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I. O Ambiente da Visão (v. 9-11) 1. Onde João estava? “... achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.” – Quando ele recebeu essa visão, João estava exilado na ilha de Patmos. Uma ilha vulcânica e a árida no Mar Egeu, com cerca de dez milhas de comprimento e 6 milhas de largura, localizada a cerca de 60 km de Mileto (uma cidade na Ásia Menor, cerca de trinta quilômetros ao sul de Éfeso, cf. Atos 20.15-17), a qual [ Apocalipse 1.9-20 ]

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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

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Estudo Três:

A Visão de Jesus Glorificado [ Apocalipse 1.9-20 ]

O livro de Apocalipse foi escrito em uma época muito crítica. Na realidade,

crítica apenas para os cristãos, os quais se opuseram ao paganismo de Roma e à religião estatal, expressa no culto ao imperador divinizado. Os cristãos, ao se recusarem a tomar parte naquelas cerimônias, foram considerados inimigos de Roma e foram perseguidos até a morte.

O próprio João foi banido para a ilha de Patmos, e pelo menos uma pessoa, um pastor, já tinha sido morta (Apocalipse 2.13). Diante disto, os cristãos precisavam desesperadamente de incentivos. Os leitores de João ficaram confortados em saber que Cristo um dia retornaria em glória e derrotaria seus inimigos. Porém, é maravilhoso perceber que a visão de Jesus Cristo no capítulo 1, não descreve Jesus na Sua glória futura, mas mostra-o no presente, como o Senhor glorificado da igreja.38 Apesar de todas as decepções, o Senhor não havia abandonado Sua igreja ou Suas promessas. Essa poderosa visão do ministério Cristo deve ter propiciado uma grande esperança e conforto aos que estavam sofrendo perseguição. Os versos de 9 a 20 mostram o ambiente, o desdobramento e os efeitos da visão.

I. O Ambiente da Visão (v. 9-11) 9 Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. 10 Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, 11 dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.

O Livro de Apocalipse nasceu de uma experiência espiritual profunda de João

durante o exílio na ilha de Patmos. O apóstolo João, um dos doze discípulos de Jesus e autor de um evangelho e três epístolas, se identifica apenas como “irmão vosso”. Ele escreve como uma testemunha da revelação de Jesus Cristo, e também, de forma humilde, como “companheiro na tribulação”. Ele também se identificou como companheiro da perseverança. A palavra “perseverança” (Hupomonē) literalmente significa “permanecer sob”. Fala sobre suportar pacientemente as dificuldades sem desistir.

1. Onde João estava? “... achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do

testemunho de Jesus.” – Quando ele recebeu essa visão, João estava exilado na ilha de Patmos. Uma ilha vulcânica e a árida no Mar Egeu, com cerca de dez milhas de comprimento e 6 milhas de largura, localizada a cerca de 60 km de Mileto (uma cidade na Ásia Menor, cerca de trinta quilômetros ao sul de Éfeso, cf. Atos 20.15-17), a qual

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MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (39). Chicago: Moody Press.

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servia de porto para Éfeso.39 Segundo o historiador romano Tácito, o exílio nessas ilhas era uma forma comum de punição no primeiro século. Ao mesmo tempo, quando João foi banido para Patmos, o Imperador Domiciano exilou sua própria sobrinha, Flávia Domitila, em outra ilha. Ao contrário de Flavia Domitila, cuja expulsão tinha motivação política, João foi enviado, provavelmente, para Patmos como um criminoso (como um cristão, alguém que era membro de uma seita religiosa ilegal).40 Nessa ilha o trabalho era exaustivo, e eram realizados debaixo dos olhos atentos e chicote pronto de um inspetor romano. Além do mais, a alimentação e as vestes eram insuficientes, e os presos tinha que dormir no chão, o que foi muito complicado para um homem idoso de noventa anos.

É triste observar que o único crime que João cometeu foi à fidelidade à palavra de Deus e do testemunho de Jesus. João sofreu o exílio por sua fidelidade, inequívoca, e intransigente pregação do evangelho de Jesus Cristo.

2. Quem e quando falou com João? “Achei-me em espírito, no dia do Senhor...” – João recebeu a sua visão

enquanto estava em Espírito; sua experiência transcendeu os limites da compreensão humana. Nesse estado, Deus de maneira sobrenatural revelou coisas maravilhosas ao servo. O profeta Ezequiel (Ezequiel 2.2; 3.12, 14), os apóstolos Pedro (Atos 10.9) e Paulo (Atos 22.17-21; 2Co 12.1) tiveram experiências semelhantes.

