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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS – SAFRA 2003/04 1 Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Professor Associado do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF:004.835.078-81 E-mail: [email protected]. Patricio Mendez del Villar Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD- CA programa Culturas alimentares). CPF: 220.385.038-85. E-mail: [email protected] Lucilio Rogerio Aparecido Alves Doutorando em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP). Rua Garcia Rodrigues Bueno, 451, Jardim Brasília, CEP: 13.420-080, Piracicaba/SP. CPF: 018.743.289-94 E-mail: [email protected] Carlos Eduardo Carneiro Ballaminut Graduando do Curso de Engenharia Agronômica na ESALQ/USP e estagiário do CEPEA/ESALQ/USP. Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF: 220.385.038-85. E-mail: [email protected]. Luis Felipe Tiene da Silva Graduando do Curso de Engenharia Agronômica na ESALQ/USP e estagiário do CEPEA/ESALQ/USP. Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF: 293.870.048-21. E-mail: [email protected] Área Temática: Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas Forma de Apresentação: Apresentação oral em sessão com debatedor 1 Este artigo faz parte de um projeto maior, resultado de uma parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP) e o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD).

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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS – SAFRA 2003/041

Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho Professor Associado do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola

Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF:004.835.078-81

E-mail: [email protected].

Patricio Mendez del Villar Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD-

CA programa Culturas alimentares). CPF: 220.385.038-85. E-mail: [email protected]

Lucilio Rogerio Aparecido Alves Doutorando em Economia Aplicada pela ESALQ/USP. Pesquisador do Centro de Estudos

Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP). Rua Garcia Rodrigues Bueno, 451, Jardim Brasília, CEP: 13.420-080, Piracicaba/SP. CPF: 018.743.289-94

E-mail: [email protected]

Carlos Eduardo Carneiro Ballaminut Graduando do Curso de Engenharia Agronômica na ESALQ/USP e estagiário do

CEPEA/ESALQ/USP. Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF: 220.385.038-85. E-mail: [email protected].

Luis Felipe Tiene da Silva Graduando do Curso de Engenharia Agronômica na ESALQ/USP e estagiário do

CEPEA/ESALQ/USP. Avenida Pádua Dias, 11. CP. 9, CEP 13418-900. Piracicaba, SP, Brasil. CPF: 293.870.048-21. E-mail: [email protected]

Área Temática: Comercialização, Mercados e Preços AgrícolasForma de Apresentação: Apresentação oral em sessão com debatedor

1 Este artigo faz parte de um projeto maior, resultado de uma parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP) e o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD).

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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS – SAFRA 2003/04

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar a competitividade da produção de algodão entre o Brasil e os Estados Unidos da América (USA) através do custo de produção agrícola das principais regiões produtoras, tomando como referência a safra 2003/04. O intuito é comparar a competitividade internacional desses países em termos de produção e exportação da pluma. No Brasil, os dados foram coletados através de técnica de “painel”, realizados nas regiões de Campo Novo do Parecis, Primavera e Norte do Paraná. Os dados dos Estados Unidos foram levantados através de fontes secundárias, pela internet. Neste caso, os resultados ficaram limitados ao que estava disponível na rede. Os dados apontaram, em termos gerais, que o Brasil é mais competitivo que os Estados Unidos, quando não se considera os subsídios recebido pelos produtores para a produção e exportação, uma vez que a maioria das regiões apresentou prejuízo na venda da pluma. Acrescentando os subsídios, somente uma região americana permanece com prejuízo e há maior desvantagem para o produtores brasileiro em termos de margem e renda. Palavras-chave: algodão, custo agrícola, Brasil, Estados Unidos. 1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos vem ocorrendo um acréscimo expressivo na produção mundial de algodão. Um dos primeiros impactos desse aumento ocorre nos preços da fibra. Ao mesmo tempo, o que se observa são freqüentes altas nos insumos de produção. Enquanto variações de mercado estão fora do controle do produtor, este pode melhorar sua perspectiva da cultura através de melhor controle dos custos de produção. Desta forma, para manter a rentabilidade os produtores precisam investir em novas tecnologias e em tratamentos que proporcione menores custos de produção.

Pode-se dizer que a produção de algodão é mais sofisticada, de um modo geral, quando comparada com a de grãos, com exceção de regiões em que se emprega a agricultura familiar, como em alguns estados da região Nordeste do Brasil. Durante todo o ciclo de desenvolvimento da planta, existe a exigência de um rigoroso monitoramento.

Em termos internacionais, os principais países produtores utilizam o algodão transgênico, o que pode implicar em vantagens para esses países. Além disso, em países como os Estados Unidos há subsídios ao produtor, tanto para plantio quanto para exportação. Esses aspectos podem interferir direta ou indiretamente nos custos de produção, na oferta do produto, em seus preços de venda e, conseqüentemente, na rentabilidade do produtor.

Atrelado a esse fator, destaca-se o fim das cotas do Acordo Multifibras, onde um novo mapa poderá ser delineado no mundo do ponto de vista do mercado. Como um participante deste mercado, o Brasil precisa se posicionar como fornecedor confiável, firmar contratos antecipados em bom número e prazos com as indústrias, e sempre visar produzir fibra de boa qualidade.

É diante desses aspectos que esse trabalho se insere. Analisar a competitividade dos principais países produtores e exportadores de algodão em pluma é de suma importância para entender aspectos a priori e a posteriori do desenvolvimento recente da cotonicultura nacional mundial. Busca-se também entender quais podem ser os impactos que podem ocorrer com o fim dos subsídios americanos ao algodão.

Além destas considerações iniciais, este trabalho consta de mais sete seções. Nas segunda e terceira, respectivamente, apresentam-se os objetivos do trabalho e a metodologia utilizada para cômputo do custo de produção nas regiões sob análise. Nesta seção, descreve-se o

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método de obtenção das informações e a estrutura de formação do custo. Nas seções quatro a seis enfatiza-se a evolução da cultura do algodão no mundo, assim como se caracterizam os sistemas de produção nos países em estudo. Posteriormente (seção sete), efetua-se a comparação do custo de produção de algodão entre os países sob análise. As considerações finais encerram este trabalho.

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é analisar a competitividade da produção de algodão entre o Brasil e os Estados Unidos da América (USA) através do custo de produção agrícola das principais regiões produtoras, tomando como referência a safra 2003/04, com a finalidade de comparar a competitividade internacional desses países em termos de produção e exportação da pluma. Assim, as informações estarão separadas entre os custos de produção agrícola e beneficiamento, para ter como base o custo total de produção agrícola. Toma-se como referência os valores da safra 2003/04.

Os dados no Brasil foram obtidos através de levantamento a campo, realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Os dados deste país estarão distribuídos entre dois sistemas, um referente ao que se denominará sistema empresarial e outro de técnicas de produção chamada intermediária. Para o sistema empresarial foram realizados dois painéis, no Estado do Mato Grosso, sendo um em Primavera do Leste e outro em Campo Novo do Parecis. Para o sistema intermediário, os dados foram obtidos no Estado do Paraná.

Os dados dos Estados Unidos foram levantados através de fontes secundárias, pela internet.

3. METODOLOGIA

Para cumprir os objetivos de levantamento de dados no Brasil, os dados foram levantados através da técnica de “painéis”. Neste sistema, o levantamento das informações do custo de produção de algodão será realizado junto a um grupo seleto de produtores representativos das regiões em estudo. O método de obtenção das informações é caracterizado por reuniões entre pesquisadores, técnicos e produtores de algodão. Ressalta-se que a metodologia de painéis vem sendo largamente utilizada nos Estados Unidos pelo seu Departamento de Agricultura, com uma série de propósitos. No próprio CEPEA, instituição executora da pesquisa, a metodologia vem sendo utilizada há alguns anos, com resultados bastante satisfatórios.2

No “painel”, os agentes discutem, em conjunto, e procuram desenhar um sistema típico de produção de determinada localidade. Todos os passos do custo são detalhados: os equipamentos, sua potência e consumo de combustível por unidade de tempo; os coeficientes técnicos dos equipamentos, em especial o número de horas necessários por hectare para a realização de determinado trato cultural; os insumos utilizados, com seu princípio ativo, quantidade e preço pago; dentre outros. Durante as discussões o grupo montará uma planilha de custo que representará uma situação típica da região.

