ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS PARA O REFÚGIO … · Isto significa projetar com a natureza, de dentro...

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1 III ENECS - ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS PARA O REFÚGIO BIOLÓGICO BELA VISTA, EM FOZ DO IGUAÇU Miguel Aloysio Sattler ([email protected] ) Professor do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação/ Departamento de Engenharia Civil/ Escola de Engenharia/ UFRGS. Christiane Carbonell Jatahy; Cristiano Viégas Centeno; Cristina Wayne Brito; Giane de Campos Grigoletti; Michele de Moraes Sedrez; Sérgio Luiz Valente Tomasini; Telissa Frenzel da Rosa; Verena Schmidt Baldoni. Mestrandos do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação/ Departamento de Engenharia Civil/ Escola de Engenharia/ UFRGS. RESUMO No segundo semestre de 2000, o NORIE foi contratado por Itaipu Binacional para desenvolver um anteprojeto para o Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), que integra o complexo da Barragem de Itaipu, localizada em Foz do Iguaçu. O RBV se constitui em um dos cinco Refúgios biológicos localizados às margens do lago que configura a Barragem de Itaipu. O propósito destes Refúgios é a regeneração de áreas afetadas pela barragem e a preservação de espécies nativas. Para responder à demanda formulada por Itaipu Binacional, foi definido um conceito geral, sugerindo o uso de um tema para a proposta arquitetônica. Tanto as áreas externas, como as edificações, seus componentes, e os equipamentos foram projetados com a inspiração nos quatro elementos acima mencionados: terra, água, ar e fogo. Estes foram os símbolos que guiaram aos projetistas, mas também deveriam constituir uma linguagem amigável para se relacionar aos futuros visitantes (estimados, inicialmente, em torno de 50.000/ano). Este trabalho busca identificar as estratégias sustentáveis integradas ao projeto, assim como esclarecer o conceito definido para a proposta arquitetônica. Palavras-chave: construções sustentáveis; centro demonstrativo; impactos ambientais; estratégias sustentáveis SUSTAINABLE STRATEGIES FOR REFÚGIO BIOLÓGICO BELA VISTA, IN THE CITY OF FOZ DO IGUAÇU ABSTRACT In the second semester of 2000, NORIE was invited by Itaipu Binacional, to conduct the preliminary design for Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), that integrates the complex of Itaipu Hidroelectricity Dam, located in the city of Foz do Iguaçu. RBV constitutes one out five biological refuges located at the margins of the lake created to feed the Dam. The purpose of such refuges is the regeneration of the land afected by the dam and the preservation of native species. As a reply to the demand formulated by Itaipu Binacional, a general concept was defined, sugesting the use of a theme for the architectural proposal. Both the external areas and the buildings, its components and the equipments were designed with an inspiration in the four elements above mentioned: earth, water, air and fire. These were the simbols that guided the designers, but the also should constitute a friendly language with wich to relate to future visitors (initially estimated as about 50,000/year). This work tries do identify the sustainable strategies integrated into the design, as well as to clarify the concept defined for the architectural proposal. Keywords: sustainable construction; demonstration centre, environmental impacts; sustainable strategies.

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III ENECS - ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS

ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS PARA O REFÚGIO BIOLÓGICO BELA VISTA, EM FOZ DO IGUAÇU

Miguel Aloysio Sattler ([email protected]) Professor do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação/ Departamento de Engenharia Civil/ Escola de Engenharia/ UFRGS. Christiane Carbonell Jatahy; Cristiano Viégas Centeno; Cristina Wayne Brito; Giane de Campos Grigoletti; Michele de Moraes Sedrez; Sérgio Luiz Valente Tomasini; Telissa Frenzel da Rosa; Verena Schmidt Baldoni. Mestrandos do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação/ Departamento de Engenharia Civil/ Escola de Engenharia/ UFRGS. RESUMO No segundo semestre de 2000, o NORIE foi contratado por Itaipu Binacional para desenvolver um anteprojeto para o Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), que integra o complexo da Barragem de Itaipu, localizada em Foz do Iguaçu. O RBV se constitui em um dos cinco Refúgios biológicos localizados às margens do lago que configura a Barragem de Itaipu. O propósito destes Refúgios é a regeneração de áreas afetadas pela barragem e a preservação de espécies nativas. Para responder à demanda formulada por Itaipu Binacional, foi definido um conceito geral, sugerindo o uso de um tema para a proposta arquitetônica. Tanto as áreas externas, como as edificações, seus componentes, e os equipamentos foram projetados com a inspiração nos quatro elementos acima mencionados: terra, água, ar e fogo. Estes foram os símbolos que guiaram aos projetistas, mas também deveriam constituir uma linguagem amigável para se relacionar aos futuros visitantes (estimados, inicialmente, em torno de 50.000/ano). Este trabalho busca identificar as estratégias sustentáveis integradas ao projeto, assim como esclarecer o conceito definido para a proposta arquitetônica. Palavras-chave: construções sustentáveis; centro demonstrativo; impactos ambientais; estratégias sustentáveis SUSTAINABLE STRATEGIES FOR REFÚGIO BIOLÓGICO BELA VISTA, IN THE CITY OF FOZ DO IGUAÇU ABSTRACT In the second semester of 2000, NORIE was invited by Itaipu Binacional, to conduct the preliminary design for Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), that integrates the complex of Itaipu Hidroelectricity Dam, located in the city of Foz do Iguaçu. RBV constitutes one out five biological refuges located at the margins of the lake created to feed the Dam. The purpose of such refuges is the regeneration of the land afected by the dam and the preservation of native species. As a reply to the demand formulated by Itaipu Binacional, a general concept was defined, sugesting the use of a theme for the architectural proposal. Both the external areas and the buildings, its components and the equipments were designed with an inspiration in the four elements above mentioned: earth, water, air and fire. These were the simbols that guided the designers, but the also should constitute a friendly language with wich to relate to future visitors (initially estimated as about 50,000/year). This work tries do identify the sustainable strategies integrated into the design, as well as to clarify the concept defined for the architectural proposal. Keywords: sustainable construction; demonstration centre, environmental impacts; sustainable strategies.

