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ESTUDO DA QUALIDADE DE VIDA NUMA
POPULAÇÃO DE OBESOS DA CONSULTA
MULTIDISCIPLINAR DE OBESIDADE DO
HOSPITAL SANTO ANTÓNIO - CENTRO
HOSPITALAR DO PORTO
Porto, junho de 2012
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
I
ESTUDO DA QUALIDADE DE VIDA NUMA POPULAÇÃO DE
OBESOS DA CONSULTA MULTIDISCIPLINAR DE OBESIDADE DO
HOSPITAL SANTO ANTÓNIO - CENTRO HOSPITALAR DO PORTO
Ana Isabel Martins Lopes
Aluna do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR
Rua de Jorge Viterbo Ferreira, n.º 228; 4050-313 Porto
Dissertação realizada no âmbito da disciplina Dissertação /
Projeto / Relatório de Estágio do Mestrado Integrado em Medicina
Sob a orientação da Professora Doutora Helena Cardoso,
com coorientação da Professora Doutora Isabel Silva
Porto, junho de 2012
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II
ESTUDO DA QUALIDADE DE VIDA NUMA POPULAÇÃO DE
OBESOS DA CONSULTA MULTIDISCIPLINAR DE OBESIDADE DO
HOSPITAL SANTO ANTÓNIO - CENTRO HOSPITALAR DO PORTO
Ana Lopes 1, Helena Cardoso
2, Isabel Silva
3
1 – Aluna do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina do Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto
2 – Professora associada do ICBAS. Chefe de Serviço do Serviço de
Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar do Porto
3 – Professora associada da Universidade Fernando Pessoa
Correspondência:
Ana Isabel Martins Lopes
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
Universidade do Porto
Rua de Jorge Viterbo Ferreira, n.º 228
4050-313 Porto
Telefone: 220 428 000
E-mail: [email protected]
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III
Resumo
OObbjjeettiivvooss:: A obesidade é um problema crescente que acarreta danos na qualidade de vida
(QdV). Pretendemos descrever a QdV dos doentes seguidos na consulta multidisciplinar de
obesidade do Hospital Santo António – Centro Hospitalar do Porto (HSA-CHP), analisar a sua
relação com o índice de massa corporal (IMC) e comparar os resultados da QdV com os da
população portuguesa.
TTiippoo ddee eessttuuddoo:: Estudo transversal.
LLooccaall:: HSA-CHP.
PPooppuullaaççããoo:: Neste estudo incluímos 232 indivíduos, 85,34% dos quais do sexo feminino,
com idade média de 43,47 anos (DP=10,89) e IMC médio de 39,81 kg/m2 (DP=7,63).
MMééttooddooss:: Procedemos à análise da primeira avaliação realizada no âmbito do projeto:
Psychosocial variables predictor of good adjustment to weight reduction in morbid obesity persons
(PTDC/PSI/73175/2006). A avaliação da QdV foi realizada com o questionário SF-36. Os
indivíduos foram agrupados tendo em conta o sexo, o grau de obesidade e a realização de
cirurgia. Efetuamos análises de correlação entre a QdV e o IMC. Comparamos a QdV do grupo em
estudo com a da população portuguesa.
RReessuullttaaddooss:: A realização de cirurgia melhora o modo como os doentes avaliam a sua vida
em relação com há 1 ano. A obesidade acarreta danos maiores na Saúde Mental para os doentes
do sexo feminino. Os doentes que foram submetidos a cirurgia apresentam melhor HRQOL que os
que não foram submetidos. A HRQOL distribui-se de modo distinto, por graus de obesidade, para
os dois componentes do SF-36 e para quase todas as dimensões (exceção para a dimensão
Saúde Mental), quando IMC ≥ 40 Kg/m2. O IMC correlaciona-se negativamente com o
Componente Físico e com o Mental, bem como com a maioria das dimensões do SF-36. Os
doentes apresentam pior QdV do que a população em geral, à exceção do Funcionamento Social
no sexo feminino e do Funcionamento Social e Desempenho Emocional no masculino, para os
quais a diferença não é significativa. Os indivíduos que realizaram cirurgia não diferem da
população portuguesa no Funcionamento Social nem no Desempenho Emocional.
CCoonncclluussõõeess:: A obesidade tem impacto negativo em vários fatores da QdV, o qual é
atenuado após a realização de cirurgia. Os doentes com obesidade apresentam pior QdV que os
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indivíduos da população portuguesa em geral, contudo o grupo submetido a cirurgia não difere da
população portuguesa no que respeita ao Funcionamento Social e ao Desempenho Emocional.
PPaallaavvrraass--cchhaavvee:: Obesidade; Qualidade de vida relacionada com a saúde; SF-36.
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V
Abstract
OObbjjeeccttiivveess:: Obesity is an increasing problem that impairs quality of life. Here we aim to
characterize the quality of life of patients, who are followed at obesity appointments at Santo
António Hospital – Oporto Hospital Center; additionally we aim to access if there is a relation
between quality of life and body mass index (BMI) in these individuals and compare the results with
data regarding to Portuguese population.
SSttuuddyy ddeessiiggnn:: Cross-sectional study.
LLooccaall:: Santo António Hospital – Oporto Hospital Center
SSttuuddyy PPooppuullaattiioonn:: Our database is composed by 232 outpatients, from which 85,34% are
female, with a mean age of 43,47 years (SD=10,89) and the mean BMI is 39,81 kg/m2 (SD=7,63).
MMeetthhooddss:: This analysis takes into account the data provided from the first of three
evaluations of a longitudinal study in the context of the project: Psychosocial variables predictor of
good adjustment to weight reduction in morbid obesity persons (PTDC/PSI/73175/2006). The
quality of life of the study population was accessed by the SF-36 questionnaire. The patients were
grouped according to their gender, age and obesity class. Data analysis was made by correlations
between quality of life and BMI. Additionally the quality of life of the study group was compared with
data from the Portuguese population.
RReessuullttss:: Surgery improves the way patients evaluate their lives in comparison to one year
before. Obesity impairs mainly the Mental Health in the patients of the female gender. The patients
submitted to surgery present improvement of the HRQOL than those that do not underwent
surgery. The HRQOL presents a different distribution in the obesity classes, in the two components
of the SF-36, and for almost all of its associated dimensions (except for de Mental Health
dimension), when BMI ≥ 40 Kg/m2. The BMI negatively correlates with both Physical and Mental
Components, as well as with the majority of the dimensions of the SF-36. The patients show worse
quality of life than the general Portuguese population, except for Social Function in the female
gender, and in both the Social Functioning and Role-emotional in the male gender, which do not
present significant differences. Finally, the patients that underwent surgery do not differ from the
general Portuguese population in the Social Functioning neither in the Role-emotional.
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CCoonncclluussiioonnss:: Obesity has a negative impact on the several factors of quality of life, which are
attenuated by submission to surgery. Obese patients in our study present worse quality of life than
general Portuguese population. Nevertheless, the ones that underwent surgery do not differ from
the general Portuguese population in what concerns to the Social Functioning and to the Role-
emotional.
KKeeyy WWoorrddss: Obesity; Health-related quality of life; SF-36.
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VII
Lista de Abreviaturas
HRQOL Health-related quality of life (Qualidade de vida relacionada com a saúde)
HSA – CHP Hospital Santo António – Centro Hospitalar do Porto
IMC Índice de massa corporal
OMS Organização Mundial de Saúde
QdV Qualidade de Vida
SF-36 Short Form-36
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Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o excesso de peso e a obesidade como
uma acumulação anormal ou excessiva de gordura, que pode prejudicar a saúde (1).
