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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 ESTUDO DE CLIMA URBANO APLICADO À CIDADE DE LONDRINA-PR Vinicius Moura Mendonça FCT/UNESP [email protected] Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim FCT/UNESP [email protected] INTRODUÇÃO As transformações no ambiente natural terrestre ocorrem desde que o mesmo surgiu, gerando neste, características específicas, que vem a compor inúmeros ambientes intrínsecos e diferenciados, formando diversos tipos de paisagens, às quais tornaram possível a existência da vida. Porém, com o passar do tempo, a humanidade tem acelerado ainda mais esse processo, com o objetivo de adaptar o espaço às suas necessidades e aos seus diferentes estilos de vida. Essas transformações se intensificaram a partir do momento em que o homem aprimorou seus conhecimentos, tornando possível, através de novas técnicas, transformar de modo mais ágil a paisagem. O exemplo mais intenso dessas mudanças são as cidades, modelo em que ficou mais evidente essa complexa transformação do espaço pela sociedade. Porém tal processo ocorreu de forma muito acentuada em todo o mundo, influenciado por diversos fatores sociais e econômicos, principalmente no último século, resultando numa situação atual em que a maioria da população do planeta reside em áreas urbanas 1 . Porém, surge associado a esse intenso processo de urbanização, diversos problemas, tanto de ordem social e econômica, como também ambiental. Tais adversidades 1 No Brasil já chega perto dos 90% a população urbana. 2633

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ESTUDO DE CLIMA URBANO APLICADO ÀCIDADE DE LONDRINA-PR

Vinicius Moura Mendonça

FCT/UNESP

[email protected]

Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim

FCT/UNESP

[email protected]

INTRODUÇÃO

As transformações no ambiente natural terrestre ocorrem desde que o mesmo

surgiu, gerando neste, características específicas, que vem a compor inúmeros ambientes

intrínsecos e diferenciados, formando diversos tipos de paisagens, às quais tornaram

possível a existência da vida. Porém, com o passar do tempo, a humanidade tem acelerado

ainda mais esse processo, com o objetivo de adaptar o espaço às suas necessidades e aos

seus diferentes estilos de vida.

Essas transformações se intensificaram a partir do momento em que o homem

aprimorou seus conhecimentos, tornando possível, através de novas técnicas, transformar

de modo mais ágil a paisagem. O exemplo mais intenso dessas mudanças são as cidades,

modelo em que ficou mais evidente essa complexa transformação do espaço pela

sociedade.

Porém tal processo ocorreu de forma muito acentuada em todo o mundo,

influenciado por diversos fatores sociais e econômicos, principalmente no último século,

resultando numa situação atual em que a maioria da população do planeta reside em áreas

urbanas1.

Porém, surge associado a esse intenso processo de urbanização, diversos

problemas, tanto de ordem social e econômica, como também ambiental. Tais adversidades

1 No Brasil já chega perto dos 90% a população urbana.

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levam ao questionamento da real eficiência do modelo de urbanização atual, que é

motivado pela prática consumista do modelo econômico capitalista, que geralmente está

associado à especulação imobiliária, a segregação social dentro da cidade, e a falta de um

adequado planejamento socioambiental.

Ao observar os principais problemas que ocorrem nas cidades atualmente,

principalmente os ambientais, tais como a poluição dos recursos hídricos, solos e ar; as

enchentes e alagamentos; as ilhas de calor; a queda da umidade relativa; dentre outros,

motiva-se a pensar em outras medidas urbanísticas, que sejam compatíveis com um modelo

de cidade de maior qualidade ambiental.

Assim, tentando compreender essas derivações, que estão ligadas aos principais

problemas ambientais presentes no ambiente urbano, e tentando contribuir com o

planejamento ambiental adequado, está sendo realizada através de um estudo, a

identificação e análise do clima urbano da cidade de Londrina, dando atenção

principalmente às alterações térmicas e higrométricas produzidas pelo espaço urbano.

