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DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ORIENTADO AO MERCADO – UM ESTUDO DE CASO DA CADEIA PRODUTIVA DO ÁCIDO ACRÍLICO Fábio de Oliveira Bello UFRJ – Grau de Mestre Orientadores: Adelaide Maria de Souza Antunes, D.Sc. Rodrigo Pio Borges Menezes, D.Sc. UFRJ/CT/EQ 2008

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  • DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO ORIENTADO AO

    MERCADO UM ESTUDO DE CASO DA CADEIA PRODUTIVA

    DO CIDO ACRLICO

    Fbio de Oliveira Bello

    UFRJ Grau de Mestre

    Orientadores: Adelaide Maria de Souza Antunes, D.Sc.

    Rodrigo Pio Borges Menezes, D.Sc.

    UFRJ/CT/EQ 2008

  • ii

    DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO ORIENTADO AO MERCADO

    UM ESTUDO DE CASO DA CADEIA PRODUTIVA DO CIDO ACRLICO

    Fbio de Oliveira Bello

    Tese submetida ao corpo docente do Curso de Ps Graduao em

    Tecnologia de Processos Qumicos e Bioqumicos da Escola de Qumica da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos

    necessrios obteno do grau de Mestre.

    Aprovada por:

    . . Orientadora

    Adelaide Maria de Souza Antunes D.Sc.

    . . Orientador

    Rodrigo Pio Borges Menezes D.Sc.

    . .

    Peter Rudolf Seidl Ph.D.

    . .

    Cludia Ins Chamas D.Sc.

    . .

    Marco Antnio Gaya de Figueireido D.Sc.

    Rio de Janeiro, RJ Brasil

    Agosto de 2008

  • iii

    Bello, Fbio de Oliveira

    Desenvolvimento Tecnolgico Orientado ao Mercado Um Estudo de Caso na Cadeia Produtiva do cido Acrlico/ Fbio de Oliveira Bello. Rio de Janeiro, 2008.

    xviii, 97 f.: il. Dissertao (Mestrado em Tecnologia de Processos Qumicos e

    Bioqumicos) Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Escola de Qumica EQ, 2008.

    Orientadores: Adelaide Maria de S. Antunes e Rodrigo Pio Borges

    Menezes 1. cido Acrlico 2. Derivados do cido Acrlico 3. Desenvolvimento

    Tecnolgico I Antunes, Adelaide M. S. (Orientadora) II Universidade Federal

    do Rio de Janeiro - Escola de Qumica III Mestrado (UFRJ/EQ)

    T 18 B446D

  • iv

    Dedico esta tese ao meu pai Ney de Oliveira Bello (in memoriam)

  • v

    AGRADECIMENTOS

    O trabalho apresentado contou com a colaborao de inmeras pessoas

    e instituies.

    Agradeo ao gerente geral de participaes, Patrick Horbak Fairon,

    representando a equipe do Abastecimento/Petroqumica (Petrobras) pela

    liberao de horas e apoio para o desenvolvimento deste estudo.

    Agradeo a coordenadora do curso de Ps-Graduao em Tecnologia de

    Processos Qumicos e Bioqumicos, professora Oflia de Queiroz Fernandes

    Arajo, representando a Escola de Qumica UFRJ, pela receptividade e infra-

    estrutura necessrias ao bom andamento do estudo.

    Agradeo aos meus orientadores Adelaide Antunes e Rodrigo Pio pelo

    constante empenho pessoal manifestado e, pelo encorajamento e apoio dado ao

    longo da realizao deste trabalho. As suas numerosas sugestes contriburam,

    no s para o bom andamento do estudo, mas tambm para enriquecer a escrita

    desta tese.

    Aos amigos do SIQUIM, em especial Priscilla e Pedro, pelas palavras de

    incentivo e apoio durante a realizao dos estudos e a todos que de alguma

    forma contriburam para o desenvolvimento deste trabalho, o meu muito

    obrigado!

    Agradeo aos meus amigos: Luiz Carlos Assumpo e Flvio Ferreira

    pelo apoio fundamental nos debates relacionados ao tema da dissertao,

    Roberto Van Erven por compartilhar sua vasta experincia em gerenciamento

    tecnolgico acumulada durante sua passagem pela GETEC da Petroquisa, e a

    Andra Cid pela amizade e compartilhamento das aflies. A vocs, o meu

    eterno agradecimento pelos incentivos em todas as horas.

    Agradeo ao meu pai que tornou tudo isso possvel com seu esforo,

    dedicao e amor. A minha me e irmos pelo carinho e amor em todos os

    momentos. A Famlia Busca-P que me acolheu como um filho me apoiando

    em todos os momentos. A Bianca, minha companheira, que esteve o tempo todo

    ao meu lado me apoiando com todo o seu amor e carinho, sem contar a grande

    ajuda no processo de reviso. Muito obrigado a todos vocs!

  • vi

    E, principalmente, a Deus, que sempre esteve ao meu lado, iluminando os

    caminhos percorridos, aperfeioando os meus conceitos de vida e ensinando

    novas maneiras de enxergar o mundo Obrigada por Tudo!

  • vii

    MENSAGEM

    A Perseverana uma grande aliada

    superao de todos os nossos desafios.

    Caminhar sem destino como realizar

    um passeio por simples entretenimento.

    Caminhar com determinao

    em busca do nosso verdadeiro propsito

    participar da vida como transformadores

    das inconvenincias e criadores de obras

    que dignificaro nossa existncia

    e marcaro nossas pegadas para que muitos sigam

    o nosso caminho.

    Dar forma s experincias que vivemos

    o verdadeiro entretenimento; moldar nosso destino,

    receber os benefcios de nosso prprio

    crescimento pessoal e espiritual,

    sem dvida o melhor dos prazeres.

    Seguir a vida sem um propsito,

    acomodar-se diante das situaes que nos afligem,

    viver sem a intensidade dos nossos desafios,

    perder a oportunidade de existir.

    (Autor Desconhecido)

  • viii

    RESUMO

    BELLO, Fbio de Oliveira - Desenvolvimento Tecnolgico Orientado ao Mercado: Um Estudo da Cadeia Produtiva do cido Acrlico. Orientadores: Adelaide Maria de Souza Antunes e Rodrigo Pio Borges. Rio de Janeiro: EQ-UFRJ; 2008. Dissertao (Mestrado em Tecnologia de Processos Qumicos e Bioqumicos).

    A presente dissertao tem como objetivo avaliar a oportunidade de

    produo do cido acrlico e seus derivados no Brasil, levando-se em conta a

    dificuldade de licenciamento da tecnologia no mercado mundial. Os detentores

    da tecnologia so tambm grandes produtores de cido acrlico e derivados e

    tendem a restringir o licenciamento de suas tecnologias, dificultando a entrada

    de novos competidores em seus mercados. A maioria das novas plantas

    direcionada a mercados com grande potencial de crescimento, China e ndia.

    Sem sucesso, a Petrobras, desde 2000, tem buscado parceria com detentores

    da tecnologia para construo de um complexo de produo de cido acrlico,

    acrilatos e polmero superabsorvente (SAP) no Brasil. Neste sentido, so

    discutidas as alternativas brasileiras, apresentando-se uma viso geral do

    mercado de tecnologia na indstria qumica e os principais processos de

    obteno desta. descrita a implantao da indstria petroqumica nacional,

    baseada em aquisio de tecnologia exgena e no caso especfico do mercado

    de cido acrlico e seus derivados so analisadas as principais aplicaes, as

    capacidades instaladas, e as dinmicas de preos e de demanda. Tambm so

    abordadas as tecnologias necessrias para a implantao deste complexo,

    segmentadas em blocos, com a indicao dos principais fatores crticos.

    Observa-se que o sistema de oxidao do propeno e o reator de polimerizao

    so os blocos com complexidade mais elevada. Por fim, so levantadas as

    alternativas disponveis para atuao brasileira neste mercado: (i) manuteno

    das importaes para atender o mercado interno; (ii) manter a poltica de

    aquisio de tecnologia externa - licenciamento ou parceria com o licenciador;

    (iii) desenvolver a tecnologia internamente, seja a atual rota ou a partir de

    matrias-primas alternativas, como a glicerina e a glicose.

  • ix

    ABSTRACT

    BELLO, Fbio de Oliveira Market Oriented Technological Development: A Study of the Productive Chain of Acrylic Acid. Thesis Supervisors: Adelaide Maria de Souza Antunes e Rodrigo Pio Borges. Rio de Janeiro: EQ-UFRJ; 2008. Thesis (Mestrado em Tecnologia de Processos Qumicos e Bioqumicos).

    The purpose of this work is to evaluate the opportunity of production of

    acrylic acid and its derivatives in Brazil, in view of the difficulty of licensing this

    technology in the global market. The owners of the technology of the production

    of the acrylic acid are also huge producers and try to restrict the licensing of their

    technologies, becoming difficult the entrance of new competitors in their markets.

    The majority of the new plants are directed to markets with great potential of

    growth and small impact for the current producers (China and India). Without

    success Petrobras since 2000 has attemped to form partnership with owners of

    technology to construct a production complex of acrylic acid, acrylates and

    superabsorbent polymer (SAP) in Brazil. In this way, the Brazilian alternatives are

    presented with a general vision of the market of technology in the chemical

    industry and the main processes to attainment it. As an example the implantation

    of the national petrochemical industry was described based in acquisition of

    external technology. In the specific case of the market of acrylic acid and its

    derivatives, the main applications, the installed capacities, and the dynamic of

    prices and demand were analyzed. The technologies needed for the implantation

    of this complex were also boarded, segmented by blocks, with the indication of

    the main critical factors. It was observed that the system of oxidation of propylene

    and the polymerization reactor are the blocks with higher complexity. Finally, the

    available alternatives for brazilian action in this market were identified: (i)

    maintenance of importations to supply the domestic market; (II) keep the politics

    of acquisition of external technology - licensing or make partnership with the

    licenser; (III) develop the technology internally, or the current route, or from

    alternative raw materials, as the glycerin and the glucose.

  • x

    SIGLAS

    AA - cido Acrlico

    AAB - cido Acrlico Bruto

    AAG - cido Acrlico Glacial

    ABIQUIM - Associao Brasileira da Indstria Qumica

    BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico Social

    BNDESPar - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico Social

    Participaes

    BP - British Petroleum

    CEPED - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento

    COMPERJ - Complexo Petroqumico do Rio de Janeiro

    CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente

    COPENE - Companhia Petroqumica do Nordeste

    COPESUL - Companhia Petroqumica do Sul

    EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agrcola

    EVA - Ethylene-Vinyl Acetate (Compolmero de Etileno Acetato

    de Vinila)

    FCC S.A. - Fbrica de Catalisadores Carioca S.A.

    FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

    GEIQUIM - Grupo Executivo da Indstria Qumica

    GETEC - Gerncia Tcnica da Petroquisa

    INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial

    IUPAC - International Union of Pure and Applied Chemistry

    JV - Joint Venture

    NCM - Nomenclatura Comum do Mercosul

    PAA - Policido Acrlico

  • xi

    PE - Polietileno

    PEAD - Polietileno de Alta Densidade

    PELBD - Polietileno Linear de Baixa Densidade

    PET - Polyethylene Terephthalate (tereftalato de polietileno)

    PETROBRAS - Petrleo Brasileiro S.A.