Este é o único lugar no Novo Testamento onde esse dia é assim descrito, pois em outros lugares ele é referido como o primeiro dia da semana. É o dia da ressurreição do Senhor, e no fim do primeiro século os cristãos já tinham começado a indicá-lo não como sendo o primeiro dia da semana, mas o dia do Senhor.41

3. O que João ouviu? “... e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O que

vês escreve em livro e manda às sete igrejas...” – João ouve atrás dele uma voz forte que soava como trombeta. Para ele, o som dessa forte voz foi inesperada e surpreendente. A forte voz (cf. Ez. 3.12) era do Senhor Jesus Cristo (cf. v. 12-13 , 17-18). Ao longo do livro do Apocalipse, uma voz ou som indicam a solenidade que está prestes a ser revelada (cf. 5.2, 12; 6.10, 7.2, 10; 8.13, 10.3, 11.12, 15; 12.10 ; 14.02, 15, 18, 16.1, 17; 19.1, 17; 21.3). Esta cena se parece muito com a entrega da Lei no Sinai (Êx 19.16).

A voz soberana do céu mandou que João “Escrevesse em um livro (ou rolo) o

que via”. Esta é a primeira das doze ordens no livro de Apocalipse para João escrever o que viu (cf. v. 19; 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14; 14.13, 19.9, 21.5), em outra ocasião, ele foi proibido de escrever (10.4).

4. Para quem João escreveu? “... O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna,

Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia” – Depois de escrever a visão, João deveria enviá-la às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e 39

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 126. 40

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (40). Chicago: Moody Press. 41

FF Bruce, Novo Testamento, História [Garden City, NY: Doubleday, 1972], p. 413.

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Laodicéia. Conforme Simon Kistemaker, essas foram igrejas onde o apóstolo João servia antes de ser exilado em Patmos. Agora Jesus tem algo a dizer a cada uma dessas sete congregações. João recebe a ordem de escrever as cartas e de providenciar para que sejam enviadas e entregues nos respectivos endereços.42

As sete cidades aparecem na ordem em que um mensageiro, viajando na grande estrada circular que ligava a elas, iria visitá-los. Após o desembarque em Mileto, o mensageiro ou mensageiros tendo o livro de Apocalipse, teria viajado ao norte de Éfeso (cidade mais próxima de Mileto), então em um círculo no sentido horário para Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. Cópias do Apocalipse teriam sido distribuídas para cada igreja.

II. O Desdobramento da Visão (1.12-16, 20) Depois de contar minuciosamente as circunstâncias em que recebeu a

mensagem, o apostolo João passa a relatar a visão. É uma revelação rica e instrutiva sobre o trabalho do Filho de Deus glorificado em favor de sua igreja. É importante ressaltar que, a descrição que João faz de Jesus Cristo deve ser interpretada não literalmente, mas simbolicamente. Ele descreve sete características de Jesus Cristo como: Aquele que capacita, intercede, purifica, fala com autoridade, controla, protege, e reflete a Sua glória através de sua igreja.

1. Cristo Capacita a Sua Igreja (1.12-13 a, 20 b) “Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de

ouro e, no meio dos candeeiros...” – No início da visão, João estava de costas para a voz, então ele se virou para ver quem estava falando. João viu sete candeeiros de ouro, identificados no verso 20, como as sete igrejas. Estes candeeiros simbolizam as igrejas como luzeiros no mundo (Fp 2.15). Eles são de ouro, porque o ouro era o metal mais precioso. A igreja é de Deus, a mais bela e valiosa entidade sobre a Terra, tão preciosa que Jesus entregou a própria vida a vim de comprá-la com seu sangue (Atos 20.28). Sete é o número da perfeição (Êx 25.31-40; Zc 4.2), portanto, as sete igrejas simbolizam as igrejas em geral.

“... semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do

peito, com uma cinta de ouro” – No meio dos candeeiros, João viu um como o Filho do homem (cf. Dn 7.13), o Senhor glorificado movendo-se entre suas igrejas. Jesus prometeu Sua presença contínua com a sua igreja (Mateus 28.20). Na noite antes da Sua morte, Jesus prometeu aos Seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para

vós outros... Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e

viremos para Ele e faremos nEle morada” (João 14.18, 23). Em Hebreus 13.5 está escrito: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”.

E maravilhoso observar que, os cristãos não adoram um mártir bem-intencionado, um heróico líder religioso morto. Nós adoramos um Cristo vivo que habita em sua igreja para liderar e fortalecê-la.43 A presença do Senhor Jesus Cristo na

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KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 129. 43

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (44). Chicago: Moody Press.

