Estudo de aspectos básicos da física e química do estado ... · Também estamos propondo uma...
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Universidade Federal de Sergipe
Pr-reitoria de ps-graduao e pesquisaNcleo de Ps-graduao em Fsica
Tese de doutorado
Estudo de aspectos bsicos da fsica e qumicado estado slido
Prof. Msc. Heveson Luis Lima de Matos
Prof. Dr. Marcos Antonio Couto dos Santos
So Cristvo, Setembro - 2016
Heveson Luis Lima de Matos
Estudo de aspectos bsicos da fsica e qumica doestado slido
Tese de doutorado apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao em Fsica da Universidade Federal deSergipe como parte dos requisitos para a obtenodo ttulo de doutor em Fsica.
Universidade Federal de Sergipe
Pr-reitoria de ps-graduao e pesquisa
Ncleo de Ps-graduao em Fsica
Orientador: Marcos Antonio Couto dos Santos
So Cristvo
Setembro - 2016
Lima, HevesonEstudo de aspectos bsicos da fsica e qumica do estado slido/ Heveson Luis Lima deMatos; orientador Marcos Antonio Couto dos Santos. - So Cristvo, 201666 p. : il.
Tese de doutorado Universidade Federal de Sergipe, 2016.1. Nmero atmico efetivo. 2. Separao entre os centros de carga. 3. Fator deempacotamento. 4. Seo de choque de fotoionizao I. Couto dos Santos, Marcos A.(orient.). II. Universidade Federal de Sergipe. III. Ncleo de Ps-graduao em Fsica.IV. Estudo de aspectos bsicos da fsica e qumica do estado slidoCDU 02:141:005.7
minha querida me.Eu sei que o amor imensurvel, mas hoje eu sei o quanto me ama. Sempre foi a maior
incentivadora da minha carreira... Obrigado por tudo, me!
Folha de aprovao
Esta monografia foi julgada adequada como TESE DE DOUTORADO para obteno do ttulode doutor em fsica, e aprovada em sua forma final pela banca examinadora.
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Marcos Antonio Couto dos Santos
Prof. Dr. Jos Joatan Rodrigues
Prof. Dr. Milan Lalic
Prof. Dr. Oscar Nassif Mesquita
Prof. Dr. William Paschoal
So Cristvo, 30 de setembro de 2016
AgradecimentosImportantes conquistas demandam agradecimentos. Ao fim desta etapa, exponho aqui os meus.
Inicialmente agradeo a Deus pela ddiva da vida, inteligncia e sabedoria, caractersticas estas
que me guiou no entendimento de alguns fenmenos da natureza. Agradeo aos meus pais Maria
e Joildo, no s pela vida, mas pela pacincia e dedicao, por terem me formado como pessoa,
por todos os princpios que me ensinaram. Aqui, destaco a fora e a humildade de minha querida
me, que durante todos esse anos, no mediu esforos, vendendo ovos na cidade de Canhoba, para
propiciar minha formao intelectual. Serei eternamente grato a eles, por todas as coisas que
aqui no cabem. Agradeo ao meu orientador professor Marcos Couto pelo incetivo, competncia,
pacincia e amizade no decorrer desses anos de trabalho. Agradeo tambm aos meus irmos So-
lange, Silmara, Junior, Heverton e Jefferson por todo o apoio e carinho. minha namorada Taline,
que nos ltimos meses tem sido minha inspirao. Aos colegas de pesquisa Adelmo e Yuri, que
durante todos esses anos, desde a graduao, contriburam para minha formao. Ao colega Joo
pelas discusses na segunda parte deste trabalho. Aos professores do departamento de fsica Mrio
Everaldo, Francisco, Grson, Nelson, Milan, Edson e Osmar pelo conhecimento slido adquirido
nas disciplinas. Aos colegas de sala Aline, Afrnio, Cldson, Coutinho, Daniela, Maria e Socorro
pelas discusses valiosas sobre fsica, e pelos momentos de diverso na hora do cafezinho. Aos
amigos Csar e Jonathan pela amizade slida desde a graduao. Ao secretrio e a assistente ad-
ministrativa do Ncleo de Ps-graduao, lvaro e Camila, pela ateno e disponibilidade sempre
com todos. Ao CNPq, a agncia de financiamento deste trabalho. Por fim, agradeo a todos a quem
pude ensinar algo, pois com eles aprendi muito; afinal de contas, de nada vale ter conhecimento e
no dissemin-los.
ResumoNeste trabalho uma contribuio aos conhecimentos bsicos de fsico e qumica do estado slido apresen-
tado. Baseado em conceitos fundamentais de fsico-qumica, tais como, distribuio de carga, eletronegati-
vidade e momento de dipolo eltrico dos compostos, uma expresso puramente analtica para obteno do
nmero atmico efetivo (Zeff ) e uma maneira geral de obter o fator de empacotamento cristalino, p, de qual-
quer sistema inico est sendo apresentada. A interao local ction-nion ocorre entre as nuvens eletrnicas
dos eltrons mais externos. Sendo assim, estamos postulando uma separao efetiva (Rij) entre os centros
de carga negativa e positiva de duas maneiras; em uma delas Rij relacionado com o momento de dipolo
eltrico e a diferena de eletronegatividade, e a outra por meio da diferena mdia entre os raios atmicos
e inicos (cristalinos) dos ons interagentes. Quando comparado aos dados experimentais analisados, previ-
ses de no mximo 20% tm sido obtidos para o Zeff de materiais diatmicos (BeO, LiF, Al2O3, MgO, NaF,
SiO2, CaF2, V2O3 e ZnO) e acima de 20% para os cristais poliatmicos (Li2B4O7 e CaSO4) aplicados em
dosimetria. Em fotnica, o comportamento crescente do ndice de refrao com Zeff , para o sistema vtreo
(0.7-x)NaPO3-0.3WO3-xBi2O3, confirmado. Combinando modelos de campo cristalino e carga efetiva,
temos feito previses de Zeff para o sistema Eu2O3 dentro do intervalo de dados experimentais analisados.
Tambm estamos propondo uma expresso analtica para calcular a seo de choque de fotoionizao (SCF)
de centros de impurezas ou defeitos isotrpicos, usando a teoria de perturbao dependente do tempo. A
funo de onda do estado fundamental do eltron capturado no estado da impureza descrito por um oscila-
dor harmnico isotrpico tridimensional e o eltron excitado na banda de conduo contnua descrito por
uma onda plana. A expresso foi obtida considerando todos os termos de multipolos no hamiltoniano, e que
o campo de radiao que interage com a matria semi-clssico e linearmente polarizado. Esta aproximao
assumida porque os efeitos lineares so dominantes. O modelo aplicado para prever a SCF dos cristais
Al2O3:C e Lu2SiO5:Ce, e as previses esto em bom acordo com os dados disponveis na literatura.
AbstractIn this work a contribution to basic knowledges of physical and chemistry of the solid state is presented.
Based on fundamental concepts of physical chemistry, such as charge distribution, electronegativity and
electric dipole moment of the compounds, a purely analytical expression for obtaining the effective atomic
number (Zeff ) and a general way to get the crystal packing factor, p, of any ionic system is being presented.
The local interaction cation-anion occurs between the electronic clouds of the outermost electrons. So,
we are postulating an effective separation (Rij) between the negative and positive centre of charge of two
ways; in one of them Rij is related to the electric dipole moment and the electronegativity difference, and
the other by the average difference between the atomic and ionic (crystalline) radii of the interacting ions.
When compared to the experimental data analyzed, predictions of up to 20% have been obtained for the
Zeff of diatomic materials (BeO, LiF, Al2O3, MgO, NaF, SiO2, CaF2, V2O3 and ZnO) and above 20% for
polyatomic crystals (Li2B4O7 and CaSO4) applied in dosimetry. In photonics, the increasing behavior of the
refractive index with Zeff for the glass system (0.7-x)NaPO3-0.3WO3-xBi 2O3 is confirmed. By combining
crystal field and effective charge models, we have done predictions of Zeff for the system Eu2O3 within
the range of experimental data analyzed. Also we are proposing an analytical expression to calculate the
photoionization cross-section (SCF) of isotropic defects or impurities centers, by using the time-dependent
perturbation theory. The ground-state wavefunction of the electron captured in the impurity state is described
by a three-dimensional isotropic harmonic oscillator and the excited electron in the continuum conduction
band is described by a plane wave. The expression has been obtained considering all multipoles terms in the
Hamiltonian, and that the radiation field which interacts with matter is semi-classical and linearly polarized.
This approximation is assumed because the linear effects are dominant. The model is applied to predict the
SCF of the Al2O3:C and Lu2SiO5: Ce crystals, and the predictions are in good agreement with the available
data in the literature.
SumrioSumrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i
Lista de ilustraes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii
Lista de tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv
Lista de abreviaturas e siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
Lista de smbolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vi
I Introduo 1
1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1 Consideraes Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Estado da Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
II Fundamentao Terica 12
2 Fundamentao Terica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.1 Eletronegatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Potencial de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Mtodo dos Primeiros Vizinhos Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Modelo de Batista-Longo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.5 Teoria de perturbao dependente do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.6 Interao da radiao clssica com a matria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
III Desenvolvimento 21
3 Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos . . . . . . . . . . . . . . 22
SUMRIO ii
3.1 Formulao para sistemas inicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Fator de empacotamento para sistemas poliatmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3 Dipolo eltrico: relao entre eletronegatividade e Rij . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.4 Aplicaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4 Seo de choque de fotoionizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.1 Formulao para centros de impurezas isotrpicas em isolantes . . . . . . . . . . . 33
4.2 Aplicao aos mecanismos de Luminescncia Oticamente Estimulada . . . . . . . 36
IV Concluses e Perpectivas 43
5 Consideraes Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
6 Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Referncias bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
V Artigos Publicados 52
iii
Lista de ilustraesFigura 1 Distribuio radial da carga do on Eu3+. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 2 Regio de interao entre as nuvens eletrnicas. Rij a distncia ction-nion
e Rij a separao entre os centros de carga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 3 Tendncia do ndice refrao linear, medido em 532 nm para diferentes concen-
traes de Bi2O3 (0 a 20% mol), com nmero atmico efetivo. . . . . . . . . . 29
Figura 4 Distncia Eu-PV como uma funo do fator de carga em cristais xidos e fluoretos. 31
Figura 5 Sistema de coordenadas polares com e e n ao longo dos eixos Ox e Oz. . . . . . 35
Figura 6 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromag-
ntica (J) para trs energias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde)
eV. A massa efetiva do eltron 0.22m0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 7 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromag-
ntica (J) para trs energias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde)
eV. A massa efetiva do eltron 0.32m0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 8 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromag-
ntica (J) para trs energias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde)
eV. A massa efetiva do eltron 0.42m0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 9 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus energia da radiao eletromag-
ntica (J) para trs energias de ativao diferente: 1.35 (preto), 1.50 (vermelho)
e 1.75 (verde) eV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
iv
Lista de tabelasTabela 1 Fatores de empacotamento usando os raios inico (pI) e cristalino (pC). Rij
dado em . As referncias so das estruturas [48]. . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Tabela 2 Zeff terico obtido com os raios cristalino (C) e inico (I), e dados experimentais. 32
v
Lista de abreviaturas e siglasNC Nmero de Coordenao
D Unidade de Debye
MENN Mtodo dos Primeiros Vizinhos Equivalentes
BLIM Modelo de Batista-Longo
REC Modelo de Carga Efetiva Radial
SCF Seo de Choque de Fotoionizao
TL Termoluminescncia
LOE Luminescncia Oticamente Estimulada
CTE Condutividade Termicamente Estimulada
vi
Lista de smbolosZeff Nmero Atmico Efetivo
p Fator de Empacotamento Cristalino
U Potencial de Interao
Momento de dipolo eltrico
Diferena de eletronegatividade
c Velocidade da luz
m Massa efetiva do eltron
Frequncia angular da radiao eletromagntica
~ Constante reduzida de Planck
g Fator de carga
fi Contedo fracional de eltrons
Seo de choque de fotoionizao
p Vetor momento linear do eltron
k Vetor de onda plana
Ei Energia de ativao
0 Funo de onda do estado inicial
|n Funo de onda do estado final
0 Frequncia angular de fnon
Constante de estrutura fina
ngulo slido
(En) Densidade de estados finais
Lista de smbolos vii
Rij Separao efetiva entre os centros de carga positiva e negativa
"Sonhar o sonho impossvel, sofrer a angstia implacvel, pisar onde os bravos no ousam,
reparar o mal irreparvel, amar um amor casto distncia, enfrentar o inimigo invencvel, tentar
quando as foras se esvaem, alcanar a estrela inatingvel: essa a minha busca."(Dom Quixote)
Parte I
Introduo
2
1 Introduo1.1 Consideraes Iniciais
No mbito da fsica do estado slido, o problema de materiais (isolantes e semicondutores)
interagindo com a radiao eletromagntica tem atrado muito ateno no mundo cientfico. Este
problema, de tal forma, de fundamental importncia no entendimento de vrias propriedades ti-
cas em materiais isolantes e semicondutores. Neste ponto, procedimentos tericos se torna uma
ferramenta importante para dar suporte a estudos experimentais, claramente, com intuito de econo-
mizar tempo e dinheiro. Isto tm ganhado destaque devido a sua grande importncia em diversos
campos de aplicao, que vo desde a fotnica at reas mdicas [13].
Modelos que discutem o comportamento de materiais do estado slido na presena da radiao
devem lidar com interaes tais como o acoplamento spin-rbita e potenciais de campo cristalino,
cada um com sua prpria dependncia particular do nmero atmico [46]. Para isto, alguns con-
ceitos tais como distribuio de carga, polarizabilidade atmica/molecular (), eletronegatividade
() dos constituintes da amostra e o nmero atmico efetivo (Zeff ) e o fator de empacotamento
cristalino (p) do material tm de ser levados em considerao. Estas duas ltimas quantidades,
com algumas excees, tm sido descritas apenas para sistemas monoatmicos, em livros textos
e at mesmo em muitos artigos recentes [4, 79]. Todos estes conceitos esto de alguma maneira
conectados uns aos outros. Por exemplo, a interao spin-rbita pode ser escrita em termos de Zeff
[4], pode ser escrita em termos da diferena de eletronegatividade () das espcies interagen-
tes [10, 11] ou conectados ao momento de dipolo eltrico [12], e a distribuio de carga pode ser
relacionada com o momento de dipolo eltrico () [13].
Materiais hospedeiros usados em fotnica (laser, sensores ticos, fosforescncia de longa du-
rao) e em aplicaes mdicas (termoluminescncia e luminescncia oticamente estimulada em
dosimetria) so principalmente cristais e vidros inicos, porque os materiais adequados devem ter
uma banda proibida suficientemente grande para abrigar estados e armadilhas metaestveis [2,14].
Defeitos e impurezas so responsveis pela existncia desses estados metaestveis na banda proi-
bida. O entendimento respeito do comportamento de cargas armadilhadas para produzir fenme-
nos, tais como, transies termicamente e opticamente estimulada ainda uma rea aberta, e uma
informao extremamente importante para permitir a produo de novos dispositivos ticos. Inten-
Captulo 1. Introduo 3
sidade e energia no ionizante da radiao incidente so caractersticas importantes para fotnica.
O ponto chave o ndice de refrao, n, que pode ser diretamente relacionado com o Zeff [7, 15].
Para aplicaes em dosimetria, a radiao ionizante interage com a matria, e quatro diferentes
processos qunticos, dependendo do intervalo de energia e Zeff , podem acontecer: o efeito fo-
toeltrico, os espalhamentos Thompson e Compton, e a produo de pares [4, 16, 17]. Na regio
de energia de efeito Compton (200-1000 keV) todos os materiais exibem comportamento similar,
claramente porque este efeito o espalhamento de raios-X por meio dos eltrons, e o espalhamento
no depende do material, mas apenas do ngulo de espalhamento. Entretanto, na regio de energia
de 10 eV a 200 keV, aproximadamente, o efeito fotoeltrico dominante, cada material responde
diferentemente, segundo o seu Zeff [17]. Desta maneira, esta a faixa experimental de energia
mais adequada para quantificar Zeff .
No entanto, a maioria dos trabalhos na literatura tm sugerido que o nmero atmico efetivo
varie com a energia da radiao incidente. Eles tm publicado dados experimentais, bem como
clculos fenomenolgicos e numricos de Zeff , para diferentes faixas de energia. Na faixa de
energia, de predominncia, do efeito Compton, Zeff permanece praticamente constante, entretanto,
assumido ter valores diferentes nesta regio de predominncia.
Por outro lado, quando tais materiais so submetidos a radiao de alta energia (raios-X, raios-,
partculas-), h a possibilidade da migrao eletrnica da banda de valncia, deixando um buraco
prximo a esta, para nveis de energia metaestvel na banda proibida. Estes nveis metaestveis
podem ter energia de ativao diferente (Ei), que podem ser classificadas como nveis de energia
raso, intermedirio e profundo [17, 18]. Sob a ao da perturbao eletromagntica, h a proba-
bilidade de um eltron capturado ser promovido para a banda de conduo e, subsequentemente,
recombinar-se com um buraco, emitindo um sinal luminescente.
Uma das grandezas fsica mais importantes para entender essas transies eletrnicas entre tais
nveis metaestveis, sob o efeito de uma perturbao eletromagntica, a seo de choque de fotoi-
onizao (SCF). Vrios trabalhos, desde a dcada de 60 at a dcada atual, tm dado contribuies
importantes para a compreenso desse mecanismo [1922]. Entretanto, o principal problema en-
frentado para calcular a SCF a perda de informao da funo de onda, que descreve o estado
metaestvel da impureza. Por outro lado, a competio entre transies radiativas e no radiati-
vas no levada em considerao. Porm, medidas de luminescncia oticamente estimulada tem
mostrado que a intensidade do sinal luminescente diminui com o aumento da frequncia de fnon
Captulo 1. Introduo 4
[23, 24].
Neste trabalho vamos tentar contornar alguns aspectos intrigantes deste tema, para dar uma
contribuio simples mas fundamental ao estudo analtico de Zeff e p de materiais poliatmicos,
com carter dominantemente inico, bem como para o clculo da SCF de sistemas isolantes. Na
primeira parte (cap. 3), proposta uma equao puramente analtica para calcular Zeff de materiais
poliatmicos, essencialmente inico. Para isso, estamos usando um potencial efetivo tipo Coulomb
(Ueff ) para descrever a interao ction-nion. Como Ueff se destaca como uma interao efe-
tiva, ele est sendo relacionado a um Zeff , que agora um nmero atmico mdio para compostos
poliatmicos. Est sendo introduzido um fator de empacotamento cristalino, p, uma maneira de
calcular o fator de empacotamento de compostos inicos poliatmicos atravs dos raios cristalino
(inico) dos constituintes. Isto importante porque apenas a radiao incidente na matria deve ser
considerada. Outro problema a ser enfrentado que o potencial de U deve conter uma distncia
efetiva para a interao ction-nion. A interao ocorre entre as nuvens eletrnicas. Assim, es-
tamos postulando uma separao efetiva (Rij) entre os centros de carga positivo e negativo. Esta
separao efetiva definida de duas maneiras diferentes; em uma delas Rij relacionado com o
momento de dipolo eltrico e a diferena de eletronegatividade, e a outra por meio da diferena
mdia entre os raios atmicos e inicos das espcies interagentes. Na segunda parte (cap. 4), uma
expresso analtica para SCF obtida, considerando todos os termos de multipolos no hamiltoni-
ano. Neste caso, o eltron no nvel da armadilha descrito por meio de um oscilador harmnico
isotrpico tridimensional e o eltron na banda de conduo descrito por meio de uma onda plana.
Neste trabalho, o modelo aplicado para prever a SCF dos cristais Al2O3:C e Lu2SiO5:Ce.
1.2 Estado da Arte
1.2.1 Nmero atmico efetivo
Na literatura o nmero atmico efetivo (Zeff ) de compostos poliatmicos tem sido atualmente
obtida por meio de expresses fenomenolgicas e cdigos numricos [16, 25]. As equaes fe-
nomenolgicas seguem uma lei de potncia, que so ajustadas, com base em dados experimentais,
para diferentes intervalos de energia, conforme o tipo de interao da radiao eletromagntica com
o material (neste caso o alvo). Os cdigos numricos so escritos, na sua maioria, em linguagem
Captulo 1. Introduo 5
de programao Fortran, e a partir deste cdigo, o Zeff calculado por meio da razo entre a seo
de choque atmica efetiva e a seo de choque eletrnica efetiva do material. Ambos os proce-
dimentos, na maioria, so usados para calcular o Zeff de materiais, tais como, tecido biolgico,
dosmetros, ligas, polmeros e compostos poliatmicos para diferentes tipos de interao.
