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SANTINO SILVEIRA LACANNA
ESTRUTURAO DE SISTEMA DE GESTO PARA UMA HOLDING
FAMILIAR
Trabalho de formatura apresentado
Escola Politcnica da Universidade de So
Paulo para obteno do diploma de
Engenheiro de Produo
So Paulo 2010
-
SANTINO SILVEIRA LACANNA
ESTRUTURAO DE SISTEMA DE GESTO PARA UMA HOLDING
FAMILIAR
Trabalho de formatura apresentado
Escola Politcnica da Universidade de So
Paulo para obteno do diploma de
Engenheiro de Produo
Orientadora: Professora Livre Docente Mrcia Terra da Silva
So Paulo 2010
-
FICHA CATALOGRFICA
Lacanna, Santino Silveira
Estruturao de sistema de gesto para uma holding fami- liar / S.S. Lacanna. -- So Paulo, 2010.
131 p.
Trabalho de Formatura - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Produo.
1. Organizao do trabalho I. Universidade de So Paulo.
Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Produo II. t.
-
A mudana traz oportunidades. Por outro
lado, a mudana pode ser confusa.
(Michael Porter)
-
AGRADECIMENTOS
A meus pais, pela educao e oportunidades proporcionadas, que serviram de base
para eu chegar at aqui.
A meu irmo e demais familiares, por todos os momentos que passamos juntos.
A minha namorada, Carolina, por todo apoio, dedicao e carinho durante os ltimos
quatro anos.
famlia Pimenta Brito, por me acolher to carinhosamente nos ltimos quatro anos.
Aos grandes amigos de muitos e muitos anos do Colgio Rio Branco: Luiz
Guilherme, Joaquim, Juliana e Andrea.
Aos amigos da Poli que fizeram da faculdade uma experincia inesquecvel,
principalmente Bruno, Leonardo e Marcelo durante os cinco anos da faculdade e
Thiago, Paulo e Andria nos anos da Engenharia de Produo.
A toda equipe do Monitor Group, por toda experincia, aprendizado profissional,
companheirismo, colaborao e compreenso ao longo do ltimo ano.
professora Mrcia Terra da Silva, pelos conselhos, dedicao e excelente
orientao durante este trabalho de formatura.
A todos que contriburam direta ou indiretamente para a elaborao deste trabalho
de formatura.
-
RESUMO
Este trabalho de formatura aborda o tema de organizao do trabalho, focando, mais
especificamente, em sistemas de gesto. O trabalho baseado em um projeto de
consultoria estratgica desenvolvido pelo Monitor Group em uma empresa familiar
que tem atuao no setor de agronegcios. A empresa passa por um delicado
processo de reestruturao societria e seus donos tm como principais objetivos
fazer os negcios crescer e perpetuar os investimentos para as geraes seguintes
da famlia. Para o desenvolvimento do trabalho, a empresa ser analisada segundo
a tica de modelos de estrutura organizacional e de modelos especficos para
empresas familiares e sero propostos os instrumentos e os processos de gesto
que permitiro um bom desempenho futuro da empresa. Assim, o trabalho tem como
objetivo principal propor um modelo de gesto adequado s condies de contorno
da empresa e que formalize e padronize os instrumentos e os processos de gesto
da empresa familiar analisada.
Palavras-chave: Empresas familiares. Sistema de gesto. Estrutura organizacional.
-
ABSTRACT
This paper addresses the area of work organization, focusing in management
systems. The work developed in this paper is based on a strategic consulting project
developed by Monitor Group in a family business that has operations in the
agribusiness sector. The company faces a delicate process of corporate restructuring
and its owners main goals are related to grow the business and perpetuate the
investments through the next generations of the family. The company will be
approached through organizational structure models and specific models to family
business, besides management mechanisms and processes that will be presented
so as to allow a good performance in the future. Thus this paper aims to propose a
management model appropriate to the contingencies of the company and to
formalize and standardize tools and processes to manage the family business
analyzed.
Keywords: Family business. Management system. Organizational structure.
-
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Escritrios do Monitor Group no mundo .................................................... 15
Figura 2 - Estrutura de ativos atual ........................................................................... 18
Figura 3 - Evoluo da governana da holding ......................................................... 20
Figura 4 - Fluxo do Trabalho ..................................................................................... 21
Figura 5 - Localizao das fazendas ......................................................................... 22
Figura 6 - Segmentos de atuao ............................................................................. 26
Figura 7 - Panorama mundial de produo e consumo de gado ............................... 27
Figura 8 - Evoluo do rebanho bovino no Brasil ...................................................... 28
Figura 9 - Evoluo da ocupao da rea de pastagem ........................................... 28
Figura 10 - Evoluo da produtividade do gado ........................................................ 29
Figura 11 - Produo e consumo de gado no Brasil ................................................. 29
Figura 12 - Panorama mundial de produo e consumo de soja .............................. 30
Figura 13 - Evoluo da produo de soja no Brasil ................................................. 31
Figura 14 - Evoluo da produtividade da soja ......................................................... 31
Figura 15 - Produo e consumo de soja no Brasil ................................................... 32
Figura 16 - Panorama mundial de produo e consumo de milho ............................ 33
Figura 17 - Evoluo da produo de milho no Brasil ............................................... 34
Figura 18 - Evoluo da produtividade do milho ....................................................... 34
Figura 19 - Produo e consumo de milho no Brasil ................................................. 35
Figura 20 - Panorama mundial de produo e consumo de arroz ............................. 36
Figura 21 - Evoluo da produo de arroz no Brasil ............................................... 37
Figura 22 - Evoluo da produtividade do arroz ........................................................ 37
Figura 23 - Produo e consumo de arroz no Brasil ................................................. 38
Figura 24 - Seis partes bsicas da organizao........................................................ 40
Figura 25 - Ajuste mtuo ........................................................................................... 40
-
Figura 26 - Superviso direta .................................................................................... 41
Figura 27 - Padronizao dos processos de trabalho ............................................... 41
Figura 28 - Padronizao de resultados .................................................................... 41
Figura 29 - Padronizao das habilidades ................................................................ 42
Figura 30 - Padronizao de normas ........................................................................ 42
Figura 31 - Organizao empreendedora ................................................................. 43
Figura 32 - Organizao mquina ............................................................................. 44
Figura 33 - Organizao profissional ......................................................................... 46
Figura 34 - Organizao inovadora ........................................................................... 49
Figura 35 - Organizao diversificada ....................................................................... 52
Figura 36 - Organizao missionria ......................................................................... 53
Figura 37 - Organizao poltica ............................................................................... 54
Figura 38 - Empresa familiar privada com propriedade total da famlia .................... 56
Figura 39 - Empresa familiar privada com controle majoritrio da famlia ................. 56
Figura 40 - Empresa familiar pblica com controle majoritrio da famlia ................. 57
Figura 41 - Conflito uso de recursos ......................................................................... 58
Figura 42 - Conflito mtodo de colaborao da famlia ............................................. 59
Figura 43 - Conflito natureza do Conselho ................................................................ 60
Figura 44 - Conflito mecanismos de definio de objetivos ...................................... 60
Figura 45 - Principais conflitos da empresa familiar .................................................. 61
Figura 46 - Modelo de trs domnios da empresa familiar ........................................ 62
Figura 47 - Participantes da empresa familiar ........................................................... 64
Figura 48 - Modelo de desenvolvimento da empresa familiar ................................... 66
Figura 50 - Dimenso propriedade ............................................................................ 67
Figura 50 - Dimenso famlia .................................................................................... 72
Figura 51 - Dimenso negcio .................................................................................. 78
-
Figura 52 - Pentgono de configuraes organizacionais ......................................... 83
Figura 53 - Nveis de anlise da empresa ................................................................. 86
Figura 54 - Composio do lucro lquido ................................................................... 89
Figura 55 - Composio do fluxo de caixa livre da empresa ..................................... 90
Figura 56 - Evoluo do fluxo de caixa da empresa .................................................. 91
Figura 57 - Painel de controle para o nvel corporativo holding................................. 93
Figura 58 - Comparao entre dados planejados e realizados ................................. 95
Figura 59 - Painel de controle para o nvel das fazendas ......................................... 96
Figura 60 - Painel de controle para os negcios de gado ......................................... 99
Figura 61 - Painel de controle para os negcios agrcolas ...................................... 100
Figura 62 - Painel de controle para o negcio de minerao .................................. 102
Figura 63 - Estrutura de governana da holding ..................................................... 104
Figura 64 - Estrutura da diretoria executiva ............................................................ 105
Figura 65 - Estrutura organizacional dos negcios ................................................. 106
Figura 66 - Processo de oramento da holding ....................................................... 107
Figura 67 - Processo de monitoramento de resultados ........................................... 108
Figura 68 - Processo de oramento dos negcios .................................................. 111
Figura 69 - Processo de monitoramento de resultados dos negcios ..................... 112
Figura 70 - Processo administrativo-financeiro de contas a pagar .......................... 113
Figura 71 - Processo administrativo-financeiro de contas a receber ....................... 114
Figura 72 - Processo administrativo-financeiro de gesto de caixa ........................ 115
Figura 73 - Processo administrativo-financeiro de suprimentos .............................. 116
Figura 74 - Processo administrativo-financeiro de contabilidade ............................ 117
Figura 75 - Processo de operaes de gado em ciclo completo (parte 1) .............. 119
