhos, Chagas cumpre expe-

diente integral. Folga só às segundas-feiras, quando gosta de

levar a família para comer polpetone no Jardim di Napoli,

sua cantina favorita, no bairro de Higienópolis. Por passar

a maior parte da vida a serviço do restaurante, comemorou

datas importantes, como Natal e Réveillon, trabalhando. Mas a

maior emoção vivida no cargo aconteceu no ano passado, quando

o Rodeio lançou um livro para celebrar seu primeiro meio século de

existência, intitulado Os Próximos 50 Anos, ilustrado por fotos de filhos

e netos de clientes. Com muitas menções a Chagas, o livro – idealizado

por Washington Olivetto – não deixa de ser a própria biografia do maître.

Num trecho da apresentação que trata do cosmopolitismo da área onde o res-

taurante se localiza, lê-se: “Descortinando-se o horizonte de grifes que cintilam

nas alamedas e nas transversais de luxo, você percebe um aplomb de Nova

York, uma brisa de Milão, um toque de Barcelona, um pouco de Chicago, um

perfume de Londres, um repente de Xangai”. Pois que, no recorte específico ao

Rodeio, também reverbera um leve e carismático sotaque do Ceará.

PerF

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Page 35: Estilo Jardins

Heroes - 3ª Temporada © 2008 Universal Studios. Todos os Direitos Reservados.Artwork e Packaging Design © 2008 Universal Studios. Todos os Direitos Reservados.

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www.universalpictures.com.br

Page 36: Estilo Jardins

Rua Peixoto Gomide

Conheça as pessoas que emprestam seus nomes a algumas das principais ruas e alamedas da região

No final da década de 20, um político de vasta erudição, Francisco de Assis Peixoto Gomide, enfrentava

sérios desentendimentos com a filha Sofia. Tudo porque ela andava se engraçando com um artista boêmio

chamado Manuel Baptista Cepelos. Peixoto Gomide proibiu a filha de levar adiante o affair. Mas Sofia ignorou

a ordem paterna. Já em 1930, pai e filha trancaram-se numa sala para um acerto de contas e o desfecho foi

trágico: Peixoto Gomide acabou matando Sofia com um tiro no peito. A seguir, o pai suicidou-se, com um tiro

na cabeça. A tragédia comoveu a nação porque Peixoto Gomide, nascido em 24 de março de 1849, era uma

famosa figura pública, tendo sido eleito senador do Congresso Paulista, chegando a presidente do Senado

Estadual e até mesmo à então presidência (hoje governo) do estado, quando o titular Campos Salles deixou

o cargo para trabalhar na campanha que o levaria à Presidência da República. Sua morte, assim como a da

filha, ocorreu em 20 de janeiro de 1906 (Cepelos, pivô da tragédia, também se suicidaria, nove anos depois).

Seu nome batiza a rua onde se localiza a cachaçaria Água Benta.

o senador suicida e outras figuras

hist

ória

em P

laca

s36

Page 37: Estilo Jardins

Ministro Rocha Azevedo

Haddock LoboPadre João Manuel

Gabriel Monteiro da Silva

Álvaro Gomes da Rocha Azevedo foi um mineiro de

Campanha, nascido em 26 de janeiro de 1864. Em sua

carreira política, ocupou cargos bastante importantes,

entre eles os de vereador e deputado federal por São

Paulo, além de intendente da comarca de Mococa,

no interior do estado. Advogado de formação, Rocha

Azevedo chegou a ocupar, por cinco meses, o posto de

prefeito da cidade de São Paulo, entre agosto de 1919

e janeiro de 1920 – antes dele, apenas três outros pas-

saram pela cadeira: Antonio da Silva Prado, Raymundo

da Silva Duprat e Washington Luís Pereira de Souza. O

cargo que acompanha a alcunha de Rocha Azevedo na

rua onde se localiza o bar Capim Santo e a delicates-

sen Xodó Paulista refere-se ao Ministério do Tribunal

de Contas da União. Rocha Azevedo faleceu na capital

paulista, em 30 de outubro de 1942.

