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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO ESTUDO DA EVOLUÇÃO DE SISTEMAS DE INJEÇÃO EM PLATAFORMAS OFFSHORE MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO PEDRO CALIL ALVAREZ TKOTZ Niterói, 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DE SISTEMAS DE INJEÇÃO EM PLATAFORMAS

OFFSHORE

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

PEDRO CALIL ALVAREZ TKOTZ

Niterói, 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

PEDRO CALIL ALVAREZ TKOTZ

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DE SISTEMAS DE INJEÇÃO EM PLATAFORMAS

OFFSHORE

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de Petróleo da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial

para a obtenção do título de Engenheira de

Petróleo.

Orientador: Roger Matsumoto Moreira, PhD

Niterói

2011

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iii  

AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus por proporcionar esta oportunidade ímpar de

crescimento profissional em nossas vidas.

Aos nosso familiares, em especial nossos pais, pela orientação segura, apoio

incondicional, compreensão pelas nossas ausências e incentivo no decorrer de todo o curso.

Ao Professor Roger Matsumoto, pela orientação deste trabalho, confiança, incentivo e

apoio dispensado, pois sempre reservou um tempo para me atender, mesmo com prejuízo de

suas atividades pessoais.

Ao Professor Geraldo Ferreira, coordenador do curso de graduação de Engenharia de

Petróleo da UFF, agradeço pela dedicação e esforço na coordenação e pelo incentivo ao longo

do curso, contribuindo sobremaneira para seu pleno êxito e resultados alcançados.

Ao Sr. Pedro Riera, representante da Empresa AKER SOLUTIONS do Brasil Ltda.

agradeço pela contribuição de material didático relevante para ilustrar o presente trabalho.

A todo o Corpo Docente do Curso de Graduação de Engenharia de Petróleo da UFF,

pela compreensão, dedicação e conhecimentos disseminados, os quais serão vitais para o

desenvolvimento das nossas carreiras profissionais.

Finalmente, agradeço a amizade dispensada pelos colegas de curso, pelo

companheirismo que prevaleceu durante os anos de estudo e cujas lembranças permanecerão

indeléveis na nossa mente, desejando encontrá-los em outras oportunidades profissionais.

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iv  

 

 

 

 

 

 

"Na vida tudo é escuridão, salvo quando

há anseios. Mas todo anseio é cego,

salvo quando há conhecimento. Mas

todo o conhecimento é vão, salvo

quando há trabalho. E quando se trabalha

com amor, se une a si próprio, ao

próximo e a Deus." Gibran Kahlil Gibran

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v  

RESUMO

   

A energia primária de um reservatório, responsável pela extração do óleo acumulado

neste, eventualmente diminui e chega a níveis onde a produção torna-se inviável

economicamente.

Assim sendo, é fundamental que sejam tomadas providências para reverter esse quadro

desfavorável. Uma opção é abandonar os poços que já não se mostram lucrativos e investir

em descobertas de novos reservatórios ou perfuração de novos poços em reservatórios que

ainda estão bastante produtivos. Outra opção, mais utilizada mundialmente, é tomar

providências com técnicas de recuperação secundária, que têm como objetivo aumentar a

produção de reservatórios com energia primária já reduzida. Esses métodos de recuperação

secundária são, em grande parte, baseados na injeção de fluidos no reservatório. O principal

método é o de injeção de água.

Assim, nas plataformas offshore atuais, existe um módulo de injeção de água, o qual

requer toda uma estrutura adptada e preparada na plataforma. Por conseguinte, as inovações

nas técnicas de injeção de água (e tratamento de água de injeção) são relacionadas a inovações

também nas plataformas.

O presente trabalho tem como objetivo fazer um estudo de caráter evolutivo de tais

inovações. Para tal, serão abordados os principais métodos de recuperação secundária, bem

como as inovações nesta área da indústria petrolífera. Em paralelo, será feito um estudo do

histórico das plataformas FPSO’s1 (Floating Production Storage and Offloading),

relacionando as mudanças das plataformas com as inovações nos sistemas de injeção,

provenientes dos avanços nas técnicas de injeção de fluidos nos reservatórios de óleo e gás.

Palavras-chave: Injeção, Plataforma, Recuperação, Secundária.

                                                                                                                         

1 FPSO – Embarcação amplamente utilizada de produção, armazenamento e descarrregamento de óleo e gás.

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vi  

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vi  

ABSTRACT  

  The primary energy of a reservoir, which is responsible for the extraction of the oil,

will inevitably decrease to a level where the production becomes impracticable economically.

Therefore, it is essencial that something is done in order to revert this adverse

situation. One option available is to abandon the wells that aren’t profitable anymore and

invest resources in new reservoirs that haven’t been explored yet, or in the discovery of new

ones. Another option, more common, is to apply techniques of Enhanced Oil Recovery

(EOR), with the intent to increase the production of reservoirs that are already with that low

primary energy. These EOR methods are, in vast majority, based on the injection of fluids

into the reservoir. The main method is the water injection.

Thus, current offshore rigs are provided with a water injectino module, which requires

adaptations on the structure of the ship. Consequently, the innovations surrounding the water

injection techniques (and, of course, the water injection treatment) are directly related to the

adaptations and changes required on the ships.

This paper aims to study the evolution of such changes. In order to do that, the main

EOR methods will be explained, as well as the innovations regarding those methods.

Simultaneously, the whole historic of the Floating Production Storage and Offloading

(FPSO)2 will be covered, related with the adaptations that the ships need in order to receive

the changes regarding water injection modules, triggered by the innovations in the water

injection method.

Keywords: Rig, Injection, Enhanced, Recovery.

                                                                                                                         

2 FPSO – Vessel widely used in the oil industry for production, storage and offloading of oil and natural gas.

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vii  

LISTA DE SIGLAS

 

API

BCS

American Petroleum Institute

Bomba Centrífuga Submersa

BPD

BSW

Barris Por Dia

Basic Sediments and Water

CCS

CALM

CAPEX

CENPES

CIP

COFCAW

EOR

FCM

FPSO

FPU

FRP

Carbon Capture and Storage

Catenary Anchor Leg Mooring

Despesas de Capital

Centro de Pesquisas da Petrobras

Clean in Place

Combination of Forward Combustion and Waterflooding

Enhanced Oil Recovery

First Contact Miscible

Floating, Production, Storage and Offloading

Floating Production Units

Fiber Reinforced Platisc

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viii  

FSO

GLP

IPCC

MCM

MEA

MEOR

NETL

NORM

OOIP

OPEX

PFD

PPM

PWRI

SAGD

SAIA

SRWI

Floating Storage and Offloading

Gás Liquefeito de Petróleo

Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

Multiple Contact Miscible

Mono Etanol Amina

Microbial Enhanced Oil Recovery

National Energy Technology Laboratory

Naturally Ocurring Radioactive Material

Óleo Originalmente no Reservatório

Despesas Operacionais

Process Flow Diagram

Partes Por Milhão

Produced Water Re-Injection

Steam Assisted Gravity Drainage

Sistema Antecipado de Injeção de Água

Subsea Raw Water Injection

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ix  

SWIT

UFD

URS

VLCC

WAG

Subsea Water Injection Treatment

Utility Flow Diagram

Unidade de Remoção de Sulfato

Very Large Crude Carrier

Water-Alternating-Gas

 

 

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viii  

 

 

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x  

LISTA DE FIGURAS

.

Figura 1.1 P.P. Moraes (P-34) e sua evolução de ancoragem ......................................... 4

Figura 2.1 Volume de reservas e recuperação com processos de EOR ........................... 10

Figura 2.2 Injeção de polímeros e água. Deslocamento macroscópico ........................... 13

Figura 2.3 Injeção de polímeros e surfactantes ............................................................... 14

Figura 2.4 Injeção miscível de dióxido de carbono ......................................................... 15

Figura 2.5 Processo de injeção cíclica de vapor .............................................................. 15

Figura 2.6 Processo de injeção de polímeros e surfactantes ............................................ 19

Figura 2.7 Processo de FCM com GLP e gás seco .......................................................... 21

Figura 2.8 Processo miscível de injeção de GLP e água alternativamente, WAG .......... 22

Figura 2.9 Envelope de fases para óleo, GLP e gás seco ............................................... 22

Figura 2.10 Injeção miscível de CO2 ................................................................................. 23

Figura 2.11 Processo de injeção miscível de CO2 alternado com água, WAG ................ 25

Figura 2.12 Esquematização de captura e armazenamento de CO2 ................................... 27

Figura 2.13 Injeção de vapor superaquecido ..................................................................... 29

Figura 2.14 Processo de injeção contínua de vapor .......................................................... 32

Figura 2.15 Processo de combustão in situ ....................................................................... 35

Figura 2.16 Processo de combustão in situ ....................................................................... 36

Figura 2.17 Perfil de temperatura entre poço injetor e produtor na combustão in situ ..... 36

Figura 2.18 Esquema de injeção periférica ....................................................................... 39

Figura 2.19 Esquema de injeção no topo ........................................................................... 40

Figura 2.20 Esquema de injeção na base ........................................................................... 40

Figura 2.21 Esquema de injeção em linha direta ............................................................... 41

Figura 2.22 Esquema de injeção em linhas esconsas ........................................................ 42

Figura 2.23 Esquema de injeção de malha five-spot ......................................................... 42

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xi  

Figura 2.24 Esquema de injeção de malha seven-spot ...................................................... 43

Figura 2.25 Esquema de injeção de malha nine-spot ........................................................ 43

Figura 2.26 Esquema de injeção de malha seven-spot invertida ....................................... 43

Figura 2.27 Esquema de injeção de mallha nine-spot invertida ........................................ 44

Figura 3.1 Filtro de 5 µm, novo e usado .......................................................................... 51

Figura 3.2 Esquematização submarina tradicional .......................................................... 53

Figura 3.3 Esquematização submarina com uso do SWIT .............................................. 53

Figura 3.4 Redes de distribuição em marcha e por manifolds ......................................... 54

Figura 3.5 Equipamentos de superfície de sistema de injeção de água ........................... 56

Figura 3.6 Evolução da queda de injetividade com o tempo pelo programa INJECT .... 59

Figura 3.7 Mecanismo de Subsea Raw Water Injection .................................................. 61

Figura 4.1 Incrustação em tubulação de água produzida ................................................. 65

Figura 4.2 Processo de Remoção de Sulfatos – Nanofiltração ........................................ 68

Figura 4.3 Membranas de Nanofiltração ......................................................................... 69

Figura 4.4 Arranjo dos vasos das membranas ................................................................. 69

Figura 4.5 Relação de controle de incrustações com seus fatores ................................... 72

Figura 4.6 Tratamento de água do mar com URS à montante da desaeradora ................ 73

Figura 4.7 URS posicionada à jusante da torre desaeradora ........................................... 74

Figura 4.8 Unidade de Remoção de Sulfato (URS) ........................................................ 77  

 

 

 

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xii  

LISTA DE TABELAS

   

Tabela 1.1 Características de FPSO’s de acordo com suas fases .................................... 5

Tabela 2.1 Intervalos de composição de solução micelar ................................................ 18

Tabela 5.1 Vantagens e desvantagens dos possíveis posicionamentos da URS .............. 79  

 

 

 

 

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xiii  

SUMÁRIO    

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................. 1

1.1 – MOTIVAÇÃO .......................................................................................................... 2

1.2 – OBJETIVO ............................................................................................................... 3

1.3 – HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DAS FPSO’S ............................................................ 3

1.3.1 – FASE 1 ................................................................................................................ 4

1.3.2 – FASE 2 ................................................................................................................ 6

1.3.3 – FASE 3 ................................................................................................................ 7

1.3.3.1 – PROJETO DA FPSO P-50 .......................................................................... 8

2 – MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA ................................................. 10

2.1 – ALTERNATIVAS À RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA ....................................... 12

2.2 – DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA ............ 13

2.2.1 – PROCESSOS DE CONTROLE DE MOBILIDADE ......................................... 16

2.2.2 – PROCESSOS QUÍMICOS ................................................................................. 17

2.2.3 – PROCESSOS MISCÍVEIS ................................................................................. 20

2.2.3.1 – SEQUESTRO DE CARBONO .................................................................... 26

2.2.3.1.1 – ARMAZENAMENTO E INJEÇÃO ...................................................... 27

2.2.3.1.2 – RISCO DE VAZAMENTOS .................................................................. 28

2.2.4 – PROCESSOS TÉRMICOS ................................................................................ 29

2.2.4.1 – INJEÇÃO DE FLUIDOS QUENTES ......................................................... 29

2.2.4.1.1 – INJEÇÃO DE ÁGUA AQUECIDA ....................................................... 31

2.2.4.1.2 – INJEÇÃO DE VAPOR ........................................................................... 31

2.2.4.2 – COMBUSTÃO IN SITU .............................................................................. 35

2.2.5 – OUTROS MÉTODOS DE EOR ....................................................................... 38

2.3 – ESQUEMAS DE INJEÇÃO ................................................................................... 38

2.4 – CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS DA INJEÇÃO DE ÁGUA .................. 44

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xiv  

2.4.1 – QUESTÕES QUE AFETAM O PROCESSO DE INJEÇÃO DE ÁGUA ......... 45

2.4.1.1 – CARACTERÍSTICAS DA FORMAÇÃO E RESERVATÓRIO .................. 45

2.4.1.2 – CARACTERÍSTICAS DOS FLUIDOS ........................................................ 46

2.4.1.3 – MECANISMO DE PRODUÇÃO UTILIZADO ........................................... 46

3 – COMPONENTES DOS SISTEMAS DE INJEÇÃO DE ÁGUA ............................. 48

3.1 – CAPTUÇÃO E ADUÇÃO ....................................................................................... 48

3.2 – TANCAGEM ............................................................................................................ 50

3.3 – TRATAMENTO ....................................................................................................... 50

3.4 – CONJUNTO MOTOR-BOMBA .............................................................................. 54

3.5 – REDE DE DISTRIBUIÇÃO .................................................................................... 54

3.6 – POÇOS ...................................................................................................................... 55

3.6.1 – POÇOS DE INJEÇÃO ........................................................................................ 55

3.6.2 – POÇOS DE CAPTAÇÃO E DUMP-FLOOD .................................................... 57

3.7 – NOVAS TECNOLOGIAS DOS SISTEMAS DE INJEÇÃO DE ÁGUA ............... 58

3.7.1 – EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE ÁGUA ..................................................... 58

3.7.2 – DECLÍNIO DE INJETIVIDADE ...................................................................... 58

3.7.3 – CONTROLE DO DECLÍNIO DE INJETIVIDADE ......................................... 59

3.7.4 – SUBSEA RAW WATER INJECTION ................................................................. 61

3.7.5 – GERENCIAMENTO DE ÁGUA PRODUZIDA .............................................. 62

3.7.6 – REINJEÇÃO DE ÁGUA PRODUZIDA ........................................................... 62

3.7.7 – SEPARAÇÃO SUBMARINA DE ÓLEO E ÁGUA ......................................... 63

4 – REMOÇÃO DE SULFATO EM ÁGUAS SALGADAS DE INJEÇÃO ................. 65

4.1 – O PROCESSO DE REMOÇÃO DE SULFATO ...................................................... 67

4.2 – REMOÇÃO DE SULFATOS EM ÁGUAS PROFUNDAS .................................... 70

4.3 – APLICAÇÕES DO PROCESSO DE REMOÇÃO DE SULFATO ......................... 71

4.4 – POSICIONAMENTO DA UNIDADE DE REMOÇÃO DE SULFATO NO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE INJEÇÃO ...............................................

72

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xv  

4.4.1 – POSICIONAMENTO DE URS E DESAERADORA NAS P-58 E OSX-2 ...... 75

4.4.2 – P-51 E SUA UNIDADE DE REMOÇÃO DE SULFATO ................................. 76

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 77

5.1 – CONCLUSÃO .......................................................................................................... 77

5.2 – PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 82

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1

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Eventualmente, todo poço de petróleo chega numa fase onde o fluido a ser

produzido, dentro do reservatório, não tem mais energia suficiente para vencer as perdas

de carga e chegar à cabeça de poço, levando assim a uma queda na vazão de produção

do poço. Esta queda de vazão chega a um ponto onde não é mais economicamente

viável manter o poço em produção, devido ao esgotamento dessa energia primária.

Pode-se então abandonar o mesmo (quando algum motivo particular inviabiliza de

alguma forma implementações de métodos adicionais para produção) ou implementar

técnicas com o intuito de acelerar a produção para adiantar o fluxo de caixa ou alcançar

a viabilidade econômica a partir do aumento da vazão, chamadas de métodos de

recuperação secundária.

Antigamente, estes métodos de recuperação secundária eram os métodos

aplicados após a fase de recuperação primária, e após aquela fase de recuperação

secundária vinham as técnicas de recuperação terciária. A partir da década de 1990

começou-se a usar o termo de recuperação secundária para qualquer método que venha

a ser utilizado para aumentar a vazão de produção e/ou a eficiência de drenagem do

reservatório. Em adição, estes métodos são divididos em convencionais (anteriormente

chamados de recuperação secundária) e especiais, anteriormente conhecidos como

recuperação terciária. Atualmente, todos são chamados de métodos de recuperação

secundária ou métodos de Enhanced Oil Recovery (EOR). (ROSA, 2006)

Os métodos de recuperação secundária convencionais são a injeção de água e

injeção imiscível de gás. A técnica de injeção de água, mais usada mundialmente, foi

primeiramente posta em uso no campo de Bradford, EUA. No Brasil foi utilizada pela

primeira vez no campo de Dom João, na Bahia, em 1953. Os métodos especiais de

recuperação secundária são injeção miscível de gás, injeção de vapor, injeção de

polímeros e surfactantes, combustão in situ, injeção de hidrocarbonetos, além de muitos

outros.

Um método ainda menos convencional que os supracitados, que deverá ser

amplamente utilizado pela Petrobras na explotação do Campo de Lula, anteriormente

conhecido como Tupi, é o método de Water-Alternating-Gas (WAG). O processo de

WAG consiste em slugs, ou rajadas, de injeção alternando entre gás e água. Este

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2

método, que visa aumentar a mobilidade do óleo a ser produzido, foi proposto em 1958

por Claude e Dyes, ganhando maior enfoque e avanços recentemente.

Todos estes métodos de injeção aqui introduzidos serão discutidos e estudados

mais à frente, para melhor compreensão do sistema de injeção dos mesmos. Após a

revisão bibliográfica dos métodos de recuperação, será feita também uma revisão da

dispersa literatura sobre os sistemas de injeção das plataformas, em especial as offshore.

Será feito então um estudo sobre a evolução destes sistemas, motivada pela necessidade

de maiores vazões e pelas intensas inovações tecnológicas na área.

1.1 Motivação

Este trabalho foi motivado pela importância das técnicas de recuperação

secundária, em particular as de injeção de fluidos, na drenagem de um reservatório. É

fundamental continuar a produção de um poço com estes métodos pois o fator de

recuperação de um poço com apenas a recuperação primária usualmente gira em torno

de 15% do Oil Original In Place (OOIP)1, que é a quantidade de óleo contida no

reservatório originalmente. Após executada a recuperação secundária o fator de

recuperação do poço pode chegar a 60%, ficando comumente em torno de 30% em

áreas offshore – a média de recuperação da Petrobras em áreas marítimas é de 32%.

Durante a década de 60, as atividades petrolíferas no estado da Califórnia, EUA,

foram aceleradas e incentivadas pelo desenvolvimento dos métodos térmicos de

recuperação secundária. Portanto, o estudo de recuperação secundária é de vital

importância para a indústria petrolífera não só pelo grande aumento de lucratividade

para a mesma, mas como também para embasar estudos futuros sobre avanços

tecnológicos que possam elevar essa porcentagem de recuperação a padrões ainda

maiores que 60% de OOIP.

De igual importância podem-se citar as grandes inovações tecnológicas no que

diz respeito à injeção de gás carbônico em reservatórios de petróleo como estocagem do

poluente longe da atmosfera. Este método, também chamado de Carbon Capture and

Storage (CCS), é melhor explicado e avaliado no capítulo 5. Esta possível solução para

a excessiva emissão de CO2 na atmosfera vem sendo profundamente estudada

recentemente. No entanto, o uso de injeção de gás carbônico como método de EOR já é 1 OOIP – Quantidade de óleo no reservatório originalmente, anterior ao início da produção. 2 CAPEX – Despesas relacionadas ao investimento.

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3

comum há décadas, tendo seu primeiro sucesso no projeto de Sacroc e NorthCross, no

Texas, onde o CO2 era produzido, separado, e então reinjetado.

Assim sendo, é claro que melhorias e inovações no upstream vêm sendo feitas a

cada ano, e evidentemente, as plataformas sofrem adaptações baseadas em novos

conceitos, equipamentos e objetivos. Estas mudanças anuais estimulam um trabalho que

visa reunir, definir e explorar esses conhecimentos e as plataformas com seus sistemas

de injeção.