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1. INTRODUÇÃO Neste trabalho são abordadas algumas das Estratégias de Sustentabilidade propostas e implantadas no Projeto de Revitalização do Refúgio de Bela Vista, em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. Inicialmente, é feita uma breve apresentação do Refúgio, seguida da identificação do conceito norteador do projeto, que é baseado nos quatro elementos da natureza: - água, ar, terra e fogo. São referidas, a seguir, as propostas apresentadas à Itaipu Binacional para o gerenciamento das águas, abordando estratégias como: reutilização, redução do consumo e tratamento de águas residuais; assim como para o gerenciamento de resíduos, que segue princípios como: aproveitamento máximo dos resíduos e tratamento descentralizado. Finalmente, são apresentadas estratégias para o paisagismo do Refúgio e os critérios utilizados na escolha dos materiais de construção.

Figura 1. Proposta de implantação para o Refúgio Biológico Bela Vista (novo projeto).

1.1. Refúgio Biológico Bela Vista O Refúgio Biológico Bela Vista está localizado no município de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, a 637 Km de Curitiba. Constitui um dos cinco Refúgios localizados às margens da barragem de Itaipu, sendo que, destes, três estão localizados no lado paraguaio da barragem e dois no lado brasileiro (Refúgio Biológico Bela Vista e Refúgio Biológico Santa Helena). O Refúgio Biológico Bela Vista possui uma área total de 1.920 ha, estando esta localizada ao lado da represa da usina de Itaipu Binacional. No local são desenvolvidas atividades que envolvem a reprodução de animais silvestres em cativeiro, produção de mudas destinadas ao reflorestamento das margens da barragem e condução de experimentos relacionados à flora e à fauna da região. É neste Refúgio que se concentram quase todos os trabalhos, desenvolvidos pela Itaipu Binacional no lado brasileiro, relacionados com a fauna silvestre. Nele está localizado o Criador de Animais Silvestres de Itaipu Binacional (CASIB), onde são reproduzidos, em cativeiro, os animais silvestres usados para o repovoamento das orlas, refúgios e reservas do lado brasileiro do lago de Itaipu. Foram reproduzidos, em 10 anos de funcionamento, 347

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animais de 29 espécies. Atualmente, os trabalhos de reprodução se concentram em espécies em vias de extinção, no Brasil e no Paraná, e naquelas que já não são mais abundantes na região. Embora, atualmente, não disponha de infra-estrutura destinada ao turismo, um razoável número de turistas visita todos os anos o Refúgio, a fim de conhecer as atividades ali desenvolvidas. Além disso, o Refúgio recebe, regularmente, grupos de alunos de escolas da região, que além de conhecer os trabalhos realizados no Refúgio, participam de atividades de educação ambiental, orientadas por educadores ambientais do Ecomuseu de Itaipu. 2. CONCEITO O conceito dos quatro elementos: terra, água, ar e fogo, foi a base para o lançamento das propostas arquitetônicas e de implantação do Refúgio, como um todo. Estes elementos remetem a significados que enriquecem o projeto, e demonstram as relações harmônicas da natureza, onde cada elemento é fundamental para o equilíbrio e a sustentabilidade da vida. A visão do projeto, a partir dos quatro elementos da natureza, remete, também, à principal finalidade do Refúgio, ser sustentável, através da integração do homem com a natureza, ocupando-a e explorando-a de forma adequada e integrada ao meio ambiente. Baseado nos quatro elementos da natureza, buscou-se um conceito integrador das formas e recursos naturais, com as intervenções humanas, buscando o desenvolvimento de projetos arquitetônicos e urbanos para o Refúgio Biológico Bela Vista. Esta abordagem orientou as propostas, na busca de uma inspiração que integrasse natureza e homem num equilíbrio mais harmônico. Cada elemento traz um significado próprio, que é aplicado aos diferentes usos e ocupações dos locais de intervenção. É importante lembrar que um elemento não existe sem o outro e, no fim, o que se quer alcançar é exatamente o conceito de um todo unificador, que através da harmonia do seu conjunto, exprima toda a beleza da natureza, que serve, então, de modelo inspirador para as decisões de projeto. Isto significa projetar com a natureza, de dentro para fora. A seguir identificam-se as características básicas de cada elemento:

2.1. Água Este elemento está relacionado com a fertilidade, força de vontade e adaptabilidade, corresponde à energia do inverno (REVISTA BONS FLUÍDOS, 2000). A presença de água pode estar associada também a significados como: � fonte de vida / alimento; harmonia / paz; meditação; espelho / reflexo; purificação /

limpeza; alívio da tensão; etc.