Ele foi uma das figuras mais emblemáticas nos primeiros anos

da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no início da década

de 30, já que a influência do avô e do bisavô, ambos juristas,

também levaria Gabriel Monteiro da Silva ao mundo das leis.

Nascido em 17 de setembro de 1900 na cidade mineira de

Alfenas, ele foi um homem de personalidade expansiva e social,

o que o encaminhou a uma posterior carreira política, após

formar-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Co-

meçou como escriturário na Secretaria da Fazenda, após obter

o primeiro lugar num concurso público. Em 1941, foi nomeado

Secretário do Interior (então “Diretor do Departamento de Muni-

cipalidades”) do estado de São Paulo pelo interventor Fernando

Costa, o que rendeu a Monteiro da Silva ampla projeção política.

Cinco anos depois, chegou ao cargo de Ministro-Chefe da Casa

Civil da Presidência, na gestão de Gaspar Dutra. Teria sido um

provável sucessor de Dutra, não fosse vítima de um acidente

automobilístico fatal, no percurso Rio de Janeiro-Petrópolis, em

5 de dezembro de 1946. É na alameda que leva seu nome que

se localiza um dos maiores polos de decoração da cidade.

Em 20 de maio de 1847, um médico português

radicado no Brasil testava, de forma experimental e

inédita no país, aquilo que viria a se tornar um dos

maiores aliados da medicina moderna: a anestesia. O

estudante Francisco d’Assis Paes Leme foi a “cobaia”

do doutor Roberto Jorge Haddock Lobo, membro

da Imperial Academia de Medicina e que dá nome

à rua onde se localiza o tradicional Colégio São

Luiz. Nascido no Cascais em 19 de fevereiro de 1817,

Haddock Lobo conciliou seus estudos médicos com

outros interesses na área do comércio: chegou a ser

membro da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacio-

nal (então amparada pelo Ministério dos Negócios do

Império) e mentor de um recenseamento na cidade

do Rio de Janeiro, em 1849. Redigiu textos médicos

em publicações acadêmicas e embrenhou-se também

pela política: foi eleito vereador no Rio pelo Partido

Conservador, chegando a ocupar a Presidência da

Câmara. Morreu em 30 de dezembro de 1869, no Rio

de Janeiro.

Em junho de 1889, época em que, no Brasil, posicio-

nar-se entre a monarquia e a república lembrava a

dicotomia entre conservadores e liberais na Macondo

de García Márquez, o então deputado João Manuel de

Carvalho, ao final de um discurso de apresentação do

gabinete ministerial na Câmara dos Deputados, se fez

ouvir aos brados: “Viva a República!”. A ousadia irritou

o Visconde de Ouro Preto, último primeiro-ministro do

Império, que retrucou sobre as grandes virtudes do

regime monárquico. Fato é que, cinco meses depois,

Rui Barbosa assinava o decreto que proclamava

oficialmente o sistema republicano, muito influenciado

pelas ideias de João Manuel, sacerdote católico eleito

deputado nas últimas legislaturas do Império. É na rua

Padre João Manuel (paralela à rua Augusta) que está

o restaurante Dalva & Dito, propriedade do maior chef

brasileiro da atualidade, Alex Atala.

Page 38: Estilo Jardins

a meCados colecionadores

Poucos itens despertam tanto a paixão de colecionadores como as histórias em quadrinhos. Sejam aventuras despre-tensiosas de super-heróis, intrincadas graphic novels que não ficam devendo em nada às obras literárias, ou os estilizados mangás orientais, as HQs hoje já estão enraizadas na cultura pop, com uma indústria que movimenta verdadeiras fortu-nas por ano e se expande cada vez mais para outras mídias, como cinema e games.