1.2 Objetivo

A escolha correta do método de recuperação secundária a ser aplicado num poço

é fundamental para a vida produtiva do mesmo. Devem ser levados em consideração

diversos fatores, tais como as relações entre pressões e vazões e entre estas com o tempo

do projeto, além de certas características especiais do reservatório, como por exemplo,

as variações de permeabilidade , estratificações, existência de falhas, entre outras.

Sendo a injeção de fluidos o método de recuperação secundária mais utilizado

no mundo, o sistema de injeção da plataforma é igualmente importante. Este trabalho

tem então como objetivo estudar as evoluções desses sistemas em plataformas offshore,

fazendo uma revisão bibliográfica do que há hoje na literatura, explanando seus

equipamentos e o funcionamento dos mesmos e buscando atingir a explicação clara,

precisa e sucinta dessa importante fase da vida produtiva de um poço. Será estudado

como as plataformas offshore vêm sendo modificadas para se adaptarem às inovações

tecnológicas da área e o porquê dessas adaptações.

A seguir, será analisado um histórico da evolução das FPSO’s (Floating,

Production, Storage and Offloading) no Brasil. Em seguida será feita uma revisão

bibliográfica acerca dos métodos de recuperação secundária, em especial os que

envolvem injeção.

1.3 Histórico e Evolução das FPSO’s

No Brasil, entre todos os tipos de plataformas da indústria de petróleo e gás, a

mais utilizada é uma embarcação do tipo FPSO. Como o próprio nome diz, essa

plataforma flutuante é responsável pela produção de diversos poços, armazenamento

dos fluidos produzidos, e transporte dos mesmos para outras embarcações, os navios

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aliviadores, responsáveis pelo transporte dos fluidos produzidos da plataforma até a

costa. A Petrobras começou a utilizar as FPSO’s em suas operações no ano de 1979,

através da instalação de uma planta de processos sobre o deck da P.P.Moraes,

posteriormente renomeada para P-34. A evolução que este tipo de plataforma sofreu ao

longo destes últimos 30 anos é notória e será explicada adiante, resultando em projetos

modernos como os da semi-submersível P-51, que terá, inclusive, seu sistema de

tratamento de água para injeção discutido no capítulo 4.

A Petrobras classifica as FPSO’s e suas instalações e projetos em 3 fases. A

primeira, abrangendo FPSO’s de 1979 até o começo dos anos 90, consiste em FPSO’s

oriundas de adaptações de outras plataformas. A fase 2, englobando a década de 90,

consiste de um boom na construção e instalação de FPSO’s. A fase 3 consolidou a

construção de novas gerações de plataformas, com projetos inovadores.

1.3.1 Fase 1

Em 1978, a primeira boia CALM (Catenary Anchor Leg Mooring) foi instalada

no campo de Anchova, na Bacia de Campos, área offshore contendo cerca de 40 campos

de petróleo, com o intuito de permitir a ancoragem de um tanker de óleo, que receberia

a produção de hidrocarbonetos de outra plataforma.

No ano seguinte, a P.P. Moraes, antiga tanker, recebeu uma planta de processo

com o intuito de transformá-la em uma FPSO para uso no campo de Garoupa, ancorada

por um sistema de torre-Yoke. Nos anos seguintes, a plataforma sofreria mais mudanças

nos sistemas de ancoragem, como pode ser visto na figura 1.1, a seguir.

Figura 1.1. P.P Moraes (P-34) e sua evolução de ancoragem: Tower-yoke, CALM-yoke e Turret.

Fonte: PETROBRAS, OTC 18 681 (2007)

Em 1987, a P.P. Moraes (P-34), foi redirecionada para o campo Albacora, de

águas profundas, onde ficou até 1993.

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Durante esse período, as plataformas utilizadas para produção nos campos da

Bacia de Campos eram, em grande maioria, semi-submersíveis. Chamadas de FPU’s

(Floating Production Units), essas unidades exportavam o óleo para navios tipo tankers,

aliviadores, conectados permanentemente a boias de carregamento. O primeiro projeto

da estatal deste tipo foi em 1992, no campo de Marlim, onde uma FSO (Floating

Storage and Offloading) do tipo Aframax, Horta Barbosa, foi ancorada a 625 metros de

lâmina d’água, quebrando recordes mundiais da época para boias CALM. A FSO Horta

Barbosa foi pioneira na operação de alívio na Bacia de Campos, provando que as

operações eram seguras para as condições adversas daquele campo, àquela época.

As modificações necessárias para os tankers funcionarem como FSO’s eram

mínimas, já que eram restritas também pelos tamanhos dos navios, Panamax ou

Aframax. Consequentemente, as FPSO’s/FSO’s da época não tinham unidades de

injeção de água e nem exportavam gás. Algumas outras características são apresentadas

na tabela 1.1, adaptada do artigo OTC 18 681, da Petrobras.

Nesta primeira fase, pode-se considerar que a P.P. Moraes foi um laboratório

flutuante para testes de ancoragem, de comportamento frente às condições marinhas e

de efeitos dos movimentos sobre a planta de processamento.

Tabela 1.1. Características de FPSO’s de acordo com suas fases. (Petrobras, OTC 18 681, 2007)

Característica Fase

I – 1979-1993 II – 1995-2001 III – 2002-2006

Unidades P.P. Moraes, Juruperna,

Horta Barbosa

P-31 / P-33 / P-35 /

P-37 P-50 / P-54 / P-53

Tamanho e Capacidades

Capacidade de

Processamento

(bpd)

< 60.000 ~100.000 180.000

Tamanho do Navio Panamax, Aframax VLCC VLCC

Compressores de

Gás

Pequenos Moto-

Compressores

(<600.000 m3/dia)

Grandes Turbinas

(1~2 MMm3/dia)

Grandes Moto-

Compressores (2

MMm3/dia)

Geração Principal Caldeiras a Vapor +

Moto-Geradores 1 MW

Caldeiras ou Turbo-

Geradores 5~10MW

Grandes Turbo-

Geradores 23MW

Tratamento de Água Bastante Limitado Completo, com

alguns gargalos Completo

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6

Tabela 1.1. (cont). Características de FPSO’s de acordo com suas fases.

Capacidade de

Injeção de Água Nenhuma Completa Completa + URS

Gerenciamento de

Carga

2 Guindastes 3 Guindastes 3 Guindastes +

Monocarril

Atracação

Ancoragem tipo Single

Point em Torres ou

Boias

Ancoragem via

Turret

Ancoragem tipo

Spread (exceto P-53)

Arranjo Submarino

Poços Satélites ou

pequenos Manifolds

Submarinos

Grandes Manifolds

Submarinos de

Produção e Injeção

Poços Satélites

Conectados

diretamente à FPSO

Materiais

(tubulações e

embarcação)

Principalmente Aço-

Carbono

Plástico Reforçado

com Fibra (FRP) e

Cu-Ni

+ Aço Inoxidável

Duplex

Fonte: PETROBRAS, OTC 18 681 (2007)

Em 1994, após 15 anos de seu primeiro uso como unidade de produção, a P.P.

Moraes foi movida para o campo de Barracuda e foi renomeada para P-34. A

ancoragem passou a ser feita por turrets, devido à grande quantidade de risers (34)

conectados à FPSO. Além do novo sistema de ancoragem, a P-34 recebeu uma nova

planta de processamento, incluindo unidades de compressão de gás, e operou neste

campo de 1997 a 2003.

Essas modificações sofridas pela P.P. Moraes (P-34) caracterizam um período de

transição entre a fase 1 e a fase 2, pois a FPSO apresentava características clássicas de

plataformas da fase 1, tais como tamanho médio e ausência de sistema de injeção de

água, e outras referentes à fase 2, como ancoragem via turret, possibilitando

movimentos de 360o em torno do mesmo.

1.3.2 Fase 2

No começo dos anos 90, o crescimento da produção da Bacia de Campos levou à

necessidade de melhorias no sistema de exportação, pois as tubulações existentes na

época já operavam à máxima capacidade. Após alguns estudos da Petrobras, foi

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concluído que para os campos de águas profundas Marlim e Albacora, o uso de FPSO’s

em vez de FPU’s seria recomendável.

Consequentemente, a estatal começou a conversão de 4 FPSO’s, sendo uma para

o campo de Albacora, a Vidal de Negreiros (P-31), e três para o campo de Marlim, a

Cairu (P-32), Henrique Dias (P-33) e José Bonifácio (P-35). Todas foram convertidas a

partir de VLCC’s (Very Large Crude Carriers) da própria frota da empresa. Alguns

meses depois, a P-37 foi contratada para o campo de Marlim.

Pela primeira vez no Brasil, as FPSO’s estavam sendo usadas como unidades de

produção durante toda a vida produtiva dos campos de petróleo. Obviamente, as

unidades eram grandes o suficiente (antigos VLCC’s), com grandes plantas de processo

para a época (no mínimo 100.000 bpd), incluindo completas unidades de compressão de

gás, e finalmente, sistemas de tratamento e injeção de água. Adicionalmente, todas

contavam com turrets e swivels grandes o suficiente para receber uma elevada

quantidade de risers, responsáveis pelo carregamento do óleo desde os manifolds

submarinos até as respectivas embarcações. Para duração a longo prazo, algumas

estratégias novas foram analisadas, incluindo o uso de novos materiais para certos

equipamentos submarinos, como por exemplo plástico reforçado de fibras, ou Fibre-

Reinforced Plastic – FRP, no sistema de elevação de água do mar. Pouco tempo depois,

mais duas FSO’s foram convertidas para FPSO’s para uso no campo de Roncador (P-

47) e Marlim Sul (P-38).

A alta eficiência destas 7 FPSO’s na Bacia de Campos mostrou que a escolha

deste tipo de plataforma ao invés de FPU’s foi correta. Contudo, algumas ressalvas

mostraram que ainda havia o que aprimorar e consertar. Algumas das ressalvas foram as

limitações nas plantas de tratamento de água e óleo, além de problemas operacionais

nos sistemas de exportação do óleo.

1.3.3 Fase 3

Em 2000, a construção das FPSO’s gêmeas P-43 e P-48, para os campos de

Barracuda e Caratinga, respectivamente, marcou uma transição entre a fase 2 e a fase 3,

pois o processo já envolvia o conceito de modularização, que permitia a divisão da

construção das plantas de processo em menores, possibilitando construções simultâneas,

mais rápidas. Outras características das plataformas dessa fase são explanadas na tabela

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1.1. A seguir, alguns pontos do projeto da P-50 são levantados, caracterizando as

FPSO’s da fase 3, como as P-53 e P-54.

1.3.3.1 Projeto da FPSO P-50

Devido às características do reservatório de Albacora Leste, a planta de processo

da P-50 recebeu alguns módulos de tratamento ainda não utilizados pelas FPSO’s no

Brasil. Um deles é o sistema de remoção de CO2. A elevada quantidade de CO2 no óleo

de Albacora Leste levou à instalação de unidades de remoção deste gás, entre o segundo

e terceiro estágios de compressão de gás. Através do processo de absorção por MEA

(Mono Etanol Amina), a quantidade de CO2 era reduzida dos 5% iniciais para menos de

2%.

Outro módulo novo à época era a unidade de remoção de sulfato, URS. O

reservatório de Albacora Leste mostrou que a água da formação continha bário e

estrôncio em altas quantidades, 70 mg/l e 500 mg/l, respectivamente. Como será

explicado no capítulo 4, estes sais reagem com os sulfatos presentes na água salgada de

injeção, levando a problemas nos poços produtores, causados por incrustação. Assim

sendo, a URS da P-50 reduzia o conteúdo de sulfato da água salgada dos originais 2.800

mg/l para menos de 100 mg/l, com uma eficiência próxima de 75%, resultando numa

grande diminuição dos efeitos de incrustação.

Outra novidade importante na P-50 foi o sistema de captação de água do mar.

Usualmente, a captação da água salgada é feita por risers flexíveis que descem até 30

metros abaixo do deck da plataforma, com o objetivo de captar água com qualidade

apropriada para o sistema de injeção. Porém, o sistema de injeção de água representa

apenas 20% do total de água salgada que deve ser captada, sendo o resto representado

por água de resfriamento, para uso industrial, prevenção de incêndios, etc. Portanto, a

Petrobras decidiu usar um sistema dedicado apenas à captação dessa água, com bombas

de elevação submersas. Esta opção se mostrou mais prática tanto na construção quanto

na operação em comparação à localização dessas bombas na sala de bombas.

Adicionalmente, o sistema todo se mostrou mais eficiente, já que as bombas ficam mais

próximas do módulo de injeção de água.

O sistema de injeção de produtos químicos também sofreu melhorias na

construção dessa FPSO. Com a intenção de garantir a segurança dos envolvidos nos

processos de recebimento e manuseio de tais produtos, a P-50 incluía tanques fixos com

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os produtos, conectados por tubos flexíveis para os containers apropriados. A abertura

de duas válvulas permitia o fluxo dos produtos químicos por efeitos gravitacionais,

evitando contato direto entre os produtos e qualquer operador da plataforma.

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CAPÍTULO 2 – MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA

O desenvolvimento de processos de recuperação secundária, também chamada

de Enhanced Oil Recovery (EOR) – traduzido para o português como Recuperação de

Óleo Aprimorada – cresce desde a segunda guerra mundial, quando operadoras donas

de reservatórios com vazões descendentes de produção perceberam que uma quantidade

grande de óleo permanecia no reservatório após a recuperação primária. O estudo sobre

as técnicas de recuperação secundária foi estimulado pela queda de produção dos

grandes reservatórios da época, grande aumento de consumo mundial de petróleo e pelo

fato de que as descobertas de reservatórios imensos de óleo estavam cada vez mais

raras. Com as crises do petróleo de 1973 e 1979 e consequentemente as altas do preço

do petróleo, o interesse nessas técnicas cresceu exponencialmente. Um catalisador para

o crescimento dessas técnicas de EOR foi ter como objetivo a aceleração da produção,

ou pelo menos a redução da velocidade de seu declínio. Isso resulta numa antecipação

do fluxo de caixa do projeto em questão, dando retorno financeiro de forma mais rápida

para a operadora responsável pelo reservatório.

A figura a seguir demonstra a importância das técnicas de EOR a partir dos

fatores de recuperação primária e secundária.

Figura 2.1. Volume de reservas e recuperação com processos de EOR.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

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Os dados são do fim de 1993 e são relacionados às atividades petrolíferas dos

Estados Unidos, somente. Pode-se observar que 536 x 109 barris tinham sido

descobertos até aquela data. A produção acumulada era de 162 x 109 barris e a reserva

provada era de 23 x 109 barris de óleo (bbl). Vale ressaltar que reserva provada é o

parâmetro que mede a quantidade de óleo descoberto cuja produção é viável

economicamente com a tecnologia disponível na data especificada. Assim sendo, os 23

x 109 barris de reserva provada não incluem óleo que poderia ser recuperado apenas

com técnicas de recuperação secundária que não eram usados na época. Com o avanço

dessas técnicas, a quantidade de óleo que se torna recuperável é de 351 x 109, mais que

triplicando a quantidade de óleo recuperável até então (produção acumulada mais

reserva à época).

As características físico-químicas do óleo a ser extraído com as técnicas de EOR

são variadas. Óleos de alto grau API (menos viscosos, mais voláteis e de maior valor

agregado) e óleos de baixo grau API (viscosos, menos voláteis e, portanto, menos

valorizados) podem ser extraídos com os diversos métodos de recuperação secundária.

Além desta variedade, a espessura e profundidade do reservatório e as condições

de temperatura e pressão no mesmo também são diversas. Assim sendo, a tecnologia

implementada nesses métodos não pode focar em um tipo específico de petróleo e

apenas a certas condições de reservatório. Por outro lado, nenhum dos métodos de EOR

é aplicável a qualquer situação e a qualquer tipo de óleo. Consequentemente, todos os

métodos são de suma importância para a exploração maximizada de petróleo nos

reservatórios mundiais.

Apesar da importância das técnicas de EOR, é importante atentar ao fato que

elas são úteis apenas a partir do momento que ficam viáveis economicamente, para

competir de forma acirrada com a recuperação primária que pode ser feita em

reservatórios ainda inexplorados. Portanto, conforme os reservatórios amadurecem, uma

dúvida é criada entre investir em recuperação secundária nos reservatórios que estão

sendo explorados e investir em poços para produzirem óleo de reservatórios que até

então não foram ainda acessados. Assim sendo, as operadoras devem sempre analisar

financeiramente a viabilidade e lucratividade de cada projeto. Devido ao fato de que as

descobertas recentes raramente são de reservatórios ou campos de fácil acesso, pouco

profundos, a recuperação secundária fica cada vez mais atrativa.

Em alguns casos, os métodos de recuperação secundária podem ser usados no

primeiro estágio de produção. Em reservatórios que contêm óleos muito viscosos,

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usualmente os métodos de EOR resultam numa produção superior à que se obteria com

os usuais mecanismos de produção, como capa de gás e influxo de água. Na verdade,

esta prática é a conduta atual, exercendo uma manutenção constante de pressão.

Como explanado neste capítulo, há diversos fatores que influenciam na escolha

do melhor método de recuperação secundária para cada caso. Esses fatores citados são,

entre outros, o tipo de óleo, tipo de formação e rocha, assim como a distribuição, estado

e saturação do óleo resultante das operações anteriores. Essa ampla gama de fatores

resulta em diversos casos diferentes, que devem ser estudados única e profundamente

para a correta escolha do melhor método de EOR. Esses investimentos e estudos da área

estimularam e propiciaram o desenvolvimento de vários tipos de técnicas secundárias

hoje existentes.

2.1 Alternativas à recuperação secundária

Antes de entrar mais a fundo em cada método de recuperação secundária, vale a

pena frisar que esses métodos não são as únicas soluções para os problemas da

produção de petróleo e da escassez de reservas. Outros escapes para essas dificuldades

são explanados a seguir.

Uma primeira alternativa aos métodos de EOR é a exploração de reservas não

convencionais. Existe uma grande quantidade de petróleo em xistos e folhelhos

betuminosos. Alguns exemplos são as reservas de Athabasca, no Canadá e do cinturão

de Orinoco, na Venezuela. Embora o custo de exploração e desenvolvimento dessas

reservas seja relativamente alto, os avanços tecnológicos apontam meios para reduzir

este custo, tornando as reservas de xisto um bom acréscimo às reservas mundiais graças

à viabilidade econômica. Outro tipo de reserva não convencional que vem sendo

estudada é a grande quantidade de gás natural solubilizado em aquíferos. Mesmo com a

baixa razão de solubilidade do gás nesses aquíferos, a quantidade absoluta de gás que

pode ser produzido é alta devido ao enorme volume de água contido nos mesmos.

Também é possível encontrar gás natural nos hidratos localizados em leitos marinhos e

em algumas regiões congeladas da Terra. (ROSA, 2006)

A estimulação de poços com acidificação e fraturamento hidráulico também é

uma alternativa para o aumento de produção de poços com vazões decrescentes. Essas

técnicas são amplamente usadas atualmente, inclusive simultaneamente com os métodos

de recuperação secundária.

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Recentemente o uso de poços especiais tem se mostrado também essencial para

a indústria petrolífera. Poços inclinados, horizontais e multilaterais podem aumentar a

velocidade de drenagem do reservatório e a eficiência de recuperação em relação aos

convencionais poços verticais.

Apesar das reservas de petróleo serem um recurso não renovável, limitado, elas

não foram ainda totalmente exploradas. Principalmente no mar, ainda há uma boa

perspectiva de novas descobertas. É importante que não cessem os estudos buscando

novas áreas, tanto em terra quanto offshore. Os avanços tecnológicos desse segmento da

indústria sempre levam a novas descobertas. Também é fundamental estudar formações

cada vez mais profundas e áreas previamente consideradas esgotadas ou

economicamente inviáveis.

2.2 Descrição dos processos de recuperação secundária

Os métodos de EOR podem ser divididos também em processos de controle de

mobilidade, químicos, miscíveis, térmicos e outros. (GREEN, 1998)

Os processos de controle de mobilidade têm como principal objetivo manter as

razões de mobilidade em valores favoráveis, engrossando a camada de água através de

polímeros ou reduzindo a mobilidade do gás com espumas, por exemplo. A figura a

seguir mostra um esquema da eficiência de deslocamento macroscópica obtida com

injeção de polímeros e água.

Figura 2.2. Injeção de polímeros e água. Deslocamento macroscópico.

Fonte: GREEN (1998)

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Como mostrado na figura 2.2, o uso de polímeros previne que ocorra o que se

chama de fingering, ilustrado na parte da esquerda da figura, melhorando a eficiência de

deslocamento do óleo.