    PETROQUISA - Petrobras Qumica S.A.

    P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

    PGQ - Propeno Grau Qumico

    PIB - Produto Interno Bruto

    PPSA - Petroqumica Paulnia S.A.

    PQU - Petroqumica Unio S.A.

    PTA - Purified Terephthalic Acid (cido Tereftlico Purificado)

    PVA - Polyvinyl Alcohol (Poli(lcool Vinlico))

    PVC - Polyvinyl Chloride (Policloreto de Vinila)

    REGAP -Refinaria Gabriel Passos

    REVAP -Refinaria Henrique Lage

    SAP - Super Absorbent Polymer (Polmero Superabsorvente)

  • xii

    Lista de Figuras

    Pgina

    Figura II.1 Licenciamento e diferenciao do produto 7

    Figura II.2 Modelo de aquisio e utilizao tecnolgica 11

    Figura III.1 Aplicaes do cido acrlico bruto 22

    Figura III.2 Aplicao dos acrilatos 23

    Figura III.3 Aplicaes do SAP 25

    Figura III.4 Preos do cido acrlico e propeno grau qumico na Europa 27

    Figura III.5 Preos histricos dos acrilatos 28

    Figura III.6 Demanda regional de AAB 29

    Figura III.7 Importaes brasileiras de cido acrlico (t/a) 31

    Figura III.8 Importaes brasileiras de cido acrlico (US$ milhes) 31

    Figura III.9 Produo nacional de acrilatos (t/a) 32

    Figura III.10 Vendas nacionais de acrilatos (t/a) 32

    Figura III.11 Importao nacional de acrilatos (t/a) 33

    Figura III.12 Importao nacional de acrilatos (US$ milhes) 34

    Figura III.13 Importao nacional de SAP (t/a) 34

    Figura III.14 Importao nacional de SAP (US$ milhes) 35

    Figura III.15 Metodologia de projeo de demanda utilizada 35

    Figura III.16 Demanda agregada de cido acrlico bruto, histrico e

    projeo 36

    Figura IV.1 Rotas de produo de cido acrlico e seus derivados 38

    Figura IV.2 Processo de oxidao do propeno em dois estgios 44

    Figura IV.3 Reator tubular de produo de AA 46

    Figura IV.4 Preos de propano e propeno no golfo dos EUA 49

    Figura IV.5 Esquema de produo de AA a partir propano 51

    Figura IV.6 Produo de AA a partir das fontes renovveis 53

  • xiii

    Figura IV.7 Processo de produo do acrilato de butila 56

    Figura IV.8 Mecanismo simplificado de ao do agente reticulador 58

    Figura IV.9 Estrutura do SAP 59

    Figura IV.10 Absoro de gua pelo SAP 59

    Figura IV.11 Esquema de produo do SAP 60

    Figura IV.12 Reator de polimerizao do SAP 62

    Figura IV.13 Maiores depositantes de patentes relativas ao AA 64

    Figura IV.14 Maiores depositantes de patentes relativas aos acrilatos 65

    Figura IV.15 Maiores depositantes de patentes relativas aos SAP 65

    Figura V.1 Configurao do complexo acrlico em estudo pela

    Petrobras 68

    Figura V.2 Segmentao das tecnologias 71

    Figura V.3 Importaes brasileiras de cido acrlico, acrilatos e SAP 75

    Figura V.4 Distribuio geogrfica dos doutores em catlise 80

  • xiv

    Lista de Tabelas

    Pgina

    Tabela II.1 Dados de licenciamento de empresas qumicas 8

    Tabela II.2 Formas de parcerias estratgicas 12

    Tabela II.3 Carteira de investimentos da indstria qumica 2007-2016 20

    Tabela III.1 Propriedades fsicas do cido acrlico e seus steres 21

    Tabela III.2 Aplicaes do SAP 24

    Tabela III.3 Principais produtores mundiais de AA e derivados (mil t/a) 26

    Tabela III.4 NCM do AA e derivados e, respectivo, imposto de

    importao (II) 30

    Tabela IV.1 Catalisadores de oxidao do propeno em estgio nico 42

    Tabela IV.2 Catalisadores do primeiro estgio 43

    Tabela IV.3 Catalisadores do segundo estgio 43

    Tabela V.1 Capacidade de produo do complexo acrlico 69

    Tabela V.2 Matriz de complexidade 73

    Tabela V.3 Ranking brasileiro de importaes de produtos qumicos

    em 2007 76

    Tabela V.4 Principais projetos de AA no mundo 78

    Tabela V.5 Matriz de hipteses 83

  • xv

    SUMRIO

    I. INTRODUO 1

    II. PROCESSOS DE OBTENO DA TECNOLOGIA 5 II.1. VISO GERAL DAS TRANSAES TECNOLGICAS NA

    INDSTRIA QUMICA 5 II.2. DESENVOLVIMENTO INTERNO 8 II.3. AQUISIO VIA LICENCIAMENTO 9 II.4. PARCERIAS 12 II.5. PROCESSO DE ESTABELECIMENTO DA INDSTRIA

    PETROQUMICA BRASILEIRA 13 II.6. ANLISE DA DISPONIBILIDADE LOCAL DE TECNOLOGIA

    VIS-A-VIS A CARTEIRA DE PROJETOS ANUNCIADOS 19

    III. CADEIA DO CIDO ACRLICO E MERCADO 21 III.1. PRINCIPAIS APLICAES 22

    III.1.1. CIDO ACRLICO 22 III.1.2. ACRILATOS 23 III.1.3. POLMERO SUPERABSORVENTE (SAP) 24

    III.2. CAPACIDADE INSTALADA GLOBAL 26 III.3. DINMICA DE PREOS 27 III.4. PANORAMA DO MERCADO INTERNACIONAL 28 III.5. PANORAMA DO MERCADO BRASILEIRO 29

    III.5.1. CIDO ACRLICO 30 III.5.2. ACRILATOS 31 III.5.3. POLMERO SUPERABSORVENTE (SAP) 34

    III.6. PROJEO DE DEMANDA BRASILEIRA 35 IV. TECNOLOGIAS DE PRODUO 37

    IV.1. ROTAS DE PRODUO DO CIDO ACRLICO 37 IV.1.1. OBSOLETAS 37

    IV.1.1.1. ACETILENO - PROCESSO REPPE 37 IV.1.1.2. ETENO 39 IV.1.1.3. CIDO ACTICO 39 IV.1.1.4. HIDRLISE DA ACRILONITRILA 40

    IV.1.2. ROTAS EM USO COMERCIAL 41 IV.1.2.1. OXIDAO PARCIAL DO PROPENO 41

    IV.1.2.1.1. PROCESSO EM ESTGIO NICO 41 IV.1.2.1.2. PROCESSO EM DOIS ESTGIOS 42

  • xvi

    IV.1.2.1.3. CATALISADORES DE OXIDAO DO

    PROPENO 43 IV.1.2.1.4. DESCRIO DO PROCESSO 44

    IV.1.3. NOVOS DESENVOLVIMENTOS 48 IV.1.3.1. PROCESSOS VIA PROPANO 48

    IV.1.3.1.1. OXIDAO DIRETA DO PROPANO 50 IV.1.3.1.2. OXIDAO INDIRETA 50 IV.1.3.1.3. LEITO FLUIDIZADO 52

    IV.1.3.2. BIOPROCESSOS 52 IV.1.3.2.1. ROTA DO CIDO LTICO GLICOSE 53 IV.1.3.2.2. ROTA DO 3-HIDROXIPROPINALDEIDO

    - GLICERINA 53 IV.2. ROTAS DE PRODUO DOS ACRILATOS 54 IV.3. ROTA DE PRODUO DO SAP 57 IV.4. PATENTES RELACIONADAS AO CIDO ACRLICO E

    DERIVADOS 62 V. PERSPECTIVA BRASILEIRA DE PRODUO DE CIDO ACRLICO 66

    V.1. BREVE HISTRICO 66 V.2. ANLISE QUALITATIVA DA COMPLEXIDADE TECNOLGICA 69 V.3. ALTERNATIVAS BRASILEIRAS 74

    V.3.1. MANUTENO DAS IMPORTAES 74 V.3.2. AQUISIO DE TECNOLOGIA EXTERNA 77 V.3.3. DESENVOLVIMENTO INTERNO 79

    V.3.3.1. ROTA EM UTILIZAO COMERCIAL 79 V.3.3.2. ROTAS NO CONVENCIONAIS 80

    V.4. MATRIZ DE HIPTESES 82 VI. CONCLUSES E RECOMENDAES 84

    VII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 88

    VIII. ANEXO 97

  • 1

    I. INTRODUO

    A presente dissertao tem como objetivo avaliar a oportunidade de

    produo do cido acrlico e seus derivados no Brasil tendo em conta a

    dificuldade de licenciamento dessa tecnologia no mercado mundial.

    O cido acrlico e os acrilatos so monmeros com capacidade de gerar

    polmeros e copolmeros com um amplo leque de propriedades. As propriedades

    levam utilizao desses produtos em diversas aplicaes, destacando-se:

    revestimentos, tintas, txteis, adesivos, plsticos e polmeros superabsorventes

    (utilizados em fraldas descartveis e absorventes).

    O mercado brasileiro de cido acrlico e seus derivados , na sua maior

    parte, atendido por importaes provenientes dos EUA, totalizado para o Brasil

    um desembolso anual mdio de US$ 200 milhes.

    A rota tecnolgica mais usada na produo do cido acrlico a

    oxidao do propeno. Os principais detentores da tecnologia so grandes

    empresas que tambm atuam na produo do cido acrlico e derivados, como

    Dow, Basf, Mitsubishi, Nippon Shokubai e Rohm and Hass. Essas empresas

    tendem a formar parcerias somente entre si para atender mercados em

    crescimento, ao invs de licenciar diretamente sua tecnologia, evitando com isso

    a entrada de novos competidores no mercado.

    A Petrobras, desde 2000, tem buscado parceria com os detentores da

    tecnologia, como por exemplo, Basf e Dow Chemical para instalao de um

    complexo de produo de cido acrlico, acrilatos e polmero superabsorvente

    (SAP) utilizando como matria-prima o propeno proveniente de suas refinarias.

    Entretanto, as negociaes ainda no resultaram na implantao do complexo

    acrlico no Brasil.

    Como se pretende estudar a questo de acessibilidade tecnologia de

    cido acrlico e seus derivados, vis--vis o interesse de produzir tais produtos no

    Brasil, optou-se pela abordagem qualitativa do tipo estudo de caso,

    fundamentada nos pressupostos de Yin (1999), o qual freqentemente

    utilizado para coleta de dados na rea de estudos organizacionais.

  • 2

    A seleo do caso baseou-se nas dificuldades de licenciamento de

    tecnologia no mercado mundial, encontrada pela Petrobras na tentativa de

    viabilizar seu projeto de construo de um complexo de produo de cido

    acrlico e derivados, denominado Complexo Acrlico.

    O referencial terico necessrio fundamentao da anlise do estudo de

    caso, para garantir a validade e fidedignidade pesquisa, utilizou uma base de

    dados proveniente de mltiplas fontes. As informaes foram coletadas sob

    diferentes condies, ao longo do tempo, tais como:

    a) Fontes primrias: livros, artigos em peridicos, patentes, teses e

    dissertaes.

    b) Fontes secundrias: site de produtores, de consultorias e de

    associaes; notcias em revistas especializadas; bases de dados de preos, de

    mercado e de estatsticas relativas inovao; manuais, catlogos e

    enciclopdia.