E se existe algo comum a todos os leitores de quadrinhos é o hábito de colecionar absolutamente tudo (e não ape-nas revistas) referente aos seus heróis preferidos. E é aí que surge a Comix, uma pequena loja localizada no Jardins, que é praticamente um templo para os aficionados pela Nona Arte. Contando com cerca de 20 mil exemplares em seu acervo (sem falar no depósito, na Zona Norte da cidade, que abriga outras 400 mil revistas), além de miniaturas, cards e DVDs, a loja se tornou referência não apenas na cidade, mas em todo o Brasil, quando o assunto é quadrinhos.

Capitaneada por Jorge Rodrigues, gerente comercial do es-tabelecimento (e irmão do fundador Carlos), a história da Comix está intimamente ligada ao bairro. Em 1986, Carlos começou a trabalhar com uma banca de jornal na alameda Lorena. Mas, como sempre foi apaixonado por quadrinhos, este tipo de publicação começou a ganhar cada vez mais espaço dentro do seu negócio. “A banca se tornou um ponto de encontro de fãs de HQs em São Paulo. Até mesmo pes-soas de outras cidades, quando vinham para cá, queriam conhecer o local”, relembra um saudosista Jorge.

No coração do Jardins, a Comix, referência quando o assunto é quadrinhos,

atrai colecionadores do país inteiro

acha

dos38

Page 39: Estilo Jardins

Logo ficou claro que o espaço da banca não era suficiente, e, assim,

em 1996, a Comix transferiu-se para o endereço atual, na alameda

Jaú, a poucos metros da avenida Consolação. De lá para cá, o negó-

cio só cresceu – mesmo com algumas retrações que a indústria de

HQs sofreu ao longo desse período. A empresa ganhou uma loja vir-

tual e passou a realizar um grandioso evento chamado Fest Comix,

uma feira de quadrinhos que atrai aficcionados do Brasil inteiro.

E este crescimento veio, claro, não só pelo enorme acervo e aten-

dimento de qualidade, como pela paixão de seus clientes. A Comix

atende uma média de 2.400 pessoas por mês, que podem comprar

tanto uma revista por menos de R$ 10,00 como acabar deixando

verdadeiras fortunas na loja. “Algumas pessoas chegam dizendo que

não lêem quadrinhos faz tempo e querem se atualizar. Acabam gas-

tando R$ 2.000,00, R$ 3.000,00, comprando centenas de revista de

uma só vez”, conta Jorge.

Outro aspecto importante no sucesso da loja é a renovação de seu

público, que ganha novos adeptos a cada dia. De acordo com Jorge,

isso acontece por dois motivos. O primeiro é a onda de superprodu-

ções baseadas em quadrinhos, que conquistam cada vez mais es-

paço nos cinemas. Filmes que narram as aventuras de heróis como

Homem-Aranha, Batman ou Wolverine explodem nas bilheterias e

apresentam o universo dos personagens ao público casual, que aca-

ba se interessando em ler as histórias originais.

O segundo motivo, ainda mais decisivo, é o crescimento da populari-

dade dos mangás. Os quadrinhos japoneses definitivamente caíram

no gosto dos leitores, sobretudo dos mais jovens, e chegaram até

mesmo a mudar “a cara” dos clientes da Comix. “As mulheres que

lêem quadrinhos de super-heróis são bem poucas, e o fazem in-

fluenciadas pelo pai ou namorado. Já entre dos leitores de mangás,

50% são mulheres”, afirma Jorge. E, mesmo tendo a maior parte de

seu acervo voltado para os “quadrinhos ocidentais”, a Comix tam-

bém trabalha com publicações japonesas, o que faz com que, num

sábado – dia de maior movimento da loja – pessoas de todas as

idades e sexo se encontrem em seus corredores.

As editoras do segmento, sabendo que o mercado vive uma fase

boa, têm investido bastante também. Hoje, Jorge estima que uma

média de 100 títulos (entre infantis, super-heróis, mangás e edições

especiais) seja publicada mensalmente no país. Além disso, recen-

temente o mercado brasileiro descobriu o nicho das publicações de

luxo, lançando diversas edições especiais a preços assustadores à

primeira vista (a versão mais luxuosa da aclamada Watchmen, lan-

çada recentemente, custa R$ 120,00).

