ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA COMO … · principais atividades econômicas associadas aos...

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGROINDÚSTRIA FAMILIAR NO LITORAL PARANAENSE [email protected] Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade VALDIR FRIGO DENARDIN 1 ; LUIZ FERNANDO LAUTERT 2 ; MAYRA TAIZA SULZBACH 3 ; CLAUDINEI PEDROSO RIBAS 4 ; HUMBERTO PICCIN 5 . 1,2,3,5.UFPR, MATINHOS - PR - BRASIL; 4.SENAR, MATINHOS - PR - BRASIL. ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGROINDÚSTRIA FAMILIAR NO LITORAL PARANAENSE Grupo de Pesquisa: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão Territorial e Empreendedorismo no Litoral do Paraná Resumo Entre os produtos cultivados pelos agricultores familiares no Litoral paranaense destaca-se a cultura da mandioca (aipim), por contribuir para a segurança alimentar das famílias no meio rural e apresentar-se como atividade potencial para gerar renda, podendo ser comercializada in natura ou industrializada como farinha. O artigo tem como objetivo apresentar informações que possam subsidiar as atividades de intervenção nas agroindústrias de farinha de mandioca (farinheiras) no litoral do Paraná. As atividades foram desenvolvidas nos sete municípios do litoral paranaense, com a aplicação de questionários para obtenção de informações socioeconômicas e a respeito de dificuldades enfrentadas no processamento e comercialização da mandioca e seus derivados. Ao todo foram mapeadas 133 farinheiras, com localização e situação de funcionamento. Foi gerado um acervo digital destas farinheiras contendo registros fotográficos, audiovisuais e as coordenadas geográficas das agroindústrias. Com base no material produzido, identificaram-se dificuldades e potencialidades desta cultura. Conclui-se que a atividade possui grande potencial, entretanto se faz necessário adotar medidas eficientes de intervenção que visem superar os gargalos e impulsionar as potencialidades. Desta forma, tem-se a possibilidade de evitar o desaparecimento da atividade, que possui grande importância socioeconômica e cultural para a população tradicional do litoral do Paraná. Palavras-chave: Agricultura Familiar, Casas de Farinha; Comunidades Tradicionais. A Study of the Cassava Commodity Chain as a strategy for the development of the familiar agribusiness on the coast of Paraná Abstract

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA COMO ESTRATÉ GIA

PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGROINDÚSTRIA FAMILIAR NO LITORAL PARANAENSE

[email protected]

Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade VALDIR FRIGO DENARDIN1; LUIZ FERNANDO LAUTERT2; MAYRA TAIZA

SULZBACH3; CLAUDINEI PEDROSO RIBAS4; HUMBERTO PICCIN5. 1,2,3,5.UFPR, MATINHOS - PR - BRASIL; 4.SENAR, MATINHOS - PR - BRASIL.

ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DA MANDIOCA COMO ESTRATÉ GIA

PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGROINDÚSTRIA FAMILIAR NO LITORAL PARANAENSE

Grupo de Pesquisa: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão Territorial e Empreendedorismo no Litoral do Paraná

Resumo

Entre os produtos cultivados pelos agricultores familiares no Litoral paranaense destaca-se a cultura da mandioca (aipim), por contribuir para a segurança alimentar das famílias no meio rural e apresentar-se como atividade potencial para gerar renda, podendo ser comercializada in natura ou industrializada como farinha. O artigo tem como objetivo apresentar informações que possam subsidiar as atividades de intervenção nas agroindústrias de farinha de mandioca (farinheiras) no litoral do Paraná. As atividades foram desenvolvidas nos sete municípios do litoral paranaense, com a aplicação de questionários para obtenção de informações socioeconômicas e a respeito de dificuldades enfrentadas no processamento e comercialização da mandioca e seus derivados. Ao todo foram mapeadas 133 farinheiras, com localização e situação de funcionamento. Foi gerado um acervo digital destas farinheiras contendo registros fotográficos, audiovisuais e as coordenadas geográficas das agroindústrias. Com base no material produzido, identificaram-se dificuldades e potencialidades desta cultura. Conclui-se que a atividade possui grande potencial, entretanto se faz necessário adotar medidas eficientes de intervenção que visem superar os gargalos e impulsionar as potencialidades. Desta forma, tem-se a possibilidade de evitar o desaparecimento da atividade, que possui grande importância socioeconômica e cultural para a população tradicional do litoral do Paraná. Palavras-chave: Agricultura Familiar, Casas de Farinha; Comunidades Tradicionais.

