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ESTUDO DAS PROJEÇÕES NEUROANATÔMICAS DOS NÚCLEOS CAUDAIS DA RAFE PARA A ÁREA PRESSORA CAUDAL Marcio Vinicius Moreira Vianna Dissertação de Mestrado em Ciências Fisiológicas Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, setembro de 2007.

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  • ESTUDO DAS PROJEÇÕES NEUROANATÔMICAS DOS NÚCLEOS CAUDAIS DA RAFE PARA A ÁREA

    PRESSORA CAUDAL

    Marcio Vinicius Moreira Vianna

    Dissertação de Mestrado em Ciências Fisiológicas

    Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas Universidade Federal do Espírito Santo

    Vitória, setembro de 2007.

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  • ESTUDO DAS PROJEÇÕES NEUROANATÔMICAS DOS NÚCLEOS CAUDAIS DA RAFE PARA A ÁREA

    PRESSORA CAUDAL.

    Marcio Vinicius Moreira Vianna

    Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da

    Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de

    Mestre em Ciências Fisiológicas.

    Aprovada em 18/09/2007 por:

    ___________________________________________________ Prof. Dr. Henrique de Azevedo Futuro Neto - Orientador, UFES.

    _____________________________________________ Prof. Dr. Nyam Florencio da Silva – Co-orientador, UFES.

    _______________________________________________

    Profa. Dra. Maria das Graças Corrêa de Faria, EMESCAM.

    Universidade Federal do Espírito Santo

    Vitória, setembro de 2007.

  • Vianna, Marcio Vinicius Moreira, 1976. Estudo das projeções neuroanatômicas dos núcleos caudais da rafe para a área pressora caudal. [Vitória] 2007 Viii, 71p., 29,7 cm (UFES, M. Sc., Ciências Fisiológicas, 2007) Dissertação, Universidade Federal do Espírito Santo, PPGCF.

  • Agradeço a Deus, por ser a fonte de

    minhas forças nos momentos mais difíceis.

    E dedico este trabalho a minha mãe Olga

    Moreira Vianna, a memória de meu pai

    Dirley Rody Vianna, minha irmã Márcia e

    minhas sobrinhas, que através do amor e

    carinho, me incentivaram e me apoiaram

    na busca do meu crescimento pessoal e

    profissional.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus por sua proteção divina em cada momento de minha vida.

    A minha mãe Olga Moreira Vianna, que sempre me apoiou e incentivou, e que

    sempre acreditou em mim, fazendo-me crer na minha capacidade e competência.

    Agradeço minha irmã Márcia Moreira Vianna da Costa que, apesar da distância que

    nos separa, esteve presente nas decisões mais importantes da minha vida. Sempre

    com amizade e carinho com seu irmão que tanto te ama.

    Ao Prof. Henrique de Azevedo Futuro Neto, ao qual admiro por sua competência e

    amizade, e pela oportunidade para o desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Prof. José Guilherme Pinheiro Pires, pelo seu apoio e amizade, e pela atenção

    demonstrada sempre que sua ajuda era solicitada, sendo no desenvolvimento deste

    trabalho ou não.

    Ao Prof. Nyam Florencio da Silva, companheiro de Laboratório, pela valiosa

    colaboração na realização deste trabalho e por superar minhas “teimosias” com

    paciência e respeito, sendo capaz de me orientar tanto nos assuntos profissionais

    quanto em questões pessoais que levarei comigo por toda a minha vida.

    Aos amigos do laboratório de Neurofisiologia com os quais passei importantes

    momentos de alegria e descontração e, pela confiança e compreensão que recebi

    de cada um.

    A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas,

    pela orientação e incentivo dedicado aos alunos, determinando uma boa formação.

    Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação, amigos, colaborando para o êxito

    deste trabalho.

  • SUMÁRIO

    • FOLHA DE ROSTO i

    • FICHA CATALOGRÁFICA ii

    • DEDICATÓRIA iii

    • AGRADECIMENTOS iv

    • SUMÁRIO v

    • RESUMO vi

    • ABSTRACT viii

    • INTRODUÇÃO 10

    • 1.1 ÁREA ROSTROVENTROLATERAL BULBAR (RVLM) 11

    • 1.2 ÁREA CAUDOVENTROLATERAL BULBAR (CVLM) 13

    • 1.3 ÁREA PRESSORA CAUDAL (CPA) 14

    • 1.4 NÚCLEOS DA RAFE 16

    • 1.5 DESCRIÇÃO DA TÉCNICA DE MARCAÇÃO COM HORSERADISH

    PEROXIDASE (HRP) 25

    • 2. OBJETIVOS 27

    • 2.1. OBJETIVO GERAL 27

    • 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 27

    • 3. MATERIAL E MÉTODOS 28

    • 4. RESULTADOS 32

    •••• 5. DISCUSSÃO 45

    •••• 6. CONCLUSÃO 51

    •••• 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS 53

  • RESUMO

    ESTUDO DAS PROJEÇÕES NEUROANATÔMICAS DOS NÚCLEOS CAUDAIS

    DA RAFE PARA A ÁREA PRESSORA CAUDAL BULBAR.

    Objetivos: Estudos prévios demonstram que as respostas cardiovasculares

    induzidas por estimulação de núcleos caudais da rafe são em parte mediadas pela

    área pressora caudal (CPA). O presente estudo visa identificar a existência de

    projeções eferentes dos núcleos caudais da rafe; Magno (RMg), Pálido (RPa) e

    Obscuro (NRO), para a CPA.

    Métodos: Seis ratos Wistar machos (270-300 g), anestesiados com cloral hidratado

    (0,4g/kg, i.p.), foram posicionados no aparelho estereotáxico para microinjeções

    unilaterais na CPA (1,0mm caudal e 1,7mm lateral ao óbex; 2,0mm da superfície

    encefálica) do traçador axonal retrogrado horseradish peroxidase (HRP; 20%;

    dissolvido em salina; 50nl). Os animais foram mantidos vivos durante dois a três

    dias, tempo necessário para permitir o deslocamento retrogrado intraneuronal do

    traçador. Em seguida os ratos foram profundamente anestesiados e perfundidos

    transcardiacamente com 500 ml de solução salina; 500 ml de paraformaldeido 1% e

    glutaraldeído 1,25% em tampão fosfato 0,1M (pH 7,6). O tronco cerebral foi retirado

    e seccionado (micrótomo de congelamento) com uma espessura de 40 µm e tratado

    com Diaminobenzidina a 0,05%. Esta reação promoveu uma coloração marrom no

    pericário dos neurônios marcados. As secções foram coradas com vermelho neutro

    e os neurônios marcados visualizados com o auxílio do microscópio óptico, sendo

    suas coordenadas analisadas de acordo com o atlas estereotáxico (Paxinos e

    Watson, Acadamic Press, 1986).

    Resultados: Foram encontrados neurônios marcados em todos os três núcleos da

    rafe caudal. A distribuição dos neurônios marcados nos 6 ratos estudados foi a

    seguinte:

    No RMg foram vistos neurônios marcados nos ratos 1, 2 e 3. Totalizando 10

    neurônios marcados.

    No RPa foram vistos neurônios marcados nos ratos 1, 3, 4 e 5. Totalizando 14

    neurônios marcados nestes animais.

  • No NRO foram visto neurônios marcados nos ratos 2, 3, 4, 5 e 6. Totalizando 11

    neurônios marcados.

    No RMg, os neurônios marcados estavam situados de -11,30 mm a -11,60 mm

    caudal ao Bregma (10 neurônios), estando a maioria (7 neurônios) em -11,60 mm,

    com profundidade entre 10,4 mm e 10,7 mm da superfície externa do crânio. O RMg

    foi a região de menor dispersão dos neurônios marcados rostro-caudalmente, visto

    que num total de 10 neurônios marcados, 7 estavam a -11,60 mm caudais ao

    Bregma. No RPa os neurônios foram encontrados entre -11,30 mm e -12,80 mm

    caudal (14 neurônios), com profundidade de 10,8 mm a 11,1 mm, estando o maior

    numero a -11,60 do Bregma (5 neurônios). No NRO os neurônios foram marcados

    entre -11,60 mm a -12,72 mm caudal ao Bregma (11neurônios), 8 destes entre

    -11,60 mm e -11,80 mm, e profundidade variando entre 10,0 mm a 10,8 mm dorso-

    ventral. Apenas um neurônio foi encontrado na profundidade de 10,8 mm no NRO a

    -11,96 mm do Bregma.

    Conclusão: O estudo demonstra a presença de projeções eferentes

    monossinapticas dos núcleos RMg, NRO e RPa para a CPA. E que a grande maioria

    destas projeções, possuem suas origens entre -11,60 mm a -11,80 mm do Bregma.

    Com base nestas evidencias é possível sugerir que estas projeções estejam

    relacionadas, pelo menos em parte, com o controle das atividades cardiovasculares

    em ratos.

  • ABSTRACT

    NEUROANATOMICAL PROJECTIONS FROM THE CAUDAL RAPHE NUCLEI TO

    THE CAUDAL PRESSOR AREA IN THE RAT

    Objective: Previous studies have shown that cardiovascular effects induced by

    stimulation of caudal raphe nuclei are partially mediated by the caudal pressor area

    (CPA). The present study demonstrates the existence of projections from the magnus

    (RMg), pallidus (RPa) and obscurus (ROb) raphe nuclei to the CPA.

    Methods and Results: 6 Male Wistar rats (270-300 g), anesthetized with chloral

    hydrate (0.04 g/kg, i.p.), were put in the estereotaxic set for unilateral microinjections

    of horseradish peroxidase (HRP) into the CPA (1.0 mm caudal and 1.7 mm lateral to

    the Óbex; 2.0 mm from brain surface). HRP, an retrograde axonal tracer, was

    dissolved in saline to 20% and the microinjection volume was 50 nL. The animals

    were kept alive for 2-3 days, to allow the intraneuronal retrograde diffusion of the

    tracer. The rats were deeply anesthetized and perfused through the left ventricle with

    500 mL saline + 500 mL paraformaldehyde 1% plus glutaraldehyde 1.25% in

    phosphate tampão 0.1 M (pH 7.6). The brainstem was taken out and sectioned

    (freezing microtome) with a thickness of 40 µm and treated with diaminobenzydine

    0.05%. This reaction promoted a brown color in the pericarium of the marked

    neurons. The sections have been colored with neutral red and the marked neurons

    were visualized by optical microscopy. The coordinates were according to the

    estereotaxic atlas of Paxinos and Watson. Marked neurons have been found in all

    three studied raphe nuclei. In a total of 6 rats, 3 showed markings in the RMg, 4 in

    the RPa and 5 in the ROb. In the RMg, the marked neurons were allocated from

    -11.30 mm to -11.60 mm caudal to Bregma (10 neurons), being most (7 neurons) in

    -11.60 mm, with depth between 10.4 mm and 10.7 mm of the external brain surface.