O critério de custo de produção utilizado no estudo será o do Custo Operacional Total.3 Por este critério estão computados como itens de custo, os variáveis (insumos, mão-de-obra,

2 Mais informações sobre descrição de painel e outras características podem ser verificadas em DEBLITZ, C. The International Farm Comparison Network (IFCN) - bridging the gap between farmers, science and policy. IFCN-homepage: http://www.fal.de/english/ institutes/bw/ifcn/html/ifcnhome.html; e, DE ZEN & PERES (2002). 3 Essa metodologia é uma adaptação da proposta pelo IEA, em MATSUNAGA & BEMELMANS (1976).

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combustíveis e manutenção de equipamentos), o custo do financiamento do capital de giro, mais a depreciação de máquinas e equipamentos, e o custo do benefício. Não estão computados, portanto, a remuneração de fatores fixos diversos, como depreciação de instalações diversas, remuneração e o custo de oportunidade do empresário, e outros custos fixos e semifixos, notadamente custos administrativos. Contudo, os itens considerados são bastante mais característicos aos processos produtivos, e, portanto, menos heterogêneos entre produtores.

O custo das máquinas e implementos é alocado para a cultura do algodão segundo o tempo que os mesmos são utilizados nessa lavoura. Por exemplo, é formado o custo da hora de operação de um trator, com seus respectivos implementos e com a mão-de-obra necessária para sua condução. Considera-se o custo de manutenção, depreciação e combustível. Portanto, a metodologia não contempla a sub ou a superutilização das máquinas e equipamentos. Essa é uma forma de homogeneizar o tratamento entre as propriedades, desconsiderando as outras atividades agrícolas que possam existir.

Todos os insumos são considerados com seus preços de mercado, para pagamento à vista. Para aqueles insumos que representam maiores volumes, como óleo diesel e fertilizantes, deve-se considerar seu custo incluindo o frete “posto na propriedade”.

A mão-de-obra segue o mesmo raciocínio de utilização das máquinas, qual seja o de considerar o tempo que o trabalhador estará se dedicando à lavoura do algodão. Consideram-se dois tipos de trabalho: o do empregado fixo e o do chamado temporário. O primeiro recebe salário mensal e todos os encargos devem ser considerados, inclusive eventuais custos com alimentação, alojamento e equipamentos de proteção fornecidos a esses. Os trabalhadores avulsos recebem diárias, que têm um preço fixo. Mais uma vez ressalta-se que essa forma de alocação dos custos independe das outras atividades e também da existência de mão-de-obra super ou sub-dimensionada para a cultura sob análise.

O custo financeiro deve ser incluído em um custo operacional total de produção. Esse seria o custo que o agricultor incorreria com a tomada de financiamento para custeio. No entanto, caso sejam usados apenas recursos próprios, deve ser considerado o custo de oportunidade do capital. Na metodologia proposta, o custo financeiro incide sobre os custos variáveis de produção, passíveis de financiamento público e/ou privado. A taxa de juros deve ser aquela equivalente às das principais linhas de financiamento disponíveis para a atividade.

Deve-se acrescentar também o custo de arrendamento da terra na região em estudo. Caso o agricultor não disponha da terra, terá de arrendá-la, incorrendo com o custo desse arrendamento. Se o agricultor for o proprietário da terra, terá um custo de oportunidade por não estar arrendando-a a outro. É um item importante que deve ser incluída no custo de produção, se possível.

Em termos da sua organização, os dados de custo serão agrupados de acordo com “linhas de custo”, agregando-se sucessivamente itens de forma a se poder desagregar o custo total em termos dos seus componentes. Este sistema favorece a comparabilidade entre os dados, e permite se acomodar tradições diferentes de apurações de custos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é tradicional se computar o custo da terra nos custos de produção, o que geralmente não é feito no Brasil. Adicionar estes itens como linhas individuais permite ao analista decidir a respeito de qual o nível de custo enfatizar (por exemplo, incluindo ou não os custos do beneficiamento, ou da terra).

Desta forma, ao se analisar os itens de custo de forma separada, será possível discutir a competitividade entre os países. Para tanto, outras considerações relevantes para as análises serão incorporadas, como a questão da qualidade de fibra e da existência de subsídios agrícolas.

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4. EVOLUÇÃO DA CULTURA DO ALGODÃO NO MUNDO É expressivo o aumento da produção mundial de algodão em anos recentes, tendo como

suporte as variações positivas no preço mundial, diante do acréscimo no consumo da fibra. Em 1990/91 produzia-se aproximadamente 19 milhões de toneladas, chegando a 20,6 milhões em 2003/04. O recorde de produção no período foi no ano safra 2001/02, em que se produziu 21,5 milhões de toneladas, corroborado, principalmente, por acréscimos nas produções da China e dos USA (National Cotton Council of América, 2004). Entre os anos-safra 1990/91 e 2003/04, produção mundial cresceu a uma taxa de anual de 0,58% a.a. Em contrapartida, o consumo, que era de 18,6 milhões de toneladas na safra 1990/91, passou para 21,5 milhões na safra 2003/04, um recorde histórico. Nesse período, o consumo mundial cresceu a uma taxa média de 1,12% a.a..

Os maiores produtores mundiais, em ordem decrescente, são a China (4,9 milhões de toneladas na safra 2003/04), USA (4 milhões de toneladas), Índia (3 milhões de toneladas), Paquistão (1,7 milhão de toneladas), Brasil (1,3 milhão de toneladas), República do Usbequistão (0,9 milhão de toneladas) e Turquia (0,9 milhão de toneladas) (National Cotton Council of América, 2004). Esses países representaram 80,6% da produção mundial na safra 2003/04. Em termos da taxa anual de crescimento da produção dos países supracitados, observa-se que as maiores taxas foram obtidas pelo Brasil e por Mali (5,07% a.a. e 5,45% a.a., respectivamente), expressivamente maiores do que a dos demais países. A terceira maior taxa foi obtida pela Índia (2,00% a.a.), seguida pelos USA (0,62% a.a.), Paquistão (0,38% a.a.), China (0,29% a.a.) e República do Usbequistão (-3,57% a.a.).

No comércio internacional, as exportações oscilaram de 6,4 milhões de toneladas na safra 1990/91 para 7,2 milhões de toneladas na safra 2003/04 (National Cotton Council of América, 2004). As importações, que eram de 6,7 milhões em 1991/92, passaram para 7,4 milhões no ano safra 2003/04 (National Cotton Council of América, 2004). Nesse período, as exportações tiveram um crescimento de 0,57% a.a., enquanto as importações cresceram apenas 0,32% a.a.. Destacam-se como maiores exportadores: os USA, República do Usbequistão, Austrália, Grécia, Mali e Brasil. As exportações desses países representaram 67,4% das exportações mundiais na safra 2003/04. Entre os maiores importadores de pluma no mundo, citam-se: a China, Turquia, Indonésia, Paquistão, México e Tailândia. A representação do comércio desses países foi de 54,9% nas importações mundiais da safra 2003/04.

5. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO BRASIL

Em termos de Brasil, a produção de algodão perdeu área e produção em montantes reconhecidamente elevados até safras recentes (especificamente safra 1997/98), quando então passou a apresentar sinais de recuperação. O consumo apresentou-se em níveis superiores à produção até a safra 2000/01. Nessa época, a indústria abastecia-se do produto importado mais barato que o nacional, favorecido por linhas de financiamento de longo prazo e baixas taxas de juros, além de subsidiado na origem. A partir disso, mudanças significativas ocorreram na cotonicultura nacional, impactando de forma expressiva sua estrutura, que, por sua vez, passou por um processo de profundas modificações. Atualmente, a produção interna gera excedente de exportação considerável, diante de acréscimos na produção, e de consumo relativamente estabilizado por parte das indústrias têxteis situadas em território nacional. Dessa forma, o Brasil é considerado tanto um grande produtor como grande exportador mundial de algodão. Essa evolução pode ser visualizada na Figura 1.