A água pode estar ligada, ainda, a questões de infra-estrutura, tais como (JACKSON, 1999): � cuidado com a água à nível local e biorregional; uso de sistemas integrados de energia

renovável; redução das necessidades de transporte.

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Figura 2. Proposta de projeto para o “Portinho”, o conjunto mais identificado com o elemento

Água.

2.2. Ar Este elemento pode estar associado aos seguintes significados: � oxigênio; vida; vento; aroma; transparência; movimento / som; renovação; leveza /

elevação; suavidade; etc.

O elemento ar pode também estar ligado à questões de cultura e espiritualidade, tais como (JACKSON, 1999): � criatividade, artes, crescimento pessoal; rituais, celebrações, diversidade cultural; visão

holística do mundo; processo em direção à paz, ao amor e a consciência planetária.

2.3. Terra Este elemento simboliza estabilidade, segurança, firmeza. É uma força tolerante e receptiva, que tudo ampara, exatamente como o faz o nosso planeta (REVISTA BONS FLUÍDOS, 2000). Pode estar associada ainda a significados como:

Figura 3. Uma das edificações identificadas com o elemento Terra.

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� solidez; lar / mãe; planeta; vida; alimento / agricultura; riqueza; paisagem; suporte;

origem; etc.

A Terra também está ligada a questões de ecologia, tais como (JACKSON, 1999): � suprimento de alimentos local e biorregional; construção e arquitetura ecológica;

avaliação do ciclo de vida dos produtos, recirculação de resíduos; restauração da natureza.

2.4. Fogo Este elemento relaciona-se com tudo que é pleno, brilhante, quente. É quando a natureza atinge o seu apogeu, como no verão. Representa a suprema realização, tanto material quanto espiritual (REVISTA BONS FLUÍDOS, 2000). O fogo pode estar ainda relacionado a significados como: � calor; paixão; coração; vibração; luz; vida; transformação; energia; ação; explosão;

criação; propagação; etc.

Este elemento também está relacionado à estrutura social (JACKSON, 1999): • tomada de decisões; sistemas econômicos sustentáveis; cuidados gerais com a saúde,

saúde preventiva; educação focalizada no ensino de valores.

3. DIRETRIZES PARA O GERENCIAMENTO DAS ÁGUAS É importante sempre se ter em mente que qualquer intervenção na natureza, em suas redes de fluxos, estará alterando, para sempre, determinado meio ambiente e, segundo LYLE (1997), a ordem deste novo ecossistema – sua estrutura, função e distribuição espacial de atividades – determina os seus efeitos, tanto em termos de uso de recursos, como da qualidade ambiental e, os padrões de comportamento da comunidade que ele abriga complementam a formatação da relação que é estabelecida com o ambiente maior, ou seja, o ser humano molda a paisagem e então esta molda ao ser humano.

A água é “elemento essencial na estrutura de todos ecossistemas” (LYLE, 1997), uma vez que todos os organismos vivos dela necessitam. Esta importância deverá estar clara para os visitantes de Itaipu Binacional, não só pela obviedade de sua utilização, para a geração de energia. para boa parte do país e do Paraguai, como também pela necessidade de sua preservação, tanto em termos qualitativos como quantitativos.

Com a demonstração de processos sustentáveis e tecnologias apropriadas, espera-se a sensibilização da sociedade para a importância da participação individual em um complexo ciclo na formação e recuperação de recursos. Destacando-se, para a obtenção do sucesso do projeto de educação ambiental do Refúgio Biológico Bela Vista, a necessidade de utilização de uma didática de motivação do interesse, adequação de terminologia e simplicidade de manuseio dos mecanismos, de uso eficiente de recursos limitados, questões de grande relevância no momento de persuasão para apropriação de novos sistemas.

Foi necessário realizar abordagem de soluções adequadas, dentro do contexto de uso racional da água, em diferentes tipos de edifícios com vocações distintas, criando soluções que contemplassem, tanto padrões de recuperação e utilização eficiente de recursos limitados,

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como a funcionalidade e aplicabilidade de processos sustentáveis, que não comprometessem o bom desempenho das instalações e as necessidades de seus usuários.

Segundo BAU (1991, apud SOARES et al, 1997), a utilização da água seria mais eficiente se contemplasse ações como: recorrer ao uso de água de menor qualidade para preservar água de boa qualidade; captar água da chuva em recipientes ou cisternas para usos domésticos; reduzir a demanda, através da melhoria dos hábitos pessoais; reduzir desperdícios e pagamento de tarifas adequadas; aproveitamento do desenvolvimento da tecnologia e das técnicas de abastecimento de água; coordenar o manuseio dos recursos hídricos com os da terra, considerando também os aspectos econômicos e sociais e estabelecer e cumprir normas e regulamentos para utilização dos recursos hídricos. Portanto, utilizar a água com eficiência compreende conscientização e atitude, objetivando maximizar os benefícios sociais e econômicos com relação à qualidade de vida.

