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ESTUDO DA MACROTEXTURA DO PAVIMENTO A PARTIR DE ENSAIOS DE
MANCHA DE AREIA E DRENABILIDADE EM CONJUNTO COM ANÁLISE DA
SUPERFÍCIE POR ESTEREOSCOPIA
André Kazuo Kuchiishi
Sérgio Copetti Callai
Tiago Vieira
Liedi Légi Bariani Bernucci Universidade de São Paulo
Escola Politécnica
RESUMO
O conhecimento profundo referente à textura do pavimento é de grande importância, pois está relacionada a
aspectos econômicos, sociais e ambientais. Neste trabalho são abordados os ensaios de mancha de areia e
drenabilidade para diferentes amostras asfálticas e suas medidas são estatisticamente correlacionadas. Tendo em
vista as limitações existentes em cada ensaio, também foi realizada uma análise indireta da superfície a partir de
técnicas de fotometria e estereoscopia com o objetivo de expor aspectos da textura do pavimento que nem o ensaio
de mancha de areia nem o de drenabilidade são capazes de evidenciar. Deste trabalho, destaca-se a importância de
uma caracterização mais detalhada da superfície, da qual parâmetros como curtose e assimetria obtidas de análises
indiretas não podem ser negligenciadas. Além disso, comprova-se a correlação entre dados de mancha de areia e
drenabilidade, sendo possível aplicar a mesma metodologia para diferentes drenômetros.
ABSTRACT
A deeper knowledge about the pavement texture is considered important, for the reason that it is related to
economic, social and environmental aspects. In this paper, the sand patch and outflow method were carried out for
different pavement mixtures, and its measures were statistically correlated. Due to the limitations of both methods,
an indirect texture analysis was also carried out with photometric and stereoscopic techniques, with the goal of
highlighting some surface characteristics that cannot be witnessed in the sand patch and outflow methods. From
this paper, the importance of a more detailed surface characterization is emphasized, from which parameters as
kurtosis and skewness, obtained by indirect texture analysis, should not be neglected. In addition, the sandpatch
and outflow results correlation was confirmed, being possible to apply this method for different outflow meters.
1. INTRODUÇÃO
A superfície do pavimento é o meio pelo qual ocorre a interação direta entre o pneu e o
pavimento, sendo assim fundamental para caracterizar o desempenho da infraestrutura das
rodovias. As condições da superfície de um revestimento asfáltico influenciam aspectos como
segurança e eficiência viária, resistência à derrapagem, consumo de combustível, geração de
ruído, desgaste de pneus.
A interação pneu-pavimento está diretamente relacionada com a textura do pavimento em si,
podendo ser classificada em categorias que aproximam as asperezas da superfície por senóides
(Wambold et al., 1995). Alguns estudos já comprovam a existência de uma significativa
correlação entre a macrotextura de pavimentos com taxas de acidentes nos Estados Unidos
(Pulugurtha et al., 2011). Outros estudos desenvolvidos na Austrália, por exemplo, evidenciam
uma relação exponencial entre taxas de acidentes e macrotextura de pavimentos (Cairney e
Bennett, 2008). No Brasil, por sua vez, foi observada a redução do índice de acidentes após a
substituição de concreto asfáltico por uma superfície de microrrevestimento na rodovia Fernão
Dias, BR-381 (Marcandali et al., 2011). Estudos similares a esses também foram realizados na
França (Gothié, 2001) e no Reino Unido (Roe et al., 1991).
A construção de vias com características impróprias de textura também podem influenciar no
desgaste de pneus. Tendo em vista a previsão de estudos apontando que a demanda por pneus
em 2015 será de aproximadamente 3,3 bilhões de unidades (Freedonia Group, 2012) bem como
outros estudos afirmam que a borracha é considerado um material não-biodegradável (Fang,
Zhan, Wang, 2001), estudar a superfície do pavimento e sua interação com os pneus torna-se
bastante relevante. Picos angulosos e acentuados presentes na superfície do pavimento
acarretam no desgaste excessivo dos pneus, comprometendo sua vida útil (Moore, 1975). Ainda
é possível acrescentar que tais picos podem implicar em um desgaste três vezes maior dos
pneus, como foi observado por Lowne (1970). Dessa forma, um desgaste excessivo de material
elastomérico em conjunto com a crescente demanda por pneus, pode se tornar um problema de
consequências ambientalmente e economicamente severas.