Para isso, parte-se da análise de vários autores que estudam o clima urbano,

mas para Londrina, principalmente o estudo de Mendonça (1994), o qual se baseou em

diversos aspectos geoecológicos urbanos e fatores climáticos, para identificar importantes

aspectos do clima urbano da cidade. Neste estudo o autor identificou ilhas de calor de forte

magnitude na cidade, chegando até 10ºC de diferença entre alguns pontos da cidade. Assim,

busca-se nesta , identificar as mudanças que ocorreram nessas últimas décadas no clima

urbano da cidade, decorrente principalmente do amplo crescimento espacial e demográfico.

Londrina está localizada no norte do Paraná, sendo a segunda maior cidade do

estado em população e segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

do ano de 2013, está próxima dos 538 mil habitantes. Deste total, cerca de 98% reside na

área urbana, o que resultou numa cidade com extensa malha urbana, diferentes formas e

estruturas urbanas, e desprovida de um adequado planejamento em algumas áreas, que

certamente influencia para a formação de ambientes climáticos diferenciados.

Neste artigo serão apontados alguns resultados obtidos durante os trabalhos de

campo realizados no outono de 2014, quando foram utilizados registradores

termohigrométricos em pontos fixos e realizadas medidas itinerantes. Por meio dessa coleta

de dados foram constatadas diferenças de temperatura e umidade de magnitude muito

forte quando se comparou a área urbana com seu ambiente rural próximo.

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CLIMA URBANO

Esta pesquisa tem como foco principal o clima produzido e transformado pela

cidade. Assim, serão referenciados alguns autores que tratam da climatologia geográfica e

da climatologia urbana, buscando nessas referências a compreensão dos principais

conceitos que nortearam o estudo.

Sant’Anna Neto (1995) afirma que a construção de uma paisagem largamente

alterada nas cidades tem provocado significativas derivações na baixa atmosfera, ou seja, na

camada limite urbana, que vem comprometendo a sua integridade, gerando assim

especificidades no clima da cidade, através das alterações no balanço de energia.

Assim, para compreender essas derivações, que estão ligadas aos principais

problemas ambientais presentes no ambiente urbano, com o propósito de contribuir com o

planejamento ambiental adequado, focamos no estudo do clima específico da cidade, ou

seja, o clima urbano.

La ciudad constituye la forma más radical de transformación del paisaje natural,

pues su impacto no se limita a cambiar la morfología del terreno, sino que

además modifica las condiciones climáticas y ambientales. Surge, así, un espacio

eminentemente antropizado en el que la actuación del hombre se manifiesta en

una doble vertiente: por un lado, las modificaciones que introduce directa y

conscientemente, que tienen su mejor manifestación en el plano y la morfología

urbanos; de otro, las que se derivan de este mismo espacio construido y las

actividades que en él se desarrollan, cuyas manifestaciones más significativas

son la contaminación y la aparición de un clima especifico de la ciudad. (GARCÍA,

1995, p. 252).

Sobre a importância do estudo do clima urbano, Amorim (2000, p.18) ainda nos

mostra que, a grande maioria das cidades brasileiras cresceu sem levar em consideração o

seu contexto climático. Nessa conjuntura, o relevo, o uso e a ocupação do solo, e os

condicionantes geoambientais e urbanos devem ser estudados pela climatologia, a fim de

que seja possível diagnosticar as alterações presentes na atmosfera urbana, para contribuir

com o planejamento da cidade.

Como observou Lombardo (1985), a percepção sobre o clima da cidade já havia

sido notada desde a época do império romano. Mas foi a partir do século XIX, que tem início

as primeiras análises observacionais, com ênfase na cidade de Londres, devido a influência

do processo de urbanização decorrente da industrialização.