    The RMg has been the region of smaller dispersion of the neurons rostro-caudally

    marked, once in a total of 10 neurons marked, 7 were -11.60 mm caudal to the

    Bregma. In the RPa the neurons have been found between -11.30 mm and -12.80

    mm caudal (14 neurons), with profundity from 10.80 mm to 11.1 mm, being the

    biggest number -11.60 mm of the Bregma (5 neurons). In the ROb the neurons

    have been marked between -11.60 mm and -12.72 mm caudal to Bregma

  • (11 neurons), 8 of them between -11.60 mm and -11.80 mm and depth varying from

    10.0 mm to 10.80 mm ventral-dorsally.

    Conclusion: The study shows the presence of efferent projections from the nuclei

    RMg, ROb and RPa to the PCA. Based on these evidences it is possible to suggest

    that these projections were related to the cardiovascular effects elicited by stimulation

    of these caudal raphe nuclei in rats.

  • 10

    1. INTRODUÇÃO

    A perfusão sanguínea apropriada é garantida pela manutenção da força

    motriz da circulação, ou seja, a pressão arterial em níveis adequados e

    razoavelmente constantes ao longo da vida. Desde o final do século XIX, busca-se

    demonstrar a localização da(s) estrutura(s) neurais responsáveis pelo controle

    cardiovascular e conseqüentemente a manutenção adequada da pressão arterial. Ao

    constatar que secção da porção cervical da medula espinhal promovia uma resposta

    depressora nos parâmetros cardiovasculares, Claude Bernard em 1863 (apud

    Gebber, 1990) relatou a importância do sistema nervoso central no controle

    cardiovascular.

    Entretanto, somente dez anos depois, Dittmar em 1873 (apud Gebber, 1990)

    realizando experimentos com transecções coronais sucessivas do eixo neural,

    conseguiu demonstrar pela primeira vez, a participação do bulbo na manutenção da

    pressão arterial (PA). Realizando transecções do tronco cerebral em níveis

    sucessivamente mais caudais em coelhos curarizados, Dittmar observou que a

    integridade do bulbo era fundamental para manutenção PA. Além disso, demonstrou

    ainda que a destruição da região ventral bulbar era capaz de produzir hipotensão

    arterial, e que o mesmo não ocorria quando se destruía a região dorsal do bulbo.

    Estes achados sugeriam que as estruturas responsáveis pela manutenção da PA

    estavam localizadas na face ventral do bulbo introduzindo, na época, o conceito de

    centro vasomotor.

    Em 1901, Bayliss, lançou a hipótese da existência de um centro vasomotor,

    constituído de áreas pressoras e depressoras que atuariam reciprocamente na

    manutenção da PA. Wang & Ranson (1939), com o advento da técnica

    estereotáxica, identificaram regiões pressoras e depressoras, esparsamente

    situadas em toda formação reticular bulbar, que se estendiam desde a região dorsal

    até a ventral do bulbo, resultado posteriormente confirmado por Alexander (1946).

    Tais resultados, no entanto, foram obtidos através de estimulação elétrica,

    que interferem não somente em corpos celulares como também em fibras de

    passagem, não sendo possível, portanto, a afirmação que os neurônios

    responsáveis pela manutenção e regulação da PA estavam realmente localizados

    nas regiões onde a estimulação havia sido efetuada.

  • 11

    Schlaefhe & Loeschke em 1967, estudando o controle da respiração realizado

    através da participação do bulbo, observaram que o congelamento de áreas

    bastante restritas da superfície ventral bulbar produzia não somente alterações

    respiratórias, como também queda da PA. Entretanto, a utilização do congelamento

    nestes experimentos não permitiu ainda concluir se a hipotensão observada era

    resultante da inativação de células ou de fibras de passagem.

    Graças aos experimentos pioneiros de Feldberg & Guertzenstein em 1972,

    onde, utilizando substâncias que atuam preferencialmente em corpos celulares

    neuronais (não interferem nas fibras de passagem), foi possível observar alterações

    da pressão arterial nas áreas descritas anteriormente por Schlaefke & Loeschke.

    Estes autores demonstraram que a aplicação de pentobarbital sódico, GABA (ácido

    gama-aminobutírico) e glicina, em uma região bastante delimitada da superfície

    ventrolateral do bulbo de gatos, produzia queda da PA a níveis semelhantes ao

    observados em animais espinais agudos. Tendo a glicina e o GABA uma ação pós-

    sináptica, a hipotensão observada durante a aplicação tópica desses aminoácidos

    na região rostroventrolateral do bulbo indicava que as células responsáveis pela

    manutenção da PA estavam situadas nesta região. Guertzenstein (1973)

    demonstrou também que a aplicação de drogas excitatórias como o leptazol e

    estricnina nos mesmos sítios produziam aumento da PA.

    1.1 ÁREA ROSTROVENTROLATERAL BULBAR (RVLM):

    Está região, atualmente conhecida como área rostroventrolateral bulbar (RVLM,

    rostroventrolateral medulla), foi caracterizada funcionalmente por Feldberg e

    Guertzenstein (1972) e Guertzenstein (1973), localiza-se em uma área restrita,

    caudal aos corpos trapezóides e bilaterais à linha média na superfície ventral do

    bulbo.

    A partir destes estudos, diversos grupos de pesquisadores começaram a

    desenvolver pesquisas, buscando entender a participação do RVLM na geração e

    manutenção da atividade cardiovascular e as possíveis conexões desta área para

    outros centros moduladores da atividade autonômica em diversas espécies.

    Posteriormente foi demonstrado que neurônios adrenérgicos do RVLM exerciam

    influência excitatória sobre as fibras simpáticas vasomotoras (Ross et al., 1984;

  • 12

    Schreihofer et al., 2000). Em ratos, a microinjeção de glutamato (L-Glu) nesta região,

    é capaz de evocar respostas pressoras e taquicárdicas (Willette et al., 1982).

    A atividade tônica do RVLM foi ainda avaliada em estudos eletrofisiológicos,

    onde era possível registrar a atividade espontânea de neurônios do RVLM ou as

    modificações em sua atividade pela modificação dos níveis pressóricos (Brown &

    Guyenet, 1985; Campos Jr. & McAllen, 1999).

    Outros pesquisadores relataram que a inibição do RVLM causava significativa

    queda na pressão arterial, demonstrando mais uma vez, como sugerido por

    Guertzenstein (1973), a participação desta estrutura no controle tônico da pressão

    arterial (Ross et al., 1983; Ruggiero et al., 1985; Guyenet, 1990; Dampney, 1994;

    Gordon & Sved, 2002).

    Os axônios da maioria dos neurônios do RVLM projetam-se diretamente para a

    medula espinhal, em especial para a coluna IML, onde exercem importante

    influência tônica sobre os neurônios pré-ganglionares simpáticos (Amendt et al.,

    1978; Blessing et al., 1981; Ross et al., 1984; Milner et al., 1988; Jansen et al.,

    1995a). Acredita-se que a atividade tônica simpática seja dependente de neurônios

    glutamatérgicos. Tais conclusões provêm de estudos, que demonstraram que a

    reposta à estimulação elétrica ou química da RVLM era abolida quando se aplicava

    antagonista de receptores glutamatérgicos na medula espinhal (Mills et al., 1988;

    Bazil & Gordon, 1991, 1993).

    Desta forma, o RVLM pode ser considerado um importante centro gerador e

    uma estação sináptica para vias descendentes de diferentes respostas autonômicas

    (Guertzenstein & Silver, 1974), para respostas viscerais de alerta (Guertzenstein et

    al., 1977; McAllen, 1984), para o reflexo baroreceptor (McKitrick & Calaresu, 1996;

    Schreihofer & Guynet, 2002) e para a resposta pressora do núcleo fastigial (Chida et

    al., 1990). A RVLM é tida como via comum nos ajustes cardiovasculares, pois sua

    inibição bloqueia uma série de respostas cardiovasculares centralmente mediadas,

    como: as respostas cardiovasculares típicas do comportamento de alerta e a

    resposta pressora à estimulação elétrica de núcleos da rafe bulbares (Hilton et al.,

    1983; Chida et al., 1990; Campos Jr et al., 1993; Silva et al., 2002).

    Diferentes tipos e subtipos de receptores são citados na literatura científica,

    atuando na modulação dos neurônios pré-ganglionares simpáticos no RVLM, dentre

    os quais vale citar os receptores de endotelina (Mosqueta-Garcia et al., 1995; Ouchi

    et al, 1989), aminoácidos excitatórios (Tingley et al., 1990; Hay et al., 1999; Sapru,

  • 13

    2002; Sved et al., 2002) e aminoácidos inibitórios (Willette et al., 1984; Araújo et al.,

    1999). Adicionalmente, receptores opióides podem ser encontrados em células pré e

    pós-sinápticas do RVLM, sendo ativados por hipotensão hemorrágica (Guyenet,

    2000; Aicher, 2001; Guyenet et al., 2002) e modulando respostas cardiovasculares à

    estimulação muscular (Caringi et al., 1998; Ally et al., 2002).

    1.2 ÁREA CAUDOVENTROLATERAL BULBAR (CVLM):

    Estes autores, Feldberg & Guertzenstein em 1976, também demonstraram uma

    região da superfície ventral bulbar, localizada entre o núcleo ambíguo e o núcleo

    reticular lateral (Willette et al., 1983; Li & Blessing, 1990; Masuda et al., 1991), hoje

    conhecida como CVLM (Caudal ventrolateral medulla), que quando estimulada pela

    nicotina apresentava uma resposta hipotensora. O CVLM é, assim, considerado um

    centro simpatoinibitório que contribui para a manutenção da pressão arterial em

    níveis normais (Willette et al., 1983; Chalmers & Pilowsky, 1991; Blessing, 1991;

    Cravo & Morrison, 1993; Aicher et al., 2000; Schreihofer & Guyenet, 2002).

    Estudos das vias neurais relacionadas com o CVLM, com a aplicação de

    marcadores anterógrados (biocitina) e retrógrados (horseradish peroxidase)

    confirmaram que as células A1 das conexões do CVLM para o RVLM, provenientes

    do NTS (Aicher et al., 1995), estão envolvidas no barorreflexo e, por conseguinte, na

    modulação do controle tônico da pressão arterial (Cravo et al., 1991; 1993).

    Projeções descendentes de diferentes áreas do hipotálamo (Saper et al., 1976;

    Badoer et al., 1993; Lovick, 1993), córtex (Ally, 1998) e diversas outras áreas

    (Ciriello et al., 1986; Krukoff et al., 1993; Ally et al., 2002) também podem modular a

    atividade dos neurônios do CVLM, responsáveis pelo controle tônico da pressão

    arterial, modificando a atividade simpática em situações de estresse, contração

    muscular e outros estímulos comportamentais.