A primeira expresso para descrever o nmero atmico efetivo de materiais poliatmicos foi
proposta, inicialmente, por Mayneord em 1937, fenomenologicamente, a partir de dados experi-
mentais para uma srie de materiais poliatmicos com Zeff pequeno. Esta equao segue uma lei
de potncia, e pode ser encontrada em livros textos contemporneos, tal como [1]
Zeff =mfiZmi (1.1)
sendo que m um expoente definido, empiricamente, como 2.94, e fi o contedo fracionrio de
eltrons pertencentes ao i-simo elemento de nmero atmico Zi do composto, respectivamente.
Por definio, fi dado por
fi =aiZi/AijajZj/Aj
(1.2)
ai e Ai so o peso atmico e a massa atmica do i-simo elemento. Estas grandezas so obtidas
facilmente por meio da tabela peridica e das concentraes de cada elemento qumico.
Hine [26], em 1952, estendeu a ideia de nmero atmico efetivo de um composto heterogneo
para diferentes tipos de interao da radiao eletromagntica com o material, como por exemplo,
os processos qunticos de feito fotoeltrico, Compton e produo de pares. Ele sugeriu que h di-
ferentes Zeff para cada processo de absoro em um composto poliatmico, a depender da energia
da radiao eletromagntica incidente no material. A equao de Hine expressa por
Zn1eff = piZn1i (1.3)
um fator de ajuste, pi a parte fracionria por peso do i-simo elemento Zi do composto, sendo
que pi muito similar a fi. J o expoente n assume valores entre 4 e 5 para o efeito fotoeltrico, 1
para o efeito Compton e 2 para produo de pares, respectivamente. Este um ponto contraditrio
por se tratar de materiais do estado slido, mas deixaremos para discutir, mais detalhadamente, nas
consideraes finais.
Captulo 1. Introduo 6
Posteriormente ao trabalho de Hine, Murty em 1965, em uma comunicao, examinou a vali-
dade das diferentes expresses (1.3) e sugeriu uma nova equao para descrever o nmero atmico
efetivo de compostos poliatmico [27]. A expresso de Murty foi testada para sete materiais hete-
rogneos, tais como ligas e compostos. Os resultados obtidos so, em sua maioria, similares aos
encontrados por Hine. Entretanto, est equao representa bem o Zeff na regio de predominncia
do efeito Compton, em comparao com a sugesto de Hine. A expresso
Zeff = (piZi/Ai)/(pi/Ai) (1.4)
pi a frao por peso e Ai o peso atmico do i-simo elemento.
Destas equaes apresentadas, at o momento, a equao de Mayneord a mais utilizada na
descrio do Zeff de materiais poliatmicos, em diversas reas afins. Recentemente, Bos em 2001
[16], em um trabalho de reviso sobre os fenmenos fsicos da termoluminescncia para aplicao
em dosimetria, tem discutido o comportamento de Zeff com o expoente m, da equao 1.1. A
partir de dados experimentais, da resposta da energia dos ftons, para alguns materiais com apli-
cao em dosimetria termoluminescente, ele tem obtido m = 3.5 como o valor mais razovel para
descrever o nmero atmico efetivo, na regio de predominncia do efeito fotoeltrico. Os materi-
ais analisados (LiF, BeO, Li2B4O7, MgO entre outros) tm sido bastante estudados para aplicao
em dosimetria pessoal, por terem um Zeff semelhante ao do tecido humano, e sendo assim podem
ser utilizados como dosmetros para estimar a dose absorvida, a depender de outras caractersticas
complementares.
Trabalhos publicados recententemente, tanto no mbito experimental quanto em clculos num-
ricos, tm feito uso da equao 1.1 para efeito de comparao dos resultados [25,28]. Tambm em
livros textos, dos ltimos anos, como o de Yukihara e Mckeever [17], que faz uma descrio sobre
os aspectos fsicos fundamentais da luminescncia oticamente estimulada, tm feito uma aborda-
gem similar a de Bos [16] para a descrio do nmero atmico efetivo, na regio de predominncia
do efeito fotoeltrico.
Pelo lado dos cdigos numricos, Taylor et al. [25] propuseram um mtodo computacional para
calcular o nmero atmico efetivo de materiais poliatmicos, considerando o comportamento da
dependncia da energia, dentro do contexto da fsica mdica. A metodologia faz uso da correlao
entre a seo de choque atmica e Zeff . Neste caso, a seo de choque relacionada com o
Captulo 1. Introduo 7
coeficiente de atenuao de massa e com a frao de peso dos elementos constituintes do material.
Sendo assim, o nmero atmico efetivo definido, como segue
Zeff =ae
(1.5)
sendo que, a e e so as sees de choque atmica e eletrnica, respectivamente.
A expresso 1.5 tambm pode ser reescrita em termos do coeficiente de atenuao de massa e
da frao de peso dos elementos constituintes do material, tal como
Zeff =
ifiAi(
)i
ifiAiZi()i
(1.6)
At o presente momento, esses dois procedimentos (fenomenolgico e numrico) so os mais
utilizados na literatura, para obteno do Zeff de materiais poliatmicos.
Alguns pontos merecem comentrios:
i) Ambos os procedimentos no levam em considerao a interao entre os ons, mesmo li-
dando com materiais do estado slido;
ii) No h na literatura procedimentos analticos para obteno do Zeff ;
iii) Apesar do efeito fotoeltrico ser a nica interao a sentir a inrcia dos eltrons, no material
poliatmico, a literatura tem assumido Zeff diferente para o mesmo material, em faixas de energia
diferente(fotoeltrico, Compton e produo de pares);
iv) Na regio de predominncia de efeito Compton, o espalhamento no depende do material,
mas apenas do ngulo de espalhamento;
v) Na regio de predominncia de produo de pares, a radiao interage com o ncleo do
material; e
vi) Conhecer o Zeff precisamente importante em diversas aplicaes, como por exemplo, no
desenvolvimento de novos dosmetros.
1.2.2 Seo de choque de fotoionizao
Entender o comportamento da interao da radiao eletromagntica com a matria de funda-
mental importncia na descrio de propriedades de materiais isolantes e semicondutores. Desde a
dcada de 60 at os dias atuais, vrios modelos tm sido propostos com o intuito de prever a seo
Captulo 1. Introduo 8
de choque de eltrons ligados em isolantes e semicondutores [1922, 2932]. A seo de choque
uma grandeza importante para caracterizar as impurezas.
Um dos primeiros trabalhos tericos propostos para descrever este comportamento foi desen-
volvido por Lucovsky [19]. O modelo faz uso de um potencial funo- para obter a funo de onda
da impureza doadora, e uma funo de onda plana para descrever o eltron na banda de conduo.
Este procedimento realizado na aproximao de dipolo eltrico, de tal modo a obter a seo de
choque de fotoionizao. No entanto, este modelo descreve bem, com certa preciso, apenas nveis
metaestveis profundos, uma vez que levado em considerao apenas os efeitos de Coulomb de
curto alcance.
Posteriormente, outros modelos foram desenvolvido com o intuito de melhorar as previses do
modelo Lukovsky. Tais modelos so muito similares, uma vez que todos eles fazem uso de um
potencial funo- modificado para obter a funo de onda dos nveis metaestveis [29,30]. Outros
modelos tambm tem caracterizado as impurezas na banda proibida por meio de outros efeitos
perturbativos [21, 31].
Mais recentemente, Sali et al. [32] propuseram um modelo para calcular a SCF de materi-
ais semicondutores. Este um modelo hidrogenoide anisotrpico associado com o acoplamento
eltron-fnon, e uma comparao entre os efeitos de isotropia e anisotropia da massa efetiva
levado em considerao.
Alguns pontos merecem comentrios:
i) Todos esses modelos so obtidos na aproximao de dipolo eltrico;
ii) A competio entre transies radiativas e no radiativas no levada em considerao;
iii) Medidas de LOE e TL tem mostrado que a intensidade do sinal LOE (TL) diminui com o
aumento da frequncia de fnon [23, 24];
iv) Todas as funes de ondas utilizadas para descrever a impureza doadora, no nvel meta-
estvel, nem sempre descreve bem impurezas de caractersticas diferentes (rasa, intermediria e
profunda);
v) Ainda h uma busca por funes de ondas, que consigam descrever o nvel da impureza, sem
perda de informao; e
vi) Outras grandezas fsicas, envolvidas na tcnica de luminescncia oticamente estimulada
dependem da SCF.
Captulo 1. Introduo 9
1.3 Objetivos
Propor uma maneira puramente analtica de prever o nmero atmico efetivo de materiaispoliatmicos, essencialmente inico, a partir de conceitos fundamentais de fsico e qumica;
Obter uma maneira geral de calcular o fator de empacotamento cristalino de qualquer materialpoliatmico a partir de informaes estruturais;
Definir e obter a separao efetiva entre os centros de carga positivo e negativo; Analisar o comportamento do ndice de refrao linear e no-linear com relao a concentra-
o de xido de bismuto numa matriz vtrea;
Aplicar a equao de Zeff para materiais utilizados em dosimetria; Comparar o uso dos raios inicos e cristalinos na expresso de Zeff ; Propor uma maneira analtica de calcular a SCF, considerando todos os termos de multipolos
no hamiltoniano;
Descrever a funo de onda da impureza doadora, por meio do oscilador harmnico isotrpicotridimensional;
Aplicar este modelo para prev a SCF dos cristais Al2O3:C e Lu2SiO5:Ce.
1.4 Estrutura
O trabalho est dividido em 6 partes. Na introduo (cap. 1) iremos relatar a importncia da re-
alizao de estudos tericos para entender diversas propriedades fsicas, bem como alguns aspectos
relevantes, que ainda no so completamente entendidos na literatura. Na fundamentao terica
(cap. 2), sero apresentados em detalhes algumas teorias, bem consolidadas, que foram tomadas
como base para o desenvolvimento deste trabalho. O desenvolvimento ser dividido em duas par-
tes: cap. 3 e 4. Na primeira parte, vamos dar uma contribuio analtica para prever o Zeff de
qualquer material poliatmico, essencialmente inico, bem como uma maneira de calcular o fator
de empacotamento cristalino. Para isso, vamos postular uma separao efetiva entre os centros de
carga positivo e negativo. Tambm vamos definir essa grandeza em termos do momento de dipolo
eltrico e da diferena de eletronegatividade. Nas aplicaes, faremos uso das equaes descritas
para calcular o Zeff de materiais utilizados em dosimetria, bem como descrever o comportamento
do ndice de refrao linear e no-linear com relao a concentrao de xido de bismuto. Tam-
Captulo 1. Introduo 10
bm calcularemos o fator de empacotamento cristalino de todos esses materiais. Na segunda parte,
vamos obter uma expresso para prever a SCF, de centros de impurezas isotrpicas, em isolantes.