Processos químicos, por sua vez, são os que envolvem agentes surfactantes ou

alcalinos injetados para aprimorar a eficiência de varrido do óleo. A figura 2.3, adaptada

de Green & Willhite (1998), explana melhor o processo de polímeros e surfactantes.

Figura 2.3. Injeção de polímeros e surfactantes.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998).

O objetivo dos métodos miscíveis é injetar fluidos que sejam diretamente

miscíveis com o óleo ou que provoquem uma certa miscibilidade no reservatório através

de alterações na composição. Muitas vezes os fluidos utilizados são o CO2 e

hidrocarbonetos leves. A figura 2.4, a seguir, mostra o processo de injeção miscível de

CO2.

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Figura 2.4. Injeção miscível de dióxido de carbono.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

As técnicas térmicas de recuperação secundária consistem em injetar energia

térmica ou gerar esta energia de forma in situ, com geração de calor através de

combustão. A recuperação do óleo é aprimorada a partir de alterações na viscosidade,

manutenção de fases e estados favoráveis e até mesmo de algumas reações químicas. A

injeção de vapor e a injeção de ar ou oxigênio gerando combustão in situ são os

processos mais comuns. A figura 2.5 ilustra o processo de injeção cíclica de vapor.

Figura 2.5. Processo de injeção cíclica de vapor.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

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16

2.2.1 Processos de Controle de Mobilidade

O processo mais utilizado de controle de mobilidade é o de injeção de polímeros

com água. Em uma aplicação típica, uma solução de centenas de partes por milhões

(ppm) de poliacrilamida parcialmente hidrolisada em salmoura é injetada para deslocar

o óleo e a água associada. O tamanho da golfada de polímero varia entre 50% e 100%

em volume, e pode ser de variadas composições. Isso significa que a maior

concentração de polímeros é injetada inicialmente seguida por golfadas sucessivas de

polímeros em concentrações descendentes. A golfada final é, então, de água. (GREEN

& WILLHITE, 1998)

As soluções de polímeros são projetadas com o intuito de manter uma boa razão

de mobilidade entre elas e a reserva de óleo/água sendo deslocada à frente das golfadas

de polímeros. O objetivo desta técnica é obter uma varredura mais uniforme do

reservatório, como explicitado na figura 2.2. No caso de injeção puramente de água,

esta, principalmente em reservatórios heterogêneos, tende a encontrar um caminho mais

fácil e a se infiltrar na camada de óleo em direção ao poço produtor, arrastando assim

pouco óleo consigo, ocorrendo o fingering. Apesar do mesmo efeito ocorrer com os

polímeros, ele é minimizado pelo fato da mobilidade dos polímeros ser menor que a da

água.

É usualmente considerado que os polímeros não afetam significativamente a

saturação final do óleo residual. Contudo, dependendo do volume de água injetado e da

viscosidade do óleo a ser produzido, a saturação deste pode vir a cair devido ao baixo

ºAPI. Em contrapartida, o mecanismo principal em ação numa injeção de polímeros é o

aumento na eficiência de varrido de óleo.

Segundo Green & Willhite (1998), as soluções de poliacrilamida parcialmente

hidrolisada afetam a mobilidade em duas formas. A primeira é resultante da maior

viscosidade aparente destas soluções em relação à água. No entanto, por ser um fluido

não-Newtoniano, essa solução de polímeros se mostra extremamente sensível à taxa de

cisalhamento que é imposta à mesma. A solução também se mostra suscetível a

influências exercidas pelo tipo e concentração de salmoura utilizada. A segunda forma

na qual essas soluções afetam a mobilidade é quando as mesmas se encontram

encurraladas mecanicamente no meio poroso devido ao seu tamanho molecular e/ou

adsorvem neste meio. Nestes casos, a mobilidade da poliacrilamida é então reduzida a

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valores menores que os da camada de óleo/água a ser deslocada, devido às reduções de

viscosidade e de permeabilidade efetiva.

Outros tipos de polímeros também podem ser utilizados. As alternativas mais

comuns são chamadas de biopolímeros, produzidos a partir de processos de

fermentação. Estes biopolímeros afetam a viscosidade aparente da solução e afetam

apenas ligeiramente a permeabilidade da rocha, já que a retenção é significativamente

menor.

A única desvantagem aparente desse método de EOR é a baixa eficiência, em

termos de taxas de recuperação, em relação aos outros processos de recuperação

secundária. Além disto, o processo é afetado por operações de produção previamente

executadas no poço. Assim sendo, um influxo de água feito com sucesso anteriormente

pode resultar numa injeção de polímeros pouco eficiente, devido ao já elevado

acréscimo na taxa de recuperação causado pelo influxo de água.

Há ainda alguns processos de controle de mobilidade com aplicações de

espumas, alteração de permeabilidade relativa, entre outros. Essas técnicas de

recuperação secundária de controle de mobilidade frequentemente são usadas em

conjunto com os outros métodos de EOR para melhorar a eficiência global.

2.2.2 Processos Químicos

Os processos químicos de recuperação secundária envolvem a injeção de

produtos químicos, na fase líquida, que deslocam o óleo devido às suas propriedades de

comportamento de fases. Isso cria uma queda na tensão interfacial entre o líquido

deslocante e o petróleo. Nesta classificação de processos químicos, o uso de polímeros e

surfactantes ilustrado na figura 4 se provou como o método mais eficiente em termos de

recuperação. Nesta técnica, a primeira golfada injetada contém uma mistura química

complexa, chamada de solução micelar. Esta contém um surfactante, um álcool como

cosurfactante, óleo, eletrólitos e água e pode ser descrita como uma microemulsão.

(GREEN & WILLHITE, 1998)

Os surfactantes são agentes que alteram a tensão superficial ou interfacial de

suas soluções. Suas moléculas são ambifílicas, tendo uma extremidade atraída pela

água, hidrofílica, e a outra pelo óleo, oleofílica. Os surfactantes usados nesse processo

são usualmente sulfonatos de petróleo produzidos a partir de hidrocarbonetos que

variam desde GLP até óleo cru. Se o surfactante é misturado com a água numa baixa

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concentração, é formada uma solução. Se a concentração do surfactante for elevada

acima de um valor crítico, são formadas as micelas, onde a extremidade hidrofílica de

cada molécula atrai uma molécula de água. Quando o óleo é misturado neste sistema de

surfactante e água, as miscelas atraem as gotículas de óleo para o interior delas, onde há

as extremidades oleofílicas. Este tipo de mistura é chamado de miscelas inchadas com

água externamente, onde a miscela é inchada de óleo e dispersa na água. Miscelas

inchadas de óleo externamente também são utilizadas nos métodos de injeção de

solução micelar. A tabela a seguir mostra os valores usuais de composição da solução

micelar.

O cosurfactante ajuda no ajuste da viscosidade e auxilia as micelas a

solubilizarem mais óleo ou água, se inchando em maiores proporções, estabilizando a

solução. Esse álcool usado como cosurfactante minimiza também o problema da

adsorção do surfactante à rocha reservatório. Os eletrólitos têm como função ajudar

ainda mais no ajuste da viscosidade, e normalmente é um sal, como o cloreto de sódio

ou sulfato de amônia.

Tabela 2.1. Intervalos de composição de solução micelar.

Componentes Volume %

Hidrocarbonetos 0 – 80

Água 10 – 95

Surfactantes < 1 – 15

Cosurfactante 0 – 10

Eletrólito < 1 – 10 Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

A primeira golfada de surfactante, normalmente em cerca de 10% v/v, é seguida

por uma outra contendo uma solução de polímeros numa concentração de algumas

centenas de ppm. Esta solução é graduada em termos de concentração, tornando-se mais

diluída conforme mais solução é injetada. A porcentagem final de polímeros gira em

torno de 1% v/v.

A solução micelar tem uma solubilidade no óleo limitada, e é projetada para ter

uma tensão interfacial extremamente baixa com a fase de óleo. Quando esta solução

entra em contato com as gotas residuais de óleo, estas sofrem um gradiente de pressão e

são deformadas como resultado da baixa tensão interfacial, sendo deslocadas ao longo

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dos poros. Com a coalescência que ocorre com as gotas de óleo, cria-se uma camada

que se desloca, junto com a água, à frente da golfada química deslocante. Esta golfada

micelar também é projetada para que tenha uma razão de mobilidade favorável em

relação ao óleo e à água para prevenir o fenômeno de infiltração (fingering).

Consequentemente, essa mobilidade favorável permite uma maior eficiência de

deslocamento.

A golfada de solução de polímeros é injetada com o objetivo de deslocar a

solução micelar eficientemente. A baixa tensão interfacial e a razão de mobilidade

favorável entre o polímero e a solução micelar permitem esse deslocamento de alta

eficiência. A figura a seguir ilustra o processo de injeção de polímeros e surfactantes,

também chamado de injeção de solução micelar.

Figura 2.6. Processo de injeção de polímeros e surfactantes.

Fonte: ROSA (2006)

Este processo de injeção de surfactantes e polímeros envolve agentes

deslocantes imiscíveis. Não há solubilidade completa entre a solução micelar e o óleo

nem entre aquela e os polímeros. Para isto, é desejável uma baixa tensão interfacial nas

duas extremidades da camada da solução micelar. Na extremidade onde há o contato

com o óleo, essa baixa tensão permite que gotas descontínuas de óleo ou filmes de óleo

sejam deslocados também. Paralelamente, na outra extremidade a baixa tensão

interfacial resulta em mínimos aprisionamentos de solução micelar no meio. Se a

mesma não for bem deslocada pela golfada de polímeros, ela rapidamente se deteriora.

Esses métodos de surfactantes têm grande potencial devido à possibilidade de

projetar um processo onde tanto a eficiência volumétrica (EV) quanto a eficiência de

deslocamento microscópica (ED) são elevadas. Entretanto, há problemas relevantes.

Esse processo é caro devido à grande quantidade requerida de produtos químicos de alto

custo e normalmente só é justificável quando o preço do petróleo está alto e a

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quantidade de óleo remanescente no reservatório após a injeção de água é grande. Se o

controle de mobilidade não for bem mantido, podem ocorrer grandes perdas dessas

soluções, por adsorção, aprisionamento, entre outros. Outro problema encontrado nessa

técnica é a alta sensibilidade das soluções de surfactantes a altas temperaturas e

salinidades. Devem ser feitos estudos particulares e o processo global deve suportar essa

sensibilidade de tal forma que se torne aplicável a diferentes situações. Como exemplo,

temos os primeiros estudos que descartavam a aplicabilidade em reservatórios de

carbonatos e que continham íons de cálcio ou magnésio em excesso na água, devido à

alta salinidade e fácil adsorção de surfactante nos mesmos.

Resumidamente, o método de injeção de solução micelar é melhor aplicado em

reservatórios de arenitos, de preferência com óleo de grau API médio. Em formações

contendo óleos muito viscosos, de baixo grau API, o custo torna-se ainda maior,

tornando o projeto inviável economicamente. Isto ocorre pois é necessária uma maior

redução de viscosidade por parte da solução micelar e da solução de polímeros.

Portanto, há diversas variações dos processos de surfactantes. Outros métodos

químicos também têm sido desenvolvidos, como injeção de alcalinos. Este processo

consiste na injeção de químicos alcalinos que reagem com certos componentes no óleo

para a formação de um surfactante in situ. Apesar de ter potencial, esta técnica parece

ter um alcance pequeno de aplicação. Outros processos, envolvendo álcoois, foram

testados em laboratório, mas ainda não chegaram a passar por testes de campo.

(GREEN & WILLHITE, 1998)

2.2.3 Processos Miscíveis

Os processos miscíveis são baseados, obviamente, em deslocar o óleo com um

fluido que é misturado ao mesmo, formando uma fase única. Esse deslocamento

miscível é caracterizado pela inexistência de interface entre os fluidos deslocado e

deslocante. Portanto, o processo é baseado na redução das forças interfaciais e capilares,

prevenindo assim a retenção do óleo no meio poroso.

Enquanto a miscibilidade entre dois gases quaisquer é sempre existente desde

que não ocorra reação química, no caso de líquidos, é necessária uma semelhança

química e condições de pressão e temperatura adequadas. Portanto, é fundamental uma

análise adequada do comportamento de fases nos sistemas encontrados nos diferentes

reservatórios. Existem duas principais variações destes métodos, explicadas a seguir.

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Usualmente, quaisquer hidrocarbonetos líquidos, como nafta e querosene, são

miscíveis com os óleos do reservatório, assim como os gases etano, propano e butano,

que compõe os gases liquefeitos de petróleo, GLP. Este processo é chamado de first-

contact-miscible (FCM), que em português significa miscibilidade ao primeiro contato.

Nesta variação, o fluido é injetado e é diretamente miscível com o óleo do reservatório

nas determinadas condições de temperatura e pressão. A figura 2.7 ilustra o processo de

FCM.

Figura 2.7. Processo de FCM com GLP e gás seco. Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

Uma golfada relativamente pequena (cerca de 10% v/v) de algum

hidrocarboneto leve, como GLP, é injetada para deslocar o banco de óleo à frente, em

direção aos poços produtores. Essa camada de GLP é então deslocada por uma golfada

maior de um gás mais barato, como gás seco. Neste processo, é importante a

miscibilidade da golfada de GLP tanto com a fase de óleo quanto a fase de gás seco.

Assim, as interfaces GLP/óleo são eliminadas e as gotículas de óleo podem ser

mobilizadas. A miscibilidade entre o GLP e o gás seco é essencial para evitar o

aprisionamento da primeira golfada no reservatório. Em alguns casos, água é usada após

a primeira golfada, com o intuito de melhorar a eficiência de varrido. Este é o processo

de water-alternating-gas, ou WAG, no qual água também é produzida. A figura 2.8, a

seguir, ilustra este método.

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Figura 2.8. Processo miscível de injeção de GLP e água alternativamente, WAG.

Fonte: ROSA (2006)

De acordo com a figura 2.9, o óleo de composição O do reservatório é miscível

com o GLP, composto por L. Este é então diretamente miscível com o gás seco, de

composição G, que não deslocaria miscivelmente o óleo, pois o envelope de fases, na

pressão do diagrama da figura, invade o segmento de reta OG , o que não ocorre com

os segmentos OL e LG .

Figura 2.9. Envelope de fases para óleo, GLP e gás seco.

Fonte: ROSA (2006)

Portanto, há limites mínimos de pressão de reservatório para a utilização do

processo. Geralmente, esta pressão é entre 1000 psi (70 kgf/cm²) e 2000 psi (140

kgf/cm²), dependendo obviamente da temperatura e composição dos fluidos.

Simultaneamente, é necessário manter o GLP em estado líquido, para manter a

miscibilidade com o óleo. Portanto, deve-se observar a temperatura de reservatório, que

não pode ser maior que a temperatura crítica do gás utilizado, já que acima desta

temperatura o gás vaporizará independentemente da pressão.

Na indisponibilidade ou inviabilidade do gás natural, podem ser injetados

nitrogênio ou gases de combustão atrás da golfada de GLP. No entanto, a pressão

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necessária para permitir um deslocamento miscível do banco de GLP é muito alta,

muitas vezes impraticável.

As permeabilidades elevadas no banco miscível e na frente gás/GLP, somadas às

baixas viscosidades, resultam em uma razão de mobilidade desfavorável, resultando em

baixa eficiência de varrido. Este fato justifica o uso do método de WAG, onde um

banco de gás é injetado atrás do GLP, e atrás daquele vem água e gás. Isto reduz a

permeabilidade relativa ao gás e melhora as razões de mobilidade. As viscosidades,

permeabilidades relativas e saturação da água e do gás são usadas em cálculos

fundamentais para a definição do volume injetado de cada tipo de fluido. O período de

injeção de cada fluido é de alguns dias.

Além das condições de pressão mínima para miscibilidade, que requer também

uma profundidade mínima entre 1500 pés e 2500 pés, e de temperatura máxima para

evitar vaporização do GLP, limitando o processo a uma profundidade máxima, há

outros fatores que afetam a aplicabilidade desse processo de FCM. A viscosidade do

óleo é de suma importância para que ocorra uma razão de mobilidades aceitável, e deve

ser no máximo 5 cp ou 10 cp. Adicionalmente, formações de espessura e

permeabilidade pequenas são desejáveis, pois causam uma redução na segregação

gravitacional.

O principal atrativo para o uso de injeção de GLP é que este processo de

miscibilidade ao primeiro contato desloca quase todo o óleo residual da rocha-

reservatório em contato. A pressão necessária para o sucesso da operação normalmente

é menor que a requerida pelos outros processos miscíveis, como os de multiple-contact-

miscible (MCM), explicados adiante. Essa injeção de GLP também tem se mostrado

eficiente após uma injeção de água.

Contudo, essa técnica de EOR engloba algumas desvantagens. As eficiências de

varrido são baixas e o dimensionamento do banco de GLP é difícil, além de não existir

um modo de corrigir o tamanho do mesmo após este ser injetado. Se há pouco GLP,

parte do óleo que podia ser recuperado é deixada para trás. Se há GLP demais, ocorrem

gastos elevados e desnecessários. Em adição a esses fatores, a técnica de injeção de

fluidos miscíveis ao primeiro contato foi criada quando o propano, e outros gases leves,

eram abundantes e baratos. Com os preços atuais, entretanto, os gastos tornam-se

excessivos.

A segunda variação dos processos miscíveis é chamada de multiple-contact-

miscible (MCM), que em português significa múltiplos contatos miscíveis. Neste caso,

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o fluido injetado não é totalmente miscível com o óleo do reservatório no primeiro

contato, apesar de sua forte atração pelo óleo. Alternativamente, o processo depende da

modificação da composição da fase que foi injetada e da fase de óleo, através de

contatos múltiplos entre as fases e da transferência de massa dos componentes

envolvidos. Com as corretas condições de composição, temperatura e pressão, a

modificação de composição gera então uma miscibilidade in situ, entre as fases

deslocante e deslocada. O processo de injeção miscível de CO2 é ilustrado na figura 2.4.

Certa quantidade de CO2 é injetada com a intenção de mobilizar e deslocar óleo

residual. Através dos múltiplos contatos entre o CO2 e a fase óleo, hidrocarbonetos

intermediários e pesados são extraídos para a fase rica em CO2. Sob as condições

apropriadas, esta fase chega a uma composição que é miscível com o óleo do

reservatório. A partir desse momento, a interface entre essas fases começa a ser

eliminada. Usualmente o volume de CO2 que é injetado neste processo é de cerca de

25% v/v. Vale lembrar que este processo é usado como forma de recuperação

secundária. Mais à frente, será discutido o processo de armazenamento de dióxido de

carbono em geoformações com objetivo de removê-lo da atmosfera.

Os processos de MCM não recuperam todo o óleo disponível nas rochas

contatadas enquanto a frente miscível é criada ou regenerada. Portanto, fica um resíduo

de asfalteno, que ocupa cerca de 5% do volume poroso.

O método onde o gás injetado é o dióxido de carbono pode ser mais utilizado em

diferentes tipos de reservatório, principalmente nos quais o mecanismo de produção

utilizado na recuperação primária foi de gás em solução.

A principal dificuldade deste método é dada pelas condições críticas do CO2. O

dióxido de carbono tem uma temperatura crítica de 87,8 ºF (31ºC) sendo, portanto,

injetado normalmente acima da temperatura crítica. A viscosidade do CO2 nessas

condições de injeção é baixa, entre 0.06 cp e 0.10 cp. Assim sendo, o CO2 desloca a

água e o óleo sob uma razão de mobilidade desfavorável. Consequentemente, ocorre o

fenômeno de fingering e a eficiência de deslocamento (macroscópica) torna-se baixa.

Existem vários esquemas de injeção de CO2, tais como injeção contínua do

mesmo e banco de CO2 deslocado por água ou gás de hidrocarbonetos ou injeção

alternada de CO2 e água (WAG). Esta última abordagem é usada para superar o

problema da baixa eficiência de deslocamento e de fingering. O intuito da injeção de

água é reduzir a permeabilidade relativa do dióxido de carbono, e portanto, reduzir sua

mobilidade. Outra vantagem da técnica WAG é a distribuição da demanda de CO2 ao

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longo do tempo do projeto, conforme este é produzido. Outros processos de controle de

mobilidade têm sido estudados, como o uso de espumas e polímeros em conjunto com a

injeção de dióxido de carbono. [AHMED, 2004]

O tamanho do banco de CO2 é de cerca de 5% em volume do meio poroso.

Segue portanto uma injeção alternada de água e dióxido de carbono, até que se obtenha

uma quantidade acumulada de CO2 de 15% a 20% em volume poroso. A partir deste

momento a injeção passa a ser de água, apenas. Esta avança pelo meio poroso e

aprisiona o CO2 como saturação residual que ocupa os poros previamente ocupados por

óleo. O esquema é mostrado na figura 2.11, a seguir.

Figura 2.11. Processo de injeção miscível de CO2 alternado com água, WAG.