    O acesso s fontes secundrias no oficiais como estudos adquiridos de

    consultorias externas, no disponibilizadas oficialmente, serviram de base para

    nortear as pesquisas nas fontes oficiais. Esta foi uma das limitaes encontradas

    na elaborao desta dissertao, que tomou o devido cuidado em no divulgar

    informaes consideradas confidenciais para as empresas, restringindo-se as

    informaes de conhecimento pblico, que muitas vezes no possuem grande

    profundidade. Como por exemplo, no houve acesso a informaes sobre o

    custo da tecnologia, o detalhamento dos investimentos, os custos de produo,

    dentre outros.

    No caso do levantamento das patentes, tanto na base de dados da

    Derwent e quanto na do INPI, foram encontradas algumas dificuldades na

    pesquisa, uma vez que os filtros de busca no so totalmente eficientes para

    eliminar assuntos que no eram objeto da consulta. Portanto, foi necessria uma

    depurao manual dos resultados, de modo a garantir que as estatsticas

    apuradas estavam relacionadas ao assunto desejado.

  • 3

    Tendo como referncia o conhecimento do problema, as informaes

    levantadas foram separadas segundo sua destinao ao desenvolvimento do

    projeto de pesquisa: cadeia do cido acrlico e seus derivados, obteno da

    tecnologia, tecnologia de produo e perspectiva brasileira neste mercado. O

    tratamento e a anlise destas informaes subsidiaram a elaborao dos

    captulos descritos a seguir, gerando a argumentao necessria para a

    avaliao final do estudo de caso, com a constatao dos pontos positivos e

    negativos das hipteses levantadas.

    O Captulo II que trata do Processo de obteno da tecnologia aborda

    questes gerais sobre a capacitao tcnica da firma, bem como o processo de

    transferncia tecnolgica com foco nos pases em desenvolvimento, que o

    caso do Brasil. Adicionalmente analisa-se o processo de formao da indstria

    petroqumica brasileira, que foi baseado na aquisio de tecnologias exgenas,

    sem um foco definido no processo de desenvolvimento tecnolgico nacional

    capaz de suportar demandas futuras.

    O terceiro captulo apresenta a Cadeia do cido acrlico abordando as

    aplicaes, os mercados mundial e brasileiro, a dinmica de preos, a

    capacidade instalada e o balano de oferta versus demanda. Adicionalmente,

    projetada a demanda para os prximos anos para o Brasil de forma avaliar qual

    seria a potencial capacidade do complexo a ser instalado no Brasil.

    O quarto captulo, Tecnologias de produo de cido acrlico e derivados,

    realizada a anlise das tecnologias de produo do cido acrlico (AA),

    acrilatos e SAP para suporte as discusses estratgicas. Apresentam-se as

    tecnologias empregadas, tida como obsoletas, as utilizadas atualmente e novos

    desenvolvimentos, que se destacam por um potencial de utilizao futura, como

    o caso da rota que utiliza a glicerina como matria-prima para produo de

    cido acrlico e derivados.

    O quinto captulo, Perspectiva brasileira de produo de cido acrlico, se

    inicia com um histrico das iniciativas brasileiras para se produzir o cido

    acrlico. Em seguida, analisa-se de forma qualitativa o grau de complexidade das

    tecnologias do complexo acrlico. Por fim, apresenta-se as alternativas que o

    Brasil dispe para produzir o AA, com destaque para os cenrios denominados:

  • 4

    manuteno das importaes, aquisio de tecnologia externa, seja via

    licenciamento direto ou atravs de parcerias, e desenvolvimento interno da rota

    atual ou de uma nova rota como caso da glicerina.

    O sexto e ltimo captulo, apresenta as concluses e recomendaes da

    dissertao para estudos futuros a cerca do cido acrlico e derivados.

  • 5

    II. PROCESSO DE OBTENO DA TECNOLOGIA

    A tecnologia um elemento estratgico para o crescimento e

    fortalecimento do poder competitivo das empresas. O ambiente externo cada vez

    mais competitivo exige das empresas maior nvel de capacitao tecnolgica

    para enfrentarem concorrentes e conquistarem uma melhor posio no mercado.

    As empresas precisam desenvolver e introduzir inovaes tecnolgicas, a fim de

    criar e sustentar vantagens competitivas, e usufruir do poder monopolista por um

    certo perodo de tempo.

    Na indstria qumica a difuso tecnolgica possvel graas existncia

    de um mercado de transaes envolvendo tecnologia entre as empresas,

    conforme demonstrado a seguir.

    II.1. VISO GERAL DAS TRANSAES TECNOLGICAS NA INDSTRIA

    QUMICA

    Segundo Pavitt (1984), o setor qumico pode ser classificado como

    baseado em cincia (science basied) cuja caracterstica ter como principal

    fonte de tecnologia a Pesquisa & Desenvolvimento. No entanto, desde que foi

    possvel o acesso tecnologia a indstria petroqumica no mundo adquiriu como

    caractersticas marcantes: ser intensiva em capital, movimentar grandes volumes

    de matria-prima e produtos, e buscar economias de escala e escopo

    expressivas.

    Arora e Fosfuri (2000), com base em um grande banco de dados sobre os

    investimentos da indstria qumica mundial na dcada de 80, sugeriram que as

    patentes facilitaram a comercializao da tecnologia na indstria qumica. Por

    outro lado, as patentes isoladamente, no seriam suficientes para impulsionar o

    mercado de tecnologia. A presena de empresas especializadas em engenharia

    contribuiu para disperso da tecnologia e forou as grandes corporaes da

    indstria qumica a modificarem suas estratgias tecnolgicas, tendendo

    normalmente para campos mais protegidos, de novos entrantes, como Life

  • 6

    Sciences1. No entanto, no Brasil a participao das empresas especializadas em

    engenharia foi limitada realizao de atividades de menor importncia como

    detalhamento de unidades auxiliares, sistemas de utilidades, desenhos para

    construo e montagem, enquanto que a engenharia bsica e o detalhamento

    dos principais equipamentos foram contratados no exterior [Antunes, 1998].

    Arora e Fosfuri acreditam tambm que os ganhos gerados pelo

    licenciamento superam as perdas pelo aumento da competio no mercado.

    Apenas o licenciador recebe pela venda da tecnologia, enquanto que as perdas

    de mercado so divididas com os demais competidores. Como exemplo, elas

    citam a atuao da BP Chemicals2 que atuava de forma diferenciada na

    comercializao das suas tecnologias de produo de cido actico e polietileno

    (PE). No primeiro produto, a BP um forte proprietrio de tecnologia, mas o seu

    licenciamento muito seletivo, tipicamente para ter acesso a mercados que no

    possua abertura. Por outro lado, no caso do PE, em funo da sua pequena

    participao no mercado (menos 2% de market-share) licencia sua tecnologia

    (vrios processos comprovados de produo de PE) de forma agressiva,

    competindo com a Union Carbide3 que na poca era o lder no mercado de

    licenciamento.

    Tambm comprovaram que o licenciamento da tecnologia mais comum

    em setores com grande escala de produo, com produtos relativamente

    homogneos e com um grande nmero de novas plantas. No entanto o

    licenciamento menos comum em setores marcados pela diferenciao de

    produtos, customizao e pequenas escalas de produo. A Figura II.1 confirma

    a hiptese, que a indstria qumica pode ser classificada em trs categorias de

    acordo com o nvel de diferenciao do produto4: homogneo, intermedirio e

    1 A Monsanto um exemplo. No segmento de Life Sciences (cincias da vida) as empresas possuem as maiores margens de rentabidade. 2 BP Chemicals - Em dezembro de 2005, a BP Innovene que concentrava o negcio de poliolefinas da BP, incluindo as tecnologia de produo de PP e PE, foi vendida para a INEOS [http://www.innovene.com/genericarticle.do-categoryId=9005423&contentId=7013137.htm]. 3 Em 2001 a Dow Chemical adquiriu a Union Carbide e hoje as tecnologias de PE esto concentradas na Univation, joint venture tecnolgica entre a Dow e Exxon [http://www.univation.com/about.overview.php]. 4 Maiores detalhes sobre a forma de classificao adotada, vide ARORA e FOSFURI, 2000.

  • 7

    diferenciado. Observa-se que o nmero de licenas por detentor de patentes

    aumenta quando o mercado tende para o produto mais homogneo.

    1,14

    3,72

    4,84

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    Diferenciado Intermedirio HomgeneoTipo de produto

    N d

    e lic

    ena

    s

    Figura II.1. Licenciamento e diferenciao do produto.

    Fonte: Arora e Fosfuri, 2000.

    Adicionalmente, observa-se que a maior parte das licenas est

    relacionada ao processo.

    Em mdia, os royalties5 cobrados pelas empresas variam entre 2% a 5%

    da Receita Lquida. Na Tabela II.1, esto apresentados dados do estudo

    apresentado por Arora e Fosfuri (2000) sobre empresas qumicas. Cabe

    ressaltar o elevado retorno apresentado pela Union Carbide sobre seus

    investimentos em P&D, ou seja, para cada dlar investido retornariam 3,25

    vezes em termos de faturamento com licenciamento.

    Em termos da tecnologia uma empresa qumica ao decidir fabricar um

    novo produto, possui trs alternativas ao seu alcance: desenvolver

    internamente, adquirir a tecnologia de terceiros por licenciamento, ou realizar

    algum tipo de associao com o detentor da tecnologia, conforme ser

    apresentado a seguir [Wongtschowski, 2002]. A literatura sobre o

    desenvolvimento tecnolgico e transferncia de tecnologia vasta e com

    5 Royalties: Importncia cobrada pelo proprietrio de uma patente de produto, processo de produo, marca, entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercializao.

  • 8

    enfoques diferenciados, dependo do pas em questo, e de sua condio de

    desenvolvimento. Na presente dissertao, o enfoque principal dado s

    abordagens que versam sobre o desenvolvimento tecnolgico em pases em

    desenvolvimento mediano.

    Tabela II.1. Dados de licenciamento de empresas qumicas.

    EmpresaReceita Lquida-

    1988US$ mil

    N Total de Licenas -

    1980-90

    Receita mdia anual est. c/ licenciamentos

    US$ mil (A)

    Invest. P&D - 1988US$ mil (B) A/B

    Air Liquide 3.539 129 233 120 1,94Monsanto 7.453 113 204 590 0,35Union Carbide 8.324 106 192 59 3,25Shell 11.848 101 183 773 0,24ICI 21.125 93 168 1.020 0,16Air Products 2.237 59 107 72 1,49Amoco 4.300 55 100 nd ndPhillips 2.500 55 100 nd ndRhone-Poulenc 10.802 44 80 632 0,13Texaco 1.500 44 80 nd ndBASF 21.543 37 67 1.010 0,07Exxon 9.892 35 63 551 0,11Mitsui Toatsu 2.991 35 63 nd ndHoechst 21.948 34 62 1.363 0,05Du Pont 19.608 33 60 1.319 0,05

    TOTAL 973 1.760 7.509 0,23

    Fonte: Adaptado de Arora e Fosfuri, 2000.