    Dentre as muitas funções fisiológicas atribuídas ao CVLM está a modulação do

    arco reflexo ativado pelos baroreceptores (Jeske et al., 1993; Dampney, 1994;

    Spyer, 1994; Aicher et al., 2000) e pelo reflexo de Bezold-Jarisch, estimulado por

    quimiorreceptores (Vardhan et al., 1993; Gireoba et al., 1995). Estes reflexos,

    quando ativados perifericamente, causam primeiramente a liberação de aminoácidos

    excitatórios em sinapses de neurônios no NTS (Vardhan et al., 1993; Sved &

  • 14

    Gordon, 1994; Ohta et al., 1996; Sapru, 2002), ativando neurônios glutamatérgicos

    que se projetam monossinapticamente para o CVLM (Urbanski & Sapru, 1988;

    Aicher et al., 1995; Gordon & Sved, 2002). Do CVLM, saem neurônios gabaérgicos

    responsáveis pela modulação da atividade das células pré-ganglionares simpáticas

    do RVLM (Willette et al., 1984; Sun & Guyenet, 1986; Blessing & Li, 1989; Sapru,

    2002), sem, no entanto, projetar-se diretamente para a medula espinhal (Loewi &

    McKellar, S., 1981; Ross et al., 1984; Jansen et al., 1995; Gordon & Sved, 2002).

    Adicionalmente, existem projeções diretas do CVLM para o núcleo ambíguo

    (McKitrick & Calaresu, 1997), que participam do controle da atividade parassimpática

    para o coração, demonstrando que as conexões do CVLM não se limitam ao RVLM.

    Conexões da área cinzenta periaquedutal para o CVLM (Hilton, 1975; Chen &

    Aston-Jones, 1996), podem, por sua vez, estar envolvidas na modulação das

    respostas cardiorrespiratórias evocadas por alterações comportamentais de luta e

    fuga.

    1.3 ÁREA PRESSORA CAUDAL (CPA):

    Esta região situada caudal a CVLM na transição bulbo-espinal, com atividade

    pressora semelhante a RVLM foi descoberta em animais profundamente

    anestesiados após a aplicação tópica de leptazol na superfície ventral caudal bulbar

    de gatos (Feldberg & Guertzenstein, 1986). Estes autores propuseram uma relação

    funcional entre esta área, conhecida como área pressora caudal (CPA) e o RVLM,

    uma vez que as respostas hipertensoras produzidas após a aplicação tópica de

    leptazol na CPA não ocorriam durante a inibição com injeção de pentobarbital sódico

    previamente na RVLM.

    Os primeiros a estudarem esta região mais caudal na superfície bulbar de

    ratos foram Gordon & McCam em 1988. Seus achados confirmaram o trabalho de

    Fedberg & Guertzestein 1986, pois em seus resultados estes autores encontraram

    uma resposta hipertensora após a aplicação de glutamato nesta mesma região

    caudal a CVLM, além de demonstrarem que esta resposta era abolida tanto pela

    inibição do RVLM quanto por bloqueio ganglionar, demonstrando que a elevação da

    pressão arterial era obtida via aumento da atividade simpática. Estas observações

  • 15

    foram confirmadas por Campos Jr. & McAllen (1999), com o registro unitário da

    atividade elétrica de células da RVLM, acompanhado da estimulação ou inibição da

    CPA. Neste trabalho, ficou comprovado que as variações da CPA alteram a

    freqüência de despolarização das células pré-ganglionares simpáticas responsáveis

    pela manutenção do tono vasomotor simpático. Recentemente foi proposto que as

    vias da CPA para o RVLM envolvem uma ativação de neurônios simpatoexcitatorios

    glutamatérgicos na vizinhança da CVLM (Natarajan & norrison, 2000).

    Silva (2001) obteve respostas hipertensoras semelhantes às descritas acima

    com a aplicação tópica de glutamato na CPA, porem, seus experimentos foram

    realizados com animais acordados eliminando assim qualquer influencia que os

    anestésicos pudessem causar.

    A localização da CPA foi relatada no trabalho de Sun & Panneton em 2002,

    através de um mapeamento com a utilização de microinjeções de glutamato na

    superfície ventral bulbar, na qual definiram que a CPA está situada em uma região

    lateral ao ponto mais caudal do núcleo reticular lateral e ventromedial ao corno

    dorsal bulbar no nível da ducussação das pirâmides. Estes autores confirmaram a

    existência das projeções da CPA tanto para o RVLM quanto para a CVLM. Horiuchi

    & Dampney (2002) propuseram a desinibição indireta dos neurônios

    simpatoexcitatórios do RVLM pela CPA, de acordo com o seguinte modelo:

    neurônios inibitórios da CPA fariam conexões com neurônios inibitórios da CVLM e

    interneuronios inibitórios no proprio RVLM. Desta forma, quando ativada, a CPA

    atuaria retirando os potenciais inibitórios sobre o RVLM, aumentando a atividade

    pré-ganglionar simpática (figura 1). Entretanto, ainda faltam informações a respeito

    de quais as regiões enviam suas eferências para CPA e participam de sua

    modulação no controle neural da pressão arterial.

  • 16

    Figura 1. RVLM, bulbo rostroventrolateral; CVLM, bulbo caudoventrolateral; CPA, área pressora caudal; IML, coluna intermediolateral; NTS, núcleo do trato solitário; NCR, Núcleos caudais da rafe. Figura modificada de Horiuchi & Dampney (2002).

    Silva, 2002 demonstrou que o bloqueio dos receptores aminoácido excitatório

    feito pelo ácido quinurênico dentro da CPA reduz a pressão arterial e a freqüência

    cardíaca, além de praticamente abolir a resposta pressora gerada pela estimulação

    do núcleo da rafe obscuro, demonstrando uma suposta projeção eferente entre um

    dos importantes núcleos caudais da rafe com a CPA.

    1.4 NÚCLEOS DA RAFE:

    Além dessas três áreas relevantes no controle cardiovascular, sabe-se que os

    núcleos da rafe são de extrema importância no controle da PA (Coote, 1990). Este

    termo “núcleos da rafe” indica grupos de neurônios localizados na região

    mediossagital do tronco encefálico, que possui um aspecto morfológico de linha ou

    sutura, e se estendem desde a parte caudal do bulbo até o mesencéfalo, passando

    pela ponte. Esses grupos de neurônios estão organizados de formas distintas em

    Inibitório Excitatório

    CPA

  • 17

    dois blocos, o rostral (constituído pelos núcleos linear rostral, linear intermédio,

    dorsal, mediano e pontino) e o caudal, que se encontram situados na região bulbar

    (constituído pelos núcleos magno, obscuro e pálido) (Brodal et al., 1960 a, b), (fig. 2).

    Os núcleos da rafe contêm a maior densidade de neurônios serotonérgicos do

    sistema nervoso central (Jacobs et al., 2002), fato este que foi inicialmente

    observado por Dahlstrom e Fuxe em 1964. Foram descritos sete tipos de receptores

    para serotonina (5-HT1 - 5-HT7) e seus subtipos 5-HT1A-1F (exceto 5-HT1C) e 5-

    HT1P, 5-HT2A-2C, 5-HT3A-3E, 5-HT4A-4D, 5-HT5A-5B (Côté et al., 2004), que

    podem ser encontrados em diversas regiões do sistema nervoso central (Siegel et

    al., 1999) ou em tecidos periféricos (Futuro-Neto et al., 1993). Apesar de a

    serotonina ser o principal neurotransmissor, existem outros tipos, tais como, as

    encefalinas (Bowker et al., 1983; Milhorn et al., 1989), GABA (McCall et al., 1988),

    catecolaminas, neuropeptídeos e acetilcolina (Bowker et al., 1983; Fort et al. 1989,

    1990; Li et al., 1996; Parent, 1996), que podem ser expressos isoladamente ou em

    associação com a serotonina (Bowker et al., 1983; Kachidian et al., 1991; Stamp e

    Semba, 1995).

    Essa gama de neurotransmissores, adicionada ao fato de que existem vários

    subtipos de receptores para serotonina, sugere a participação dos núcleos da rafe

    em diferentes atividades fisiológicas, tais como termorregulação (Arancibia et al.,

    1996), modulação do sistema digestivo (Ribeiro do Vale, 1997), respiração (Gilbey et

    al., 1995), regulação cardiovascular (Coote, 1990) e ciclo sono-vigília (Jacobs &

    Fornal, 1991). Como previamente dito, esses núcleos estão agrupados em dois

    blocos distintos: o rostral e o caudal. Essa não é simplesmente uma conveniência

    anatômica, mas uma classificação morfofuncional que deriva de projeções eferentes

    diferentes (Jacobs et al., 2002).

    GRUPO ROSTRAL DOS NÚCLEOS DA RAFE:

    O grupo rostral dos núcleos da rafe compreende o núcleo linear rostral, linear

    intermédio, dorsal, mediano ou central superior e núcleo pontino da rafe (Brodal et

    al., 1960 a, b). Os neurônios destes núcleos localizam-se principalmente na sua

    parte central, porém aqueles situados à margem, fundem-se com outros

    grupamentos nervosos, dificultando, a exata delimitação lateral (Taber et al., 1960).

  • 18

    Esses núcleos do grupo rostral são formados principalmente por neurônios de

    tamanho médio, fusiformes, com dendritos de orientação dorso-ventral (Zagon,

    1993), que se projetam para áreas suprassegmentares (Brodal et al., 1960 a, b).

    Dentre suas projeções, podemos citar o hipotálamo e o núcleo amigdalóide

    (Sawchenko et al., 1983), projeções do núcleo pontino para o cerebelo (Taber et al.,

    1960), para o córtex frontal (Graeff et al., 1996), além de projeções para a

    substância cinzenta periaquedutal (PAG), hipocampo e gânglios da base (Compan

    et al. 1996).

    Figura 2. Organização anatômica (esquema) dos núcleos da rafe e das projeções serotoninérgicas no cérebro de um rato (vista lateral). O maior número de projeções desses núcleos (em azul) parte: dos núcleos caudais (magno, pálido e obscuro) para a medula espinhal, do núcleo pontino para o cerebelo e dos núcleos rostrais (mediano, paramediano, dorsal e linear) para o prosencéfalo, e há um feixe dorsal específico (em vermelho) que vai dos núcleos mediano e dorsal para o prosencéfalo.