Figura 76 - Processo de operaes de gado em ciclo completo (parte 2) .............. 120
Figura 77 - Processo de operaes de gado em ciclo curto (parte 1) ..................... 121
-
Figura 78 - Processo de operaes de gado em ciclo curto (parte 2) ..................... 122
Figura 79 - Processo comercial de gado ................................................................. 123
Figura 80 - Processo de operaes agrcolas ......................................................... 124
Figura 81 - Processo comercial agrcola ................................................................. 125
Figura 82 - Processo de operaes de minerao .................................................. 126
Figura 83 - Processo comercial de minerao ........................................................ 127
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Comparao dos trs domnios ............................................................... 65
Tabela 2 - Balano patrimonial .................................................................................. 91
-
SUMRIO
1 INTRODUO .................................................................................................... 15
1.1 Monitor Group e Estgio .............................................................................. 15
1.2 Contexto do Projeto...................................................................................... 17
1.3 Objetivos e Fluxo do Trabalho ..................................................................... 18
2 APRESENTAO DAS FAZENDAS .................................................................. 22
2.1 Fazenda Dourados ....................................................................................... 22
2.2 Fazenda Pinheiros ....................................................................................... 23
2.3 Fazenda Brejaba ........................................................................................ 24
3 ANLISE DE MERCADO DOS NEGCIOS AGROPECURIOS ...................... 25
3.1 Gado ............................................................................................................ 26
3.2 Soja .............................................................................................................. 30
3.3 Milho ............................................................................................................. 32
3.4 Arroz ............................................................................................................. 35
4 REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................... 39
4.1 Estruturas Organizacionais de Mintzberg ..................................................... 39
4.1.1 Organizao Empreendedora ................................................................ 43
4.1.2 Organizao Mquina ............................................................................ 44
4.1.3 Organizao Profissional ....................................................................... 46
4.1.4 Organizao Inovadora ......................................................................... 49
4.1.5 Organizao Diversificada ..................................................................... 52
4.1.6 Organizao Missionria ....................................................................... 53
4.1.7 Organizao Poltica .............................................................................. 54
4.2 Empresas Familiares .................................................................................... 55
4.2.1 Conceitos ............................................................................................... 55
4.2.2 Principais Conflitos ................................................................................ 58
4.2.3 Abordagem ............................................................................................ 62
-
4.2.4 Dimenso Propriedade .......................................................................... 67
4.2.5 Dimenso Famlia .................................................................................. 72
4.2.6 Dimenso Negcio ................................................................................ 78
4.3 Transio da Empresa ................................................................................. 81
5 INSTRUMENTOS DE GESTO ......................................................................... 86
5.1 Corporativo Holding...................................................................................... 87
5.2 Fazendas ..................................................................................................... 93
5.3 Negcios ...................................................................................................... 97
6 MODELO DE GESTO .................................................................................... 103
6.1 Estrutura de Governana da Holding ......................................................... 103
6.2 Processos da Holding ................................................................................ 106
6.3 Processos dos Negcios ............................................................................ 109
6.3.1 Processos Gerais ................................................................................ 109
6.3.2 Processos de Pecuria ........................................................................ 117
6.3.3 Processos de Agricultura ..................................................................... 123
6.3.4 Processos de Minerao ..................................................................... 125
7 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................. 128
8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................. 130
-
15
1 INTRODUO
Os principais assuntos relacionados ao contexto deste trabalho de formatura
de engenharia de produo sero tratados neste captulo introdutrio. Assim, sero
explicados o contexto do estgio supervisionado realizado ao longo do quinto ano do
curso, o projeto desenvolvido em conjunto com o estgio e que deu origem a este
trabalho de formatura, os principais objetivos e o fluxo de desenvolvimento do
trabalho.
1.1 Monitor Group e Estgio
O estgio supervisionado foi realizado no Monitor Group (ou simplesmente
Monitor). A Monitor uma empresa global de consultoria estratgica que foi fundada
em 1983 por um grupo de oito empresrios com grande proximidade da Harvard
School of Business: Michael Porter, Catherine Hayden, Mark Fuller, Joseph Fuller,
Mary Kearney, Michael Bell, Mark Thomas e Thomas Craig. Atualmente a Monitor
possui 22 escritrios ao redor do mundo (figura 1) que trabalham de forma
totalmente coordenada e integrada.
Figura 1 - Escritrios do Monitor Group no mundo
Fonte: Documentos internos
-
16
A Monitor se dedica a ajudar organizaes a crescerem das maneiras que
so mais importantes para elas, atravs do crescimento de receitas e valor,
crescimento de capacidades e crescimento do impacto social positivo. Neste
sentido, os clientes da Monitor so corporaes, governos e organizaes sem fins
lucrativos que aspiram liderana de classe mundial e que buscam aproveitar o poder
de novas ideias. Neste sentido, os projetos se dividem em seis grandes blocos:
1. Estratgia competitiva: estratgia corporativa e de unidades de negcios,
gerenciamento de portflio, planejamento de cenrio etc.
2. Crescimento e lucratividade: segmentao do mercado consumidor,
otimizao de canais de venda, estratgia de marca (branding), pricing etc.
3. Finanas corporativas: estratgia financeira, fuses e aquisies, integrao
ps-fuso, valuation, planejamento financeiro e oramentrio etc.
4. Estratgia organizacional: desenho organizacional, direitos decisrios,
polticas de incentivos, gerenciamento de custos, modelos de compensao
etc.
5. Inovao: conceitos de inovao, plataformas de crescimento e inovao,
decises tecnolgicas etc.
6. Desenvolvimento econmico nacional e segurana: desenvolvimento de
cluster, desenvolvimento de anlise de barreiras, plano de desenvolvimento
para cidades e regies etc.
O programa de estgio da Monitor, com durao de um ano, prev a
participao e colaborao do estagirio em diferentes projetos ao longo do ano.
Dessa maneira, o estagirio exposto a diferentes metodologias e grupos de
trabalhos permitindo uma evoluo em conhecimento e experincia para que no final
do perodo de estgio ele alcance desempenho prximo ao de um consultor efetivo.
Neste sentido, o estagirio tem um papel importante nos projetos, apesar de
ter responsabilidades menores inerentes condio de estar terminando um curso
de graduao paralelamente ao programa de estgio. Assim, o estagirio participa
como membro efetivo do time de projeto, realiza atividades de pesquisa de
informaes que so inputs para as anlises, faz anlises preliminares, trabalha com
o cliente e participa nas discusses, workshops e reunies de andamento do projeto.
-
17
As atividades realizadas durante o programa de estgio e a natureza do
trabalho de consultoria estratgica expem o estagirio a desafios semelhantes aos
de um consultor efetivo. Esta caracterstica no s importante para a Monitor
avaliar o estagirio como tambm permite que o estagirio, mesmo com pouca
experincia, contribua de forma diferenciada para o projeto por estar prximo da vida
acadmica.
1.2 Contexto do Projeto
Em novembro de 2009 os servios de consultoria estratgica da Monitor
foram contratados por Cristina (nome fictcio por questes de confidencialidade),
proprietria de grandes fazendas no Brasil e de uma empresa do setor de
construo civil. Cristina recebeu estes negcios como herana de seu pai, grande
empreendedor brasileiro que comeou seus negcios do zero e se tornou um
importante empresrio no Brasil, que antes do incio do projeto havia feito a diviso
de seus ativos e participaes entre os filhos.
Por causa desse processo de diviso dos ativos, o projeto com a Monitor
ocorreu em um momento de reestruturao societria e formao de uma nova
empresa (holding familiar) que extremamente importante para o bom desempenho
futuro dos negcios da famlia de Cristina. Dessa maneira, ao entrar em contato com
membros da liderana da Monitor e contratar os servios de consultoria estratgica,
Cristina, que no tem muita experincia no universo empresarial, espera aumentar o
valor gerado pelos negcios e perpetuar os investimentos para as prximas
geraes da famlia.
A estrutura atual de ativos da famlia que esto ligados Cristina
apresentada na figura 2 e os negcios sero explicados em detalhes nos itens
seguintes.
-
18
Figura 2 - Estrutura de ativos atual
Fonte: Elaborado pelo autor
Como pode ser visto na estrutura de ativos da figura 2, os principais negcios
de Cristina esto ligados ao setor de agronegcios (fazendas). Como esses
negcios so majoritrios em termos de valor patrimonial e trabalho necessrio para
Cristina, o foco deste trabalho de formatura ser em cima deles.
1.3 Objetivos e Fluxo do Trabalho
A partir da anlise do cliente, o principal problema identificado (que por sua
vez deriva uma srie de outras consequncias) a no existncia de uma estrutura
organizacional formalizada e de processos organizacionais padronizados.
Do ponto de vista de estrutura, pode-se dizer que os negcios do cliente no
possuem uma estrutura organizacional formalizada. Este cenrio existe pelo fato de,
apesar de no serem novos, os negcios serem gerenciados de maneira no
estruturada, que no compatvel com o porte e objetivos dos negcios da famlia,
que pretende expandir e perpetuar o patrimnio. O porte dos negcios da famlia
muito grande (da ordem de bilhes de reais) e a diversidade de atuao tambm,
-
19
com presena em pecuria, agricultura e minerao, de tal forma que a existncia
de uma estrutura organizacional formalizada que suporte a estratgia dos negcios
fator crtico de sucesso frente a tal complexidade administrativa.