    II.2. DESENVOLVIMENTO INTERNO

    O desenvolvimento interno de uma nova tecnologia de forma

    independente muito difcil, pois em geral, a maioria das empresas no possui

    as competncias necessrias internamente. Somado a isso, a necessidade de

    um desenvolvimento rpido, em funo da competio global, tambm pode

    impossibilitar a opo pelo desenvolvimento interno de forma independente. Em

    um estudo sobre grandes corporaes norte americanas no perodo entre 1980

    a 1990, foi observado um crescimento de 400% na utilizao de Pesquisa e

    Desenvolvimento (P&D) colaborativa entre as empresas [Steensma, 1999].

    O processo de desenvolvimento de um novo produto pode durar at 10

    anos e engloba as seguintes etapas: (i) anlise da oportunidade de negocio; (ii)

    Elaborao de um projeto de P&D; (iii) Obteno e anlise das informaes; (iv)

    Elaborao de um plano geral de experimentos; (v) realizao de experimentos

  • 9

    em bancada, planta piloto e prottipos; (vi) consolidao dos dados bsicos do

    projeto; (vii) anlise final de viabilidade tcnica e econmica; (viii) testes

    industriais [Cavalcanti, 2005].

    Aps o desenvolvimento de um novo processo em escala laboratorial so

    necessrios mais dois a trs anos de teste em planta piloto para confirmar a

    viabilidade de produo em escala industrial [Kirk, 1998].

    II.3. AQUISIO VIA LICENCIAMENTO

    A aquisio da tecnologia uma prtica corrente da indstria para se

    manter atualizada com as novas tendncias tecnolgicas alm de ser uma

    estratgia comum para o crescimento da corporao [Hagedoorn and Shaken-

    raad, 1994]. A principal dificuldade para as organizaes consiste na maneira de

    adquirir a tecnologia necessria [Steensma, 1996].

    A aquisio de tecnologia pode ser definida com sendo um processo de

    planejamento, seleo, identificao das vantagens que a nova tecnologia pode

    trazer para a empresa, ou as aplicaes e os ganhos econmicos advindos

    dessa nova tecnologia [Lambe e Spekman, 1997]. Como um dos componentes

    da estratgia tecnolgica, a empresa deve escolher o modo apropriado para

    adquirir a tecnologia necessria [Chesbrough, 2006; Chesbrough e Crowther,

    2006]. Em funo da natureza da tecnologia, sua aquisio no simplesmente

    comprar o capital intelectual ou adquirir o direito de explorar as patentes. O

    comprador normalmente obrigado a dedicar substanciais recursos para

    assimilar, adaptar e melhorar a tecnologia original [Barney, 1991].

    Segundo Barney (1991), os recursos podem ser categorizados em:

    fsicos, humanos e organizacionais. Os recursos fsicos incluem os ativos fixos

    como a planta, os equipamentos e os ativos intangveis como marcas e patentes.

    Recursos humanos incluem experincia, habilidades da equipe, enquanto os

    recursos organizacionais incluem cultura, estrutura, gerenciamento da empresa

    [Tsang, 1997].

    O licenciamento pode ser definido com sendo um mtodo de se obter a

    permisso para utilizao de certa tecnologia, bem como o acesso ao know-how

  • 10

    secreto detido por uma outra organizao [Contractor, 1980; Kurokwa, 1997;

    Yoshikawa, 2003]. O licenciamento de uma tecnologia com aplicao

    comprovada pode ser uma excelente opo, pois reduz os riscos de

    desenvolvimento e implantao minimizando incertezas sobre seu desempenho,

    alm de encurtar o longo caminho que a curva de aprendizagem6 impe.

    Alp e Ormurtag (1997) propuseram um modelo simplificado de Aquisio

    e Utilizao Tecnolgica que pode ser aplicado tanto a empresas em pases

    desenvolvidos, como em empresas em pases em desenvolvimento, conforme

    apresentado na Figura II.2.

    O modelo pode ser dividido em trs nveis ou zonas, conforme descrito a

    seguir:

    No primeiro nvel (Zona de necessidade) identifica-se a necessidade de

    aquisio de uma nova tecnologia, seja por uma demanda do mercado ou pelo

    estabelecimento de alguma exigncia regulatria determinada pelo governo. Por

    outro lado, a aquisio est limitada pela capacidade interna da firma.

    No segundo nvel (zona de aquisio da tecnologia) inclui identificao,

    pesquisa, avaliao e seleo da nova tecnologia. A aquisio pode ser

    conduzida de duas maneiras diferentes. A primeira criar uma nova tecnologia

    internamente via P&D. A segunda adquiri-la onde estiver disponvel.

    O terceiro e ltimo nvel (zona de utilizao da tecnologia) compreendem

    a fase de adaptao, absoro, implementao e utilizao da nova tecnologia.

    6 Curva de aprendizagem: conceito que relaciona o aumento da produtividade medida que aumenta o conhecimento do processo.

  • 11

    Zona de Necessidade

    Zona de Aquisio de Tecnologia

    Zona de Utilizao da Tecnologia

    Sociedade - Situao Governo - Regras Necessidade

    P&D Capacidades Atuais Capacidades

    Potenciais

    IDENTIFICA NOVAS TECNOLOGIAS

    Gestores Engenheiros rea rea Entidades Demais reas de Vendas de Produo Externas Tcnicas

    PESQUISA

    Universidades

    Centros de P&D

    Jornais/Peridicos Tcnicos

    Simpsios/Conferncias

    Licenciamento de Tecnologia

    Consultorias

    Treinamentos/Capacitao dos Tcnicos

    AVALIAO

    Custos Programas Customizao Condies Perspectivas de Treinamento de Mercado de Longo-Prazo

    SELEO

    AQUISIO

    Cria Nova Tecnologia

    Adquire Tecnologia Disponvel

    ADAPTAO E ABSORO

    Gesto

    - Pr-ativa

    - Alto Conhecimento Gerencial e Tcnico

    - Treinada

    Fora de Trabalho

    - Motivada

    - Satisfeita

    - Experiente

    IMPLEMENTAO Complexidade Tcnica Tempo Conhecimento Gerencial e Tcnico

    UTILIZAO rea de Produo Novos Produtos rea de Vendas Servios Internos

    VERIFICAO Aprendizagem Contnua

    Figura II.2. Modelo de Aquisio e Utilizao Tecnolgica.

    Fonte: Alp e Ormurtag, 1997.

  • 12

    II.4. PARCERIAS

    Vrias so os tipos de parcerias adotadas pelas empresas. No existe

    uma forma tima de colaborao, sendo que na prtica a caracterstica

    tecnolgica e de mercado iro restringir a escolha e a cultura da empresa e

    consideraes estratgicas iro determinar o que possvel e o que desejvel.

    As alianas podem ser caracterizadas em termos de sua importncia estratgica

    ou durao, conforme apresentado na Tabela II.2 [Tidd, 1997].

    Dentre os vrios tipos de parcerias apresentados, as joint ventures7 (JV)

    so as mais utilizadas. Em geral sua durao de longo prazo, tendo com

    principal vantagem a complementaridade de know-how das empresas. Por outro

    lado, a principal desvantagem reside na divergncia estratgica entre as

    companhias.

    Tabela II.2. Formas de Parcerias estratgicas.

    Tipos de Parceria

    Durao Tpica Vantagens Desvantagens

    Subcontratar Curto Prazo - Custo e risco reduzido; - Implementao rpida.

    - Encontrar equilbrio entre produto, desempenho e

    qualidade.

    Inter-licenciamento

    (Cross Licensing)

    Prazo Fixo - Aquisio da Tecnologia - Dificuldade para definir

    custos de contratao (Constrangimento)

    Consrcios Mdio Prazo - Acesso a normas padro, expertise e facilidades de

    financiamento.

    - Dificuldade de diferenciao, limitao de aplicao do conhecimento

    adquirido.

    Alianas Estratgicas Flexvel

    - Baixo comprometimento e acesso ao mercado.

    - Potencial bloqueio para transmisso do

    conhecimento adquirido.

    Joint Venture Longo Prazo - Complementao de know-how, gesto dedicada ao negcio.

    - Divergncias estratgicas, desencontro cultural entre as

    empresas.

    Network Longo Prazo - Potencial aprendizagem de forma dinmica (rede de troca de

    informao).

    - Ineficincias estticas.

    Fonte: Tidd, 1997.

    7 Joint Venture (JV): um instrumento jurdico que estabelece as regras de relacionamento entre duas ou mais empresas, sem interferir na estrutura societria, restringindo-se aos aspectos operacionais. Disponvel em: http://www.nardonnasi.com.br/artigos/Cisao.doc. Acesso em 26/07/2008.

  • 13

    Em uma JV, duas ou mais companhias concordam em compartilhar o

    capital, tecnologia, recursos humanos, riscos e recompensas na formao de

    uma nova entidade de controle compartilhado. Como uma parceria, a JV. pode

    envolver qualquer tipo de transao comercial e as pessoas envolvidas podem

    ser individuais, grupos de indivduos, companhias ou corporaes. As JVs. so

    uma maneira muito utilizada pelas empresas para entrar em mercados

    estrangeiros (Tsang, 1997). As empresas estrangeiras formam JV. com as

    empresas domsticas do mercado onde se desejam entrar. Geralmente as

    empresas estrangeiras trazem uma nova tecnologia e a prtica do negcio para

    a JV., enquanto que as empresas domsticas possuem conhecimento do

    mercado local e relacionamento j estabelecido com a burocracia governamental

    [Moon, 1998]. Alm de ser uma boa alternativa de parceria com empresas que

    possuem habilidades complementares e recursos, como canais de distribuio,

    tecnologia, a JV. tornou-se uma forma de fazer alianas estratgicas [Steensma,

    1996; Hagedoorn e Schakenraad, 1994].

    Chamas (1994) estudou a formao JV. como estratgia de capacitao

    tecnologia no caso da criao da Fabrica Carioca de Catalisadores (FCC S.A.), e

    concluiu que este tipo de parceria constitui um mecanismo eficiente de

    transferncia de tecnologia desenvolvida externamente para fornecer

    capacidade de produo e capacitao tecnolgica.

    II.5. PROCESSO DE ESTABELECIMENTO DA INDSTRIA PETROQUMICA BRASILEIRA

    A implantao da indstria petroqumica nacional foi iniciativa do

    planejamento estatal iniciado em 1965 com a instalao do GEIQUIM (Grupo

    Executivo da Indstria Qumica), responsvel pelas orientaes bsicas na

    concepo dos dois plos petroqumicos, localizados na Bahia e Rio Grande Sul.

    A primeira central de matrias-primas, a Petroqumica Unio8 (PQU), localizada

    em Capuava e Santo Andr no Plo de So Paulo, iniciou suas atividades em

    1972 fora desse planejamento.

    8 PQU: passou a integrar os ativos da Quattor Petroqumica em 2008.

  • 14

    Tambm foi criada a Petrobrs Qumica S.A. Petroquisa9, subsidiria da

    Petrobras, que atuou vigorosamente no planejamento e implantao dos plos

    petroqumicos no nordeste e sul. Essa subsidiria tornou possvel o

    desenvolvimento de toda a indstria petroqumica nacional.