    GRUPO CAUDAL DOS NÚCLEOS DA RAFE:

    O grupo caudal é constituído pelos núcleos rafe magno (RMg), rafe obscuro

    (NRO) e rafe pálido (RPa) com disposição rostral, mediana e caudal no bulbo,

    respectivamente. Os neurônios dos núcleos bulbares da rafe são fusiformes,

    triangulares, quadripolares e às vezes piriformes, com dendritos uni, bi ou

  • 19

    multipolares, de orientação dorso-ventral (Zagon, 1993). Suas projeções evidenciam

    uma rede interneural complexa, com ligações tanto para a medula espinhal quanto

    para centros supramedulares (Jacobs et al., 2002). Brodal et al. (1960 a, b), através

    de secções obtidas na medula espinhal e tronco cerebral de gato, provocaram

    degeneração neuronais nos núcleos da rafe. Dähsltrom & Fluxe (1965), combinando

    a técnica de secção da medula com a de fluorescência em ratos, demonstraram a

    participação dos núcleos caudais nas eferências noradrenérgicas e serotonérgicas

    para a medula espinhal, confirmando assim os resultados de Brodal et al. (1960a, b)

    no gato. Demonstraram ainda que a maioria das eferências dos núcleos caudais é

    enviada para a medula espinhal, enquanto que os neurônios dos demais núcleos

    suprasegmentares projetam seus axônios principalmente para as regiões cerebrais

    superiores.

    Outros pesquisadores também identificaram importantes projeções de

    neurônios serotonérgicos dos núcleos bulbares para o corno dorsal e para a coluna

    intermédio-lateral da medula espinhal (IML) (Loewy, 1981; Loewy & Mckella, 1981;

    Bacon et al., 1990; Gilbey et al., 1995), fazendo sinapse, respectivamente, com

    neurônios da lâmina I, II e V e com grupos de neurônios pré-ganglionares simpáticos

    (Amendt et al., 1978, 1979; Antal et al., 1996; Li et al., 1996). A conexão dos núcleos

    bulbares da rafe com grupos de neurônios pré-ganglionares simpáticos da medula

    espinhal, fornece a base anatômica de sua participação na regulação simpática

    (Loewy, 1981; Jones, 1996; Helke et al., 1997; Skinner et al., 1997). Por outro lado,

    a importância de cada um dos núcleos bulbares da rafe no controle e modulações de

    vários componentes fisiológicos também pode ser sugerida pelas conexões

    suprassegmentares. Sim & Joseph (1992); Lovick (1993a, b); Hudson & Lumb

    (1996), Lebars et al. (1980); Schenberg & Lovick (1995) observaram aferências e

    eferências para áreas da PAG, que possivelmente estariam envolvidas em

    mecanismos supraespinhais de modulação da nocicepção, analgesia e reação de

    defesa.

    Outros centros cerebrais que também enviam eferências para os núcleos

    caudais da rafe são os núcleos paraventricular hipotalâmico, o núcleo pré-óptico

    (Nogueira et al., 1996), a área bulbar rostroventrolateral (Zagon, 1995), o núcleo

    amigdalóide e o hipotálamo posterior (Hermann et al., 1996). Estas e outras

    conexões confirmam a implicação dos núcleos da rafe em processos de modulação

    do sistema digestivo (Curzon, 1990; Krowicki & Hornby, 1996; Ribeiro do Valle,

  • 20

    1997), respiração (Hosogai et al., 1993; Gilbey et al., 1995; Al-Zubaid et al., 1996),

    termorregulação (Aracibia et al., 1996), regulação cardiovascular (Coote, 1990;

    Saxena & Villalón, 1990), ciclo sono-vigília (Jouvet, 1967; Dugovic et al., 1989),

    atividade da musculatura mastigatória (Ribeiro do Valle, 1997) e em ritmos

    circadianos (Morin et al., 1990).

    NÚCLEO RAFE MAGNO (NRg):

    Este grupo pode ser considerado como um prolongamento rostral da porção

    ventral do núcleo rafe obscuro, sua parte rostral estende-se para o nível do pólo

    rostral da oliva superior e a região ventral faz limite com a margem do corpo

    trapezóide, enquanto a região dorsal apresenta limitações arbitrárias com as bordas

    laterais do núcleo pontino da rafe. Em cortes sagitais, observa-se que dorsalmente o

    núcleo apresenta-se mais afilado em sua trajetória compreendida entre o corpo

    trapezóide e o teto do quarto ventrículo, o núcleo se torna bem mais desenvolvido a

    partir da metade ventral desta trajetória. Apesar de apresentar bordas laterais pouco

    definidas e citoarquitetura semelhante à formação reticular, a individualização do

    núcleo rafe magno pode ser determinada pela organização de suas células, seus

    neurônios apresentam-se em vários pontos densamente aglomerados (Taber et al.,

    1960).

    Utilizando a técnica de traçado anterógrado, Bacon et. al. (1990) demonstraram

    que existe uma conexão monossináptica entre os núcleos magno e pálido da rafe e

    os neurônios pré-ganglionares simpáticos que irão formar a inervação da adrenal,

    demonstrando ainda que os neurônios do núcleo da rafe obscuro não se projetam

    para essa região. As vias serotonérgicas do núcleo rafe magno estão relacionadas

    com processo de transmissão e modulação dos estímulos nocioceptivos da medula

    espinhal (LeBars at al., 1980). A estimulação elétrica desta área produz analgesia

    que é parcialmente revertida por naloxone (Oliveras et al., 1975, 1977) e tal

    estimulação resulta na inibição de neurônios nocioceptivos no corno dorsal (Beall et

    al., 1979; Fields et al., 1977; Gerhart et al., 1981; Rivot et al., 1980). Injeção de

    opióides nesta região também produz antinociocepção que está envolvida com

    mecanismo serotonérgicos (Dickenson et al., 1979; Liu et al., 1988).

  • 21

    NÚCLEO DA RAFE PÁLIDO (RPa):

    Ventralmente ao núcleo da rafe obscuro encontra-se um grupo de células do

    núcleo rafe pálido. A parte caudal deste núcleo é bem definida e inicia-se na porção

    mais medial do núcleo rafe obscuro, com um grupo de células entre as margens

    dorso mediais das pirâmides, que ao nível médio olivar, funde-se com grupos

    celulares dorsais formando uma massa única que se encaminha para a direção

    rostral, enquanto que sua porção mais rostral encontra-se pobremente definida

    (Taber et al. 1960). Segundo Taber (1960), na porção mais rostral, os núcleos

    reticulares gigantocelulares bulbares aproximam-se da borda dorso laterais do

    núcleo rafe pálido. Aproximadamente a um terço da porção rostral do núcleo ocorre

    fusão com o núcleo rafe magno. Em muitos pontos as bordas dos dois núcleos

    afastam-se, quando então suas células se apresentam densamente agrupadas, o

    que dá um contraste com as células bastante dispersa do núcleo rafe magno.

    Luppi et. al. (1986) utilizando uma técnica onde combinava a

    imunohistoquímica com a técnica de traçado retrógrado, determinaram que o núcleo

    rafe pálido recebe aferentes hipotalâmicos que se originam na região peri e

    paraventricular das áreas hipotalâmicas anterior e posterior. Três grupos de células

    serotonérgicos da linha mediana do tronco cerebral foram identificados e

    denominados de B1, B2 e B3, que corresponde aos núcleos rafe pálido, obscuro e

    magno respectivamente Dahlstrom e Fuxe (1964). A demonstração de que estes

    núcleos pareciam ser os principais centros que continham neurônios serotonérgicos,

    levaram as intensas investigações na tentativa de determinar a ação fisiológica

    desses núcleos.

    NÚCLEO DA RAFE OBSCURO (NRO):

    A denominação obscuro decorre do fato de que em muitos níveis do núcleo,

    em especial em sua porção dorsal, apresenta uma densidade celular muito pequena

    conferindo-lhe um aspecto não muito visível (Taber et al., 1960). Ele ocupa a linha

    média da rafe bulbar, estendendo do pólo caudal da oliva inferior ao nível do núcleo

    do nervo hipoglosso até a porção cervical da medula espinhal (Brodal et al., 1960).

  • 22

    Apesar de o NRO fazer algumas projeções para a coluna dorsal da medula espinhal,

    nas lâminas I, II e V (Dahlstrom e Fuxe, 1964; Basbaum e Fields, 1976; Jacobs et

    al., 2002), a maioria de suas projeções vão para a coluna intermediolateral (Loewy,

    1981; Gilbey et al., 1995) e para o corno ventral da medula (Brodal et al., 1960;

    Martín-Cora et al., 2000). As eferências para o corno ventral terminam

    principalmente em motoneurônios somáticos (Brodal et al., 1960; Martín-Cora et al.,

    2000) e respiratórios (Holtman et al., 1990). Essas projeções podem ser

    serotonérgicas e não-serotonérgicas (Skagerberg e Bjorklund, 1985; Martin et al.,

    1990).

    Zagon (1995) descreveu importante interconexões entre NRO e o RVLM.

    Existem também projeções descritas para o núcleo motor dorsal do vago (Maneker

    et al., 1995; Hornby et al., 1990), para o núcleo do hipoglosso (Manaker et al., 1992),

    para o núcleo do trigêmio e facial (Fort et al., 1989, 1990) e para o colículo superior

    (Parent, 1996).

    Outras áreas sensoriais do tronco cerebral, como o núcleo do trato solitário

    (Palkovits et al., 1986) e núcleo do trigêmio (Li et al., 1996) também recebem

    projeções do NRO.

    Foi muito explorada a participação desse núcleo nas funções autonômicas,

    com especial interesse a modulação simpática, devido a extensas projeções para a

    coluna intermediolateral (Loewy, 1981; Coote et. al., 1985).

    A atividade simpática pode ser distribuída de forma diferente para cada

    regiões especifica do corpo como foi demonstrado durante o período do sono

    desincronizado (Futuro-Neto e Coote, 1982 a, b). Neste trabalho pode-se observar

    que, durante este período a atividade simpática vasocostritora para o músculo

    esquelético estava aumentada, enquanto que, em outros leitos do sistema vascular

    estavam inibidas.

    Além da possibilidade do NRO participar nas respostas autonômicas através

    de projeções espinhais, existem ainda importantes conexões em diversos centros do

    tronco cerebral que impedem uma análise simplória do envolvimento deste núcleo

    no controle de muitas funções. Existem evidências de que o NRO está envolvido na

    modulação central da analgesia, nocicepção e reação de defesa (Schenberg &

    Lovick, 1995; Lovick, 1996). Isso explicaria a importância das projeções para o corno

    dorsal (Basbaum et al., 1976) e as interconexões entre a substância cinzenta

    periaquedutal (Lovick, 1993a).