A Study of the Cassava Commodity Chain as a strategy for the development of

the familiar agribusiness on the coast of Paraná Abstract

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Among the products cultivated by familiar growers on the coast of the Brazilian state of Paraná, the culture of cassava is remarkable: it is part of the regular diet of the families in the rural area, but also appears as a potential source of income, being sold either in natura or ground into flour. The aim of this paper is to provide supporting information to back up the interventional activities in cassava flour industries in seven municipalities on the coast of Paraná. The study, conducted by means of questionnaire, assesses socioeconomic information as well as information about the problems faced in the processing and trading of cassava and its products. 133 flour factories were mapped, along with their localization and working situation. A digital database has been generated, comprising photographs, audio-visual material and geographic coordinates of the factories. Based on this data, drawbacks and potentialities of the agribusiness were identified. In conclusion, the activity has a great potential, however there is a necessity for intervention to overcome bottlenecks and raise potentialities, thus, avoiding the disappearance of this activity, which is both economically and culturally important for the population of the coast of Paraná. Keywords: flour factories, traditional communities, familiar agriculture 1. Introdução

Os sete municípios que compões o litoral (Figura 1), segundo Estades (2005), podem ser agrupados em três grupos: os portuários (Paranaguá e Antonina), os rurais (Morretes e Guaraqueçaba) e os praiano-turísticos (Matinhos, Pontal do Paraná e Guaratuba). As principais atividades econômicas associadas aos três grupos são: o turismo, a agropecuária, a pesca, e o extrativismo vegetal, com ênfase para o palmito. A atividade portuária merece destaque na região, sendo o Porto de Paranaguá um dos maiores do Brasil e o maior exportador de grãos da América do Sul.

Figura 01 – Mapa do litoral do Paraná.

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Para Andriguetto Filho e Marchioro (2002) e Raynaut et al. (2002) as

heterogeneidades ambientais e sócio-econômicas da zona costeira paranaense são marcantes e de grande complexidade, podendo, resumidamente, serem caracterizadas como: i) uma grande variedade de ecossistemas, dos ambientes marinhos aos refúgios vegetacionais de altitude; ii ) existência de pelo menos 11 atividades agropecuárias ou extrativistas geradoras de renda, além de atividades de transformação como agroindústrias caseiras; iii ) uma variedade de situações culturais, no meio urbano e rural; iv) diferentes situações de acesso aos recursos, condicionadas pela posse da terra, capital, complexa legislação ambiental e grau de participação no mercado; e v) forte polarização industrial e urbana, com a presença do complexo portuário de Paranaguá e das áreas urbano-turísticas da orla sul.

A complexidade e heterogeneidade apresentada no Litoral dão origem a duas fortes contradições: de um lado, o valor da Região como patrimônio natural e para a proteção da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento que não corresponde aos potenciais regionais e ao sucesso de algumas atividades.

A Região, portanto, segundo Andriguetto Filho e Marchioro (2002: 159) “é marcada por uma série de problemas de gestão do desenvolvimento e da conservação, com graves conflitos fundiários, conflitos entre atividades econômicas, e entre práticas humanas e proteção ambiental”.

O litoral do Paraná foi a primeira região do Estado a ser colonizada. Porém, o fato de ter sido colonizada há séculos, não significa que a região se desenvolveu. Pelo contrário, o litoral paranaense é tido como uma região deprimida economicamente e que apresenta sérios problemas socioeconômicos. Andriguetto Filho e Marchioro (2002) e Estades (2003) afirmam que o litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do Estado e paradoxalmente, a região vem se apresentando como a última fronteira de desenvolvimento econômico do Paraná.

Entre os produtos cultivados pelos agricultores familiares no Litoral paranaense, pode-se afirmar que a produção de mandioca atua como uma “atividade amortecedora” em dois aspectos: contribui para a segurança alimentar das famílias no meio rural e apresenta-se como atividade com potencial para gerar renda, podendo ser comercializada in natura ou industrializada (farinha, fécula, mandioca chips etc.).

O artigo tem como objetivo apresentar informações que possam subsidiar as atividades de intervenção nas agroindústrias de farinha de mandioca (farinheiras) no litoral paranaense. Para tal, se faz necessário: i) criar um mapa com a distribuição espacial das agroindústrias familiares de mandioca no litoral paranaense; ii) classificar as farinheiras existentes no litoral em termos de tecnologia utilizada; ii) identificar e caracterizar os fluxos de destino da produção desde o produtor até o consumidor final; e iv) identificar os pontos fortes e os fatores limitantes e/ou gargalos durante o processo produtivo.

2. Material e Métodos Num primeiro momento, a equipe realizou visitas a unidades produtivas para se

familiarizar com a terminologia utilizada pelos agricultores e principalmente compreender o processo de produção da farinha de mandioca, bem como reconhecer os diferentes

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equipamentos utilizados no processo produtivo. O período de reconhecimento das farinheiras, juntamente com as leituras sobre o tema, permitiu que o grupo elaborasse um questionário semi-estruturado para ser aplicado nas unidades produtivas visitadas.