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Porém, Mendonça (1994, p.9), afirma que foi somente no século XX, com o

desenvolvimento de equipamentos para a mensuração dos elementos do clima durante a

Primeira e a Segunda Guerras Mundiais e o consequente progresso da meteorologia e

climatologia, que a elaboração de tais estudos ganhou mais precisão. Até então os estudos

estavam voltados principalmente à diferenciação das características do clima da cidade em

relação ao ambiente rural, sendo que as diferenças no campo térmico se constituíram no

principal aspecto observado e documentado.

A elevação das taxas demográficas e de urbanização mundial nos anos

cinquenta e sessenta, e a consequente demanda de planos para a melhor gestão dos

espaços urbanos oriunda principalmente dos movimentos de cunho ecológico,

aproximaram os estudos de climas urbanos às atividades de planejamento. A elaboração de

tais estudos com fins de planejamento se constituiu numa nova abordagem desta vertente

geográfica de pesquisas, revestindo-a de um caráter mais pragmático. (MENDONÇA, 1994,

p.9)

Internacionalmente, houve um grande impulso nas investigações sobre clima

urbano em escala internacional, com as publicações de Landsberg (1981), Oke (1974, 1978 e

1982), entre outros, os quais trouxeram grandes contribuições para a climatologia urbana,

como, por exemplo, a compreensão da formação de ilhas de calor nos espaços urbanos.

Porém estes estudos foram realizados apenas em cidades de zonas climáticas temperadas.

Assim, se fazia necessário, pelas próprias características do ambiente tropical, estudos que

estivessem voltados para essas áreas.

Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, em 1976, propôs em sua obra “Teoria e

Clima Urbano”, o Sistema Clima Urbano, dividindo o estudo da climatologia urbana em três

canais diferentes de percepção humana (Termodinâmico, Físico-Químico e Hidrometeórico).

Tal obra influenciou e ainda influencia diversos estudos de clima urbano no país, pois traz

uma abordagem metodológica diferenciada no estudo do clima urbano, tendo como base as

variações no balanço de energia dentro do sistema.

Monteiro (1976, p.58), ao se referir à bibliografia internacional sobre o clima

urbano, comenta que "[..] o caráter geral dessa vasta produção é colocado sob perspectiva

meteorológica onde a preocupação fundamental é avaliar o grau de transformação da

atmosfera pela atividade urbana”.

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Assim, Mendonça (1994, p.9), explicita que Monteiro (1976) ao lançar sua

proposta metodológica segundo uma abordagem geográfica do clima urbano, deu um

passo decisivo para a superação do tratamento da relação homem versus natureza

introduzindo a noção de co-participação como relação destes dois fatores na formação do

ambiente atmosférico urbano.

O presente estudo, o qual busca a compreensão do clima urbano de

Londrina-PR, fundamenta-se na proposta de Monteiro (1976), sendo o Canal I, Conforto

Térmico, subsistema termodinâmico, o principal a ser utilizado, uma vez que, segundo o

mesmo autor,

“As componentes termodinâmicas do clima, canal I, não só conduzem ao

referencial básico para a ação do conforto térmico urbano como são, antes de

tudo, a constituição do nível fundamental de resolução climática para onde

convergem e se associam todas as outras componentes”. (MONTEIRO, 2003,

p.44)

Portanto, considera-se de grande importância o estudo da temperatura do ar,

ainda mais em áreas urbanas, pois está diretamente ligado à percepção humana, gerando

na maioria das vezes desconfortos, que afetam a qualidade de vida dos citadinos. Assim, o

estudo surge como base científica concreta para medidas mitigatórias que proporcionem a

melhoria na qualidade de vida urbana.

Como característica cada vez mais marcante das cidades, fatores como a elevada

densidade demográfica, a concentração de áreas construídas, a pavimentação asfáltica do

solo e as áreas industriais podem provocar alterações no clima local, essencialmente nos

valores de temperatura do ar (LOMBARDO, 1985, p.27).

Com esse alto índice de construções e pavimentações (com materiais propícios

para absorver calor), e com a diminuição da vegetação, principalmente nas áreas urbanas, a

radiação solar, que incide sobre a cidade é modificada, as edificações absorvem maior

quantidade de radiação durante o dia e as liberam lentamente reforçando o efeito do

fenômeno da ilha de calor, e os efeitos nocivos, causando desconforto térmico.