  • 23

    A grande maioria dos estudos de mapeamento dos núcleos da rafe, e sua

    participação na regulação cardiovascular foram realizados com a utilização de

    técnicas de estimulação elétrica. No gato, a estimulação elétrica promoveu

    principalmente respostas depressoras (Adair et al., 1977; Yen et al., 1983). No rato

    (Smits et al., 1978; Kuhn et al., 1980; Futuro Neto et al., 1990; Silva et al., 2002), no

    cobaio (Almada, 1995; Futuro-Neto et al., 1997) e no hamster (Faria, 1992; Faria et

    al., 1996) as respostas foram predominantemente pressoras, enquanto que no

    coelho ocorreu quase que um equilíbrio entre respostas pressoras e hipotensoras,

    com pequena predominância da primeira (Futuro Neto et al., 1990). Com a utilização

    de microinjeções de L-glutamato nos mesmos sítios do NRO, foram observadas

    respostas pressoras semelhantes, o que evidencia a ativação de corpos celulares no

    núcleo estudado (Dreteler et al., 1991; Faria et al., 1996). Damico et al. (1996)

    também observaram que a microinjeção de L-glutamato e agonistas de receptores

    glutamatérgicos ionotrópicos no NRO causava elevação da pressão arterial.

    A intensa rede interneuronal do NRO para os demais núcleos bulbares

    poderia ser a justificativa dos resultados de trabalhos que demonstram o

    envolvimento deste núcleo na modulação tônica da atividade simpática (Adair et al.,

    1977; Có et al., 1990), na regulação central da respiração (Hotmam et al., 1990;

    Lalley et al., 1997) e cardiovascular (Futuro Neto et al., 1990; 1996; Dreteler et al.,

    1991, Campos Jr. et al., 1993, Silva et al., 2002). Outros autores partilham desta

    idéia onde a regulação cardiovascular e respiratória pode ser sugerida pelas

    projeções NRO para a superfície ventral bulbar (Chan et al., 1986; Van Bockstaele et

    al., 1989; Nicolas & Hancock, 1990; Zagon, 1993, 1995), onde existem importantes

    “centros” integradores das respostas cardiovasculares e respiratórias.

    A participação funcional da porção rostral da superfície ventrolateral bulbar na

    modulação das respostas pressoras evocadas pela estimulação no NRO foi

    demonstrada por Campos Jr. et al. (1993). Estes autores observaram que tanto a

    lesão eletrolítica quanto a aplicação tópica de glicina na RVLM, causava o bloqueio

    das respostas pressoras obtidas pela estimulação elétrica no NRO, concluindo que a

    integridade da RVLM era essencial para a manutenção daquelas respostas

    pressoras. Futuro Neto et al. (1996), obtiveram resultados semelhantes com a

    microinjeção de glicina na RVLM, mas não conseguiram bloquear as respostas

    cardiovasculares e simpáticas com a aplicação de antagonistas serotonérgicos,

    sugerindo que os receptores 5-HT1 (com seus subtipos), 5-HT2 e 5-HT3 da RVLM

  • 24

    não estariam envolvidos nestas respostas. Alguns estudos sugerem que a CPA pode

    estar envolvida no controle das respostas à estimulação elétrica no núcleo rafe

    obscuro, podendo-se, a partir daí, supor que a CPA poderia estar relacionada aos

    núcleos caudais da rafe no controle de diferentes respostas, comportamentais ou

    autonômicas. (Silva et al., 2002).

    Os achados existentes até o momento colocam os núcleos caudais da rafe

    como importantes participantes dos processos centrais no controle das atividades

    autonômicas e somáticas. O esclarecimento sobre suas projeções eferentes, sendo

    ou não enviadas para a CPA, assume fundamental importância para o entendimento

    deste nível de modulação neural da pressão arterial. Ainda faltam informações a

    respeito da função da CPA, e o controle aferente exercido sobre ela por outras áreas

    envolvidas na regulação neural da PA como, por exemplo, os núcleos caudais da

    rafe. Esta hipótese complementaria as conexões das regiões bulbares sugerida por

    Horiuchi & Dampney (2002), nas quais as projeções aferentes para a CPA não foram

    demonstradas. Portanto, o mapeamento dos núcleos caudais da rafe no rato vem

    adicionar dados que poderão ser comparados aos já existentes e ajudar a

    compreender melhor suas participação na manutenção da pressão arterial.

  • 25

    1.5 DESCRIÇAO DA TÉCNICA DE MARCAÇÃO HISTOQUIMICA COM A

    UTILIZAÇÃO DO HORSERADISH PEROXIDASE (HRP):

    A técnica Histoquímica com a utilização do Horseradish Peroxidase (HRP) foi

    introduzida por Straus, 1957 (apud Mesulan, 1978) e aplicada para o sistema

    nervoso periférico por Kristensson e Olsson, 1971 (apud Mesulan, 1978) e

    posteriormente para o sistema nervoso central por LaVail e LaVail, 1972. Desde

    então, a técnica neurohistoquimica tornou-se um dos mais frequentes métodos para

    tracejamento neuronal conectivo dentro do SNC.

    Os estágios sucessivos da técnica neurohistoquimica consistem de: injeção

    intracerebral do HRP, endocitose neuronal (uptake neuronal), transporte

    axoplasmatico e visualização histoquímica da enzima. O Processo de visualização

    histoquímico é alcançado através da incubação e fixação do tecido em um meio

    contendo H2O2 e um cromogem amina aromática (percussor de um pigmento). Esse

    cromogem polimeriza e assume uma coloração intensa quando oxidado. Portanto,

    no local do HRP ativado, ou seja, o complexo [HRP. H2O2], oxida o cromogem e

    resulta na precipitação do produto dessa reação que, atua como um marcador, pela

    ativação da enzima HRP como demonstrada na fotomicrografia da figura 3

    (mesulam, 1978; Mesulam, 1976).

    O sucesso de um experimento histoquímico com HRP depende de um grande

    numero de variáveis. Essas podem ser classificadas em dois grandes grupos:

    Variáveis Dinâmicas e Variáveis histoquímicas. As dinâmicas incluem a endocitose

    e o transporte do HRP e a histoquímicas incluem parâmetros como o tipo de fixação,

    a escolha do cromogem e a composição do meio de incubação. Além disso, ao

    contrario da maioria das variáveis dinâmicas, que usualmente independem da

    manipulação, quase todos os parâmetros histoquímicos podem facilmente ser

    regulados pelo experimentador. Na verdade, este segundo grupo de variáveis

    determina não apenas a visibilidade do produto da reação, mas também, a

    sensibilidade que o transportador (HRP) pode ser detectado. Em outras palavras,

    uma conexão neural que é prontamente visualizada quando ótimos parâmetros

    histoquímicos estão envolvidos, pode ser perdida em experimentos que utilizam

    excessiva fixação, cromogem de inferior visibilidade (Mesulam & Rosene, 1977) ou

    parâmetros de incubação inapropriados (Mesulam, 1976).

  • 26

    A utilização do HRP no presente trabalho nos permite buscar uma conexão

    direta, para tentarmos esclarecer a existência ou não de projeções eferentes

    enviadas pelos núcleos caudais da rafe para a área pressora caudal.

    Figura 3. As setas indicam as células marcadas. A) Três células marcadas na substância inonimata com o produto da reação do HRP, visível com uma objetiva 20x, após aplicação de HRP no córtex motor. B) Duas células marcadas com HRP no núcleo dorsolateral talâmico de macaco, seguido à aplicação prévia de HRP no hipocampo. Duas células não marcadas também são vistas no quanto superior direito da imagem, Objetiva 40x. C) uma célula marcada no lobo parietal inferior após uma injeção de HRP no lobo parietal inferior contralateral, objetiva 100x. D) Duas células marcadas na substância inonimada de um macaco após a injeção de HRP no córtex premotor. (Mesulam, 1976).

  • 27

    2. OBJETIVOS:

    2.1. OBJETIVO GERAL:

    • Investigar através da técnica histoquímica de transporte axonal retrogrado

    (horseradish peroxidase, HRP), a existência de projeções neuronais

    eferentes, formando uma via direta, entre os núcleos caudais da rafe e a área

    pressora caudal.

    2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

    • Além da existência destas vias dos núcleos caudais da rafe para a CPA,

    identificar a exata localização rostro-caudal dos neurônios marcados com

    HRP dentro dos núcleos caudais da rafe que estão se projetando para a CPA.

    • Avaliar em que profundidades da superfície do crânio encontram-se os

    neurônios dos núcleos caudais da rafe que se projetam para a CPA.

  • 28

    3. MATERIAIS E MÉTODOS:

    ANIMAIS

    No experimento foram utilizados ratos Wistar machos adultos (270 – 300

    gramas), fornecidos pelo biotério do Programa de Pós-Graduação em Ciências

    Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo os quais eram mantidos em

    gaiolas de polietileno e alimentados com ração comercial e água ad libitum. O

    controle de luminosidade era próximo às condições naturais, com ciclo de 12 horas.

    ANESTESIA E PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS INICIAIS

    Para a realização dos procedimentos cirúrgicos, os animais eram

    anestesiados com hidrato de cloral (0,4g/kg i.p.). A temperatura retal foi mantida a

    37C utilizando para tanto uma manta aquecida. Foi necessário encontrar um ato

    cirúrgico adequado e pouco traumático que nos apresentasse um bom prognostico

    pós-operatório, permitindo assim a sobrevivência dos animais por dois a três dias

    após os procedimentos. Além do ato cirúrgico, as coordenadas para atingir

    precisamente a CPA também tiveram que ser adequadas. Após a anestesia os

    animais foram posicionados em decúbito ventral em um aparelho estereotáxico para

    pequenos animais (Stoelting), com a barra incisiva 11 mm abaixo da linha interaural.

    O Óbex foi utilizado como ponto de referência para as coordenadas

    estereotáxicas, sua exposição foi realizada através de procedimento cirúrgico onde

    se fazia uma incisão na região posterior da cabeça do animal promovendo a

    visualização e o afastamento da musculatura que se sobrepunha a está região,

    permitindo assim uma visualização completa do óbex e acesso à CPA. Foram

    utilizados treze animais até que o melhor procedimento fosse encontrado.

    As coordenadas foram confirmadas através de registros hemodinâmicos após

    a aplicação do aminoácido excitatório (Glutamato, 20nmol/50 nl), através de uma

    cânula de metal (agulha gengival tamanho 30G curta) conectada via cânula de

    polietileno PE-10 a uma microseringa Hamilton introduzida unilateral no bulbo.

  • 29

    Associado ao Glutamato foi utilizado um marcador (Pontamine Sky Blue, 2%) que

    permitiu uma visualização macro e microscópica da região aplicada.