A no existncia de processos organizacionais padronizados um problema
totalmente derivado da situao estrutural explicada acima. Os negcios so
estruturados de forma no planejada, em que os participantes da organizao
executam suas tarefas de maneira no padronizada, e sim por terem sempre
executado a tarefa de tal forma. Com isso, no se estabelecem os papeis e
responsabilidades de cada participante, prejudicando a organizao como um todo,
uma vez que os participantes no sabem ao certo o que tm que fazer, para quem
tm que se reportar ou de quem tm que receber relatrios, por exemplo. Alm
disso, em se tratando de um negcio familiar, existe uma confuso entre as esferas
de famlia, sociedade e negcio, pois muitas vezes difcil separar uma esfera da
outra e saber como atuar em cada situao. Este tema de negcios familiares ser
explorado na reviso bibliogrfica.
Esses problemas apresentados, que sero tratados de maneira a alcanar
uma soluo neste trabalho, causam alguns prejuzos para a organizao. Estes
prejuzos aparecem com, por exemplo, ineficincias no processo produtivo,
existncia de custos desnecessrios e insatisfao entre os prprios membros da
famlia que diminuem a rentabilidade dos negcios.
Considerando os fatores apresentados, este trabalho tem como macro-
objetivos a formalizao da estrutura organizacional e a estruturao de um modelo
de gesto para a holding de Cristina que est nascendo. Esta estruturao do
modelo de gesto inclui:
Criao e operacionalizao dos mecanismos de gesto: inclui a criao de
um painel de controle com indicadores econmico-financeiros e dos negcios
que dever ser atualizado periodicamente, seguindo os processos de gesto
dos negcios.
Definio do modelo de gesto: inclui desenho de macro processos para a
holding e para os negcios e definio de cargos, papis e responsabilidades
-
20
e direitos decisrios de cada cargo, tambm no nvel de holding e dos
negcios tais definies serviro de base para a estrutura organizacional.
A estrutura organizacional e o modelo de gesto representam uma das trs
fases que esto presentes na evoluo da governana da holding. As outras duas
fases so as de (i) reestruturao societria e sucesso e (ii) estratgia, que fogem
do escopo deste trabalho por questes de prazo e abrangncia. A sequenciao
dessas fases ilustrada pela figura 3.
Figura 3 - Evoluo da governana da holding
Fonte: Elaborado pelo autor
interessante notar que neste projeto a definio da estrutura precede a
definio da estratgia, ao contrrio do que muitos trabalhos no tema dizem, como a
mxima de A.D. Chandler de que a estrutura segue a estratgia do clssico
Strategy and Structure (1962). O que justifica esta inverso era a grande urgncia de
criar, formalizar e padronizar os mecanismos de gesto no incio do projeto,
conforme explicado anteriormente.
Para atingir seus objetivos, este trabalho seguir o seguinte fluxo:
1. Contextualizao e apresentao das fazendas
2. Anlise dos mercados de atuao
3. Reviso bibliogrfica
-
21
a. Estruturas organizacionais (Henry Mintzberg)
b. Empresas familiares (Gersick, Davis, Hampton & Lansberg)
c. Anlise da transio da empresa
4. Criao de instrumentos de gesto
a. Indicadores econmicos e financeiros
b. Paineis de controle
c. Relatrios gerenciais
5. Estruturao do modelo de gesto
a. Estrutura de governana
b. Processos de gesto & Papeis e responsabilidades
6. Consideraes finais
O fluxo do trabalho ilustrado na figura 4.
Figura 4 - Fluxo do Trabalho
Fonte: Elaborado pelo autor
-
22
2 APRESENTAO DAS FAZENDAS
As principais informaes sobre as fazendas que compem a holding da
famlia de Cristina sero apresentadas neste captulo, permitindo melhor
entendimento dos negcios. A figura 5 mostra um mapa com a localizao
aproximada das fazendas.
Figura 5 - Localizao das fazendas
Fonte: Elaborado pelo autor
2.1 Fazenda Dourados
A fazenda Dourados se localiza no municpio de Pirajuba, Minas Gerais e
sempre pertenceu famlia de Cristina. A fazenda tem aproximadamente 1,8 mil
hectares e possui acesso fcil por rodovias. Nesta fazenda so realizadas atividades
de pecuria de corte, produo de milho e produo de arroz, sendo todas com fins
comerciais.
-
23
A atividade de pecuria de corte realizada em ciclo curto, isto , os bezerros
so comprados de fornecedores e passam o processo de crescimento e engorda na
fazenda, de tal maneira que praticamente no nascem bezerros nas terras da
fazenda. Aproximadamente 1,5 mil cabeas de gado so criadas soltas, em
pastagens e ocupam cerca de 1,4 mil hectares de terra. De modo geral, o gado
vendido para compradores locais e abastecem o mercado da regio Sudeste.
O cultivo de milho realizado em cerca de 400 hectares de terra e o de arroz
em 120 hectares (a soma das reas ocupadas pelas trs atividades maior que a
rea da fazenda pois as atividades compartilham terras). As atividades agrcolas
contemplam o planejamento, o preparo de solo, o plantio, o tratamento do plantio e a
colheita para a estocagem e venda. O milho e o arroz so, em geral, vendidos em
cidades prximas fazenda, para consumo humano.
2.2 Fazenda Pinheiros
A fazenda Pinheiros se localiza no municpio de Jata, Gois, tendo sempre
pertencido famlia de Cristina, mas tambm passando por inmeras expanses
territoriais atravs de compra de terras. a maior fazenda de Cristina, ocupando
uma rea de cerca de 40 mil hectares, com lagos, rios e estradas. Nesta fazenda
so realizadas as atividades de pecuria de corte e produo de soja.
A atividade de pecuria de corte realizada em ciclo longo, isto , os
bezerros nascem na fazenda, requerendo um planejamento das matrizes para que a
produo seja possvel. Aproximadamente 25 mil cabeas vivem nas pastagens da
fazenda Pinheiros, ocupando 32 mil hectares de terra. O gado produzido aqui ,
geralmente, adquirido por grandes frigorficos, que processam a carne e vendem em
todo o Brasil.
O cultivo de soja uma atividade recente na fazenda, tendo comeado h 4
anos. No momento, a soja ocupa uma rea de 4 mil hectares, que est em expanso
e deve alcanar 10 mil hectares nos prximos anos. Assim como no caso do milho e
arroz, todas as atividades relacionadas produo de soja so realizadas na prpria
-
24
fazenda, desde o planejamento at a estocagem. A soja produzida vendida em
cooperativas, para ganhar escala e poder de barganha.
2.3 Fazenda Brejaba
A fazenda Brejaba se localiza no municpio de So Domingos, em Gois,
tendo sido adquirida h 15 anos pela famlia de Cristina. A fazenda abrange cerca
de 3 mil hectares e possui uma mina de extrao de calcrio. Nesta fazenda so
realizadas atividades de pecuria de corte e de extrao de calcrio para fabricao
de fertilizantes agrcolas.
A atividade de pecuria realizada nos mesmos moldes da fazenda
Pinheiros, possuindo 2 mil cabeas que ocupam 1,7 mil hectares. O gado produzido
vendido em todo o Brasil.
A atividade de extrao de calcrio realizada a cu aberto e engloba desde
a exploso da mina at a formao de lotes para venda, passando pela britagem
que a primeira fase de fragmentao dos minrios, e pela moagem, alm dos
transportes. A fazenda Brejaba tem capacidade instalada para produzir 350 mil
toneladas de calcrio por ano, que comercializado em todo o Brasil para ser
utilizado como insumo na agricultura.
-
25
3 ANLISE DE MERCADO DOS NEGCIOS AGROPECURIOS
Para melhor entendimento dos principais setores de atuao da holding sero
construdas breves anlises de mercado para os negcios de gado de corte, soja,
milho e arroz. Estas anlises foram conduzidas com dados obtidos do Censo
Agropecurio 2006 do IBGE1, das sries histricas de preos do CEPEA2, das sries
histricas de safras da CONAB3 e da base Production, Supply and Distribution
Online do USDA4 e contemplaro assuntos tais como o panorama mundial de
produo e consumo e a evoluo da produo, produtividade e consumo no Brasil.
A figura 6 mostra o tamanho do mercado brasileiro, em milhes de reais, e a
rentabilidade mdia, em reais por hectare, no ano de 2009 para os quatro negcios
principais.
O tamanho de mercado foi calculado da seguinte maneira:
A rentabilidade mdia foi calculada da seguinte maneira:
As informaes de preo mdio foram retiradas das sries histricas de
preos, das bases de dados do CEPEA. J as informaes de produo e
produtividade mdia foram retiradas do Censo Agropecurio 2006 do IBGE para o
gado e das sries histricas de safras das bases de dados da CONAB para soja,
milho e arroz.
1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
2 Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada
3 Companhia Brasileira de Abastecimento
4 United States Department of Agriculture
-
26
Figura 6 - Segmentos de atuao
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do IBGE, CEPEA e CONAB
3.1 Gado
O Brasil um dos principais players do setor pecurio no mundo, sendo o
segundo maior produtor e o maior exportador. As significativas vantagens
competitivas das empresas brasileiras esto relacionadas aos baixos custos de
engorda e criao, por causa das condies climticas e geogrficas favorveis, da
disponibilidade abundante de pasto e gua e dos baixos custos de alimentao,
energia e mo de obra. Grandes exemplos de sucesso do Brasil so as empresas
JBS, Marfrig e Minerva, que esto entre as maiores empresas do setor no mundo. A
figura 7 mostra os cinco maiores produtores, consumidores e exportadores de carne
bovina do mundo, de acordo com dados extrados da base do USDA.