A obesidade é um tema fulcral na nossa sociedade devido à sua atualidade, prevalência e
importante morbimortalidade. De acordo com os estudos efetuados, o excesso de peso e a
obesidade têm aumentado globalmente, inclusive nos países em vias de desenvolvimento, onde
era uma patologia rara (2, 3). Segundo dados da OMS, em 2011, verificavam-se valores
superiores ao dobro dos registados em 1980, sendo a 5ª causa de morte a nível mundial (1).
Em Portugal, o excesso de peso e a obesidade têm aumentado Estas patologias são mais
prevalentes em indivíduos do sexo masculino e em grupos socioeconómicos e educacionais
baixos. Além disso, a prevalência aumenta até aos 50-59 anos, e depois tende a diminuir
ligeiramente (4). Em 2005/6, 36,4% dos indivíduos com mais de 18 anos tinham excesso de peso
e 15,1% eram obesos, atingindo 55,7% dos indivíduos de sexo masculino e 47,7% do sexo
feminino (4, 5). A obesidade entre crianças e adolescentes também tem aumentado, atingindo
valores superiores a 30% em alguns estudos (6).
Considerada uma doença crónica, a obesidade provoca ou acelera o desenvolvimento de
muitas doenças e resulta de uma série de fatores genéticos, metabólicos, comportamentais e
ambientais. Está associada ao aumento significativo do risco de desenvolver comorbilidades,
como diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidémia, doença cardíaca isquémica, síndrome da
apneia obstrutiva do sono, osteoartrite, algumas neoplasias, entre outras (7). Esta patologia pode
causar morte prematura ou incapacidade grave, acarretando elevados custos para o sistema
nacional de saúde (8, 9). O seu tratamento tem por base a modificação do comportamento
alimentar e o aumento da atividade física, sendo muitas vezes necessário tratamento
comportamental, como por exemplo, sessões de aconselhamento. No entanto, muitas vezes estas
medidas são insuficientes, sendo necessário recorrer à terapia farmacológica ou em último
recurso, se o índice de massa corporal (IMC) for maior ou igual a 40 Kg/m2, ou maior ou igual a 35
Kg/m2 com comorbilidade grave, à terapia cirúrgica (cirurgia bariátrica). Este procedimento é
suportado por alguns estudos que mostram de facto uma melhoria da QdV nos doentes operados,
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para além da diminuição muito significativa do peso corporal (10, 11). Não obstante as soluções
apresentadas, o tratamento da obesidade é complexo e habitualmente multidisciplinar (12-14).
A obesidade é também uma condição que acarreta um grande estigma social (15). Associa-
se a inúmeras consequências psicossociais, que se relacionam com os valores da cultura atual.
Um indivíduo com obesidade é visto como alguém pouco saudável, que não se enquadra nos
padrões de beleza atuais, podendo mesmo passar por uma culpabilização, discriminação e certa
desvalorização do indivíduo enquanto pessoa (15, 16).
Atendendo a todas as consequências da obesidade supracitadas, não é de estranhar que
inúmeros estudos demonstrem que os indivíduos com obesidade experimentem prejuízos
significativos a nível da qualidade de vida (QdV), devido a esta condição (9, 14, 17-19).
O conceito de QdV surge do interesse em avaliar a saúde, estando estas noções
intimamente relacionadas, uma vez que, a saúde, além de ser uma das mais importantes
dimensões da QdV, contribui para a sua melhoria; por sua vez, a QdV é fundamental para que um
indivíduo ou comunidade tenha saúde. De facto, ao longo dos anos é indiscutível que grandes
mudanças nos padrões de doenças e causas de morte se deveram a alterações publico-sanitárias
com melhorias da QdV, como por exemplo, o controlo de algumas doenças infetocontagiosas e
parasitárias. Além disso, é inegável que as doenças têm um forte componente ambiental que se
prende com as condições de vida da pessoa ou da sociedade, ou seja, com a sua QdV (20).
Ainda que inicialmente tivesse um significado meramente económico, a QdV assumiu-se,
devido à evolução das sociedades, como um conceito multidimensional e subjetivo. Um grupo de
estudo da OMS definiu QdV como "a perceção do indivíduo da sua posição na vida no contexto da
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expetativas,
padrões e preocupações" (21).
Para clarificar esta expressão e a operacionalizar, facilitando a sua avaliação, criou-se o
termo qualidade de vida relacionada com a saúde (“health-related quality of life” – HRQOL). Este
pode ser definido como a extensão em que uma patologia ou tratamento afetam o bem-estar
físico, emocional e/ou social de um indivíduo (22). Esta definição incorpora os dois conceitos mais
profusamente aceites no que refere à definição QdV: a multidimensionalidade e a subjetividade
(21).
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A multidimensionalidade da HRQOL é um componente que se refletiu em vários trabalhos e
que se traduz nos questionários que visam a sua avaliação. Assumem-se como suas principais
dimensões a saúde física, mental e social (divididas em vários subdomínios) (23). A subjetividade
prende-se com o facto de indivíduos com padrões objetivos de doença similares apresentarem
grandes discrepâncias no que refere à HRQOL (24). Daqui podemos inferir que a HRQOL deve
basear-se em autoavaliações.
Pais Ribeiro aponta um padrão universal para os estudos de QdV: “os indivíduos do sexo
masculino têm melhores níveis de perceção de saúde do que os do sexo feminino, quer sejam do
grupo doente ou não doente, os não doentes têm melhores níveis do que os doentes, e os mais
novos melhores resultados que os mais velhos, quer pertençam ao grupo não doente ou doente”
(25).
Os questionários acerca do estado de saúde geral são aplicáveis a todas as populações e
podem ser respondidos por indivíduos com e sem doença, permitindo estabelecer referências para
comparação entre populações. É exemplo deste tipo de questionários o Short Form-36 (SF-36). A
avaliação da HRQOL é complexa e levanta ainda algumas questões. No entanto, existem
atualmente diversos questionários validados e confiáveis que avaliam a perceção da saúde e a
HRQOL, perante uma doença ou tratamento específico (25).
Os estudos realizados até à data, que consideram indivíduos com obesidade mostram,
geralmente, que a obesidade e a HRQOL variam na razão inversa, existindo diferenças
significativas entre as classes de obesidade (14). Existem, contudo, alguns estudos em que
apenas se verificam diferenças em algumas dimensões avaliadas (26, 27).
De acordo com as evidências, o sexo feminino tem maiores danos na HRQOL devido à
obesidade, do que o sexo masculino (9, 18, 28, 29). Note-se que existem estudos que mostram
que o excesso de peso nos homens, pode até associar-se a uma pontuação mais elevada (melhor
HRQOL) em algumas escalas (9, 30). Outro estudo mostra também que os homens tendem a
tentar perder peso devido à diminuição da HRQOL, nomeadamente pela limitação das atividades
físicas, causada pelo excesso de peso. Para as mulheres, ainda que exista efetivamente uma
HRQOL diminuída, o seu principal motivador para a perda de peso é a insatisfação com a imagem
corporal (31, 32).
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A relação da HRQOL com a idade em indivíduos com excesso de peso ou obesidade não é
ainda clara. Na realidade, há autores que não encontraram associação (28), outros verificaram
que o aumento da idade diminui a HRQOL (30), à exceção de indivíduos com mais de 65 anos
(33), e outros ainda encontraram uma correlação positiva com os componentes mentais e negativa
com os físicos (18).
Os estudos sugerem, contudo que a HRQOL pode estar mais associada à perda de peso e
alteração dos hábitos de vida do que ao peso atual (26, 27, 34, 35). Note-se que a diferença entre
o peso atual e o desejado mostrou ser melhor preditor que o IMC na HRQOL (Componente Físico
e Mental). Muennig et al concluem que os indivíduos com peso normal são os mais insatisfeitos
com o seu peso, pelo que o efeito da obesidade na HRQOL passa pelo modo como o próprio
interpreta o seu peso (29).