    O incio das atividades destes plos foi caracterizado pela construo de

    centrais petroqumicas ao longo de um perodo de apenas 10 anos, conforme

    ordem a seguir:

    (i) Companhia Petroqumica do Nordeste10 (Copene) no Plo da Bahia,

    localizado em Camaari, em 1978;

    (ii) Companhia Petroqumica do Sul11 (Copesul) no Plo do Rio Grande do

    Sul, localizado em Triunfo, em 1982.

    O modelo societrio predominante nas empresas de segunda gerao na

    poca eram joint-ventures compostas por trs scios, cada um com 1/3 do

    capital: a Petroquisa juntamente com scio privado compondo o capital nacional

    e um scio estrangeiro, geralmente o responsvel pelo fornecimento do pacote

    tecnolgico. Esse modelo amplamente utilizado na poca ficou conhecido como

    modelo tripartite. J nas centrais petroqumicas a Petroquisa possui o controle

    do capital, com as empresas de segunda gerao tendo participaes

    minoritrias, apenas de modo a garantir o suprimento de matria-prima.

    A concepo dos plos estava associada a conjuntos industriais de

    primeira gerao e de segunda gerao, com capacidade para atender a toda

    demanda projetada e, com isso, substituir as importaes. Essa organizao

    fundamentou a criao das centrais de matrias-primas (primeira gerao),

    manuteno, tratamento de efluentes e utilidades como empresas

    independentes. Ao seu entorno, foram instaladas empresas consumidoras dos

    insumos produzidos pelas centrais, as chamadas empresas de segunda

    gerao.

    9 Em 28 de dezembro de 1967, foi criada a Petrobras Qumica S.A. (PETROQUISA), como subsidiria da Petrobrs, com o objetivo de desenvolver e consolidar a indstria qumica e petroqumica no Brasil. 10 Copene: umas das empresas do plo que deram origem a Braskem em 2002. 11 Copesul: empresa incorporada a Braskem em 2008.

  • 15

    A opo por joint-ventures parece que foi acertada no sentido de criar

    uma indstria de base no existente no pas, em um prazo relativamente curto.

    Isto foi possvel devido ao interesse que o mercado brasileiro despertou em

    algumas empresas multinacionais, tanto pelo seu tamanho, como pelo processo

    de intenso crescimento econmico pelo qual o pas passava. Acresce o fato de

    que, atravs da JV, os riscos seriam divididos com o governo, atravs da

    Petroquisa. Alm disso, esses fornecedores estrangeiros de tecnologia

    garantiam sua participao no novo mercado e protegiam o controle da

    tecnologia em um ambiente de negcios caracterizado pela forte interveno

    estatal.

    Os contratos firmados com as empresas estrangeiras na implantao da

    indstria petroqumica no pas caracterizavam-se por incluir todas as etapas de

    implantao dos projetos como, por exemplo, a concepo do projeto bsico e

    de detalhamento, de diligenciamento e de compra de equipamentos, de

    assistncia e de finalizao de construo e montagem, alm dos testes de

    aceitao, partida e pr-operao. Adicionalmente, no caso dos produtos finais,

    em especial as resinas termoplsticas, tambm eram fornecidos informaes

    sobre suas caractersticas e aplicaes [Erber & Vermulm, 1993 apud Hemais,

    2001].

    Segundo Antunes (1998), apesar de representar cerca de 40% do

    investimento em engenharia, a engenharia nacional teve sua atuao nos

    projetos limitada a atividades de menor importncia tecnolgica, como

    detalhamento de unidades auxiliares, sistemas de utilidades, desenhos para

    construo e montagem, enquanto que a engenharia bsica e o detalhamento

    dos principais equipamentos foram contratados no exterior. Conseqentemente,

    no curto prazo, os fabricantes nacionais de equipamentos foram prejudicados no

    processo de concorrncia para fornecimento dos principais equipamentos, uma

    vez que as especificaes eram estabelecidas pelas empresas de engenharia

    estrangeiras. Dessa forma, no foram grandes as possibilidades de absoro e

    de desenvolvimento da tecnologia importada, sendo as empresas capacitadas

    muito mais no sentido de operar suas fbricas do que dominar os conhecimentos

    que nelas esto incorporadas. A principal razo deve-se ao pequeno contato

  • 16

    com os problemas centrais nas reas de engenharia e processo de produo,

    tornando a empresa dependente de tecnologia importada no processo de

    ampliao das empresas.

    Segundo Bastos [apud Hemais, 2001], a tecnologia importada tinha seu

    desempenho garantido pela aquisio de equipamentos, de servios e de outros

    insumos de fontes especficas. Devida a inexperincia por parte das autoridades

    brasileiras na negociao de clusulas contratuais relativas transferncia de

    tecnologia, foram impostas, nos contratos com fornecedores estrangeiros,

    clusulas de sigilo (muitas vezes eterno) e restries ampliao da capacidade

    ou implantao de novas unidades. Dessa forma, as aes da indstria

    nacional quanto a sua capacitao tecnolgica foram restringidas ao mximo.

    Em outras palavras, o objetivo da implantao limitou-se ao estabelecimento de

    uma indstria para atender a demanda do mercado interno.

    Este cenrio se modificou bastante a partir de 1970, com a criao do

    INPI12 (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), rgo responsvel pela

    poltica governamental de propriedade industrial, que permitiu desenvolver meios

    para acelerar o processo de transferncia tecnolgica. Foram estabelecidos

    critrios de negociao (como o valor dos royalties) e de registro de contratos,

    reforando o poder de barganha da empresa que fosse adquirir a tecnologia

    [Cunha Lima, 2000 apud Hemais, 2001]. Segundo Bastos [apud Hemais, 2001],

    as restries e o prazo para o trmino do sigilo, previamente estabelecidos nos

    contratos, diminuram aps 1975, em funo da atuao do INPI.

    Em paralelo, outros rgos governamentais brasileiros, ligados ao

    financiamento de desenvolvimento econmico e tecnolgico, patrocinaram

    projetos visando o fortalecimento da infra-estrutura tecnolgica das empresas

    brasileiras, tentando incrementar sua competitividade. Este movimento estimulou

    as empresas nacionais procura de desenvolver suas respectivas atividades

    tecnolgicas, como por exemplo, o programa de pesquisas de interesses

    comuns das empresas do plo de Camaari utilizando o CEPED (Centro de

    12 INPI, criado em 11 de dezembro de 1970 pela Lei nmero 5.648 [site no INPI, http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/patente/pasta_legislacao/lei_5648_1970_html, acessado em 30/05/2008].

  • 17

    Pesquisas e Desenvolvimento) do Governo da Bahia e a Petroquisa que decidiu

    criar seu prprio centro de pesquisa, ambos na dcada de 80 [Hemais, 2001].

    As empresas de segunda gerao focaram seus esforos em pesquisas

    relacionadas aos produtos, no sentido de buscar novas especificaes destes,

    ampliando o leque de aplicaes e as estruturas de assistncia tcnica aos

    clientes, de acordo com a necessidade do mercado nacional. Ao final da dcada

    de 80, grande parte das empresas tinha seu centro especializado em P&D ou

    realizava essas atividades em outros laboratrios, porm em nveis ainda

    modestos.

    Tambm no se pode descartar o aprendizado adquirido com o acmulo

    progressivo de conhecimento tcnico, resultante da experincia de implantao

    de um plo petroqumico para o outro, que se mostraram bastante distintos.

    Na PQU, a alocao de recursos tinha como foco a importao de

    tecnologia e a engenharia de detalhamento. J na Copesul, observa-se uma

    preocupao maior no tocante s atividades de P&D, com a finalidade de

    absoro da tecnologia. O domnio de parte da trajetria tecnolgica acabou

    levando muitas empresas ao desenvolvimento de otimizaes e

    desgargalamentos, dentre outros, que possibilitaram tanto uma queda no

    consumo de energia como o aumento da capacidade nominal das empresas o

    que de fato foi comprovado por Antunes (1987).

    Apesar dos citados ganhos acumulados com a curva de aprendizagem,

    no se pode afirmar que ocorreu a absoro completa dos pacotes tecnolgicos

    importados, tendo em vista que as empresas no dispunham de equipe

    capacitada para a realizao de um programa de absoro tecnolgica, bem

    como experincia em negociar a flexibilizao das restries impostas pelas

    empresas estrangeiras, enquanto scias da empresa.

    Na dcada de 90, no governo Collor teve incio o Programa de

    Desestatizao do Setor Petroqumico, que paralisou o projeto de criao do

    centro de pesquisa da Petroquisa, enfraquecendo o processo de

    desenvolvimento tecnolgico nacional no setor. O processo se caracterizou pela

    alienao de diversas participaes acionrias em empresas controladas e

  • 18

    coligadas, ficando a empresa apenas com participaes minoritrias em dez

    petroqumicas.

    Em 1996, inicia-se uma nova fase do planejamento da indstria

    petroqumica nacional, sem o controle estatal: o projeto do Plo gs-qumico,

    localizado no Rio de Janeiro, com a criao da Rio Polmeros13. O novo modelo

    societrio adotado era composto por dois scios privados, Suzano e Unipar,

    cada um com 33,3% do capital, pela Petroquisa e pelo BNDESPar14, cada um

    com 16,7%. A Rio Polmeros um projeto pioneiro no Pas, pois integrou a

    produo de eteno a partir das fraes de etano/propano presentes no gs

    natural da Bacia de Campos, com a produo de polietilenos. Em junho de 2005,

    a Rio Polmeros entrou em operao com uma capacidade de 540 mil

    toneladas/ano de polietileno de alta densidade (PEAD) e polietileno linear de

    baixa densidade (PELBD).

    Quanto tecnologia, mais uma vez optou-se pela aquisio de um pacote

    tecnolgico importado15, sem garantia de absoro completa desta. A seleo da

    tecnologia teve como critrios, disponibilidade para licenciamento, investimento,

    custo de produo, valor do pagamento de royalties e portflio de tipos de

    polietileno produzido. A Rio Polmeros verificou que a tecnologia de

    polimerizao em fase gasosa seria a mais adequada ao mercado brasileiro.

    Exemplos mais recentes de novos projetos capitaneados pela iniciativa

    privada, seguiram o modelo de aquisio de tecnologias exgenas, como as

    plantas de polipropileno da Suzano Petroqumica em Mau (2003) e da PPSA

    em Paulnia (2008), bem como expanso em curso da Polietilenos Unio16.

    Em 2008, encontra-se em cursos vrios movimentos de consolidao do

    setor petroqumico nacional, com objetivo de estabelecer duas empresas

    privadas capazes de competir no mercado internacional: Braskem17 e Quattor18.

    13 Rio Polmeros: passou a integrar os ativos da Quattor Petroqumica em 2008. 14 Brao de participaes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social. 15 Foram selecionadas as tecnologias da ABB Lummus para a unidade de pirlise e da Univation para a unidade de polimerizao. 16 A Suzano e a PPSA utilizaram a tecnologia Shperipol da Basell, e a Polietilenos Unio selecionou a da Chevron Philips Chemical. 17 Criada em 2002, a partir da fuso de seis empresas no plo de Camaari (incluindo a Copene). Em 2008, sero incorporadas a Copesul e a Ipiranga Petroqumica.