Fonte: ROSA (2006)

Outro problema que deve ser contornado na injeção miscível de gás vem da

diferença de densidade entre o CO2 e a água e, às vezes, entre aquele e o óleo também.

Nas condições de injeção, a densidade do CO2 gira em torno de 0,4, dependendo das

condições específicas do reservatório. Dependendo da massa específica do óleo, o CO2

pode tender a mover-se para o topo da formação, sobrepondo a fase de óleo e de água.

Uma possível solução é injeção no topo do reservatório, deslocando os fluidos no

sentido oposto. Entretanto, a aplicabilidade desta técnica depende muito da estrutura do

reservatório em questão.

Devido aos motivos supracitados, o CO2 eventualmente corre pelo reservatório e

chega aos poços produtores relativamente rápido. Como o custo do CO2 produzido é

baixo, normalmente ele é separado dos outros gases produzidos, recomprimido e

reinjetado. Apesar dos custos da separação, é um processo mais rentável que comprar

CO2. Além disso, possibilita que o gás natural tenha seu valor original como

combustível e possa, então, ser vendido, em vez de injetado para este fim.

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Outros gases podem ser adequados para o método MCM de forma similar à que

acontece com o CO2. Isso inclui gases relativamente secos (alto teor de metano) à alta

pressão, nitrogênio ou gases combustíveis. A principal diferença é que esses gases

citados precisam de pressões muito maiores para atingirem a miscibilidade com o

petróleo que a necessária para o CO2. Eles são mais usados, portanto, em reservatórios

profundos, onde pressões elevadas são atingidas mais facilmente, sem a ocorrência de

fraturamento da rocha. Uma regra grosseira para pressões de fraturamento é de 0,6 psi

por pé de profundidade. Se a pressão de fraturamento é excedida durante o processo, a

rocha reservatório irá fraturar e os fluidos injetados passarão por canais decorrentes

destas fraturas, contornando maior parte do petróleo. Portanto, o projeto do método a

ser utilizado, assim como a escolha do fluido de injeção, requer um estudo sobre as

pressões de operação, que por sua vez dependem da profundidade do reservatório.

Os problemas citados anteriormente sobre o processo de MCM com CO2 são as

principais dificuldades ocorrentes neste método de recuperação secundária.

Adicionalmente, a heterogeneidade do reservatório amplia estes problemas. O

desenvolvimento de técnicas novas de controle de mobilidade tem se mostrado uma

tarefa árdua, que requer estudos profundos e elevados incentivos financeiros. As já

discutidas diferenças de densidade contribuem para a complexidade deste método. No

caso de injeção alternada de gás e água, é ainda necessária a instalação de dois sistemas

de injeção, um para cada fluido. Finalmente, os fluidos utilizados em reservatórios de

pressões moderadas são caros e, às vezes, escassos.

2.2.3.1 Sequestro de Carbono

O termo sequestro de carbono normalmente diz respeito ao processo de remoção

de carbono da atmosfera e deposição do mesmo em formações geológicas. Também

conhecido por CO2 removal, este processo refere-se à estocagem de dióxidos de

carbono para mitigar os efeitos desse gás na atmosfera.

A remoção do dióxido de carbono da atmosfera é feita naturalmente através de

processos biológicos, químicos e físicos, ou ainda artificialmente. Outra fonte de

carbono são os próprios combustíveis fósseis produzidos, que podem passar por

processos de tratamento para que o CO2 possa então ser transportado para injeção.

Como já explicado anteriormente, a utilização de CO2 para injeção miscível e

imiscível como técnica de EOR já é comum à indústria petrolífera. Contudo, a injeção

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de CO2 com o objetivo de armazenar o gás longe da atmosfera é um conceito

relativamente recente. O primeiro projeto de grande escala começou em 1996 no Mar do

Norte, onde a norueguesa Statoil – na época conhecida por StatoilHydro – removeu gás

carbônico de gás natural e injetou em um profundo aquífero salino. Outro projeto, numa

usina da empresa sueca Vattenfall, em Schwarze Pumpe, na Alemanha, começou a

operar em setembro de 2008, com o intuito de responder questões levantadas acerca da

viabilidade econômica e tecnológica do processo de captura e armazenamento de

carbono, ou carbon capture and storage (CCS). Foi constatado que usinas funcionando

com técnicas de CCS podem emitir quantidades de CO2 entre 80% e 90% menores que

usinas sem CCS. O processo é ilustrado na figura 2.12, a seguir.

Figura 2.12. Esquematização de captura e armazenamento de CO2.

Fonte: TREEHUGGER (2011)

2.2.3.1.1 Armazenamento e Injeção

Há diversas opções para armazenamento de dióxido de carbono, tais como

reservatórios de óleo e gás, aquíferos salinos e camadas de carvão não minadas.

Atualmente, essas formações geológicas são consideradas a opção mais promissora. Um

estudo do National Energy Technology Laboratory (NETL) concluiu que a América do

Norte tem capacidade de armazenamento equivalente a 900 anos de emissões. Outro

estudo, por Keith e Parson – Fossil Fuel Without CO2 emissions – mostra que a

capacidade global de armazenamento em reservatórios esgotados de óleo e gás é entre

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200 e 500 Gton de carbono, e que as camadas de carvão são capazes de armazenar entre

100 e 300 Gton. Os aquíferos salinos, devido à abrangência dos mesmos, podem

armazenar entre 100 e 1000 Gton de carbono.

Esse armazenamento geológico consiste na injeção do gás supercrítico

diretamente nas formações subterrâneas supracitadas, enquanto mecanismos

geoquímicos e/ou físicos são responsáveis por aprisionar o CO2, evitando que este

escape para a superfície.

Os reservatórios esgotados de óleo e gás se apresentam como excelente opção

para o armazenamento do dióxido de carbono porque sua geologia já é bem conhecida e

estudada, além da possibilidade de corte de gastos reutilizando poços previamente

produtores ou injetores. Camadas de carvão ainda não minadas também são zonas de

armazenamento em potencial devido à atração das moléculas de CO2 com a superfície

do carvão. Este processo libera metano previamente absorvido no carvão, levando a

uma redução de gastos quando aquele é vendido. Por outro lado, a queima desse

metano, se não tratado apropriadamente, libera CO2, indo de encontro à ideia inicial do

projeto. No caso dos aquíferos salinos, a principal vantagem da utilização destes nos

processos de CCS é a abundância dos mesmos, além da falta de utilidade que

apresentam atualmente à população. A única utilização de tais aquíferos salinos até

então tem sido para armazenamento de dejetos químicos, em alguns casos. No entanto,

pouco é conhecido sobre tais aquíferos, principalmente em comparação ao

conhecimento já adquirido pela indústria referente a campos de petróleo e gás.

Entretanto, um problema agregado a este processo de armazenamento é a

dificuldade e incerteza da segurança em relação a vazamentos de CO2 de volta à

atmosfera.

2.2.3.1.2 Risco de Vazamentos

A maior preocupação atual acerca dos processos de CCS é a possibilidade de

vazamentos para a atmosfera. Este problema é ainda maior quando trata-se de aquíferos

salinos, devido à baixa gama de conhecimento sobre tais.

Contudo, segundo o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), o gás

carbônico pode ser armazenado por milhões de anos. O IPCC acredita também que se os

locais de estocagem forem selecionados adequadamente, mesmo que ocorram alguns

vazamentos, mais de 99% do dióxido de carbono ficará retido por mais de mil anos.

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Alternativamente, o IPCC crê que os riscos de vazamentos maiores estarão relacionados

à tubulação de injeção, como já aconteceu anteriormente. Entretanto, vazamentos

anteriores serviram de aprendizado para melhorar a segurança nesse tipo de operação,

mitigando os riscos e danos subsequentes.

Em conclusão, a utilização de injeção de CO2 em reservatórios esgotados de óleo

e gás, além de outras formações geológicas, tem recebido bastante atenção, graças aos

crescentes problemas ambientais relativos aos gases de efeito estufa e ao crescente

consumo global de combustíveis fósseis. Assim sendo, a captura e o armazenamento de

dióxido de carbono através da injeção do mesmo se mostra fundamental para o

crescimento sustentável da indústria petrolífera, e em breve ganhará ainda mais espaço

nos projetos e plantas de processo.

2.2.4 Processos térmicos

Os processos térmicos de recuperação secundária podem ser divididos em

injeção de água quente, injeção de vapor e combustão in situ.

2.2.4.1 Injeção de fluidos quentes

A intenção da recuperação por métodos térmicos é aquecer o reservatório e o

óleo nele contido para o aumento do fator de recuperação. No caso da injeção de fluidos

aquecidos, o calor gerado na superfície é transportado ao reservatório através do fluido

injetado, usualmente água (forma de vapor ou apenas aquecida). A figura 2.13 mostra o

esquema da injeção de vapor.

Figura 2.13. Injeção de vapor superaquecido.

Fonte: ROSA (2006)

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Como já explanado, o calor aumenta o fator de recuperação do óleo através de

uma redução de viscosidade e pela expansão e destilação do óleo e extração de solvente,

aumentando portanto a eficiência de deslocamento e a eficiência de varrido.

O efeito mais evidente é a redução da viscosidade com o aumento de

temperatura. No entanto, é importante frisar que essa relação inversa ocorre em maior

escala no início das mudanças de temperatura. A partir de um determinado valor para a

mesma, é necessário aumentar demais a temperatura para reduções pequenas na

viscosidade. Portanto, é evidente que este processo tenha maior efeito em óleos de baixo

ºAPI, mais viscosos, mais suscetíveis a acréscimos de temperatura, do que em óleos de

alto ºAPI, de alta qualidade, pouco viscosos.

Outro efeito, a expansão do óleo, também é de grande importância para um bom

resultado final de injeção de fluidos aquecidos. A expansão do óleo acelera a produção

pois quando o mesmo dilata, ganha energia para expulsar os fluidos do reservatório. A

dilatação do óleo varia de 10% a 20%, dependendo da composição, durante uma injeção

de vapor. No caso de injeção de água quente, esse valor cai um pouco devido à menor

temperatura.

A destilação do óleo também é um efeito considerável nesses processos

térmicos. Quando um óleo volátil é deslocado por um vapor, à alta temperatura, as

frações de menor peso molecular do óleo residual podem vaporizar e condensar quando

entram em contato com uma formação mais fria adiante, formando um tipo de solvente

ou zona miscível à frente do vapor.

Apesar de acontecerem alguns outros efeitos, como os causados por mecanismos

de gás e possíveis alterações nas permeabilidades relativas, estes são de difícil medição.

Estes efeitos têm importância variável com o tipo de projeto, características da

formação e características do óleo. Mesmo com estudos particulares para cada caso, é

frequente a falta de conhecimento suficiente para determinação da contribuição destes

fatores ao aumento do fator de recuperação.

O fluido injetado nestes métodos é, normalmente, a água. Esta pode ser aquecida

até a temperatura de vapor ou convertida para o mesmo. Quando a qualidade do vapor

(fração em peso de água convertida em vapor) chega a um, mais calor é fornecido para

que ocorra a injeção de vapor superaquecido. Um dos motivos do uso de vapor em

muito maior número que água quente é a capacidade de carrear calor do mesmo. Na

faixa de pressão das operações térmicas, 1 bbl de água com qualidade de vapor de 0,8

pode carrear mais de 1,5 x 108 BTU a mais que a água em evaporação. (ROSA, 2006)

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2.2.4.1.1 Injeção de água aquecida

O processo de injeção de água quente é usado com moderação e de forma bem

limitada. É um processo de recuperação térmica bem simples, usado normalmente

apenas quando o uso de vapor não é viável. Isto ocorre em reservatórios a altas

pressões, onde a temperatura do vapor seria excessiva para a estabilidade da formação e

em formações sensíveis à água doce.

No entanto, a baixa quantidade de calor associada à água aquecida faz com que

um reservatório típico requeira 2,5 a 3 volumes porosos de água para ter sua

temperatura elevada a um valor próximo da água injetada. Outra desvantagem deste

processo em relação ao de injeção de vapor é a maior viscosidade da água, que gera

menores vazões de injeção. Finalmente, a água esfria quando perde energia,

diferentemente de um sistema água-vapor. Isso leva a um crescimento lento da zona de

altas temperaturas circundante ao poço injetor.

2.2.4.1.2 Injeção de vapor

O método de injeção de vapor pode ser utilizado em duas formas diferentes. Um

deles é a injeção cíclica de vapor, que tem como objetivo reforçar a recuperação

primária de reservatórios contendo óleos viscosos. Portanto, é uma técnica de

estimulação que visa a redução de viscosidade e a limpeza ao redor do poço, ajudando a

energia natural do reservatório a produzir o óleo. Usualmente é aplicada a injeção

cíclica e posteriormente a contínua de vapor. (ROSA, 2006)

A injeção cíclica de vapor é baseada na repetição de três etapas: injeção, espera e

produção. Evidentemente, a primeira fase é a injeção do vapor. Esta é seguida por um

período de espera, que visa a dissipação e melhor distribuição do calor inserido a uma

parte maior do reservatório. O mesmo poço vai à produção até que o ciclo se repita. A

figura 2.5 ilustra este processo.

A eficiência deste tipo de injeção de vapor varia bastante com o tipo do

reservatório. Em formações espessas e bastante inclinadas, a drenagem gravitacional é

predominante. Assim sendo, enquanto o óleo menos viscoso e aquecido continuar

fluindo para baixo em direção ao poço produtor, mais ciclos de injeção são possíveis,

justificáveis e eficientes. Por outro lado, em reservatórios pouco inclinados, nos quais o

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mecanismo de produção é o gás em solução, a energia do reservatório é rapidamente

dissipada, limitando o número de ciclos de injeção viáveis.

Evidentemente, quanto mais ciclos forem executados, menor a eficiência dos

últimos ciclos, pois menos óleo permanece no reservatório, dificultando a dissipação do

calor. As vazões médias e máximas e a recuperação do óleo declinam com o tempo de

injeção cíclica. Em reservatórios de óleos de baixo ºAPI, este método pode atingir uma

recuperação bem interessante nos primeiros ciclos. Um bom medidor para tal

recuperação é a razão entre óleo produzido e vapor injetado. Os primeiros ciclos, em

condições favoráveis, podem chegar a uma recuperação de cerca de 30 bbl de óleo por 1

bbl de água injetada em forma de vapor.

O segundo processo de injeção de vapor ocorre de forma contínua, ilustrado na

figura 2.14.

Figura 2.14. Processo de injeção contínua de vapor.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

Uma zona de vapor é formada ao redor do poço injetor e se expande com o

tempo, devido à injeção contínua. Obviamente, a temperatura nesta zona do reservatório

é maior que na zona não afetada pelo calor do vapor. Conforme o vapor perde energia,

ocorre uma condensação de água à frente do mesmo, formando uma região de

temperatura intermediária, entre a do vapor e a do reservatório.

A recuperação depende de diversos efeitos. Os mais importantes são os de

injeção de água quente na zona condensada. A redução da saturação de óleo é

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maximizada nessa área devido às menores viscosidades, à dilatação do óleo e às altas

temperaturas. Enquanto os efeitos de mecanismo de gás costumam ser desprezados, a

destilação do vapor pode vir a ajudar a produção de alguns tipos de óleo.

A quantidade de calor injetada e as perdas associadas são fatores determinantes

para a viabilidade e rentabilidade do projeto. O crescimento rápido e contínuo da zona

de vapor, necessário para um bom deslocamento do óleo, faz com que uma parcela

desse calor se dissipe através das linhas de superfície, poços de injeção e formações

adjacentes.

Essas perdas chamam atenção então para o estudo da curva de pressão de vapor,

relacionada com a temperatura. Quanto maior a pressão, maior é a temperatura

necessária para a vaporização e consequentemente maiores são as perdas de calor. Isto

revela também a importância da profundidade do reservatório. Quanto mais profundo

for o mesmo, maiores são as pressões encontradas e maiores são as temperaturas

necessárias para converter a água em vapor. Consequentemente, maiores são as perdas

de calor. Estas são influenciadas também pela permeabilidade da formação, que afeta as

vazões de injeção, pressões e temperaturas do vapor, além de permitir que o óleo

viscoso flua mais suavemente. Zonas mais fechadas significam maiores pressões e

portanto maiores temperaturas de injeção, causando então grandes perdas de calor.

As causas para perdas de calor supracitadas são referentes ao ambiente de

subsuperfície. Na superfície, o comprimento e o tipo das linhas de superfície interferem

nas perdas de calor entre o gerador e o poço injetor. É interessante que o gerador fique

próximo do poço para minimizar estas perdas. Na tubulação do poço, algumas técnicas

para mitigar estas perdas também são bem vindas. Usualmente a completação do poço

já é feita visando um sistema com pouca troca de calor, prevendo a utilização de algum

processo térmico de EOR. Além disso, o espaço anular entre o revestimento e a

tubulação pode ser preenchido com gás à alta pressão ou com packers (obturadores)

térmicos, mantendo a temperatura do revestimento baixa. [ROSA, 2006]

Infelizmente, a maior fonte de perda de calor é a formação. Pouco pode ser feito

para minimizar as perdas por esta fonte, já que o calor passa por condução da zona de

vapor para as formações adjacentes, produtoras ou não. Com o aumento da zona de alta

temperatura do vapor, cresce também o contato entre as rochas de diferentes

temperaturas e consequentemente maiores são as perdas. Em formações espessas, a

zona de calor acaba cobrindo uma área menor que em zonas pouco espessas, resultando

assim numa menor perda de calor.

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Além das perdas de calor, considerável problema deste método térmico, há

outras desvantagens. A menor densidade do vapor em relação à água e ao óleo podem

frequentemente levar o vapor ao topo do reservatório, passando pelo óleo sem o devido

aquecimento do mesmo, ocorrendo então fingering. Adicionalmente, problemas de

emissão de poluentes na superfície devido à geração de calor também merecem atenção,

além de possíveis problemas em equipamentos devido às altas temperaturas

operacionais. Os gastos também são um problema. O investimento inicial em geradores

de calor é alto, e o aluguel de algumas unidades portáteis para avaliar a resposta do

reservatório à injeção também é considerável. Outro fator relevante, que deve ser levado

em consideração, é a disponibilidade e custo do combustível para aquecimento da água,

que pode ser gás natural ou óleo. Devido a essas complicações dos processos térmicos,

este tipo de operação envolve uma maior atenção do pessoal de engenharia e operação.

Testes frequentes nos poços também são necessários, especialmente no processo de

injeção cíclica de vapor, com o intuito de controlar melhor os próximos ciclos.

[GREEN, 1998]

Tendo em vista que o óleo a ser recuperado neste método é viscoso, este é de

menor valor de mercado. Associando isto às questões de investimentos discutidas, o

resultado é uma baixa resposta financeira. Portanto, como em qualquer método EOR, a

viabilidade do projeto é motivada pelo preço atual do petróleo.

Assim sendo, a aplicação destes métodos de injeção de fluidos aquecidos é bem

clara. Um óleo viscoso, normalmente de 10 a 20º API, é desejável para um alto fator de

recuperação. Óleos voláteis também são bem vindos devido à recuperação extra por

destilação do óleo e extração por solvente. Como já explicado anteriormente, devido às

menores pressões, reservatórios pouco profundos, de até 3000 pés (900 metros),

facilitam o processo devido às menores temperaturas requeridas para manter o vapor

superaquecido. Formações com permeabilidade acima de 500 md e mais espessas que

30 pés também facilitam o uso de injeção de vapor, limitando as perdas de calor e

auxiliando o fluxo de óleos viscosos, que são os óleos mais visados neste tipo de

projeto.

Apesar das complicações supracitadas, o processo de injeção de fluidos quentes,

vapor principalmente, é muito importante para a indústria petrolífera. Este é o melhor

processo para recuperar óleos de baixa qualidade, baixo grau API. Apresenta também

uma vantagem sobre a combustão in situ, que danifica mais os poços. A injeção de

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vapor também oferece maior vazão de injeção de calor, aquecendo o reservatório mais

rapidamente e eficientemente.

2.2.4.2 Combustão in situ

O processo de combustão in situ é baseado na geração do calor dentro do

reservatório, diferentemente dos outros métodos térmicos onde o calor é gerado na

superfície e então levado através de fluidos aquecidos para o reservatório. A figura 2.16,

apresentada a seguir, mostra um esquema desta técnica de recuperação secundária.

Figura 2.15. Processo de combustão in situ.

Fonte: GREEN & WILLHITE (1998)

Este método de EOR consiste em colocar em ignição uma pequena parcela do

óleo do reservatório, como qualquer outro combustível. O ar, ou oxigênio parcialmente

purificado, é comprimido na superfície e então injetado continuamente ou

alternadamente com água. Dependendo das condições do reservatório, a combustão

pode ocorrer espontaneamente ou requerer aquecimento. Neste caso, o aquecimento

pode ser feito através de aquecedores de fundo, preaquecimento do ar de injeção ou

injeção de produtos químicos oxidáveis junto com o ar. O óleo entra em combustão,

portanto, liberando CO2, água e calor. Esta quantidade de calor liberada é afetada

principalmente pela composição do óleo.