As mudanças proporcionaram, de um lado, a ameaça daquela cotonicultura que atendia a um paradigma produtivo tradicional, tal seja, intensiva em mão-de-obra e, muitas vezes, pouco

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tecnificada. De outro, passou a ocorrer o desenvolvimento relativamente recente da “cotonicultura empresarial” – abrangendo áreas principalmente na região Centro-Oeste do país e em algumas outras regiões, como a Sudeste (Minas Gerais) e Norte (Bahia), a qual é praticada em grandes extensões, capitalizada e tecnificada. Figura 1. Produção, exportação, importação e consumo de algodão em pluma – Brasil – 1991/92

a 2003/04.

0.00

150.00

300.00

450.00

600.00

750.00

900.00

1050.00

1200.00

1350.00

1991

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8/99

199

9/00

2000

/01

2001

/02

2002

/03

2003

/04*

ano-safra

1.00

0 t

PRODUÇÃO IMPORTAÇÃO CONSUMO EXPORTAÇÃO

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (2004). * Previsão. Dessa forma, pode-se dizer houve um novo delineamento no mapa da produção interna

de algodão, com o abandono da atividade pelos pequenos e médios cotonicultores das regiões tradicionais e a expansão da área e produção por parte de grandes produtores em regiões onde o relevo permite a disseminação do sistema de produção mecanizado em todas as etapas, do plantio à colheita. Em termos regionais, a produção nacional está apresentada na Figura 2.

Em termos de época de plantio e colheita, no Brasil há uma grande diferença regional. O plantio de algodão se inicia pelos estados da região Centro-Sul, especificamente pelos Estados do Paraná e São Paulo, sul do Mato Grosso de Sul e Norte de Minas Gerais, os quais plantam entre os meses de outubro e início de dezembro. Entre os meses de novembro e dezembro, o plantio se estende para o Estado de Goiás, oeste e região de triângulo de Minas Gerais e para a Bahia. Em dezembro também ocorre o plantio no norte do Mato Grosso do Sul, inicia no Mato Grosso, o qual se estende até fevereiro, nas regiões onde ocorre o plantio de algodão de safrinha. Nos meses de janeiro e fevereiro também ocorre o plantio do algodão irrigado na Bahia. Esse também é o período em que ocorre o plantio nos demais estados da região Nordeste do país.

Com estas épocas de plantio, a colheita passa a ocorrer entre os meses de março e setembro de cada ano. Especificamente para safra 2003/04, sua evolução pode ser analisada na Figura 3, onde se observa que a concentração ocorreu nos meses de junho e julho.

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Figura 2 – Quantidade produzida de algodão em pluma nas regiões brasileiras (1.000 toneladas) – 1990/91 a 2003/04.

-

150.0

300.0

450.0

600.0

750.0

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1,050.0

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0

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/01

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/04*

ano-safra

1.00

0 t

NORTE/NORDESTE CENTRO-OESTE SUL/SUDESTE BRASIL

Fonte: CONAB (2004). * Estimativa Figura 3. Evolução da colheita de algodão no Brasil – safra 2003/04.

Fonte: Conab (2004b)

6. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS

A produção de algodão dos USA está subdividida em praticamente 17 estados, localizados entre a costa Leste, passando pelo Sul do país, até a região Oeste. A concentração das unidades produtivas dos USA pode ser observada na Figura 4.

Entre os maiores estados produtores se destaca o Texas, que representou, em média, 26,2% da produção daquele país entre as safras 1990/91 e 2003/04. Apenas para efeito de comparação, somente este Estado produziu 74,8% (952,3 mil toneladas) da quantidade total produzida pelo Brasil no ano safra 2003/04 (1.273,7 mil toneladas). Outros estados também se

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destacam na produção de algodão, como: Mississippi, Geórgia, Califórnia, Arkansas, Carolina do Norte, Louisiana e Tennessee. A evolução da produção de algodão em pluma nesses estados, entre 1990/91 a 2003/04, pode ser observada na Figura 5.

Antes de se analisar os principais aspectos do sistema produtivo de algodão nos USA, vale a pena descrever as características de cada região quanto à população agrícola, tamanho das propriedades, aptidão agrícola, entre outros. Para isso, toma-se como base dados do USDA (2000), que subdivide o país em nove regiões agrícolas, conforme Figura 6, quais sejam:

- Basin e Range: representa 4% das propriedades do país, 4% do valor da produção e 4% das terras agricultáveis;

- Fruitful Rim (oeste, sul do Texas e Flórida) : representa 10% das propriedades, 22% do valor da produção e 8% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a frutas, vegetais e algodão;

- Prairie Gateway (sudoeste): representa 13% das propriedades, 12% do valor da produção e 17% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a trigo, algodão, sorgo, arroz e pecuária;

- Mississippi Portal: representa 5% das propriedades, 4% do valor da produção e 5% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a algodão, arroz, pecuária e suínos;

- Southern Seaboard (sudeste): representa 15% das propriedades, 5% do valor da produção e 6% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a pecuária, grãos em geral e aves;

- Eastern Uplands: representa 15% das propriedades, 5% do valor da produção e 6% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a pecuária, aves e fumo (tabaco);

- Northern Crescent: representa 15% das propriedades, 15% do valor da produção e 9% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a gado de leite, produções gerais e grãos diversos para fins comerciais;

- Heartland (Missouri bootheel): representa 22% das propriedades, 23% do valor da produção e 27% das terras agricultáveis. As maiores produções da região se referem a grãos diversos para fins comerciais e pecuária;

- Northern Great Plains: representa 5% das propriedades, 6% do valor da produção e 17% das terras agricultáveis. As maiores produções da região são trigo, pecuária e caprinos.

Conforme a distribuição destas regiões, observa-se que os principais estados produtores de algodão se enquadram na região Praire Gateway, Fruitful Rim, Mississippi Portal e Southern Seaboard. Observa-se que essas regiões estão inseridas nas quatro principais microrregiões produtoras de algodão de terras altas (upland) do país, quais sejam: Sudeste, Centro-Sul, Sudoeste e Oeste, as quais coletivamente são chamadas de Cinturão do Algodão (Cotton Belt).

A região produtora do sudeste representa aproximadamente 19% da produção de algodão de terras altas. O período de plantio é de início de abril a início de junho, com colheita entre final de setembro e início de dezembro. Aproximadamente 34% do algodão é plantado no Centro-Sul e o plantio nesta região inicia em meado de abril e termina no final de junho. A colheita ocorre de início de setembro e início de dezembro.

A região sudoeste é composta representa 31% da produção de algodão. O plantio no sul do Texas inicia-se no final de fevereiro com colheita ocorrendo de final de julho até meado de setembro. Nos demais estados, o plantio geralmente inicia a partir de meado de abril, para colher de final de outubro a dezembro. Por fim, a região Oeste representa 13% do algodão de terras altas

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produzido nos USA. O plantio começa no início de abril, se estendendo até início de junho. A colheita ocorre entre final de setembro e início de dezembro.

Figura 4. Dispersão da área colhida com algodão upland nos USA – safra 2003/04

Fonte: United States Department of Agriculture – USDA (2004).