O mapa com a distribuição espacial das agroindústrias familiares de mandioca no litoral paranaense foi elaborado a partir da localização das farinheiras, com visitas in loco, em suas respectivas comunidades, nos sete municípios que compõem o litoral. No momento da visita, a propriedade teve sua localização determinada com GPS (Sistema de Posicionamento Global), bem como sua unidade de produção foi fotografada. Além disso, foi aplicado um questionário que permitiu classificar as farinheiras em termos de tecnologia utilizada, matriz energética, uso e manejo de dejetos, bem como possibilitou identificar e caracterizar os fluxos de destino da produção. O conjunto de questões permitiu, também, identificar os pontos fortes e fatores limitantes (gargalos) relacionados a atividade.

Para identificar as unidades produtivas no interior dos municípios contou-se com o apoio dos técnicos da EMATER. Antes de se iniciar as visitas fazia-se uma reunião com o técnico e construía-se um croqui com informações mínimas que permitiam localizar as farinheiras no município. Além disso, os próprios agricultores atuaram como informantes. Foram identificadas 133 farinheiras, as quais foram classificadas em ativa, inativas, auto-consumo e comunitárias. Foram aplicados trinta e nove questionários em farinheiras ativas. 3. Resultados e discussões: Farinheiras no litoral do Paraná

O Litoral Norte, assim denominado, engloba os municípios de Antonina, Guaraqueçaba e Morretes. Nestes municípios, como em todo o litoral paranaense, há uma quantidade considerável de casas de farinha (farinheiras), totalizando sessenta e três (63) farinheiras visitadas, as quais estão classificadas como ativas, auto-consumo, inativas e comunitárias. As farinheiras ativas caracterizam-se por serem agroindústrias que produzem farinha para o consumo da família, bem como para comercialização (Figura 02).

Fig. 02 – Farinheira ativa em Antonina - PR.

Fig. 03 – Farinheira de auto-consumo em Guaratuba - PR

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As farinheiras de auto-consumo caracterizam-se por serem agroindústrias que produzem farinha para o consumo próprio das famílias, podendo ser comercializado uma pequena parte, porém em quantidade inexpressiva (Figura 03). As farinheiras inativas caracterizam-se por serem agroindústrias que não produzem mais farinha, porém ainda existem os equipamentos e a instalação. Em sua maioria, as farinheiras inativas estão em propriedades de pessoas idosas que não possuem condições físicas para realizar as atividades relacionadas a produção de farinha (farinhar).

Por fim, as farinheiras comunitárias caracterizam-se por serem agroindústrias que foram construídas através de políticas públicas (Paraná doze meses), visando atender a um grupo de famílias. São farinheiras que possuem uma boa infra-estrutura física, porém, mesmo assim não atendem todas as exigências da legislação sanitária em vigor (Figura 04).

A partir da Tabela 01 é possível constatar que os municípios de Antonina e Guaraqueçaba possuem predominantemente farinheiras de auto-consumo. O mesmo não ocorre no município de Morretes, que possui um maior número de farinheiras ativas, voltadas para o mercado. Quanto as farinheiras inativas, nota-se que nos municípios de Guaraqueçaba e Morretes há um total de cinco (5) unidades, em contrapartida no município de Antonina não há presença das mesmas. Quanto a existência de farinheiras comunitárias, constatou-se oito (8) no total. O município de Guaraqueçaba apresenta quatro (4) unidades, destas nenhuma está em funcionamento. O município de Morretes, por seu turno, possui duas (2) unidades, as quais estão sendo utilizadas pela comunidade local.

Figura 04 – Farinheira comunitária do Açungui em Guaraqueçaba - PR

Entre os municípios do Litoral Norte, Morretes é o que apresenta melhores condições

para a comercialização do produto. O município investiu no turismo gastronômico, tendo como prato típico o barreado, e associou a venda de produtos da agricultura familiar a uma feira que ocorre aos sábados e domingos, escoando boa parte da produção dos derivados da mandioca.

No Litoral Norte merece atenção o município de Guaraqueçaba, o qual apresenta o maior número de farinheiras. Nas visitas foram mapeadas trinta unidades, principalmente nas comunidades da Potinga, Açungui, Tagaçaba, Tagaçaba de Cima e Pedra Chata. Parte

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do município, de difícil acesso, não foi visitado, ou seja, estima-se que existe um número igual ou superior de farinheiras ainda desconhecidas. É importante ressaltar que as farinheiras de difícil acesso são em sua maioria de auto-consumo, a distância dos centros urbanos não permite o acesso ao mercado.

O Litoral Sul, por sua vez, engloba os municípios de Guaratuba, Matinhos, Paranaguá e Pontal do Paraná. Nestes municípios, há uma quantidade considerável de farinheiras, totalizando setenta (70) unidades (Tabela 01). O município de Guaratuba possui uma predominância acentuada, em relação aos demais municípios, de farinheiras de auto-consumo. Somando-se as farinheiras do Litoral Norte com as do Litoral Sul, totalizam-se 133 farinheiras (Figura 05).

