Estrumeira solocimento

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37 Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002 Estrumeiras de solo-cimento * Eng. Agr., Escritório Central, EMATER/RS. ** Eng. Agr., Escritório Regional de Santa Rosa, EMATER/RS. *** Tec. Agr., Escritório Municipal de São Paulo das Missões, EMATER/RS. A lternativa T ecnológica * Bartels, Henrique A. S. ** Kappel, Paulo Sérgio *** Thume, Valmir Estrumeiras de concreto, de tijolos ou de lona plástica são algumas das alternativas que já foram colocadas em prática para fazer o armazenamento dos dejetos de suínos. O alto custo da construção das esterqueiras, porém, sempre foi um empecilho ou uma justificati- va para o produtor de suínos não aproveitar os dejetos de forma integral e evitar a poluição ambiental. O valor econômico dos dejetos nem sempre justifica os investimentos. Estas res- trições são maiores ainda quando os dejetos são manejados na forma líquida. As estrumeiras de solo-cimento têm sido uma alternativa para o armazenamento de dejetos líquidos de suínos na Região Noroes- te do Rio Grande do Sul, desde 1993. Produto- res de municípios daquela região construí- ram um número significativo deste tipo de depósito, conforme está apresentado na ta- bela a seguir. Este tipo de estrumeira se adapta ao uso de esterco líquido, especialmente quando a pocilga fica no alto e o esterco pode ser cana- lizado por declividade para áreas de culturas ou de pastagens nativas. O valor do investimento e o retorno do empreendimento, aliados à preocupação da

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37Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

Estrumeiras de solo-cimento

* Eng. Agr., Escritório Central, EMATER/RS.** Eng. Agr., Escritório Regional de Santa Rosa, EMATER/RS.*** Tec. Agr., Escritório Municipal de São Paulo das Missões,

EMATER/RS.

AlternativaTecnológica

* Bartels, Henrique A. S.** Kappel, Paulo Sérgio

*** Thume, Valmir

Estrumeiras de concreto, de tijolos ou delona plástica são algumas das alternativas quejá foram colocadas em prática para fazer oarmazenamento dos dejetos de suínos. O altocusto da construção das esterqueiras, porém,sempre foi um empecilho ou uma justificati-va para o produtor de suínos não aproveitar osdejetos de forma integral e evitar a poluiçãoambiental. O valor econômico dos dejetos nem

sempre justifica os investimentos. Estas res-trições são maiores ainda quando os dejetossão manejados na forma líquida.

As estrumeiras de solo-cimento têm sidouma alternativa para o armazenamento dedejetos líquidos de suínos na Região Noroes-te do Rio Grande do Sul, desde 1993. Produto-res de municípios daquela região construí-ram um número significativo deste tipo dedepósito, conforme está apresentado na ta-bela a seguir.

Este tipo de estrumeira se adapta ao usode esterco líquido, especialmente quando apocilga fica no alto e o esterco pode ser cana-lizado por declividade para áreas de culturasou de pastagens nativas.

O valor do investimento e o retorno doempreendimento, aliados à preocupação da

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preservação do meio ambiente, têm feitocom que muitos agricultores familiares op-tem por esta prática.

O custo dos materiais (tijolos, areia,brita, cimento) e o custo da mão-de-obraespecializada para a construção da estru-meira triplicam o valor do investimento nomodelo tradicional quando comparados como custo do modelo de solo-cimento. A cons-trução de solo-cimento reduz o custo deaquisição e de transporte da areia, dos tijo-los e da brita.

O revestimento das paredes das estru-meiras é feito para evitar as infiltrações quepossam contaminar as fontes d'água. Estapreocupação tem aumentado nos últimosanos em virtude da maior concentração daprodução de suínos, uma vez que as cria-ções são cada vez maiores.

Esta estrumeira é diferente das que sãocitadas na literatura, para as quais recomen-do uso de superfícies planas e de fôrmas paraconter a massa (Associação...19--). A constru-ção é muito simples, pois não há necessida-de de utilizar fôrmas de madeira para contera massa. A massa, uma mistura de água,areia, cimento e solo do próprio local, é ajei-tada no fundo e nos lados do buraco escavado,utilizando-se ferramentas simples como pá,enxada e colher de pedreiro. Os lados e o fun-do do buraco destinado à estrumeira não pre-cisam ser planos perfeitos. O revestimentodas laterais e do fundo com solo-cimento podeser feito em superfícies côncavas ou conve-xas, obedecendo algumas particularidades do

terreno, como a presença de rochas. O for-mato das estrumeiras pode variar de circu-lar a quase retangular. Esta possibilidade detrabalhar com superfícies arredondadas eco-nomiza material e facilita o trabalho de cons-trução.