    REGISTROS HEMODINÂMICOS:

    A pressão arterial foi registrada apenas com o objetivo de auxiliar na confirmação da

    localização exata da APC. Através de uma pequena incisão na região femoral

    ventral, dissecava-se a artéria femoral esquerda para inserção de cateteres de

    polietileno PE-50, preenchidos com solução salina-heparina (0,09%, 100:1UI,

    respectivamente) e tendo uma de suas extremidades obstruída com um pino de

    metal. A pressão arterial era monitorada pelo cateter, conectado a um transdutor de

    pressão (Statham-Spectramed, P23XL) e a um amplificador (Pressure Processor,

    Gould 20-4615), sendo registrada em um polígrafo (Gould RS3400), previamente

    calibrado. A freqüência cardíaca medida com um frequencímetro (Biotach, Gould 13-

    64615) a partir da onda de pulso da pressão arterial. Os registros da pressão arterial

    pulsátil, pressão arterial média e frequência cardíaca eram digitalizados (Biopac

    MP100) e armazenados no disco rígido de um computador PC (Digital). A aplicação

    da droga (Glutamato) nas coordenadas adequadas permitia visualizar uma resposta

    pressora no momento de sua aplicação. Estas respostas associadas à análise

    histológica nos permitiram confirmar a exata localização da APC, que se

    assemelham às existentes na literatura científica e escolher o melhor sitio para a

    aplicação do HRP.

    As coordenadas testadas variaram de 0,5 a 1,5 mm caudal ao Óbex e de 1,5

    a 2,0 mm lateral à linha média, com uma profundidade de 2,0 mm da superfície

    dorsal do tronco cerebral do animal, sendo do escolhido como sitio de aplicação do

    HRP, aquele que demonstrou uma melhor resposta pressora (1,0 mm caudal ao

    Óbex e 1,7 mm lateral à linha média) como observado na figura 4.

  • 30

    Figura 4. Representação esquemática indicando o local da microinjeção do HRP dentro da CPA. O circulo em vermelho representado pela letra F representa o ponto de injeção do HRP, com 1,0 mm caudal ao Óbex, 1,7 mm lateral a linha medial e 2,0 mm da superfície dorsal do tronco cerebral do rato. Figura modificada de Sun W. and Panneton W. M.

    MICROINJEÇÃO DO HORSERADISH PEROXIDASE (HRP):

    Uma vez definido o melhor procedimento cirúrgico e as coordenadas

    adequadas para atingir a CPA o experimento com a utilização do HRP foi iniciado.

    Para a utilização do HRP como marcador neuronal retrogrado, desde sua aplicação

    até o ponto de ser revelado, corado e analisado no microscópio, nos levou a tentar

    adequar esta técnica aos materiais já existentes e utilizados rotineiramente em

    nosso laboratório, até chegar-mos à sua adequada utilização. Diferentes formas de

    perfusões, concentrações variadas de HRP, tentativa de utilização do formaldeido

    para fixação do tecido (freqüentemente utilizado em nosso laboratório), ou seja,

    vários experimentos tiveram que ser realizados com o objetivo de adequar a técnica

    de revelação do HRP com as drogas e os equipamentos já utilizados em nosso

    laboratório. Para estes experimentos foram necessários à utilização de onze animais

    até que a revelação do tecido com HRP pudesse ser realizada com sucesso, e

    consequentemente, boa visualização dos grânulos de HRP no pericário do neurônio

    pudesse ser observada como será descrito no decorrer do texto.

    Com o mesmo procedimento utilizado na aplicação do glutamato e o

    marcador para confirmar as coordenadas estereotáxicas adequadas, era aplicado na

    CPA unilateral, um volume de 50nl de solução contendo o traçador horseradish

    peroxidase a 20% (SIGMA-ALDRICH, Switzerland), diluído em água destilada

    (Mesulam, 1978). Após a injeção do HRP a cânula permanecia no local alvo por 20

    min para evitar perda do traçador no trajeto da cânula durante a retirada.

  • 31

    Realizado este procedimento a incisão cirúrgica era suturada e o animal

    mantido vivo durante dois a três dias no biotério da instituição, tempo necessários

    para permitir o deslocamento retrogrado intraneuronal do traçador. Após este

    período, o animal era profundamente anestesiado com cloral hidratado (0,4g/kg, i.p.),

    seguindo-se a uma abertura da região torácica para exposição do coração e

    perfusão via artéria aorta com 500ml de solução salina, seguida por 500ml de

    paraformaldeido a 1% e 1,25% de glutaraldeido em tampão fosfato 0,1M. O tronco

    cerebral era removido, fixado por 24h à 4oC em uma solução de sacarose a 10% e

    então seccionado coronalmente com espessura de 40 micrometros utilizando um

    micrótomo de congelamento.

    As secções foram colocadas em uma solução com 250ml de tampão fosfato (pH 7,6)

    e tratadas com Diaminobenzidina a 0,05%. As secções permaneciam nesta solução

    sendo agitados por dez minutos, após este tempo, era adicionado à solução H2O2

    numa concentração de 0,01% e agitado por mais dez minutos. O produto desta

    reação promove uma coloração escura no ponto de injeção da droga e no interior do

    corpo celular dos neurônios marcados retrogradamente. O local da microinjeção do

    HRP foi examinado microscopicamente para verificar a localização exata dentro da

    CPA. Em seguida as secções foram organizadas em lâminas histológicas e coradas

    com o corante vermelho neutro, permitindo assim uma melhor visualização do corpo

    celular dos neurônios marcados com o HRP dentro dos núcleos caudais da rafe.

    Estes neurônios foram visualizados com o auxílio do microscópio óptico, sendo suas

    coordenadas analisadas de acordo com o atlas estereotáxico (Paxinos e Watson,

    Acadamic Press, 1986).

    Um total de seis ratos com marcações positivas de HRP dentro da CPA foram

    utilizados para determinar os objetivos deste trabalho.

    As imagens dos neurônios marcados foram capturadas através de uma

    câmera de vídeo acoplada ao microscópio, digitalizadas e armazenadas no

    computador. Os dados dos animais em que não foi possível a visualização

    histológica positiva para a CPA foram desconsiderados e descartados.

  • 32

    4. RESULTADOS:

    Dois a três dias após a microinjeção de HRP na CPA, foram observados

    neurônios marcados em todos os três núcleos caudais da rafe, estando distribuídos

    de forma dispersa em cada um deles. Ao ser aplicada, a solução contendo o HRP se

    espalha pelo tecido do sistema nervoso e, após ser revelado, produz uma coloração

    marrom por toda extensão em que se difundiu. O pequeno volume da solução de

    HRP aplicado (50nl) permitiu que apenas o núcleo estudado (CPA) fosse circundado

    com a droga, como demonstrado na fotomicrografia abaixo (figura 5). Com isto

    evitando encontrar corpos neuronais marcados retrogradamente cuja seus botões

    terminais não estejam presentes nesta região.

    De uma maneira geral, os neurônios marcados com HRP nos núcleos caudais

    da rafe, nos seis ratos estudados, estavam distribuídos da seguinte maneira: Foram

    encontradas marcações com HRP dentro do núcleo RMg nos ratos 1, 2 e 3,

    somando um total dez neurônios marcados nestes animais. Para o núcleo RPa,

    foram vistas marcações nos ratos 1, 3, 4, e 5, totalizando quatorze neurônios

    marcados. E por ultimo, neurônios com HRP no núcleo NRO estavam presente nos

    ratos 2, 3, 4, 5 e 6, representando um somatório de onze neurônios marcados nestes

    animais.

    Figura 5. A) fotomicrografia demonstra o local de aplicação do HRP dentro da CPA do rato, secção de 40 µm; objetiva 10x.

    A

    CPA

  • 33

    As coordenadas de acesso a CPA utilizadas para aplicação do HRP, demonstraram

    um aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca quando estimuladas pela

    aplicação do glutamato. A figua seis representa os registros hemodinâmicos antes e

    após a microinjeção do L-glu.

    Figura 6. Respostas cardiovasculares da microinjeção unilateral de L-glutamato (L-glu; 20 nmol/50nL)

    na área pressora caudal (CPA), (A) Registros de pressão arterial (PA), pressão arterial média (PAM)

    e frequência cardíaca (FC); (B) cortes coronal e sagital representativos do sítio de microinjeção. O

    triângulo representa a microinjeção.

    L-glu

    A

    900 950 1000 1050 1100 seconds

    0

    50

    100

    150

    200

    mmHg

    PA

    0

    50

    100

    150

    200

    mmHg

    PAM

    0

    100

    200

    300

    400

    bpm

    FC

  • 34

    Na análise estatística dos registros de cinco animais, observou-se um aumento na

    PAM após a microinjeção de L-glu (102 ± 2,3 mmHg), significativamente maior que

    os registros controle (80 ± 3 mmHg; p< 0,01), como demonstrado na figura 7, nas

    coordenadas 1,0 mm caudal ao Óbex e 1,7 mm lateral à linha média, com uma

    profundidade de 2,0 mm da superfície dorsal do tronco cerebral do animal. Sendo

    este o sítio escolhido para a aplicação do HRP.

    Variação da pressão arterial médiaapós a microinjeção de L-glu na APC

    Cont L-glu0

    25

    50

    75

    100

    125ContL-glu**

    PAM

    mm Hg

    Figura 7. Efeitos da microinjeção unilateral de L-glutamato (L-glu; 20 nmol/50nL) na CPA, sobre as

    respostas de pressão arterial média (PAM) em ratos. Cont, controle antes da microinjeção do L-glu

    nos ratos *P

  • 35

    Neurônios marcados retrogradamente no RMg após microinjeção de HRP na

    CPA:

    Neste núcleo observou-se a menor dispersão celular no sentido rostro-caudal

    dos neurônios marcados com HRP, estas células estavam situadas entre -11,30 mm

    e -11,60 mm caudais ao Bregma (fig. 8).

    Figura 8. A) Fotomicrografia mostrando dois neurônios densamente marcados com HRP dentro do RMg a -11,30 mm do Bregma, com profundidade de 10,60 mm da superfície do crânio, objetiva 4x. B) Maior aumento da foto A mostrando os grânulos de HRP no neurônio, objetiva 10x.

    Dos dez neurônios encontrados marcados no núcleo RMg, três estavam a

    exatamente -11,30 mm, e os outros sete neurônios a -11,60 mm caudais ao Bregma.

    Estes últimos neurônios estavam situados com profundidade variando apenas entre

    10,4 mm a 10,7 mm em relação à superfície dorsal do crânio (fig. 9).

    Figura 9. Rato 1, dois neurônios marcados com HRP dentro do núcleo RMg a -11,60 mm do Bregma, com 10,60 mm e 10,70 mm de profundidade; canto superior esquerdo (seta). A) Demonstra os dois neurônios com um aumento numa objetiva 4x. B) Maior aumento de A, objetiva 10x. Pode ser observado também um neurônio marcado no RPa, canto inferior direito.

    A

    RMg

    B

    RMg

    A

    RMg

    B

    RMg

  • 36

    A quantidade total de neurônios encontrados marcados com grânulos de HRP dentro

    do RMg e seus respectivos posicionamentos tanto rostro-caudais quanto a

    profundidade da superfície do crânio são demonstrados na tabela abaixo (tab. 1).

    Tabela 1. Total de neurônios marcadas com HRP no RMg e suas respectivas localizações rostro-caudais e profundidades da superfície do crânio.