Figura 5. Evolução da produção nos principais estados norte-americanos – 1990/91-2003/04

0100200300400500600700800900

1,0001,1001,200

1990

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/04

ano-safra

1.00

0 to

nela

das

Texas Mississippi Georgia CaliforniaArkansas North Carolina Louisiana Tennessee

Fonte: National Cotton Council of America (2004)

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Figura 6. Divisão regional das propriedades agrícolas, segundo suas características

Fonte: Brooks (2001)

Uma material que pode ajudar o leitor a entender melhor os sistemas de produção dos de algodão dos USA, subdivididos por região, pode tomar como base Brooks (2001). Este é o material mais recente e completo, divulgado e utilizado pelo USDA, sobre custo de produção de algodão nos USA. No entanto, todo o embasamento do texto é feito com referência em pesquisas realizadas com produtores em 1997, pelo Agricultural Resource Management Study (ARMS), que examinou fazendeiros em 12 estados do cinturão do algodão nos USA (Cotton Belt), com o intuito de obter informações sobre práticas produtivas, características dos produtores e das operações, e tipos de estratégias que eles usaram para gerenciar suas propriedades. A pesquisa abrangeu 28.584 produtores, em uma área de 5,38 milhões de hectares ocupados com algodão. Eles representaram 91% das fazendas de algodão e 96% da área plantada com algodão nos USA na safra 1997/98.

Vale ressaltar que no boletim de Brooks (2001) os produtores foram agrupados de acordo com seus custos de produção, o tamanho de suas fazendas, região de produção e classificação de tipologia agrícola, segundo o Economic Research Service (ERS). A produção de algodão e suas práticas culturais foram divididas em três categorias de produtores, quais sejam, de alto, médio e de baixo custos médios. Produtores de baixo custo foram aqueles que tiveram um custo médio total de produção menor ou igual a US$ 0,64/lp. Estes representaram 25% dos produtores pesquisados. Os produtores de alto custo foram aqueles que tiveram um custo médio de produção maior ou igual a US$ 0,92/lp, os quais também representaram 25% do total de produtores pesquisados. Os produtores de custo médio intermediário representaram, então, os 50% dos produtores restantes.

Os produtores classificados como de baixo custo foram responsáveis por 36% do total de algodão produzido em 1997/98. O custo médio desse grupo foi de US$ 0,55/lp, para uma produtividade média de, aproximadamente, 1.000 kg/ha de algodão em pluma. Os produtores de alto custo foram responsáveis por apenas 12% do total produzido naquele ano-safra, com um custo médio de US$ 1,20/lp, e produtividade de 472 kg/ha de algodão em pluma.

Quanto ao sistema de plantio, boa parte do algodão americano é plantado em fileira única (solid rows). Contudo, o sistema mais comum utilizado foi de plantar duas linhas e pular uma.

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A colheita nos USA é realizada em duas formas. Alguns utilizam as colhedoras do tipo strippers, enquanto outros usam mais o sistema convencional, em módulo (module builders), com colhedoras chamadas pickers. Este último sistema é semelhante ao usado no Brasil, em que após a colheita o algodão em pluma é colocado na prensa, sendo transformado em fardos ou módulos de aproximadamente 10.000 quilos, da extensão de um caminhão estilo carreta. Em seguida, estes módulos são cobertos com lonas de plásticas, sendo levado para beneficiamento somente quando a algodoeira estiver necessitando. Isso favorece tanto o produtor quanto o beneficiador, pois o produtor colhe o produto quando a qualidade estiver boa e o beneficiador leva o produto para a algodoeria conforme for precisando. As colhedoras strippers são aquelas que cortam a planta, que passa inteira no interior da máquina, já sofrendo um processo de pré-limpeza, removendo sujeiras do algodão, como matos (carrapichos), madeiras, folhas, casca, areia e pedras.

7. RESULTADOS

A análise dos resultados da pesquisa será feita através de uma breve descrição dos principais pontos das regiões brasileiras que devem ser realçados, assim como para as regiões dos USA, sem apresentar os coeficientes técnicos obtidos e considerados na pesquisa de campo. Especificamente para as regiões dos USA, analisar-se-á as diferenças entre as mesmas, para somente no momento posterior efetuar comparações com as regiões brasileiras. Vale ressaltar que em todas as regiões a referência é o algodão em pluma tipo 6, 30/32, sem características.

7.1 Descrição do custo de produção entre as regiões brasileiras: Mato Grosso e Paraná

Os dados considerados para as regiões brasileiras foram obtidos por pesquisa de campo, considerando a metodologia apresentada na seção 3. No Brasil, como visto nas seções anteriores, o Estado do Mato Grosso é o principal produtor de algodão, com participação de aproximadamente 45% na produção total do país na safra 2003/04. As regiões de Primavera do Leste (PL) e Campo Novo do Parecis (CN) são as principais na da produção de algodão daquele estado. Os painéis nessas regiões foram realizados na última semana do mês de julho, quando o processo de colheita já estava na fase final.

Estas regiões possuem processos altamente tecnificados, do plantio à colheita, com destaque para PL, que possui maquinários e equipamentos maiores, comparativamente a CN. Isso pode ser corroborado pelas propriedades típicas consideradas para cada região. Em PL, os produtores participantes do painel afirmaram que as fazendas que plantam algodão geralmente possuem 5.600 ha, em média, plantando 3.000 hectares com algodão, 2.000 hectares com soja e 600 hectares com milho e milheto. Em CN, a propriedade típica produtora de algodão, foi considerada como tendo um total de 3.000 ha, em que se planta 1.000 hectares com algodão e 2.000 hectares com soja.

A totalidade do algodão plantado naquelas regiões é no sistema semidireto, na palha, ou seja, faz-se plantio de cobertura verde, com milheto, no período que antecede o plantio de algodão. Nestas regiões, pode-se plantar variedades resistentes ou suscetíveis á doença azul, sendo que mais de 80% das áreas de algodão é composta por variedades suscetíveis. Em ambas as regiões, o destaque entre as variedades suscetíveis é a FMX 966, e entre as resistentes a mais plantada é a Cedro.

Os dados destas regiões se resumirão apenas aos referentes ao plantio de algodão com variedades suscetíveis à doença azul. Os resultados separados para as duas regiões sob enfoque apontaram que a região de CN obteve menor custo de produção que PL, causado por menores

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valores de custo na maioria das operações. Observou-se também que a região de Primavera do Leste (PL) obteve uma margem/rendimento de apenas 33,0% sobre a margem/rendimento de CN.

Para cálculo dos custos por libra peso e por hectare, se considerou um rendimento de pluma de 39% nas duas regiões, subtraindo os gastos com o Fundo de Assistência ao Produtor Rural (FUNRURAL)4, no valor de 2,3%. No cômputo das margens de vendas também por libra peso e por hectare, se considerando um preço médio de venda da pluma de R$ 1,9099/lp em PL e, de R$ 1,9319/lp em CN (preço médio pago para retirar o produto da região, no período de janeiro a julho de 2004, segundo informações do Indicador de preços CEPEA/ESALQ – 8 dias de pagamento).

No Paraná, atualmente as regiões norte e noroeste são as maiores produtoras de algodão, as quais apresentam algumas realidades diferentes em termos de características dos produtores e métodos utilizados no processo produtivo do algodão. De um lado, estão aqueles produtores que tentam se qualificar e tornarem-se mais tecnificados, buscando melhores métodos do plantio à colheita. Estes produtores geralmente cultivam áreas maiores de algodão, muitas vezes fazem o plantio no sistema de plantio direto e efetuam a colheita mecanicamente. Em geral, esses produtores obtêm maior produtividade. Há também aqueles que plantam pelo sistema direto e colhem manualmente, enquanto outros plantam pelo sistema convencional, podendo colher tanto de forma mecânica quanto manualmente. Estes últimos geralmente são “pequenos” produtores, que utilizam mão-de-obra familiar. O plantio convencional é o que predomina naquele estado.

Um fator de destaque é que no Paraná os produtores vendem o algodão em caroço para as cooperativas, que beneficiam e comercializam a pluma. Todas as novidades em termos de cultivo, variedades, e até mesmo organização do setor, passam pelas cooperativas. São as cooperativas que tentam dinamizar o setor no Estado do Paraná. Como exemplo, a colheita mecânica no estado é feita com máquinas terceirizadas, com origem de outro estado ou de propriedade das próprias cooperativas.