Em seguida, o modelo ser aplicado para dois cristais. Nas concluses, vamos expor os objetivos
alcanados ao final do trabalho, e mencionar algumas problemticas em aberto, que sero deixadas
como perspectivas. Por fim, ser apresentado as referncias e os artigos publicados.
"Se seus sonhos estiverem nas nuvens, no se preocupe, pois eles esto no lugar certo; agora
construa os alicerces"(William Shakespeare)
Parte II
Fundamentao Terica
13
2 Fundamentao Terica2.1 Eletronegatividade
A natureza da ligao qumica entre dois tomos vem sendo estudada desde o incio do sculo
XX. Pauling e Mulliken, precursores neste tema, deram as maiores contribuies respeito da ori-
gem, bem como os fundamentos fsicos e qumicos relacionados. O entendimento de como ocorre
a ligao qumica entre dois ons, num sistema qualquer, de importncia prtica, na descrio de
diversos fenmenos que ocorrem na natureza.
Uma grandeza importante na quantificao do carter da ligao qumica, entre dois tomos
numa molcula, a eletronegatividade. Pauling foi o primeiro a definir este conceito como "a
potncia de um tomo, numa molcula, atrai eltrons para si"[33]. Pauling formulou a escala de
eletronegatividade baseado numa relao emprica, envolvendo a energia de ligao simples dos
tomos ligados. A partir desta relao, foi estimado a eletronegatividade dos vrios elementos da
tabela peridica.
Outras escalas de eletronegatividade, baseada em diversas propriedades fsico-qumicas, tais
como potencial de ionizao e afinidade eletrnica, fora de atrao entre os ncleos, e momento
de dipolo, tm sido desenvolvida [3336]. Em adio, h mtodos de equalizao de eletronegativi-
dade. Tais mtodos estabelecem que as molculas tm equalizada a eletronegatividade das espcies
ligadas. Isto usado em teoria do funcional da densidade (DFT), e definido como o negativo
do potencial qumico [37, 38].
Uma maneira conveniente de quantificar o carter da ligao qumica (inica ou covalente)
simples dado pela diferena de eletronegatividade, entre as duas espcies qumicas interagen-
tes. Pauling formulou uma expresso emprica para quantificar o carter parcial inico da ligao
simples entre dois tomos quaisquer, com a diferena de eletronegatividade.
Para sistemas diatmicos heteronucleares h uma relao muito aproximada entre dipolo el-
trico permanente (em unidades de Debye) e diferena de eletronegatividade ((D) = ). Entre-
tanto, essa relao nem sempre apresenta resultados satisfatrios, com a exceo de alguns materi-
ais, tais como, halogenetos de hidrognio e halogenetos alcalinos [10].
Captulo 2. Fundamentao Terica 14
2.2 Potencial de Coulomb
A interao de cargas que so, essencialmente, eletrosttica entre dois ons quaisquer, numa
molcula, podem ser descritas pelo potencial eletrosttico de Coulomb. Para isto, considere dois
ons, de carga efetiva nuclear Z1 e Z2, separados por uma distncia r, que interagem entre si
por meio de uma fora coulombiana. Sendo assim, o potencial de interao dado pela seguinte
expresso [39],
U(r) =Z1Z2r
(2.1)
A Eq. 2.1, proposta por Coulomb, descreve a interao(repulso) entre duas partculas carrega-
das. A interao de Coulomb, de simetria esfrica, um potencial de longo alcance, que varia com
o inverso da distncia entre os dois ons.
Este tipo de potencial utilizado para explorar a natureza da ligao qumica e, consequente-
mente, muitas das propriedades fsicas de um slido cristalino. Em sistemas essencialmente inico,
a interao de Coulomb predominante entre ons carregados, e com magnitude muito maior do
que as interaes de curto alcance, como as de London e Van der Waals, que so devido as intera-
es entre multipolos.
2.3 Mtodo dos Primeiros Vizinhos Equivalentes
O MENN, do ingls Method of Equivalent Nearest Neighbors, foi proposto por Couto dos San-
tos em 2008 [40], e tem sido recentemente aperfeioado [41]. O MENN baseado no SOM [42], do
ingls Simple Overlap Model, um modelo que tem conseguido apresentar resultados satisfatrios
para os parmetros de campo cristalino com posto k = 2, bem como, reproduzir o desdobramento
experimental do nvel de energia com J = 1. Entretanto, a magnitude da carga de interao entre
o on Ln3+ e sua vizinhana algo ainda discutido na literatura. Diante de tais aspectos, o MENN
baseado nas seguintes premissas.
i) Os primeiros vizinhos (PV) devem ser identificados. As condies de simetria juntamente
com o ambiente qumico dos PV devem ser levados em considerao relembrando os conceitos de
equivalncia a partir da teoria de grupos a ponto de refinar a identificao;
Captulo 2. Fundamentao Terica 15
ii) O desdobramento E experimental deve ser previsto por um conjunto de cargas gj ainda
fenomenolgico;
iii) A soma
j gj deve ser igual valncia do IC.
A primeira condio do MENN essencial para reduzir o nmero de graus de liberdade.
importante ressaltar que as condies ii) e iii) do origem a duas equaes, que considera a simetria
e a neutralidade eletrosttica do stio luminescente como os aspectos mais importantes para realizar
as previses. Entretanto, o nmero de PV equivalentes no deve exceder o nmero de equaes
existentes, ou seja, dois. Esta uma das razes do MENN apenas ser bem sucedido para sistemas
de alta simetria, no qual dois graus de liberdade so suficientes para fazer a descrio do sistema. A
partir das condies apresentadas pelo MENN, possvel descrever satisfatoriamente os parmetros
de campo de cristalino de posto k = 2, desdobramento de energia, sinal do B20 , simetria local
do stio luminescente e posio dos subnveis de energia do multipleto 7F1 para sistemas de alta
simetria, como mostrado em [41].
2.4 Modelo de Batista-Longo
Batista-Longo Improved Model (BLIM) um modelo que descreve a carga do on eurpio,
e tem como principal objetivo melhorar o modelo de cargas pontuais, por meio da incluso dos
efeitos de blindagem [43]. O BLIM baseado no seguinte pressuposto: a blindagem imperfeita da
carga nuclear devida extenso radial dos orbitais 5s2 e 5p6 dos ons Ln. Assim, dependendo da
distncia interatmica Ln3+-PV, diferentes PV experimentaro diferentes cargas efetiva nuclear. A
carga do on Eu3+, gEu, tm a seguinte dependncia radial:
gEu = 3 + 14eAr2 (2.2)
sendo que r dado em unidades de raio de Bohr, A = 0.5/a20. O BLIM foi desenvolvido para
compostos com NC 8 e para compostos de coordenao -dicetona. Os resultados obtidos, por
meio dessa funo gaussiana, reproduz satisfatoriamente a gEu. A Fig.(1), retirada da ref. [43],
mostra o comportamento da carga do on Eu3+ como uma funo da distncia radial.
Note que, a depender da separao radial entre o Ln3+-PV, a carga do on Eu3+ pode variar
seguindo o comportamento de uma funo Gaussiana, ou seja, pode ser maior que a valncia do
Captulo 2. Fundamentao Terica 16
Figura 1 Distribuio radial da carga do on Eu3+.
on, que neste caso 3+.
2.5 Teoria de perturbao dependente do tempo
A teoria de perturbao um formalismo aproximativo, que utilizada apenas quando o termo
perturbativo muito pequeno. Esta teoria aplicada em dois contextos de problemas: o primeiro
descreve o problema dos autovalores do hamiltoniano, e consequentemente, os estados estacion-
rios, que designado pela teoria de perturbao independente do tempo e o segundo envolve o
tratamento das equaes de movimento, que designado por meio da teoria de perturbao de-
pendente do tempo. Dessa forma, quando o hamiltoniano total (H) do sistema quntico depende
explicitamente do tempo, podemos separ-lo em duas partes: uma referente a parte estacionria e a
outra devido a parte temporal. Logo, podemos escrever o H do sistema quntico como segue [44],
H = H0 + V (2.3)
Captulo 2. Fundamentao Terica 17
sendo que, H0 o hamiltoniano independente do tempo e V um termo muito pequeno, devido
a contribuio temporal, que chamado de operador de perturbao dependente do tempo. Sendo
assim, a equao de Schrdinger dependente do tempo dada por [45],
i~
t= [H0 + V ] (2.4)
Dessa forma, a funo de onda() que satisfaz a equao de Schrdinger, pode ser escrita
na representao da interao como uma combinao linear das autofunes estacionrias, como
segue
=
n
an(t)neiEnt/~ (2.5)
sendo que, n e En so as autofunes e autovalores do hamiltoniano estacionrio, respectiva-
mente.
O operador V pode ser utilizado para descrever a interao de um dado sistema com outros
corpos. Neste caso, a interao dependente do tempo se torna uma ferramenta interessante na des-
crio de vrias propriedades fsicas, tais como, a probabilidade de ocorrer uma transio eletrnica
entre dois estados qunticos, bem como a obteno do tempo de vida desse estado, entre outros.
Se o operador de perturbao temporal independente do tempo, a probabilidade de transio
por unidade de tempo pode ser expressa, aproximadamente, em primeira ordem, por meio da regra
de Ouro de Fermi da seguinte forma [44],
in =2
~|n|V |i|2(En Ei) (2.6)
sendo que, |i e |n so os estados inicial e final, com autovalores Ei e En, respectivamente.
2.6 Interao da radiao clssica com a matria
O acoplamento do campo de radiao clssico com sistemas atmicos pode ser tratado por
meio do formalismo da teoria de perturbao dependente do tempo. Neste caso, o campo eltrico
e magntico obtido via formalismo clssico, ao invs da quantizao do campo de radiao, que
envolveria os operados de criao e aniquilao de um fton.
Captulo 2. Fundamentao Terica 18
O acoplamento do momento linear do i-simo eltron do sistema atmico com o campo de
radiao clssico pode ser feito por meio de uma transformao cannica, tal que, o hamiltoniano
bsico que descreve essa interao dado por [44, 45],
H =1
2m(p e
cA)2 + V (x) e
mcS.B (2.7)
sendo que, p o momento linear, A o potencial vetor, S o spin do eltron e B o campo magntico
da onda eletromagntica. A e B so relacionados entre si por: B = A, enquanto que o campoeltrico E obtido por meio da seguinte relao, E = 1
cAt
.