Algumas políticas como a regulamentação de pneus já foram adotadas em países da União
Europeia, como reflexo da preocupação com a qualidade do desempenho dos pneus. São
utilizados selos que avaliam o desempenho por meio de três fatores: (i) Eficiência no Consumo
de Combustível, (ii) Resistência a Hidroplanagem e (iii) Ruído Externo ao Rolamento, aspectos
estes fundamentais para a caracterização da borracha (EC, 2009).
Além disso, a superfície também está relacionada com a geração de ruído, seja ela por
mecanismos aerodinâmicos ou estruturais, como os fenômenos stick-slip e stick-snap
(Sandberg, 1997). Há também consequências relacionadas a fatores de saúde. De acordo com
a Agência de Proteção à Saúde do Reino Unido (HPA, 2009), níveis de ruído muito elevados
podem acarretar um aumento de hormônios de estresse como cortisol, distúrbios de sono,
aumento de frequência cardíaca e pressão sanguínea, implicando assim em maiores riscos de
doenças cardiovasculares. Além disso, pesquisas da Agência de Proteção ambiental
Dinamarquesa (EPA, 2003, apud FEHRL, 2006), indicam uma correlação entre o aumento do
ruído com a desvalorização de imóveis da região.
Observa-se, portanto, que um estudo mais aprofundado a respeito da textura do pavimento
permite efetuar análises mais complexas de fenômenos e eventos de cunho social, econômico,
ambiental e político. Para isto, serão explorados inicialmente dois ensaios bastante difundidos
na engenharia de transportes para análise de macrotextura: (i) mancha de areia e (ii)
drenabilidade. Para ambos os ensaios são evidenciadas suas limitações e a necessidade de uma
caracterização melhor da textura de pavimentos. Além destes, um terceiro ensaio de análise
indireta de superfície também está presente neste trabalho, e se utiliza do equipamento PTA
(Pavement Texture Analyzer), sendo detalhado mais adiante.
Este trabalho é uma continuação da pesquisa de Vieira et al. (2013), a qual correlaciona dados
de mancha de areia e drenabilidade utilizando sete amostras de revestimento correspondentes à
dois tipos de mistura asfáltica, microrrevestimento e gap-graded. Uma das diferenças presentes
neste trabalho em relação ao anterior é a adição de outras misturas asfálticas na análise, seguida
da verificação de um modelo mais abrangente, tendo em vista as limitações existentes em cada
ensaio. Além disso, é feita uma análise mais profunda em relação à distribuição de altura das
asperezas e como isto pode influenciar resultados de mancha de areia e drenabilidade por meio
de um ensaio de análise de superfície por fotometria e estereoscopia.
2. REVISÃO
De acordo com a classificação proposta por Wambold et al. (1995), a textura do pavimento
pode ser classificada em quatro categorias ilustradas na Figura 1. As asperezas presentes nessas
superfícies podem ser comparadas com uma série de senóides, com diferentes amplitudes e
comprimentos de onda equivalentes.
Figura 1 - Ilustração das quatro categorias de textura (Adaptado de Sandberg, 1997)
Segundo Whitehouse (2002), é mais eficiente realizar análises diretamente na superfície, apesar
de a forma mais realista para avaliar características de desempenho da via seja por meio de
experimentos que simulem sua funcionalidade, como o ensaio de roda travada. Devido às
inúmeras variáveis existentes neste ensaio, sua realização torna-se pouco eficiente. Saleh et al.
(2010) ainda acrescentam que as características das superfícies de pavimentos são bons
indicadores de seu desempenho relativos à resistência à derrapagem, drenagem e geração de
ruído.