    10,40 – 10,70 -11,30 / -11,60 10 Geral

    10,40 – 10,70 -11,60 7 Marcações

    10,60 -11,30 3 Marcações

    Profundidade do crânio (mm)

    Rostro-caudal ao Bregma (mm)

    Número de Neurônios

    RMg

  • 37

    Neurônios marcados retrogradamente no RPa após microinjeção de HRP na

    CPA:

    Os quatorze neurônios marcados dentro do núcleo RPa nos animais

    estudados estavam distribuídos rostro-caudalmente entre -11,30 mm a -12,80 mm

    caudais ao Bregma, com uma profundidade variando entre 10,80 mm a 11,10 mm

    em relação à superfície dorsal do crânio. No rato 1 foram encontrados três neurônios

    marcados a aproximadamente -11,30 mm do Bregma, dois deles com profundidades

    de 10,80 mm e um a 10,90 mm da superfície craniana (figura 10).

    Figura 10: Rato1, neurônios marcados a aproximadamente -11,30 mm caudais ao Bregma. A) apresenta um neurônio marcado dentro do RPa com uma profundidade de 10,80 mm da superfície do crânio, objetiva 10x. B) outro neurônio marcado no RPa com 10,80 mm de profundidade (seta), além de outros dois no núcleo RMg, objetiva 10x. C) um único neurônio a 10,90 mm de profundidade no RPa, objetiva 10x.

    A aproximadamente -11,60 mm do Bregma, mais cinco neurônios foram marcados

    com HRP no núcleo da RPa, dois deles são demonstrado na figura abaixo com

    profundidade de 10,80 mm e 11,00 mm da superfície dorsal. Puderam ser

    observados também na parte superior esquerda da figura, neurônios marcados no

    núcleo RMg (figura 11). Dos outros três neurônios encontrados no Núcleo RPa,

    Núcleo RPa

    A

    RPa

    B

    RPa

    C

    RPa

  • 38

    porém não visualizados aqui, dois estavam com profundidade igual a 11,00 mm e

    um com 10,90 mm da superfície dorsal.

    Figura 11. Rato 1; Neurônio marcado com HRP no núcleo RPa a -11,60 mm do Bregma, objetiva 10x. A) A seta indica uma célula marcada com profundidade de 10,80 mm dorso-ventral no RPa. Duas células marcadas podem ser observadas no canto superior esquerdo, núcleo RMg. B) Um neurônio marcado a 11,00 mm de profundidade no núcleo RPa, a -11,60 mm do Bregma. Quatro neurônios marcados com HRP foram encontrados a -11,80 mm do Bregma, com profundidade variando entre 10,80 mm e 11,00 mm dorso-ventral. O nível mais caudal do núcleo RPa onde foi encontrado neurônio marcado foi a -12,80 mm caudal ao Bregma, nesta região foram encontrados apenas dois neurônios marcados com HRP, estando estas células localizadas a 10,80 mm da superfície dorsal do crânio (figura 12). Figura 12. Rato 5; A) neurônio marcado com HRP no núcleo RPa, a -12,80 mm do Bregma com 10,80 mm de profundidade da superfície craniana, objetiva 4x. B) Outro neurônio com HRP no núcleo RPa, a -12,80 mm do Bregma e 10,80 mm de profundidade, objetiva 10x.

    B

    RPa

    A

    RPa

    B

    RPa

    A

    RPa

  • 39

    O total de neurônios encontrados com grânulos de HRP dentro do RPa e seus

    respectivos posicionamentos, tanto rostro-caudais quanto a profundidade da

    superfície do crânio, são demonstrados na tabela abaixo (tab. 2).

    Tabela 2. Total de neurônios marcadas com HRP no RPa e suas respectivas localizações rostro-caudais e profundidades da superfície do crânio.

    10,80 a 11,10 -11,30 a -12,80 14 Geral

    10,80 -12,80 2 Marcações

    10,80 - 10,90 -11,80 4 Marcações

    10,80 - 11,00 -11,60 5 Marcações

    10,80 - 10,90 -11,30 3 Marcações

    Profundidade do crânio (mm)

    Rostro-caudal ao Bregma(mm)

    Número de neurônios

    RPa

  • 40

    Neurônios marcados retrogradamente no NRO após microinjeção de HRP na

    CPA:

    Quatro dos onze neurônios contendo grânulos de HRP encontrados nos NRO

    nos animais estudados, estavam a uma distancia de -11,60 mm do Bregma (figura

    13) e outros quatro a -11,80 mm do Bregma, com a profundidade destes oito

    neurônios em relação à superfície do crânio variando apenas entre 10,00 mm a

    10,60 mm. Apenas um único neurônio foi encontrado com distancia dorso-caudal do

    Bregma de -11,96 mm. Porém, sua profundidade foi a maior encontrada de todos os

    neurônios marcados com HRP dentro do NRO, sendo ela de 10,80 mm da superfície

    craniana.

    D Figura 13. Fotomicrografias demonstram a presença de neurônios marcados com HRP dentro do NRO à -11,60 mm do Bregma. A) Dois neurônios marcados situados a -11,60 mm caudais ao Bregma no rato 2, com 10,00 mm e 10,10 mm da superfície do crânio; objetiva 4x. B) Maior aumento da foto A mostrando os grânulos de HRP dentro do neurônio; objetiva 10x. C) Marcação com HRP em dois neurônios no NRO a -11,60 mm do Bregma com profundidade de 10,10 mm e 10,20 mm do crânio; objetiva 4x. D) Maior aumento de C mostrando densos grânulos de HRP no interior dos neurônios; objetiva de 10x.

    Nesta mesma região, ou seja, a -11,96 mm caudal ao Bregma, pode-se

    observar a presença de dois outros neurônios marcados dentro do núcleo reticular

    D

    NRO

    A

    NRO

    B

    NRO

    C

    NRO

  • 41

    gigantocelular ventral (GiV), com profundidade semelhante à do neurônio

    encontrado no NRO (figura 14), ambos com 10,80 mm da superfície craniana.

    Figura 14. A) Neurônio impregnado com grânulos de HRP no NRO a -11,96 mm do Bregma com 10,80 mm de profundidade dois dias após ser injetado na CPA, (seta preta). Alem do neurônio marcado no NRO podem-se observar outros dois neurônios (seta azul) sitiados no GiV a 10,70 mm de profundidade, com presença do marcador HRP; objetiva 4x. B) Maior aumento do neurônio no NRO da foto A; objetiva 10x.

    B

    NRO

    A

    NRO

    A

  • 42

    A região mais caudal do NRO que pôde ser observado a presença de

    neurônios marcados após a aplicação do HRP na área pressora caudal foi a -12,72

    mm do Bregma, neste nível foi encontrado um neurônio marcado no rato 3 e um

    neurônio marcado no rato 5 com profundidades de 10,40 mm e 10,50 mm

    respectivamente da superfície do crânio (figura 15).

    Figura 15. A) Neurônio marcado no NRO a -12,72 mm do Bregma e 10,40 mm de profundidade; objetiva 4x. B) Fotomicrografia de um neurônio marcado com HRP dentro do NRO a -12,75 mm do Bregma com 10,50 mm de profundidade, objetiva 4x.

    A

    NRO

    B

    NRO

  • 43

    A quantidade total de neurônios encontrados marcados com grânulos de HRP dentro

    do NRO e seus respectivos posicionamentos, tanto rostro-caudais quanto à

    profundidade da superfície do crânio, são demonstrados na tabela abaixo (tab. 3).

    Tabela 3. Total de neurônios marcadas com HRP no NRO e suas respectivas localizações rostro-caudais e profundidades da superfície do crânio. Neurônios marcados com HRP em outras regiões bulbares:

    Além dos neurônios marcados dentro dos núcleos caudais da rafe, outras

    regiões bulbares como núcleo oliva inferior dorsal (IOD), núcleo oliva inferior medial

    (IOM), núcleo reticular gigantocelular (Gi), núcleo reticular gigantocelular alfa (GiA),

    núcleo reticular gigantocelular ventral (GiV) e tracto piramidal (Py) também

    demonstraram neurônios marcados retrogradamente com HRP após a microinjeção

    na CPA (figura 16). Quase todos os neurônios encontrados nestes núcleos estavam

    situados a uma distancia caudal ao Bregma entre -11,60 mm e -11,80 mm. Porem

    três neurônios com marcações de HRP foram encontrados a -11,96 mm caudal ao

    Bregma, sendo um deles encontrado no núcleo Gi, com profundidade de 10,30 mm

    da superfície craniana, e dois no núcleo GiV, com 10,60 mm de profundidade da

    superfície do crânio. Apenas um neurônio foi encontrado no núcleo IOD situado a

    -11,80 mm caudal ao Bregma com 10,60 mm de profundidade e dois no núcleo IOM

    com -11,60 mm e -11,80 mm do Bregma, e profundidade de 11,00 mm da superfície

    craniana. Quatro neurônios com HRP intracelular foram encontrados no núcleo GiA,

    três estavam -11,30 mm e um -11,60 mm caudais ao Bregma. A profundidade em

    relação à superfície do crânio era de 10,70 mm aproximadamente, ou seja, na

    superfície ventral bulbar.

    Outros quatro neurônios foram observados no núcleo GiV entre -11,80 mm e

    -11,96 mm do Bregma estando com aproximadamente 10,50 mm de profundidade

    da superfície craniana. Por ultimo dois neurônios marcados com HRP foram

    10,00 - 10,80 -11,30 a -12,80 11 Geral

    10,40 - 10,50 -12,72 2 Marcações

    10,80 -11,96 1 Marcações

    10,10 - 10,60 -11,80 4 Marcações

    10,00 - 10,20 -11,60 4 Marcações

    Profundidade do crânio (mm)

    Rostro-caudal ao Bregma(mm)

    Número de Neurônios

    NRO

  • 44

    observados dentro do tracto piramidal bulbar, ambos a -11,60 mm caudais ao

    Bregma, com 11,10 mm e 11,20 mm de profundidade do crânio.

    Figura 16. Neurônios marcados com HRP em varias regiões bulbares. Neurônios marcados no núcleo IOM são demonstrados nas fotomicrografias A e B, objetiva 4x. C) Uma única célula foi encontrada no núcleo Gi, objetiva 10x. Em D, E e F neurônios marcados com HRP no núcleo GiA, objetiva 4x. Em G um maior aumento de F, objetiva 10x. F) Dois neurônios marcados no tracto piramidal (seta), objetiva 10x.