4. DIRETRIZES PARA O TRATAMENTO DE RESÍDUOS Os resíduos, no Refúgio Biológico Bela Vista, são encarados de forma diferenciada da que usualmente é feita. Normalmente, os resíduos são definidos como materiais sem valor e que devem ser jogados fora, após o uso. Este tipo de definição foi o homem quem criou, já que a natureza processa os resíduos de forma cíclica, sempre retornando para o sistema os resíduos que venha a produzir (LYLE, 1994). No Refúgio Bela Vista, os resíduos são encarados como materiais ricos, que possuem ainda considerável conteúdo de nutrientes e que, por isso, deverão ser reutilizados. Ou seja, pretendemos imitar a natureza e pensar que os resíduos são recursos ainda não aproveitados (LYLE, 1994). Obviamente, alguns tipos de resíduos não se enquadram no que foi mencionado acima e, por isso, deverão ser tratados e descartados adequadamente, a fim de se evitar contaminações, como no caso do lixo hospitalar (das dependências da Veterinária). O tratamento de resíduos no Refúgio seguirá alguns princípios básicos, tais como: � aproveitamento máximo dos resíduos; � tratamento descentralizado, local e em pequena escala; � separação dos diversos tipos de resíduos.

Os resíduos encontráveis no Refúgio Bela Vista são basicamente os seguintes: � lixo seco; � lixo orgânico; � águas cinzas; � águas negras; � lixo hospitalar.

Para cada tipo de resíduos deverão ser utilizadas estratégias distintas, conforme descrito a seguir.

Dentro do Refúgio, em todas as edificações e nas trilhas, haverão recipientes para coleta seletiva do lixo. No mínimo, dois recipientes, um para o lixo orgânico e outro para o lixo seco. A coleta seletiva poderá ser mais criteriosa em alguns locais do Refúgio, onde haverão mais recipientes para o lixo seco, tais como: papel, vidro, metal e plástico.

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O lixo orgânico coletado nos recipientes poderá passar pelo processo da compostagem, em conjunto com folhas, galhos, troncos, palha e outros restos vegetais que o local oferece. O composto gerado poderá ser reincorporado ao solo, como um complemento muito valioso. O lixo não facilmente biodegradável, seja ele separado em mais de um recipiente, ou não, poderá ser enviado para reciclagem, através de coleta pela prefeitura ou por alguma cooperativa de reciclagem de lixo. As águas residuárias das edificações poderão ser separadas em águas cinzas e águas negras. As águas cinzas são aquelas provenientes de pias, tanques, lavatórios e chuveiros, enquanto que as águas negras vêm exclusivamente dos vasos sanitários. O tratamento primário das águas cinzas é feito por uma caixa de gordura, no caso das que vêm das pias de cozinha, ou por uma caixa de decantação, para os outros casos. Após este tratamento básico, as águas cinzas passarão por um tratamento complementar, que buscará aproveitar as riquezas ainda contidas nestas águas. As águas negras deverão passar por uma fossa séptica e por um filtro anaeróbio (com brita e areia), antes de sofrerem o tratamento complementar. A fossa servirá para separar a matéria sólida destas águas e o filtro processará a água através de bactérias, que se depositam no material de dimensões médias, tipo brita. Os tratamentos complementares para as águas residuárias serão, preferencialmente, biológicos e produtivos, ou seja, não serão utilizados equipamentos mecânicos e estes tratamentos devem produzir biomassa através de vegetação aquática, que se utilizará dos nutrientes que ainda permanecem nestas águas. Alguns exemplos são: banhados, leitos de evapotranspiração ou valas com plantas aquáticas. As águas que restarem ao final destes tratamentos poderão ser enviadas ao reservatório (lago) ou poderão ser utilizadas para irrigar as mudas de árvores que o Refúgio produz. Existe uma alternativa viável aos banheiros que utilizam água, que é o toilete compostável. Também chamado de banheiro seco, o toilete compostável não consome água, não polui e reutiliza toda a matéria depositada. Mas devido a fatores culturais, recomenda-se a sua utilização apenas em locais onde as pessoas farão uso diário dele, a fim de que seja operado corretamente. Portanto deve-se evitar sua utilização nas trilhas, onde passarão os visitantes, que o utilizariam eventualmente. O lixo hospitalar que for produzido no Refúgio deverá ser embalado separadamente e enviado aos órgãos competentes, para que estes dêem o devido destino a eles.