Tabela 01 – Situação das farinheiras, quanto ao seu funcionamento, no Litoral do Paraná

Municípios Ativas Auto-consumo Inativas Comunitárias Total

Lito

ral

Nor

te Antonina 8 11 0 0 19

Guaraqueçaba 10 13 3 4 30 Morretes 7 3 2 2 14

Lito

ral

Sul

Guaratuba 17 27 3 1 48 Matinhos 2 1 0 0 3 Paranaguá 9 1 6 1 17 Pontal do Paraná 1 0 1 0 2

Total 54 56 15 8 133 Fonte: Elaborada pelos autores.

Entre os sete municípios que compõem o litoral do Paraná, Matinhos e Pontal do

Paraná são os que apresentam o menor número de farinheiras. Tal fato justifica-se em função da reduzida área agrícola destes municípios.

3.1 O processo de produção de farinha No litoral paranaense as etapas do processamento para a produção de farinha, após

a colheita, são: descascamento e lavagem, ralação, prensagem, esfarelamento, torração e embalagem.

a) Descascamento e Lavagem

O descascamento pode ser manual ou mecânico. O descascamento manual é realizado com facas afiadas, tomando-se os devidos cuidados para que não fique pedaços de cascas sem retirar e para que se retirem os pontos pretos existentes na mandioca, fatores esses que tem grande relevância, pois influenciam na qualidade do produto final.

O descascamento mecânico é realizado em cilindros de madeira ou metal. O cilindro é rotacionado por um motor elétrico, que faz que as mandiocas que estão no seu interior sejam descascadas por atrito contra a parede do cilindro, que possui ranhuras na parte interna.

O descasque manual ocorre em 56% das farinheiras (Tabela 2). Tal informação indica a necessidade de investimento em mecanização desta parte do processo produtivo.

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Figura 05 – Mapa das farinheiras no litoral do Paraná

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Tabela 2 – Método de descascamento da mandioca para a produção de farinha no litoral do Paraná

Municípios Manual Mecânico (cilindro de madeira) Total Antonina 7 1 8 Guaraqueçaba 2 6 8 Guaratuba 7 1 8 Matinhos 2 0 2 Morretes 3 4 7 Paranaguá 1 5 6 Total 22 17 39 % do total 56 44 100 Fonte: elaborada pelos autores.

b) Ralação Esta etapa pode ser mecânica ou manual. A ralação manual da mandioca pode ser

feito em ralador simples de inox, utilizado nas residências. No litoral paranaense, este processo ocorre em algumas farinheiras de auto-consumo. Há também o método de ralação manual feito com uma roda que está fixada, através de um eixo, em uma estrutura de madeira (Figura 06). A ralação mecânica, por sua vez, é realizada por um motor que rotaciona um cilindro de madeira revestido com aço cheio de ranhuras. Quando a mandioca é atritada contra o cilindro, ocorre a ralação da mesma, resultando em uma massa branca que cai em um cocho.

Figura 06 – Ralador manual de mandioca

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Referente a ralação, foi constatado que a grande maioria, 87% das farinheiras, utiliza ralador mecânico (Tabela 3). Esta etapa do processo, se efetuada manualmente, demanda muito tempo. Diante disso, a maioria das farinheiras possuem em sua infra-estrutura um ralador mecânico. Tabela 3 - Métodos utilizados para a ralação da mandioca na produção de farinha no litoral do Paraná

Municípios Manual Mecânico Total

Antonina 1 7 8

Guaraqueçaba 0 8 8

Guaratuba 2 6 8

Matinhos 1 1 2

Morretes 1 6 7

Paranaguá 0 6 6

Total 5 34 39

% do total 13 87 100 Fonte: elaborada pelos autores. c) Prensagem

Esta etapa do processamento da mandioca pode ser manual ou mecânica (Tabela 4). A prensagem manual pode ser feito através de prensa de madeira ou metal. Esta prensa possui uma estrutura com formato de trave de futebol, de madeira, no qual na sua parte superior é feita uma rosca na madeira artesanalmente, a qual vai dar encaixe a um parafuso de madeira de 1,5m aproximadamente, denominado “fuso”, também confeccionado a mão. É um sistema de porca de parafuso, porém feito artesanalmente em madeira e em tamanho grande. Nesta prensa coloca-se a massa proveniente da ralação em sacos com pequenas perfurações (em alguns casos se utiliza o “tipiti”, cesto construído com bambu), exercendo pressão sobre os mesmos para a retirada da água da massa.