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sua Igreja lhe confere poderes, permitindo que os crentes possam dizer triunfantes como o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).

2. Cristo Intercede por Sua Igreja (1.13b) “... No meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes

talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro” – A primeira coisa que João percebeu foi que Cristo estava vestido com uma túnica até aos pés (cf. Is 6.1). Tais túnicas eram usadas pela realeza (por exemplo, os reis de Midiã, Juízes 8.26; Jônatas, 1Sm 18.4; Saul 1Sm 24.4; Acabe e Josafá, 1Reis 22.10; Ester, Et 5.1 e os profetas (cf. 1Sm 28.14).

Mas a palavra “vestes talares” também refere-se ao manto usado pelo sumo sacerdote. Enquanto Cristo é biblicamente apresentado como profeta e rei, em sua majestade e dignidade, o manto aqui, descreve a imagem de Cristo em seu papel como o Grande Sumo Sacerdote do Seu povo.44 João diz que ele tinha no peito uma “cinta de ouro” que reforça esta interpretação, uma vez que o sumo sacerdote no Antigo Testamento usava uma faixa (cf. Êx 28.4 Lv 16.04).

Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo, uma vez ofereceu o sacrifício perfeito e completo por nossos pecados, e permanentemente e fielmente intercede por nós (Rm 8.33-34, Hb 2.18, 4.15).

3. Cristo Purifica sua Igreja (1.14-15a) “A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos,

como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas” – Após descrever a roupa de Cristo no versículo 13, João descreve a sua pessoa nos versos 14 e 15.

“Cabeça e cabelos brancos como alva lã” – Essa descrição é uma óbvia

referência a Daniel 7.9, onde a linguagem similar descreve o Ancião de Dias (Deus Pai). Ou seja, Jesus Cristo possui o mesmo atributo do santo conhecimento e sabedoria Deus Pai.

“Os olhos como chama de fogo...” – João percebeu que seus olhos eram como

chamas de fogo (cf. 2.18; 19.12). Isto é, seu olhar é capaz de penetrar nas profundezas de Sua igreja, revelando-lhe com clareza a realidade de tudo que está escondido. Jesus declarou: “Não há nada escondido que não venha ser revelado, nem oculto que não

será conhecido” (Mt 10.26; Hb 4.13). O Senhor onisciente da Igreja não deixará de reconhecer e lidar com o pecado na Sua Igreja. Ele é o juiz soberano, e todas as coisas estão patentes aos seus olhos.

“... Os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha

Cristo pés que eram como bronze polido...” – Nos tempos antigos, os reis sentavam-se em um trono elevado, então aqueles que estavam sendo julgados deveriam prostrar-

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MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (44). Chicago: Moody Press.

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se sob os seus pés. Os pés de um rei, assim, simbolizam a sua autoridade.45 Por semelhante modo, o Senhor Jesus Cristo move-se através de sua igreja para exercer sua autoridade de disciplina, pronto para lidar com a dor da correção, quando necessário (Hb 12.5-10).

4. Cristo Fala com Autoridade à Sua Igreja (1.15b) “... e sua voz era como o som de muitas águas” – João mais uma vez ouviu a

voz de Cristo, mas desta vez, não era um som de trombeta como no versículo 10. A voz tinha o som de muitas águas (cf. 14.2; 19.6), o rugido familiar e poderoso das ondas quebrando nos costões rochosos de Patmos, para comunicar a imagem da insistência do mar que é poderosamente persistente e incansável. No Antigo Testamento o profeta Ezequiel descreveu a voz de Deus como “o som de muitas águas”. Esta passagem é agora atribuída a Jesus. Esta é a voz do poder soberano, a voz da autoridade suprema, a própria voz que um dia ordenará aos mortos que saiam dos túmulos (João 5.28-29).

5. Cristo Controla a sua Igreja (1.16a; 20a) “... Tinha na mão direita sete estrelas... Quanto ao mistério das sete estrelas

que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas...” – Como o cabeça de Sua igreja (Ef 4.15; 5.23; Cl 1.18), e o governante do “Reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13), Cristo exerce a autoridade em Sua Igreja. Na visão de João, Jesus Cristo está segurando em sua mão direita sete estrelas (cf. 2.1, 3.1), que são descritas no verso 20 como os anjos das sete igrejas, que simbolizava as autoridades.