5. DIRETRIZES PARA O PAISAGISMO Visando adequação aos princípios de sustentabilidade a serem adotados pelo projeto urbano e das edificações, sugere-se, a seguir, diretrizes e estratégias que possam orientar o desenvolvimento do projeto paisagístico do Refúgio Biológico Bela Vista neste sentido. Tendo em vista a necessidade de apoiar as características de sustentabilidade, que deverão vigorar para as novas edificações, e de apoiar a realização de atividades de educação ambiental, a serem desenvolvidas no Refúgio, acredita-se que o projeto de paisagismo do RBV deva tomar por diretrizes básicas os seguintes aspectos: a) interação da vegetação com as edificações, visando o incremento das condições de conforto térmico no interior das

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mesmas; b) priorização da educação ambiental, visando o estabelecimento de um paisagismo de cunho pedagógico. 5.1. Conforto térmico das edificações Devido ao comportamento térmico peculiar da vegetação, ela pode ser utilizada como um importante recurso para melhorar o desempenho térmico das edificações. De acordo com RIVERO (1986), em climas quentes, os vegetais se convertem em excelentes condicionadores térmicos. Ao receberem os raios solares, as folhas, como qualquer corpo, absorvem refletem e transmitem a energia incidente. A absorção de energia lumínica incidente sobre as folhas é bastante alta (cerca de 90 %), sendo que apenas uma pequena parte é refletida e uma parte quase insignificante transmitida, devido à transparência das folhas. Da energia absorvida, uma parte considerável se transforma em energia química potencial, por meio do processo de fotossíntese e outra, em calor latente, ao evaporar-se a água eliminada pela folha, durante um processo denominado de evapotranspiração. Por este motivo, o comportamento térmico dos elementos vegetais em relação à incidência dos raios solares é muito superior ao dos elementos inertes como superfícies pavimentadas, por exemplo. Estudos comprovam que uma superfície revestida com grama, exposta ao sol, apresenta temperaturas inferiores àquelas apresentadas por superfícies revestidas com materiais inertes (como um passeio revestido com pedra, por exemplo) à sombra (RIVERO, 1986). A vegetação pode, ainda, ser utilizada para interceptar os raios solares que incidem diretamente sobre as paredes da edificação, produzindo sombra sobre estas fachadas e diminuindo, assim, o ganho térmico e o conseqüente aquecimento no interior das mesmas. A utilização de vegetação disposta adequadamente em relação à edificação pode ser, portanto, uma alternativa importante e barata para se proteger fachadas da incidência dos raios solares, nos períodos mais quentes do ano. Visando melhorar as condições de conforto térmico no interior das edificações a serem construídas no RBV, foram feitas as seguintes recomendações em relação ao planejamento da vegetação:

5.1.1. Sombreamento de fachadas O projeto paisagístico deverá prever a utilização de espécies arbóreas de médio e grande porte, no entorno das edificações, de forma a obter o sombreamento das paredes leste e oeste expostas à incidência direta dos raios solares, durante os meses mais quentes do ano. O posicionamento de plantio das árvores deve ser cuidadosamente determinado, a fim de garantir a projeção de sombra nas paredes anteriormente referidas, nas horas mais quentes do dia. As espécies selecionadas para este fim deverão apresentar hábito decidual, a fim de permitir a passagem dos raios solares nos meses de inverno, quando é desejável o ganho de calor correspondente no interior das edificações. As espécies selecionadas deverão, ainda, ser prioritariamente nativas, regionais ou estaduais. Paredes com presença de janelas voltadas para o norte, leste e oeste deverão ser protegidas da exposição direta ao sol por espécies arbustivas, ou ainda, trepadeiras até altura próxima à altura do peitoril, a fim de reduzir os ganhos de calor nestas áreas durante o verão. Para esta finalidade, a preferência é também por espécies decíduas, de modo a permitir ganhos de calor no inverno.

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5.1.2.Coberturas verdes Devido ao comportamento térmico da vegetação, anteriormente mencionado, uma estratégia interessante, a fim de melhorar o desempenho térmico de uma edificação é a utilização de coberturas vegetais. Tais coberturas consistem em substituir o telhado por áreas cobertas por solo e revestidas com vegetação, as quais funcionam como um excelente isolante térmico. A vegetação a ser implementada sobre as coberturas (para as edificações onde esta estratégia é prevista) deverá ser composta de espécies com as seguintes características: ciclo perene, alta rusticidade, resistência à exposição direta ao sol e baixa necessidade de manutenção. Poderão ser empregadas espécies de porte herbáceo, arbustivo ou ainda trepadeiras, devendo ser observada a adequação das mesmas às profundidades de solo previstas sobre a laje e à capacidade estrutural da mesma (conforme definição do projeto executivo das edificações).

Figura 4 . Cobertura verde, no recinto do “Sol e da Lua”

. 5.2. Paisagismo pedagógico O paisagismo deverá estar perfeitamente integrado às funções de educação ambiental a serem desenvolvidas no RBV. Utiliza-se, aqui, o termo paisagismo pedagógico, uma vez que acredita-se que a paisagem do RBV deva se apresentar como uma imensa sala de aula, ao ar livre, destinada ao desenvolvimento de atividades de educação ambiental. Neste sentido, sugeriu-se a inclusão dos seguintes elementos no projeto paisagístico:

5.2.1. Arboreto de Espécies Nativas Regionais Este arboreto terá a finalidade de disponibilizar ao visitante exemplares para o conhecimento "in loco" de uma amostra da flora regional, bem como proporcionar a estudantes, pesquisadores e paisagistas a possibilidade de observação e reconhecimento destas espécies para fins de estudo e utilização em projetos. O arboreto não deverá apresentar disposição linear e regular, mas sim estar perfeitamente integrado à paisagem do entorno. Todas as espécies deverão estar adequadamente identificadas no local, podendo suas características taxonômicas, morfológicas, fenológicas e ecológicas serem apoiadas por uma base de dados informatizada (localizada em alguma

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edificação próxima ao arboreto), a qual o visitante tenha possibilidade de acessar para maiores informações (e ainda obter a localização da espécie desejada dentro do arboreto).