Note-se contudo, que em contraste com as associações claras entre a obesidade e o
Componente Físico, a relação com o Componente Mental é, em geral, inconsistente e fraca (9, 18,
19). Esta parece tornar-se significativa apenas na presença de comorbilidades (36). A dimensão
mais afetada pela obesidade é, na maioria das vezes, o Funcionamento Físico (19).
O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação intitulado
Psychosocial variables predictor of good adjustment to weight reduction in morbid obesity persons
(PTDC/PSI/73175/2006), sendo a base de dados sua pertença. Este projeto, iniciado em 2006, é
prospetivo e longitudinal. Tem por base a autoavaliação dos participantes, por meio de resposta a
um questionário na fase de recrutamento, após 6 meses e ao fim de 12 meses.
Os objetivos a que nos propomos são conhecer e descrever a QdV de uma amostra de
indivíduos obesos da consulta multidisciplinar de obesidade do Hospital Santo António – Centro
Hospitalar do Porto (HSA – CHP). Para tal pretendemos:
1. Descrever a QdV dos doentes da consulta de obesidade do HSA – CHP;
2. Analisar se existe uma relação entre a QdV e o IMC avaliado nos indivíduos
supracitados;
3. Comparar a QdV dos sujeitos referidos no ponto 1 com valores normativos obtidos do
estudo da população portuguesa em geral.
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Material e Métodos
Amostra
A população em estudo consiste em 232 indivíduos (198 mulheres e 34 homens, com idade
média de 43,47 anos (DP=10,89; Mínimo=17; Máximo=65) e IMC médio de 39,81 Kg/m2
(DP=7,63; Mínimo=20,9; Máximo=60,9).
A seleção dos indivíduos não teve em consideração se estes já tinham realizado algum tipo
de tratamento para a obesidade, pelo que, incluímos indivíduos já tratados e que, no momento da
avaliação, apresentavam peso normal.
Instrumentos
A avaliação da QdV baseou-se na aplicação de um inquérito validado para a língua
portuguesa: o SF-36. Este é um instrumento genérico de avaliação da perceção do estado de
saúde. É reprodutível, válido, sensível, credível e enquadra-se com a definição multidimensional
de QdV da OMS. No processo de validação demonstrou-se validade de construto, validade interna
e consistência interna elevadas (25), com valores dentro da média dos obtidos para outros países
(37). O SF-36 é constituído por 36 itens de resposta numérica, agrupados em 2 componentes e 8
dimensões: Componente Físico (Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Dor Corporal e
Saúde Geral) e Componente Mental (Vitalidade, Funcionamento Social, Desempenho Emocional e
Saúde Mental). Cada dimensão é avaliada numa escala de 0 (disfunção máxima) a 100 (ausência
de disfunção) (25).
Adicionalmente, foi efetuado um questionário sociodemográfico para a avaliação do sexo,
da idade, do estado civil e da escolaridade.
O IMC, calculado pela fórmula de Quetelet – IMC=Kg/m2 – é o modo mais útil e frequente de
realizar uma avaliação ponderal. Este tem por base a altura e o peso. Considera-se que existe
excesso de peso se IMC ≥ 25 Kg/m2 e obesidade se IMC ≥ 30 Kg/m
2 (38, 39). Os indivíduos foram
pesados após retirarem os sapatos e as roupas pesadas, no sentido de evitar erros por estimativa
do peso. No momento inicial todos os indivíduos foram pesados no hospital.
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Procedimentos
O recrutamento dos indivíduos ocorreu no âmbito da consulta multidisciplinar de obesidade
do HSA-CHP, aquando da realização da primeira avaliação psicológica. Nesta consulta foi
explicado aos doentes em que consistia e quais os objetivos do estudo, bem como os seus direitos
e deveres.
Os critérios de inclusão determinados foram:
1) Ter, pelo menos, 18 anos ou estar em idade laboral (máximo até à reforma);
2) Manter uma vida ativa;
3) Estar consciente e orientado;
4) Não apresentar défice cognitivo;
5) Aceitar participar e assinar o consentimento informado.
O consentimento informado foi assinado por todos os participantes. O projeto no qual o
estudo se insere respeita os princípios definidos na Declaração de Helsínquia, tendo sido
autorizado pela Comissão de Ética do HSA - CHP.
No estudo apresentado focamo-nos em algumas questões sociodemográficas e na primeira
avaliação do SF-36, realizada no âmbito do projeto acima referido, o que ocorreu entre outubro
2004 e setembro de 2010.
O tratamento estatístico teve como ponto de partida a análise descritiva dos dados, de
modo a caracterizar a população em estudo quanto à idade, sexo, estado civil, escolaridade, IMC
e realização de cirurgia bariátrica. O teste t de Student para amostras independentes foi realizado
com o objetivo de procurar diferenças, estatisticamente significativas, no que refere às dimensões
e componentes do SF-36 entre os sexos e entre os indivíduos que foram ou não submetidos a
cirurgia (para o sexo feminino). A análise de variância (teste One-Way Anova), com a correção de
Bonferroni, foi realizada com o mesmo objetivo que o último, mas com a variável grau de
obesidade, tendo-se considerado nesta análise apenas os indivíduos com obesidade, agrupados
em grau I (30 Kg/m2 ≤ IMC ≤ 35 Kg/m2), grau II (35 Kg/m2 ≤ IMC ≤ 40 Kg/m2) e grau III (IMC ≥ 40
Kg/m2), de acordo com a definição da OMS (38, 39).
Para avaliar a existência de correlação entre as dimensões e componentes do SF-36 e o
IMC para os valores avaliados realizamos o coeficiente de correlação de Pearson. Realizamos o
mesmo teste tendo em conta se os indivíduos tinham ou não sido submetidos a cirurgia.
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Efetuamos o coeficiente de correlação total entre o IMC e os Componentes do SF-36 para o grupo
em estudo.
Com o objetivo de comparar a média das dimensões e componentes do SF-36 obtida no
processo de validação do questionário para a língua portuguesa - as quais se assumem como
valores normativos para a população portuguesa em geral – com as médias obtidas no presente
estudo, efetuamos o teste t de Student para uma amostra. O mesmo teste foi usado para
comparar a distribuição do grupo em estudo com a da população normativa, para várias variáveis
sociodemográficos.
A análise estatística foi realizada utilizando o software IBM SPSS Statistics® 20, para
Windows.
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Resultados
Descrição da Amostra
No presente estudo analisámos 232 doentes, dos quais 198 (85,34%) são do sexo feminino
e 34 (14,66%) do sexo masculino, com idade média de 43,47 anos (DP=10,89; Mínimo=17;
Máximo=65) e a seguinte distribuição etária: 6,5% entre 15 e 24 anos, 46,1% entre 25 e 44 anos,
47,0% entre 45 e 64 anos e 0,4% entre 65 e 74 anos (1 doente de 65 anos). Em relação ao estado
civil, 156 (67,2%) doentes estão casados ou vivem em união de facto, 20 (8,6%) estão
divorciados/separados, 51 (22,0%) estão solteiros e 5 (2,2%) estão viúvos. A sua escolaridade
média é de 8,01 anos (DP=4,20; Mínimo=2; Máximo=19) (Tabela I).