-
27
Figura 7 - Panorama mundial de produo e consumo de gado
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
Levando-se em considerao o tamanho do rebanho bovino no Brasil, de
acordo com o Censo Agropecurio 2006 do IBGE, houve um crescimento superior a
100% nos ltimos 40 anos. Tal crescimento foi puxado, em grande parte, pelas
regies Norte e Centro-Oeste, que apresentaram crescimento anual mdio de 8,4%
e 3,2%, respectivamente. A figura 8 mostra a evoluo do tamanho do rebanho
bovino brasileiro entre os anos 1970 e 2006.
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28
Figura 8 - Evoluo do rebanho bovino no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do IBGE
Em contrapartida ao crescimento do rebanho bovino, a rea dedicada a
pastagens sofreu apenas um sutil aumento entre 1970 e 2006, com crescimento
mdio anual de 0,3%. Com isso, pode-se concluir que a ocupao das reas de
pastagem e a produtividade aumentaram de maneira significativa, com crescimento
mdio anual entre 1970 e 2006 de 1,8% e 4,2%, respectivamente. As figuras 9 e 10
mostram a evoluo da ocupao e da produtividade, respectivamente.
Figura 9 - Evoluo da ocupao da rea de pastagem
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do IBGE
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29
Figura 10 - Evoluo da produtividade do gado
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
O significativo aumento da produo e da produtividade permitiu que o Brasil
se tornasse um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo. Vale ressaltar
que o consumo de carne pela populao brasileira tambm cresceu
substancialmente entre 1970 e 2009, impulsionado pelo aumento populacional e
pela melhoria da renda. No entanto, o crescimento mdio anual da produo foi de
4,1% e o do consumo de 3,8%, propiciando o atual cenrio de exportaes
brasileiras, conforme figura 11, construda com dados do USDA.
Figura 11 - Produo e consumo de gado no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
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30
3.2 Soja
Nos ltimos 20 anos, a produo de soja brasileira passou por aumentos
substancias, tornando o Brasil um dos players mais importantes do cenrio mundial
atual. Hoje, o Brasil responsvel por 26% da produo mundial de soja, por 15%
do consumo e por 32% das exportaes, que ocorrem majoritariamente para a
China (maior consumidor de soja do mundo). O panorama mundial dos principais
produtores, consumidores e exportadores, da safra 09/10, est ilustrado na figura
12, elaborada com dados do USDA.
Figura 12 - Panorama mundial de produo e consumo de soja
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
A produo de soja no Brasil cresceu substancialmente nos ltimos 20 anos,
tendo crescido cerca de 340% neste perodo, com grande destaque para as regies
Centro-Oeste e Sul, que concentram 47% e 37% da produo nacional,
respectivamente. A figura 13 mostra a evoluo da produo de soja no Brasil entre
as safras 90/91 e 09/10, com dados extrados das bases da CONAB.
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31
Figura 13 - Evoluo da produo de soja no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
No perodo considerado, da safra 90/91 at a safra 09/10, a rea de cultivo de
soja cresceu cerca de 140%, nmero muito inferior ao crescimento da produo,
gerando um aumento de produtividade da soja brasileira, que apresentou
crescimento anual mdio de 3,3%, conforme figura 14. Na safra 04/05 a praga
ferrugem, afetou a produo de soja, causando baixa produtividade, enquanto que
na safra 08/09 um forte perodo de seca prejudicou a produtividade.
Figura 14 - Evoluo da produtividade da soja
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
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32
O grande aumento da produo e da produtividade permitiu que o Brasil se
tornasse um dos maiores exportadores de soja no mundo, tendo como principal
mercado importador a China. No mesmo perodo (entre as safras 90/91 e 09/10) em
que a produo apresentou crescimento anual mdio de 8,0%, o consumo
apresentou cresceu em mdia 4,4% ao ano, fazendo com que grande parte da
produo pudesse ser exportada. Esta disparidade entre o crescimento da produo
e do consumo est ilustrada na figura 15.
Figura 15 - Produo e consumo de soja no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
3.3 Milho
No mercado de milho, o Brasil um dos cinco maiores players mundiais, mas
sua relevncia muito menor do que no mercado de gado ou de soja, sendo, o
quarto maior produtor (com apenas 6% da produo mundial), o quarto maior
consumidor (com apenas 6% do consumo mundial) e o terceiro maior exportador
(com 8% das exportaes mundiais). O panorama mundial dos principais
produtores, consumidores e exportadores, da safra 09/10, est ilustrado na figura
16, elaborada com dados do USDA.
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33
Figura 16 - Panorama mundial de produo e consumo de milho
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
Nos ltimos 20 anos, a produo de milho no Brasil cresceu em ritmo muito
menor que a produo de soja, tendo crescido cerca de 110% no perodo. A maior
parte da produo, cerca de 40%, se concentra na regio Sul, devido,
principalmente, s condies climticas, mas a regio Centro-Oeste tem alcanado
posio de destaque na produo nacional, tendo ultrapassado a regio Sudeste na
safra 06/07. A figura 17 mostra a evoluo da produo de milho no Brasil entre as
safras 90/91 e 09/10, com dados extrados das bases da CONAB.
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34
Figura 17 - Evoluo da produo de milho no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
No perodo considerado, da safra 90/91 at a safra 09/10, a rea de cultivo de
milho diminuiu cerca de 4%, gerando um crescimento mdio anual da produtividade
de 4,3%, conforme figura 18. Apesar do aumento, ainda existe um grande potencial
de melhoria por meio da mecanizao e da utilizao de transgnicos, uma vez que
a produtividade mdia do milho nos Estados Unidos foi de 10,4 ton/ha na safra
09/10, segundo dados do USDA.
Figura 18 - Evoluo da produtividade do milho
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
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35
Como o Brasil exporta pouco milho, de se esperar que a maior parte da
produo seja utilizada para consumo interno, que, de fato, sofreu aumento
semelhante ao da produo, entre as safras 90/91 e 09/10. A figura 19 mostra a
evoluo da produo e do consumo de milho neste perodo.
Figura 19 - Produo e consumo de milho no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
3.4 Arroz
O Brasil um pequeno player no mercado mundial de arroz, produzindo e
consumindo cerca de 2% do arroz mundial, tendo sua produo praticamente
dedicada ao consumo interno e sendo um pequeno importador. Os grandes players
do setor se localizam na sia, por questes ambientais e culturais, com destaque
para China e ndia. O panorama mundial dos principais produtores, consumidores e
exportadores, da safra, 09/10, est ilustrado na figura 20, elaborada com dados do
USDA.
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Figura 20 - Panorama mundial de produo e consumo de arroz
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
Nos ltimos 20 anos, a produo brasileira de arroz apresentou um discreto
crescimento de 15%, tendo se concentrado cada vez mais na regio Sul do pas,
que concentrou cerca de 70% da produo da safra 09/10. A figura 21 mostra a
evoluo da produo de arroz no Brasil entre as safras 90/91 e 09/10, com dados
extrados das bases da CONAB.
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Figura 21 - Evoluo da produo de arroz no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
No perodo considerado, da safra 90/91 at a safra 09/10, enquanto a
produo de arroz se manteve praticamente constante, houve uma significativa
reduo de 34% na rea cultivada, gerando um crescimento mdio de 3% na
produtividade do arroz no Brasil. Vale ressaltar que a regio Sul apresenta, com
grande folga, as maiores produtividades de arroz no pas, tendo alcanado 6,4
ton/ha na safra 09/10. A figura 22 mostra a evoluo da produtividade do arroz no
Brasil.
Figura 22 - Evoluo da produtividade do arroz
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CONAB
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Como j foi mencionado, a produo brasileira de arroz dedicada ao
consumo interno, sendo que, mesmo assim, o pas precisa importar uma pequena
quantidade de arroz para suprir a demanda interna. A figura 23 mostra a evoluo
da produo e do consumo de arroz neste perodo.
Figura 23 - Produo e consumo de arroz no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do USDA
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4 REVISO BIBLIOGRFICA
4.1 Estruturas Organizacionais de Mintzberg
Existem diversas formas de se analisar e projetar as estruturas
organizacionais. Uma dessas formas apresentada por Henry Mintzberg
(originalmente no livro The Sructuring of Organizations, 1979) que considera os
aspectos de vrios atributos das organizaes, como mecanismos de coordenao,
parmetros de design e fatores situacionais. A relao das presses que cada um
desses atributos exerce sobre a organizao e a prpria combinao desses
atributos pode destacar certas caractersticas da organizao e, assim, esta pode
ser enquadrada em uma das classificaes de configurao organizacional
apresentadas por Mintzberg (2006). Alm disso, possvel identificar problemas,
vantagens e desvantagens de cada tipo de estrutura e como esses problemas
impactam no trabalho da organizao.
O trabalho de Mintzberg (2006) identifica e apresenta os tipos de configurao
organizacional, sendo que cada tipo constitudo pelas seis partes bsicas
apresentadas abaixo:
pice estratgico: inclui os cargos mais altos da organizao e os conselhos
de administrao, essa parte responsvel por proporcionar as condies
necessrias para atingir os objetivos estratgicos da organizao.
Linha intermediria: inclui os cargos intermedirios, como gerentes
operacionais, que tm como principal objetivo a ligao entre o pice
estratgico e o ncleo operacional.
Ncleo operacional: inclui todos os cargos relacionados com a operao de
produo de bens e servios.