Sobre esse assunto, Landsberg (1981) evidencia que,

Urban heat islands (UHI) develop in areas that contain a high percentage of

non-reflective, water-resistant surfaces and a lowpercent age of vegetated and

moisture trapping surfaces. In particular, materials such as stone, concrete, and

asphalt tend to trap heat at the surface. (LANDSBERG, 1981, p.128)

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Oke (1982) o complementa afirmando que, “The UHI effect refers to an increase

in urban air temperatures as compared to surrounding suburban and rural temperatures.”

(OKE, 1982, p.5)

Monteiro (1991, p. 14) nos mostra que a análise climática em cidades médias se

torna mais fácil, e ajuda a responder questões, como a partir de que ponto e grau

hierárquico uma cidade passa a oferecer condições para a criação de um clima urbano.

Por fim, o presente estudo busca ir além do que apenas identificar as diferenças

de temperatura e umidade dentro do espaço urbano, e como tais anormalidades

influenciam na vida da população. Com base em Sant’Anna Neto (2001), e sua proposta da

Geografia do Clima, buscar-se-á identificar e comprovar que a população das classes sociais

mais desprovidas economicamente de Londrina enfrenta de forma desigual os efeitos

adversos do clima.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização desta pesquisa está sendo realizada ampla revisão bibliográfica

sobre os pressupostos teórico-metodológicos, baseando-se principalmente nos trabalhos da

climatologia geográfica, sobretudo os estudos de clima urbano, além da leitura de diversos

autores que abordaram os processos históricos que deram origem à cidade, assim como

seu desenvolvimento, sua urbanização, seu planejamento atual. Também se fez um

levantamento geral dos aspectos físicos da cidade, tais como relevo, solo, declividade,

vegetação, hidrologia, dentre outros, que serviu como base para a escolha dos pontos de

coleta de dados de temperatura e umidade e que serão fundamentais para a análise dos

resultados. Buscou-se compreender os principais sistemas atmosféricos atuantes na região,

para então se ter uma noção geral, que subsidiar as análises dos resultados que foram

levantados em campo.

A elaboração da carta de temperatura de superfície, por meio das imagens do

satélite Landsat 7 e 8, se revela um excelente instrumento para auxiliar na análise das

características térmicas dos diferentes ambientes urbanos, e assim pode ajudar a definir os

melhores locais para o levantamento em campo e contribuir com a caracterização do clima

urbano.O tratamento da imagem consiste em transformar os valores digitais da mesma

para temperatura em graus Celsius (°C) no programa IDRISI Selva 17.0®2, com a utilização de

parâmetros fixos de conversão (diversos cálculos) de níveis de cinza da imagem (NC) para

2 Idrisi é marca registrada da Clark University.

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radiância, depois para temperatura Kelvin e finalmente para graus Celsius (°C) obtidos no

site3 da NASA. Finalizada essa conversão, com as temperaturas da imagem em graus Celsius

(°C), e com a base do arruamento da cidade já sobreposta, foi utilizado o Corel Draw X6®4

para importar essa imagem e tratá-las esteticamente.

Para a caracterização do uso e da ocupação do solo urbano da cidade foi

elaborada uma carta através do uso do Software de SIG5 livre – QGIS®6. Nesta carta

buscou-se classificar as diferentes áreas de Londrina conforme sua densidade de vegetação

arbórea, densidade de edificações e tipo de material dos telhados.

Por meio desta carta, da imagem do canal termal, e dos outros mapas que

caracterizam a cidade de Londrina, tais como hipsometria, declividade, orientação das

vertentes, etc., foram selecionadas diferentes unidades de cobertura da superfície urbana,

com o intuito de identificar diferentes padrões de uso do solo, e assim, foi definido os

pontos principais para se realizar a coleta de dados, tanto dos pontos fixos (registradores

automáticos de temperatura e umidade), como dos móveis (transectos móveis).