Ao contrário do Estado do Mato Grosso, no Paraná a quase totalidade do plantio de algodão é feito com variedades resistentes à doença azul. Além disso, para cada sistema de colheita, mecânica ou manual, há variedades que melhor se adaptam ao processo. Para colheita mecânica destacam-se as variedades IPR 95, IPR 120, CD 401 e CD 407. Para colheita manual, as variedades mais utilizadas são: IPR 96, IPR 120 e CD 401.

Diante das características distintas de agentes e de processos produtivos, optou-se por considerar quatro sistemas de produção no Estado do Paraná. A divisão base está entre plantio convencional e direto, subdivididos entre colheita manual e mecânica.

Para aqueles que utilizam a colheita mecânica, a propriedade típica considerada foi de uma fazenda com 120 ha, destinando 50 hectares para algodão, 50 hectares para soja e 20 hectares para milho, pasto, café, mandioca, entre outros produtos. A propriedade típica para colheita manual é aquela que possui até 36 ha, do quais 15 hectares seriam utilizados com algodão, 15 hectares com soja e 6 hectares com outros produtos. Observa-se aqui a diferença de tamanho da propriedade com as regiões do Mato Grosso.

Em termos gerais, no Paraná os menores custos, assim como as maiores rentabilidades foram obtidas nas lavouras que efetuaram a colheita mecânica, em destaque aquelas com plantio convencional seguido do plantio direto. A colheita manual em plantio convencional proporcionou menor custo e maior rentabilidade do que colheita manual em plantio direto.

4 O FUNRURAL é descontado do produtor rural quando efetua vendas de produtos para cooperativas, industriais e comerciantes, entre outros. O recolhimento é feito pelo comprador. A verba descontada deve estar discriminada na nota fiscal. Os negócios praticados entre produtores rurais não estão sujeitos ao recolhimento do FUNRURAL.

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No cálculo dos custos unitários se considerou um rendimento de pluma de 36% em todos os sistemas e subtraiu-se os gastos com FUNRURAL (2,3%), obtendo um volume líquido de pluma de 1.080 kg/ha em sistemas de colheita mecânica e 900 kg/ha em áreas de colheita manual. Também tomou-se como base um preço médio de venda da pluma a retirar do Paraná de R$ 1,9112/lp (média de cotações entre janeiro e julho de 2004, segundo informações do Indicador de preços CEPEA/ESALQ – 8 dias de pagamento), para calcular a margem de lucro.

7.2 Descrição do custo de produção nos Estados Unidos

Os dados de custo de produção dos USA são informações do National Cotton Council of America (2004b). Os dados estão subdivididos em cinco grandes regiões, já mencionadas: Heartland (B), Praire Gateway (C), Southern Seaboard (D), Fruitful Rim (E) e Mississippi Portal (F), além de uma média para os USA (A). As quatro últimas regiões são as principais em termos de representatividade da produção. Na Tabela 1 constam as principais informações sobre custo de produção de algodão em cada uma delas. Vale deixar claro que não foi possível identificar os custos separadamente entre o plantio de variedades transgênicas e não transgênicas e que os dados aqui apresentados englobam ambas as variedades, sendo uma média para cada região. Sabe-se, contudo, que a grande maioria da área plantada com algodão naquele país é feita com variedades transgênicas, confirmados pelos dados a ser apresentado em seguida.

Observa-se que em todas as regiões há uma parcela da área com produção de algodão irrigado, com destaque para a Fruitful Rim, onde está o Estado da Califórnia, região semi-árida do país. Antecipadamente, pode ser analisado na Tabela 1 o gasto expressivo com compra de água para irrigação nesta região. Também observa-se que na principal área irrigada do país (E) é a que apresenta a maior produtividade média por hectare.

É preciso destacar quais foram as principais variedades plantadas nos USA na safra 2003/04. Em relação a algodão de terras altas (upland), as variedades Deltapine foram as mais plantadas no ano-safra sob análise, segundo informações do Cotton Council International (2004). As variedades Paymaster foram as segundas mais plantadas, seguida por Bayer CropScience Fibermax, Stoneville, Sure-Grow, All-Tex, Phytogen and CPCSD.

Variedades transgênicas, geneticamente modificadas – resistentes a insetos, herbicidas ou a ambos – representaram 76% do algodão de terras altas plantadas nos USA em 2003. No entanto, o uso de variedades transgênicas em 2003/04 variou de 100% de participação na Flórida a 42% na Califórnia. No caso do Texas, maior estado produtor, variedades transgênicas representaram 56% da área plantada.

De acordo com os custos listados na Tabela 1, diferentes patamares de custos foram obtidos entre as regiões. A diferença entre o maior (região E) e o menor custo (região C) foi de 53,1%. Este fator, juntamente com as produtividades agrícolas obtidas, contribuiu para que os menores custos unitários fossem nas regiões B, E, F, D e C, respectivamente. Nota-se que caso se adotasse a classificação feita por Brooks (2001), com esta média de custos unitários em cada região, a maioria se enquadraria na categoria de médio custo, com exceção da região C, que estaria nos patamares de produtores com alto custo.

Para cálculo das margens, considerou-se um preço médio recebido pelos produtores de US$ 0,68/lp para a região B, US$ 0,60/lp para a região C, US$ 0,65/lp para a região D, US$ 0,76/lp para a região E, e US$ 0,66/lp para as regiões F e A.

De acordo com esses dados, a única região que apresentou margem positiva por hectare plantado foi a E. Observa-se a forte relação dessa margem com a produtividade agrícola obtida, apesar de apresentar o maior custo absoluto por hectare. Todas as demais apresentaram prejuízos, com destaque para a região C, que também foi a de menor produtividade.

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Tabela 1 – Custo de produção e rentabilidade da cultura do algodão nos Estados Unidos, excluindo e incluindo pagamentos governamentais – 2003/04

Sistema de Produção Descrição Estados Unidos

(A) Heartland

(B) Prairie Gateway

(C) Southern Seaboard

(D) Fruitful Rim

(E) Mississippi Portal

(F) Produt. (kg/ha) (algod. em caroço) 1.846,00 2.428,82 1.075,99 1.988,34 3.555,25 2.510,64 Sistema de plantio: Irrigado (%) 33 33 30 11 74 30

Sequeiro (%) 67 67 70 89 26 70 Tipo de colheita US$/ha Part. % US$/ha Part. % US$/ha Part. % US$/ha Part. % US$/ha Part. % US$/ha Part. %Custo das operações Sementes 116,31 8,6% 86,95 5,9% 56,66 5,5% 176,87 12,4% 115,27 5,2% 171,44 11,1%Fertilizantes 88,73 6,6% 91,45 6,2% 52,43 5,1% 133,38 9,4% 109,49 5,0% 106,50 6,9%Químicos 138,23 10,3% 183,64 12,5% 63,97 6,2% 170,50 12,0% 209,56 9,5% 214,28 13,8%Máq,. óleo, lubrif., eletric. e reparos 212,58 15,8% 178,50 12,1% 203,66 19,7% 178,23 12,5% 411,76 18,6% 205,91 13,3%Juros sob os insumos operacionais 2,99 0,2% 2,87 0,2% 1,00 0,1% 3,48 0,2% 5,07 0,2% 3,71 0,2%Beneficiamento 147,29 10,9% 179,96 12,2% 95,63 9,2% 168,27 11,8% 287,72 13,0% 175,17 11,3%Gastos com água para irrigação 12,70 0,9% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 111,96 5,1% 0,00 0,0%Mão-de-obra contratada 93,82 7,0% 75,09 5,1% 80,23 7,8% 80,50 5,7% 159,38 7,2% 113,29 7,3%Custo oportuni. trabalho não pago 82,93 6,2% 57,23 3,9% 86,48 8,4% 100,86 7,1% 94,32 4,3% 60,42 3,9%Juros capital de máq, e equip, 253,30 18,8% 302,22 20,5% 261,21 25,2% 210,80 14,8% 242,15 11,0% 274,62 17,7%Custo de oportunidade da terra 117,67 8,7% 278,45 18,9% 62,27 6,0% 113,22 8,0% 326,88 14,8% 138,97 9,0%Taxas e seguros 42,57 3,2% 19,97 1,4% 40,94 4,0% 50,61 3,6% 44,55 2,0% 40,50 2,6%Administração geral da fazenda 38,18 2,8% 17,59 1,2% 29,68 2,9% 35,16 2,5% 90,34 4,1% 43,46 2,8%Custo total listado 1.347,29 100,0% 1.473,93 100,0% 1.035,16 100,0% 1.421,89 100,0% 2.208,45 100,0% 1.548,26 100,0% Custo unitário na fazenda US$/kg – fazenda – alg. em caroço 0,73 0,61 0,96 0,72 0,62 0,62 US$/kg – fazenda – pluma 1,85 1,54 2,52 1,74 1,55 1,58 US$/lb – fazenda – pluma 0,8376 0,7001 1,1415 0,7872 0,7015 0,7161 Margens/lucratividades excluindo e incluindo pagamentos governamentais Margem (US$/lb) sem subsídio -0,1776 -0,0201 -0,5415 -0,1372 0,0585 -0,0561 Margem (US$/ha) sem subsídio -285,62 -42,35 -491,06 -247,81 184,04 -121,28 Margem (US$/lb) com subsídio 0,0324 0,1899 -0,3315 0,0728 0,2685 0,1539 Margem (US$/ha) com subsídio 52,19 399,75 -300,62 131,50 845,12 332,77 FONTE: Dados básicos de National Cotton Council of America (2004b), elaborado por CIRAD/CEPEA (2004)