Este processo é realizado lentamente, ou seja, vai se apertando o “fuso” aos poucos e este exerce pressão sobre a massa e com o passar do tempo a água vai sendo eliminada pelas perfurações do saco. Esta água que é liberada da massa é denominada “manipueira” e na região é conhecida como “mandiquera”. Alguns agricultores usam este líquido como adubo, para controle de plantas espontâneas (mato) e insetos.

A prensagem mecânica tem a mesma lógica de funcionamento, porém é feita com uma prensa de metal hidráulica, que faz a prensagem da massa sem a força humana. A prensa “burro” é o método mais artesanal existente no litoral, estando presente em apenas uma farinheira.

A prensagem mecânica tem a mesma lógica de funcionamento, porém é feita com uma prensa de metal hidráulica, que faz a prensagem da massa sem a força humana. A prensa “burro” é o método mais artesanal existente no litoral, estando presente em apenas uma farinheira.

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Tabela 4 - Métodos utilizados para prensagem da mandioca na produção de farinha no litoral do Paraná

Municípios

Prensa Manual de Madeira

Prensa Manual de

Metal

Prensa Manual de Madeira e

Metal Burro Hidráulica Total

Antonina 5 2 0 1 0 8

Guaraqueçaba 3 3 2 0 0 8

Guaratuba 3 2 1 0 2 8

Matinhos 0 2 0 0 0 2

Morretes 0 4 2 0 1 7

Paranaguá 1 5 0 0 0 6

Total 12 18 5 1 3 39

% do total 31 46 13 2 8 100 Fonte: elaborada pelos autores.

d) Esfarelamento Esta etapa do processo pode ser mecânica ou manual e consiste basicamente em

soltar a massa que foi prensada, na fase anterior. No esfarelamento manual retira-se a massa da prensa, abrem-se os sacos que foram prensados e despeja-se a massa prensada, que está compactada, em um cocho, geralmente de madeira, e com as mãos se faz a descompactação da massa. O esfarelamento mecânico também consiste em desagregar a massa prensada, porém a massa é colocada em uma estrutura de metal que possui em seu interior hastes, que giram e fazem a desagregação da massa. O esfarelamento manual é o mais utilizado, sendo realizado por 67% das farinheiras (Tabela 5).

Tabela 5 - Métodos utilizados para o esfarelamento da massa de mandioca no processo de fabricação de farinha no litoral do Paraná

Municípios Manual Mecânico Total

Antonina 8 0 8

Guaraqueçaba 7 1 8

Guaratuba 4 4 8

Matinhos 2 0 2

Morretes 4 3 7

Paranaguá 4 2 6

Total 29 10 39

% do total 67 33 100 Fonte: elaborada pelos autores.

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e) Torração Esta fase do processo é realizada em forno, alimentados por lenha, podendo ser o

processo de mexer a massa realizado manualmente ou mecanicamente. Este processo consiste basicamente em retirar a água existente no produto e torrar o mesmo. A massa proveniente do cocho, que está esfarelada, é colocada em um forno, com fogo mais alto, para realizar a ”vivuia”, como é denominada localmente, esta vivuia consiste em fazer uma pré-torração. Após, esta massa retorna ao forno com fogo mais baixo, onde é realizada a torração até ao ponto ideal do produto. No processo manual, a massa é mexida com pás de madeira, já no processo mecânico, a massa é mexida por um agitador de madeira, que gira rente ao forno mexendo a massa. Este agitador é rotacionado por um motor elétrico.

Nas farinheiras do litoral 53% realizam a torração pelo sistema mecânico (Tabela 6). No entanto, um número expressivo de unidades produtivas ainda realiza este processo manualmente (41%). Tal etapa do processo é considerada pelos agricultores como sendo o mais desgastante, principalmente em dias quentes.

Tabela 6 - Métodos utilizados para a torração da farinha de mandioca no litoral do Paraná

Municípios Manual Mecânico Manual e Mecânico Total

Antonina 6 1 1 8

Guaraqueçaba 0 8 0 8

Guaratuba 5 2 1 8

Matinhos 2 0 0 2

Morretes 2 5 0 7

Paranaguá 1 5 0 6

Total 16 21 2 39

% do total 41 53 6 100 Fonte: elaborada pelos autores. f) Embalagem do Produto

No litoral paranaense esta fase é realizada em sua totalidade manualmente. Esta etapa consiste em colocar o produto final (farinha) em embalagem plástica transparente de 1 Kg. Após estes sacos de 1 kg são agrupados e colocadas em embalagens maiores, geralmente contendo 20 ou 40 sacos de 1 kg.

Foi possível identificar 4 variedades de granulometria de farinha de mandioca, sendo classificadas pelos produtores visualmente, sem o uso de peneiras para a classificação exata do produto. Nota-se que a farinha média é predominante com 46% do total produzido no litoral, enquanto a farinha fina representa 24% do total (Tabela 7).