Para o uso dos pontos fixos, se utilizou como parâmetro os procedimentos

utilizados por Lombardo (1985), Amorim (2000) e Mendonça (1994). Foram definidos 18

pontos fixos, na área urbana e rural, sendo que em cada ponto, foi instalado dentro de um

abrigo meteorológico, um sensor de registro automático ThermaData™ HTD

Humidity-Temperature Logger (aferido) (Figura 1). O levantamento de dados nos pontos

fixos ocorreu entre 23/03/2014 e 09/06/2014, registrando-se de hora em hora a temperatura

e umidade.

3 Disponível em: https://landsat.usgs.gov/Landsat8_Using_Product.php - Disponível em 30/01/2014

4 CorelDRAW X6 é marca registrada da Corel Corporation.

5 Sistema de Informações Geográficas.

6 O Quantum GIS (QGIS) é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) amigável, um Software Livre licenciado sob a“GNU General Public License”. QGIS é um projeto oficial da Open Source Geospatial Foundation (OSGeo).

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Figura 1 – Abrigo Meteorológico e sensor utilizado.

Já os transectos móveis foram realizados com base nos procedimentos

executados por Amorim (2005, p. 69), utilizando-se de veículos automotivos, com sensores

digitais, presos em hastes de 1,5 m de comprimento, acopladas na lateral do veículo, onde

se percorreu por diferentes locais anteriormente determinados da cidade para representar

sua totalidade. Assim, os percursos se iniciaram na área rural circunvizinha, passando por

vários pontos intraurbanos representativos do entorno, até finalmente chegar ao extremo

oposto da cidade. Tal levantamento foi realizado em episódio de estabilidade atmosférica,

nos quais as condições sinóticas foram de baixa velocidade do vento (calmaria) e sem

precipitação, favoráveis à formação de ilhas de calor.

Foram realizadas medidas itinerantes no período noturno em dois dias (25 e 26

de abril de 2014), utilizando-se de três veículos, em três rotas diferentes com o mesmo tipo

de sensor de temperatura e umidade. No dia 25 as medidas tiveram início às 21 horas até às

22 horas, e no segundo dia se iniciou às 20 horas até às 21 horas.

A coleta de dados com veículos requer que o tempo gasto entre a medida do

ponto inicial e no ponto final do itinerário não ultrapasse uma hora, com velocidade que

deve variar entre 30 e 40 Km/h. (AMORIM, 2005, p.123).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Serão apresentados a seguir alguns dos resultados obtidos buscando-se abordar

todas as etapas realizadas até o momento.

Londrina é um município fundado em 10 de dezembro de 1934, localizado na

porção centro-norte do estado do Paraná (Região Sul do Brasil), o qual se distancia cerca de

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390 quilômetros por rodovia até a capital estadual Curitiba, e 1083 quilômetros da capital

nacional Brasília.

Figura 2 – Escalas de estudo de Londrina-PR

Fonte: AMORIM, 2011.

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Atualmente a economia do município se baseia principalmente no setor de

serviços, seguido da educação e saúde. Pelo papel de capital regional que exerce, também é

importante no setor agroindustrial e agropecuário (principalmente pela produção de soja).

Quanto à importância da cidade, tanto na economia, quanto para a região, Tavares (2001)

diz que,

Em suma, a cidade de Londrina, além de concentrar as atividades tecnológicas,

humanas, científicas e informacionais, está localizada geograficamente em uma posição

estratégica, apresentando-se como nó de redes e fluxos, sejam materiais e imateriais.