A maioria dos doentes tem obesidade (91,6% - 173) e destes a maioria tem obesidade grau
III - 53,8% dos doentes. Os indivíduos incluídos que não têm obesidade (8,4%) já se encontravam
em tratamento (tinham realizado cirurgia bariátrica) e já tinham perdido peso à data da primeira
avaliação psicológica. O IMC médio dos doentes incluídos no estudo é 39,81 Kg/m2 (DP=7,63;
Mínimo=20,90; Máximo=60,90) (Tabela II). Em média, os indivíduos têm diagnóstico de obesidade
há 12,74 anos (DP=10,42; Mínimo=3; Máximo=57).
Dos indivíduos em estudo, 36,2% (84 indivíduos) tinha sido submetido a cirurgia no
momento da primeira avaliação, enquanto 50,9% (118 indivíduos) não tinha sido submetido a
cirurgia. Os restantes (12,9% - 30 indivíduos) não tinham informação relativa a esta variável.
Os indivíduos que foram submetidos a cirurgia têm idade média de 44,08 anos (DP=9,32;
Mínimo=20; Máximo=64), destes 95,2% (80 indivíduos) são do sexo feminino, e 4,8% (4
indivíduos) são do sexo masculino. Por sua vez, aqueles que não foram submetidos a cirurgia têm
idade média de 42,61 anos (DP=11,41; Mínimo=18; Máximo=63), e quanto à distribuição por
sexos, 80,5% (95 indivíduos) são do sexo feminino e 19,5% (23 indivíduos) do sexo masculino.
A realização prévia de cirurgia interfere na distribuição pelas classes de IMC. Nos indivíduos
que foram submetidos a cirurgia verificamos que o IMC médio é 35,88 kg/m2 (DP=7,35;
Mínimo=20,90; Máximo=56,70), sendo a classe de IMC com mais indivíduos a de obesidade grau I
(25 indivíduos, 30,9%). Por sua vez, o IMC médio dos doentes que não realizaram cirurgia é de
42,74 kg/m2 (DP=6,46; Mínimo=29,00; Máximo=60,90), com 64,2% (68 indivíduos) a apresentar
obesidade grau III. (Tabela III)
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
9
Tabela I – Descrição sociodemográfica da amostra em estudo.
N Média Desvio
Padrão
Mínimo /
Máximo
Frequência
(%)
Idade Masculino 34 41,85 13,19 17 / 62 14,66
Feminino 198 43,74 10,45 18 / 65 85,34
Escolaridade Masculino 34 8,26 4,00 4 /17
Feminino 198 7,97 4,24 2 /19
Estado Civil
Ma
scu
lino Casado/União de Fato 21 61,76
Divorciado/Separado 1 2,94
Solteiro 11 32,35
Viúvo 1 2,94
Fem
inin
o Casado/União de Fato 135 68,18
Divorciado/Separado 19 9,60
Solteiro 40 20,20
Viúvo 4 2,02
Tabela II – Distribuição por classe de IMC da amostra global e de acordo com a realização de cirurgia
Amostra global Realizaram cirurgia
Sim Não
N
Frequência (%)
N Frequência
(%) N
Frequência (%)
Baixo peso 0 0 0 0 0 0
Peso normal 3 1,6 3 3,7 0 0
Excesso de peso 13 6,9 12 14,8 1 0,9
Obesidade grau I 36 19,0 25 30,8 11 10,4
Obesidade grau II 44 23,3 17 21 26 24,5
Obesidade grau III 93 49,2 24 29,6 68 64,2
Total 189 100,0 81 100,0 106 100,0
Avaliação SF-36
No que respeita à análise do questionário aplicado (SF-36) aos indivíduos em estudo,
verificámos que estes apresentam uma distribuição aproximadamente normal para o item
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
10
Transição de Saúde. Assim, a maioria dos indivíduos (31%) descreve o seu estado geral atual
como igual ao que tinha há um ano.
Dividindo os doentes de acordo com a realização de cirurgia verificamos que para aqueles
que foram submetidos a cirurgia, a curva de distribuição desloca-se no sentido de melhor saúde
em comparação com há um ano (para a esquerda), com 38,1% dos indivíduos a reportar muito
melhor estado geral à data do inquérito, em comparação com há um ano. Por sua vez,
considerando os doentes que não foram submetidos a cirurgia verificámos que a curva de
distribuição normal se desloca, ligeiramente, no sentido contrário (para a direita). Neste grupo a
maioria (34,7%) refere estar aproximadamente igual em comparação com há um ano (Figura 1).
Figura 1 – Histograma relativo ao item de Transição de Saúde, com curva de distribuição normal para
a amostra global e de acordo com a realização ou não de cirurgia. Os números correspondem às diferentes
respostas: muito melhor (1), com algumas melhoras (2), aproximadamente igual (3), um pouco pior (4) e
muito pior (5).
Submetidos a cirurgia Não submetidos a cirurgia
Amostra global
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
11
A análise estatística das dimensões do SF-36 dos doentes em estudo encontra-se na tabela
III. Da análise dos componentes do SF-36, incluindo todos os doentes (Tabela III), obtemos um
valor médio para o Componente Físico de 53,50 (DP=24,36) e para o Componente Mental de
56,42 (DP=21,92).
Tabela III – Análise das dimensões e componentes do SF-36 no grupo global
Fu
ncio
na
me
nto
Fís
ico
(n=
22
5)
De
se
mp
en
ho
Fís
ico
(n=
22
0)
Do
r C
orp
ora
l
(n=
22
6)
Sa
úd
e G
era
l
(n=
22
4)
Vita
lida
de
(n=
22
4)
Fu
ncio
na
me
nto
So
cia
l
(n=
22
4)
De
se
mp
en
ho
Em
ocio
na
l
(n=
22
0)
Sa
úd
e M
en
tal
(n=
22
5)
Co
mp
on
en
te
Fís
ico
(n=
20
6)
Co
mp
on
en
te
Me
nta
l
(n=
21
1)
Média 60,29 56,48 46,22 48,42 43,50 67,24 58,71 54,12 53,50 56,42
Mediana 60,00 62,50 46,50 45,00 45,00 62,50 66,67 56,00 57,63 58,92
Desvio Padrão
27,84 41,25 25,53 22,06 22,73 26,90 42,45 15,38 24,36 21,92
Amplitude 95,00 100,00 90,00 95,00 100,00 100,00 100,00 68,00 90,00 81,88
Mínimo 5,00 0,00 0,00 5,00 0,00 0,00 0,00 16,00 7,50 10,38
Máximo 100,00 100,00 90,00 100,00 100,00 100,00 100,00 84,00 97,50 92,25
A média da dimensão Saúde Mental obtida para o sexo masculino (60,12) é superior à
obtida para o sexo feminino (53,05), sendo a diferença estatisticamente significativa (p<0,05).