Apesar de não fornecerem dados específicos relativos à forma das asperezas, os ensaios de
mancha de areia e drenabilidade são bastante utilizados devido à rapidez de execução e baixo
custo de realização. Estes são denominados ensaios de contato, pois dependem da interação
entre as esferas de vidro e a superfície do pavimento no ensaio de mancha de areia, e do contato
entre a água e a superfície no ensaio de drenabilidade
Com o intuito de correlacionar os valores de mancha de areia (Mean Texture Depth, MTD) e
de drenabilidade (Outflow Time, OFT), Moore (1975) propôs a equação 1 apresentada a seguir.
𝑀𝑇𝐷 = 𝐾𝑜𝑓𝑚 (ϑ
𝑡√𝑁′)14⁄√(𝑁′)𝑃 (1)
em que Kofm: constante do instrumento;
ϑ : viscosidade absoluta da água [N.s/m²];
t: tempo de drenagem [s];
N’: número de asperezas por unidade de área [1/m²]; e
P: perímetro médio dos canais da macrotextura [m].
A norma relativa à drenabilidade (ASTM E2380, 2005), propõe uma simplificação da equação
de Moore, apresentada na equação 2.
𝑀𝑇𝐷 = 3,114/𝑂𝐹𝑇 + 0,636 (2)
Vale ressaltar que o drenômetro utilizado nessa pesquisa foi desenvolvido no Laboratório de
Tecnologia de Pavimentação da USP e baseado no drenômetro da ISETH (Institut für Strassen,
Eisenbahn und Felsbau des Eidgenössischen Technischen Hochschule Zürich), que por sua vez,
se baseou no trabalho de Moore (1966). Por este motivo ele se diferencia do drenômetro da
ASTM, invalidando a correlação proposta pela norma (Vieira et al., 2013). Ainda é possível
acrescentar que para misturas asfálticas muito porosas, essa equação também não é válida. Isto
ocorre, pois o fluxo de água no ensaio de drenabilidade não fica restrito à macrotextura do
pavimento, sendo também observado pelos poros da amostra ensaiada (ASTM E2380, 2005).
Das variáveis existentes na equação teórica de Moore (1975), observa-se que a textura e o modo
em que as asperezas estão distribuídas pela superfície são fatores determinantes para a
caracterização da interface de contato do revestimento. Analisando-se o perfil de uma
superfície, é possível caracterizá-la a partir de uma distribuição estatística das alturas das
asperezas em relação a uma altura média, definida como a média aritmética das alturas do perfil
(Whitehouse, 2002). Na Figura 2, “x” é um ponto ao longo do perfil e “y” é a altura do mesmo.
Figura 2 - Esquema representativo do perfil (linha contínua) e da altura média (linha tracejada) (Vieira, 2014).
Essa distribuição de alturas do perfil pode ser descrita por uma função densidade de amplitude,
na qual relaciona-se a probabilidade “p(y)” de se encontrar no perfil um ponto de altura “y”
(Hutchings, 1992). Dessa função, parâmetros podem ser utilizados para caracterizá-la, como a
skewness ou assimetria (Sk), relacionada com a própria assimetria da distribuição; e a kurtosis
ou curtose (Ku), com o grau de achatamento do pico da curva de distribuições.
Valores de Sk positivos indicam maior concentração de probabilidade de pontos com alturas na
direção positiva do eixo “y”, enquanto Sk negativos indicam maior concentração de
probabilidade de pontos com alturas na direção negativa do eixo “y”, como ilustra a Figura 3.
Figura 3 - Representação da textura em função do valor de assimetria
Para os valores de curtose, temos que para Ku menores que três, o pico da função é achatado
(curva platicúrtica); para Ku maiores que três, o pico é mais afinado (curva leptocúrtica); e para
Ku igual a três, o pico é semelhante ao de uma curva normal (curva mesocúrtica), como ilustra
a Figura 4.