Como os operadores A e p comutam entre si, o hamiltoniano da Eq.(2.7) pode ser reescrito da
seguinte forma,
H =p2
2m+ V (x) e
mc(p.A + S.B) +
e2
2mc2A2 (2.8)
Na Eq.(2.8), os dois primeiros termos representam a energia cintica do eltron e a interao do
eltron com o ncleo, respectivamente. O termo quadrtico de A uma contribuio de segunda
ordem, que pode ser desprezado em clculos de propriedades de tica linear. O termo p.A d
origem a uma interao dominante do termo dipolar, que muito maior que a contribuio dipolar
magntica, S.B. Sendo assim, desprezando ambos os termos, a Eq.(2.8) pode ser reescrita como
segue,
H =p2
2m+ V (x) e
mcp.A = H0 +H (2.9)
H = emc
p.A o termo perturbativo dependente do tempo, referente ao acoplamento p.A. Sendo
que, de acordo com as equaes de Maxwell, .A = 0. Para um campo monocromtico de umaonda plana, A tem a seguinte soluo,
A = A0e[ei(/c)n.xit + ei(/c)n.x+it] (2.10)
A0 amplitude da onda plana, a frequncia angular da radiao eletromagntica incidente, e e
n so os versores de polarizao e propagao, respectivamente. Dessa forma, utilizando a equao
2.6, a taxa de transio entre o estado inicial e os estados finais dado por,
in =2
~
(e2
m2c2
)|A0|2|n|ei(/c)(n.x)e.p|i|2(En)|En=Ei~ (2.11)
Captulo 2. Fundamentao Terica 19
sendo que (En) a densidade final de estados.
Uma grandeza importante para estudar os processos de transio a seo choque, que pode
ser obtida por meio da razo entre a taxa de energia (~) absorvida pelo sistema e fluxo de energia
do campo de radiao, que dado pelo mdulo do vetor de Poynting. Logo,
=42~m2
(e2
~c
)|n|ei(/c)(n.x)e.p|i|2(En)|En=Ei~ (2.12)
"A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original"(Albert Eiensten)
Parte III
Desenvolvimento
22
3 Nmero atmico efetivo de compostos
poliatmicos3.1 Formulao para sistemas inicos
Considere duas espcies qumicas interagindo em um composto inico. O ction tm um ex-
cesso de cargas positivas na regio de recobrimento bem como o nion tem um excesso de cargas
negativas. A separao entre os centros de cargas positivas e negativas definido por uma distncia
R, que a regio de recobrimento entre os orbitais atmicos. Como a interao dominante, U ,
que mantm os ons ligados em cristais e vidros inicos do tipo Coulombiana, a principal ligao
que ocorre tipo- na direo ction-nion, U pode ser assumido apenas com dependncia radial.
Assim, podemos escrever:
dU
dR= U
R(3.1)
A equao 3.1 expressa o potencial de interao variando apenas com R, e igual a uma fora
atrativa do tipo Coulombiana. Uma expresso similar tem sido obtida por Jrgensen [46] a partir de
muitas evidncias, parcialmente de experimentos de alta presso. Em seu trabalho a constante que
aparece no quociente diferencial -7 (ao invs de -1), porque o potencial do tipo Van der Waals
de curto alcance, ou seja, um potencial que decai rapidamente com a distncia. Este potencial
de atrao entre os ons proporcional sexta potncia inversa de sua diviso. Entretanto, mais
apropriado para descrever interaes, como por exemplo, do tipo dipolo-dipolo. Formalmente, U
deveria depender do nmero atmico (Z) das espcies qumicas interagentes. Assim, o potencial
efetivo, Ueff , deveria depender de Zeff , U e Ueff so escritos como:
UpZiZj (3.2)
e
UeffZ2eff (3.3)
U deve ser modificado por meio do fator de empacotamento cristalino, p, porque apenas a radiao
incidente na matria tem papel preponderante. Este fator p obtido usando a mesma expresso
como em fsica do estado slido. No entanto, agora utilizando os raios inico e cristalino do cristal
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 23
das espcies interagentes. Isto importante, porque o fator p usualmente encontrado para slidos
monoatmicos [8]. Uma abordagem respeito da maneira de calcular o fator p para sistemas
poliatmicos ser dado na seo 3.2.
A dependncia em (3.2) com p mostra que quanto maior o fator p, menor ser a separao
entre os tomos, na clula unitria convencional, e maior ser a probabilidade da radiao eletro-
magntica incidente ser difratada pelo meio, e consequentemente, maior ser a seo de choque
da radiao incidente. Resolvendo a equao diferencial de primeira ordem em (3.1) por meio do
mtodo de separao de variveis, obtemos
dU
U= dR
R(3.4)
Integrando ambos os lados em (3.4), e aplicando os limites, obtemos
UeffU
dU
U=
R
R
dR
R ln
(UeffU
)= ln
(R
R
)(3.5)
usando (3.2) e (3.3) em (3.5), e generalizando para i(j)-sima espcies interagentes, obtemos
Zeff =
(
i 6=jpZiZj
(RijRij
))0.5(3.6)
Rij a soma dos raios inicos dos ons interagentes [47] ou a distncia ction-nion e Rij a
separao efetiva entre os centros de carga negativa e positiva. Estamos definindo Rij como a
diferena mdia entre os raios inicos (cristalino) e atmicos dos ons interagentes, conforme
mostrado na figura 2. Na fig.(2), RAi (RAj ) so os raios atmicos e R
Ii (R
Ij ) so os raios inicos das
i(j)-sima espcies interagentes [48].
Rij = (|RAi RIi |+ |RAj RIj |)/2 (3.7)
Portanto, destacamos que Rij nunca pode ser igual a Rij , o que pode ser visto, claramente,
por meio da equao 3.6, que impede esta condio. Uma ideia similar tem sido utilizado por
Ganguly [49]. Atualmente, h pelos menos duas maneiras bem conhecida de calcular Zeff de
materiais poliatmicos, a primeira baseado em procedimento fenomenolgico, e a segunda em
cdigos numricos [16,25]. Temos que destacar, que ambos os procedimentos no levam em conta
a interao ction-nion, mesmo lidando com materiais de estado slido.
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 24
Figura 2 Regio de interao entre as nuvens eletrnicas. Rij a distncia ction-nion e Rij aseparao entre os centros de carga.
3.2 Fator de empacotamento para sistemas poliatmicos
A compactao de uma estrutura cristalina indicada por meio do nmero de coordenao
(NC), o nmero de primeiros vizinhos de qualquer tomo selecionado, e o fator de empacotamento
cristalino (p), a frao de espao ocupado pelas esferas. Usualmente, p tem sido calculado para
slidos monoatmicos, como por exemplo, estruturas metlicas, as quais cada on da estrutura
cristalina tem o mesmo NC.
O fator de empacotamento cristalino pode ser obtido, assumindo o modelo de esferas atmicas
duras, [8]
p =VesfVc
(3.8)
Vesf o volume das esferas (tomos) na clula unitria e Vc o volume total da clula unitria.
A maioria dos elementos metlicos cristalizam-se em uma das trs estruturas cristalinas mais
simples: cbica de face centrada (CFC), cbica de corpo centrado (CCC) e hexagonal compacta
(HC). Para sistemas monoatmicos, o fator p simples de ser obtido, uma vez que todas as es-
feras tm o mesmo dimetro, e o parmetro de rede e o raio das esferas podem ser relacionados
entre si. Para estruturas CFC e HC, o fator de empacotamento cristalino 0.74, que o mximo
empacotamento possvel [8].
Em sistemas poliatmicos os raios dos ctions e nions podem ser bastante diferentes. O mais
aproximado fator de empacotamento cristalino que pode ser encontrado em sistemas poliatmicos
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 25
da estrutura CsCl, uma vez que o raio do ction muito similar ao do nion. Entretanto, quando
os raios dos ons diferem muito um do outro, o fator p no pode ser encontrado [10]. Portanto, p
est sendo calculado baseado no tipo de estrutura e no nmero de ocupao de ctions e nions da
clula unitria, usando os raios inicos e cristalinos, para efeito de comparao. A contribuio de
cada on levado em conta, separadamente, para calcular o volume das esferas. Dessa forma, a
equao 3.8 pode ser reescrita como
p =4
3Vc
i
niR3i (3.9)
sendo que ni o nmero de ocupao do i-simo on da clula unitria e Ri o raio inico (crista-
lino).
3.3 Dipolo eltrico: relao entre eletronegatividade e Rij
Uma outra maneira de obter a distncia entre os centros de carga positiva e negativa (Rij), de
espcies qumicas interagentes, dada pela expresso que relaciona o momento de dipolo eltrico
permanente com a diferena de eletronegatividade. Neste contexto, podemos imaginar a ligao
qumica ction-nion (fig. 2) como um momento de dipolo eltrico (), no qual a carga doada pelo
ction para formar a ligao qumica tem mesma magnitude e sinal oposto da carga doada pelo
nion, separados por uma distncia Rij . Esta separao efetiva indicada atravs da regio de
recobrimento da nuvem eletrnica, como pode ser visto na fig. 2.
O momento de dipolo eltrico d informao respeito da polaridade de um sistema de cargas.
Para um par de cargas eltricas (q), de mesma magnitude e sinais opostos, separadas por uma
distncia R, a magnitude do dipolo eltrico qR. Os momentos de dipolo eltrico podem ser
reportados em unidades de Debye (D) [10]. Sendo que,
1D= 3.3361030 C.m
O momento de dipolo eltrico permanente uma grandeza importante na rea de fsico-qumica,
como por exemplo, na descrio de molculas polares e apolares, e na contribuio a foras inter-
moleculares, tais como interaes de Van der Waals e London. Para molculas diatmicas hetero-
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 26
nucleares, h uma relao muito aproximada entre o momento de dipolo eltrico (em unidades de
Debye) e a diferena de eletronegatividade () das duas espcies interagentes, dado por [10]
= (3.10)
A equao 3.10 restrita a sistemas diatmicos. Para sistemas poliatmicos no se tem como
quantificar a diferena de eletronegatividade, impossibilitando encontrar Rij por esse mtodo. Re-
escrevendo a expresso 3.10 em termos da carga de interao e da distncia entre os centros de
cargas, obtemos
=geRijD Rij =
D
ge(3.11)
ge a carga dedicada ligao ction-nion, g sendo um fator de carga.