Entre os sexos não se verificam diferenças significativas entre as restantes dimensões, nem entre
os componentes do SF-36 (p>0,05). (Tabela IV)
Tabela IV – Análise das dimensões e componentes do SF-36 por sexo
Sexo Funcio
nam
ento
Fís
ico
Desem
penho
Fís
ico
Dor
Corp
ora
l
Saúde G
era
l
Vitalid
ade
Funcio
nam
ento
Socia
l
Desem
penho
Em
ocio
nal
Saúde M
enta
l
Com
ponente
Fís
ico
Com
ponente
Menta
l
Ho
me
m
n 34 33 32 33 34 32 33 34 31 32
Média 62,06 57,58 54,41 52,18 45,88 68,36 70,71 60,12 57,55 61,84
Mediana 60,00 75,00 51,50 50,00 47,50 75,00 100,00 64,00 58,00 67,92
Desvio Padrão 27,14 42,15 25,30 21,84 21,65 28,92 37,04 14,39 25,27 21,19
Mu
lhe
r
n 191 187 194 191 190 192 189 191 175 179
Média 59,97 56,28 44,87 47,77 43,08 67,06 56,61 53,05 52,78 55,45
Mediana 60,00 50,00 42,00 45,00 45,00 62,50 66,67 56,00 55,50 56,41
Desvio Padrão 28,02 41,20 25,38 22,09 22,95 26,62 43,07 15,34 24,19 21,97
p 0,688 0,869 0,055 0,290 0,494 0,801 0,078 0,012* 0,335 0,126
* p<0,05
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
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Os doentes que realizaram cirurgia (Tabela V) têm um valor médio para o Componente
Físico de 60,61 (DP=23,75) e para o Componente Mental de 61,22 (DP=22,55); enquanto os
indivíduos que não realizaram cirurgia apresentam, respetivamente, 48,44 (DP=23,24) e 53,03
(DP=20,92). Os valores apresentados diferem, de modo estatisticamente significativo, tanto para o
Componentes Físico (p<0,01), como para o Mental (p<0,05). Observam-se diferenças,
significativamente estatísticas, também, nas dimensões Funcionamento Físico (p<0,01),
Desempenho Físico (p<0,05), Dor Corporal (p<0,05), Saúde Geral (p<0,001), Vitalidade (p<0,01) e
Funcionamento Social (p<0,05), sendo os valores mais elevados (melhor HRQOL) encontrados
nos doentes operados.
Tabela V – Análise das dimensões e componentes do SF-36 de acordo com a realização de cirurgia
Funcio
nam
ento
Fís
ico
Desem
penho
Fís
ico
Dor
Corp
ora
l
Saúde G
era
l
Vitalid
ade
Funcio
nam
ento
Socia
l
Desem
penho
Em
ocio
nal
Saúde M
enta
l
Com
ponente
Fís
ico
Com
ponente
Menta
l
Su
bm
eti
do
s
a c
iru
rgia
n 81 79 82 82 83 82 81 81 75 79
Média 67,41 65,51 51,48 55,51 49,58 73,17 64,20 54,42 60,61 61,22
Mediana 70,00 100 51,00 54,50 50,00 75,00 100,00 56,00 64,25 64,79
Desvio Padrão
24,74 41,27 24,87 22,87 22,80 26,87 42,75 15,65 23,75 22,55
Não
su
bm
eti
do
s
cir
urg
ia
n 115 113 116 113 112 115 113 115 106 106
Média 56,48 51,33 42,67 42,96 39,42 63,59 56,34 52,94 48,44 53,03
Mediana 60,00 50,00 41,00 40,00 40,00 62,50 66,67 52,00 45,50 52,04
Desvio Padrão
28,67 39,93 25,00 20,26 21,72 26,57 41,80 15,85 23,24 20,92
p 0,005**
0,018* 0,015
* 0,0001
*** 0,002
** 0,014
* 0,203 0,518 0,001
** 0,012
*
* p<0,05¸** p<0,01; ***p<0,001
Considerando as doentes do sexo feminino verificamos que as que foram submetidas a
cirurgia bariátrica (Tabela VI) apresentam melhor HRQOL que as que não foram. As dimensões
que diferem entre estes dois grupos, são as mesmas que para o grupo global, apesar de o grau de
significância estatística ser superior neste caso. O mesmo sucede com a análise dos componentes
do SF-36: Componente Físico (p<0,001) e Componente Mental (p<0,01). As dimensões
Desempenho Emocional e Saúde Mental, tal como para o grupo global não apresentam
diferenças.
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
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Não se compararam as médias de acordo com a realização de cirurgia para o sexo
masculino, uma vez que o número de indivíduos da amostra (n=4), é muito pequeno para se obter
resultados com significância estatística.
Tabela VI – Análise das dimensões e componentes do SF-36 de acordo com a realização de cirurgia para
doentes do sexo feminino
Sexo Feminino Fu
ncio
na
me
nto
Fís
ico
De
se
mp
en
ho
Fís
ico
Do
r C
orp
ora
l
Sa
úd
e G
era
l
Vita
lida
de
Fu
ncio
na
me
nto
So
cia
l
De
se
mp
en
ho
Em
ocio
na
l
Sa
úd
e M
en
tal
Co
mp
on
en
te
Fís
ico
Co
mp
on
en
te
Me
nta
l
Submetidas a cirurgia
n 77 75 78 78 79 78 77 77 71 75
Média 67,27 65,67 50,87 54,91 49,56 72,76 63,20 54,39 60,31 60,89
Mediana 75,00 100,00 51,00 51,00 50,00 75,00 100,00 56,00 64,25 64,38
Desvio Padrão
25,02 41,26 25,10 22,82 23,05 27,08 43,12 15,83 23,89 22,72
Não submetidos a cirurgia
n 92 90 93 91 89 93 90 92 84 84
Média 54,46 48,33 40,23 41,21 37,25 62,23 51,85 51,09 45,94 50,30
Mediana 57,50 50,00 41,00 40,00 40,00 62,50 50,00 52,00 42,88 49,27
Desvio Padrão
28,74 39,45 24,27 19,61 21,52 26,19 42,43 15,36 22,36 20,39
p 0,002**
0,007**
0,006**
0,0001***
0,0001***
0,011* 0,089 0,172 0,0001
*** 0,002
**
* p<0,05¸** p<0,01; ***p<0,001
Considerando as categorias de obesidade (Tabela VII) definidas pela OMS (38), verificamos
que existem diferenças estatisticamente significativas de distribuição entre os grupos para o
Componente Físico (p<0,001)e para o Componente Mental (p<0,01). Note-se que as diferenças de
distribuição encontradas, para ambos os componentes, têm significância estatística apenas
quando se compara o grupo com obesidade grau III com os restantes graus (I e II).
No que refere às dimensões do questionário, a distribuição entre os grupos é distinta, com
significância estatística, nas seguintes dimensões: Funcionamento Físico (p<0,001), Desempenho
Físico (p<0,01), Dor Corporal (p<0,05), Saúde Geral (p<0,01), Vitalidade (p<0,01), Funcionamento
Social (p<0,05) e Desempenho Emocional (p<0,05). Ou seja, apenas a distribuição dos dados
relativos à Saúde Mental não mostra uma distribuição heterogénea de respostas atendendo ao
grau de obesidade.
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
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Para as dimensões Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Saúde Geral e Vitalidade
os resultados obtidos seguem o padrão apresentado pelos componentes do SF-36. Ou seja, o
valor obtido é menor no grupo com obesidade grau III e este difere, de modo estatisticamente
significativo dos outros graus (I e II), os quais não diferem entre si com significância estatística. As
dimensões Dor Corporal e Funcionamento Físico distinguem-se das restantes, uma vez que as
diferenças detetadas são significativamente estatísticas, apenas quando se compara os doentes
com obesidade grau III com os de obesidade grau I. Por fim, o Desempenho Emocional mostra
diferença de distribuição global entre os grupos (p<0,05), mas não quando se comparam graus
obesidade específicos entre si.