A palavra “anjos” (Angeloi em grego) é um termo comum no Novo Testamento para os anjos, o que levou alguns intérpretes a concluir que os anjos são os responsáveis pelas igrejas nesta passagem. Mas, em nenhum lugar no Novo Testamento encontramos os anjos estão envolvidos na liderança da igreja. Logo, Angeloi é melhor traduzido como “mensageiros”, como em Lucas 7.24, 9.52 e Tiago 2.25. Os “anjos” descritos no verso 16 são os mensageiros de Deus designados para servi-lo nas sete igrejas (2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14).46

Esses “sete homens” demonstram a função dos líderes espirituais da igreja. Eles são instrumentos através do qual Cristo, o cabeça da igreja, dá as Suas ordens. É por isso que as normas para a liderança no Novo Testamento são tão elevadas. Para ser designado como um intermediário através do qual o Senhor Jesus Cristo controla a Sua Igreja é ser chamado para uma responsabilidade muito séria (cf. 1Tm 3.1-7; Tito 1.5-9).

6. Cristo Protege a Sua Igreja (1.16b) “... e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes” – A presença do

Senhor Jesus Cristo também fornece proteção para sua igreja. A espada de dois gumes que saía da sua boca é usada para defender a igreja contra ameaças externas (cf.

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MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (46). Chicago: Moody Press. 46

George Ladd entende que tanto os candeeiros como as estrelas falam da igreja como luzeiros de Deus no mundo. Cristo está não apenas entre a igreja, mas a têm em suas próprias mãos.

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19.15, 21). Mas aqui ele fala principalmente de julgamento contra os inimigos de dentro da igreja (cf. 2.12, 16; Atos 20.30). Aqueles que atacam a igreja de Cristo, aqueles que semeiam mentiras, criam discórdias, ou prejudicam o seu povo, serão tratados pessoalmente pelo Senhor da igreja. Sua palavra é poderosa (cf. Hb 4.12-13), e será usado contra os inimigos do seu povo (cf. 2Ts 2.8), de modo que todo o poder das forças da trevas, incluindo a própria morte (“as portas do inferno”, Mateus 16.18), serão incapazes de impedir o Senhor Jesus Cristo de edificar a Sua igreja.

7. Cristo reflete sua glória através de sua igreja (1.16c) “Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de

dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força” – A visão de João sobre Jesus Cristo glorificado culminou com esta descrição da glória radiante evidente em seu rosto, João só foi capaz de descrevê-lo como o sol brilhando em sua força. Porém, a luz do sol (Jesus Cristo) supera o brilho dos candeeiros. João pega a frase emprestada de Juízes 5.31, onde descreve aqueles que amam o Senhor (cf. Mt 13.43). A glória de Deus através do Senhor Jesus Cristo brilha através de Sua Igreja, refletindo a Sua glória ao mundo (cf. 2Co 4.6). E o resultado é a glória de Cristo (Ef 3.21).

III. Os Efeitos da Visão (1.17-19)

17 Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último 18 e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno. 19 Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas.

A visão de Jesus Cristo e sua aparência glorificada foi algo forte demais para

João, não tanto por causa da fragilidade humana, mas como escreve Kistemaker, “por causa da consciência de sua total indignidade em contemplar a glória de Cristo.”47 Ele caiu aos pés de Jesus, ele teve medo, depois sentiu-se seguro e por fim entendeu a sua responsabilidade.

1. Medo (1.17a) “Quando o vi, caí a seus pés como morto...” – De uma maneira similar à sua

experiência com a glória de Jesus no monte da Transfiguração mais de seis décadas antes (cf. Mt 17.6), João foi novamente dominado pelo medo da manifestação da glória de Cristo e caiu a Seus pés como um homem morto. Esse medo é o padrão para poucos que experimentaram tais visões celestiais (Os profetas: Daniel, Dn 10.8-9; cf 8.17; Isaías, Is 6.5 e Ezequiel 1.28; 3.23; 9.8; 43.3, 44.4; Manoá, Jz 13.22; o paciente Jó, Jó 42.5-6 e o apóstolo Paulo, Atos 26.13).

Em contraste com as falsas, arrogantes e tolas reivindicações de muitos em nossos dias que afirmam ter visto Deus, a reação das pessoas nas Escrituras que realmente viram a Deus foi, inevitavelmente, um pavor48. Aqueles que ficaram face a

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KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 137. 48

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (50). Chicago: Moody Press.

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face com a glória flamejante do Senhor Jesus Cristo ficaram apavorados, pois estavam diante da santa presença do Filho de Deus. O escritor aos Hebreus exorta os cristãos a “oferecer a Deus de modo agradável, com reverência e temor, porque nosso Deus é um

fogo consumidor” (Hb 12.28-29).