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Conforme os dados da Tabela 1, dentre os custos listados os que possuem maior parcela no custo total são os juros sobre o capital de máquinas e equipamentos; gastos com máquinas, combustíveis, lubrificantes, eletricidade e reparos; beneficiamentos; e produtos químicos. Com menor representatividade, mas não menos importante, são os gastos com sementes, custo de oportunidade da terra e com mão-de-obra, tanto contratada quanto a não paga.

Neste ponto, já se pode refletir em que base está ocorrendo o crescimento da produção de algodão na maioria dos estados americanos, se não há rentabilidade monetária suficiente para sustentá-la, conforme os dados mostram. Além disso, é na região de maior prejuízo que se insere o estado que mais produz algodão no país, o Texas. Assim, não se pode deixar de considerar o papel que os incentivos governamentais podem estar desempenhando.

Diante das considerações acima, é preciso descrever os principais aspectos dos subsídios americanos à produção e exportação, assim como apresentar o nível de subsídios recebidos pelos produtores nos últimos anos. Essa análise será realizada tomando como base os dados apresentados em Womach (2004).

Para estabilizar e sustentar a renda dos produtores, em face às flutuações negativas de preços causada por oscilações das condições de oferta e demanda mundial, os produtos mais produzidos nos USA, incluindo o algodão, têm sido subsidiado desde os anos da década de 1930. Entre os subsídios, há os programas de suporte de preços que, segundo Womach (2004), teoricamente nenhum deles causam impacto positivo nos preços de mercado, mas apenas ao preço efetivamente recebido pelos produtores, e por isso são chamados programa de ”preço de sustentação”. Entre os mecanismos, incluem a) empréstimo de assistência para comercialização, b) pagamentos diretos, c) pagamentos “counter-cylcical” e d) pagamento de mercado.

Há também a assistência de perda de safra, causada por desastres naturais, como seca, inundação, doenças e pragas em geral. Para essas assistências, há o seguro agrícola. Para a sustentação da renda agrícola outros programas de suportes são ainda acionados quando os preços domésticos dos USA estão menos competitivos no mercado internacional, possibilitando que os produtores vendam a pluma a preços menores, recebendo a diferença do governo. Os programas para esta situação são: a) Step 1 (taxa de redução de reembolso de empréstimo), b) Step 2 (pagamento para indústrias e exportadores domésticos), c) Step 3 (quotas especiais de importação) e d) quota de limite global de importação.

Outro sistema de ajuda aos produtores é a assistência à exportação. Aqui se enquadra a) garantia de crédito à exportação, b) programa de desenvolvimento do mercado externo, e c) programa de acesso ao mercado. Mais informações sobre os subsídios supracitados, como o limite máximo por produtor e/ou empresa e quando cada um acionado pelos mesmos, verificar descrição em WOMACH (2004).

Segundo esse autor, entre os anos agrícolas de 1991 a 20035 os produtores americanos receberam em média um total de US$ 1,761 milhões em subsídios diretos dos programas de sustentação de renda e preços e de perda de safra. No primeiro programa, gastou-se em média US$ 1,441 milhões ao ano e, no segundo, US$ 319 milhões. Ponderado pela quantidade produzida, entre os anos de 1991 e 2003 os subsídios diretos somaram em média US$ 0,21/lp ao ano. Do programa de sustentação de renda e preços os pagamentos diretos foram, em média, de US$ 0,17/lp ao ano e, do subsídios de perda de safra, US$ 0,04/lp. Esses dados são apresentados na Figura 7. Vale destacar, que por falta de informações detalhadas, aqui se incluem somente os pagamentos diretos, não considerando os gastos e impactos dos demais programas, como o Step 5 Ano agrícola se refere a agosto de um ano a julho do ano seguinte.

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1, Step 2, Step 3, quota de limite global de importação, garantia de crédito à exportação, programa de desenvolvimento do mercado externo e programa de acesso ao mercado.

Considerando o subsídio médio anual de US$ 0,21/lp para todas as regiões dos USA, observa-se na Tabela 1 que as margens em US$/lp e em US$/ha passam a ser positivas na maioria das regiões, com exceção da região C. A maior margem ocorre na região E, devido à produtividade de pluma por hectare, seguida das regiões B, F e D.

Assim, fica mais interessante analisar as bases pelas quais estão ocorrendo o desenvolvimento recente da produção de algodão nos USA. Segundo Womach (2004), a média de preço de mercado recebido pelos produtores americanos entre os anos agrícolas 1991 e 2003 foi de US$ 0,57/lp. Acrescido do valor do subsídio, o valor total recebido aumenta para a média de US$ 0,78/lp. Na Figura 8 pode-se observar a evolução do valor total recebidos pelos agricultora americanos, somando o preço de mercado ao subsídio.

Os subsídios no montante médio de US$ 0,21/lp ao ano representa, tomando como base o custo em US$/lp da safra 2003/04 apresentado neste trabalho, aproximadamente 25,1% do custo médio dos USA, 30% do custo médio da região Heartland, 18,4% da região Praire Gateway, 26,7% da região Southern Seaboard, 29,9% da região Fruitful Rim e 29,3% do custo médio da região Mississippi Portal.

Figura 7. Valores repassados pelo Governo dos USA aos produtores de algodão, através dos

programas de sustentação de preços e renda e de assistência à perda de safra, ano-safra 1991 a 2003.

0,12

0,23 0,21

0,030,08 0,07

0,17

0,34

0,21

0,380,34

0,07

0,03

0,050,03

0,02

0,02 0,01

0,09

0,06

0,10

0,05

0,04

0,03

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

US

$/lp

Pagamento de sustentação de preços (US$/lp) Assistência à perda de safra (US$/lp)

Fonte: Womach (2004)

7.4 Análise comparativa dos custos de produção entre Brasil e Estados Unidos

Para efetuar a comparação do custo de produção de algodão entre Brasil e USA, calcularam-se os custos em dólar para as principais regiões brasileiras sob análise, segundo os itens de custo da tabela em que se apresentaram as informações dos USA. A taxa de câmbio considerada (em R$/US$) é a média do mês de julho/04, que foi de R$ 3,0368 por US$ 1,00. Para o Brasil, a comparação será feita com as regiões de PL e CN, utilizando dados para variedades suscetíveis à doença azul e com as do Paraná em que se utiliza plantio convencional, com colheitas mecânica e manual. Todos os valores são computados com gastos na fazenda. Estes

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dados, em dólar, são apresentados na Tabela 2. Solicita-se ao leitor verificar nas Tabelas 1 e 2 as nomenclaturas (letras) que serão utilizadas para citar cada região.