Tecnoestrutura: engloba analistas de controle e engenheiros, por exemplo, e
responsvel pela padronizao do trabalho com o objetivo de tornar a
organizao mais eficiente.
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40
Equipe de apoio: equipes que fazem servios de apoio organizao e que
esto fora do fluxo de trabalho operacional, como as reas jurdica e de
recursos humanos.
Ideologia: tradio e crenas inerentes a organizao que a diferenciam de
outras organizaes.
Figura 24 - Seis partes bsicas da organizao
Fonte: Mintzberg, 2006
As seis partes bsicas que constituem as organizaes, ao trabalharem de
maneira conjunta e dividindo as tarefas precisam se coordenar de alguma maneira.
Neste sentido, Mintzberg (2006) prope seis mecanismos bsicos de coordenao:
1. Ajuste mtuo A coordenao do trabalho alcanada por meio de
comunicao informal entre todas as pessoas que realizam o trabalho.
Figura 25 - Ajuste mtuo
Fonte: Mintzberg, 2006
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41
2. Superviso direta Uma pessoa acumula papel de liderana e coordena o
trabalho dando ordens aos demais participantes da organizao.
Figura 26 - Superviso direta
Fonte: Mintzberg, 2006
3. Padronizao dos processos de trabalho A coordenao alcanada por
meio da especificao do contedo do trabalho e dos procedimentos a serem
seguidos. Geralmente, tal programao feita pela tecnoestrutura.
Figura 27 - Padronizao dos processos de trabalho
Fonte: Mintzberg, 2006
4. Padronizao de resultados Neste caso, os resultados do trabalho so
especificados, e no os procedimentos para alcan-los. Geralmente, tal
especificao tambm feita pela tecnoestrutura.
Figura 28 - Padronizao de resultados
Fonte: Mintzberg, 2006
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42
5. Padronizao das habilidades As pessoas que realizam o trabalho so
padronizadas, no sentido que elas possuem um conjunto de conhecimentos,
competncias e habilidades semelhantes e propcias para realizar um
determinado trabalho. Este conjunto de semelhanas adquirido fora da
organizao (em universidades, por exemplo) e a coordenao alcanada
pois os trabalhadores sabem o que esperar uns dos outros.
Figura 29 - Padronizao das habilidades
Fonte: Mintzberg, 2006
6. Padronizao de normas A coordenao do trabalho alcanada pelo fato
de os trabalhadores compartilharem um conjunto comum de crenas e
valores.
Figura 30 - Padronizao de normas
Fonte: Mintzberg, 2006
Nos prximos itens sero apresentadas as configuraes propostas por
Mintzberg (2006). Vale ressaltar que organizaes no se enquadram
necessariamente em um dos tipos de configurao propostos, de tal maneira que
elas podem adaptar a estrutura a uma configurao organizacional hbrida, com
caractersticas provenientes de diferentes configuraes.
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43
4.1.1 Organizao Empreendedora
Figura 31 - Organizao empreendedora
Fonte: Mintzberg, 2006
A estrutura da organizao empreendedora proposta por Mintzberg (2006) a
mais simples dentre todas. Ela geralmente tem poucos funcionrios, faz uso mnimo
de planejamento, treinamento e mecanismos de conexo e possui um ou alguns
poucos gerentes de primeira linha.
O membro mais importante dessa organizao o presidente (ou dono, ou
gerente principal) que utiliza a superviso direta como principal mecanismo de
coordenao. Com isso, a organizao conduzida de acordo com a personalidade
de seu presidente, que controlar, de perto, os funcionrios, as mquinas, as
atividades e os produtos e tomar praticamente todas as decises da empresa. Com
esse sistema de poder altamente centralizado nas mos do presidente, de se
esperar que seja ele quem vai criar a estratgia que a organizao seguir, e esta
estratgia reflete a maneira como o presidente v o mundo.
Considerando os fatores situacionais, a organizao, em geral, se encontra
em um ambiente simples, embora dinmico, que garanta a grande influncia da
presidncia. Em termos de idade, a organizao empreendedora jovem,
mantendo-se afastadas de mercados complexos para que a estrutura permanea
simples e o controle centralizado. Alm disso, por operar em ambiente dinmico, a
organizao deve ser flexvel, permitindo fcil adaptao estratgica.
As principais questes associadas s organizaes empreendedoras so:
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44
Forte dependncia do lder, tomador de decises e criador de estratgias. Por
isso, o tipo de organizao mais arriscada, uma vez que qualquer problema
com o lder pode destruir a organizao.
Uma vantagem desse tipo de organizao o senso de misso. Muitos
trabalhadores gostam de trabalhar dessa forma, tendo um lder para seguir.
Como o poder est totalmente nas mos de um lder, a organizao pode ser
considerada restritiva, uma vez que este pode abusar da autoridade.
4.1.2 Organizao Mquina
Figura 32 - Organizao mquina
Fonte: Mintzberg, 2006
A organizao mquina (ou burocracia estilo mquina) de Mintzberg , em
geral, um tipo de organizao que ocorre em empresas de setores maduros, com
produo em massa e que esto em ambiente estvel. Nestas empresas, as tarefas
realizadas so operacionais, rotineiras, especializadas e repetitivas, de tal maneira
que a organizao deve funcionar como uma mquina muito bem controlada e
burocratizada.
Como as atividades operacionais realizadas so simples e repetitivas, o fluxo
de trabalho do ncleo operacional bastante racional, requerendo pouco
treinamento (que feito internamente). Com isso, o mecanismo de coordenao
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45
chave a padronizao dos processos de trabalho, fazendo com que os
trabalhadores tenham pouco poder de deciso. Para que seja possvel a
formalizao do trabalho operacional, a linha intermediria e a tecnoestrutura
precisam ser bem desenvolvidas. Os gerentes (linha intermediria) precisam lidar
com os distrbios do ncleo operacional, pois os problemas no podem ser
resolvidos informalmente, precisam garantir a padronizao do trabalho e realizar a
comunicao vertical na estrutura, isto , entre o pice estratgico e o ncleo
operacional. A tecnoestrutura, por sua vez, cria os padres que devem tornar as
atividades simples e repetitivas, permitindo a coordenao por padronizao dos
processos de trabalho.
No pice estratgico das organizaes mquina, os gerentes esto focados
em encontrar maneiras mais eficientes para produzir os resultados necessrios. No
entanto, para que o aumento da eficincia seja possvel, estes gerentes tm que
garantir que a estrutura esteja unida, intervindo constantemente nas atividades da
linha intermediria e concentrando poder considervel dentro da organizao.
Considerando os fatores situacionais, o ambiente , geralmente, simples e
estvel, permitindo que as atividades sejam simples e possam ser racionalizadas, as
empresas so, geralmente, grandes, para que o volume de trabalho possa ser
repetitivo e padronizado, e velhas, para possuir um padro a ser utilizado.
A estrutura burocratizada e centralizada da organizao mquina o mais
eficiente conjunto integrado de tarefas simples e repetitivas que devem ser
executadas de maneira precisa. No entanto, as vantagens da eficincia de uma
mquina geram as principais desvantagens deste tipo de organizao, uma vez que
enquanto uma mquina composta apenas por partes mecnicas, uma organizao
inclui, tambm, seres humanos. Considerando estas caractersticas, as principais
questes relacionadas a este tipo de organizao so:
Problemas humanos no ncleo operacional: como o trabalho altamente
padronizado, os trabalhadores no tm impulso para ao independente. No
entanto, como os trabalhadores tm vontades prprias (diferentemente das
mquinas), elas ficam reprimidas, gerando comportamentos prejudiciais tanto
para eles mesmos quanto para a empresa.
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46
Problemas de coordenao no centro administrativo: como o ncleo
operacional da organizao no estruturado com a habilidade de resolver
conflitos, os conflitos sobem para a estrutura administrativa que, por serem
restritas, muitas vezes no dispem de mecanismos adequados para
solucionar tais problemas, gerando outros conflitos.
Problemas de adaptao no pice estratgico: a principal maneira de tratar os
problemas da linha por meio da padronizao, que, no entanto, no
adequada para tratar os problemas no-rotineiros do centro administrativo.
Sendo assim, os problemas de coordenao que no so resolvidos no
centro administrativo sobem para o pice estratgico, gerando, por sua vez,
os problemas de adaptao, que podem causar a centralizao excessiva de
poder.
4.1.3 Organizao Profissional
Figura 33 - Organizao profissional
Fonte: Mintzberg, 2006
Mintzberg (2006) caracteriza a organizao profissional (ou burocracia
profissional) como uma configurao que possui uma estrutura burocrtica sem ser
centralizada. Isso ocorre quando o trabalho complexo e necessita de profissionais
especializados para realiz-lo.
Neste tipo de organizao, o ncleo operacional a parte mais importante,
uma vez que os operrios so altamente treinados e especializados (so
profissionais), tendo completo controle sobre seus prprios trabalhos. Com isso, a
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47
forma de coordenao a padronizao de habilidades, garantida pelo treinamento
avanado recebido pelos operrios antes de serem admitidos pela empresa.
Relacionada ao mecanismo de coordenao por padronizao de habilidades,
surge uma caracterstica importante na organizao profissional, chamada de
categorizao, processo segundo o qual a organizao constituda por um
programa padronizado (conjunto de habilidades pr-adquiridas) que utilizado em
situaes padronizadas, chamadas de contingncia. A categorizao consiste em
duas partes: categorizar (ou diagnosticar) as necessidades dos clientes em termos
das contingncias para saber qual programa-padro utilizar e aplicar (ou executar)
este programa-padro.