2. Garantia (1.17 b -18) “Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o

primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” – Assim como fez no monte da Transfiguração (Mt 17.7), Jesus novamente colocou a mão direita sobre João e o consolou. Este é um toque de conforto e tranqüilidade. As palavras confortantes de Jesus: “Não tenhais medo” (literalmente, “pare de ter medo”) revelam Sua garantia de compaixão pelo apóstolo apavorado. É interessante observar que em toda a Escritura Sagrada encontramos palavras semelhantes de conforto pronunciadas por Deus àqueles que estavam oprimidos por sua majestosa presença (por exemplo, Gn 15.1; 26.24; Juízes 6.23; Mt 14.27, 17.7, 28.10).

“... Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive” – Em seguida,

Jesus se identifica como o primeiro e o último (cf. 2.8; 22.13), um título usado para Deus no Antigo Testamento (Isaías 44.6, 48.12; cf. 41.4). Enquanto os falsos deuses surgem e desaparecem, apenas Ele permanece. Note que Jesus não diz que está vivo, mas, é aquele que vive e que possui a vida eterna (Jo 5.26). Ou seja, Ele é o doador da vida (Jo 6.33; 1Jo 5.11), e da vida eterna. E assim, Ele é o grande “Eu sou” (Jo 8.58).49 A aplicação desse título para Jesus é mais uma prova poderosa de Sua divindade.

“... Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos...” – Jesus

fala a respeito de sua morte sacrificial na cruz do Calvário, onde venceu a morte (Hb 2.14, 15). O contraste é notável, pois aquele que é a vida permite que seu corpo se submeta à morte. Sua vida é imortal, indestrutível e imutável.

Apesar de seus pecados na presença do Senhor, João não tinha nada a temer, pois o Senhor Jesus pagou, com sua morte na cruz, o preço pelos pecados do apóstolo João, bem como de todos os seus filhos, e ressuscitado para ser o defensor da igreja eternamente.

“... E tenho as chaves da morte e do inferno...” – Kistemaker acertadamente

diz que, aquele que tem uma chave é capaz de destrancar portas que dão acesso a possessões, a tesouros e a segredos.50 Assim, possuir uma chave significa ter poder e autoridade. No entanto, ninguém na face da terra é capaz de reivindicar poder sobre a Morte e o Hades. Somente Jesus, que triunfou sobre a morte e o túmulo, possui as chaves para destrancá-los.

Hades é o equivalente no Novo Testamento ao termo Sheol e se refere ao lugar dos mortos. Ou seja, Jesus Cristo tem autoridade sobre a Morte e o Hades, e quando fala, ambos se submetem a Ele. Jesus é o Vitorioso que possui poder absoluto. Assim, o

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KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 138. 50

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 139.

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apóstolo João, bem como todos os redimidos, não têm nada a temer, pois Cristo já os livrou da morte e do inferno pela Sua própria morte (João 11.25, 14.19; (2Co 5.8; Fp 1.23; Hb 2.14-15).

3. Dever (1.19)

“Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas” – A surpreendente visão de João inspirou nele uma sensação saudável entre o medo e a segurança. Mas Jesus Cristo o advertiu acerca de sua responsabilidade. As ordens anteriores de Cristo para escrever agora são expandidas, João foi instruído a escrever três características. Primeiro, as coisas que tens visto, a visão que João tinha acabado de ver e registrado nos versículos 10-16. Em seguida, as coisas que são, uma referência às cartas às sete igrejas nos capítulos 2 e 3, que descrevem o estado atual da igreja. Por fim, o apóstolo João deveria escrever as coisas que hão de acontecer, as revelações proféticas que se desenvolvem nos capítulos 4 a 22. Essa ordem tríplice fornece um esboço do livro do Apocalipse, que abrange (a partir da perspectiva de João), o passado, presente e futuro. Assim, Jesus Cristo está no pleno controle de tudo quanto tem transcorrido, transcorre e transcorrerá.

Conclusão: O livro de Apocalipse é significativo para todas as igrejas ao longo dos séculos,

que existe hoje e que existirá. Destarte, a mensagem de Apocalipse, é uma palavra de conforto e segurança para todos os crentes do passado, do presente e do futuro.

“Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e uma conhecida pelo meu próprio” (João 10.14). Nesta era do computador, é fácil começar a sentir como um número em vez de uma pessoa. Nós somos identificados pelo nosso número de segurança social e não pelo nosso nome. Tais métodos impessoais podem levar algumas pessoas a sentir a falta de significado. Eles podem até concluir: “Ninguém se importa comigo”. Mas isso não é verdade. Jesus se importa. Na verdade, Ele conhece todos pelo nome.