Assim, os clientes da Comix aproveitam a boa fase da indústria que

veneram e comparecem religiosamente à loja, em busca de novida-

des. E aqueles que moram fora da cidade visitam a loja virtual – que

hoje responde por boa parte de suas vendas – em busca tanto de no-

vidades, como de números atrasados, para tapar os buracos de suas

coleções. Mas, mesmos estes consumidores, quando estão na cidade,

encontram um jeito de ir conhecer a loja. Afinal, seu ambiente, com

paredes cobertas de quadrinhos e miniaturas dos mais diversos tipos

e preços, é, para um colecionador, tão emocionante quanto reler sua

história preferida. E, tudo isso,

no meio dos Jardins, uma das

regiçoes mais badaladas da ci-

dade, mostrando que glamour e

fantasia combinam mais do que

muita gente imagina.

Foto

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abio

Hur

pia

Comix Alameda Jaú, 1998(11) 3088-9116www.comix.com.br

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lemb

ranç

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Page 43: Estilo Jardins

Na residência de Armando Cerávolo, um aconchegante apartamento localizado à Rua Padre João

Manuel, são muitas as fotos espalhadas nas paredes e em porta-retratos onde o morador posa ao

lado de celebridades como a rainha Silvia, da Suécia, a modelo Gisele Bündchen e a apresentadora

Hebe Camargo. São resquícios saudosos de um tempo em que Cerávolo atuava como executivo da

área de cinema. Seu pai, Lucídio Cerávolo, foi proprietário do finado Cine Marrocos que, quando

inaugurado em 1952 no centro da cidade, chegou a ser considerado o cinema mais luxuoso da

América Latina. Apresentava uma arquitetura barroca, com escadaria de mármore e colunas roco-

có, além de poltronas reclináveis, um deslumbre para a época, o que fazia com que seus clientes

usassem terno e gravata para assistir a uma sessão. O fechamento do cinema no início dos anos

80 motivou cada integrante da família a tomar novos rumos. Armando, economista de formação,

foi para o mercado financeiro e, estimulado pela perspectiva de uma nova vida, resolveu mudar de

ares. Deixou a região do Ibirapuera – morava na Avenida República do Líbano – e adquiriu o atual

apartamento, onde se instalou em definitivo em 1984, após as reformas necessárias.

Da DeCaDênCia ao revival da augustaMorador do Jardins há 25 anos, filho do ex-proprietário do saudoso Cine Marrocos testemunhou a aurora e o ocaso de alguns logradouros-símbolos da região

Foto

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rick

Hur

pia

Page 44: Estilo Jardins

A opção pelo Jardins não foi gratuita. Armando já conhecia a área porque um de seus irmãos residia na Alameda

Franca. Pesou para a escolha a vocação residencial que o bairro já tinha na época. Por ser solteiro, ele valorizava

uma área que fosse ao mesmo tempo confortável e livre de maiores badalações. “Aqui no meu prédio, há muito

mais cachorros do que crianças”, avalia Cerávolo, lembrando que esse perfil ia de encontro ao que procurava – até

porque, alguns anos depois, ele adotaria Dinho, um simpático e roliço basset que lhe faz companhia há 13 anos. O

fato de o Jardins ser um bairro com média de idade mais alta também soava como sinônimo de tranquilidade.

Por estar radicado há 25 anos na região, Cerávolo pôde acompanhar in loco as transformações pelas quais passa-

ram algumas das principais ruas e alamedas de seu entorno. A “mutação” mais marcante, para ele, se deu com a

Oscar Freire. “Era uma rua com poucas lojas, sem maiores atrativos”, recorda. “Hoje ela tem, ao lado do Shopping

Iguatemi, o ponto de comércio mais alinhado, mais chique de São Paulo. É a vitrine do Brasil”, teoriza. Cerávolo

lembra que, a princípio, a badalação era mais focada na rua Augusta que, em algum momento, concentrava a

nata do comércio nobre da cidade. Mas, a partir da massificação dos shopping centers, as melhores boutiques

foram, gradativamente, deixando os bairros – e com a Augusta não foi diferente – na transição dos anos 80 para