Figura 4 - Tipos de curva com valores diferentes de curtose (Fonte: www.studyblue.com)
Alguns estudos propõem que essa distribuição de alturas se aproxima de uma normal
(Greenwood-Williamson, 1966; Greenwood-Tripp, 1970), como mostra a Figura 5. Nesses
casos, o Sk é igual a zero e o Ku igual a três.
Figura 5 - Função densidade de amplitude para um determinado perfil (Adaptado de Hutchings, 1992)
Em pavimentos asfálticos, porém, as alturas das asperezas podem não ser normalmente
distribuídas, apresentando assim valores distintos de Sk e Ku. Analisando e combinando esses
dois parâmetros de maneiras diferentes, a superfície do pavimento apresenta configurações
distintas, como mostra a Figura 6.
Figura 6 – Superfície do pavimento em função da assimetria e curtose (Adaptado de Tayebi, Polycarpou, 2004)
3. METODOLOGIA
Para a realização dos ensaios foi utilizado um total de 22 amostras circulares de revestimento
asfáltico, nomeados de SA até SV. Sete dessas amostras possuem 250 mm de diâmetro e foram
extraídas da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), sendo cinco delas de microrrevestimento e
duas de gap-graded com asfalto borracha (SE e SF). As outras 15 e novas amostras restantes
de 200 mm de diâmetro foram extraídas da Rodovia Anhanguera (SP - 330) e são divididas em
quatro tipos de composição asfáltica: Tennessee, de SH a SK; BBUM de SL a SO; SMA com
fibra C-25 de SP a SR e SMA com fibra Premiun de SS a SV, dentre as quais as duas primeiras
misturas, por não serem tão comuns no Brasil, serão sucintamente explicadas a seguir.
A BBUM (béton bitumineux ultra mince) de origem francesa, apesar de não ser normatizada na
França, segue as recomendações de composição da mistura asfáltica da BBTM, béton
bitumineux três mince (XP P 98-137, 2001b), sendo caracterizada pela descontinuidade na
granulometria com o intuito de elevar a interação entre grãos. Além disso, para sua aplicação é
realizado um tratamento superficial a partir de um filme de ligante contínuo com o objetivo de
oferecer a adesão e impermeabilidade necessária à camada de revestimento (Reis, 2012).
Segundo Reis (2012), a Tennessee corresponde a uma faixa granulométrica da mistura
descontínua RAUD (Revestimento Asfáltico Ultra Delgado), sendo este um termo mais
adequado devido às adaptações da BBUM de modo a atender as especificações de cada país. A
caracterização do Tennessee segue recomendações do Departamento de Transportes do
Tennessee (TDOT, 2004).
Os ensaios de mancha de areia foram realizados de acordo com a norma (ASTM E965, 1996),
porém a determinação da área foi feita de maneira diferente. Ao contrário do cálculo proposto
através da determinação de um diâmetro médio de mancha, foi utilizada a técnica de fotometria.
Dessa forma, o valor da área é obtido diretamente a partir de um software de tratamento de
imagens (Vieira et al., 2013).
Os ensaios de drenabilidade também foram realizados de acordo com a norma (ASTM E2380,
2005). Novamente, de modo a verificar a influência da saturação, as 22 amostras permaneceram
submersas em um tanque com água por pelo menos 10 minutos, antes do início dos ensaios.
Esses resultados foram comparados com os valores de drenabilidade sem saturação e serão
discutidos mais adiante.
Para a análise de textura do pavimento de modo indireto, foi utilizado um equipamento
desenvolvido no Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da EPUSP entre 2010 e 2011, e
patenteado sob o número de registro BR102013013198-9. O método de cálculo e o equipamento
foram desenvolvidos pela Profª. Dra. Liedi L. B. Bernucci, MSc. Sérgio C. Callai, MSc. Tiago
Vieira e Renato Peixoto.