Na organizao profissional, a equipe de apoio tem papel muito importante,
uma vez que, como o ncleo operacional (parte mais importante) muito
desenvolvido e valioso, h a necessidade de existir uma boa e grande equipe de
apoio, que se concentrar basicamente em executar as atividades acessrias do
ncleo operacional. Por outro lado, a tecnoestrutura e a gerncia de linha
intermediria no tm muita importncia na organizao profissional, j que, por
causa do tamanho e da autonomia do ncleo operacional, elas pouco podem fazer
para coordenar o trabalho.
Do ponto de vista dos fatores situacionais, a condio principal da
organizao profissional o domnio do trabalho operacional pelo trabalhador
habilidoso, que utiliza processos difceis de aprender. Essa situao tanto
complexa como estvel. Complexa o bastante para que os procedimentos s
possam ser aprendidos por meio de treinamento intensivo e estvel o bastante para
permitir que seu uso seja padronizado. Se o sistema tcnico for muito
regulamentado ou automatizado, as aes dos profissionais podem ser divididas em
passos simples, acabando com a autonomia dos profissionais e conduzindo para
uma estrutura tipo mquina. Por outro lado, se o sistema tcnico for muito
complicado, ele forar os profissionais a trabalharem em equipes multidisciplinares,
o que diminui a autonomia e conduz para uma estrutura tipo inovadora.
A organizao profissional a nica forma de organizao que atende duas
das necessidades mais importantes do homem: a democracia e a autonomia. No
entanto, os problemas da organizao tm o mesmo motivo (democracia e
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48
autonomia), de tal maneira que as principais questes associadas organizao
profissional so:
Problemas de coordenao: ocorrem entre profissionais e equipe de apoio,
pois os profissionais querem dar as ordens, prendendo a equipe de apoio
entre o poder vertical (linha de autoridade) e o poder horizontal
(especializao profissional).
Problemas de discernimento: ocorrem porque a maior parte do discernimento
est na mo de profissionais individuais, que, se no forem competentes,
causam problemas (por exemplo: um psiquiatra que acha que todos precisam
de tratamento). Alm de ignorar as necessidades dos clientes, o
discernimento permite aos profissionais ignorar as necessidades da
organizao, que precisa de cooperao das partes, gerando mais
problemas.
Problemas de inovao: ocorrem, tambm, por falta de cooperao entre os
profissionais, pois novos programas requerem a participao coletiva deles.
Isso ocorre porque a organizao profissional inerentemente uma
burocracia (profissional), preparada, portanto, para aperfeioar programas j
existentes em ambientes estveis, e no para criar novos programas para
necessidades no-antecipadas. O problema que o profissional possui um
pensamento convergente, e tenta resolver novos problemas com programas
antigos, ao passo que uma soluo inovadora requer um pensamento
divergente, ou seja, o de se afastar de velhas rotinas e padres.
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49
4.1.4 Organizao Inovadora
Figura 34 - Organizao inovadora
Fonte: Mintzberg, 2006
No contexto organizacional, inovao pode ser entendida como o processo
por meio do qual organizaes transformam ideias em novos produtos ou servios
de tal maneira que elas se diferenciem de seus concorrentes. Para que uma
empresa consiga inovar necessrio que exista uma configurao organizacional
muito peculiar, que consiga fundir especialistas de reas diferentes em equipes de
projeto, formando as adhocracias.
Para conseguir inovar, a organizao no pode se basear em nenhuma forma
de padronizao para coordenao, devendo se distanciar ao mximo das
estruturas burocrticas, que formalizam o comportamento. Por isso, ela deve ser
bastante flexvel e possuir estrutura altamente orgnica, tendo como mecanismo de
coordenao o ajuste mtuo. Em geral, os especialistas so agrupados em unidades
funcionais (para fins de controle especializado), e, dentro das unidades, so
divididos em equipes de projeto (para cada projeto) para a realizao do trabalho.
Com isso, o ajuste mtuo se constitui como mecanismo de coordenao do trabalho
e os mecanismos de conexo (como foras-tarefas e integrao de gerentes) so
amplamente utilizados entre as equipes.
A adhocracia d poder para especialistas, cujo conhecimento e habilidades
tenham sido altamente desenvolvidos em treinamentos. Com muitas equipes de
projeto, uma equipe de apoio bem desenvolvida para atender aos especialistas, e
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50
vrios mecanismos de conexo presentes, a adhocracia apresenta um grande
nmero de gerentes, que, diferentemente da organizao mquina, raramente do
ordens, j que eles trabalham no sentido da integrao entre as equipes e unidades.
Como h grande confiana em especialistas altamente treinados, ocorre a
descentralizao seletiva horizontal e vertical, pois o poder para tomar diferentes
decises est espalhado por toda a organizao, segundo as necessidades de cada
questo.
Para Mintzberg (2006), a organizao inovadora pode assumir duas formas
diferentes, a adhocracia operacional e a adhocracia administrativa. A adhocracia
operacional possui equipes que trabalham sob contrato, inovando e resolvendo
problemas em nome de seus clientes (como empresas de consultoria e fabricantes
de prottipos de engenharia). J a adhocracia administrativa assume projetos para
atender a si prpria e, diferentemente da adhocracia operacional, h uma distino
clara entre o componente administrativo e o ncleo operacional. Essa separao se
d porque o ncleo operacional truncado (separado do resto da organizao), de
tal forma que o componente administrativo possa se estruturar como uma
adhocracia.
Considerando os participantes, a equipe de apoio se confunde na adhocracia,
pois, sendo formada tambm por especialistas, no faz sentido separ-la daqueles
que tm poder formal de deciso. Com isso, a equipe de apoio se torna a parte mais
importante da organizao inovadora. J a tecnoestrutura no muito desenvolvida,
pois esta forma de organizao no se baseia em padronizao para coordenao.
O pice estratgico parcialmente incorporado massa central (linha intermediria,
equipe de apoio e ncleo operacional). Assim, os principais executivos no gastam
tempo formulando estratgias, utilizando-o para escolher estratgias e resolver
problemas que surgem na estrutura. Esses executivos devem tambm monitorar os
projetos para que eles sejam executados de acordo com as especificaes, dentro
do prazo e do oramento combinados.
Do ponto de vista dos fatores situacionais, a organizao inovadora
encontrada em ambientes dinmicos e complexos. O ambiente dinmico pois
requer uma estrutura orgnica, e complexo porque necessita ter uma estrutura
descentralizada. Em geral, as organizaes inovadoras so jovens, pois a juventude
-
51
no permite que os comportamentos se tornem padronizados nem que exista algum
tipo de burocracia. Outros fatores situacionais importantes para a existncia da
organizao inovadora so os sistemas tcnicos sofisticados e automatizados. O
sistema tcnico sofisticado exige uma equipe de apoio elaborada, de especialistas,
trabalhando em grupo para modificar e manter os equipamentos. A automao
importante, pois ela permite a que a estrutura seja orgnica, j que um sistema
tcnico automatizado no precisa ser to vigiado e controlado, fortalecendo ainda
mais a equipe de apoio, o ajuste mtuo e a descentralizao.
As trs questes mais importantes relacionadas organizao inovadora so:
Reaes humanas ambiguidade: apesar de parecer desejvel para
qualquer pessoa trabalhar em uma adhocracia, pela estrutura orgnica e
descentralizada, muitas pessoas no se do bem com esse tipo de
organizao, pois elas precisam de uma estrutura mais bem definida (com
chefes e funes bem definidas) que no contemplada pela estrutura da
organizao inovadora.
Problemas de eficincia: ocorrem porque como a adhocracia se volta para
projetos especficos, com produtos personalizados que no so passveis de
padronizao, ela perde em eficincia (no tendo a produo em massa da
organizao maquina, por exemplo). Assim, ela alcana eficcia (inovao)
em detrimento da eficincia. Outro fator que gera ineficincia a
descentralizao, pois, por conta disso, as decises tm que ser tomadas por
todos os especialistas.
Perigos da transio imprpria: ocorrem quando, para resolver os problemas
de ambigidade e ineficincia, a adhocracia se converte para alguma forma
burocrtica, padronizando uma serie de problemas (burocracia profissional),
ou inova uma ltima vez para investir em massa nessa inovao (burocracia
estilo mquina). Com isso, a organizao sai do foco de verdadeira
solucionadora de problemas e pode, alm de perder a capacidade de inovar,
se destruir.
-
52
4.1.5 Organizao Diversificada
Figura 35 - Organizao diversificada
Fonte: Mintzberg, 2006
A organizao diversificada proposta por Mintzberg (2206) constituda por
um conjunto de entidades semi-autnomas (as divises) que so unidas por uma
estrutura administrativa central. Essa estrutura dividida ocorre porque as linhas de
produo so diversificadas, ocorrendo, normalmente, em organizaes maiores e
mais maduras.
A administrao central responsvel pelo controle das divises,
estabelecendo padres a serem atingidos por elas e monitorando os resultados.
Com isso, a coordenao entre o escritrio central e as divises ocorre por meio da
padronizao de resultados e a linha intermediria bastante importante, uma vez
que os gerentes do escritrio central precisam ter contato prximo com as divises.
A composio em divises acontece, geralmente, com base no mercado e
cada diviso possui bastante autonomia, constituindo, praticamente, uma empresa
por si s que deve estar alinhada com a estratgia geral estabelecida pela
administrao central. Este alinhamento medido atravs dos resultados atingidos
pela diviso, que so padronizados e monitorados pela administrao central da
organizao.