90. Ficou decadente. “Já o pessoal que passeia na Oscar Freire sempre foi de poder aquisitivo mais alto”, explica,

considerando que a rua conseguiu desenvolver uma inusitada “resistência” como comércio alternativo aos sho-

ppings. Então, verificou-se um fenômeno contrário. “O revival da Augusta começou há pouco tempo, quando ela

passou a se espelhar na Oscar Freire”. Para ele, o que houve de bom nessa esteira toda foi o sumiço dos bingos,

uma “praga” da qual ele nunca foi adepto.

A valorização de ambas as ruas não se confinou a elas, tendo desdobramentos por todas suas cercanias. Na

própria Rua Padre João Manuel, onde reside, e em travessas como a Barão de Capanema, Estados Unidos, José

Maria Lisboa e outras, instalaram-se muitos restaurantes, todos com a característica de se nivelarem em alto

padrão. Da janela de sua sala, Cerávolo pôde ver o nascimento do Bistrô Charlô, que se configuraria num dos

endereços-gourmet mais reluzentes dos Jardins. Mas a fidelidade de Cerávolo só é dispensada mesmo ao Frevo, a

casa de lanches da Augusta que tem um capítulo à parte na história gastronômica da cidade, por sua longevidade:

funciona desde o longínquo ano de 1956. “O beirute deles é incomparável”, delicia-se Cerávolo, que freqüenta o

lugar desde sua chegada ao bairro, esbaldando-se entre opções clássicas como o de rosbife, ou inovadoras como

o de carpaccio ou parmegiana.

Não há nada de que Cerávolo sinta especial saudade, em relação à época de quando se instalou no Jardins.

Encara com desenvoltura as transformações naturais pela qual passa o bairro, assim como ocorre com qualquer

recanto metropolitano. “Só queria que tivesse menos trânsito”, ressalva. De todo modo, o economista, hoje apo-

sentado, faz quase tudo a pé na região. Desde criança – portanto, antes de virar morador do bairro – frequenta o

clube Harmonia, na Rua Canadá, onde faz natação e ginástica. Compras ele gosta de fazer na Casa Santa Luzia,

estabelecimento comercial presente na área desde a década de 20. “É onde tem os melhores queijos e vinhos”,

assevera. De opções culturais que fecharam e que não tiveram reposição Cerávolo lembra das salas de cinema: o

Cine Paulista e o Cine Vitrine, que ficavam na Augusta. Para quem, como ele, teve um grande trânsito no universo

exibidor da cidade por conta do antecedente familiar, essa é uma lacuna que ele espera corrigir de alguma forma.

“Estou tentando fazer com que o governo recupere o Cine Marrocos, como fez com o Cine Marabá. Seria uma

homenagem à memória do meu pai”, explica. Isso não significa ter de deixar o Jardins, muito pelo contrário. “Se

depender de mim, pretendo nunca sair daqui”. Uma vez jardinense, sempre jardinense.

lemb

ranç

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AçãONiNja assassiNo

Direção: James McTeigue

Elenco: Rain, Sung Kang

Estréia: 04 de dezembro

Recheada de cenas de luta, este longa narra

as aventuras de um ninja que se volta contra os

membros do seu antigo clã, precisando enfren-

tá-los em duelos mortais.

AnimAçãOa PriNcesa e o saPo

Direção: Ron Clements, John Musker

Elenco: Anika Noni Rose, John Goodman (vozes)

Estréia: 11 de dezembro

Nova animação da Pixar que leva às telas um

delicioso conto de fadas estrelado por uma

princesa que mora na Nova Orleans da déca-

da de 30.

o FaNtástico sr. raPoso

Direção: Wes Anderson

Elenco: George Clooney, Cate Blanchett (vo-

zes)

Estréia: 4 de dezembro

Baseado no livro de Roald Dahl, este longa

mostra as aventuras de uma esperta raposa

que precisa defender sua família de um grupo

de caçadores.