Uma das principais contribuies ao momento de dipolo eltrico permanente de uma molcula
origina-se do desequilbrio de carga, do recobrimento dos orbitais de diferentes raios. Dessa forma,
o influenciado pela simetria da molcula. A relao de com a diferena de eletronegatividade
uma maneira muito simples de prever uma das grandezas a partir do conhecimento prvio de
outra delas. Entretanto, os resultados nem sempre esto em bom acordo com dados experimentais.
Por exemplo, o experimental da molcula CO 0.12D [10], enquanto que 1, utilizando a
escala de Pauling. Como a ligao predominantemente covalente, a eq. (3.10) obtm resultados
discrepantes.
Para calcular a distncia entre os centros de carga, por meio da equao 3.11, necessrio
conhecer a diferena de eletronegatividade e a carga de interao ction-nion. No primeiro, h
vrias escalas de eletronegatividade, que so baseadas em diferentes argumentos de fsico-qumica.
A mais utilizada pela comunidade cientfica a de Pauling, cuja escala ser utilizada para calcular
. O segundo, um problema mais complexo de ser resolvido, em virtude da literatura no
conhecer, precisamente, a carga de interao entre duas espcies interagentes. Especificamente,
para o sistema Eu2O3 o fator de carga g pode ser estimado a partir dos mtodo dos primeiros
vizinhos equivalentes (MENN) [40, 41, 50] e do modelo de Batista-Longo [43], ambos com boas
previses.
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 27
3.4 Aplicaes
3.4.1 Fator de empacotamento e distncia entre os centros de carga
Em sistemas monoatmicos, para o qual o sistema cristaliza-se em estruturas tais como: cbica
de corpo centrado (CCC), cbica de face centrada (CFC), hexagonal compacta (HCP), cbica sim-
ples (CS), hexagonal simples (HS) e estrutura do diamante, o fator de empacotamento cristalino
depende apenas da simetria da clula unitria convencional. Entretanto, para sistemas poliatmi-
cos, os raios dos ctions e nions podem ser bastante diferentes, impossibilitando a dependncia
somente com a simetria. Portanto, o fator de empacotamento cristalino para sistemas poliatmicos
est sendo calculado conforme a descrio feita na seo 3.2.
Os raios inicos e cristalinos podem ser realmente diferentes. De acordo com o trabalho de
reviso de Shannon [47], argumenta-se que o raio cristalino corresponde mais precisamente ao
tamanho fsico dos ons em um slido, porque ele varia muito ligeiramente de cristal pra cristal, ao
contrrio do raio inico. Vamos obter o fator p com ambos os raios, para efeito de comparao.
A tabela 1 mostra o pC(pI), o fator de empacotamento previsto pela eq. (3.9) usando os raios
cristalino(inico). pC so todos menores do que pI . Comparando com o fator de empacotamento de
sistemas monoatmicos, temos que pC do SiO2 similar a estrutura do diamante, que a estrutura
menos densa, e o pI do Al2O3 maior do que a estrutura CFC ou HCP, que tm as redes cristalinas
mais densas. Recentemente, Yusoff et al. [51] tm calculado o fator de empacotamento de um
vidro telureto dopado com samrio e nanopartculas de pratas a partir de dados experimentais. Eles
tm encontrado o fator p num intervalo de 0.45-0.5 para diferentes concentraes de dopagem.
Comparando este resultado com o pI , que obtemos para o vidro puro SiO2, observamos que ambos
esto em boa concordncia.
A expresso de Zeff sensvel a pequenas variaes de p, e seu clculo preciso muito impor-
tante para uma boa previso de Zeff . Quando aplicado a dosimetria, p um fator que contem o
mesmo esprito do contedo fracional de eltrons (fi), usado em clculos fenomenolgicos de Zeff ,
porque os raios inicos (cristalinos) levam em conta as nuvens eletrnicas dos ons interagentes.
Desta maneira, o fator p est sendo introduzido de uma maneira formal de considerar o fator fi.
Para usar a equao 3.6, uma anlise detalhada tem que ser desenvolvida. Para sistemas diat-
micos, i=1 e j=2, i estando para o nion, Zeff depende apenas de R12. Para sistemas poliatmicos,
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 28
Tabela 1 Fatores de empacotamento usando os raios inico (pI ) e cristalino (pC). Rij dado em . Asreferncias so das estruturas [48].
Structure pC /R12(R13) pI /R12(R13) REFBeO 0.600/0.615 0.804/0.755 [52]LiF 0.624/0.550 0.721/0.69 [53]
Al2O3 0.595/0.617 0.804/0.767 [54]MgO 0.580/0.63 0.685/0.77 [55]NaF 0.524/0.59 0.551/0.73 [56]SiO2 0.344/0.625 0.471/0.765 [57]CaF2 0.532/0.585 0.604/0.725 [58]V2O3 0.539/0.52 0.679/0.66 [59]ZnO 0.573/0.485 0.673/0.625 [60]
Li2B4O7 0.516/0.55(0.605) 0.670/0.69(0.745) [61]CaSO4 0.509/0.595(0.64) 0.629/0.735(0.78) [62]
h pelo menos duas variveis, com i=1 e j=1 e 2, R12 e R13. Estas variveis so previstas pela
equao 3.7 indicadas pelo recobrimento das nuvens eletrnicas na figura 2.
A tabela 1 tambm mostra a distncia entre os centros de carga dos ons interagentes (pre-
vistos pela equao 3.7) obtida a partir dos raios inico e cristalino. importante ressaltar, que a
magnitude deRij depende do efeito de covalncia na ligao qumica entre dois ons qualquer A-B.
Comparando os diferentes compostos, temos queR12 = 0.595 para a ligao Ca-O, eR13 = 0.64
para a ligao S-O, ambos na estrutura CaSO4. Embora as Rij Ca-O seja de 2.48 e S-O seja de
1.48 [47], o fato deR13 ser maior do queR12 explicado por meio da porcentagem de covalncia
na ligao. A ligao Ca-O tm cerca de 20 % de carter de covalncia, enquanto a ligao S-O
tem cerca de 78 % de carter de covalncia. Um outro fato que, possivelmente, pode influenciar
a determinao precisa de R13, que o on enxofre pode ser encontrado em mltiplas valncias.
Neste caso 6+.
A influncia do carter de covalncia tambm evidenciada na ligao B-O do tetraborato de
ltio. Entretanto, neste caso, no h influncia do efeito de mltiplas valncias, j que o on boro
admite apenas um estado de oxidao, 3+. Para todos os outros compostos, o carter da ligao
essencialmente inico.
3.4.2 Fotnica
Pelo lado da fotnica, encontramos resultados para materiais monoatmicos e covalentes [7,63].
Em ambos os trabalhos, a regio de raios-X com energia mais alta investigada. Esta a regio
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 29
de domnio do efeito fotoeltrico, mas para sistemas no-inicos a equao 3.6 no aplicvel.
Entretanto, para o sistema vtreo (0.7-x)NaPO3-0.3WO3-xBi2O3, como x aumenta, o que significa
que o Bi2O3 est substituindo o NaPO3, o ndice de refrao, n, aumenta. Com essa substituio
o carter inico do vidro aumenta, porque a ligao Bi-O mais inica do que a ligao P-O.
Utilizando a equao 3.6 para este sistema, obtemos 16.6 e 37.5 para o Zeff do NaPO3 e Bi2O3,
respectivamente. Sendo assim, o Zeff do vidro aumenta de 20.81 para 24.85 com o aumento da
concentrao do Bi2O3. Como o Bi2O3 tem um Zeff maior que o NaPO3, j era de se esperar que o
Zeff do vidro aumentasse, com o aumento da concentrao de Bi2O3. Neste caso, especificamente,
o Zeff foi calculado atravs de uma mdia ponderada da contribuio do Zeff de cada componente
do vidro [48]. Isto ,
Zeff =
ixiZ
ieff (3.12)
xi a porcentagem normalizada de cada componente do vidro e Zieff o nmero atmico efetivo,
previsto pela equao 3.6, de cada componente do vidro.
66
Figura 3 Tendncia do ndice refrao linear, medido em 532 nm para diferentes concentraes de Bi2O3(0 a 20% mol), com nmero atmico efetivo.
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 30
Manzini et al. [15] tm observado que tanto o ndice de refrao linear quanto o no-linear
aumentam com a concentrao molar de Bi2O3 na matriz vtrea. Os autores tm explicado este
comportamento, considerando que as matrizes BiOn so mais polarizveis do que as matrizes WOn
e PO4, uma vez que a nuvem eletrnica dos tomos de bismuto so mais estendidas. No entanto,
tal comportamento ainda no bem entendido.
A nuvem eletrnica dos tomos de bismuto so mais estendidas, devido extenso radial dos
orbitais mais externos 6s e 6p, que so gradualmente preenchidos. A figura 3 mostra o compor-
tamento do ndice de refrao linear, medido em 532 nm para diferentes concentraes de Bi2O3,
num intervalo de 0-20 % mol, com o nmero atmico efetivo da matriz vtrea. Embora no iden-
tificamos ainda uma relao exata, fica evidente que h uma tendncia muito forte de n aumentar
com Zeff . Para fazer uma confirmao mais precisa, necessrio analisar este comportamento em
outras matrizes vtreas.
3.4.3 xido de Eurpio
Para o sistema Eu2O3 podemos amplificar as discusses, porque podemos usar a expresso
simples conectando eletronegatividade, momento de dipolo eltrico permanente e distncia entre os
centros de carga (Eq. 3.11). O on Eu3+ neste xido ocupa dois stios, com simetrias S6 eC2, ambos
com nmero de coordenao (NC) 6 [64]. De forma a estimar um intervalo razovel para o fator de
carga (g), para o mnimo, usamos uma mdia dividindo a valncia do on Eu3+ por 6, e gmin = 0.5.
Para o mximo, temos obtido gmax = 0.708 dividindo por 6 a carga do on Eu, calculado na meia
distncia entre Eu-O, por meio do modelo de Batista-Longo (BLIM) em compostos de coordenao
de -dicetona, combinado com o mtodo dos vizinhos equivalentes (MENN). O MENN um
mtodo que tenta sistematizar o modelo de recobrimento simples. O MENN e o BLIM tm sido
publicado para compostos com NC 8 e para compostos de coordenao. No entanto, a blindagem
dos orbitais 4f por meio dos orbitais totalmente preenchidos 5s e 5p vlida, no importando
o hospedeiro, e isso leva a posies dos nveis de energia muito semelhantes, no importando o
hospedeiro. Assim, embora em um xido inorgnico, a distribuio de carga do eurpio deve ser
similar ( Fig. 4), como bem mostrado em um de nossos trabalhos, publicado recentemente [65]
(ver o artigo 3, na parte de artigos publicados).