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Tabela 7 - Classificação da farinha de mandioca pelos produtores, quanto a sua granulometria no litoral do Paraná

Municípios Fina Média Grossa Prova

de Leite Média e Grossa

Média e Prova de

Leite

Fina, média e Grossa

Total

Antonina 3 3 2 0 0 0 0 8

Guaraqueçaba 2 4 0 0 1 0 0 8

Guaratuba 1 3 3 0 1 0 0 8

Matinhos 0 1 0 0 0 0 1 2

Morretes 2 4 0 1 0 0 0 7

Paranaguá 1 2 0 0 1 1 0 6

Total 9 17 5 1 3 1 1 39

% do total 24 46 13 3 8 3 3 100 Fonte: elaborada pelos autores

Apenas 26% dos produtores rotulam seus produtos (Tabela 8). No entanto, os

rótulos encontrados não contêm as informações exigidas pelos órgãos fiscalizadores e em alguns casos as informações contidas são ilegíveis. A falta do rótulo dificulta a comercialização da farinha, pois o comprador pode não confiar no produto por não saber sua procedência, data de fabricação e validade, por exemplo. Muitos produtores não gostam de falar sobre o assunto, acreditam que ao rotularem seu produto a fiscalização os localizará.

Tabela 8 - Farinheiras do litoral do Paraná que possuem rótulo na embalagem

Municípios Sim Não Não responderam Total

Antonina 0 6 2 8

Guaraqueçaba 3 2 3 8

Guaratuba 1 3 4 8

Matinhos 0 2 0 2

Morretes 5 2 0 7

Paranaguá 1 4 1 6

Total 10 19 10 39

% do total 26 49 25 100 Fonte: elaborada pelos autores. 3.2 Infra-estrutura da Agroindústria

Praticamente a metade (46%) dos produtores de farinha do litoral paranaense já construiu pisos de cimento em suas farinheiras, denotando a aproximação, mesmo que

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lenta, da adequação das mesmas às normas exigidas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por outro lado ainda há um grande número de farinheiras em que o piso é de chão batido, fato que demonstra a acentuada rusticidade ainda presente nas unidades produtoras de farinha da região (Tabela 9).

É importante salientar que as 39 farinheiras pesquisadas são ativas, portanto, produzem para comercializar. A precariedade da infra-estrutura existente aumenta quando se trata de farinheiras de auto-consumo. Tabela 9 - Estrutura do piso das farinheiras do litoral do Paraná

Municípios Chão Batido Cimento Cerâmica

Cimento e Cerâmica Total

Antonina 3 4 1 0 8

Guaraqueçaba 1 5 1 1 8

Guaratuba 6 2 0 0 8

Matinhos 1 0 1 0 2

Morretes 3 3 1 0 7

Paranaguá 2 4 0 0 6

Total 16 18 4 1 39

% do total 41 46 10 3 100 Fonte: elaborada pelos autores.

Assim como ocorre com o piso, ainda existe um grande número de farinheiras (51%) no litoral do Paraná em que as paredes são de madeira, sendo mais uma característica da rusticidade das construções. O número de unidades produtoras que já construíram paredes de alvenaria é bem significativo e vem crescendo devido à necessidade visualizada pelos produtores de enquadramento às normas exigidas pela ANVISA. Observou-se nas visitas e entrevistas que muitas farinheiras vêm deixando de produzir justamente pelo fato de não se enquadrarem nas normas e não terem condições financeiras de adaptar suas unidades produtivas (Tabela 10).

Tabela 10 - Estrutura das paredes das farinheiras no litoral do Paraná

Municípios Alvenaria Madeira Madeira e Alvenaria

Não possui Total

Antonina 4 3 0 1 8

Guaraqueçaba 2 3 2 1 8

Guaratuba 1 7 0 0 8

Matinhos 0 2 0 0 2

Morretes 4 2 0 1 7

Paranaguá 2 3 1 0 6

Total 13 20 3 3 39

% do total 33 51 8 8 100 Fonte: elaborada pelos autores.

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As coberturas das casas de farinha do litoral do Paraná são basicamente feitas de

telhas de barro ou amianto (43,5% e 48,7%, respectivamente). Porém, foram observados em alguns casos telhados mistos de amianto e telha de barro, e até telhados confeccionados com guaricana – palmácea utilizada para cobrir os galpões (Tabela 11). Tabela 11 - Tipos de cobertura das farinheiras no litoral do Paraná

Municípios Telha de Barro Amianto Guaricana Telha de Barro e Amianto Total

Antonina 3 3 2 0 8

Guaraqueçaba 3 5 0 0 8

Guaratuba 6 2 0 0 8

Matinhos 0 2 0 0 2

Morretes 3 4 0 0 7

Paranaguá 2 3 0 1 6

Total 17 19 2 1 39

% do total 43,5 48,7 5,1 2,7 100 Fonte: elaborada pelos autores.