Tabela VII – Análise das dimensões e componentes do SF-36 por grau de obesidade
Grau de obesidade
Funcio
nam
ento
Fís
ico
Desem
penho
Fís
ico
Dor
Corp
ora
l
Saúde G
era
l
Vitalid
ade
Funcio
nam
ento
Socia
l
Desem
penho
Em
ocio
nal
Saúde M
enta
l
Com
ponente
Fís
ico
Com
ponente
Menta
l
I I
n 34 32 34 35 35 34 35 34 30 34
Média 68,97 67,97 52,12 56,46 49,43 74,73 64,76 53,41 63,16 61,32
Mediana 75,00 75,00 51,00 50,00 50,00 75,00 100,00 52,00 66,75 63,25
Desvio Padrão
22,72 39,26 22,26 20,21 20,64 21,87 42,74 15,57 19,86 19,67
III
n 40 43 43 43 41 44 43 43 39 41
Média 68,75 69,77 50,02 51,70 49,01 70,17 67,44 55,81 59,30 60,73
Mediana 75,00 100,00 51,00 50,00 50,00 68,75 100,00 60,00 64,00 66,79
Desvio Padrão
24,36 39,17 23,89 19,49 23,11 26,31 38,13 15,09 21,76 22,10
IIII
n 93 89 92 89 90 91 87 90 85 82
Média 51,08 44,94 39,90 41,52 37,22 61,26 49,81 51,87 44,75 50,09
Mediana 50,00 25,00 41,00 35,00 40,00 62,50 33,33 52,00 40,50 48,90
Desvio Padrão
27,85 40,80 25,26 22,37 20,81 21,20 43,98 15,95 23,58 21,39
F 9,58 7,35 4,39 7,48 6,49 3,94 3,145 0,929 10,195 5,186
p 0,0001***
0,001**
0,014* 0,001
** 0,002
** 0,021
* 0,046
* 0,397 0,0001
*** 0,007
**
* p<0,05¸** p<0,01; ***p<0,001
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
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Relação entre QdV e IMC
A correlação das dimensões e componentes do SF-36 com o IMC para os valores avaliados
da população em estudo, encontram-se sumariados na tabela VIII.
Para os níveis de IMC avaliados (Tabela VIII) encontra-se uma relação negativa entre o IMC
e os componentes do SF-36, com significância estatística tanto para o Físico (r= -0,342; p<0,001)
como para o Mental (r= -0,205; p<0,01). Os valores de correlação total entre o IMC avaliado e o
Componente Físico e Mental encontram-se na figura 2, estando representada a correlação para a
amostra total e por sexos. Daí vemos que o IMC para os valores avaliados explica 11,7% do
Componente Físico e 4,2% do Componente Mental.
Relativamente às dimensões do SF-36, verifica-se que para os valores de IMC avaliados
existe correlação negativa, estatisticamente significativa, com o Funcionamento Físico (r= -0,331;
p<0,001), o Desempenho Físico (r= -0,239; p<0,001), a Dor Corporal (r= -0,222; p<0,01), a Saúde
Geral (r= -0,324; p<0,001), a Vitalidade (r= -0,283; p<0,001) e o Funcionamento Social (r= -0,175;
p<0,001).
A divisão dos doentes tendo em conta a realização cirurgia (Tabela VIII), mostra que a
correlação nestes grupos é distinta entre eles e do grupo global. Assim, para aqueles que foram
submetidos a cirurgia o IMC para os valores avaliados correlaciona-se, com significância
estatística, negativamente com o Funcionamento Físico (r= -0,345; p<0,01), a Dor Corporal (r= -
0,297; p<0,01), a Saúde Geral (r= -0,315; p<0,01), a Vitalidade (r= -0,221; p<0,05) e o
Componente Físico (r= -0,323; p<0,01). Por sua vez, no grupo que não foi submetido a cirurgia
verifica-se que o IMC se correlaciona, com significância estatística, negativamente apenas com o
Funcionamento Físico (r= -0,219; p<0,05) e Componente Físico (r= -0,213; p<0,05), ou seja,
quanto maior o valor de IMC pior a QdV para os fatores referidos.
O ajuste das correlações apresentadas para a idade altera a relação do grupo global com o
Desempenho Emocional, a qual passa a ser estatisticamente significativa (r= -0,116; p<0,05) e a
relação do grupo submetido a cirurgia com a dimensão vitalidade, a qual neste caso deixa de ter
significância estatística. Nos restantes parâmetros do SF-36 apenas existem alterações em níveis
de significância estatística.
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
ddoo HHSSAA –– CCHHPP
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Tabela VIII – Correlação do IMC com as dimensões e componentes do SF-36
Fu
ncio
na
me
nto
Fís
ico
De
se
mp
en
ho
Fís
ico
Do
r C
orp
ora
l
Sa
úd
e G
era
l
Vita
lida
de
Fu
ncio
na
me
nto
So
cia
l
De
se
mp
en
ho
Em
ocio
na
l
Sa
úd
e M
en
tal
Co
mp
on
en
te
Fís
ico
Co
mp
on
en
te
Me
nta
l
IMC doentes
n 183 179 185 183 182 185 181 183 169 173
r a -0,331 -0,239 -0,222 -0,324 -0,283 -0,175 -0,142 -0,020 -0,342 -0,205
p 0,0001***
0,001**
0,002**
0,0001***
0,0001***
0,017* 0,056 0,783 0,0001
*** 0,007
**
IMC doentes
operados
n 78 76 79 79 80 79 78 78 72 76
r a -0,345 -0,178 -0,297 -0,315 -0,221 -0,068 -0,057 -0,030 -0,323 -0,092
p 0,002**
0,124 0,008**
0,005**
0,049* 0,550 0,617 0,796 0,006
** 0,431
IMC doentes
não operados
n 103 101 104 102 100 104 101 103 95 95
r a -0,219 -0,185 -0,052 -0.162 -0,184 -0,110 -0,143 0,037 -0,213 -0,147
p 0,026* 0,064 0,599 0,104 0,067 0,265 0,153 0,714 0,038
* 0,155
* p<0,05¸** p<0,01; ***p<0,001
a. Coeficiente de correlação de Pearson
Figura 2 – Gráfico representativo da correlação do IMC avaliado com o componente físico (à
esquerda) e mental (à direita) – representado valor do grupo global (linha preta) e por sexos (sexo feminino –
vermelho; sexo masculino – azul).
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
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17
Comparação da população em estudo com valores normativos da população
portuguesa em geral
No que se refere à totalidade dos doentes envolvidos no estudo, as médias obtidas para os
Componentes do SF-36 (Físico e Mental) são menores para a amostra em estudo, do que para a
população portuguesa em geral, com diferenças estatisticamente significativas (p<0,001). O
mesmo se verifica da comparação das médias de todas as dimensões do mesmo questionário
(p<0,001) (Tabela IX).
Ao considerar separadamente os doentes que foram submetidos a cirurgia e os que não
foram submetidos verificamos que o último grupo, tal como acontece com o grupo global em
estudo, apresenta valores mais baixos que a população portuguesa em geral para todas as
dimensões e para os dois componentes do SF-36, com significância estatística (p<0,01). No
entanto, quando se analisam os doentes que foram submetidos a cirurgia verificamos que estes
não diferem da população portuguesa em geral, relativamente ao Funcionamento Social (p=0,717)
e ao Desempenho Emocional (p=0,238).
A análise dos resultados para os indivíduos do sexo feminino mostra que, os participantes
do estudo, têm valores médios inferiores para quase todas as dimensões do SF-36, quando
comparados com os indivíduos do sexo feminino da população portuguesa em geral. Esta
diferença não atinge significância estatística apenas na dimensão Funcionamento Social (p>0,05).
No que se refere ao sexo masculino, os valores de média dos participantes são também inferiores
aos observados para os indivíduos do sexo masculino da população portuguesa em geral, para a
maioria das dimensões do SF-36. Assim, encontramos diferenças estatisticamente significativas
para as dimensões Funcionamento Físico (p<0,001), Desempenho Físico (p<0,01), Dor Corporal
(p<0,001), Saúde Geral (p<0,01), Vitalidade (p<0,001) e Saúde Mental (p<0,001) e para os dois
componentes do SF-36.