    D GiA

    A

    IOM

    Gi

    C

    GiA

    G

    IOM

    B

    H Py

    E

    GiA

    F

    GiA

  • 45

    5. DISCUSSÃO:

    Os resultados encontrados neste trabalho nos permitem visualizar uma

    importante comunicação neuroanatômica entre os núcleos caudais da rafe, áreas

    descritas como envolvidas no controle cardiovascular, e uma segunda região

    também responsável por este controle, à área pressora caudal. A partir dos

    trabalhos publicados por Guertzenstein et al. (1973, 1974, 1977), diferentes linhas

    de pesquisas começaram a enfocar a participação de diversos grupos de neurônios

    da superfície bulbar na manutenção dos níveis basais de atividade tônica simpática

    para os vasos sanguíneos e coração, regulando a pressão arterial e a freqüência

    cardíaca. Estes centros participam da modulação momento a momento da pressão

    arterial, principalmente a partir de baro’ e quimiorreceptores, ligados por aferências

    ao núcleo do trato solitário (NTS), que origina e recebe projeções tanto da superfície

    ventral bulbar, quanto de regiões supra-bulbares, principalmente o hipotálamo

    (Guyenet, 1990; Dampney, 1994 a; Dampney et al., 2002). Na superfície ventral

    bulbar, estas projeções estariam ligadas a dois principais centros de controle

    cardiovascular: a área simpatoexcitatória e a área simpatoinibitória (conhecidas

    como RVLM e CVLM, respectivamente), principais responsáveis pela manutenção

    do tono vasomotor.

    Quando procuramos entender anatomofuncionalmente às áreas que

    participam conjuntamente do controle cardiovascular, não podemos deixar de

    mencionar a importância dos núcleos serotonérgicos da rafe, com atenção especial

    neste trabalho, para os três núcleos caudais bulbares (Núcleo rafe magno, pálido e

    obscuro). Ao analisar o sistema eferente dos núcleos da rafe, pode-se observar que

    os núcleos caudais apresentam neurônios cuja maioria de seus axônios se projeta

    para a medula espinhal, enquanto que os neurônios dos demais núcleos

    suprasegmentares projetam seus axônios principalmente para as regiões cerebrais

    superiores (Dahlstrom e Fuxe, 1965). Estes autores descreveram ainda que os

    axônios dos núcleos caudais da rafe que descendem pelo tronco cerebral penetram

    na medula espinhal, através do funículo dorso lateral encaminhando-se para o corno

    dorsal e para a cadeia simpática intermédio lateral tóraco-lombar fazendo sinapses

    com neurônios pré-ganglionares simpático. Essa conexão dos núcleos caudais da

    rafe com grupos de neurônios pré-ganglionares simpáticos da medula espinhal,

    fortalecendo sua participação na regulação simpática, também foi relatada por outros

    autores (Loewy, 1981; Jones, 1996; Helke et al., 1997; Skinner et al., 1997). Por

  • 46

    outro lado, a importância de cada um dos núcleos bulbares da rafe no controle e

    modulações de vários componentes fisiológicos também pode ser sugerida pelas

    conexões suprassegmentares. Alguns pesquisadores relatam que a participação na

    regulação cardiovascular e respiratória destes núcleos pode ser parcialmente

    explicada pelas projeções para a superfície ventral bulbar (Chan et al., 1986; Van

    Bockstaele et al., 1989; Nicholas & Hancock, 1990; Zagon, 1993, 1995; Silva et al.,

    2002), onde existem importantes centros integradores das respostas

    cardiovasculares e respiratórias. A interconexão entre o NRO e o RVLM foi descrita

    por Zagon em 1995. O bloqueio dos receptores de aminoácidos excitatórios no

    RVLM e na CPA altera as respostas cardiovasculares à estimulação elétrica do

    núcleo rafe obscuro, podendo-se a partir daí, supor uma relação entre estas áreas

    no controle de diferentes respostas comportamentais ou autonômicas (Silva et al.,

    2002).

    No presente trabalho procurou-se entender as conexões anatomofuncionais

    entre os núcleos caudais da rafe (núcleo magno, pálido e obscuro) com a CPA,

    região descrita como fundamental integrante, entre os núcleos da superfície ventral

    bulbar, para o controle cardiovascular. Como demonstrado nos resultados, foi

    observada a existência de conexões eferentes monossinápticas entre todos os três

    núcleos caudais da rafe com a área pressora caudal. Isto demonstra que os

    neurônios dos núcleos caudais da rafe, além de se projetarem em direção à medula

    espinha, com projeções destinadas à coluna IML como descrito por Dahlstrom e

    Fuxe em 1965, pelo menos uma parte destes neurônios, também fazem sinapse

    com a CPA. Horiuchi & Dampney em 2002, propuseram uma desinibição direta e

    indireta dos neurônios simpatoexcitatórios do RVLM pela CPA como já relatado na

    introdução. As marcações encontradas com HRP nos núcleos caudais da rafe

    demonstram uma via eferente monossináptica destes núcleos sobre a CPA,

    apontando uma ligação direta entre estas regiões, o que sugerem novas influencias

    sobre a CPA e conseqüentemente no controle da pressão arterial, ampliando ainda

    mais o circuito descrito por Horiuchi & Dampney, 2002. Neste circuito as aferências

    para a CPA não foram relatadas por estes autores, sendo demonstradas em nossos

    resultados, que pelo menos uma boa parte dessas, possui origem nos núcleos

    caudais da rafe.

  • 47

    Provavelmente, parte desta via para a CPA (com origem no NRO) envie

    projeções eferentes, cuja neurotransmissores responsáveis pela estimulação, sejam

    aminoácidos excitatórios como sugerido por Silva et al. em 2002 quando relatou que

    o bloqueio destes receptores na CPA impede a elevação da pressão arterial

    decorrente da estimulação do NRO. Este mesmo autor demonstrou ainda que o

    bloqueio destes receptores na RVLM também altera suas respostas

    cardiovasculares. Futuro Neto et al. (1996), obtiveram resultados onde a

    microinjeção de glicina na RVLM alteravam as respostas cardiovasculares, porem,

    não conseguiram bloquear estas respostas com a aplicação de antagonistas

    serotonérgicos, sugerindo que os receptores 5-HT1 (com seus subtipos), 5-HT2 e 5-

    HT3 da RVLM não estariam envolvidos nestas respostas.

    O núcleo rafe magno, o mais rostral dos três núcleos caudais da rafe, começa

    a aparecer no tronco cerebral, de acordo com o Atlas de coordenadas estereotáxica

    de Watson & Paxinos (1986), a partir de -9,16 mm caudal ao bregma, e se estende

    rostro-caudalmente ate -11,60 mm desta região. Os resultados deste trabalho

    demonstraram que os neurônios marcados retrogradamente com HRP no RMg, após

    microinjeção desta droga na CPA, encontram-se numa área bastante restrita e com

    a menor dispersão celular encontrada dos três núcleos da rafe estudados,

    compreendida entre -11,30 mm a -11,60 mm do bregma. Sete, dos dez neurônios

    marcados nesta região, foram encontrados no limite caudal deste núcleo, ou seja, a

    -11,60 mm do bregma (figura 17). Isso nos mostra que apenas a porção mais caudal

    do núcleo RMg projeta seus axônios para a CPA.

    A profundidade em que foram encontrados os neurônios no núcleo rafe

    magno também variou muito pouco, estando entre 10,40 mm e 10,70 mm da

    superfície dorsal do crânio. Esta pequena variação, tanto no sentido rostro-caudal

    quanto dorso-ventral, sugere a existência de subdivisões ou subnúcleos dentro do

    núcleo rafe magno, enviando suas projeções axônais para diferentes regiões

    encefálicas, para grupos de neurônios pré-ganglionares simpáticos da medula

    espinhal, e outras regiões do tronco cerebral fornecendo a base anatômica de sua

    participação na regulação simpática, como demonstrado em trabalhos anteriores

    (Loewy, 1981; Jones, 1996; Helke et al., 1997; Skinner et al., 1997).

    A substancia cinzenta pereaquedutal está envolvida nas respostas

    cardiovasculares à dor, e foi demonstrado, que o RMg serve como um rele para

    estas alterações (Rachel et. al., 1997).

  • 48

    Foi observado que a ativação dos neurônios do NRO é semelhante à do RMg

    após estimulo dolorosos cutâneos (Dantas et. al., 1990). Podemos sugerir que o

    aumento da atividade nestes núcleos após estímulos dolorosos pode estar

    relacionada, pelo menos em parte, com as alterações cardiovasculares encontradas

    na presença da dor, através da ligação destes núcleos com a CPA.

    O núcleo rafe pálido, quando comparado com os outros dois núcleos caudais

    da rafe, é o que possui a localização mais ventral dentro do tronco cerebral. Ele se

    encontra numa posição intermediaria rostro-caudalmente em relação ao núcleo rafe

    magno e o núcleo rafe obscuro segundo o Atlas de Watson & Paxinos (1986), sua

    localização está entre -9,80 mm e -14,08 mm caudal ao Bregma, o que nos mostra

    uma extensão bem maior que a do núcleo da rafe magno descrito anteriormente. Os

    neurônios contendo os grânulos de HRP dentro deste núcleo, com projeções

    axônais para a CPA, estão distribuídos a uma distancia entre -11,30 mm a -12,80

    mm caudais ao Bregma, com suas profundidades da superfície dorsal craniana

    variando de 10,60 mm a 11,10 mm. Foi encontrado um total de 14 neurônios

    contendo grânulos de HRP nesta área com projeções eferentes para a CPA, este foi

    o maior numero de neurônios marcados com HRP em um mesmo núcleo quando

    comparado com os outros dois núcleos estudados, sendo que, nove neurônios

    estavam situados entre -11,60 mm e -11,80 mm do Bregma (figura 17). Este achado,

    ou seja, um aglomerado de neurônios (nove neurônios), todas com praticamente a

    mesma coordenada estereotáxica, e o fato de apresentar o maior numero de

    neurônios marcados, reforça o trabalho de Taber (1960), que descreve o núcleo da

    rafe pálido como sendo o que apresenta a maior densidade neuronal dos núcleos

    caudais da rafe. Três neurônios com grânulos de HRP foram encontrados a -11,30

    mm e apenas dois neurônios marcados com HRP foram encontrados mais

    caudalmente a -12,80 mm de distancia do Bregma com 10,60 mm de profundidade.

    Como descrito na introdução, o núcleo rafe pálido recebe aferentes

    hipotalâmicos com origem na região peri e paraventricular da área hipotalâmica

    anterior e posterior (Luppi et al. 1986). Esta interligação entre o hipotálamo e o

    núcleo da rafe pálido e deste para a CPA, nos fornece uma forte base anatômica

    para a atuação em conjunto destas áreas no controle cardiovascular. Além do

    controle cardiovascular, a regulação da temperatura feita pelo hipotálamo também é

    mediada por neurônios que passam pelo RPa e, portanto dependem de sua

    integridade. Isto foi demonstrado por Cao et. al. (2004) após demonstrarem que a

  • 49

    inibição dos