Dotada de uma rede viária densa, a qual interliga não somente o norte do Paraná à capital

do Estado e ao porto de Paranaguá, mas também é ponto de interconexão dos fluxos que se

originam, sobretudo, nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul à região Sul do Brasil e

aos países do Mercosul. O comércio varejista, atacadista e seu setor de serviços (tanto

públicos como privados) são referências extra-regionais, reforçando a centralidade desta

capital regional. Estes fatores associados conferem-lhes a posição de terceira maior cidade

do sul do país1. (TAVARES, 2001, p.214)

Está localizada no Terceiro Planalto Paranaense ou Planalto de Apucarana, na

porção centro-norte do estado do Paraná, região Sul do Brasil, que pertence à Mesorregião

Geográfica Norte Central Paranaense, e compõe a microrregião de Londrina com mais cinco

municípios. A área urbana se localiza na porção norte do município, sobre o espigão,

possuindo em média 600 metros de altitude em relação ao nível médio dos mares (variando

entre 430-620 metros), e dista cerca de 380 quilômetros em linha reta até o oceano atlântico

(o que reforça o efeito de continentalidade).

Por estar localizado sob o Trópico de Capricórnio, o município de Londrina

encontra-se situado em uma zona de transição climática, entre o domínio tropical, mais

quente e de estação chuvosa mais sazonalizada e o domínio subtropical, de temperaturas

médias mais amenas e períodos mais regulares de chuvas, configurando-se, por esse

aspecto, de importância científica.

Essa região, portanto, é influenciada tanto por ação de sistemas atmosféricos

tropicais como o Sistema Tropical Atlântico (STa), originado pela ação do Anticiclone do

Atlântico e, periodicamente, pelo Sistema Tropical Continental (STc), originado, por sua vez,

pela área de baixas pressões do centro sul-americano, denominada de Depressão do Chaco,

assim como por ação de sistemas atmosféricos polares, como o Sistema Polar Atlântico

(SPa), que possui sua origem através da ação do Anticiclone Polar. A área também é invadida

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nas épocas mais quentes pelo Sistema Equatorial Continental (SEc), que é formado, por sua

vez, pela ação dos doldrums, que correspondem às áreas de baixa pressão da região

equatorial (NIMER, 1979). (Figura 3)

Para se definir os pontos para a instalação dos miniabrigos com os sensores e

definição dos percursos para se obter as medidas de temperatura e umidade, partiu-se da

ideia de que havia diferentes ambientes na cidade, que influenciam na alteração da

dinâmica climática habitual. Assim, primeiramente foi elaborado um mapa de uso e

ocupação do solo, com base em trabalhos de campo e do software Google Earth®,

buscando-se diferenciar áreas de acordo com sua densidade de edificações, material

construtivo e vegetação. (Figura 4)

Figura 3 – Atuação dos principais sistemas atmosféricos sobre a região de Londrina

Fonte: BOIN, 2000, p.199.

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Figura 4 – Mapa de uso e ocupação do solo do perímetro urbano de Londrina

Para auxiliar na escolha dos pontos fixos, também se utilizou da imagem de

temperatura da superfície de Londrina. Tal imagem foi feita a partir do tratamento e

conversão em graus Celsius (ºC) da imagem termal do Landsat 8 do dia 28/01/2014 (Figura

5). Através desta, foi possível identificar quais são as zonas da cidade onde apresentam

maior e menor temperatura da superfície (solo, telhado, etc.), e a partir disso, podia-se

escolher pontos representativos para o trabalho de campo.

Além disso, foram utilizadas outras informações para a definição dos pontos

escolhidos. Entres estas estão, por exemplo, a hipsometria, relevo, exposição da vertente,

tipos de uso do solo. Tais informações serviram para que todos os pontos fossem

representativos do entorno, e também para poder fazer a análise dos dados

posteriormente.

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Figura 5 – Temperatura da superfície de Londrina

Fonte: Landsat 8 – Banda 11 (TIRS) – Disponível em http://earthexplorer.usgs.gov/ - acesso em 28/01/2014.