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Com o aquecimento e vapor criados pela combustão, as frações mais leves do

óleo vaporizam e seguem adiante. Dependendo da temperatura da combustão, pode

ocorrer um craqueamento térmico e o vapor deste também é liberado à frente. Estes

gases gerados na combustão e no craqueamento seguem conduzidos adiante até

condensar e se dissipar nas regiões mais frias do reservatório. O óleo queimado deixa

como resíduo um material pesado, como um tipo de coque, que serve de combustível

conforme mais oxigênio é injetado. Assim sendo, o óleo se move em direção ao poço

produtor apenas quando todas as queimas são finalizadas. As figuras 2.17 e 2.18, a

seguir, ilustram respectivamente o processo e um perfil de temperatura na zona entre os

poços injetor e produtor.

Figura 2.16. Processo de combustão in situ.

Fonte: ROSA (2006)

Figura 2.17. Perfil de temperatura entre poço injetor e produtor na combustão in situ.

Fonte: ROSA (2006)

O mecanismo de recuperação é basicamente a redução de viscosidade através de

aquecimento, vaporização de fluidos e craqueamento térmico, como nos outros

processos térmicos. À frente do poço injetor, encontra-se uma área queimada, por onde

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a frente de combustão já passou e todo o líquido da rocha foi removido, deixando

apenas poros saturados de ar. Adiante desta zona, vem a área onde está ocorrendo a

combustão, com temperaturas entre 315 ºC e 650 ºC.

Após a frente de combustão, tem a zona de vaporização, onde encontram-se os

produtos da combustão, do craqueamento, hidrocarbonetos leves vaporizados e vapor

d’água. As temperaturas na zona de vaporização são entre a temperatura da combustão e

a temperatura necessária para vaporizar a água na pressão do reservatório, normalmente

por volta dos 400 ºF. A partir desta área a temperatura começa a decair continuamente.

Adiante da zona de vaporização vem a zona de condensação, onde o óleo se

desloca de diversas formas. Os hidrocarbonetos leves deslocam o óleo miscivelmente, o

vapor é condensado criando uma camada de água quente e os gases de combustão criam

um mecanismo de deslocamento por gás. As temperaturas nessa zona são entre 10 ºC e

95 ºC acima da temperatura inicial do reservatório.

Esse óleo deslocado se acumula no banco de óleo, zona seguinte. Nesta zona, o

espaço poroso é ocupado por alguns gases de combustão, água conata e o óleo

deslocado. Evidentemente, a temperatura é bem próxima da inicial, já que a zona

seguinte é a zona de óleo original, que ainda não foi afetada pelo processo e tem suas

condições iniciais mantidas.

Uma variação bastante utilizada da combustão in situ é chamada de combustão

in situ molhada. Este método, conhecido também como COFCAW (Combination of

Forward Combustion and Waterflooding) consiste na injeção alternada de oxigênio e

água, para que a água vaporize quando chegue ao reservatório e se sobreponha à frente

de combustão, aquecendo o reservatório adiante da mesma. Além disso, ela ajuda a

reduzir a temperatura da combustão. Uma outra variante, menos usada, é chamada de

combustão in situ reversa. Nesta, o movimento da frente de combustão se dá no sentido

contrário da injeção de ar e se mostrou interessante no uso de óleos ainda mais viscosos.

A injeção é iniciada em um poço que futuramente se tornará produtor. Após a ignição, o

injetor é colocado em produção e um outro poço é usado como injetor de oxigênio. O

óleo aquecido na frente de combustão se move pela zona aquecida em direção ao poço

produtor, enquanto a frente de combustão se move em direção ao poço injetor. Portanto,

é possível a produção de óleos que seriam viscosos demais para fluir sob as condições

de reservatório. Contudo, o reservatório precisa ser bem permeável ao ar e essa variante

da combustão in situ é de baixa eficiência, devido à queima parcial do óleo que flui e à

quantidade de injeção de ar requerida, que é normalmente excessiva. [GREEN, 1998]

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A aplicação deste tipo de injeção (de ar ou oxigênio para combustão) se estende,

então, a óleos de grau API entre 10 e 40. Óleos abaixo dessa faixa depositam coque em

excesso para o sucesso comercial da operação, enquanto óleos acima de 40 ºAPI

depositam pouco combustível para o sustento da combustão. [ROSA, 2006]

Outros requisitos de extrema importância são a espessura do reservatório, que

deve ser de no mínimo três metros para evitar perdas demasiadas de calor, a

permeabilidade, que deve ser superior a 100 md para possibilitar o fluxo de óleos de

alto ºAPI, profundidade do reservatório, ideal entre 100 e 1200 metros, a quantidade de

óleo (preferencialmente maior que 0,1 m3/m3 de formação), entre outros.

Algumas complicações consideráveis são os possíveis danos por calor e corrosão

e a ineficiente distribuição de calor, onde a zona aquecida é formada atrás da frente de

combustão, trazendo pouco benefício para o projeto. Contudo, a técnica de combustão

molhada minimiza este problema. Outra desvantagem é que a quantidade de OOIP

necessária para combustão pode chegar a 30%.

2.2.5 Outros métodos de EOR

Como já explicado, há uma outra categoria dos métodos de EOR. Esta envolve

diversos tipos de técnicas, tais como injeção de vapor com solvente, Steam Assisted

Gravity Drainage (SAGD), aquecimento eletromagnético, injeção de ar, de surfactante,

Microbial Enhanced Oil Recovery (MEOR), entre outros. Este último consiste em

algumas espécies de bactérias injetadas com água, seguidas da injeção de algum

nutriente, formando um biopolímero de forma in situ. Este tem como objetivo desviar o

fluxo da água que é injetada posteriormente para zonas do reservatório ainda não

varridas. Alguns projetos estão em andamento pelo mundo, sendo a Petrobras

responsável por um projeto piloto no campo de Carmópolis, em Sergipe.

2.3 Esquemas de Injeção

Existem diversos esquemas de injeção utilizados nos projetos atuais. A escolha

adequada dos esquemas de injeção é fundamental para uma injeção com boa taxa de

recuperação secundária. É ideal que se tenha um acréscimo na produção com o menor

volume de fluido injetado. Para ainda melhor eficiência, é interessante que a menor

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quantidade possível de volume de injeção seja produzida, permanecendo em grande

parte dentro do reservatório.

Estes esquemas podem ser divididos em dois grupos principais, dependendo da

estrutura do reservatório e da distribuição dos poços. Um dos grupos envolve injeção

periférica, injeção no topo e injeção na base. Neste grupo, os poços de mesmo tipo

(produção ou injeção) são concentrados em determinadas zonas do reservatório. A

figura 2.18 mostra o uso de injeção periférica numa formação anticlinal. Os poços de

injeção de água são completados na base da estrutura, enquanto os poços de produção se

agrupam na região central do reservatório. No mapa estrutural, os poços injetores

aparecem na periferia do reservatório, nomeando esse esquema de injeção.

Figura 2.18. Esquema de injeção periférica.

Fonte: ROSA (2006)

A figura 2.19 mostra uma injeção de gás no topo da estrutura. O petróleo é

produzido através dos poços localizados na parte mais baixa. A diferença de densidade

entre os fluidos injetado e produzido facilita a recuperação, já que o gás tem tendência

em se manter no topo do reservatório.

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Figura 2.19. Esquema de injeção no topo.

Fonte: ROSA (2006)

O inverso também é comum. Uma injeção de água pode acontecer em poços

completados na base do reservatório, geralmente em zonas de água, enquanto a

produção se dá através de poços no topo do mesmo. Este esquema é ilustrado na figura

2.20.

Figura 2.20. Esquema de injeção na base.

Fonte: ROSA (2006)

Apesar dessas técnicas explicitadas acima, a disposição dos poços não é

previamente estabelecida, ou seja, não há arranjos predefinidos para a localização dos

poços. A ideia é sempre respeitar a distribuição natural dos fluidos de acordo com as

diferenças de densidade, que são responsáveis por deslocar os fluidos a zonas

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específicas. Portanto, para cada reservatório e para cada diferente fluido de injeção há

uma distribuição intuitiva dos poços com o intuito de simular e reproduzir os resultados

de um reservatório sob influxo de água ou capa de gás.

Após muito tempo de produção, os poços produtores podem ser transformados

em injetores. Conforme o contato óleo/água se aproxima dos poços produtores, a vazão

de produção de água cresce. Com o passar do tempo, é de interesse fechar os poços mais

fundos (no caso da água) ou transformá-los em injetores.

O outro grupo envolve a injeção em malhas. Neste esquema, os poços

produtores e injetores estão uniformemente distribuídos pela área do reservatório. Neste

esquema, a movimentação natural dos fluidos e a distribuição de saturações são

completamente perturbadas quando o fluido deslocante é injetado diretamente na zona

de óleo. O esquema de injeção em malhas, também conhecido como injeção em padrão

repetido, é mais usado em reservatórios grandes porém de pequenas espessura e

inclinação. O reservatório é todo coberto por um modelo que consiste em uma malha ou

padrão básico que se repete.

Alguns modelos entre os vários tipos de injeção em malhas são mais estudados

devido à facilidade de aplicação que têm, graças à geometria fixa e predefinida, que

permite estudos adminensionais e desenvolvimento de gráficos e tabelas que assistem os

cálculos para reservatórios reais.

Um dos modelos mais usados é o de injeção em linha direta. Neste esquema

ilustrado na figura 2.21, os poços são dispostos em linhas de injeção alternadas com

linhas de produção, com uma distância d entre elas. Esta distância, em conjunto com a

distância entre poços da mesma linha, x, dimensiona a malha base que se repete

padronizadamente neste esquema.

Figura 2.21. Esquema de injeção em linha direta.

Fonte: adaptado de ROSA (2006)

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O modelo chamado de injeção em linhas esconsas consiste num defasamento das

linhas de metade da distância dos poços do mesmo tipo, ou seja, x/2. Este esquema é

mostrado a seguir, na figura 2.22.

Figura 2.22. Esquema de injeção em linhas esconsas.

Fonte: adaptado de ROSA (2006)

Tanto no modelo de injeção em linha direta quanto no de injeção em linhas

esconsas há um infinito número de combinações possíveis entre valores para x e d, que

definem as dimensões da malha. Isto reduz a possibilidade de uso de dados

adimensionais, com exceção de alguns casos particulares.

Um destes casos particulares de injeção em linhas esconsas é chamado de malha

five-spot, ou malha de cinco pontos. Neste esquema, o mais utilizado nas operações de

injeção, a distância entre as linhas é igual à meia distância entre poços com a mesma

função, isto é, d = x/2. A malha então é um quadrado com cinco poços, quatro de um

tipo nos vértices e um no centro, do outro tipo. As figuras a seguir ilustram este tipo de

malha e as malhas seven-spot e nine-spot, respectivamente.

Figura 2.23. Esquema de injeção de malha five-spot.

Fonte: ROSA (2006)

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43

Figura 2.24. Esquema de injeção de malha seven-spot.

Fonte: ROSA (2006)

Figura 2.25. Esquema de injeção de malha nine-spot.

Fonte: ROSA (2006)

Nas malhas mostradas acima, do tipo normal, poços de injeção cercam um poço

produtor. Uma variação destes esquemas de linhas esconsas consiste no caso contrário,

com malhas chamadas invertidas, onde um poço de injeção é cercado por poços

produtores. As figuras a seguir mostram, respectivamente, as malhas seven-spot e nine-

spot, ambas invertidas.

Figura 2.26. Esquema de injeção de malha seven-spot invertida.

Fonte: ROSA (2006)

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Figura 2.27. Esquema de injeção de malha nine-spot invertida.

Fonte: ROSA (2006)

2.4 Características Operacionais da Injeção de Água

Tendo em vista que o processo de injeção de água é o mais utilizado

mundialmente, esta seção levantará diversos aspectos operacionais, em um estudo mais

a fundo, deste método.

O objetivo da injeção de água é deslocar o óleo presente no reservatório em

direção aos poços produtores. Ocorre então um aumento da porção recuperável do óleo,

ou seja, das reservas. Quando a injeção de água é feita, a saturação da água nos

arredores do poço injetor é elevada, criando um banco de óleo à frente dessa água

injetada. A região entre a zona lavada e esse banco de óleo é chamada de frente de

avanço, onde a saturação da água cai abruptamente. O objetivo da recuperação

secundária, que é o aumento da produção de óleo, ocorre quando a frente de avanço e,

consequentemente, o banco de óleo, chegam aos poços produtores.

Ao período de tempo entre a injeção da água e a chegada do banco de óleo ao

poço produtor dá-se o nome de período de enchimento, ou fill up. Quando a frente de

avanço alcança o poço produtor, a razão água/óleo sobe drasticamente, processo

chamado de erupção, ou breakthrough. Conforme passa o tempo de operação, os fluidos

seguem o fluxo em direção ao poço produtor, ocorre o breakthrough e o teor de BSW

(Basic Sediments and Water) chega a níveis onde a produção torna-se inviável. O poço

produtor é então fechado ou transformado em injetor. Algumas técnicas de EOR neste

ou em outros poços ainda podem ser usadas posteriormente, para aumentar a drenagem

do reservatório, dependendo de quão eficiente foi a injeção de água.

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45

2.4.1 Questões que afetam o processo de injeção de água

O estudo sobre os fatores que influenciam os projetos de injeção são de suma

importância pois determinam os aspectos iniciais do projeto de injeção, tais como o tipo

de malha, número de poços, qualidade da água, vazão de injeção, entre outros.

2.4.1.1 Características da formação e reservatório

Alguns dos parâmetros da formação e do reservatório são fundamentais para a

montagem do projeto de injeção de água. A permeabilidade, por exemplo, influencia a

potência do conjunto motor-bomba. Se a rocha é altamente permeável, o diferencial de

pressão entre poço e formação necessário para a recuperação secundária é menor.

Portanto a pressão de injeção é menor, assim como as potências requeridas de motor e

bomba.

A porosidade da rocha, por sua vez, afeta o tratamento da água. Quanto menores

forem os diâmetros dos poros, melhor tem que ser tratada a água, visando a remoção de

sólidos. Com poros pequenos, a formação fica suscetível a entupimento com maior

facilidade, pois qualquer sólido de pequeno diâmetro pode ser suficiente para um

completo preenchimento dos poros da rocha. Além disso, um controle bacteriológico é

necessário para evitar que poros de diâmetros menores que 20 µm sofram entupimento

completo por bactérias.

A presença de finos também é um fator indesejável. Neste caso, é necessário um

menor diferencial de pressão entre o poço injetor e a formação, para evitar, ou ao menos

mitigar, a migração desses finos. Isto causa, portanto, menores vazões (cotas) de injeção

por poço, requisitando portanto um maior número de poços injetores. A distribuição

destes poços injetores também é fundamental para o controle dessa migração de finos.

A escolha do esquema de injeção, principalmente quando por malhas, é altamente

influenciada, consequentemente, por esse aspecto.

Outro fator importante é a presença de argila tendenciosa a inchamento. Quando

essa argila encontra-se na formação, torna-se necessário que a água injetada seja de

salinidade compatível com a da água presente na formação, para evitar choques salinos,

prevenindo que a argila inche devido à migração de água por osmose. Nos casos onde

não existe disponibilidade de uma água com salinidade adequada, adiciona-se sal à água

disponível, processo chamado de injeção de bancos salinos. Conforme essa salinidade é

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reduzida gradativamente, a diferença de pressão osmótica entre a água injetada e a

argila é mantida pequena. É comum que os equipamentos necessários para essa

operação sejam agrupados num sistema móvel para que este seja usado em diversos

campos de uma área de produção, já que a injeção de bancos salinos é um processo de

uso esporádico.

A profundidade do reservatório também é de extrema importância. As pressões

de injeção e de fraturamento são proporcionais a essa profundidade, afetando a máxima

diferença de pressão atingível entre os poços injetores e o reservatório.

Adicionalmente à profundidade, a estrutura de um reservatório também é

fundamental, interferindo na escolha do esquema de injeção a ser aplicado. Em

reservatórios com grandes inclinações, onde a segregação gravitacional dos fluidos é

altamente significante, o uso de injeção periférica apresenta resultados melhores que a

injeção em linha, de maior custo.

2.4.1.2 Características dos fluidos

Uma característica dos fluidos que deve ser estudada é a razão de mobilidades

água/óleo. Se esta razão é elevada, significa que a água tem mais mobilidade que o óleo,

acelerando o processo de fingering, e consequentemente uma erupção (breakthrough)

prematura nos poços produtores, produzindo pouco óleo. Este fator é minimizado com

um aumento do número de poços injetores e consequentemente uma redução da malha

de injeção, elevando os custos do projeto.

Outra questão essencial é a compatibilidade química requerida entre a água da

formação e a de injeção. Para evitar a precipitação de sulfatos, altamente indesejáveis, é

necessário que haja uma compatibilidade entre a água conata e a água a ser injetada.

Quando esta compatibilidade não existe naturalmente, o tratamento da água de injeção é

encarecido, com a implementação de Unidades de Remoção de Sulfatos (URS), e/ou

utilização de inibidores de incrustação, melhor explicados na seção de tratamento de

água e no capítulo 4. Evidentemente, cada caso deve ser estudado particularmente.

2.4.1.3 Mecanismo de produção utilizado

O mecanismo de produção pode afetar o projeto de injeção de água de forma

positiva ou negativa. No caso de um reservatório produzido por influxo de água, a

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necessidade da injeção de mais água para manutenção da pressão do reservatório é

reduzida, e até mesmo dispensada em alguns casos. Através de um balanço de materiais,

define-se o volume e a vazão total de água a serem compensados pela recuperação

secundária.

Por outro lado, em reservatórios produzidos por gás em solução é necessário

maiores volume e vazão de água do que em outros. Normalmente, reservatórios nessas

condições têm uma queda veloz de pressão estática, causando uma depleção acentuada e

rápida, exigindo soluções a curto prazo. É comum a montagem de um Sistema

Antecipado de Injeção de Água (SAIA), até que seja construído um sistema permanente.

(ROSA, 2006)

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48

CAPÍTULO 3 – COMPONENTES DOS SISTEMAS DE INJEÇÃO DE ÁGUA

A partir do conhecimento das características do reservatório, dos fluidos e do

mecanismo de produção, o projeto do sistema de injeção é montado. Este sistema é

composto pelas fases de captação, adução, tancagem, tratamento, conjunto motor-

bomba, rede de distribuição e poços. Como cada projeto é extremamente particular, há

casos onde uma fase ganha mais destaque que outras. Em contrapartida, há projetos

onde um ou mais componentes são descartados.

Outros fatores são igualmente importantes para a boa manutenção do projeto de

injeção de água. O controle e o acompanhamento, que necessitam de testes frequentes,

índices e perfis de injetividade, são complicados e requerem atenção e estudo especiais,

detalhados. Por último, mas não menos importantes, o controle da corrosão metálica nos

equipamentos e tubulações dos sistemas de injeção, os processos de intervenção nos

poços de injeção e o controle de produção de água interferem cada aspecto analisado

num projeto de EOR.

3.1 Captação e Adução

Primeiramente deve-se decidir de onde a água a ser injetada será captada. Uma

fonte bastante comum é o mar. A água é abundante e de alta salinidade, prevenindo

choques salinos. No entanto, a água do mar contém uma alta quantidade de sais de

sulfato, que servem de nutrientes para bactérias redutoras de sulfato, que por sua vez

liberam o gás sulfídrico (H2S), altamente indesejado na indústria de petróleo. A

aplicação desta água em reservatórios contendo sais de bário, cálcio e/ou estrôncio

também é perigosa, pois possibilita a formação dos respectivos precipitados. Até

recentemente, utilizavam-se inibidores de incrustação para que esses sulfatos não

entupissem as tubulações, principalmente o poço produtor. Os anti-incrustantes têm,

portanto, o objetivo de inibir ou retardar tal incrustação (sais de carbonato de cálcio) ou

depósitos inorgânicos (sais de sulfato de bário e de estrôncio).

Esses inibidores de incrustação variam em composição de acordo com o tipo de

depósito que devem agir contra, com maior eficiência em injeção contínua em pontos

próximos à árvore de natal (seca ou molhada). Nos últimos anos, a instalação de uma

URS no sistema de tratamento de água (com uso em conjunto com os inibidores de

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incrustação) tem se tornado uma melhor opção para combater a incrustação inorgânica

(sulfatos), como será visto no capítulo 4.