  • 19

    Espera-se com isso, um aumento da capacidade de desenvolvimento

    tecnolgico desses dois grupos. A Braskem j possui um centro de pesquisa

    prprio, localizado em Triunfo/RS, e tem se caracterizado pelo crescente nmero

    de depsito de patentes, principalmente relacionado a novas especificaes e,

    conseqentemente, aplicaes dos produtos. No caso da Quattor, a expectativa

    de que as empresas capturem sinergias integrando suas atividades de P&D,

    ora realizadas de forma inspida e independente. O desafio para essas empresas

    mudar o seu perfil tecnolgico de simples seguidores para empresas capazes

    de desenvolver novas tecnologias, gerando monoplios momentneos. A

    Braskem recentemente anunciou a retomada de uma rota tecnolgica

    desenvolvida no pas, inicialmente pela Petrobras, para produo de eteno a

    partir de etanol. Outra iniciativa nessa linha so as pesquisas da Quattor

    Petroqumica (antiga Suzano Petroqumica) para desenvolver a tecnologia capaz

    de converter glicerina em propeno.

    II.6. ANLISE DA DISPONIBILIDADE LOCAL DE TECNOLOGIA VIS-A-VIS

    A CARTEIRA DE PROJETOS ANUNCIADOS Segundo pesquisa realiza pela ABIQUIM em 2007, a indstria de

    produtos qumicos de uso industrial planeja investir cerca de US$ 20 bilhes at

    2016, considerando os projetos j aprovados, e os ainda em fase de estudos.

    Na Tabela II.3 esto representados os principais projetos da carteira de

    investimento da indstria qumica.

    A exceo dos projetos da Petroqumica Suape e da PQU que j esto

    em execuo, o complexo acrlico o terceiro projeto em termos de

    investimentos da carteira.

    Esse projeto j foi anunciado duas vezes nos ltimos dez anos, mas teve

    seu cronograma postergado em funo da dificuldade de acesso a sua

    tecnologia.

    Desta forma, optou-se nesta dissertao pelo estudo de caso do cido

    acrlico, dada a situao de acessibilidade a tecnologia mpar, em funo do

    18 Criada em 2008, a partir da fuso de cinco empresas: Suzano Petroqumica, PQU, Rio Polmeros, Polietilenos Unio e Unipar Diviso Qumica.

  • 20

    conflito de interesse licenciador/ produtor, conforme ser demonstrado ao longo

    do texto.

    Tabela II.3. Carteira de investimentos da indstria qumica 2007 - 2016.

    Empresa/ Projeto Produto

    Investimento (US$ MM)

    Concluso Prevista Tecnologia Observaes

    COMPERJ (Petrobras, Ultra e outros

    parceiros a serem definidos)

    Eteno, propeno, p-xileno, benzeno,

    butadieno, estireno, etileno glicol, PE,

    PP e PTA/PET

    8.400 2012 Nacional e internacional

    A tecnologia do FCC Petroqumico foi

    desenvolvida pelo centro de pesquisa da Petrobras (CENPES). As demais

    tecnologias sero compradas no mercado

    internacional.

    Dow Brasil e Crystalev Eteno/ Polietilenos 1.000 2011 Internacional Tecnologia de produo

    de eteno a partir do etanol da Dow.

    Petroqumica Suape (Petroquisa e Citene) PTA 660 2009

    Internacional

    Tecnologia licenciada pela INVISTA.

    Petroqumica Unio Eteno 594 2008 Nacional e internacional

    A tecnologia para utilizao do gs de

    refinaria foi desenvolvida pelo CENPES. As demais

    tecnologias foram adquiridas de licenciadores

    internacionais.

    Complexo acrlico (Petroquisa, Elekeiroz

    e outros parceiros a serem definidos)

    cido acrlico, Polmero super-

    absorvente (SAP) e Acrilatos (butila,

    etila e octila)

    519 2016 Internacional

    Dificuldade de licenciamento em funo

    da posio dbia licenciador/ produtor.

    Petroqumica Paulnia (Petroquisa e

    Braskem) Polipropileno 383 2008 Internacional Tecnologia Spheripol da Basell.

    Polietilenos Unio PEAD/PELBD 236 2008 Internacional Tecnologia licenciada pela Chevron Phillips

    Chemical. Coquepar (Petroquisa,

    Unimetal e Brasilenergy)

    Coque calcinado 197 2009/2010 Internacional Em estudo.

    Eteno de lcool (Braskem) Eteno 70 2009 Nacional Em estudo

    Fonte: Adaptado da ABIQUIM, 2007.

  • 21

    III. CADEIA DO CIDO ACRLICO E MERCADO

    O cido acrlico (AA) ou cido propenoco pela nomenclatura IUPAC, foi

    inicialmente produzido em 1930, a partir da oxidao da acrolena. Diversas

    rotas tecnolgicas foram desenvolvidas no sculo passado e, atualmente, o

    processo mais empregado tem sido o de oxidao cataltica do propeno, rota

    que tambm tem como intermedirio a acrolena (C3H4O). Comercialmente, o

    cido acrlico possui dois grades: cido acrlico bruto (AAB) com pureza entre

    96% a 97% e o cido acrlico glacial (AAG) com pureza superior a 99%.

    Seus principais derivados so os steres produzidos pela reao do

    cido acrlico com um lcool, sendo os mais comuns os acrilatos de metila,

    etila, butila e 2-etil-hexila [Kirk, 1998] e poli(acrilato de sdio) que integra o

    grupo dos polmeros superabsorvente (SAP).

    Nas condies ambientes o AA um lquido, incolor, solvel em gua e

    com tendncia a se polimerizar. As propriedades fsicas do cido acrlico e de

    seus principais steres esto apresentadas na Tabela III.1.

    Tabela III.1. Propriedades fsicas do cido acrlico e seus steres.

    Acrilatos

    Propriedade Metila Etila Butila Isobutila 2-etil-hexila

    cido Acrlico (AA)

    Frmula molecular C4H6O2 C5H8O2 C7H12O2 C7H12O2 C11H20O2 C3H4O2

    Peso molecular 86 100 128 128 184 72 Densidade (g/cm)

    0,956 0,922 0,898 0,890 0,887 1,046

    Ponto de fuso (oC) -76 -72 -64,6 -61 -90 13

    Ponto de ebulio (oC) 80 99 147 138 216 141

    Ponto de fulgor (oC) -3 8 37 30 86 48

    Fonte: Elaborao prpria a partir do resumo sobre segurana, Basf - 3 edio.

  • 22

    III.1. PRINCIPAIS APLICAES

    O cido acrlico e os acrilatos so monmeros com capacidade de gerar

    polmeros e copolmeros com um amplo leque de propriedades. Tais

    propriedades propiciam a utilizao desses produtos em diversas aplicaes,

    destacando-se: revestimentos, tintas, txteis, adesivos, plsticos, produtos de

    higiene (fraldas e absorventes), detergentes, dispersantes, floculantes, etc.

    III.1.1. CIDO ACRLICO

    A principal aplicao do cido acrlico bruto (AAB) produzido no mundo

    est relacionada ao cido acrlico glacial (AAG) e acrilato de butila, o que

    representam mais de 70%, conforme indicado na Figura III.1.

    Aplicaes do cido Acrlico Bruto (%)

    8%

    4%

    5%

    9% 30%

    44%

    cido Acrlico Glacial Acrilato de Butila Acrilato de Etila

    Acrilato de Metila Acrilato de 2-etil-hexila Outros

    Figura III.1. Aplicaes do cido Acrlico Bruto.

    Fonte: Kirschner, 2005.

    A principal utilizao do cido acrlico glacial (AAG) a produo do

    policido acrlico - PAA empregado nos polmeros super-absorventes (SAP).

    Apesar do termo policido acrlico PAA englobar tanto os polmeros do cido

    acrlico quanto os do metacrlico, nesta dissertao apenas os derivados do

    primeiro sero considerados. Esses polmeros so produzidos diretamente a

  • 23

    partir da polimerizao do cido acrlico ou alternativamente pela hidrlise dos

    poliacrilatos, poliacriloamida ou poliacrilonitrila e seus copolmeros.

    III.1.2. ACRILATOS

    Os acrilatos possuem cerca de 60% de suas aplicaes relacionadas ao

    segmento de tintas e adesivos nos EUA, conforme indicado na Figura III.2.

    Esse perfil o mesmo observado na Europa, porm no Japo o segmento de

    adesivos possui maior peso do que as tintas.

    Aplicaes dos acrilatos nos EUA (%)

    47%

    18%14%

    4%

    12%

    5%

    Tintas e revestimentos Adesivos e selantes Fibras/txtil

    Papel Aditivos polimricos Outros

    Figura III.2. Aplicaes dos acrilatos.

    Fonte: Burridge, 2006.

    A vantagem do uso dos acrilatos nas formulaes de tintas, apesar do

    preo superior ao dos revestimentos base de Poli(lcool vinlico) - PVA, est

    na maior durabilidade e qualidade conferida s superfcies onde so aplicadas

    e, dessa forma, promovendo uma melhor relao custo-benefcio.

    Na indstria txtil os acrilatos competem como ligantes, frente s

    emulses de acetato de vinila e copolmeros de EVA (copolmero de etileno

    acetato de vinila) e so preferveis quando o produto final tem que apresentar

    boa maleabilidade, flexibilidade em baixas temperaturas e maior resistncia

    lavagem.

  • 24

    No setor de ceras e polimentos, os steres acrlicos so incorporados

    nas formulaes de produtos para pisos frios, assoalhos e sapatos e competem

    com, por exemplo, metacrilato de metila e estireno. Neste caso, destacam-se

    as vantagens de melhorar tanto a temperatura de transio vtrea da cera como

    a firmeza de permanncia do produto sobre a superfcie aplicada.

    III.1.3. POLMERO SUPER-ABSORVENTE (SAP)

    As aplicaes do PAA incluem os polmeros superabsorventes (SAP) e

    seu uso em detergentes, em papel e celulose, na indstria txtil, no tratamento

    de gua, em revestimento e na produo de petrleo. O peso molecular do

    polmero tende a definir sua aplicao, conforme indicado na Tabela III.2 para o

    SAP.

    Tabela III.2. Aplicaes do SAP

    Peso Molecular Mdio (g/mol)

    Aplicao

    5.000 20.000 Dispersante

    300.000 500.000 Agente de espessamento

    > 1.000.000.000 Floculante19

    Fonte: http://www.gelita.com/DGF-portuguese/gelatine/gelatine_lexikon.html?reload_coolmenus.

    A principal utilizao dos polmeros superabsorventes direcionada para

    o emprego em fraldas descartveis e absorventes higinicos femininos,

    conforme indicado na Figura III.3. O poder de absoro do SAP de 40 vezes

    o seu peso. Essa vantagem resulta no apenas em produto de menor volume

    19 Substncia de alto pelo molecular solvel, dispersvel ou intumescida em gua, formando pseudo-gis utilizada no segmento de higiene pessoal. [http://www.gelita.com/DGF-portuguese/gelatine/gelatine_lexikon.html?reload_coolmenus].

  • 25

    e, conseqentemente, maior conforto ao usurio, como tambm em menor

    custo devido ao volume a ser utilizado do produto que se reduz a apenas

    algumas gramas.