Analisando individualmente cada item, observa-se que nos custos com compra de sementes, somente a região de PL não apresenta valor menor que a região B dos USA. Mesmo assim, a diferença não é tão expressiva, mas deve-se ressaltar a participação maior do custo com sementes nas regiões dos USA, comparativamente às regiões brasileiras. Isto pode estar associado ao uso, naquele país, de sementes geneticamente modificadas, mais caras. Contudo, essa análise deve ser feita com cautela, pois não se obteve informações sobre a quantidade de semente utilizada e nem do preço unitário de compra.

Nos gastos com fertilizantes, todas as regiões dos USA apresentam valores menores que as do Brasil. A região C, de menor custo com fertilizantes nos USA, apresentou um custo 61,8% menor que as regiões paranaenses, I e J, de menor custo no Brasil. Observa-se que este item tem uma importância maior no custo total da regiões brasileiras, comparativamente às americanas.

Em gastos com defensivos químicos, é expressiva a diferença entre os valores dos USA e do Brasil, uma vez que somente as regiões C e D apresentam custos menores que as regiões paranaenses. Estes valores também estão diretamente relacionados com o uso de semente geneticamente modificada, tolerante a herbicida e/ou resistente a insetos. Nas regiões G e H, de maior representação na produção brasileira, esses custos representam aproximadamente 37% do custo total,enquanto que nos USA a participação dos defensivos chegou a no máximo 13,8% do custo total, que foi na região F.

Nos gastos com máquinas, combustível, lubrificante, eletricidade e reparos (para o Brasil não foram computados os gastos com eletricidade) as regiões H e J são as que apresentam os menores custos. Por outro lado, as regiões brasileiras G e I só apresentam custo menor que a região americana E, que apresenta altos custos com irrigação.

Figura 8. Pagamento de subsídio aos produtores de algodão adicionados ao preço de mercado de

cada ano agrícola para sustentar e estabilizar a renda e preço dos produtores, ano-safra 1991 a 2003.

0,57 0,54 0,580,72 0,75

0,69 0,65 0,60

0,45 0,50

0,300,43

0,64

0,150,28 0,24

0,03 0,02 0,100,08

0,26

0,40 0,31

0,43

0,380,10

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

US

$/lp

Preço de mercado Subsídio total (US$/lp)

Fonte: Womach (2004)

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Tabela 2 – Custo de produção e retorno do algodão para regiões brasileiras selecionadas – 2003/04 – tabela adaptada para comparação com dados dos USA – em US$.

Sistema de Produção Descrição Primavera do Leste

(G) C. Novo do Parecis

(H) Paraná

(I) Paraná

(J) Produt. (kg/ha) (algod. em caroço) 3.600,00 3.750,00 3.000,00 2.500,00 Sistema de plantio Semi-direto Semi-direto Conv. Conv. Irrigado (%) 0 0 0 0 Sequeiro (%) 100 100 100 100 Tipo de colheita Mecânica Mecânica Mecânica Manual US$/ha Part. US$/ha Part. US$/ha Part. US$/ha Part. Itens de custos Sementes 61,87 3,6% 50,17 3,3% 19,76 1,6% 19,76 1,7%Fertilizantes 294,72 17,1% 272,49 18,1% 137,28 11,4% 137,28 11,8%Químicos 624,44 36,3% 570,13 38,0% 171,81 14,3% 171,81 14,8%Máq,. óleo, lubrif., elet. 206,92 12,0% 173,23 11,5% 285,04 23,7% 137,35 11,8%Juros sob os insumos operacionais 121,01 7,0% 110,13 7,3% 40,29 3,4% 40,29 3,5%Beneficiamento 100,85 5,9% 107,13 7,1% 165,73 13,8% 138,11 11,9%Gastos com água para irrigação - - - - - - - - Mão-de-obra contratada 81,78 4,8% 75,73 5,0% 88,36 7,4% 216,08 18,6%Custo oport. do trab. não pago - - - - - - - - Juros capital de máq. e equip. 26,38 1,5% 22,09 1,5% 27,79 2,3% 13,39 1,2%Custo de oportunidade da terra 138,30 8,0% 69,15 4,6% 163,00 13,6% 163,00 14,0%Taxas e seguros 27,41 1,6% 24,98 1,7% 6,94 0,6% 6,56 0,6%Admin. geral da fazenda 36,67 2,1% 26,59 1,8% 94,51 7,9% 118,88 10,2%Custo total listado 1.720,35 100,0% 1.501,84 100,0% 1.200,24 100,0% 1.162,61 100,0% Custo unitário na fazenda US$/kg – fazenda – alg. caroço 0,43 0,36 0,33 0,40 US$/kg – fazenda – pluma 1,30 1,09 1,11 1,31 US$/lb – fazenda – pluma 0,5896 0,4940 0,5036 0,5921 Margem s/ COE1/lb (pluma) 0,0393 0,1422 0,1258 0,0372 Margem s/ COE1/ha (pluma) 112,82 426,00 292,89 72,26

FONTE: CIRAD/CEPEA (2004) Da mesma forma, como era de se esperar devido às taxas de juros vigentes no Brasil e

nos USA, é expressiva a diferença dos valores dos juros sob os insumos operacionais entre as regiões desses países. Nos USA, esse item representa 0,2% do custo total, enquanto que no Brasil esse custo chega a ter uma participação de 7,3% no custo total. Contudo, em gastos com taxas e seguros a vantagem é quase que exclusiva do Brasil, cuja representatividade é pequena no custo total.

Em beneficiamento, a vantagem é para as regiões brasileiras, com exceção da região americana C que apresenta o menor custo entre as que estão sendo analisadas, mas a influência é da baixa produtividade da mesma. Neste caso, pode-se dizer que é boa a competitividade brasileira, que mesmo tendo maior produtividade na maioria das regiões, seus custos de beneficiamento são menores. Esse fator torna-se destaque quando se compara sua participação no custo total das regiões G e H com as demais.

Em mão-de-obra contratada, a maioria dos valores está próxima entre si. Os únicos valores díspares são os da região J, onde se utiliza a colheita manual e a região E, onde há intensificação de irrigação.

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Para as regiões brasileiras, os valores que deveriam ser apresentados no item em que se computa o custo de oportunidade do trabalho não pago, está incluso em administrações gerais. Já para o cômputo do juro sob capital de máquinas e equipamentos nas regiões brasileiras, optou-se por considerar a taxa de juro para obtenção de crédito através do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (MODERFROTA). De acordo com a disponibilidade de crédito, a taxa de juro adotada para as regiões G e H foram de 12,75% ao ano, e para as regiões I e J a taxa foi de 9,75% ao ano. Esses valores são disponibilizados de acordo com a renda agropecuária bruta anual de cada produtor e por isso optou-se por essa diferenciação entre regiões. Mesmo assim, o que deve ser ressaltado é o peso que esse item no custo total de produção das regiões americanas.

No custo de oportunidade da terra entre as regiões dos dois países, destaca-se a proximidade dos valores entre a região C, em que se insere o Estado do Texas, maior produtor dos USA, e a região H, que vêm apresentando aumento de área plantada em anos recentes. As demais regiões brasileiras apresentam alto custo, comparativamente ao USA. Mesmo assim, a região E apresenta um custo expressivamente maior que as do Brasil, provavelmente devido a maior tecnificação e uso intensivo de irrigação. Em termos gerais, há menor participação desse item no custo total das regiões brasileiras do que nas americanas.