A água doce proveniente de lagos e rios tem a vantagem de não oferecer perigo

em relação à corrosão ou formação de precipitados. Na maior parte dos casos, é

necessária apenas a remoção de sólidos e do oxigênio dissolvido. No entanto, esta água

doce pode causar problemas de choques salinos.

A água de subsuperfície apresenta também um bom potencial como água de

injeção. Normalmente esta apresenta baixo teor de sólidos e ausência de gases em

solução perigosos, como CO2, H2S e O2, simplificando o tratamento da água. A

salinidade da mesma, porém, depende da profundidade do aquífero. Logo, é necessário

ainda um estudo sobre a possibilidade de choques salinos.

Frequentemente os poços de captação são perfurados inicialmente para a

produção de óleo, tornando-se produtores de água, através de uma recompletação,

quando se mostram não produtores. Devido às altas vazões, costumam ser produzidos

através de bombas centrífugas submersas, BCS.

Uma opção muito usada na indústria é a reinjeção de água previamente

produzida. Este tipo de água normalmente apresenta uma tendência à corrosão e à

incrustação, e seu tratamento é complicado devido à presença de óleo residual em

emulsão, levando ao uso excessivo de equipamentos caros, como tratadores

eletrostáticos e hidrociclones. O uso frequente da água produzida para injeção é devido

também à impossibilidade de descartá-la em rios. Como essa água é de alta salinidade,

causaria poluição nos mesmos e portanto deve sempre ser injetada ou descartadas em

poços de descarte, após tratamento. Em alguns casos é comum o acúmulo de produção

de água em um determinado campo para que esta seja injetada então em outro campo,

com o intuito de controlar a poluição e em alguns casos minimizar gastos. Entretanto, é

importante a compatibilidade química entre a água produzida e a água do reservatório

onde aquela será injetada.

A respeito da fase de adução, é importante levantar que a água transportada

pelas adutoras frequentemente ainda não foram tratadas. Por conseguinte, é importante

que as adutoras sejam construídas visando a compatibilidade com a agressividade da

água a ser transportada. É ainda necessário uma análise sobre tratamentos de

incrustações e remoção de possíveis depósitos, como sais de cálcio, magnésio, ferro,

bário, entre outros, que servem de atrativo para as bactérias do ferro ou para as

redutoras de sulfato.

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50

3.2 Tancagem

Os tanques utilizados para armazenamento de águas agressivas são,

normalmente, de chapas soldadas de aço carbono. É usado este tipo de tanque porque os

tanques aparafusados têm maior tendência à corrosão por aeração diferencial e por

concentração diferencial nas junções das chapas. Adicionalmente, os tanques

aparafusados têm maior tendência a vazamentos, que podem por sua vez agravar a

corrosão quando deterioram a pintura externa.

No caso de água do mar, o uso de tanques de concreto armado tem crescido.

Curiosamente, as experiências com água produzida não foram bem sucedidas. Em

alguns casos, esta água atacou as armaduras, causando fissuras e levando à carbonatação

e sulfatação do concreto. Devido a estes motivos, o uso de tanques de concreto armado

tem sido recomendado apenas para operações com águas doces ou salobras. [ROSA,

2006]

Se o tanque será construído para estocagem de água bruta, o mesmo deverá ser

dimensionado para suportar picos de abastecimento. No caso de captação de água do

mar na costa, por exemplo, a tancagem deve ser alta devido aos efeitos das marés, fator

determinante na disponibilidade da água. Em alto mar, contudo, os tanques podem ser

até desnecessários, devido à alta disponibilidade de água.

No caso de tancagem para água tratada, é importante que seja mantida a

continuidade operacional, além de fornecer uma reserva para determinadas funções,

como por exemplo, água limpa para retrolavagem de filtros, explicados a seguir, ou para

refrigeração de bombas.

3.3 Tratamento

O tratamento da água de injeção varia com o tipo e características da água a ser

injetada. O foco deste trabalho é o tratamento de água salgada, do mar, mais utilizado

atualmente, principalmente offshore.

O pré-tratamento da água do mar para injeção começa na etapa de captação, já

explanada. Através de bombas hidráulicas centrífugas, a água do mar é succionada até o

nível do módulo de injeção. Estas bombas fornecem ao fluido entre 30 atm e 70 atm de

diferencial de pressão, dependendo da diferença de altura entre o ponto de sucção e o

módulo de injeção de água. Nesta etapa é comum a dosagem de hipoclorito de sódio,

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com o intuito de prevenir que a matéria orgânica da água seja carreada para o sistema de

injeção de água da plataforma. Em seguida, a água salgada passa por um sistema de

filtração, composto por dois filtros de porosidade de 40 µm, que funcionam

alternadamente, ou seja, um filtro fica em stand-by sendo utilizado quando há a

necessidade de manutenção ou troca do primeiro. Este primeiro sistema de filtração é

também conhecido como sistema de filtragem grosseira, e pode ser projetado para

filtros convencionais ou auto-limpantes, através de retro-lavagem, acionada por tempo

de operação, manualmente ou até mesmo diferencial de pressão. Usualmente cada filtro

contém 24 elementos filtrantes em seu interior, funcionando com uma eficiência de

aproximadamente 98%.

A próxima etapa do tratamento da água salgada é um conjunto de filtros,

menores, do tipo filtros cartuchos. Usualmente um projeto de tratamento de água

apresenta 3 desses filtros, com dois em operação e um em stand-by. Cada um destes

contém 25 cartuchos descartáveis com grau de filtração de 5 µm. A figura abaixo ilustra

dois destes filtros de 5 µm.

Figura 3.1. Filtro de 5 µm novo (esquerda) e usado (direita).

Fonte: CAMERON (2009)

À jusante deste sistema de filtros, há um booster intermediário, que é uma

bomba centrífuga, capaz de fornecer entre 25 atm e 50 atm de diferencial de pressão,

que tem como objetivo fornecer energia potencial para que o fluxo de água vença as

perdas de carga dos equipamentos seguintes. Estes equipamentos são de vital

importância para o projeto de tratamento de água. No caso do tratamento de água do

mar, estes são a unidade de remoção de sulfato (URS) e a desaeradora. Esta tem como

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função remover o ar e outros gases dissolvidos na água, com o intuito de mitigar os

efeitos por corrosão, incrustação e crescimento de bactérias. A unidade de remoção de

sulfato tem também a intenção de evitar a incrustação e crescimento de bactérias,

através de remoção de sulfatos presentes na água salgada, e será melhor explicada, junto

com as possíveis configurações de posicionamento de ambos equipamentos, no capítulo

4.

Passadas a desaeradora e a URS, á água é puxada pela bomba de injeção, que

imprime ao fluido a pressão necessária para injeção. Usualmente esta bomba é

centrífuga de alta pressão, capacitada para altas vazões.

Há ainda um sistema de injeção de produtos químicos, posicionado normalmente

para fazer a injeção antes e depois dos filtros. Este sistema injeta três tipos de produtos:

sequestradores de cloro (chlorine scavenger), inibidores de incrustação (scale inhibitor)

e biocidas. Com este tratamento, é possível minimizar o gasto excessivo das membranas

da URS, além de facilitar seu trabalho.

É sempre importante frisar que com as rápidas inovações tecnológicas, as

esquematizações desses projetos de tratamento variam também. A própria unidade de

remoção de sulfato, e o seu processo em si, têm sofrido mudanças significativas ao

longo das últimas décadas. Outro exemplo de avanço tecnológico na área é o novo

sistema de tratamento da norueguesa Well Processing, chamado de SWIT (Subsea

Water Injection Treatment). Este sistema, como o nome já diz, é localizado no leito

marinho. As grandes vantagens alegadas pela Well Processing ao levar o tratamento da

água de injeção para o leito do mar são as alegadas reduções em 50% do CAPEX

(despesas de capital) e 25% do OPEX (despesas operacionais). Além disso, por

contornar as limitações de peso e espaço das plataformas, discutidas também no

capítulo 4, o SWIT permite a utilização de quantos poços injetores forem necessários,

além de uma maior liberdade para suas localizações. Consequentemente, este sistema

exclui a necessidade dos engenheiros de reservatórios preverem a localização dos poços

injetores antes do reservatório começar a produzir. As figuras abaixo ilustram o

esquema de tratamento com e sem o uso do SWIT, respectivamente.

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Figura 3.2. Esquematização submarina tradicional.

Fonte: WELLPROCESSING.COM

Figura 3.3. Esquematização submarina com uso do SWIT.

Fonte: WELLPROCESSING.COM

A própria Petrobras começa a analisar projetos de instalação de certos

equipamentos e aparelhos no leito marinho, segundo Carlos Tadeu Fraga, gerente-

executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES). Fraga acredita que

futuramente as plataformas poderão ser até dispensáveis, barateando bastante os

projetos de exploração e produção. Evidentemente, no que diz respeito ao tratamento da

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água de injeção, parte das economias vêm do fato que a água salgada puxada pelas

bombas de elevação não tenham que subir à plataforma e depois descerem para o poço.

3.4 Conjunto motor-bomba

Há dois grandes tipos de bomba utilizados: as bombas alternativas e as

centrífugas.

No Brasil, as bombas centrífugas são mais utilizadas em sistemas de pressão

baixa porque a indústria nacional não as produz aptas a condições de vazão e pressão

elevadas. Quando a operação é com água produzida, as bombas de rotação baixa têm

preferência, apesar do alto custo.

As bombas de deslocamento positivo, mais utilizadas em sistemas de alta

pressão – acima de 1000 psi – têm um custo inicial mais elevado, mas requerem menor

manutenção. Os tipos destas bombas alternativas mais usados em injeção de água são as

de êmbolo engaxetadas com lubrificação forçada (plunger), em especial as de

pistão/camisa com lubrificação pelo fluido.

3.5 Rede de distribuição

A figura a seguir exemplifica os dois tipos de rede de distribuição: distribuição

em marcha (espinha de peixe) e a centralizada por manifolds (pé de galinha).

Figura 3.4. Redes de distribuição em marcha, acima, e por manifolds.

Fonte: ROSA (2006)

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O uso de manifolds submarinos é justificado pela vantagem de centralizar os

testes de injetividade, além da facilidade para detecção de vazamentos nas linhas e para

a passagem de pigs, com todos poços conectados a um ponto em comum. Entretanto, a

limpeza interna do manifold é complicada em casos de água com tendências à

deposição, sendo possível apenas através de hidrojateamento.

Apesar de uma maior dificuldade na passagem de pigs e na detecção de

vazamentos, o uso de distribuição em marcha economiza no comprimento das linhas,

como pode ser visto na figura acima. No entanto, esta economia pode ser

descompensada pelo aumento de custo causado pela necessidade da instalação de um

hidrômetro de alta pressão, equipamento caro, em cada poço.

Independentemente do sistema de distribuição escolhido, é sempre fundamental

a passagem de um pig ou de esfera para uma limpeza mecânica. Portanto, é necessária

sempre uma revisão detalhada do raio mínimo das curvas, instalação de câmaras de pigs

e construção de instalações para abrigar o material removido das linhas que foram

limpas.

3.6 Poços

3.6.1 Poços de injeção

Os engenheiros de reservatório têm como função também analisar

economicamente as zonas produtoras e injetoras do reservatório, determinando uma

cota de injeção para cada um. Como já dito, os poços de injeção são normalmente

perfurados com o propósito de produção sendo recompletados para injeção

posteriormente. Há inclusive casos onde um mesmo poço é ligado a uma zona produtora

e outra injetora, inferior àquela.

Poços com intuito de descarte de água são utilizados em campos onde existe um

excesso de produção de água e esta não será armazenada para injeção em outro

reservatório, ou seja, campos onde a quantidade de água produzida é maior que a

necessária para injeção. A figura a seguir ilustra os equipamentos de superfície de um

sistema de injeção de água.

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Figura 3.5. Equipamentos de superfície de sistema de injeção de água.

Fonte: ROSA (2006)

A limpeza da linha de injeção é dada por uma tomada para descarga desta linha e

uma câmara de recebimento de pig. Em seguida, há uma válvula de bloqueio para a

eventual necessidade de fechamento temporário do poço.

À frente dessa válvula há uma tomada para amostragem química e

microbiológica da água. Uma tela cilíndrica é responsável por reter as maiores

impurezas sólidas que são carreadas pela água, apenas por segurança, já que a filtração

grosseira e a fina são realizadas na etapa de tratamento.

No caso da inutilização de manifolds que possam centralizar as medições de

vazões dos poços, um hidrômetro é usado individualmente para este fim, como

explicado anteriormente. Neste caso, o filtro supracitado se mostra importante também

para aumentar a proteção deste hidrômetro.

Um regulador de fluxo é utilizado em seguida para regular automaticamente a

cota de injeção. No interior deste, é usada uma placa de orifício com um diâmetro

compatível, mantendo a vazão constante e igual à estabelecida nos projetos para o poço.

A válvula seguinte, de retenção, tem como objetivo permitir o fluxo de água em um

sentido apenas, com o intuito de evitar volta da mesma quando há a necessidade de uma

paralisação do sistema de injeção. Há ainda a tomada de pressão, que consiste numa

válvula, usualmente de meia polegada, com um manômetro instalado para controle da

pressão na cabeça do poço.

A coluna de injeção conduz a água até a região canhoneada, e acaba protegendo

o revestimento de corrosão e das pressões elevadas. Há uma válvula de centro que

bloqueia essa coluna de injeção, mantida completamente aberta quando o poço está em

operação.

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Um packer é usado como isolante da zona de injeção de outras zonas injetoras

ou produtoras no poço. Analogamente ao regulador de fluxo de superfície, há um de

subsuperfície utilizado quando há injeção em mais de uma região ou um conjunto de

zonas com vazões de injeção diferentes.

Um nipple de assentamento do regulador de fluxo de subsuperfície, chamado de

D Nipple, é enroscado na coluna. Quando há a necessidade da descida de algum

equipamento em frente à zona canhoneada, utiliza-se o aparelho chamado boca de sino,

com um formato que possibilita a descida daquela pela extremidade da coluna.

Aparafusado na cabeça de produção, há o flange KTH, que tem como objetivo

adaptações onde as cunhas que mantêm a coluna tracionada se assentam. Por fim, há a

cabeça de produção, com comunicação com o anular do poço.

3.6.2 Poços de captação e dump-flood

Os poços de captação comumente são antigos produtores de petróleo que foram

recanhoneados em outras zonas, produtoras de água. Apesar do baixo custo inicial, já

que se trata de poços que seriam abandonados, são problemáticos devido à tendência de

produção excessiva de areia, causada pelas altas vazões e diluição de sais da formação.

Este tipo de poço difere dos outros devido à presença de câmara de

bombeamento, filtro e pré-filtro. A câmara é responsável por conter o equipamento de

bombeio e é o revestimento de maior diâmetro. O filtro e o pré-filtro servem para

mitigar o problema de produção de areia. Os filtros ranhurados devem ser descidos

juntamente com o revestimento de produção, durante a perfuração do poço. O pré-filtro

é colocado no anular entre o filtro e a formação, para detenção de grãos ainda menores.

Os poços dump-flood são poços simultaneamente injetores e produtores.

Diferentemente de poços citados anteriormente, completados em diferentes zonas, uma

destinada à produção de óleo e outra à injeção de água, os poços dump-flood são

injetores e produtores de água. Ou seja, produzem água numa zona superior enquanto

injetam numa zona mais abaixo. Apesar da simplicidade da operação deste tipo de poço,

é necessário um acompanhamento que é apenas possível através de perfilagens

periódicas com radiação ou medidor contínuo de fluxo.

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3.7 Novas tecnologias dos sistemas de injeção de água

3.7.1 Evolução dos sistemas de água

Devido à importância econômica da injeção de água como método de

recuperação secundária para as empresas petroleiras, o gerenciamento de água nas

plataformas tem se tornado uma das principais prioridades da Petrobras e de todas

empresas do setor nas últimas décadas. Diversos estudos têm sido realizados sobre o

ciclo de gerenciamento de água com o intuito de clarear algumas incertezas dos projetos

de injeção. Para isso, é feito um monitoramento e modelagem do declínio da

injetividade, reinjeção de água produzida, injeção acima da pressão de propagação de

fratura, tendências à formação de incrustação, restrições ambientais, tecnologias

submarinas, e de outros fatores que influenciam fortemente o rendimento e eficiência do

projeto.

Algumas das situações problemáticas supracitadas são facilmente resolvidas em

poços onshore, mas a necessidade de aluguel de sonda para operações de workover

encarece e complica demais as soluções nas situações offshore, como estimulação de

poços de injeção que tenham perdido injetividade. Essas dificuldades se intensificam

conforme a lâmina d’água é maior, assim como a quantidade de poços próximos.

Assim como foi explicado o sistema SWIT, da Well Processing, serão

apresentados a seguir alguns tópicos relevantes de recentes avanços em gerenciamento

de água, além de alguns desafios e perspectivas futuras.

3.7.2 Declínio de Injetividade

Um dos mais importantes requisitos para o sucesso de um projeto de injeção de

água é a manutenção da vazão de injeção, ou injetividade. Um bom projeto de injeção

deve prever com certa precisão o declínio desta injetividade para cada poço injetor, para

que se possa decidir se é melhor economicamente executar um tratamento forte da água

de injeção ou se é melhor economizar no tratamento e arcar com as consequências

econômicas de diversas operações de workover. Como já foi explicado neste trabalho,

atualmente a escolha de um tratamento intensivo da água é a mais comum.

Diversos fatores afetam a injetividade de um poço, tais como propriedades dos

fluidos e da formação e geometria do poço. Entretanto, os fatores que mais influenciam

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a manutenção da vazão de injeção são o dano na formação e a eficiência operacional.

Esta, por sua vez, é influenciada pelas condições da plataforma, eficiência das bombas

mecânicas, fornecimento de energia, entre outros. O dano da formação pode ocorrer

devido à migração de finos, precipitação de sais e principalmente por partículas de

sólidos e óleo presentes na água. Estas, por sua vez, podem ficar retidas nos poros da

rocha, levando à queda da injetividade. Portanto, claramente é necessário um bom

tratamento da água para evitar tais problemas.

Outro avanço a respeito de estudos de declínio de injetividade é a criação de um

programa pela Petrobras, em conjunto com algumas Universidades, chamado INJECT.

Este software foi produzido para gerar predições de campo usando resultados de

experimentos laboratoriais para deslocamento de óleo e água. Alguns testes de campo

também foram executados com o objetivo de garantir simulações mais parecidas

possíveis com a realidade. A figura 3.6 mostra a evolução do declínio de injetividade

num poço offshore através do software INJECT.

Figura 3.6. Evolução da queda de injetividade com o tempo pelo programa INJECT.

Fonte: PETROBRAS, OTC 17 258 (2005)

3.7.3 Controle do Declínio de Injetividade

As soluções atuais para manutenção da injetividade não são baratas, muito

menos simples. Usualmente aumenta-se a qualidade da água, aumentando o reciclo na

unidade de tratamento, incluindo tratamentos com hidrociclones, filtros, biocidas, etc.

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No entanto, devido a condições operacionais, reservatórios em condições físico-

químicas desfavoráveis e regulamentações ambientais cada vez mais restritas fazem

com que todos esses processos de tratamento tornem-se obrigatórios atualmente,

independentemente da queda de injetividade. Os parâmetros de corrosão, controle de

bactérias, filtração, e outros fatores são monitorados pela Petrobras através da utilização

de um índice chamado IQUAI.

Operações de workover nos poços injetores também são uma forma para mitigar

dano da formação. Porém, essas operações são extremamente caras em águas profundas

e ultra profundas, pois requerem aluguel de sondas. Alternativamente, tratamentos

usando ácido para remover o dano têm se mostrado eficientes em alguns poços offshore

da estatal.

Outras possíveis soluções incluem o aumento de vazão de injeção em poços

adjacentes ou a perfuração de novos injetores. Uma técnica chamada de Subsea Raw

Water Injection, SRWI, também pode ser uma opção viável.

Todas as estratégias supracitadas para manutenção da injetividade são de custo

elevado, seja CAPEX2, OPEX3 ou ambos. Eventualmente, pode ser mais viável

economicamente aumentar a pressão de injeção, permitindo certa perda de índice de

injetividade (análogo ao índice de produtividade), porém evitando que a vazão seja

reduzida. Esta técnica leva à chamada injeção acima da pressão de propagação de

fratura, ou IFPP, em inglês.

A IFPP consiste em manter a vazão de injeção mesmo com água de qualidade

relativamente baixa, usando pressões altas o suficiente para manter a fratura aberta.

Amplamente usada no Mar do Norte e no Alasca, esta técnica começou a ser usada pela

Petrobras em poços offshore há pouco tempo.

Diversos fatores devem ser considerados e estudados num processo de IFPP, tais

como penetração horizontal e vertical da fratura, pressão, efeito de varrido e direção da

propagação. É necessária uma monitoração constante do processo, além de modelos

para melhor entender a geometria da fratura. Um avanço que a estatal brasileira fez na

área foi o desenvolvimento de um simulador baseado em equações geomecânicas com o

objetivo de modelar o crescimento da fratura e sua propagação, chamado PROPAG.