Usando os limites de g encontramos 0.6596Rij()60.933. Rij()=0.727(0.866) usando os
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 31
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Eu-
NN
dis
tanc
e (
)
Charge factor
BaLiF
Figura 4 Distncia Eu-PV como uma funo do fator de carga em cristais xidos e fluoretos.
raios cristalino (inico) por meio da eq.(3.7). Assim, usando pC (pI) encontramosZeff=26.5(26.05)
[48]. Na literatura prvia encontramos Zeff de 18 a 50 aproximadamente, obtidos por diferentes
tcnicas [66].
O modelo de carga efetiva radial (REC) usa a escala de Pauling de eletronegatividade em di-
ferentes maneiras com o intuito de descrever propriedades magnticas e espectroscpicas de ons
lantandeos coordenados por haletos. As cargas efetivas obtidas pelo modelo REC so comparveis
com nossas previses [67, 68]. Isto refora que a combinao do MENN com o BLIM tm feito
boas previses para a carga o on Eu3+ em uma matriz hospedeira.
3.4.4 Dosimetria
Pelo lado da dosimetria, para alguns compostos, diferentes procedimentos experimentais levam
a diferentes Zeff na mesma regio de energia de ionizao. Os intervalos avaliados e incertezas
so mostrados na tabela 2. Alm disso, o nmero atmico efetivo tem sido previsto para diferentes
Captulo 3. Nmero atmico efetivo de compostos poliatmicos 32
regies de energia, no qual tais efeitos so predominantes: interao fotoeltrica, espalhamento
Compton e produo de pares. No entanto, a regio experimental mais adequada para quantifi-
car Zeff a regio de predominncia do efeito fotoeltrico, pois, neste intervalo de energia, cada
material responde diferentemente, de acordo com seu Zeff . Na regio de predominncia do efeito
Compton todos materiais exibem comportamento similar, claramente porque este efeito o espa-
lhamento de raios-X por eltrons, e o espalhamento no depende do material, mas apenas do ngulo
de espalhamento. Desta forma, nossas previses esto sendo comparadas com dados experimentais
obtidos na regio de predominncia de efeito fotoeltrico.
Usando o intervalo e incertezas (tabela 2) nossas previses para todos os sistemas diatmicos
esto em boa concordncia com os dados experimentais, o erro relativo 20%. Tambm pode-mos observar que a equao 3.6 prev Zeff bastante similar para compostos com ctions dentro
da mesma famlia da tabela peridica, cada um com seu prprio Rij . Para sistemas poliatmicos,
CaSO4 e Li2B4O7, nossas previses mostram erros relativos em torno de 41 % usando o raio cris-
talino e 28 % usando o raio inico para ambos. Entretanto, as ligaes S-O e B-O tm 78 % e 57
% de carter covalente, respectivamente. Isto explica o aumento dos erros relativos, uma vez que a
equao 3.6 aplica-se a sistemas inicos [48].
Tabela 2 Zeff terico obtido com os raios cristalino (C) e inico (I), e dados experimentais.
Structure Zeff (C) Zeff (I) Zeff (exp)BeO 7.176 7.498 7.2 [69]LiF 7.999 7.679 7.74 [28], 7.87 [70], 7.65 [71],
Al2O3 13.786 14.448 11.72 [70], 10.270.47 [72],MgO 13.683 13.458 10.0421.365 [73]NaF 14.372 13.251 9.8971.885 [73]SiO2 9.958 10.531 10.79 [70], 12.640.56 [72], 10.74 [71]CaF2 19.952 19.086 16.979, 14.5691.853 [73], 16.700.77 [72], 15.30 [71]V2O3 19.623 19.558 20.97 [74]ZnO 24.636 23.517 25.03 [75]
Li2B4O7 9.892 10.115 7.04 [71]CaSO4 22.144 22.193 14.408 [28], 15.6981.281 [73], 17.040.76 [72], 14.02 [71]
As diferentes referncias mostradas na tabela 2 foram utilizadas com intuito de comparar as
previses tericas com os diversos dados experimentais existentes na literatura. Na maioria dos
casos, esses dados so obtidos pelo mesmo procedimento experimental.
33
4 Seo de choque de fotoionizao4.1 Formulao para centros de impurezas isotrpicas em
isolantes
Utilizando a teoria de perturbao dependente do tempo, e considerando que o campo de radia-
o que interage com os eltrons armadilhados nos nveis de energia metaestvel da banda proibida
semi-clssica e linearmente polarizada, a probabilidade do eltron ser promovido para a banda
de conduo descrito por meio da seo de choque de fotoionizao (SCF), que uma funo da
energia do fton, e dada por [45]
=42~m2
(e2
~c
)|n|ei(/c)(n.x)e.p|0|2(En)|En=Ei~ (4.1)
a frequncia angular da radiao eletromagntica incidente, Ei a energia de ativao do
nvel de energia da impureza doadora, En a energia do estado final, m a massa efetiva do
eltron, p o vetor momento linear do eltron, e e n so as direes de polarizao e propagao,
respectivamente. |0 e |n so as funes de onda do estado fundamental da impureza e do estadofinal contnuo, respectivamente. n|ei(/c)(n.x)e.p|0 o elemento de matriz da transio e (En) densidade final de estados.
Para obter a seo de choque de fotoionizao necessrio analisar a forma das funes de
onda inicial e final. Como o eltron se move quase livremente na banda de conduo, podemos
considerar |n, aproximadamente, como uma onda plana. A funo de onda plana, utilizada emvrios clculos tericos de SCF e em livros textos de mecnica quntica, dada como segue
|n = 1L3eik.x (4.2)
sendo que L3 o volume do sistema, e k o vetor de onda do eltron. A partir da conservao da
energia, temos que
k2 =2m
~2(~ Ei) (4.3)
Quando um eltron capturado numa armadilha, ele passa a ocupar um estado metaestvel, que
no seu estado de equilbrio mximo. Neste estado, o eltron oscila com uma frequncia angular,
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 34
0, que depende da vibrao de fnons na rede cristalina. Desta forma, podemos considerar a
funo de onda da impureza doadora, aproximadamente, como o estado fundamental do oscilador
harmnico isotrpico tridimensional de frequncia angular 0. Logo, |0 dado por
|0 =(m0~
)3/4e
m02~ x
2
(4.4)
sendo que x o vetor tridimensional no espao cartesiano. Observe que utilizando a funo de
onda do oscilador harmnico possvel incluir a competio entre as transies radiativas e no-
radiativas no elemento de matriz da transio eletrnica.
Por fim, necessitamos agora calcular (En), a densidade final de estados. Para isto, conveni-
ente utilizar a conveno de normalizao de uma caixa, de lados L, para os estados da onda plana.
Logo, (En) dentro de um ngulo slido d dado por
(En) =
(L
2
)3m
~2kd (4.5)
Reescrevendo a eq.(4.1), limitada por meio do ngulo slido, obtemos a seo de choque de
fotoionizao diferencial como segue,
d
d=
42~m2
(e2
~c
)|n|ei(/c)(n.x)e.p|0|2
(L
2
)3m
~2k (4.6)
Por simplicidade o elemento de matriz da transio calculado separadamente como segue,
usando o operador p como i~
I = n|ei(/c)(n.x)e.p|0 = e.d3x
eik.xL3
ei(/c)(n.x)(i~)0 (4.7)
Integrando por partes, sabendo que ne e fazendo a seguinte transformao de variveis,
q = k (/c)e (4.8)
a eq.(4.7) reescrita como segue,
I =~L3
(e.k)0e
iq.xd3x (4.9)
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 35
Resolvendo a eq. 4.9 em coordenadas cartesianas, esta pode ser reescrita como segue
I = (e.k)~L3
(m0~
)3/4IxIyIz (4.10)
sendo que,
Ix =
+
eiqxxe
m02~ x
2
dx (4.11)
Similarmente, podemos escrever Iy e Iz, com xy, z e qxqy, qz. Utilizando o mtodo dosquadrados, podemos resolver a eq.(4.11) como segue
Ix = e~q2x/2m0
+
e
m02~ (x+iqx~/m
0)2dx =
2~m0
e~q2x/2m
0 (4.12)
Reescrevendo a eq.(4.10), e calculando o mdulo quadrtico de I , obtemos a seguinte expresso
|I|2 = ~2
L3
(4~m0
)3/2(e.k)2e
~m0
(q2x+q2y+q
2z) (4.13)
Introduzindo o sistema de coordenadas mostrado na figura 5, podemos escrever a eq.(4.13) em
termos de coordenadas polares, e , usando a seguinte expresso
Figura 5 Sistema de coordenadas polares com e e n ao longo dos eixos Ox e Oz.
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 36
(e.k)2 = k2 sin2 cos2 (4.14)
e
q2 = q2x + q2y + q
2z = k
2 2kc
cos +(c
)2(4.15)
Logo, a seo de choque diferencial de fotoionizao dada em (4.6) pode ser reescrita como
segue
d
d=
4~2k3
m20
~m0
exp
{ ~m0
[k2 +
(c
)2]} sin2 cos2 exp [() cos ] (4.16)
sendo que () = 2k~/m0c.
Observe que a eq.(4.16) depende das coordenadas polares (, ). Utilizando o bem conhecido
elemento de ngulo slido, d = sin dd, para solucionar a parte angular em (4.16), obtemos
que
=4~2k3
m20
~m0
exp
{ ~m0
[k2 +
(c
)2]}4
(1
()
)3[() cosh (()) sinh (())]
(4.17)
Sendo assim, obtemos uma expresso para a seo de choque de fotoionizao, que descreve
a probabilidade de um eltron ser promovido para a banda de conduo e, subsequentemente, ser
recombinado com um buraco no centro de recombinao, por meio do estmulo da radiao ele-
tromagntica de energia ~ [76]. Alm de levar em considerao a competio entre as transies
radiativas e no-radiativas, a eq. (4.17) tambm leva em considerao a mobilidade da impureza,
por meio do termo inversamente proporcional (m) a SCF.