    Em menor escala, o SAP tambm aplicado na agricultura, baterias

    eltricas, isolamento de cabos e uso mdico. Na agricultura, o SAP, de

    maneira oposta as fraldas e absorventes, usado como um agente de

    liberao controlada de gua nas plantaes [Rosa, 1991]. A EMBRAPA vem

    desenvolvendo diversos estudos nessa rea. Com relao s baterias eltricas

    e isolamento de cabos, o uso do SAP visa remover gua do meio.

    Aplicaes do SAP (%)

    6%

    81%

    30%

    5%

    Fraldas Descartveis Fraldas GeriatricasAbsorventes Femininos Outros

    Figura III.3. Aplicaes do SAP.

    Fonte: ECN, 2005.

    As fraldas com polmeros super-absorventes foram introduzidas no

    mercado japons em 1982 pela Unicharm, em 1983 pela KAO e em 1985 pela

    Procter & Gamble. Os SAPs utilizados eram baseados em poliacrilatos com

    ligaes cruzadas e possuam altas capacidades de absoro. A tecnologia de

    polmeros para a produo de SAP foi desenvolvida por vrias companhias

    japonesas, principalmente a Nippon Shokubai e Sanyo Chemical. Em 1986 a

    Kimberly Clark e a Procter & Gamble introduziram o SAP no mercado norte

    americano.

  • 26

    Existem dois tipos primrios de polmeros superabsorventes: os

    polmeros de amido graftizados e os baseados em poliacrilatos com ligaes

    cruzadas. Nesta dissertao sero abordados apenas os SAPs baseados em

    poliacrilatos devido ao fato de serem os produtos de interesse da cadeia

    produtiva do cido acrlico.

    III.2. CAPACIDADE INSTALADA GLOBAL

    Na Tabela III.3 est representada os principais produtores, em termos de

    capacidade instalada, do acrlico bruto e glacial, acrilatos (metila, etila, butila e

    2-etil-hexila) e SAP. O grau de concentrao significativo, por exemplo, os

    cinco maiores produtores de cido acrlico representam mais de 60% da

    capacidade mundial.

    Tabela III.3. Principais produtores mundiais de AA e derivados (mil t/a)

    cido Acrlico Bruto

    Acrilatoscido

    Acrlico Glacial

    SAPcido

    Acrlico Bruto

    Acrilatoscido

    Acrlico Glacial

    SAP

    BASF 970 1.035 500 305 23% 25% 31% 25%StoHass 610 40 0 0 15% 1% 0% 0%Dow 516 545 245 150 12% 13% 15% 12%Nippon Shokubai 360 210 260 235 9% 5% 16% 19%Formosa Plastic 301 85 85 25 7% 2% 5% 2%Arkema 240 180 100 0 6% 4% 6% 0%Rohm and Hass 165 410 170 0 4% 10% 10% 0%American Acryl 120 45 0 0 3% 1% 0% 0%Mitsubishi Chemical 110 116 50 0 3% 3% 3% 0%Stockhausen 0 0 90 255 0% 0% 6% 21%Outros 763 1.396 132 248 18% 34% 8% 20%

    Total 4.155 4.062 1.632 1.218 100% 100% 100% 100%

    Empresas

    Capacidade (kta), em 2005 Capacidade (%), em 2005

    Fonte: Elaborao prpria a partir de informaes diversas.

    A Basf possui uma posio de liderana tanto na produo de cido

    acrlico como de acrilatos e de SAP. Os outros players importantes so a Dow

    Chemical (sucessora da Celenase) e a Nippon Shokubai. Cabe destacar,

    tambm, a participao da Stockhausen em termos de SAP e da StoHass (joint

    venture entre a Stockhausen e Rhom and Hass) em termos de cido acrlico

    bruto. Em julho de 2008, a Dow adquiriu a Rohm and Hass por US$ 18,8

    bilhes [Dow, 2008].

  • 27

    Atualmente a escala tima de produo de cada linha de 80.000 t/a,

    em funo da limitao do tamanho do reator de oxidao do propeno. Em

    todas as plantas utilizam-se a oxidao do propeno em dois estgios.

    III.3. DINMICA DE PREOS

    Em geral o AAB e o AAG, so produzidos para consumo cativo.

    Portanto os preos de mercado destes produtos indicam apenas uma

    referncia e podem no representar o real valor atribudo a esses produtos nas

    relaes intragrupo.

    Historicamente os preos do cido acrlico nos EUA, Europa e sia

    apresentam comportamento semelhante, sendo que na ltima regio tendem a

    ser menores e mais volteis.

    Em funo dos custos de purificao, o cido acrlico glacial (99%)

    cerca de US$ 200 US$ 300/t mais caro do que o cido acrlico bruto (96-

    97%). O preo do cido acrlico possui forte correlao com a sua principal

    matria-prima, o propeno grau qumico (PGQ), conforme indicado na Figura

    III.4.

    Preos do cido acrlico e PGQ na Europa 2002-2008

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    US$/t

    cido acrlico Propeno Grau Qumico cido acrlico glacial

    Figura III.4. Preos do cido acrlico e propeno grau qumico na Europa.

    Fonte: ICIS, 2008

  • 28

    A mesma correlao pode ser observada analisando-se os preos

    histricos dos acrilatos no mercado internacional, conforme mostra a Figura

    III.5.

    Preos dos acrilatos e PGQ na Europa 2002-2008

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    US$/t

    Butila Metila Etila 2-etil-hexila Propeno Grau Qumico

    Figura III.5. Preos histricos dos acrilatos

    Fonte: ICIS, 2008

    III.4. PANORAMA DO MERCADO INTERNACIONAL

    O mercado mundial de AAB ao final de 2005 foi de cerca de 3,2 milhes

    t/a. O crescimento mdio desde 1999 foi 4,6% ao ano em parte pela demanda

    por derivados no mercado asitico. Os Estados Unidos e a Europa

    representam mais de 70% da demanda mundial do cido acrlico bruto (AAB),

    conforme indicado na Figura III.6.

    Para os prximos anos, a expectativa de que a China mantenha sua

    forte trajetria de crescimento e, aumente, conseqentemente, a participao

    asitica no mercado.

  • 29

    Demanda Regional do cido Acrlico Bruto (%)

    12%

    2%

    21%

    30%

    36%

    EUA Europa sia Japo Outros

    Figura III.6. Demanda Regional de AAB.

    Fonte: Glauser, 2007.

    A demanda pelos acrilatos foi de 700.000 toneladas ao final de 2005,

    sendo que o acrilato de butila representou mais 50% da demanda total.

    A demanda global de SAP ao final de 2005 foi de mais de 1 milho de

    toneladas. O crescimento mdio nos ltimos anos foi de 3,6% sendo que os

    EUA e Europa so responsveis por mais de 60% dessa demanda.

    III.5. PANORAMA DO MERCADO BRASILEIRO

    O mercado interno brasileiro de cido acrlico e SAP so totalmente

    supridos por importaes. Apenas os acrilatos de metila, etila e butila tm

    produo interna.

    O levantamento das importaes e eventuais exportaes, foram

    realizadas no sistema Alice20 utilizando-se os NCMs (Nomenclatura Comum

    do Mercosul) apresentados na Tabela III.4.

    20 Sistema Alice o Sistema de Anlise das Informaes de Comrcio Exterior via Internet, da Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX), do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC). Disponvel em: http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br . Acesso em 23/07/2008.

  • 30

    Tabela III.4. NCM do AA e derivados e, respectivo, imposto de importao (II).

    Produto NCM IIcido Acrilico 29.1611.10 2%Sais do AA 29.1611.20 2%Acrilatos

    Metila 29.1612.10 12%Etila 29.1612.20 12%Butila 29.1612.30 12%

    2-etil-hexila 29.1612.40 2%Outros 29.1612.90 2%

    Poliacrilato de sdio 39.0690.44 2%Fraldas 48.1840.10 16%Tampes Higinicos 48.1840.20 16%Absorventes e outros artigos higinicos 48.1840.90 16%Absorventes e tampes, etc. de pastas de materiais txteis 56.0110.00 18%

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    No caso do SAP, tambm foram consideradas as importaes dos

    produtos derivados, como fraldas descartveis e absorventes, para que seja

    estimado o tamanho real de seu mercado.

    Cabe ressaltar que os impostos de importao so baixos para o AA e

    alguns acrilatos no produzidos no mercado domstico e altos para os

    produtos que possuem produo local.

    III.5.1. CIDO ACRLICO

    Como no Brasil no h produo do cido acrlico, a demanda local

    atendida por importaes. Na Figura III.7 esto representadas as importaes

    brasileiras nos ltimos 10 anos em toneladas, por pas de origem.

    Em mdia, as importaes brasileiras nos ltimos anos esto no

    patamar de 40 mil toneladas, provenientes principalmente dos EUA. A elevao

    dos volumes importados a partir de 2003 est relacionada entrada em

    operao de uma unidade de 50.000 t/a de acrilato de butila derivado do cido

    acrlico da Basf localizada em Guaratinguet.

  • 31

    Importaes Brasileiras de cido Acrlico

    -5.000

    10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.000

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    Toneladas

    ESTADOS UNIDOS ALEMANHA BELGICA FRANCA CHINA Outros

    Figura III.7. Importaes Brasileiras de cido Acrlico (t/a).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    Em dlares, as importaes brasileiras nos ltimos trs anos,

    mantiveram-se no patamar de US$ 50 milhes por ano, com um preo mdio

    de cerca de US$ 1.260 por tonelada do produto, como mostra a Figura III.8.

    Importaes Brasileiras de cido Acrlico em MM US$ e Preo Mdio em US$/t

    -

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    MM US$

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    US$/t

    Importaes - MM US$ Preo Mdio - US$/t

    Figura III.8. Importaes Brasileiras de cido Acrlico (US$ Milhes).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    III.5.2. ACRILATOS

    A Proquigel, empresa do Grupo Unigel, possui uma unidade

    multipropsito com capacidade para 4.500 t/a de acrilatos de metila e etila. A

  • 32

    rota tecnolgica dessa unidade utiliza a acrilonitrila como matria-prima. O

    acrilato de etila o principal produto da unidade, conforme indicado na Figura

    III.9.

    Produo de Acrilatos (t/a)

    -

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Toneladas

    Acrilato de etila Acrilato de metila

    Figura III.9. Produo Nacional de Acrilatos (t/a).

    Fonte: ABIQUIM, 2006.

    As vendas da Proquigel esto concentradas no mercado interno,

    conforme indicado na Figura III.10.

    Vendas de Acrilatos (t/a)

    -

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Toneladas

    MI ME

    Figura III.10. Vendas Nacionais de Acrilatos (t/a)

    Fonte: ABIQUIM, 2006.

  • 33

    Ressalta-se que as informaes da produo nacional de acrilato de

    butila no so divulgadas pela Basf. As informaes disponveis limitam-se a

    capacidade instalada de 50 mil t/ano utilizando tecnologia prpria.

    As importaes brasileiras de acrilatos podem ser observadas na Figura

    III.11, com destaque para a reduo das importaes de acrilato de butila a

    partir de 2003, em funo da partida da planta da Basf, conforme mencionado

    anteriormente.