2 CAPEX – Despesas relacionadas ao investimento. 3 OPEX – Despesas relacionadas à operação.

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3.7.4 Subsea Raw Water Injection (SRWI)

O método chamado SRWI, já mencionado anteriormente, mostra-se uma

importante alternativa à tradicional injeção em situações onde há restrições técnicas

e/ou econômicas. Adicionalmente, o esquema se mostra um fundamental avanço

tecnológico no arranjo dos sistemas de água das plataformas. A figura 36 ilustra o

mecanismo dessa técnica.

Figura 3.7. Mecanismo de Subsea Raw Water Injection.

Fonte: PETROBRAS, OTC 17258 (2005)

As vantagens deste método incluem menores custos CAPEX e OPEX

comparados a sistemas convencionais, além de viabilizar projetos de injeção de água

onde sistemas convencionais seriam inviáveis, possibilitar o uso de menores plantas de

processo e economizar espaços valiosos nas plataformas. Adicionalmente, este método

torna possível o adiamento de investimentos e instalação do sistema de injeção de água,

já que este pode ser feito em fases posteriores, apenas quando necessários.

No entanto, há alguns desafios peculiares para o uso da injeção submarina. É

necessário que exista compatibilidade entre a água do mar e os fluidos e rochas do

reservatório. Outras questões complicadas envolvem o sistema de filtragem submarina,

controle microbiológico, sistemas de monitoramento, confiabilidade dos equipamentos

quando trabalham à tamanha pressão, etc.

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Com a necessidade de aumentar a vazão de injeção no campo de Albacora, este

foi escolhido para instalação do primeiro protótipo de SRWI, devido à impossibilidade

de aprimorar o sistema de injeção das plataformas responsáveis pela produção deste

campo. A técnica de injeção submarina se mostrou a opção mais rápida para solucionar

este problema.

3.7.5 Gerenciamento de Água Produzida

Como já visto no Capítulo 1, no início da vida produtiva de um campo, o fluido

produzido é predominantemente óleo. Porém, conforme o campo aproxima-se da

maturidade, a quantidade de óleo produzida diminui, cedendo espaço para a produção

de água, especialmente em poços onde o mecanismo de produção é o influxo de água.

Tendo em vista que o mecanismo de produção mais utilizado no Brasil pela

Petrobras é o influxo de água, este mecanismo, somado ao intervalo de viscosidade de

óleo entre 5 cP e 15 cP frequentemente encontrado em reservatórios brasileiros, levam a

uma produção bastante volumosa de água no país. Algumas tecnologias recentemente

desenvolvidas chamam atenção, consequentemente. Entre elas, inclui-se separação de

água e óleo submarina, reinjeção de água produzida e injeção em formações geológicas

não produtoras, ou já esgotadas. Os problemas acerca da produção excessiva de água

não se limitam apenas à incapacidade das instalações da plataforma de processar

tamanha produção. Estes problemas englobam também incrustação e destino da água

após tratamento.

3.7.6 Reinjeção de água produzida

Recentemente, as regulamentações ambientais têm proibido o descarte da água

produzida no mar, mesmo após tratamento para remoção de hidrocarbonetos, tornando o

destino desta água uma incógnita. Para superar tais restrições, a reinjeção da água

produzida no reservatório ou em formações não produtoras começou a ser estudada nos

últimos anos. No Brasil, a técnica começou a ser usada pela Petrobras em 2003. Nestes

casos, a predição do declínio da injetividade torna-se um desafio. Novamente, o

programa INJECT mostra-se fundamental.

A reinjeção de água produzida, ou Produced Water Re-Injection (PWRI), causa

efeitos colaterais que requerem atenção especial e que devem ser avaliados e estudados

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63

antes que o projeto entre em operação. Tais efeitos incluem altas temperaturas de

injeção da água, levando à melhor injetividade e mudanças na propagação da fratura,

avaliação de possibilidades de incrustação, substituição dos materiais de equipamentos e

de linhas de fluxo por outros compatíveis.

3.7.7 Separação Submarina de Óleo e Água

Usualmente a produção de extensos campos offshore de petróleo é relacionada a

grandes unidades produtoras, devido à necessidade de plantas de processo de alta

capacidade, capazes de lidar com elevadas quantidades de líquidos e gases. Os

tratadores eletrostáticos utilizados no tratamento de água, por exemplo, comumente

chegam a 7 metros de comprimento por dois de diâmetro.

Com o intuito de minimizar o fluxo de fluidos nos equipamentos de superfície, a

separação submarina de óleo e água foi motivada também pelas largas quantidades de

água produzida por reservatórios maduros. Esta técnica minimiza gastos de

equipamentos de superfície e economiza espaço na plataforma.

Este sistema, parecido com o já apresentado SWIT e esquema de SRWI, da Well

Processing, está sendo testado na produção do campo de Marlim, pela P-37. O óleo

produzido é de aproximadamente 22º API, provando que o sistema consegue fazer uma

eficiente separação mesmo em óleos pesados. Outra vantagem dessa separação

submarina é a possibilidade que é aberta de se aumentar a produção dos outros poços

produtores da plataforma, já que a carga que a P-37 tem que processar é reduzida

quando a separação de óleo e água de um (ou mais) poços é feita no leito marinho.

Novamente, algumas questões devem ser avaliadas cuidadosamente.

Primeiramente, o sistema deve ser capaz de separar quantidades significativas de

água no ambiente submarino. No campo de Marlim, por exemplo, a fase óleo apresenta

bastante tendência à formação de fortes emulsões. Consequentemente, o uso de

desemulsificantes e altas temperaturas de processo, de cerca de 90o, é essencial.

Adicionalmente, quanto maiores forem os tanques, melhor a separação gravitacional é

feita, com melhores tempos de retenção. Esse sistema de separação submarina visa

manter apenas 10% de água na corrente de óleo e gás e 100 ppm de óleo na corrente de

água.

Para que embarcações convencionais possam manusear os equipamentos do

sistema, é necessário que estes sejam o mais compacto possíveis. Apesar de esta

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característica levar a problemas relacionados ao menor tempo de retenção, essa opção

mostra-se satisfatória pois o processo de separação pode ser aprimorado por métodos

pouco convencionais até pouco tempo, como separadores eletrostáticos e separação por

ciclones. Outro desafio que deve ser superado é a manutenção dos equipamentos para

que a água produzida, após tratamento, fique compatível com as características do

reservatório.

Outra limitação, passível de correção com a ampliação da técnica, é a adaptação

desse sistema em operações de produção que não foram projetadas para tal. Os tipos de

conexão das linhas de fluxo com a árvore de natal levam a limitações de distância entre

a árvore de natal e os equipamentos de separação. Além disso, algumas conexões

podem ser feitas apenas com a remoção da árvore de natal, levando a operações de

workover extremamente custosas e a uma extensa parada da produção.

Alternativamente, pode-se deslocar as linhas de fluxo para uma posição mais próxima à

árvore de natal. Contudo, esta solução afeta a eficiência da separação, já que a

temperatura dos fluidos cai ao percorrer esse trecho adicional de tubulação. Entretanto,

as árvores de natal recentes têm recebido sistemas de conexões que podem ser

desligados independentemente da árvore de natal. Portanto, com o tempo, este problema

será solucionado para novas instalações. O poço de injeção da água produzida em

Marlim neste projeto está distante 2.100 metros dos equipamentos separadores.

Evidentemente, a separação submarina requer um desenvolvimento complexo,

onde cada atividade está anexada a algumas outras, necessitando de forte integração

entre as diversas áreas envolvidas, assim como todas os outros equipamentos e técnicas

inovadoras apresentadas neste trabalho. Em contrapartida, é interessante no que diz

respeito ao sistema de injeção pois possibilita que a água separada e posteriormente

injetada não tenha que subir à plataforma. Isso leva a gastos menores relacionados às

bombas de injeção, espaço e peso das plataformas, entre outros.

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CAPÍTULO 4 – REMOÇÃO DE SULFATO EM ÁGUAS SALGADAS DE

INJEÇÃO

O fenômeno de incrustação nas tubulações, mostrado na figura abaixo, é

extremamente indesejado pois causa perda de produtividade, qualidade e representa um

alto custo para limpeza dos tubos.

Figura 4.1. Incrustação em tubulação de água produzida.

Fonte: ABRACO (2008)

A incrustação é um processo que tem início com mudanças abruptas no estado

natural da água em questão, podendo estas serem relacionadas a fatores físicos,

químicos ou biológicos, tais como mudanças no pH ou alterações de pressão e

temperatura. Por estes motivos, quando injeta-se água do mar para aumentar a

produtividade, deve-se atentar à compatibilidade desta com a água da formação, conata.

Como essas águas diferem em composição, temperatura, e outros fatores, o processo de

incrustação, também chamado de deposição, tende a ser um problema quando ambos os

tipos de água começam a ser produzidos (ponto de breakthrough).

Os principais causadores de incrustação nas operações de injeção de água são os

sulfatos de cálcio, bário e estrôncio. Estes sulfatos são formados quando íons sulfato da

água do mar injetada entram em contato com o bário, cálcio e estrôncio encontrados na

água da formação. Para remoção dos componentes de sulfato em águas do mar usa-se

bastante o processo de nanofiltração. A conversão de sulfato em sulfureto de

hidrogênio, causada por bactérias termofílicas redutoras de sulfato, é evitada quando a

nanofiltração é usada e portanto o fluxo não é perturbado.

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Usada pela primeira vez na plataforma Brae Alpha, no Mar do Norte, a

nanofiltração tinha o intuito apenas de controle de incrustação do reservatório em

questão. Posteriormente, este processo mostrou-se útil em outras aplicações, tais como

no desenvolvimento de reservatórios complexos e sofreu avanços tecnológicos que

baratearam sua implementação, tornando-se popular como método de controle de

incrustação. [DAVIS & McELHINEY, 2002]

Ao longo do desenvolvimento do reservatório de óleo em South Brae, a empresa

Marathon Oil, responsável pela produção do mesmo, concluiu que uma manutenção da

pressão seria necessária com o uso da água do mar. Contudo, os reservatórios de Brae

continham entre 800 e 2500 miligramas de bário por litro de água da formação. Ao

injetar água salgada contendo íons sulfato numa concentração de aproximadamente

2700 mg/l, criar-se-ia um potencial grande de formação de incrustação devido à reação

do sulfato da água do mar com o bário da água da formação. Esta ainda continha rádio

226 e 228, compostos radioativos que causariam uma incrustação do tipo NORM

(Naturally Ocurring Radioactive Material), que em português significa Material

Radioativo de Ocorrência Natural. Assim sendo, a simples injeção de água salgada nos

reservatórios de Brae causou operações extremamente custosas de workover, já que a

coluna de produção ficou completamente entupida, devido à incrustação formada, sendo

assim removida e levada para a costa para limpeza.

A alta concentração de bário na água da formação de Brae, em conjunto com a

alta concentração de sulfato da água marinha, superava, então, a eficácia dos

tradicionais produtos químicos inibidores de incrustação, que não conseguiam controlar

a precipitação de sulfato de bário. Adicionalmente, o pH baixo da água de Brae e os

altos níveis de cálcio também dificultaram as medidas necessárias para controle de

incrustação, pois eram formados também sulfatos de cálcio. Por outro lado, essas

dificuldades levaram ao desenvolvimento de inibidores de incrustação mais eficazes e

propícios para a área de Brae, à base de sulfonatos.

Em adição a estes novos inibidores, as operações em Brae levaram ao estudo de

uma nova possibilidade: a remoção dos sulfatos presentes na água a ser injetada.

Consequentemente, a fonte de incrustação, os sulfatos, não existiria e em vez de

controlar os problemas de incrustação com inibidores impotentes frente à tamanha

concentração de sulfato de bário, a solução viria da remoção dos sulfatos ainda na água,

evitando assim a precipitação e, consequentemente, a incrustação. Essa remoção de

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sulfatos seria, portanto, um método preventivo, ao contrário do uso de químicos

inibidores de incrustação.

4.1 O Processo de Remoção de Sulfato

Enquanto os problemas em Brae supracitados ocorriam, a FilmTec Corporation,

subsidiária da Dow Chemical Company, trabalhava para desenvolver uma membrana de

nanofiltração. Esta seria baseada nas suas membranas de osmose reversa, já existentes.

Estas membranas de osmose reversa removiam todos os íons e eram usadas para

dessalinização de água. No entanto, as membranas de nanofiltração foram

desenvolvidas para remover, seletivamente, apenas íons e moléculas de alto peso

molecular. Estas se mostraram fundamentais no desenvolvimento dos reservatórios de

Brae, pois, enquanto bloqueavam os sulfatos, permitiam a passagem de cloretos de

sódio, essenciais para manter a salinidade da água em um intervalo desejado.

Assim sendo, a FilmTec criou a FILMTEC NF40, membrana de nanofiltração

desenvolvida especialmente para remoção de íons de sulfato do reservatório de Brae.

Com esta, a concentração de sulfato na água do mar daquela região caiu dos originais

2700 mg/l para valores entre 100 mg/l e 150 mg/l. Adicionalmente, a membrana de

nanofiltração era capaz de operar com taxas de recuperação quase duas vezes maiores

que membranas de osmose reversa. Isto era possível pois aquela removia apenas os íons

de sulfato, permitindo a passagem dos cloretos de sódio através da mesma, diminuindo

portanto a concentração de sal na superfície da membrana. Além disso, ao remover

apenas o íon sulfato (e o cátion correspondente, mantendo a neutralidade iônica) a

pressão necessária para operar o sistema torna-se bem menor, devido à menor pressão

osmótica ao longo da membrana. Com o advento das segunda, terceira e quarta gerações

de membranas, a pressão de operação caiu de 400 psi para cerca de 250 psi, levando

evidentemente a menores custos operacionais. Com estes avanços, o conteúdo de sulfato

na água filtrada também caiu, saindo do intervalo de 100 mg/l a 150 mg/l obtido com a

primeira geração de membranas para cerca de 50 mg/l.

A figura 4.2, a seguir, explana simplificadamente o processo de nanofiltração,

ilustrando a remoção de sulfato.

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Figura 4.2. Processo de Remoção de Sulfatos – Nanofiltração.

Fonte: DAVIS & MCEELHINEY (2002)

Após tratamento para remoção de bactérias, a água do mar é pressurizada contra

a membrana por uma bomba de alimentação e sua válvula associada. A membrana,

portanto, repele o sulfato enquanto permite a passagem dos íons do cloreto de sódio. O

fluxo da água alimentada através da membrana fornece um mecanismo de auto-limpeza

enquanto o sulfato, bicarbonato e outros íons grandes são removidos pela ação de

varredura criada pela corrente rejeitada pela membrana.

As principais características da membrana que influenciam quais íons são

repelidos e quais passam pela mesma são o tamanho dos poros desta, propriedades

químicas da superfície da mesma e a largura da camada da membrana. A membrana de

nanofiltração tem um poro de tamanho de aproximadamente 10 Å4 e uma superfície

extremamente carregada negativamente. Assim sendo, íons de cloreto, com um

diâmetro de 1,8 Å e uma carga negativa, passam pela membrana. Alternativamente, íons

de sulfato, com um diâmetro de 2,4 Å e duas cargas negativas, são repelidos

eletronicamente pela membrana. Cátions pequenos, como sódio (0,98 Å) e magnésio

(0,65 Å), passam livremente pela membrana, com o intuito de manter uma neutralidade

eletrônica entre ambos os lados da mesma. Evidentemente, devido às variações nos

tamanhos dos poros e nas cargas da membrana, nem todos os sulfatos são rejeitados e

nem todos os cloretos passam pela membrana. No entanto, têm-se obtido eficiência de

rejeição de íons sulfato acima de 99% e de passagem de íons cloreto de 95% com as

membranas de nanofiltração recentemente desenvolvidas.

Essas membranas são desenhadas em forma de espiral para maximizar a área

com o menor espaço, de acordo com a figura 4.3, a seguir.

4 Ångström – Unidade de medida de tamanho para átomos e moleculas. Um Å equivale a um nanometro.

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Figura 4.3. Membranas de nanofiltração.

Fonte: DAVIS & MCELHINEY (2002)

Seis destes módulos ilustrados na figura acima são inseridos em vasos, em série.

Uma corrente de rejeito contém alta concentração de sulfatos e baixa concentração de

cloretos. A outra corrente, portanto, contém bastante cloretos e uma baixa quantidade de

sulfatos. Estes vasos são arranjados numa disposição de dois para um, com as correntes

de rejeitos dos primeiros vasos indo para os vasos no segundo arranjo, como ilustrado

na figura 4.4, melhorando a eficácia do processo. Adicionalmente, a corrente rejeitada

pela membrana de ambos os vasos, ao cair para o vaso seguinte, tem vazão suficiente

para fornecer um mecanismo de auto-limpeza nas membranas.

Figura 4.4. Arranjo dos vasos de membranas.

Fonte: DAVIS & MCELHINEY (2002)

Com a automação do processo de fabricação das membranas, ocorreu um

aumento da área superficial de 320 pés2 para 400 pés2, levando a uma maior eficiência

utilizando o mesmo peso e espaço nas plataformas e FPSO’s, barateando a construção e

facilitando a instalação de unidades de remoção de sulfato, que passaram a necessitar de

menos vasos e tubulações.

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Assim sendo, o controle de formação de incrustação se tornou gerenciável,

mesmo em casos onde os inibidores tradicionais não seriam suficientes para tal.

Consequentemente, as operações extremamente caras de workover realizadas devido a

problemas de incrustação reduziram-se drasticamente, resultando, portanto, em grandes

economias.

Assim sendo, as membranas de nanofiltração começaram a ser usadas

comercialmente em reservatórios com altos níveis de bário, comumente encontrados no

Mar do Norte, onde apenas inibidores não seriam capazes de controlar as incrustações

formadas. Um exemplo brasileiro de campo com alta concentração de bário (e

estrôncio) é o de Albacora Leste.

A utilização mais importante do processo de remoção de sulfatos é explicada a

seguir, na remoção de sulfatos em águas profundas.

4.2 Remoção de Sulfatos em Águas Profundas

Com o desenvolvimento de reservatórios petrolíferos em águas cada vez mais

profundas, a disponibilidade e viabilidade de aquíferos como fontes de água de injeção

tornou-se cada vez mais escassa, em comparação com operações em águas rasas ou na

costa. Primeiramente, a construção de poços para captação da água de injeção em

aquíferos ultra profundos leva a gastos extremamente elevados, comparáveis aos custos

relacionados aos próprios poços produtores de óleo. Adicionalmente, mesmo que haja

um aquífero disponível, não há garantias que este será adequado para a injeção ou que

sequer tenha água suficiente para tal projeto.

Nesses reservatórios de águas profundas, o tratamento através do uso de

inibidores de incrustação para garantia do fluxo é considerado como arriscado e

indesejável por diversos motivos técnicos e financeiros. Primeiramente, os tubos

submarinos, ligados por manifolds, conectam diversos poços produtores, dificultando

portanto o isolamento de apenas um poço que precise de um tratamento específico.

Além disso, mesmo que se consiga isolar um poço, alguns outros problemas aparecem.

Por exemplo, a pressão máxima suportada pelos risers de produção é de

aproximadamente 2.000 psi, enquanto tratamentos de compressão de inibidores

requerem pressões de injeção por volta de 5.000 psi. Isso levaria a gastos ainda maiores

com tubulações e acomodações especiais. Supondo ainda que seja possível adaptar os

poços à tamanha pressão de operação, dificilmente aguentariam os volumes de

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inibidores, espaçadores e água, principalmente em operações onde a FPSO está distante

da cabeça do poço em questão. Nesses casos, usualmente utiliza-se uma plataforma de

perfuração para tratamento de cada poço individualmente, o que pode elevar o custo da

operação em torno de US$ 3.000.000. Ainda assim, devido ao emaranhado de poços e

ao fato que cada um tem características únicas, um devido monitoramento da

concentração de inibidores seria prejudicado. Este incorreto monitoramento pode levar a

perda do poço, que por sua vez levaria a perdas em torno de US$ 18.000.000 com

operações de workover. Além de outras complicações, reservatórios de alta e variável

permeabilidade podem prejudicar o lançamento dos inibidores nos locais onde é

necessário. O uso de tubos flexíveis (coil tubing) para tratamentos de inibição de

incrustação poderia ser uma alternativa viável, se não fosse a necessidade de usar uma

sonda de perfuração para cada poço onde o tratamento será feito.