4.2 Aplicao aos mecanismos de Luminescncia Oticamente
Estimulada
4.2.1 Al2O3:C
Em trabalhos recentes pesquisadores tm observado a presena de estados de armadilhas lo-
calizadas, dando origem a sinais luminescentes, distribudos em nveis de energia entre 1.9 eV
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 37
e 2.5 eV [77, 78]. Estes resultados so obtidos usando um conjunto de diferentes tcnicas tais
como termoluminescncia (TL), luminescncia oticamente estimulada (LOE) e condutividade ter-
micamente estimulada (CTE), e modelos paramtricos baseado em equaes de taxa, que tm sido
muito utilizado tambm para descrever energias de ativao em vrios materiais.
u01z-1-f
=
=
=
=
=
=
=
uf
. . . . .
2
2
2
Figura 6 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromagntica (J) para trsenergias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde) eV. A massa efetiva do eltron
0.22m0.
A equao 4.17 foi obtida atravs de primeiros princpios. A mesma depende de algumas quan-
tidades fsicas, que so a massa efetiva do eltron, energia de ativao, frequncia de fnon, e uma
varivel, a frequncia da radiao eletromagntica. O estmulo utilizado em LOE , geralmente,
na frequncia do vermelho (526 nm) [77]. A frequncia de fnon para materiais aluminatos da
ordem de 1013 Hz [79]. Clculos baseado na teoria do funcional da densidade tem obtido um va-
lor de 0.40m0 para a massa efetiva do eltron na matriz Al2O3 [80], e resultados experimentais
tem sugerido m num intervalo entre 0.22m0-0.42m0 para filmes amorfo de alumina, sendo que
m0 a massa de repouso do eltron [81]. Embora este valor para Al2O3, est sendo utilizado,
aproximadamente, para as previses do Al2O3:C, uma vez que a concentrao de carbono muito
pequena.
De forma a analisar o comportamento da equao 4.17, a seo de choque de fotoionizao foi
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 38
u01z-1-f
=
=
=
=
=
uf
. . . . .
2
2
2
Figura 7 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromagntica (J) para trsenergias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde) eV. A massa efetiva do eltron
0.32m0.
u01z-1-f
=
=
=
=
uf
. . . . .
2
2
2
Figura 8 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus a energia da radiao eletromagntica (J) para trsenergias de ativao: 1.9 (preto), 2.2 (vermelho) e 2.4 (verde) eV. A massa efetiva do eltron
0.42m0.
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 39
plotado como uma funo h, para trs energias de ativao diferentes (Ei=1.9 eV, 2.2 eV e 2.4 eV)
e massa efetiva do eltron (0.22m0, 0.32m0, 0.42m0, figuras 6, 7 e 8, respectivamente). Note que na
fig. 6 para Ei=1.9 eV h um mximo em torno de 1.99 eV, que corresponde a probabilidade mxima
do eltron ser excitado para a banda de conduo, e subsequentemente, ser recombinado com um
buraco no centro de recombinao emitindo um fton. Para as outras energias de ativao, os
mximo so deslocados para energias mais altas, o que j era de ser esperado, devido a conservao
da energia e obedece a regra de Ouro de Fermi. As figuras 7 e 8 mostram que o mximo da SCF
diminui com o aumento de m. De fato, quanto maior a m, menor ser a mobilidade do eltron no
nvel de energia da impureza e, consequentemente, menor ser a probabilidade de ser ejetado para
a banda de conduo [76]. Este fato pode explicar a possibilidade do eltron ser re-armadilhado
em um outro centro de impureza, mediante um estmulo tico, ao invs de recombinar-se com um
buraco. Esta caracterstica tem sido discutida nos modelos baseados em equaes de taxa [18].
Para efeitos de comparao, trabalhos publicados recentemente tm mostrado que a SCF, no
mesmo intervalo de energia, esto distribudos num intervalo de 3.31024m2 to 1.51022m2
usando um estmulo em 2.35 eV [77, 78]. Note que este comportamento previsto em nosso
modelo, embora no seja o pico de probabilidade mxima. Sendo assim, a Eq. 4.17 mostra um
bom acordo com os resultados da literatura.
4.2.2 Lu2SiO5:Ce
O ortossilicato de lutcio dopado com crio (LSO:Ce), na forma cristalina, um material cinti-
lador eficiente bem conhecido. Nos ltimos anos, suas propriedades tambm tm sido largamente
estudadas, para aplicaes em sensores dosimtricos [24]. Vrias tcnicas, incluindo TL e LOE,
so amplamente utilizadas de forma a identificar a presena de armadilhas bem como sua influncia
nas propriedades ticas. Em trabalhos recentes pesquisadores tm observado a presena de estados
de armadilhas localizadas, dando origem a sinais luminescentes, distribudos em nveis de energia
raso, intermedirio e profundo, num intervalo entre 0.74 eV e 1.75 eV [8284]. As armadilhas
profundas (em torno de 1.35 eV e 1.75 eV) so responsveis pelos picos TL mais intensos.
Por outro lado, o estmulo da luz azul (470 nm) foi utilizado para obter a curva de decaimento
LOE deste material. A frequncia de fnon para o LSO:Ce tem sido estimado ser da ordem de 1013
Hz, baseado no espectro Raman [85], e o mtodo de anlise por meio da deconvoluo do sinal TL
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 40
tem estimado o fator de frequncia da ordem de 1013 Hz para armadilhas profundas [84]. Clculos
baseado na teoria do funcional da densidade tem obtido um valor de 0.545m0 [86].
u01z-1-f
7
7=
7=
7=
7=
uf
. . . . .
2
2
2
Figura 9 Seo de choque de fotoionizao (m2) versus energia da radiao eletromagntica (J) para trsenergias de ativao diferente: 1.35 (preto), 1.50 (vermelho) e 1.75 (verde) eV.
De forma a analisar o comportamento da eq. (4.17), a seo de choque de fotoionizao foi
plotado como uma funo da energia da radiao eletromagntica, para trs energias de ativao
diferentes (Ei=1.35 eV, 1.5 eV e 1.75 eV) no intervalo de armadilhas profundas. Para cada energia
de ativao h um mximo em torno de 1.5 eV, 1.75 eV e 2 eV, que corresponde a probabilidade
mxima do eltron ser excitado para a banda de conduo e, subsequentemente, ser recombinado
com um buraco no centro de recombinao emitindo um fton [76]. O mximo da SCF decresce e
se desloca para energias mais altas com o aumento de Ei, como j era de se esperar, de acordo com
a regra de Ouro-Fermi.
Alm disso, temos calculado o nmero atmico efetivo, utilizando a eq. (3.6), para este sistema.
Usando pC (pI) encontramos Zeff=37.34(36.76). Comparando este resultado com o obtido para o
Al2O3, bem como a massa efetiva de ambos materiais, observamos que h uma relao crescente
entre m e Zeff . Quanto mais isolante for o material, maior a massa efetiva e, consequentemente,
menor a mobilidade eletrnica. Isto d evidncias que quanto maior Zeff menor a mobilidade do
Captulo 4. Seo de choque de fotoionizao 41
eltron, ou seja, o eltron fica mais preso armadilha. Logo, Zeff maior implica em m maior e,
consequentemente, menor ser a probabilidade de ocorrer a transio. Isto pode ser observado por
meio do grfico da SCF para ambos materiais.
Para efeitos de comparao, a ref. [24] mostra a SCF, utilizando o procedimento de simulao
paramtrica, no mesmo intervalo de energia Ei, de 1.91022m2 a 6.91021m2, utilizando um es-tmulo em 2.63 eV, que corresponde a regio do azul. Dessa forma, este comportamento previsto
em nosso modelo, embora no seja a probabilidade mxima.
"Tenho a impresso de ter sido uma criana brincando beira-mar, divertindo-me em descobrir
uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da
verdade continua misterioso diante de meus olhos". (Isaac Newton)
Parte IV
Concluses e Perpectivas
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5 Consideraes FinaisEm suma, estamos anunciando uma expresso puramente analtica para prever o nmero at-
mico efetivo (Zeff ) de qualquer composto inico. Para isto, est sendo introduzido uma maneira
de calcular o fator de empacotamento cristalino (p) de qualquer composto, que comparado ao
contedo fracional de eltrons (fi) usado nas expresses empricas, e uma separao efetiva (Rij)
entre os centros de carga negativa e positiva. Em fotnica, o aumento dos ndices de refrao linear
e no-linear com a concentrao do Bi2O3 no sistema vtreo (0.7-x)NaPO3-0.3WO3-xBi2O3 tem
sido satisfatoriamente explicado, baseado no aumento de Zeff . Para o xido de eurpio, temos
obtido Rij a partir da relao entre momento de dipolo eltrico e diferena de eletronegatividade.
O fator de carga obtido atravs da combinao do MENN e do BLIM esto em boa concordncia
com o modelo REC, e fizeram boas previses de Rij . Na dosimetria, para sistemas diatmicos
(BeO, LiF, Al2O3, MgO, NaF, SiO2, CaF2, V2O3 e ZnO) as previses de Zeff so menores ou
igual a 20 %, em boa concordncia com os dados experimentais avaliados. Entretanto, para os dois
sistemas poliatmicos (Li2B4O7 e CaSO4), os erros relativos maiores esto associados ao carter
covalente na ligao S-O (78 %) e B-O (57 %). Na segunda parte, temos obtido uma expresso
analtica para a seo de choque de fotoionizao de eltrons em nveis armadilhados de isolantes
e semicondutores. Esta expresso tem sido obtida, utilizando um oscilador harmnico isotrpico
tridimensional e uma funo de onda plana, para descrever o eltron no nvel da impureza doadora
e na banda de conduo, respectivamente. Tambm consideramos todos os termos de multipolos no
hamiltoniano, e que o campo de radiao semi-clssico e linearmente polarizado. O aumento da
massa efetiva leva diminuio na magnitude da SCF. Por fim, o modelo foi aplicado aos sistemas
Al2O3:C e Lu2SiO5:Ce. As previses esto em bom acordo com os dados disponveis na literatura,
e pode ser satisfatrio em aplicaes futuras em vrias reas.
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6 Perspectivas Tentar generalizar uma expresso de Zeff pra qualquer sistema;
Entender melhor a relao entre o ndice de refrao e Zeff ;
Quantificar os efeitos de covalncia numa ligao;
Utilizar a expresso da SCF, para dar uma contribuio terica aos mecanismos de LOE;
Relacionar a intensidade do sinal LOE com a frequncia de fnon;
Aplicar a expresso da SCF, para caracterizar impurezas de outros sistemas;
Entender o fenmeno de luminescncia de longa durao.
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