A organizao diversificada pode tanto surgir atravs do agrupamento de
diferentes organizaes sob um escritrio central comum, como tambm quando
uma organizao mquina diversifica seu portflio de produtos e servios. Para
estes dois casos, o impulso da diversificao a diversidade de mercados de
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53
atuao, que pode ser diverso em trs dimenses: produtos e servios, clientes e
geografia.
As principais vantagens da organizao diversificada so a maior facilidade
de alocao eficiente de capital, uma vez que existem mais opes, o treinamento
de gerentes gerais, uma vez que os gerentes das divises administram empresas
individuais e a diviso do risco entre vrios negcios, diminuindo o risco geral da
empresa. Por outro lado, as desvantagens da estrutura diversificada se encontram
nos elevados custos organizacionais e na possibilidade de conflitos entre as
unidades.
4.1.6 Organizao Missionria
Figura 36 - Organizao missionria
Fonte: Mintzberg, 2006
A estrutura organizacional missionria bastante diferente das outras
estruturas apresentadas anteriormente. Neste tipo de organizao, os membros so
dominados por uma ideologia comum, que permite pouca diviso do trabalho e
especializao das tarefas.
O mecanismo de coordenao principal a padronizao das normas, que,
assim como os valores e crenas, so compartilhadas por todos os membros
(missionrios) da organizao, gerando elevada doutrinao. Com essa doutrinao,
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a estrutura bastante descentralizada, com todos os participantes tendo
considervel poder de deciso.
Do ponto de vista dos fatores situacionais, as organizaes missionrias
tendem a ser jovens, pequenas, para permitir o contato pessoal dos membros, e
tanto o sistema tcnico como o ambiente no devem ser complexos para que no
haja a necessidade de pessoal especializado que causaria diferenciaes na
estrutura. Este tipo de estrutura comum em entidades religiosas.
4.1.7 Organizao Poltica
Figura 37 - Organizao poltica
Fonte: Mintzberg, 2006
A ltima forma de organizao proposta por Mintzberg (2006) a organizao
poltica, que diferentemente das outras estruturas apresentadas, no possui
nenhuma das seis partes bsicas em destaque e nenhum mecanismo de
coordenao predominante. Por no possuir estrutura bem definida e sofrer
presses de separao em todas as direes (conforme figura 37), as organizaes
polticas geralmente tm dificuldade para lidar com conflitos internos.
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4.2 Empresas Familiares
4.2.1 Conceitos
Empresas familiares (family business) so negcios (pblicos ou privados)
controlados majoritariamente por membros de uma famlia ou grupo de famlias. Este
tipo peculiar de negcio abrange uma variedade de empresas em todos os setores
da economia, podendo englobar desde a pequena loja de convenincia de bairro
com alguns empregados at enormes conglomerados internacionais com dezenas
de milhares de funcionrios.
A empresa familiar o tipo de negcio predominante ao redor do mundo,
ainda que esta predominncia passe despercebida para a maioria das pessoas.
Com relao a esta predominncia, os artigos mais conservadores estimam que
entre 65% e 80% das empresas do mundo podem ser classificadas como familiares
(gerenciadas e/ou de propriedade), segundo o Massachusetts Mutual Life Insurance
Company, 1994 e Arthur Andersen & Co., 1995 apud Gersick et al., 1997. Nos
Estados Unidos, por exemplo, metade do PIB e metade da mo de obra empregada
proveniente de empresas familiares e estima-se que 40% das empresas listadas
na Fortune 500 sejam deste tipo (Zeitlin, 1976 apud Gersick et al., 1997).
Alguns exemplos (retirados de materiais internos e da Fortune 500) de
grandes empresas de propriedade e/ou controle familiar so: Wal-Mart, Cargill,
McGraw-Hill, Caterpillar, Inc., Ford Motor Co., Samsung, Carrefour, Gap, Tata,
Votorantim, Camargo Corra, Odebrecht, Gerdau, C&A etc.
De maneira simplificada, existem trs grandes grupos de empresas familiares:
Privada com propriedade total da famlia: a famlia detm 100% das aes
votantes da empresa. Exemplo: Camargo Corra S.A. (Relatrio Anual
Camargo Corra S.A. Exerccio 2009, 2010).
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Figura 38 - Empresa familiar privada com propriedade total da famlia
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
Privada com controle majoritrio da famlia: a famlia detm pelo menos 50%
das aes votantes da empresa e o restante fica sob controle de outros
acionistas privados. Exemplo: Odebrecht S.A. (Relatrio Anual Odebrecht
S.A. Exerccio 2009, 2010).
Figura 39 - Empresa familiar privada com controle majoritrio da famlia
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
Pblica com controle majoritrio da famlia: a famlia detm pelo menos 50%
das aes votantes da empresa e o restante compartilhado entre o mercado
(flutuante) e outros acionistas privados. Exemplo: Porto Seguro S.A.
(Relatrio Anual Porto Seguro S.A. Exerccio 2009, 2010).
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Figura 40 - Empresa familiar pblica com controle majoritrio da famlia
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
A grande peculiaridade da empresa familiar que ela engloba no mesmo
ambiente e ao mesmo tempo duas das principais partes da vida de muitas pessoas,
a famlia e o trabalho. Sendo assim, possvel imaginar que o papel de um
presidente do conselho de uma empresa seja diferente quando seus pais so
fundadores e seus irmos fazem parte do conselho ou o trabalho de um CEO seja
diferente quando a vice-presidente sua irm, por exemplo. Essas diferenas
ocorrem pela influncia da cultura e das relaes familiares nas relaes
profissionais.
Estas diferenas que tornam as companhias gerenciadas por famlias
especiais e complexas tm consequncias positivas e negativas. Em se tratando dos
pontos positivos, a organizao se fortalece, uma vez que os participantes
compartilham histrias, identidade e linguagens; as tradies, valores e prioridades
tm a mesma fonte; a comunicao verbal e no-verbal mais gil. Estes fatores
criam intimidade, entendimento e conhecimento tpicos de famlias e podem ajudar
na tomada de decises que, por tal ligao familiar, se direcionem para o bem-estar
geral. Assim, as empresas familiares podem criar nveis de engajamento,
investimentos de longo prazo, agilidade e confiana que uma empresa no familiar
almeja, mas raramente alcana.
Por outro lado, a mesma intimidade pode atuar contra o profissionalismo
exigido de um comportamento executivo. Histrias e dinmicas familiares podem
intervir nas relaes de negcio de tal maneira que a autoridade seja mais difcil de
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ser exercida e os papeis na famlia e no negcio se tornem confusos, por exemplo.
Alm disso, presses do trabalho podem desgastar as relaes familiares de tal
maneira que os nveis de tenso, confuso e desespero podem destruir bons
negcios e famlias saudveis rapidamente.
4.2.2 Principais Conflitos
A maneira mais simples de comear a entender as empresas familiares
analisando-as por dois sistemas principais: a famlia e o negcio. Este estudo em
separado evidencia os principais conflitos caractersticos deste tipo de empresa,
uma vez que estes surgem pelo fato de indivduos terem que cumprir obrigaes nos
dois sistemas. Com isso, encontrar estratgias que satisfaam os dois sistemas ao
mesmo tempo um dos fatores crticos de sucesso para as empresas familiares.
Os complexos sistemas de empresas familiares criam quatro reas principais
de conflitos entre famlia e negcio: uso de recursos, mtodo de colaborao da
famlia, natureza do Conselho e mecanismos de definio de objetivos. Tais reas
de conflito sero descritas na sequncia e, apesar de, para melhor entendimento, a
explicao focar nos extremos das reas de conflitos, existem condies
intermedirias. A descrio desses principais conflitos se baseia em materiais
interno.
O primeiro conflito, uso de recursos, est relacionado demanda entre a
riqueza da famlia e a sade financeira do negcio.
Figura 41 - Conflito uso de recursos
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
As principais influncias do lado familiar esto relacionadas presso familiar
por dividendos e ao uso do negcio para propsitos pessoais. No caso extremo, a
presso familiar pode causar a queda do valor do negcio por falta de investimento e
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liquidez e o uso equivocado do negcio, aumentando os custos da empresa, riscos
de aes judiciais e disputas familiares.
Analisando o lado do negcio, os fatores de influncia esto relacionados com
a priorizao de investimentos no negcio (ainda que com taxas de retorno menores
que as esperadas pelos acionistas). No caso extremo de influncia do lado do
negcio, as taxas de retorno para a famlia podem ser baixas, uma vez que o capital
investido no negcio.
O segundo conflito, mtodo de colaborao da famlia, est relacionado com
a necessidade de incluir todos os membros da famlia em um sistema familiar e a
necessidade de garantir desempenho competente no negcio.
Figura 42 - Conflito mtodo de colaborao da famlia
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
Os principais fatores de influncia pelo lado da famlia esto relacionados com
a presso para usar o negcio como fonte de emprego de membros da famlia,
muitas vezes no preparados para participar do negcio. No cenrio mais crtico,
surgem membros da famlia mal qualificados cuidando do negcio, falta de
atratividade para profissionais externos e falta de imparcialidade nas decises de
negcio
Em se tratando do lado do negcio, os principais fatores de influncia surgem
a partir de presses para contratar os melhores profissionais disponveis e do desejo
de os membros mais qualificados da famlia controlarem as decises do negcio e
da famlia. No caso extremo, surgem membros da famlia com viso limitada do
negcio, dos desafios e dos desenvolvimentos futuros (j que grande parte do
negcio controlada por membros que no fazem parte da famlia) e a famlia pode
se desagregar devido aos interesses do negcio.