Salvaguarde-se, contudo, que a população em estudo difere, com significância estatística,
da população que teve por base a validação do questionário SF-36 para a língua portuguesa e que
serviu de base para a criação de valores normativos (p<0,05), excetuando a média de idades do
sexo masculino (p>0,05). A distribuição por grupos etários é também diferente, uma vez que no
estudo referido a maioria dos indivíduos é jovem/jovem adulto (entre os 15 e os 44 anos),
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
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18
enquanto neste estudo a população distribui-se maioritariamente pelos jovens adultos/adultos
(entre os 25 e os 64 anos) (p<0,05).
Tabela IX – Comparação da população em estudo com a população portuguesa em geral
n Média amostra Média
população p
Funcionamento Físico Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
225 81
115
34
191
60,29 67,41
56,48
62,06
59,97
80,87
84,99
77,24
0,0001***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
Desempenho Físico Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
220 79
113
33
187
56,48 65,51
51,33
57,58
56,28
76,61
81,37
72,47
0,0001***
0,019
*
0,0001***
0,003**
0,0001***
Dor Corporal Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
226 82
116
32
194
46,22 51,48
42,67
54,41
44,87
71,25
77,53
65,80
0,0001***
0,0001
***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
Saúde Geral Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
224 82
113
33
191
48,41 55,51
42,96
52,18
47,77
63,72
65,34
62,32
0,0001***
0,0001
***
0,003**
0,002**
0,0001***
Vitalidade Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
224 83
112
34
190
43,50 49,58
39,42
45,88
43,08
58,76
63,19
54,88
0,0001***
0,0001
***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
Funcionamento Social Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
224 82
115
32
192
67,24 73,17
63,59
68,36
67,06
74,25
78,64
70,37
0,0001***
0,717
0,0001***
0,053
0,086
Desempenho Emocional Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
220 81
113
33
189
58,71 64,20
56,34
70,71
56,61
69,84
76,13
64,39
0,0001***
0,238
0,001**
0,407
0,014*
Saúde Mental Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
225 81
115
34
191
54,12 54,42
52,94
60,12
53,05
66,21
70,52
62,42
0,0001***
0,0001
***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
Componente Físico Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
206 75
106
31
175
53,50 60,61
48,44
57,55
52,78
73,11
77,31
69,46
0,0001***
0,0001
***
0,0001***
0,0001***
0,0001***
Componente Mental Submetidos a cirurgia
Não submetidos a cirurgia
Masculino
Feminino
211 79
106
32
179
56,42 61,22
53,03
61,84
55,45
67,27
72,12
63,02
0,0001***
0,019
*
0,0001***
0,010*
0,0001***
* p<0,05¸** p<0,01; ***p<0,001
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Discussão
Os resultados obtidos não demonstram diferenças estatisticamente significativas entre os
sexos no que refere aos dois Componentes do SF-36, apesar de estudos publicados apontarem
frequentemente para uma diminuição significativa do Componente Mental nos indivíduos do sexo
feminino (9, 18). De acordo com os nossos dados verificamos apenas que os indivíduos do sexo
feminino apresentam pior Saúde Mental (valores mais baixos) que os do sexo masculino. Contudo,
a Saúde Mental é uma das dimensões que compõe o Componente Mental e, com o qual tem
elevada correlação (entre 0,81 e 0,91), como demonstrado em vários países (25). Em relação aos
dados que obtemos da comparação entre os sexos importa referir que os indivíduos são,
maioritariamente, do sexo feminino (85,34%). Assim, as diferenças encontradas na HRQOL entre
sexos poderiam ser acentuadas caso a distribuição fosse mais homogénea. Contudo, a
distribuição apresentada é concordante com a de outros estudos realizados neste âmbito (26) e, é
de salientar, que tal distribuição não traduz a realidade epidemiológica desta patologia em
Portugal, uma vez que existem mais indivíduos do sexo masculino com obesidade do que do sexo
feminino (4). Esta diferença de distribuição pode dever-se ao facto do sexo feminino valorizar mais
a imagem corporal e mostrar-se frequentemente mais insatisfeita com o seu corpo (29, 31), bem
como ao facto do estigma social ser superior para este género, acarretando maior dano
psicossocial, pior HRQOL, e consequentemente, leva a que estas procurem tratamento com maior
frequência (40). Atendendo ao referido, a nossa amostra não é representativa da população
portuguesa com obesidade, mas provavelmente, da população obesa que procura tratamento.
Assim, seria interessante, em estudos futuros, avaliar a HRQOL numa população representativa
da população portuguesa, de modo a que os conhecimentos advindos desses estudos possam
ajudar numa intervenção mais eficaz no combate do excesso de peso e da obesidade.
A diferença entre os sexos pode, de facto, ser complexa. Num estudo publicado por
Vasiljevic, et al demonstrou-se que os indivíduos do sexo feminino tendem a apresentar prejuízos
na HRQOL para um IMC inferior ao dos do sexo masculino, os quais só demonstram prejuízos na
HRQOL quando o IMC atinge o grau de obesidade (41). Um estudo efetuado em Portugal, com
base num questionário específico para a obesidade – ORWELL-97 – mostrou diferenças
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estatisticamente significativas apenas na subescala que avalia a adaptação psicológica e social
(28).
A distribuição dos doentes de acordo com a cirurgia prévia demonstra que os que foram
submetidos à cirurgia apresentam melhor HRQOL, no referente ao Componente Físico e ao
Mental. A maioria das dimensões do questionário aponta na mesma direção (melhores para os
doentes submetidos a cirurgia), não se verificando diferenças estatisticamente significativas
apenas nas dimensões Desempenho Emocional e Saúde Mental. Note-se que tais dados não
permitem concluir acerca dos efeitos da cirurgia, isto porque apesar de compararmos os dois
grupos, o grupo dos doentes não submetidos a cirurgia não é um grupo de controlo para os que
foram submetidos a cirurgia. Na verdade, alguns dos doentes não submetidos a cirurgia não estão
à espera de o serem e, não são candidatos a tal procedimento. No entanto, estudos publicados
comparativos entre doentes pré-cirurgia e pós-cirurgia, obtêm resultados que apontam no sentido
de que a HRQOL melhora de modo significativo para todas as dimensões do SF-36, após a
realização de cirurgia(10, 11), mas de modo mais evidente nas dimensões que correspondem à
componente física, o que corrobora os nossos dados.
Concluímos também que os graus de obesidade acarretam prejuízos diferentes para a
HRQOL. Nomeadamente, aqueles com obesidade grau III têm menor HRQOL que os com graus
menor (sem significância estatística apenas para a dimensão Saúde Mental). Na realidade, as
principais diferenças encontradas neste estudo são para um IMC ≥ 40 Kg/m2. Estes resultados
assemelham-se aos já descritos por Zwaan et al (18), que também reporta diferenças entre os
graus de obesidade, e para indivíduos com obesidade grau III em comparação com os restantes
graus, apesar de nesse estudo tal só ser significativo para o Componente Físico. Porém, num
estudo mais amplo, Mannucci et al (14), demonstra existirem diferenças entre pessoas com graus
distintos de obesidade em todas as dimensões do SF-36 (e não apenas para o Componente
Físico), bem como na avaliação pelo ORWELL-97, um questionário específico de QdV. De acordo
com os nossos dados, a obesidade acarreta danos para a HRQOL, ou seja, um aumento do IMC,
para os valores avaliados, implica danos tanto para o Componente Físico, como para o Mental.