A partir dos referidos mapas foram definidos e escolhidos 18 pontos fixos

(Figura 5), com o objetivo de representarem as diversas paisagens existentes dentro da área

urbana de Londrina e seu entorno. Os equipamentos foram instalados entre os dias 20 e 22

de março de 2014, e retirados entre os dias 10 e 11 de junho de 2014. Destes 18 pontos, 14

ficaram dentro da malha urbana (quintais de residências), 3 na área rural (EMBRAPA SOJA,

IAPAR e chácara), e 1 em situação intermediária (quintal de residência no limite do bairro).

Foi instalado um abrigo meteorológico em cada ponto, provido de um sensor

registrador de temperatura e umidade, coletando de hora em hora, durante 77 dias (entre

23/03/2014 e 09/06/2014).

A localização dos pontos fixos e os percursos realizados nos transectos podem

ser observados na Figura 6.

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Figura 6 – Localização dos pontos fixos e rota dos transectos móveis utilizado no estudo

Os resultados parciais desta pesquisa mostraram que em dias de calmaria,

foram registradas grandes diferenças na temperatura e umidade nos pontos da cidade. As

ilhas de calor chegaram a 10ºC de magnitude (atingindo a máxima de 14,4ºC). Ainda serão

investigadas as causas principais de tais magnitudes, pois estas ocorreram no período da

manhã e podem ter na exposição das vertentes o fator principal de tal diferença.

Nos dados registrados no período noturno, em vários episódios ocorreram

diferenças entre 8ºC e 9ºC. No total dos horários registrados, mais de 20% estiveram acima

dos 6ºC de diferença, o que demonstra a existência de uma ilha de calor em Londrina.

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A magnitude das ilhas de calor e de frescor adotada nesta pesquisa baseia-se em

García (1995), que considera: - fraca magnitude (entre 0 °C e 2 °C); - média magnitude (entre

2 °C e 4 °C); - forte magnitude (4 °C e 6 °C) e muito forte magnitude (acima de 6 °C).

O ponto rural número 13 apresentou, na maioria das vezes, a menor

temperatura. Tal local representar um ambiente sem urbanização, pois trata-se de uma

moradia rural típica da região (chácara), que possui apenas o cultivo de suínos e frutas.

As maiores temperaturas foram registradas nos pontos 2, 4, 8, 11, 15 e 18.

Tratam-se de áreas densamente edificadas, sendo o ponto 4 representativo da área central

(verticalizada) e os pontos 2, 8 e 18 de conjuntos habitacionais. O ponto 15, próximo à área

rural, embora com baixa densidade de construções, é circundado por solo exposto. Ou seja,

os locais de maior densidade de construção e de vegetação mais escassa apresentaram as

maiores temperaturas.

Quanto à umidade relativa do ar, se observou diferenças acima dos 30% durante

a manhã. Porém, há maior frequência de diferença no grupo dos 20% (incluindo o período

noturno).

Nos transectos móveis realizados em dois dias foram registradas ilhas de calor

de muito forte e forte magnitudes, pois atingiram diferenças de 6,4ºC no dia 25 e 5,9ºC no

dia 26. No primeiro dia de transectos as maiores temperaturas foram registradas próximas

ao centro da cidade (perto do ponto fixo 4, com temperatura em 22,6ºC) e as menores

próximas aos condomínios de alto padrão na zona sudoeste da cidade (16,2ºC). No segundo

dia de medidas itinerantes as menores temperaturas ocorreram nos mesmos locais do

primeiro dia (zona sudoeste com 16,4ºC) e as maiores numa das principais avenidas centrais

(Avenida Juscelino Kubitschek, com 22,3ºC).

Portanto, através dos dois procedimentos, diagnosticou-se ilhas de calor que

serão melhor analisadas e explicadas as suas causas para que se possa apontar possíveis

medidas mitigatórias e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população

londrinense.

CONSIDERAÇÕES

A presente pesquisa identificou a permanência de anomalias térmicas

apresentadas por Mendonça (1994). Os dados registrados em 2014 serão melhor analisados

considerando-se as características do uso e da ocupação e do relevo a fim de se

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compreender as características do urbano, resultantes do intenso processo de produção do

espaço.