A maior parte das farinheiras do litoral paranaense (87%) não possui forro em suas estruturas, o que denota mais uma vez o teor rústico das construções. Outra exigência da vigilância sanitária é a presença de lavatório para mãos. Neste quesito, a grande maioria das farinheiras, 67%, não o possuem. Outra exigência é a divisão, na unidade produtiva, da área limpa onde ocorrem a prensagem, esfarelamento, secagem e embalagem da farinha da área suja, local em que ocorra lavagem e o descasque da mandioca. No litoral, apenas 21% das farinheiras apresentam tal separação (Tabela 12). Tabela 12 - Freqüência de farinheiras do litoral do Paraná que possuem divisão entre área suja e limpa em sua estrutura produtiva Municípios Sim Não Total

Antonina 2 6 8

Guaraqueçaba 2 6 8

Guaratuba 0 8 8

Matinhos 0 2 2

Morretes 4 3 7

Paranaguá 0 6 6

Total 8 31 39 % do total 21 79 100 Fonte: elaborada pelos autores.

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3.3 Dificuldades enfrentadas pelas farinheiras

A atividade de fazer farinha sofre com diversos problemas no litoral do Paraná. Um dos problemas que foi detectado é a distância das farinheiras até o mercado consumidor, somado a isso e agravando ainda mais a situação esta as condições ruins das estradas por onde é escoado o produto final. Essa situação de difícil acesso ao mercado consumidor foi constatada com maior evidência e com maior gravidade nos municípios do Litoral Norte, principalmente em Antonina e Guaraqueçaba.

Devido as longas distâncias dos centos consumidores alguns produtores de farinha, notadamente os menos estruturados, têm que desembolsar e gastar com o pagamento de frete para escoar o seu produto, reduzindo, assim, seus ganhos. Em Guaraqueçaba, o pagamento com frete é uma realidade para a maioria dos agricultores visitados, em contrapartida, nos outros dois municípios do Litoral Norte este problema está menos presente.

Em Antonina os produtores de farinha levam o seu produto até o mercado consumidor no ônibus, prática ainda permitida, porém em Guaraqueçaba a empresa que realiza o transporte coletivo não permite mais transportar o produto em quantidades relativamente grandes.

No Litoral Sul somente Guaratuba possui problemas com distância ao mercado consumidor e estradas de difícil acesso, para os demais municípios não foram detectados estes problemas.

Outro empecilho para a produção de farinha está relacionado a disponibilidade de área para o plantio da matéria-prima (mandioca) para produção de farinha. Municípios como Guaratuba e Guaraqueçaba possuem grandes Áreas de Preservação Permanentes, nas quais não se pode fazer o plantio, ficando os produtores com espaços restritos para a produção de mandioca. Nos outros municípios este problema de área de plantio é menos acentuado, porém esta presente em algumas propriedades.

No município de Morretes, principalmente, constata-se a concorrência desleal com a farinha proveniente de outras regiões e estados. Os produtores argumentam que tal farinha é de menor qualidade e essa prática desvaloriza o produto do litoral paranaense. Para enganar os consumidores os embaladores, que compram a farinha de outras regiões, utilizam uma técnica que confunde o consumidor. Eles embalam a farinha em sacos plásticos na maioria das vezes sem rótulo e utilizam a mesma técnica dos agricultores para amarar os pacotes de farinha.

Embora a comercialização de produto de outras regiões seja concentrada no município de Morretes, os demais municípios também acabam sofrendo influência deste fato, desestruturando e prejudicando a comercialização e a valorização do produto local.

Com tantas adversidades como a falta de incentivos para a produção de mandioca, ciclo longo da cultura, preço de venda da farinha não compensador aos custos, perda de lavouras por condições ambientais, principalmente enchentes, trabalho pesado tanto na lavoura como na produção de farinha, várias famílias estão deixando a atividade e migrando para o meio urbano. O êxodo rural ocorre principalmente com pessoas mais jovens, restando no campo somente pessoas com idade avançada. Com a ida dos jovens para a cidade, instala-se um quadro alarmante para os próximos anos, pois muitas destas farinheiras serão desativadas. Nas visitas presenciou-se que a maioria das farinheiras é

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operacionalizada por pessoas com idade avançada e muitos mencionaram que seus filhos não aprenderam e não têm interesse em dar continuidade na atividade. 3.4 Vantagens competitivas das farinheiras do litoral

Levantado os problemas no item anterior, cabe destacar as qualidades competitivas do produto em questão e a partir destas desencadear ações para o fortalecimento da atividade de fazer farinha artesanalmente.

Entre os atributos da farinha do litoral paranaense destaca-se a presença do amido no produto. Os agricultores não utilizam tecnologia que possibilite retirar o amido na hora do processamento da mandioca, ou seja, a farinha é feita com a mandioca integral. Esta farinha contendo amido possui um sabor único, característico da farinha do litoral paranaense, que precisa ser divulgado para os consumidores. Tal característica dá a farinha uma identidade cultural que diferencia o produto e permite, se bem explorado, agregar valor ao mesmo.