O equipamento utiliza-se de um conceito já difundido, denominado estereoscopia. O dispositivo
é composto por uma caixa preta de material anti-reflexivo e quatro lâmpadas posicionadas
internamente com defasagem angular de 90º. O corpo de prova é colocado no interior da caixa,
que em seguida é tampada, apresentando um orifício apenas para a ocular da câmera
responsável pela captura da intensidade das imagens. A amostra é iluminada quatro lâmpadas
individualmente e as quatro imagens capturadas são utilizadas para gerar o modelo
tridimensional da textura em software. A imagem do equipamento e do modelo gerado para
uma superfície de pavimento estão ilustrados na Figura 7 a, e b, respectivamente.
(a) (b)
Figura 7 - Disposição das lâmpadas no interior do equipamento (a) e exemplo de modelo tridimensional gerado pelo
computador (b)
4. RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos de todos os ensaios: mancha de areia, drenabilidade
(condição saturada e não saturada) e PTA. Vale ressaltar que as variáveis SSk e SKu
correspondem aos valores de Sk e Ku calculados para toda a superfície do pavimento, não
considerando apenas um perfil.
Tabela 1 - Resultados dos ensaios de mancha de areia, drenabilidade e PTA.
Amostra Mancha de Areia
Drenabilidade PTA
Não saturado Saturado
Área (mm²) MTD (mm) OFT (s) Desvio Padrão (s) OFT (s) Desvio Padrão (s) SSk SKu
SA 121,00 1,03 1,60 0,03 1,69 0,04 0,3410 3,9760
SB 173,00 0,72 4,47 0,06 4,32 0,05 0,2400 3,3230
SC 114,30 1,09 1,76 0,05 1,73 0,04 0,1320 4,7460
SD 117,50 1,06 3,78 0,05 3,68 0,02 0,5910 3,3580
SE 152,00 0,82 6,81 0,06 7,08 0,04 -0,2840 3,1090
SF 165,40 0,76 8,76 0,05 8,43 0,03 -0,3662 2,9370
SG 139,00 0,90 3,77 0,04 3,66 0,03 0,1510 3,6820
SH 9920,68 0,35 15,65 0,05 13,39 0,26 -0,0051 1,5890
SI 8176,73 0,42 10,44 0,05 10,33 0,18 0,0004 1,8188
SJ 7454,58 0,47 9,47 0,34 10,23 0,14 0,0001 2,1763
SK 7084,14 0,49 9,48 0,10 8,47 0,28 -0,0043 2,3373
SL 7187,80 0,48 10,07 0,20 9,09 0,11 0,0043 1,9806
SM 7312,37 0,47 10,44 0,15 10,66 0,21 0,0078 1,7174
SN 9303,79 0,37 16,61 0,36 16,61 0,29 0,0123 2,5181
SO 8676,06 0,40 14,27 0,04 13,38 0,24 -0,0088 2,2759
SP 8703,26 0,80 7,19 0,17 7,04 0,05 -0,0089 2,3959
SQ 7497,16 0,93 4,71 0,06 4,49 0,23 -0,0065 2,5334
SR 7989,97 0,87 5,43 0,17 5,51 0,15 -0,0129 2,2812
SS 8865,78 0,78 5,29 0,12 4,97 0,12 0,0012 1,0918
ST 9121,76 0,76 6,63 0,35 6,37 0,12 -0,0050 2,6128
SU 9993,31 0,69 7,38 0,21 6,82 0,12 -0,0045 2,0062
SV 7037,17 0,99 4,20 0,10 3,50 0,10 -0,0154 2,3442
5. ANÁLISES
Os valores de mancha de areia e drenabilidade foram analisados estatisticamente na condição
saturada e não saturada de modo a verificar a influência de ambas as condições nos resultados
obtidos. Os dados de MTD foram correlacionados com (1 𝑂𝐹𝑇⁄ )1/4, considerando a equação
teórica de Moore (1975) a partir de um modelo do tipo 𝑀𝑇𝐷 = 𝑎 + 𝑏. (1 𝑂𝐹𝑇⁄ )1/4. Os dados
plotados estão apresentados na Figura 8 e a análise da regressão encontra-se na Tabela 2.