Todas as dificuldades supracitadas do tratamento de controle de incrustação por

inibidores, aliadas aos problemas encontrados em reservatórios com presença em alta

quantidade também de bário, levam a um crescimento notório das técnicas de remoção

de sulfatos da água do mar, principalmente em reservatórios em águas ultra profundas

(como por exemplo, no campo de Roncador) ou que apresentem alguma outra tendência

a altas quantidades de formação de incrustação, como presença em alta concentração de

cálcio ou bário,como os reservatórios de Brae e Albacora Leste.

4.3 Aplicações do Processo de Remoção de Sulfato

A figura 4.5 ilustra como o tipo de operação (squeeze de inibidores ou remoção

de sulfatos) utilizado para controle de incrustações é influenciado pelos fatores acima,

i.e., conteúdo de bário e complexidade do reservatório. Este inclui todos os outros

fatores supracitados, como profundidade, permeabilidade, completação molhada ou

seca, utilização ou não de manifolds submarinos, presença de poços horizontais e/ou

multilaterais, etc.

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Figura 4.5. Relação de controle de incrustação com seus fatores.

Fonte: DAVIS & MCELHINEY (2002)

Como em toda operação industrial, o fator final que determinará o tipo de

controle de incrustação é a lucratividade de cada operação. Em situações onde a

complexidade do reservatório e do poço, no que diz respeito aos fatores já explanados, é

pequena, o uso de inibidores de incrustações é aceitável até em níveis relativamente

altos de bário. Conforme essa complexidade aumenta, a tolerância do reservatório ao

nível de bário, para que seja justificável o uso de inibidores, cai. Essa tolerância é

representada como a curva no gráfico acima, onde à direita da curva o uso de remoção

de sulfato é mais lucrativo, e à esquerda da mesma, utilizam-se inibidores.

Em conclusão, é fundamental um estudo correto sobre que método de controle

de incrustação será usado em uma determinada operação, com o intuito de evitar danos

ao reservatório, perdas de produção, gastos desnecessários com workover, menor fator

de recuperação, formação de compostos radioativos, entre outros.

4.4 Posicionamento da Unidade de Remoção de Sulfato no Sistema de Tratamento

de Água de Injeção em Relação à Torre Desaeradora

Com o conhecimento da importância atual do processo de remoção de sulfato,

uma outra questão relevante e complicada é levantada: o posicionamento da unidade de

remoção de sulfato (URS) no módulo de tratamento de água de injeção. Basicamente,

há duas opções para o posicionamento desta unidade. A primeira, mostrada na figura

4.6, apresenta a URS à montante da torre de desaeração.

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Figura 4.6. Tratamento de água do mar com URS à montante da desaeradora.

Fonte: GATE KEEPER (2010)

Esta configuração favorece o processo em si. As membranas da unidade de

remoção de sulfato funcionam melhor com menores temperaturas da água salgada,

enquanto água morna é desejável para a desaeradora. Os trocadores de calor entre a

URS e a desaeradora usam a água do mar para refrigerar a corrente de produção,

eliminando portanto a necessidade de uma série de permutadores de calor apenas para

esta função, reduzindo o tamanho da planta do sistema. Assim sendo, os topside coolers

estão no posicionamento ideal para esta configuração, onde água gelada do mar entra na

unidade de remoção de sulfato e água quente entra na desaeradora. Pode ser necessário

o uso de antiespumantes para tratamento de espumas na desaeradora.

Além da menor planta de processo devido aos trocadores de calor melhor

posicionados, essa configuração minimiza também o peso e o espaço do sistema de

injeção de água na plataforma. Isso acontece porque os equipamentos e tubulações

anteriores à URS precisam ser 33% maiores que os equipamentos e tubulações

posteriores à mesma, devido ao volume referente à corrente de rejeição. Assim sendo,

menor parte das tubulações e equipamentos deve ser projetada para tamanha carga.

Entretanto, ao utilizar-se a URS à montante da torre desaeradora, não se obtém

uma configuração otimizada em relação às operações. Primeiramente, a água do mar

passa pela unidade de remoção de sulfato ainda gaseificada, e portanto, requer custos

adicionais consideráveis para evitar corrosão. Além disso, a água salgada gaseificada

contém também bactérias aeróbicas, que tendem a produzir sólidos que podem entupir

as membranas. Mesmo com o tratamento através de biocidas, altamente recomendável,

a vida útil das membranas é reduzida consideravelmente, passando a ser de algo em

torno de dois ou três anos, e essa operação de substituição de membranas é

extremamente cara. Por fim, é comum o uso de hipoclorito à montante das bombas de

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captação da água do mar, com o intuito de controlar microorganismos e bactérias. Como

as membranas da URS degradam-se rapidamente conforme são expostas a cloro livre,

tornam-se necessários tratamentos adicionais prévios à unidade de remoção de sulfato,

encarecendo novamente o projeto.

A segunda configuração de posicionamento da URS é mostrada na figura 4.7, a

seguir.

Figura 4.7. URS posicionada à jusante da torre desaeradora.

FONTE: GATE KEEPER (2010)

Esta configuração, onde a unidade de remoção de sulfato é posicionada à jusante

da desaeradora, é caracterizada por privilegiar a operação, e não o processo. A água do

mar que entra na URS já é desaerada, facilitando o controle de incrustação causada por

bactérias. Além disso, a vida útil das membranas em instalações com esta configuração

é de no mínimo quatro anos, usualmente passando disso. Adicionalmente, não há a

necessidade de remover os cloros livres antes da chegada da água desoxigenada à URS.

As vantagens supracitadas desta configuração são relacionadas à operação. As

desvantagens, por sua vez, são relacionadas ao processo. O posicionamento dos topside

coolers, por não ser ideal, pode levar à instalação de um permutador de calor anterior à

desaeradora, se esta for mais importante que a URS. Adicionalmente, a torre

desaeradora precisa ser 33% maior, para conseguir lidar também com a corrente a ser

rejeitada pela URS. Isto pode ser um problema especialmente para unidades flutuantes

de produção, como FPSO’s, onde as tolerâncias de peso e espaço são limitadas. Outras

desvantagens incluem limitações a respeito dos biocidas utilizáveis, possível restrição

da utilização de torres de gas stripping e baixa pressão da água que sai da desaeradora,

obrigando o uso de bombas para adicionar carga à mesma.

Tendo em vista os aspectos observados, a configuração onde a URS está à

montante da torre desaeradora é mais indicada para plataformas onde há certas

limitações de espaço e peso. Por outro lado, em instalações onde peso e espaço não são

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problemas, a utilização da URS à jusante da desaeradora é mais recomendada devido

aos menores custos operacionais.

4.4.1 Posicionamento de URS e Torre Desaeradora nas FPSO’s P-58 e na OSX-2

Como exemplo dos diferentes esquemas de posicionamento desses dois

equipamentos, temos as FPSO’s P-58 e a OSX-2. A Petrobras fechou contrato com o

grupo Queiroz Galvão para construção da P-58 em dezembro de 2010, num valor de

US$ 543,6 milhões, com capacidade de processamento de 180 mil barris de óleo por

dia. Nesta plataforma, as bombas de evelação da água salgada puxarão esta e a

direcionarão aos filtros de filtragem grosseira de partículas maiores que 25 µm. Haverá

uma injeção de produtos químicos à montante (biocidas) e à jusante (biocidas,

sequestradores de cloro e inibidores de incrustação) desse conjunto de filtros.

Em seguida, o fluxo da água passará por um conjunto de filtros finos, para

remoção de partículas de tamanho superior a 5 µm. À jusante destes filtros, um conjunto

de boosters fornecerão carga ao fluxo para entrar na URS, composta por três trens de

membranas, e posteriormente para a desaeradora. O Utility Flow Diagram (UFD) da P-

58 encontra-se no Apêndice, como Anexo I.

A OSX-2, que por sua vez será capaz de processar cerca de 100 mil barris de

óleo por dia, terá a desaeradora à montante (upstream) da unidade de remoção de

sulfato, como pode ser visto pelo Anexo II – Process Flow Diagram (PFD) da OSX-2 –

no apêndice. Após a passagem da água pela filtração grosseira, esta passará pelos filtros

tipo cartucho e irá para a desaeradora, e por fim, para a URS através de bombas. Haverá

a injeção de biocidas, inibidores de incrustação e sequestradores de cloro na saída da

torre de desaeração a vácuo, antes de passar pelas bombas.

Assim sendo, é razoável dizer que a esquematização da OSX-2 favorecerá a

operação, enquanto o esquema da P-58 favorecerá o processo. É ainda possível concluir

que a OSX-2 contemplará maiores custos com as tubulações e com a torre desaeradora.

Em contrapartida, a água entrará já desaerada na URS, aumentando a vida útil das

membranas de nanofiltração, bem como diminuindo gastos com biocidas para controlar

incrustação por bactérias. Por outro lado, a P-58 economizará espaço e peso na

plataforma ao utilizar a URS à montante da desaeradora, fazendo com que o tamanho

desta seja até 33% menor do que seria necessário caso esta estivesse posicionado à

montante da unidade de remoção de sulfato.

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4.4.2 P-51 e sua URS

Em novembro de 2004, a Petrobras fechou contrato com a VWS Westgarth,

multinacional especialista em soluções de tratamento de água na indústria de petróleo e

gás. Este contrato referiu-se ao projeto de fornecimento de uma planta de tratamento de

água adequada à capacidade de 283.020 bpd de água e ao fornecimento da unidade de

remoção de sulfato à Petrobras-51 pela VWS.

O esquema proposto pela VWS incluía filtros grosseiros, desaeradora a vácuo,

bombas de alimentação, filtros tipo cartucho, URS, sistemas de limpeza e dosagem de

produtos químicos, além de válvulas de controle.

O processo do tratamento de água na P-51 é dado, portanto, primeiramente pela

filtragem grosseira (coarse), que filtra partículas menores que cerca de 50 µm. Em

seguida, o fluxo de água tem oxigênio removido pela desaeradora a vácuo, passando

posteriormente pelos filtros cartuchos, retendo partículas maiores que 5 µm.

Essa água desaerada e filtrada é puxada pela bomba centrífuga (booster) para a

entrada nos trens de remoção de sulfato, passando pelo processo de nanofiltração

executado pelas membranas. A corrente rejeitada pelas membranas é descartada,

enquanto a corrente permeável segue para trocadores de calor tipo placas e em seguida é

desaerada, novamente, a vácuo. Equipamentos de Clean in Place (CIP), incluindo

tanques de limpeza, bombas, aquecedores e vasos de filtros, são responsáveis pela

limpeza das membranas de nanofiltração.

A VWS Westgarth foi, portanto, responsável pelo fornecimento da unidade de

remoção de sulfato e pelo projeto de tratamento de água da FPSO P-51, com capacidade

de processamento e remoção de sulfato de 283.020 barris de água por dia, com uma

eficiência de 75%, resultando numa água com qualidade de menos de 100 mg de sulfato

por litro de água. A figura 4.8 ilustra uma URS fornecida pela VWS Westgarth, similar

à utilizada pela P-51.

Figura 4.8. Unidade de Remoção de Sulfato (URS).

Fonte: VWSWESTGARTH.COM

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77

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Conclusão

O presente trabalho abordou a evolução do sistema de injeção de água em

plataformas offshore. Uma visão fundamentada no histórico das plataformas,

especialmente no Brasil, foi essencial para uma base teórica do restante do trabalho e do

que se pode esperar em relação às futuras inovações. Se por um lado, o sistema de

injeção de água só passou a fazer parte das FPSO’s na Fase 2, este sistema tem recebido

cada vez mais atenção e aprimoramentos técnicos, principalmente devido às limitações

de peso e espaço nas FPSO’s.

Essa dedicação ao sistema de injeção de água começa devido à importância dos

métodos de recuperação secundária na produção de petróleo atualmente, em especial o

de injeção de água, mais utilizado mundialmente. Como foi visto, os métodos de EOR

podem fazer um reservatório produzir até cerca de 60% do OOIP (em casos raros), ao

invés dos 15% possíveis apenas com a recuperação primária. Enquanto a média de

OOIP retirado no mundo é de 30%, a Petrobras tem uma média de 32%, se mostrando

acima da média na tecnologia de produção de óleo, além de perfurar poços que

conseguem extrair mais de 45% do óleo originalmente no reservatório. Assim sendo, é

indiscutível o quão importante é o processo de injeção de água para aumentar a

produtividade de poços, e consequentemente, seu sistema de injeção.

Este sistema foi discutido no Capítulo 3. Diversas evoluções puderam ser

notadas, em todas as fases. A parte de captação de água, por exemplo, evolui em termos

de matéria prima. Ao longo do tempo, foram descobertas tecnologias que permitem o

uso de determinado tipo de água antes não aplicável, ou aumentando a gama de

aplicações de água já utilizada. Um exemplo é a própria água do mar, que teve sua

aplicabilidade elevada com a invenção das unidades de remoção de sulfato. Outro

exemplo que pode ser citado é a ideia de adição de sal em águas doces ou menos

salgadas que o necessário, para evitar choques salinos.

A fase de transporte da água sofre avanços contínuos no que diz respeito às

tubulações utilizadas, sempre sendo aprimoradas para evitar corrosão e outros tipos de

problemas. Atualmente, certa parte da água produzida pode até mesmo ser armazenada

para injeção em outro poço, com falta desta. No entanto, não foi observado em nenhum

dos novos projetos da Petrobras o uso desta tecnologia. Essa adução da água vem sendo

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barateada devido às simplificações que a indústria encontra e descobre no que diz

respeito à logística offshore.

O próprio processo de recompletar um poço, anteriormente produtor de óleo,

para injeção (ou produção) de água requer tecnologias extremamente avançadas, e

merecem destaque.

A fase de tratamento da água para injeção pode ser a que mais evoluiu nas

últimas décadas. Como foi explicitado no Capítulo 4, a URS tornou a injeção de água

um processo ainda mais viável, lucrativo e aberto a diversas aplicações. O uso do

processo de nanofiltração por membranas eletronicamente carregadas permitiu que essa

água salgada, de grande disponibilidade, fosse injetada em regiões onde inibidores

químicos de incrustação não conseguiriam conter os absurdos gastos com operações de

workover que seriam causados pelo entupimento dos tubos. Adicionalmente, o controle

de incrustação cresceu bastante em poços onde os gravel packs, indispensáveis para o

controle de produção de areia, inviabilizariam o uso dos inibidores supracitados. A

própria produção de reservatórios em elevadas profundidades tornou-se mais econômica

e possível com a utilização da URS.

A remoção de sulfato da água do mar era utilizada, inicialmente, apenas em

reservatórios contendo alta concentração de bário, como já dito. No entanto, com a

descoberta de novas aplicações da remoção de sulfato, esta tem se tornado um processo

fundamental para a injeção de água salgada. Como exemplo de aplicação alternativa,

podem-se citar exemplos onde os poços nos quais deseja-se controlar a incrustação,

apesar de não estarem sujeitos a grandes formações de sulfatos, não podem receber

inibidores de inscrutação devido ao posicionamento de gravel packs. Adicionalmente,

foi estudado e percebido que reservatórios contendo altas concentrações de cálcio e

estrôncio, além de água com salinidade elevada também eram formações em potencial

para uso do processo de remoção de sulfato. Recentemente, a complexidade do

desenvolvimento de certos reservatórios que incluem produção através de poços

horizontais ou multilaterais e/ou de poços extremamente profundos, tem tornado a

remoção de sulfato, na grande maioria dos casos, a única alternativa viável à

manutenção do fluxo pelo controle de incrustação.

Cada reservatório, durante seu desenvolvimento, em conjunto com seu projeto

de injeção de água associado, deve ser estudado em particular para se assegurar de que

processo de controle de incrustação é o mais barato, como ilustrado na figura 4.5. Para

uso somente de inibidores de incrustação, são necessários cálculos prevendo a

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concentração de inibidores ao longo da vida produtora do reservatório, bem como em

que momento ocorre o breakthrough e dos custos relativos aos inibidores residuais.

Todos estes cálculos devem se basear inclusive, mas não se limitar, a dados de produção

de reservatórios com características similares, principalmente no que diz respeito à

perda de injetividade e produtividade. Por outro lado, deve-se analisar a possibilidade

da utilização de unidade de remoção de sulfato a partir de estudos sobre os custos de

operação da mesma, além dos impactos que serão causados na injetividade e

produtividade pelo uso desta ao invés de somente inibidores de incrustação.

A remoção de sulfato tem se mostrado, assim como as outras inovações

tecnológicas discutidas nos Capítulos 2 (sequestro de carbono) e 3 (tratamento e injeção

de água), fundamental para as operações offshore e é produto de alguns fatores que

sempre estimulam a criação de novas tecnologias: alto preço do petróleo e dificuldades

encontradas que precisam ser superadas. A própria remoção de sulfato se desenvolveu,

levando a maiores vantagens, com estudos sobre o posicionamento da URS em relação

à torre desaeradora. A tabela 5.1 resume as vantagens e desvantagens de cada arranjo

relativo possível.

Tabela 5.1. Vantagens e desvantagens dos possíveis posicionamentos da URS em relação à desaeradora.

Posição Relativa URS à Montante Desaeradora à Montante

Vantagens

Favorece o processo; menor

necessidade de permutadores

de calor; menor planta de

processo; requer menor

espaço e representa menor

peso na plataforma;

Favorece a operação; água na

URS já desaerada; fácil controle

de incrustação por bactérias;

maior vidá útil das membranas;

não há necessidade de controle

cloro livre;

Desvantagens

Água do mar passa pela URS

gaseificada; corrosão;

entupimento de membranas

por bactérias aeróbicas;

menor vida útil das

membranas; tratamento com

sequestradores de cloro e

hipoclorito;

Posicionamento de coolers não

ideal; requer permutador de calor

à montante da desaeradora; torre e

tubulação à montante da URS

33% maiores; requer maior

espaço e representa maior peso na

plataforma; restrição em relação a

torres de gas stripping

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Esses fatores são recorrentes na indústria do petróleo. A tendência de mercado

aponta não só para oscilações no preço do petróleo, como também para uma elevação

geral no preço desta commodity. Por outro lado, dificuldades são sempre encontradas, e

os profissionais do setor se mostraram capazes de superá-las, umas com mais facilidade,

outras com menos. É essencial que pesquisadores e estudiosos continuem trabalhando

para sempre superar estas dificuldades e manter a evolução dos sistemas de injeção de

água crescente, como é hoje.

Outras inovações, mais recentes, são as instalações de equipamentos

submarinos. Equipamentos atualmente utilizados na superfície começam a ser

instalados no leito marinho por algumas empresas. É o caso do Subsea Water Injection

Treatment (SWIT) da Well Processing, onde o tratamento da água de injeção é feito no

fundo do mar. A água é captada em poços satélites, transportada por dutos para o

sistema de tratamento (SWIT) e então injetada no reservatório. Segundo a empresa, este

esquema pode resultar em economias de até 50% do CAPEX e 25% do OPEX.

Tecnologias parecidas ao SWIT têm sido desenvolvidas no Brasil, pela Petrobras. O

esquema chamado Subsea Raw Water Injection (SRWI) consiste na injeção de água

recém captada, tratamento apenas por filtros e injeção da mesma no reservatório,

economizando assim a necessidade de todo um sistema de injeção na plataforma,

reduzindo custos significativamente.

Outro projeto da Petrobras, já em uso pela P-37, é o de separação submarina de

óleo e água. Com a mesma ideia de instalação de equipamentos submarinos, o espaço na

plataforma torna-se maior. Apesar de não ser diretamente relacionado com o sistema de

injeção de água, este esquema da Petrobras pode ser usado futuramente em conjunto

com o próprio SRWI, ou com algum projeto parecido com o SWIT. Seria então possível

fazer a separação do óleo e reinjeção da água produzida sem a necessidade de levar

estes fluidos à plataforma primeiramente.

5.2 Perspectivas Futuras

Evidentemente, todas as tecnologias mais recentes (de menos de 5 anos)

explicadas acima têm diversas complicações. O esquema de SRWI, por exemplo,

necessita essencialmente de compatibilidade da água da formação com a água do mar.

Os sistemas de SWIT e separação submarina dependem ainda de alguns avanços. Assim

sendo, pode-se prever que, baseado nos acontecimentos recentes, a indústria continuará

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investindo nestas tecnologias e que estas se tornarão viáveis e amplamente utilizadas

num futuro próximo. Por outro lado, novas tecnologias também aparecerão e precisarão

de muito estudo e investimento para se tornarem viáveis.

Em conclusão, é de suma importância que os incentivos financeiros na pesquisa

de novas tecnologias não cessem, para que a produção de óleo seja cada vez mais barata

e que cada vez mais do OOIP seja produzido. Somando o fato de que o petróleo é uma

fonte de energia não renovável à futura escassez de reservas e à dificuldade de encontrar

jazidas facilmente exploráveis atualmente, resulta-se na necessidade de inovações e

evoluções em toda a cadeia produtiva, inclusive nos sistemas de injeção de água.

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