Outro fator importante que deve ser trabalhado é o fato da matéria-prima ser produzida, em sua grande maioria, sem a adição de insumos químicos. As lavouras geralmente estão em áreas de preservação e não podem utilizar insumos químicos, o que gera um produto mais saudável, com melhore qualidade e com menor risco à saúde humana.

Deve-se levar em consideração também que o produto é proveniente da agricultura familiar, produto artesanal, que mantém as pessoas no campo, que é responsável por grande parte da produção de alimentos, que garante a soberania alimentar e contribui para a redução do êxodo rural.

Portanto, a farinha do litoral paranaense possui forte identidade cultural, sendo vendida em quantidades consideráveis em Curitiba, por exemplo, que é um mercado consumidor exigente, confirmando ainda mais que o produto do litoral paranaense traz intrinsecamente certa qualidade que é identificada pelos consumidores. Essa identidade cultural faz com que a farinha do litoral seja conhecida popularmente como “Farinha Da Boa” ou “Farinha da Terra”, mostrando assim o valor que este produto tem e as potencialidades que devem ser trabalhadas para o fortalecimento do produto, perante o mercado consumidor. 4. Conclusão

O litoral da Paraná é formado por apenas sete municípios distribuídos em uma área geográfica relativamente pequena. Nesse espaço geográfico foram identificadas 133 farinheiras, distribuídas entre o Litoral Norte (63) e o Litoral Sul (70). A proximidade geográfica não permite concluir que exista uma homogeneidade nos processos produtivos, ao contrário, constatou-se uma elevada heterogeneidade. Existem farinheiras extremamente artesanais, com processo totalmente manual, farinheiras intermediárias, com parte do processo manual e parte mecânico e, por fim, farinheiras totalmente mecanizadas. As farinheiras mais rústicas são aquelas que produzem para o auto-consumo.

As principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores são a concorrência desleal com a farinha vinda de outras regiões, a dificuldade em ampliar a área de cultivo e a falta de infra-estrutura para escoar a produção para o mercado local/regional. Por outro lado, o

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produto apresenta atributos que lhe permitem se diferenciar do produto industrializado, ou seja, é um produto artesanal, da agricultura familiar, que mantém o amido no processo produtivo e utiliza matéria-prima produzida, quase que na totalidade, sem o uso de insumos químicos. Portanto, pode-se afirmar que a farinha de mandioca do litoral do Paraná é um produto que possui “identidade cultural”.

Para amenizar as dificuldades e ressaltar os atributos, faz-se necessário um conjunto de atividades que devem ser desencadeadas pelas instituições que atuam no Litoral do Paraná. A titulo de exemplo, pode-se criar um rótulo para identificar o produto local, permitindo que o consumidor identifique a origem do produto que está adquirindo.

Portanto, se faz necessário adotar medidas eficientes de intervenção que visem superar os gargalos e impulsionar as potencialidades das agroindústrias familiares. Desta forma, tem-se a possibilidade de evitar o desaparecimento da atividade de fazer farinha, farinhar, que possui grande importância socioeconômica e cultural no Litoral do Paraná. 5. Agradecimentos

A equipe que atuou no projeto agradece a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Governo do Estado do Paraná que através do Programa de Extensão “Universidade Sem Fronteiras”, subprograma Apoio a Agricultura Familiar, financiou as atividades desenvolvidas no projeto. Agradece também a Pro-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Federal do Paraná pelos recursos disponibilizados, contribuindo para o bom andamento do projeto. 6. Referências Bibliográficas Andriguetto Filho, J. M. Diagnóstico e problemática para pesquisa. In: Raynaut, C. et al. (ed). Desenvolvimento e meio ambiente: em busca da interdisciplinaridade. Curitiba: ed. da UFPR, 2002, cap. 2, p. 159-193. Estades, N. P. O litoral do Paraná: entre a riqueza natural e a pobreza social. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 8, p. 25-41, jul./dez. 2003. Esteves, Cláudio J. O. Ocupação do litoral paranaense. In: Scortegana et al. (Orgs). Paraná – espaço e memória: diversos olhares histórico-geográficos. Curitiba: Bagozzi, 2005, p. 57-81. Lundy, M. et al. Diseño de estratégias para aumentar la competitividade de cadenas produtivas con productores de pequena escala. Bolívia: Centro Internacional de Agricultura Tropical – CIAT, 2004, 85p. Raynaut, C. et al. O desenvolvimento sustentável regional: o que proteger? Quem desenvolver? In: Raynaut, C. et al. (ed.). Desenvolvimento e meio ambiente: em busca da interdisciplinaridade. Curitiba: ed. da UFPR, 2002, p. 235-248.