COméDiAUma mãe em aPUros

Direção: Katherine Dieckmann

Elenco: Uma Thurman, Anthony Edwards

Estréia: 25 de dezembro

Uma Thurman estrela este longa sobre uma

mãe que se envolve em inúmeras e inespera-

das confusões ao tentar organizar a festa de

aniversário de sua filha.

Um Homem sério

Direção: Joel e Ethan Coen

Elenco: Michael Stuhlbarg, Sari Lennick

Estréia: 4 de dezembro

Na década de 60, o casamento de um profes-

sor começa a ruir quando sua esposa ameaça

largá-lo porque seu irmão recusa-se a ir embora

de sua casa.

eNcoNtro de casais

Direção: Peter Bilingsley

Elenco: Vince Vaugh, Jon Favreau

Estréia: 25 de dezembro

Quatro casais viajam em férias para um local

paradisíaco para participar de sessões de tera-

pia de casal realizadas no local.

DOCumEntáriOtysoN

Direção: James Toback

Estréia: 18 de dezembro

Longa-metragem que aborda a carreira do pugi-

lista Myke Tyson, um dos maiores e mais respei-

tados pesos-pesados de todos os tempos.

o Poder do soUl

Direção: Jeffrey Levy-Hinte

Estréia: 11 de dezembro

Documentário sobre um lendário show de soul

music que reuniu estrelas como James Brown e

BB King no Zaire, em 1974.

DrAmANova york, eU te amo

Direção: Brett Ratner, Natalie Portman

Elenco: Shia LaBeouf, James Caan

Estréia: 25 de dezembro

Diversas histórias de amor – assinadas por

cineastas do mundo inteiro – ambientadas na

charmosa cidade de Nova York.

vidas qUe crUzam

Direção: Guillermo Arriaga

Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger

Estréia: 4 de dezembro

Com elenco liderado por duas vencedoras do

Oscar, este longa mostra o difícil relacionamen-

to entre mãe e filha, abalado por acontecimen-

tos do passado.

distaNte Nós vamos

Direção: Sam Mendes

Elenco: John Krasinski, Maggie Gyllenhaal

Estréia: 18 de dezembro

Casal viaja pelos Estados Unidos em busca de

um lugar ideal para morar, após descobrirem

que a esposa está grávida.

HacHiko

Direção: Lasse Hallström

Elenco: Richard Gere, Joan Allen

Estréia: 25 de dezembro

Refilmagem do filme japonês homônimo, narra

o emocionante relacionamento entre um profes-

sor de meia-idade e o cão que ele adota.

cin

em

acu

ltur

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a PriNcesa e o saPo

Page 49: Estilo Jardins

AvEniDA PAulistA

esPaço cUltUral citi Avenida Paulista, 1111 – Fone: 4009-3000

iNstitUto cervaNtes Av. Paulista, 2439 – Fone: 3897-6909

masPAv. Paulista, 1578 – Fone: 3251-5644

JArDinsmuBe Rua Alemanha, 221 – Fone: 2594-2601

mis Av. Europa, 158 – Fone: 2117-4777

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sesc Av. Paulista, 119. Auditório (230 lugares) – Fone: 3179-3700

aUditório do masP Avenida Paulista, 1578 (374 lugares) – Fone: 3251-5644

JArDins

casa de FraNcisca R. José Maria Lisboa, 190 (44 lugares) – Fone: 3052-0547c

as

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TeaTro eva HerTz Av. Paulista, 2073 (Liv. Cultura – Cj. Nacional – 144 lugares) – Fone: 3170-4059

A Alma Imortal – Dir.: Nilton Bonder (até 16 de dezembro)Elenco: Amir Haddad. Drama. Seg, Ter e Qua: às 21h

Doido – Dir.: Elias Andreato (até 10 de de-zembro)Elenco: Elias Andreato. Drama. Qui: 21h30