Figura 8 - Correlação entre dados de mancha de areia e drenabilidade
Tabela 2 - Valores da regressão para as duas condições de saturação
Não
Saturado
Preditor Coeficiente Desvio Padrão p-value
Constante -0,5914 0,159 0,10%
1/OFT0.25 2,0577 0,2478 0,00%
Saturado
Predictor Coeficiente Desvio Padrão p-value
Constante -0,6298 0,1583 0,10%
1/OFT0.25 2,0995 0,2447 0,00%
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
1,400
0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
MTD
(m
m)
(1/OFT)^0,25Não-saturado Saturado Linear (Não-saturado) Linear (Saturado)
Observa-se que, com nível de significância de 5%, tanto o intercepto ‘a’ quanto o coeficiente
‘b’ são significativos para a análise realizada. Porém, a existência de um intercepto na regressão
não condiz com a correlação física dos dois ensaios de macrotextura. Sabendo que o MTD se
relaciona com o inverso de OFT pela equação de Moore, quando o valor de OFT tende ao
infinito, ou seja, a superfície é idealmente lisa e impede o fluxo de água, o MTD tende a zero
teoricamente. Assim, apesar da alta significância dos valores do intercepto para os dois casos
de saturação, a existência do parâmetro ‘a’ no modelo é inválida fisicamente. Portanto, de
maneira e obter um modelo adequado e coerente, uma nova regressão foi realizada de maneira
a forçar o intercepto nulo em um modelo da forma 𝑀𝑇𝐷 = 𝑏. (1 𝑂𝐹𝑇⁄ )1/4. O resultado da
regressão encontra-se na Tabela 3 e foi realizada com nível de significância de 5%.
Tabela 3 - Valores de regressão forçando o intercepto nulo
Não
Saturado
Predictor Coeficiente Desvio Padrão p-value
1/OFT0.25 1,14743 0,04954 0,00%
Saturado Predictor Coeficiente Desvio Padrão p-value
1/OFT0.25 1,13773 0,04927 0,00%
Dos valores do coeficiente ‘b’ é possível inferir que o modelo não apresenta diferenças
significativas de uma condição de saturação para outra, uma vez que seus intervalos
determinados pelo desvio padrão são coincidentes. Finalmente, foi realizada uma análise dos
resíduos das regressões como mostra a Figura 9. Observa-se que com nível de significância de
5% é possível afirmar que os resíduos são normalmente distribuídos, validando assim as
regressões com intercepto nulo.
Figura 9 - Análise dos resíduos das regressões nas duas condições de saturação
Da Figura 8, dois pares de pontos se destacam por estarem mais afastados do modelo e
correspondem às amostras SA e SC tanto na condição saturada quanto na não saturada. Em uma
análise matemática simples, valores elevados do recíproco de OFT implicam necessariamente
em valores reduzidos de OFT. Ou seja, as duas amostras em questão apresentam tempo de
drenagem muito menores em comparação aos outros corpos de prova. De maneira a tentar
explicar esses resultados, foram analisados os valores de SSk e SKu.
Observando os valores da Tabela 1, tanto a amostra SA quanto a amostra SC apresentam valores
positivos de Sk. Logo, a borracha presente na base do drenômetro toca o pico das asperezas,
característico de uma textura positiva. Além disso, as mesmas duas amostras apresentam os
maiores valores de SKu iguais a 3,976 e 4,746, respectivamente, indicando picos mais
acentuados em comparação com as outras amostras. Assim sendo, pode-se afirmar que por
possuírem os dois valores máximos de curtose, o fluxo de água no ensaio de drenabilidade é
mais elevado, pois os espaços existentes entre as asperezas superficiais também são maiores. A
Figura 10 ilustra de maneira esquemática essa relação entre OFT e SKu para uma textura
positiva com SSk maior que zero. A região preenchida pelos pontos corresponde à área molhada
no escoamento.