Num estudo prévio, o IMC apenas se relacionou com o Componente Físico (18). Esta diferença
pode dever-se ao facto de os indivíduos incluídos nesse estudo terem menor IMC e idade,
atenuando a relação. Contudo, quando procedemos à correlação considerando isoladamente os
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indivíduos que foram submetidos a cirurgia e os que não foram submetidos, dos Componentes do
SF-36, apenas o Componente Físico apresenta relação. Tal pode dever-se ao facto de ao
dividirmos os indivíduos, termos grupos mais pequenos, logo é mais difícil inferir em termos de
significância estatística. Além disso, ao dividir os indivíduos estamos a homogeneizar os grupos e
torna-se mais difícil encontrar correlações. Apesar disso, para os indivíduos submetidos a cirurgia
vemos que o IMC para os valores avaliados se relaciona negativamente com a dimensão
Funcionamento Físico, Desempenho Físico, Dor Corporal, Saúde Geral e Vitalidade. Para os que
não foram submetidos a cirurgia a única dimensão que se relaciona com o IMC é o
Funcionamento Físico. Tal diferença pode dever-se ao facto de estes indivíduos terem um IMC
médio maior, que acarrete maiores limitações físicas e, portanto, acabem por valorizar mais este
parâmetro.
Alguns autores mostraram que a presença e o número de distúrbios psicopatológicos são os
fatores mais relevantes associados a uma menor HRQOL, independentemente do grau de
obesidade (14). A perda de peso parece ser também melhor preditor da HRQOL que o IMC,
atendendo a que, de acordo com um estudo publicado por Kolotkin, et al(26), 14% da variabilidade
da HRQOL se deve ao peso perdido. De facto, de acordo com os nossos dados, e para os valores
de IMC avaliados, verificamos que o IMC explica apenas 11,7% do Componente Físico e 4,2% do
Componente Mental.
Os indivíduos envolvidos no nosso estudo reportam pior HRQOL do que a população
portuguesa em geral. Num estudo semelhante, nos EUA, a comparação na avaliação inicial dos
indivíduos com a população normativa do respetivo país, apenas mostrou diferenças em algumas
dimensões (27). As diferenças entre o nosso estudo e o realizado nos EUA, podem dever-se ao
facto de o número de doentes envolvidos ser maior, não termos definido um IMC máximo, e o IMC
médio ser mais elevado, pelo que podem ter sido incluídos no nosso estudo, doentes com danos
mais significativos na HRQOL. Além disso, o facto de, em Portugal, a obesidade ser um problema
menos frequente do que nos EUA pode aumentar os danos sofridos por aqueles que têm a Da
análise comparativa da HRQOL dos doentes que foram submetidos a cirurgia com a população
portuguesa em geral, verificamos que estes grupos não diferem de modo significativo no que
refere ao Funcionamento Social e ao Desempenho Emocional. Note-se que, tal como já referido, a
comparação dos doentes submetidos a cirurgia com os doentes que não foram submetidos a essa
EEssttuuddoo ddaa QQuuaalliiddaaddee ddee VViiddaa nnuummaa PPooppuullaaççããoo ddee OObbeessooss ddaa CCoonnssuullttaa MMuullttiiddiisscciipplliinnaarr ddee OObbeessiiddaaddee
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intervenção, mostra que os primeiros têm melhor Funcionamento Social que os não foram
submetidos a cirurgia, e que não se verificam diferenças entre estes grupos para o Desempenho
Emocional. Estes dados traduzem claramente as melhorias na HRQOL associadas à intervenção
cirúrgica.
Note-se que, tal como já foi dito, o facto dos indivíduos em estudo serem selecionados das
consultas de obesidade pode de certo modo, subestimar a HRQOL, pelo facto dos indivíduos que
procuram tratamento terem menor HRQOL que os que não procuram (40).
Neste estudo, o questionário aplicado foi o SF-36, o qual visa a avaliação da perceção do
estado de saúde geral e, portanto, pode ser menos sensível que os questionários específicos para
a obesidade a detetar mudanças na HRQOL. Contudo, o estudo de adaptação de um questionário
específico – o ORWELL-97 – mostrou que estes conduzem a resultados semelhantes (28).
O estudo apresentado tem algumas limitações. Nomeadamente, os indivíduos em estudo
pertencem apenas a uma área geográfica, uma vez que são os doentes da consulta
multidisciplinar de obesidade de um Centro Hospitalar, pelo que os resultados não podem ser
generalizados aos restantes centros. A amostra em que se baseia este estudo é completamente
composta por pacientes seguidos em consulta (grande maioria tem obesidade), ou seja, doentes
que procuraram tratamento, pelo que não pode ser considerada representativa da população
obesa em geral. Isto porque, excluindo à partida indivíduos que não recorram à terapia estamos a
causar um viés de seleção. De qualquer modo, é importante ter noção da HRQOL destes
indivíduos, saber o que melhora ou piora a sua perceção de QdV, uma vez que são estes que,
mais diretamente, o médico pode ajudar.
A seleção dos indivíduos não teve em consideração a existência de comorbilidades, as
quais são fatores independentes na diminuição da HRQOL(42). Contudo, atendendo a que a
obesidade está fortemente associada, e é um fator potenciador de inúmeras patologias, selecionar
apenas indivíduos sem comorbilidades também levaria a sobrestimar a HRQOL, uma vez que
estaríamos a avaliar uma pequena parte da população com obesidade(7).
Os dados por nós apresentados permitem concluir que a realização ou não de cirurgia altera
favoravelmente, a perceção do individuo em relação ao seu estado de saúde quando comparado
com há um ano. De um modo geral, podemos afirmar que o IMC prejudica, de modo mais
significativo, os doentes do sexo feminino e aqueles com um IMC mais elevado, sendo o dano na
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HRQOL atenuado pela cirurgia (para quase todos os itens). Contudo, de modo mais detalhado,
importa referir que o sexo interfere, de modo significativo, apenas na dimensão Saúde Mental,
com piores resultados para o sexo feminino. A HRQOL distribui-se de modo distinto, por graus de
obesidade, para os dois componentes do SF-36 e para quase todas as dimensões (exceção para
a dimensão Saúde Mental), quando IMC ≥ 40 Kg/m2 em comparação com valores menores. O IMC
relaciona-se de modo negativo com o Componente Físico e com o Mental, bem como com a
maioria das dimensões do SF-36.
Por fim, concluímos que os doentes incluídos neste estudo reportam pior QdV do que os
indivíduos da população portuguesa em geral. Contudo, ao considerar os indivíduos que
realizaram cirurgia, verificamos que estes não diferem, de modo estatisticamente significativo, nas
dimensões Funcionamento Social e Desempenho Emocional da população portuguesa em geral.
Portanto, é evidente que o modo como a obesidade afeta a QdV requer uma investigação mais
ampla e profunda, sendo necessários mais estudos nesta área, para que não só se possa
conhecer melhor a realidade destes doentes, mas também lidar com esta patologia crónica de um
modo mais eficaz e concreto, na tentativa de melhorar a sua QdV, bem como a daqueles que os
rodeiam.
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Agradecimentos
À Professora Doutora Helena Cardoso e à Professora Doutora Isabel Silva por todo o
empenho, apoio, disponibilidade e olhar crítico que permitiram realizar e concluir esta investigação
médica.
Ao Professor José Luís Pais Ribeiro pela disponibilização da base de dados do projeto
“Psychosocial variables predictor of good adjustment to weight reduction in morbid obesity
persons” (PTDC/PSI/73175/2006) e de outros materiais relativos ao mesmo.
Ao Vítor C. Teixeira pelo empenho, apoio e ajuda na obtenção de bibliografia.
Aos meus pais, Albino Lopes e Laurinda Ventura Martins, pelo apoio e paciência durante a
realização de todo o curso e acima de tudo por terem tornado a realização do mesmo possível.
Às minhas irmãs, Carla e Cristina, pela motivação, disponibilidade e conselhos.