5.2.2. Locais para exploração sensorial da vegetação ao longo das trilhas Ao longo da trilha, que percorre a área de reflorestamento do RBV (que se estende, atualmente, desde as proximidades do atual prédio da administração, até as proximidades do criadouro e portinho), serão previstos locais, onde o visitante possa explorar sensorialmente a vegetação. Visa-se, com isto, a convergência com os trabalhos de educação ambiental desenvolvidos pelo Ecomuseu de Itaipu, onde se procura levar as pessoas a experenciar a natureza de uma maneira mais intensa e completa, utilizando não apenas o sentido da visão, mas também outros sentidos, como o paladar, o tato e o olfato. Estes locais poderão estar associados a pontos de parada, dispostos ao longo da trilha. Considerando-se a implantação de três pontos de parada ao longo da trilha, sugeriu-se para o paisagismo destes locais que, para cada um dos pontos, fossem priorizadas espécies relacionadas a um dos seguintes sentidos humanos: olfato, tato e paladar. Os pontos de parada podem ser localizados junto a clareiras, dispostas ao longo das trilhas, que percorrem a mata reflorestada. Sugeriu-se, ainda, que cada uma destas clareiras recebesse cuidadoso tratamento paisagístico, tendo em vista o sentido que será explorado em cada local. De modo geral, todas deverão prever elementos que proporcionem bem-estar e descanso ao visitante (tal como bancos, pergolados, etc.), que instiguem o visitante à exploração do ambiente (tal como caminhos sinuosos, passagens, elementos ocultos à visão, etc.), além de sempre valorizar o aspecto visual das combinações de vegetação utilizadas. Seguem-se alguns pontos a serem observados na implantação de cada uma das paradas propostas.

Figura 5. Ponto de parada com vista para o Portinho, estimulando o sentido da visão.

5.2.2.1. Espaço do olfato Neste espaço serão cultivadas, com total prioridade, espécies com propriedades aromáticas de porte arbóreo, arbustivo ou herbáceo. São sugeridas árvores, arbustos e herbáceas com floração perfumada, bem como outras espécies, que apresentem folhas perfumadas (tais como ervas aromáticas). Deverá se ter especial cuidado, aqui, para se trabalhar com um escalonamento dos períodos de floração das espécies, de forma que se possa dispor de plantas

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floridas o maior período possível do ano. Também se deve procurar trabalhar com maciços de vegetação (a fim de multiplicar o efeito aromático de cada uma das espécies utilizadas). 5.2.2.2. Espaço do tato No espaço do tato, os arranjos de vegetação devem ser projetados tendo em vista a exploração tátil dos contrastes de texturas de diferentes tipos de vegetação. Neste espaço, sugeriu-se a criação de um jardim para deficientes visuais, para ser sentido ou experenciado, principalmente através do toque das mãos. Visitantes não portadores de deficiência visual deverão ter a oportunidade de percorrer um caminho onde possam sentir as propriedades táteis das espécies, através do uso de uma venda sobre os olhos. Ao longo deste caminho, plantas com diferentes texturas de folha, caule, floração e frutificação deverão estar dispostas de maneira a formar arranjos, que permitam a leitura de estimulantes contrastes para o tato (também poderão ser agregadas propriedades aromáticas em algumas plantas). 5.2.2.3. Espaço do paladar Outra parada será destinada, ainda, a exploração gustativa da vegetação. Aqui deverão ser plantadas espécies comestíveis. Para as espécies arbóreas deverão ser utilizadas frutíferas nativas do Estado do Paraná. Outras espécies comestíveis poderão ser empregadas para as vegetações de porte arbustivo e herbáceo, priorizando, sempre que possível, nativas e procurando utilizar espécies de ciclo perene e baixa exigência de manutenção.

5.2.3. Área dos Equipamentos Lúdicos e Choupana Pensando-se ainda nas atividades de educação ambiental a serem desenvolvidas no RBV, acredita-se que especial atenção deva ser dada ao paisagismo da área que irá abrigar a choupana e os equipamentos lúdicos.

Figura 6. A Choupana (projetada para enfatizar o reuso de resíduos de construção).