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O terceiro conflito, natureza do Conselho, est relacionado com a
necessidade de garantir liderana e controle familiar sobre o negcio em
contraposio a uma liderana mais independente e guiada pelo mercado.
Figura 43 - Conflito natureza do Conselho
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
As principais fontes de influncia criadas pela famlia tm relao com a
necessidade de garantir superviso e direo familiar sobre as decises do negcio
e com a necessidade da representao familiar no Conselho. No caso extremo,
estes fatores de influncia fazem com que as rivalidades familiares internas venham
tona no processo de deciso do Conselho e tornam as perspectivas de negcio
limitadas por parte da famlia.
Considerando o ngulo do negcio, os fatores de influncia so criados pelas
presses do mercado em busca de Conselhos independentes e pela diversidade no
Conselho para garantir um melhor entendimento das foras que impactam os
negcios. Assim, no caso mais extremo, as decises tomadas no esto alinhadas
com os valores da famlia e ocorre a falta de envolvimento da famlia com a perda da
caracterstica empreendedora por parte dos membros da famlia.
O ltimo conflito, mecanismos de definio de objetivos, est relacionado com
a dicotomia entre foco na viso de longo prazo para a famlia e o negcio e a
garantia de resultados de curto prazo.
Figura 44 - Conflito mecanismos de definio de objetivos
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
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Os principais fatores que influenciam o lado da famlia esto relacionados
com o anseio de continuidade da riqueza e legado familiar e com o desejo de criar
impacto de longo prazo alm da recompensa econmica. Estes fatores de influncia,
se tomados no caso mais extremo, geram menor retorno do negcio, baixo senso de
urgncia para as necessidades de curto prazo e falta de reconhecimento dos
resultados de curto prazo.
Analisando o lado do negcio, as principais fatores de influncia so
provenientes da presso do mercado pela realizao de resultados de curto prazo e
pelos mecanismos de remunerao de executivos focados no curto prazo. O caso
extremo de influncia de tais fatores pode causar a destruio do valor do negcio
no longo prazo e a falta de viso de longo prazo do negcio.
As quatro reas de conflitos explicadas podem ser visualizadas em conjunto
na figura 45, abaixo.
Figura 45 - Principais conflitos da empresa familiar
Fonte: Elaborado pelo autor com base em documentos internos
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4.2.3 Abordagem
Para melhor estudar as empresas familiares, tentando maximizar suas
vantagens e minimizar os conflitos inerentes a este tipo de organizao, preciso
utilizar uma abordagem sistmica que integre no somente a famlia e o negcio,
mas tambm a propriedade (ou sociedade). Estes trs domnios, famlia, negcio e
propriedade so o cerne da abordagem sistemtica de Gersick et al. (1997) para
tratar deste tipo especial de empresa. Os trs domnios funcionam para o sistema da
empresa familiar como subsistemas independentes que contm superposies da
a integrao entre eles.
Figura 46 - Modelo de trs domnios da empresa familiar
Fonte: Gersick et al., 1997
As famlias existem para cuidar de seus membros, proporcionar segurana e
refgio em um mundo cujas relaes so cada vez mais profissionais. O sucesso da
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esfera famlia medido em termos de harmonia, unidade e desenvolvimento de
pessoas felizes com slida e positiva auto-estima. Investimento social da famlia e
regras de participao da famlia nos negcios so temas que fazem parte da esfera
famlia.
A esfera negcio representa as entidades econmicas em que o sucesso
medido em termos de produtividade e lucratividade. O modelo de gesto dos
negcios, que inclui processos, governana e aladas de deciso, um dos temas
principais da esfera negcio.
Por ltimo, a esfera propriedade baseada em um conjunto de regras em que
o sucesso medido em termos de retorno sobre o investimento, proteo sobre os
interesses dos proprietrios e em termos de valores e filosofia de negcio para os
mesmos.
A existncia de trs esferas faz com que uma mesma pessoa possa ser vista
segundo trs lentes diferentes. Considerando dois participantes, por exemplo, com a
lente famlia, tais pessoas poderiam ser pai e filha, olhando para a lente negcio, as
mesmas pessoas poderiam ser o CEO e a gerente de marketing da empresa e, por
fim, sob a lente da propriedade, as pessoas poderiam ser o presidente do Conselho
dos acionistas com 30% das aes e uma acionista com 10% das aes.
Os trs domnios distintos que compem o modelo se superpem, permitindo
que um indivduo possa se situar em cada um dos sete diferentes setores que
compem o sistema. Indivduos que tm mais de uma conexo ou funo estaro
em uma das zonas de interseco das esferas. Os sete locais que os indivduos
podem ocupar so:
1. Membros da famlia
2. Funcionrios que no so membros da famlia nem proprietrios
3. Proprietrios que no fazem parte da famlia nem so funcionrios
4. Membros da famlia que tambm so proprietrios
5. Membros da famlia empregados no negcio
6. Proprietrios empregados no negcio sem serem membros da famlia
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7. Membros da famlia que so proprietrios e empregados no negcio
Figura 47 - Participantes da empresa familiar
Fonte: Gersick et al., 1997
Os trs domnios da empresa familiar podem ser comparados segundo
algumas dimenses, conforme consolidao na tabela abaixo, baseada em Hoover e
Hoover (1999):
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Tabela 1 - Comparao dos trs domnios
Famlia Negcios Propriedade
Medida de sucesso
Harmonia Produo ROI (Return on
Investment)
Autoridade Igual Desigual Igual ou desigual
Recompensas financeiras
De acordo com necessidade
Baseada em produtividade
Baseada em o que criado ou no que
sobrou
Localizao da importncia
Aspiraes individuais
Metas corporativas Lucratividade
Regras de incluso
Aceitao incondicional
Dependente da contribuio
Merecido ou adquirido
Fonte: Adaptado de Hoover e Hoover, 1999
A abordagem proposta por Gersick et al. (1997) constitui uma ferramenta
muito til para entender as fontes dos conflitos entre as pessoas, as confuses de
papeis, prioridades e fronteiras nas empresas familiares. A especificao de
diferentes papeis e subsistemas ajuda a fragmentar a complexa interao dentro da
empresa e torna mais fcil a identificao do que est acontecendo na realidade.
Assim, a identificao do local no modelo dos trs domnios em que um indivduo
est permite que as aes, decises e comportamentos de tal indivduo sejam mais
bem compreendidos, facilitando a anlise e a proposio de medidas de melhoria.
O modelo dos trs domnios descrito anteriormente tem aplicao instantnea
para qualquer empresa familiar para um determinado momento no tempo, o que
muito relevante para o entendimento da empresa. No entanto, muitos dos desafios
das empresas familiares so causados pela passagem do tempo, envolvendo
mudanas na organizao, na famlia e no compartilhamento da propriedade. Por
exemplo, a primeira gerao da famlia envelhece e se aposenta de tal maneira que
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o negcio deve passar a ser controlado pela prxima gerao, causando mudanas
importantes para todas as esferas da empresa.
Ao considerar a passagem do tempo, pode-se facilmente perceber como cada
um dos trs crculos se modifica com a entrada e sada de pessoas, uma vez que
ocorrem entradas atravs de nascimentos e casamentos e sadas por separaes e
mortes na dimenso famlia. Na dimenso de negcios gerentes entram e saem com
frequncia das empresas. Por fim, na dimenso da propriedade, novos proprietrios
assumem responsabilidades enquanto os antigos abandonam suas funes. Outro
tipo de mudana ao longo do tempo ocorre com migraes de indivduos entre os
sete possveis locais das trs dimenses, causando reaes diversas em toda a
empresa.
A adio da dimenso tempo no modelo de trs dimenses resulta em um
modelo de desenvolvimento da empresa familiar, proposto por Gersick et al. (1997).
Cada um dos trs subsistemas (propriedade, famlia e negcio) possui uma
dimenso prpria de desenvolvimento, cuja sequncia, apesar de influenciar o
desenvolvimento das outras dimenses, independente, possuindo um ritmo prprio
de progresso. Este modelo de desenvolvimento da empresa familiar pode ser
ilustrado pela figura abaixo:
Figura 48 - Modelo de desenvolvimento da empresa familiar
Fonte: Gersick et al., 1997
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Considerando os trs eixos conjuntamente, forma-se um espao
tridimensional no qual possvel localizar qualquer empresa familiar e seu progresso
em cada um dos trs eixos que constituem o espao. Assim, uma organizao
possui caractersticas prprias de acordo com a condio de evoluo em cada uma
das dimenses e, conforme haja mudana de estgio em qualquer dimenso, a
organizao toma novas formas, com novas caractersticas. Na sequncia, sero
descritas cada uma das dimenses em mais detalhes.
4.2.4 Dimenso Propriedade
A primeira dimenso do modelo descreve o desenvolvimento da propriedade
ao longo do tempo. Segundo Gersick et al. (1997) esta dimenso pode ser bem
explorada atravs de trs estgios principais: Proprietrio Controlador, Parceria
entre Irmos e Consrcio de Primos.
Figura 49 - Dimenso propriedade
Fonte: Gersick et al., 1997
O estgio Proprietrio Controlador constitui, em geral, a maneira como a
maioria das empresas familiares funda