O solo arenoso, que tem uma parte mai-or de areia e outra menor de argila, é omais adequado. O solo argiloso requer mai-or quantidade de cimento e é mais difícilde misturar e compactar. O solo adequadonão deve conter pedaços de galhos, folhas,raízes ou qualquer outro tipo de materialorgânico que possa prejudicar a qualidadefinal do solo-cimento. Solos com muitomaterial orgânico devem ser descartadospara a produção de solo-cimento, pois sualimpeza é muito difícil (Associação... 19--).

Materiais para a construção da estrumeirade solo-cimento

Para cada 2 m2 de revestimento são ne-cessários os seguintes materiais:

1 lata de cimento;1,5 lata de areia;6,5 latas de terra vermelha;2 litros de hidroasfalto (piche frio).Cada lata corresponde a um volume de 18

litros.

Escavação da estrumeira

O formato poderá ser oval, quadrado ouretangular. As laterais são escavadas comuma inclinação de, aproximadamente, 45graus. A profundidade poderá ser de até 2

A lternativaTecnológica

Municípios do Rio Grande do Sul Estrumeiras no Volume médio m3 Volume total 1 m3

Campinas das Missões 30 25 750

São Paulo das Missões 27 50 1.350

Roque Gonzales 30 30 900

Vista Gaúcha 85 25 2.125

Total 172 — 4.3151. Capacidade estática

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AlternativaTecnológica

metros. Em caso de aterramento, o solo pre-cisa ser bem compactado antes de proceder-se ao revestimento das laterais.

Mão-de-obra

A mão-de-obra não precisa ser especializa-da e normalmente é composta de no mínimo6 trabalhadores, formando duas equipes.Uma prepara a massa e a outra aplica o solo-cimento, tanto no fundo como nas laterais.Isso permite que o serviço seja concluído nomesmo dia.

Preparo da massa

As quantidades de materiais são medidascom vasilhas ou latas, de modo a manter auniformidade da mistura.

Inicialmente, 1 lata de cimento e 1,5lata de areia média são colocadas em umacaixa e bem misturadas. Em seguida, naprópria caixa ou sobre o solo, aos poucos,são adicionadas as 6,5 latas de terra ver-melha. O passo seguinte é misturar bem aareia, o cimento e terra vermelha. Aos pou-cos, a seguir, a água é adicionada, evitan-do o excesso. Até esse momento a misturaé feita com a enxada, e depois disso atra-vés do pisoteio. A massa está no pontoquando começa a se soltar da bota duran-te o pisoteio.

O uso de betoneira é inviável, pois a mas-sa se fixa nas paredes e não possibilita amistura.

Aplicação da massa de solo-cimento

Ao iniciar o revestimento, é importanteque as paredes estejam bem umedecidaspara evitar rachaduras.

O trabalho inicia por uma das paredese, em seguida, as demais paredes sãorevestidas, deixando-se um espaço numadas extremidades para a saída dos traba-lhadores. O fundo é coberto com solo-ci-mento por último.

Com auxilio de pás, a massa é colocada em

tiras de 70 centímetros a 1 m de largura, decima para baixo, com uma espessura de 10centímetros. A massa deve ser compactada detal forma que não fique espaço entre a quan-tidade de uma pá e de outra para evitar ra-chaduras. Com auxilio de uma colher de pe-dreiro, uma brocha de pintura e um balde comágua, as paredes são alisadas. À medida que aconstrução evolui, as paredes são cobertascom uma lona para evitar a secagem rápida.Após a conclusão da aplicação do solo-cimen-to, as paredes são umedecidas, no mínimo 5vezes ao dia, por um período de 20 dias paraevitar rachaduras.

Borda da estrumeira

O solo-cimento também é utilizado na cons-trução da borda com a seguinte mistura: 1lata de cimento, 3 latas de areia e 1 lata deterra vermelha. O muro deverá ter no míni-mo quatro fileiras de tijolos maciços, acimado nível do solo, para evitar a entrada da águada chuva.

Uso do hidroasfalto frio

Vinte dias após o revestimento, todas asparedes e fundo da estrumeira são bem var-ridas e duas demãos de hidroasfalto sãoaplicadas sobre a superfície seca. Ohidroasfalto cobre pequenas fissuras e fazcom que a estrumeira fique totalmente im-permeabilizada.

Cercamento da estrumeiraAs estrumeiras precisam ser cercadas

para evitar acidentes com crianças, adultose animais.

ASSOCIACAO BRASILEIRA DE CIMENTOPORTLAND. Guia de construções rurais:à base de cimento. São Paulo, [19--]. v.2

Referência Bibliográfica