Sugere-se, para esta área, associar a vegetação às funções dos equipamentos lúdicos, ou seja, procurar oferecer às crianças possibilidades de brincadeiras. Desta forma, deverão ser empregados alguns exemplares de espécies arbóreas, cuja arquitetura de copa permita às crianças subir nos galhos e, sempre que possível, interagir com os equipamentos lúdicos

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(passando da árvore para os brinquedos e vice-versa). Arbustos, treliças com trepadeiras ou outras estruturas, que possam ser utilizadas pelas crianças como esconderijos ou passagens, poderão ser utilizados. Sempre que possível, priorizar a utilização de espécies nativas nesta área (principalmente para as espécies arbóreas). Espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas, cuja floração seja atrativa para borboletas e beija-flores, também deverão ser priorizadas no paisagismo desta área, de maneira a instigar as crianças a observarem o jardim e os habitantes que compõem o seu ecossistema. 6. DIRETRIZES PARA OS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Segundo LYLE (1994), através da história da humanidade, o ser humano contou com apenas um ou dois materiais diferentes para construir suas edificações. O homem contemporâneo é único na utilização de uma vasta gama de materiais de construção. Isto torna a escolha destes materiais uma tarefa difícil. Os profissionais selecionam os materiais baseados na satisfação de propósitos construtivos e com critérios estéticos. A escolha, por exemplo, entre uma esquadria de alumínio e madeira considera custos, valor estético, durabilidade e estanqueidade. Porém, levando-se em conta o desempenho ambiental dos dois componentes, deve-se ter em mente a reciclabilidade do produto, a renovabilidade da matéria-prima, o conteúdo energético do material, entre outros fatores. O entendimento dos sistemas ecológicos introduz um novo conjunto de critérios para a escolha de materiais, baseados nos processos naturais e nos impactos da produção e uso destes, tornando ainda mais complexa a seleção dos mesmos. De modo geral, as principais diretrizes a serem perseguidas para a construção sustentável são, de acordo com o CIB, as seguintes: � busca de materiais renováveis;

� busca de materiais recicláveis/reutilizáveis;

� facilidade de desmontagem;

� padronização de dimensões;

� baixo conteúdo energético;

� materiais não tóxicos. Estas diretrizes estão presentes nas diferentes fases da construção, conforme aponta YUBA (2001): � na fase de projeto, através da seleção dos materiais baseada no seu desempenho ambiental,

sua vida útil e conseqüências à saúde, evitando o uso de substâncias tóxicas que contaminem o ar interno das edificações, tais como tintas, vernizes, colas, etc., e através de cuidados de detalhamento de juntas e montagem visando a desmontagem;

� na fase de construção e desmontagem, pelo uso de materiais locais e previsão de

reutilização, permitindo a desmontagem através da modulação, identificação dos componentes, para facilitar a remoção seletiva e a reciclagem, a incorporação de materiais reciclados ou reutilizados, tanto quanto possível, baseados em padrões de qualidade para esses materiais e produção de manuais de uso e manutenção, para edifícios e sistemas;

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� em relação aos fabricantes, através do aumento da responsabilidade dos fabricantes pelos materiais, abrangendo desde a extração de matéria-prima à deposição final, através da redução da quantidade de material e de conteúdo energético dos produtos, redução de emissões dos produtos durante o uso, facilidade de manutenção e reciclabilidade.

A visão apresentada busca abraçar todas as possibilidades oferecidas pelo conceito de construção sustentável, porém, cada integrante do setor da construção civil irá enfocar alguns destes aspectos. Entre elas, as que mais diretamente dizem respeito à indústria de materiais de construção são (CIB, 1999): � reduzir o consumo de energia no processo de produção;

� eliminar ou reduzir as emissões aéreas no processo de produção;

� reduzir o consumo de recursos minerais;

� reduzir a geração de resíduos e perdas no processo;

� conservar as áreas naturais e a biodiversidade;

� prolongar a vida útil das edificações;

� possibilitar a desconstrução;

� possibilitar a reciclagem;

� produzir materiais de fácil absorção pela natureza, baixa toxicidade durante a produção, construção, uso e descarte final;

� usar de recursos locais;

� buscar a geração de empregos;

� promover a economia local. O CIB aponta que uma das vantagens das economias emergentes é a tradição no uso de materiais sustentáveis e métodos construtivos, forte base locais. É citada a necessidade de viabilizar a utilização de materiais locais, naturais, que tenham a capacidade de incorporar mão-de-obra intensiva e que sejam de baixo custo, tais como o adobe, os tijolos e telhas cerâmicos, a taipa, a madeira de reflorestamento sem tratamento tóxico, o bambu, etc., como alternativas para os materiais de maior conteúdo energético e não renováveis, existentes no mercado (YUBA, 2001). O EBN (1995) apresenta uma série de estratégias que devem ser adotados no processo de projeto, para atingir o desempenho ambiental de edificações no que diz respeito a materiais de construção. Entre elas estão: • a redução do uso de materiais – através da otimização do projeto, a fim de diminuir a

quantidade de material necessária para configurar os espaços e o uso eficiente desses materiais, através da simplificação da geometria dos edifícios e a modulação dos componentes da edificação;

• a seleção de materiais de construção de baixo impacto ambiental – evitando o uso de materiais que gerem poluição na sua fabricação e uso, especificando materiais com baixo conteúdo energético, especificando materiais produzidos a partir de resíduos ou materiais reciclados e reutilizando materiais obtidos de demolição; dar preferência aos fabricantes que possuam certificação ambiental;

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• a maximização da vida útil da edificação – através da especificação de materiais duráveis, através de um projeto que permita fácil manutenção e reposição de componentes da edificação menos duráveis; projeto flexível, que possa se adaptar a outros usos; projetar de acordo com um estilo permanente, evitando estilos “de moda” (arquitetura atemporal);

• a edificação saudável – através da escolha de materiais de fácil limpeza pelo usuário; evitar materiais que desprendam gases tóxicos, como alguns laminados, tintas, etc.; evitar materiais que possam ser veículo para a proliferação de microorganismos prejudiciais à saúde humana.