Para isso, se faz necessário um enfoque considerando-se as características

socioambientais, tomando-se como princípio as diferenças existentes no espaço urbano e

como essas agem na potencialização, ou na amenização dos efeitos adversos da dinâmica

climática. Logo, “[...] esta relação clima–sociedade não mais se dá na dimensão do homem

enquanto raça ou indivíduo, mas sim no contexto do homem como ser social e inserido

numa sociedade de classes” (SANT’ANNA NETO, 2001, p.59).

O modo de produção capitalista territorializa distintas formas de uso e ocupação

do espaço, definidas por uma lógica que não atende aos critérios técnicos do

desenvolvimento (ou sociedades) sustentáveis. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre um

espaço construído de maneira desigual gera problemas de origem climática também

desiguais. (SANT’ANNA NETO, 2001, p. 58)

Portanto, além de considerar neste estudo que a cidade de Londrina possui uma

extensa malha urbana, com diferentes tipos de uso e ocupação do solo, que contribuem

para a formação de um clima urbano com diversas características, como já demonstrado

por Mendonça (1994), justifica-se que há ainda a necessidade de novos estudos para saber

se essas grandes diferenças térmicas encontradas pelo autor, ainda estão presentes na

cidade, e quais medidas foram, ou estão sendo tomadas para sua melhoria.

REFERÊNCIAS

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ESTUDO DE CLIMA URBANO APLICADO À CIDADE DE LONDRINA-PR

EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional

RESUMO

O intenso processo de urbanização brasileira foi decorrente principalmente das diversas

alterações que ocorreram nas relações de trabalho no campo e na cidade, sobretudo a partir da

década de 1960. O rápido crescimento das cidades provocou modificações no meio natural, e

consequentemente, os problemas ambientais foram agravados, afetando diretamente a qualidade

de vida da população. O clima é um dos componentes do ambiente que também está sujeito a

estas mudanças. Tais alterações estão relacionadas diretamente com o modo de produção do

espaço urbano e seu decorrente uso e ocupação do solo. Sabendo que qualquer alteração no

ambiente natural já traria mudanças para a dinâmica climática habitual, há então a necessidade de

um planejamento urbano adequado às condições naturais, o qual poderia minimizar os

desconfortos gerados aos citadinos pelos efeitos do clima urbano. Portanto, tal estudo busca

investigar o clima urbano de Londrina-PR, principalmente, no que se refere ao seu campo térmico

(Canal I: conforto térmico, subsistema termodinâmico, do Sistema Clima Urbano proposto por

Monteiro, 1976) e relacionar tal análise às peculiaridades da cidade, ou seja, sua forma e estrutura,

resultantes do processo de produção do espaço urbano. Tal análise está acontecendo das

seguintes formas: levantamento de dados térmicos e higrométricos através de sensores

automáticos em diferentes pontos na área urbana e no rural próximo; levantamento de dados

térmicos e higrométricos através de transectos móveis; e por último, a produção e análise de

imagens termais da superfície através de imagens do Landsat 7 e 8. Posteriormente ao

levantamento de dados, pretende-se relacioná-lo com o levantamento do uso e ocupação do solo

urbano londrinense, e com diversos outros fatores que interferem no clima, como, por exemplo, as

características do relevo. Atualmente o estudo encontra-se na finalização do levantamento dos

dados, e início das análises dos mesmos, o que possibilita a apresentação de alguns resultados.

Deste modo, observa-se que o estudo do clima urbano de Londrina possui grande importância

para a melhoria da qualidade de vida na cidade, pois além desta ser a segunda maior em

população do Estado do Paraná, com cerca de 540 mil habitantes segundo a última estimativa do

IBGE, possui ainda uma grande malha urbana, dotada de diferentes tipos de uso do solo, que

contribuem para a formação de um típico Clima Urbano, o qual vem a apresentar diferenças

térmicas e higrométricas, que certamente geram desconforto para sua população.

Palavras-chave: clima urbano; Londrina; ilhas de calor.

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