As Meninas – Dir.: Yara de Novaes (até 13 de dezembro)Elenco: Clarissa Rockenbach, Luciana Brites, Silvia Lourenço e Julio Machado. Drama. Sáb (21h) e Dom (18h)

SeSc – Espaço 5º Andar Av. Paulista, 119. Auditório (70 lugares) – Fone: 3179-3700

SeSc – Espaço 11º Andar Av. Paulista, 119. Auditório (50 lugares) – Fone: 3179-3700

TeaTro GazeTa Av. Paulista, 900 (716 lugares) – Fone: 3253-4102

jardiNs

TeaTro ProcóPio Ferreira R. Augusta, 2823 (670 lugares) – Fone: 3083-4475

Avenida Q – Dir:. Charles Möeller (até 20 de dezembro) Elenco: André Dias, Renato Rabelo, Sabrina Korgut, Fred Silveira. Musical. Qui, Sex, Sab (21h), Dom (19h)

TeaTro renaiSSance Al. Santos, 2233 (Hotel Renaissance – (448 lugares) – Fone: 2122-4241

FiCçãO CiEntíFiCAavatar

Direção: James Cameron

Elenco: Zoe Saldana, Sam Worthington

Estréia: 18 de dezembro

Produção que marca o retorno do diretor de Titanic

às telas e que mostra, com visual deslumbrante, as

aventuras de um guerreiro que tenta defender seu

povo.

a caixa

Direção: Richard Kelly

Elenco: Cameron Diaz, James Marsden

Estréia: 4 de dezembro

Casal recebe uma misteriosa caixa de madeira e

precisa tomar uma decisão: se a abrirem, ganharão

uma fortuna, mas uma pessoa, em algum lugar do

planeta, irá morrer.

inFAntilxUxa em o mistério

da FeiUriNHa

Direção: Tizuka Yamasaki

Elenco: Xuxa Meneghel, Sasha Meneghel

Estréia: 25 de dezembro

As vidas de diversas personagens de contos de fa-

das se cruzam após o misterioso desaparecimento

de uma princesa conhecida como Feiurinha.

rOmAnCEé ProiBido FUmar

Direção: Anna Muylaert

Elenco: Glória Pires, Paulo Miklos

Estréia: 4 de dezembro

Professora de violão solitária acaba se apaixonando

pelo vizinho, músico de churrascarias. Mas logo des-

cobre que o novo namorado ainda pensa na antiga

amante, e começam os conflitos.

tErrOratividade ParaNormal

Direção: Oren Peli

Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat

Estréia: 4 de dezembro

Um dos grandes sucessos da temporada, Atividade

Paranormal mostra o drama de uma família que se

muda para uma casa assombrada por uma presença

demoníaca.

zUmBilâNdia

Direção: Ruben Fleischer

Elenco: Woody Harrelson, Jesse Einsenberg

Estréia: 4 de dezembro

Mesclando cenas de comédia e de terror, Zumbi-

lândia mostra os perigos enfrentados por um grupo

de pessoas que precisa resistir a uma infestação de

zumbis.

ciNemas

Avenida Paulista e RegiãoBRIstol – Av. Paulista, 2064 (Center 3) –7 salas. Fone: 3829-0509CInE BoMBRIl – Av. Paulista, 2073 (Cj. Nacional) – 2 salas. Fone: 3285-3696GEMInI – Av. Paulista, 807 – 2 salas. Fone: 3289-3566REsERvA CultuRAl – Av. Paulista, 900 – 4 salas. Fone: 3287-3529EsPAço unIBAnCo – R. Augusta, 1475 e 1470 – 5 salas. Fone: 3288-6780HsBC BElAs ARtEs – R. da Consolação, 2423 – 6 salas. Fone: 3258-4092PátIo PAulIstA CInEMARk – R. 13 de Maio, 1947 (Shopping Pátio Paulista) – 7 salas. Fone: 3142-9242PátIo PAulIstA PlAyARtE – R. 13 de Maio, 1947 (Shopping Pátio Paulista) – 2 salas. Fone: 3285-4461

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TeaTro

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