Do que foi apresentado acima, pode-se chegar às seguintes conclusões gerais:

• deve-se dar preferência aos materiais de construção disponíveis no local onde a edificação será construída;

• deve-se dar preferência ao uso de técnicas construtivas que empreguem mão-de-obra local;

• deve-se evitar o uso de materiais tóxicos para conservação da edificação; • deve-se buscar materiais locais que exijam o mínimo possível de manutenção e

reposição e que sejam duráveis; • deve-se dar preferência aos materiais com baixo nível de industrialização (tais como

tijolos cerâmicos, madeira, palha, etc.); • deve-se evitar o uso indiscriminado de produtos cimentícios e os derivados de recursos

fósseis, tais como os plásticos em geral. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Grupo de Pesquisa em sustentabilidade, do NORIE, tem a certeza de que a conscientização para a sustentabilidade deva passar pela educação, por processos pedagógicos que “religuem” o indivíduo à natureza, assim como por projetos demonstrativos. Os projetos arquitetônicos, principalmente as obras destes resultantes, podem criar esta ligação, uma vez que sejam concebidos tendo presentes os princípios de sustentabilidade. Mas aliado a isso, a arquitetura deve ser pensada como a mais expressiva das artes, e aquela que pode, também, integrar a todas as formas de arte. Daí o enorme potencial da arquitetura para o despertar para a sustentabilidade. E nada mais apropriado, se pensarmos “como” vimos construindo nos quase dois últimos séculos e assim também “como” temos construído. Os impactos da construção são fantásticos. Os números estão aí, acessíveis a todos; basta consultar o trabalho do CIB (1999).

No projeto do Refúgio Biológico, o NORIE procurou, modestamente, contribuir para a criação uma obra de educação para a sustentabilidade. Com “cara” e “coração” sustentáveis, isto é, repassando, através das formas, dos espaços criados, uma imagem diferenciada, com suas coberturas verdes, com o emprego de elementos de arquitetura bioclimática, com as diversas estratégias de gestão das águas e resíduos. Mas, não só isso. Procurou aplicar princípios sustentáveis mesmo aos sistemas “não visíveis”, ou mesmo visíveis apenas durante o processo de construção. Além disso, buscou atingir o “coração” dos usuários, funcionários ou visitantes, através de elementos simbólicos ou através de componentes sensoriais, como os introduzidos no paisagismo. De certo modo, criar uma “magia”, elementos que tocassem mais profundamente ao indivíduo, que o sensibilizassem. Daí o uso do conceito dos quatro elementos, das trilhas sensoriais, etc.

Nós fomos muito afortunados de ter um parceiro em Itaipu Binacional, que se identificou com essa mensagem, e se dispôs a construir o Refúgio Biológico segundo estes princípios. Acho que foi nesta obra, que congrega vinte e três edificações, foi criado um referencial muito

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importante para uma arquitetura mais sustentável, que com o seu efeito demonstrativo, didático, deverá contribuir para a extensão da permanência de nossa espécie neste planeta fantástico.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CIB. Agenda 21 on sustainable construction. Report Publication 237. July 1999. EBN – Environmental Building News – Building materials: what makes a product green?.

Volume 9, N.1 – January/2000 – revised Octuber/2000. Disponível na internet: http://www.buildinggreen.com /features/gp/green_products.html. Obtido em 23 novembro 2000.

EBN – Environmental Building News – Establishing priorities with green building. Volume

4, N.5 – September/October 1995. Disponível na internet: http://www.buildinggreen.com /features/4-5/priorities.html. Obtido em 21 novembro 2000.

GREEN BUILDING DIGEST. Mansory Materials. Liverpool, United Kingdom: Ethical

Consumer Research Association (ECRA), The Technical Aid Network (ACTAC), N. 1, Jan. 1995.

JACKSON, H. Ecovilas: por onde começar? Permacultura Brasil: soluções ecológicas,

Ivoti, ano 1, n. 4, p.23-24, primavera 1999. LYLE, J. T. Green infrastructure. In: I Encontro Nacional sobre Edificações e

Comunidades Sustentáveis, 18 – 21 nov, 1997, Canela, RS. Anais ... Porto Alegre: ANTAC, 1997. p 301-308.

LYLE, J. T. Regenerative design for sustainable development. New York: John Wyley &

Sons, 1994. REVISTA BONS FLUÍDOS. São Paulo: Abril, 2000. Mensal.

RIVERO, R. Arquitetura e clima: condicionamento térmico natural. Porto Alegre: D.C. Luzzato, 1986.

SOARES, D. A. P. F.; SOARES, P. F.; PORTO, M. F. A. A reutilização das águas

residuárias em edificações: projeto e análise qualitativa e quantitativa. In: I Encontro Nacional sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis, 18 – 21 nov, 1997, Canela, RS. Anais ... Porto Alegre: ANTAC, 1997.

YUBA, A. N. Cadeia produtiva de madeira serrada de eucalipto para a produção

sustentável de habitações. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). CPGEC, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2001.

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