    Importaes Brasileiras de Acrilatos

    -

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    Toneladas

    Butila 2-etil-hexila Etila Metila Outros

    Figura III.11. Importao Nacional de Acrilatos (t/a)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    Em dlares, as importaes brasileiras nos ltimos trs anos mantiveram

    uma tendncia de crescimento, alcanando valor superior a US$ 80 milhes no

    ltimo ano. A mdia de preos neste perodo foi de cerca de US$ 1.390 por

    tonelada de produto, como mostra a Figura III.12.

  • 34

    Importaes Brasileiras de Acrilatos em MM US$ e Preo Mdio em US$/t

    -102030405060708090

    100

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    MM US$

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    US$/t

    Butila 2-etil-hexila Etila Metila Outros Preo Mdio US$/t

    Figura III.12. Importao Nacional de Acrilatos (US$ milhes).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    III.5.3. POLMERO SUPER-ABSORVENTE (SAP)

    A demanda brasileira do poliacrilato de sdio, mais conhecido como

    SAP, atendida por importaes, conforme indicado na Figura III.13.

    Importaes Brasileiras de SAP

    -

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    Toneladas

    ESTADOS UNIDOS JAPAO CINGAPURA TAIWAN (FORMOSA) CHINA Outros

    Figura III.13. Importao Nacional de SAP (t/a)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    Os dois principais fornecedores so os EUA e o Japo. Em mdia nos

    ltimos trs anos foram importadas 42 mil toneladas de SAP por ano.

  • 35

    O valor mdio das importaes brasileiras nos ltimos trs anos foi de

    US$ 73 milhes por ano, e o preo mdio por tonelada de SAP foi de US$

    1730/t, conforme indicado na Figura III.14.

    Importaes Brasileiras de SAP em MM US$ e Preo Mdio em US$/t

    -

    20

    40

    60

    80

    100

    1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    MM US$

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000US$/t

    Importaes Preo mdio

    Figura III.14. Importao Nacional de SAP (US$ milhes).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    III.6. PROJEO DE DEMANDA BRASILEIRA

    Com base nos dados de importao e produo, foi calculado a

    Demanda Agregada de cido Acrlico no perodo de 1998 a 2007. Para

    determinar o volume associado ao consumo de acrilatos e SAP foram utilizados

    os coeficientes tcnicos tericos de consumo a partir do cido acrlico bruto. A

    projeo de demanda foi realizada com base na metodologia indicada na

    Figura III.15.

    Figura III.15. Metolodologia de projeo de demanda utilizada.

    Fonte: Elaborao prpria.

    PIBPIB

    DemandaDemanda

    Demanda Demanda f f (PIB)(PIB)

    Projeo do PIBProjeo do PIB

    Projeo da Projeo da demandademanda

    Dados histricosDados histricos RegressoRegresso ProjeoProjeo

    PIBPIBPIBPIB

    DemandaDemandaDemandaDemanda

    Demanda Demanda f f (PIB)(PIB)Demanda Demanda f f (PIB)(PIB)

    Projeo do PIBProjeo do PIBProjeo do PIBProjeo do PIB

    Projeo da Projeo da demandademanda

    Projeo da Projeo da demandademanda

    Dados histricosDados histricos RegressoRegresso ProjeoProjeo

  • 36

    O resultado da demanda agregada histrica e projetada pode ser

    observado na Figura III.16. No caso das importaes de fraldas, foi

    considerado que 5% do total representam o SAP, pois o restante composto

    de outros materiais, como no tecido, celulose. A correlao histria com o PIB

    foi a mdia dos ltimos 5 anos (2,7 vezes o crescimento). As projees do PIB

    foram as divulgadas no Relatrio FOCUS21 do Banco Central.

    Figura III.16. Demanda agregada de cido acrlico bruto, histrico e projeo.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Sistema Alice.

    Como pode ser observado pela Figura III.16, a partir de 2012 o mercado

    brasileiro j comporta uma planta com escala mundial (160.000 t/a).

    21 Relatrio FOCUS relatrio disponibilizado semanalmente pelo Banco Central do Brasil apresentando a mdia, a mediana e o desvio-padro das expectativas do mercado (instituies financeiras, consultorias e bancos) em relao a 26 variveis econmicas, dentre elas a expectativa para o PIB (Produto Interno Bruto). Disponvel em: www.bcb.gov.br. Acesso em 26/07/2008.

    Demanda de cido Acrlico Bruto- Histrico e Projeo (em toneladas)

    45.625

    58.997 63.26969.668 70.667 72.127

    84.299 86.94089.872

    104.991115.746

    128.797

    142.732

    157.576

    173.351

    -

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    -E

    2009

    -E

    2010

    -E

    2011

    -E

    2012

    -E

    Histrico Projetado

  • 37

    IV. TECNOLOGIAS DE PRODUO

    IV.1. ROTAS DE PRODUO DO CIDO ACRLICO

    Na Figura IV.1 esto representados os principais processos de produo

    do cido acrlico a partir de diferentes matrias-primas. A viabilidade

    econmica de cada rota est diretamente relacionada ao custo da matria-

    prima, investimento, custos operacionais e resduos gerados.

    A oxidao parcial do propeno lanada na dcada de 70 pela empresa

    japonesa Nippon Shokubai a rota mais empregada na produo do cido

    acrlico no mundo. Inicialmente, o processo em um nico estgio chegou a ser

    utilizado, porm logo foi substitudo pelo processo em dois estgios que

    apresenta maior rendimento e seletividade. Alternativas a essa rota encontram-

    se em estudo, como o caso da oxidao do propano e das rotas que partem

    de matrias-primas renovveis como a glicose e glicerina. As demais rotas

    apresentadas na Figura IV.1 caram em desuso [Chauvel, 1989].

    IV.1.1. OBSOLETAS

    IV.1.1.1. ACETILENO - PROCESSO REPPE

    Desenvolvido na Alemanha durante a dcada de 30, o processo

    consistia na reao do acetileno em contado com monxido de carbono e gua

    na presena de haleto de nquel, produzindo assim o cido acrlico, conforme a

    equao a seguir:

    HC CH CO H2O CH2=CHCOOH== + +ACETILENO CIDO ACRLICO

    Esquema de Reao Processo REPPE.

    NiCl2 (+CuBr2) CO Ni(CO)4

    Sistema Cataltico Processo REPPE.

  • 38

    Figura IV.1. Rotas de Produo de cido Acrlico e seus Derivados.

    Fonte: Elaborao Prpria.

  • 39

    O processo REPPE se tornou no atrativo pelo alto custo e pouca

    disponibilidade do acetileno e pela elevada toxicidade e natureza corrosiva da

    carbonila de nquel [Beshouri, 1997]. A Basf deixou de utilizar este processo

    em 1995.

    IV.1.1.2. ETENO

    A Union Carbide (atualmente Dow) possua um processo de produo

    de cido acrlico via xido de etileno. O mtodo consistia na reao do oxido de

    etileno, produzido a partir do eteno, com o cianeto de hidrognio gerando a

    etileno cianohidrina que era ao mesmo tempo desidratada e hidrolisada com

    cido sulfrico, conforme indicado a seguir [Wittcoff e Reuben, 1996].

    + HCNOCN

    OHO

    OH

    Eteno cianohidrina cido Acrlico

    - H2O

    Hidrlisexido de

    etenoCianeto de hidrognio

    Reao a partir do xido de eteno.

    A Rohm&Hass chegou a desenvolver um processo via carbonilao do

    etileno, mas que no chegou a ser comercializado.

    IV.1.1.3. CIDO ACTICO

    A Celanese produzia o cido acrlico baseada na condensao do

    ceteno (produzido a partir da pirlise do cido actico) e do formaldedo

    gerando a propiolactona que era hidrolisada na presena de cido fosfrico,

    conforme apresentado a seguir. O processo parou de ser usado depois da

    descoberta das propriedades cancergenas da propiolactona.

  • 40

    + CH2 OO

    O

    CH2O

    OH

    H3PO4CH2

    O Formaldedo B-propillactona cido Acrlico

    Reao a partir do ceteno

    Uma outra rota que no chegou a ser comercializada era a reao do

    cido actico com o formaldedo. O processo era interessante, pois permitia

    produzir o cido acrlico a partir do gs de sntese. O cido actico partia do

    monxido de carbono e metanol, ambos produzidos a partir do gs de sntese,

    e o formaldedo era obtido a partir da oxidao do metanol. A reao em fase

    vapor era conduzida sobre um catalisador de ortofosfato de vandio. A

    converso seria de aproximadamente 60%. [Wittcoff e Reuben, 1996]

    CH2 O

    Formaldedo

    + CH3O

    OH

    CH2O

    OH+ H2O

    Cat.

    cido Actico cido Acrlico

    Processo da Celanese

    IV.1.1.4. HIDRLISE DA ACRILONITRILA

    A Hidrlise cida da Acrilonitrila em elevadas temperaturas (200-300C),

    produz cido acrlico, tendo como intermedirio a acrilamida, conforme reao

    a seguir.

    .

    CH2=CHC H2O CH2=CHCOOH== +CIDO ACRLICO

    N CH2=CHC-NH2 + NH4+H2O

    CRILAMIDACRILONITRILA

    O

    Esquema de Reao Processo Hidrlise da Acrilonitrila

  • 41

    A hidrlise realizada na presena de cido, que em geral o cido

    sulfrico [Wittcoff et al, 1996].

    IV.1.2. ROTAS EM USO COMERCIAL

    IV.1.2.1. OXIDAO PARCIAL DO PROPENO

    O propeno na presena de um catalisador metlico oxidado a

    acrolena e cido acrlico podendo ser realizado em nico estgio e ou em dois,

    conforme apresentado a seguir.

    Atualmente as principais companhias detentoras de tecnologia de

    produo de cido acrlico so: Basf, Nippon Shokubai, Mitsubishi, Dow

    (Celanese), Sumitomo e LG Chemical.

    IV.1.2.1.1. PROCESSO EM ESTGIO NICO

    O processo em um nico estgio (apenas um reator) baseia-se em uma

    reao exotrmica, onde propeno oxidado a acrolena que, sobre o mesmo

    catalisador e as mesmas condies operacionais, oxidada a cido acrlico.

    H2C=CHCH3 + 3/2O2 H2C=CHCOOH + H2O H = -594,9 kJ/mol

    Esquema de Reao Processo Oxidao Propeno 1 Estgio

    O rendimento deste processo relativamente baixo, entre 60 a 70%.

    Alm disso, o catalisador usado no processo possui um curto perodo de vida

    til devido sublimao do xido de telrio, um promotor da reao, na

    temperatura de operao. Na Tabela IV.1 esto representados exemplos dos

    catalisadores utilizados no processo em 1 estgio.

  • 42

    Tabela IV.1. Catalisadores de Oxidao do Propeno em estgio nico.

    Companhia Catalisador Reao Rendimento (%) T

    (C)

    Nippon Shokubai Mo-W-Te-Sn-Co-O Propeno - cido Acrlico 65 350

    Nippon Shokubai Nb-W-Co-Ni-Bi-Fe-Mn-Si-Z-O Propeno - cido

    Acrlico 73 325

    Fonte: Al-Saeedi e Al-Meshaal, 2003.

    IV.1.2.1.2. PROCESSO EM DOIS ESTGIOS

    O processo em dois estgios baseia-se no mesmo principio do processo

    em um nico estgio, oxidao do propeno a acrolena e posterior oxidao a

    cido acrlico. Entretanto, cada etapa da reao realizada