(a) (b)
Figura 10 - Desenho ilustrativo do fluxo de água em uma superfície com Ku baixo (a) e Ku elevado (b)
6. CONCLUSÕES
Dada a importância da superfície de pavimentos, sua análise não pode ser negligenciada, uma
vez que está direta ou indiretamente relacionada com fatores como segurança viária, consumo
de combustível, desgaste de pneus, entre outros. Para este trabalho, foi verificada a correlação
entre os dados de mancha de areia e drenabilidade para diferentes amostras de pavimento. Além
da verificação da influência da saturação dos corpos de prova no ensaio de drenabilidade,
também foram analisados resultados de ensaios indiretos com a utilização do equipamento
PTA. Constatou-se a relevância de parâmetros como curtose e assimetria para a caracterização
de textura dos pavimentos, e que não podem ser obtidos em ensaios tradicionais como a mancha
de areia e drenabilidade, já mencionados anteriormente.
Por se utilizar de uma série de dados com maior quantidade de amostras ensaiadas, é possível
dizer que a regressão obtida é mais abrangente, porém, só é válida dentro do intervalo de 95%
de confiança. Com um modelo de regressão adequado, pode-se estimar valores de MTD em
situações nas quais seu valor extrapola o limite aceitável e determinado por norma de 0,5 mm
a 1,2 mm (ASTM E965, 1996). Além disso, em casos de inviabilidade de ensaio de mancha de
areia, como a situação de pista molhada, a regressão pode ser utilizada como medida
complementar ao MTD.
Ainda é possível acrescentar que o ensaio de mancha de areia está sujeito a erros do operador
que manipula o disco espalhador e efetua as medidas necessárias. A utilização de técnicas
fotométricas e softwares de tratamento de imagens fornecem valores de área mais precisos.
Além disso, o ensaio de drenabilidade contribui com uma medida direta da capacidade de
drenagem superficial, diferentemente do ensaio de mancha de areia sujeito a erros intrínsecos
como o tamanho finito das esferas (Vieira et al., 2013). Ainda da análise da regressão é possível
afirmar que o modelo não possui diferenças significativas do caso saturado para o caso não
saturado.
Dos ensaios de macrotextura realizados para esse trabalho, a mancha de areia não fornece uma
análise completa da superfície do pavimento, pois a partir do valor médio de MTD não é
possível inferir se a textura é positiva ou negativa. Da regressão, constata-se que a partir do
conceito físico de drenabilidade é possível compreender a relevância da orientação da textura
do pavimento, uma vez que possibilitou a identificação e explicação de pontos relativamente
afastados da reta de regressão. Moore (1975) indica a importância desses parâmetros ao
adicionar em sua equação variáveis como o perímetro médio dos canais da macrotextura (P) e
o número de asperezas por unidade de área (N’). Portanto, diferentemente do ensaio de mancha
de areia, o drenômetro pode ser utilizado para diagnosticar resultados imprevistos juntamente
com uma análise mais detalhada de textura que o equipamento PTA é capaz de fornecer.
Vale ressaltar que o modelo de regressão obtido é válido para as condições de ensaio deste
trabalho. O uso de um drenômetro com outras dimensões, por exemplo, exige a construção de
outro modelo. De maneira recíproca, a equação proposta pela norma (ASTM E2380, 2005), não
é válida para este trabalho, devido à utilização de outro tipo de drenômetro (Vieira et al., 2013).
Isto pode ser explicado pela constante 𝐾𝑜𝑓𝑚 da equação de Moore (1975) correspondente à
constante do instrumento, que varia de um equipamento para outro.
Assim, observa-se que devido às limitações intrínsecas existentes nos ensaios de mancha de
areia e drenabilidade, uma caracterização mais detalhada da superfície torna-se necessária.
Apesar da correlação evidente entre os dados desses dois ensaios, a utilização de parâmetros
como curtose e assimetria, obtidos da análise indireta da textura, pode contribuir para a
elaboração de modelos mais precisos e realísticos.
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André Kazuo Kuchiishi ([email protected])
Sérgio Copetti Callai ([email protected])
Tiago Vieira ([email protected])
Liedi Légi Bariani Bernucci ([email protected])