Para efeito de comparação com os dados para as regiões americanas, efetuou-se no Brasil um levantamento de custos sobre administração geral da fazenda. Os resultados mostram que somente as regiões brasileiras mais tecnificadas são mais competitivas, enquanto as regiões paranaenses apresentam elevados gastos. Isso porque nas primeiras regiões há rateio dos custos com a maior área cultivada por cada produtor. Assim, as regiões paranaenses, que são consideradas de pequenas a médias, apresentam os maiores custos médios com este item entre todas as que estão sendo comparadas.

Com os dados supracitados, a maior competitividade brasileira deve ser analisada através do custo unitário da pluma na fazenda. No Brasil, o menor custo foi da região H (US$ 0,4940/lp), que é 29,4% menor que o mais baixo custo unitário da região B (US$ 0,7001/lp), pertencente aos USA. Já o custo unitário da região J, de maior custo brasileiro (US$ 0,5921/lp), é 154,9% menor que o custo unitário da região C, de maior custo dos USA (US$ 1,1415/lp). Veja que caso se utilizasse a classificação de Brooks (2001), todas as regiões brasileiras estariam nos patamares de produtores com baixo custo médio. Para lembrar, somente 25% dos produtores americanos pesquisados por Brooks (2001) se enquadraram nesse patamar de custo.

Estes resultados contribuem para uma margem positiva de todas as regiões brasileiras, enquanto somente a região E do USA teve lucratividade positiva quando não se considera o recebimento médio de subsídio. Mesmo assim, a lucratividade desta região é maior que a das regiões brasileiras G e J. Vale ressaltar que é na região E que se insere o Estado da Califórnia, que foi o quarto maior estado produtor na safra americana 2003/04, mas que até a safra anterior era o segundo maior estado produtor.

Ao acrescentar o valor dos subsídios, a lucratividade da região americana E é maior do que todas as brasileiras. No entanto, a região brasileira H apresenta maior lucratividade do que todas as demais dos USA. A região paranaense J apresenta lucratividade maior apenas em comparação com a região americana V, a de menor produtividade entre todas as analisadas.

Na Figura 9, apresenta-se a comparação das margens obtidas por libra peso de pluma comercializado entre as regiões analisadas do Brasil e dos USA.

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Figura 9. Rentabilidade média na produção de algodão em pluma nas principais regiões produtoras dos Estados Unidos e do Brasil, com e sem subsídio, em US$/lp – 2003/04

0.126

0.268

0.037

-0.020

0.190

-0.056

0.154

-0.137

0.073

-0.178

0.032

-0.542

-0.331

0.142 0.1420.1260.059

0.0390.0390.037

-0.6000-0.5500-0.5000-0.4500-0.4000-0.3500-0.3000-0.2500-0.2000-0.1500-0.1000-0.05000.00000.05000.10000.15000.20000.25000.3000

Margem US$/lp - sem subsídio Margem US$/lp - com subsídio

US$

/ha

Campo Novo do ParecisParaná - mec.Fruitful Rim Primavera do LesteParaná - man.HeartlandMississippi PortalSouthern SeaboardUSAPrairie Gateway

FONTE: CIRAD/CEPEA (2004)

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar a competitividade da produção de algodão entre Brasil e Estados Unidos da América (USA) através do custo de produção agrícola das principais regiões produtoras, tomando como base a safra 2003/04.

Entre os resultados, destaca-se a vantagem da produção de algodão na região de CN sobre PL, conforme os dados de custos unitários e de margens de comercialização. No Paraná, destacou-se o menor custo obtido em propriedade que utilizam o sistema de plantio convencional e efetuam a colheita mecanicamente. Isto pode estar indicando que aos poucos deverá ocorrer a implantação de maior tecnificação naquele estado, principalmente quanto à colheita. Contudo, a característica das regiões e dos produtores, muitas vezes considerados tradicionais na cultura, poderá fazer com que esse resultado não se concretize, ou seja, acredita-se que os pequenos produtores ainda continuarão com a cultura do algodão, mas fazendo a colheita manualmente, pois é uma forma de utilizar a mão-de-obra disponível na região, assim como a familiar.

Ao comparar as regiões do Paraná com as do Mato Grosso, destaca-se a diferença de produtividade, favorável ao Mato Grosso. Contudo, é expressiva a vantagem das regiões do Paraná em que se usa o sistema de plantio convencional e colheita mecânica, em termos de custos unitários e de margens obtidas, comparada com as regiões do Mato Grosso. No entanto, Paraná apresenta desvantagem quando se compara suas regiões de sistema de plantio convencional e colheita manual. Esses resultados justificam o aumento da área plantada com algodão no Paraná em anos recentes.

Mesmo assim, é preciso ressaltar que se considerou o preço médio de venda em cada região com base no algodão tipo 6, fibra 30/32 e sem característica. Apesar deste ter sido o tipo mais comum na safra 2003/04, em geral as regiões do Mato Grosso obtém uma pluma de melhor qualidade, as quais são comercializadas a preços mais remuneradores. Assim, muitas vezes as regiões do Mato Grosso podem estar em melhor situação do que as apresentadas neste trabalho.

Em termos gerais, pode-se dizer que entre os fatores de competitividade mais eficientes em PL e CN, estão as produtividades agrícolas, colheita e beneficiamento e rendimento da fibra.

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Apenas em PL destaca-se os gastos com fretes, enquanto em CN o custo da terra e gastos com fungicidas. Para o Paraná, devem ser ressaltados os itens de preparo do solo e plantio, defensivos agrícolas, fretes, custo de óleo diesel e mão-de-obra

Para as regiões dos USA, destacaram-se os altos custos unitários, comparativamente às regiões brasileiras, e a margem de lucro negativa para a maioria das regiões, com exceção da região de Fruitful Rim. Segundo a classificação feita por Brooks (2001), três regiões podem ser enquadradas como de baixo custo (custo abaixo de US$ 0,64/lp), quais sejam: Heartland, Fruitful Rim e Mississippi Portal. A região de Praire Gateway seria de alto custo (acima de US$ 0,92/lp), enquanto Southern Seaboard estaria no patamar de médio custo.

Seguindo essa classificação, o custo de todas as regiões brasileiras poderia ser considerado como de baixo custo. Estes resultados refletem a melhor situação das regiões brasileiras em termos de margens por hectare.

Nessas condições, a participação brasileira no comércio internacional da fibra de algodão poderia estar muito melhor do que a atual, que contribuiria para aumentar a tecnificação dos produtores, assim como sua renda. Isto porque com subsídios, a pluma americana chega ao mercado internacional a um custo menor, impactando diretamente nos preços de comercialização, de forma negativa, certamente.Caso os preços internacionais estivessem em patamares maiores, ou se a concorrência fosse pelo livre mercado, a maior exportação brasileira poderia contribuir para que investimentos fossem feitos na área de logística, melhorando o escoamento da produção brasileira até os portos, e reduzindo os custos de produção. Assim, mais competitivo o Brasil se tornaria.

Espera-se que os dados aqui apresentados tenham contribuído para melhor entendimento dos custos de produção entre os países e suas regiões analisadas. Os custos unitários obtidos neste estudo são relativamente altos, quando comparados com os níveis de preços de comercialização esperados para os próximos anos, uma vez que a produção mundial deverá apresentar acréscimos expressivos. Assim, novos investimentos em tecnologia que reduzam ainda mais os custos de produção devem ser executados, mantendo a competitividade principalmente dos países em desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROOKS, N.L. Characteristics and production costs of U.S. cotton farms. Estatistical bulletin. N.974-2, Oct./2001. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Conjunturas Agropecuárias. Algodão. Período de 30/08 a 03/09/2004 (http://www.conab.gov.br/, setembro de 2004b). COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Safras (http://www.conab.gov.br/, novembro de 2004) Cotton Council International. Trends in Cotton Varieties. Cotton Varieties Planted, United States 2003 Crop (http://www.cottonusa.org/economicdata/index.cfm?ItemNumber=879, dezembro de 2004) DE ZEN, S.; PERES, F.C. Painel agrícola como instrumento de comunicação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 40., Passo Fundo, 2002. Anais. Brasília: SOBER, 2002.

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